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Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. Vedada a distribuição, ainda que gratuita. AUTORIA: PROFESSORA JULIANA MOREIRA ABUSO DE AUTORIDADE Previsão legal: Lei 4898/65. O ato de abuso de autoridade enseja tríplice responsabilidade simultânea: • Responsabilidade administrativa • Responsabilidade civil • Responsabilidade penal A lei de abuso de autoridade prevê as três esferas de responsabilidade (art. 1º). Art. 1º. O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei. Responsabilidade civil: Art. 6º, §2º. Segundo a doutrina, a responsabilidade civil depende de propositura pelo interessado e será regulamentado pelo direito civil. A responsabilidade civil é apurada na forma da lei civil. Responsabilidade administrativa: Art. 6º, §1°. Esse dispositivo prevê apenas um rol de sanções administrativas cabíveis. A lei de abuso de autoridade prevê as sanções administrativas, mas não prevê a forma de aplicação dessas sanções. Logo, aplicam-se as normas de processo administrativo das respectivas normas de cada servidor público. Exemplo: Servidor público federal – Estatuto do servidor público federal. OBS: A lei de abuso de autoridade é uma lei quase totalmente penal. 1. OBJETIVIDADE JURÍDICA Toda a doutrina prevê que a lei de abuso de autoridade possui: • Bem jurídico imediato ou principal: Proteção dos direitos fundamentais das pessoas físicas e pessoas jurídicas Pessoa jurídica pode ser vítima do crime de abuso de autoridade? Resposta: Sim. • Bem jurídico mediato ou secundário: Regularidade e lisura dos serviços públicos. Aquele que está abusando da autoridade está prestando serviço público de forma irregular. O abuso de autoridade sob a ótica administrativa é uma forma anormal, irregular de prestação de Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. Vedada a distribuição, ainda que gratuita. serviços públicos. O servidor público que age com abuso de autoridade, além de afrontar direitos fundamentais, também prejudica a regularidade e lisura dos serviços públicos. 2. FORMAS DE CONDUTA O abuso de autoridade pode ser por ação (comissivo) ou omissivo (art. 4º, c, d e g). Os crimes previstos no art. 4º, c, d e g, são crimes omissivos puros/próprios. 3. ELEMENTO SUBJETIVO Exige-se o dolo. NÃO existe crime de abuso de autoridade culposo. A linha que divide a discricionariedade e arbitrariedade é muito tênue. Só há crime se a autoridade agir ou se omitir com a intenção específica, com o propósito deliberado de abusar. Se a autoridade, na justa intenção de cumprir seu dever ou de proteger o interesse público, acabar se excedendo, não há crime de abuso de autoridade por falta de intenção específica de abusar, ainda que o ato seja ilegal. Exemplo: Delegado de polícia convicto da situação de flagrante lavra auto de prisão em flagrante e recolhe o agente na cadeia. O Promotor de Justiça e o juiz entendem que a prisão ilegal porque não havia mais situação de flagrante. Essa prisão é reputada ilegal, relaxada e o indivíduo solto. Não há que se falar em abuso de autoridade. 4. AÇÃO PENAL* Previsão legal: Art. 12. Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente de inquérito policial ou justificação por denúncia do Ministério Público, instruída com a representação da vítima do abuso. Como sabido, o inquérito policial é dispensável, ou seja, não é fase obrigatória que antecede a ação penal. É perfeitamente possível ação penal sem inquérito policial. A espécie de ação penal cabível no crime de abuso de autoridade é ação penal pública incondicionada. O Ministério Público não depende de representação da vítima, agindo de ofício. A expressão “representação” pode ter vários significados: • Condição de procedibilidade: Condição necessária para que exista a ação penal (CPP). • Direito de petição contra abuso de poder (art. 5º, XXXIV da CF) A expressão “representação” à que se refere o art. 12 da lei de abuso de autoridade é empregada no sentido de direito de petição contra abuso de poder. Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. Vedada a distribuição, ainda que gratuita. É cabível ação privada subsidiária da pública no delito de abuso de autoridade. Trata-se de direito fundamental (art. 5º da CF). 5. COMPETÊNCIA A pena máxima é de 6 meses. Portanto, o crime de abuso de autoridade é infração de menor potencial ofensivo, sendo de competência do JECRIM. • Abuso de autoridade praticado contra servidor federal no exercício das suas funções: JECRIM Federal (súmula 147 do STJ). • Abuso de autoridade praticado por servidor federal: Como visto, o abuso de autoridade prejudica a regularidade do serviço público. Se o servidor federal está praticando abuso de autoridade, está prejudicando a regularidade do serviço público federal. Portanto, há interesse da União, razão pela qual, a competência é do JECRIM Federal. Esse é o entendimento que prevalece. • STJ (HC 102.049/RS): Delegado da Polícia Federal foi ao hospital e exigiu prontuários de pacientes. O delegado de polícia se identificou como tal e falou para a médica: Estou mandando entregar os prontuários, e diante da negativa da médica, ele a agrediu. O STJ entendeu que a competência para o julgamento é do JECRIM estadual porque a pretensão do delegado era a obtenção dos prontuários para fins particulares e não se encontrava no exercício da função. O delegado praticou o abuso de autoridade em razão da função, pois usou a figura de delegado para exigir os prontuários, porém não no exercício da função. Portanto, não prejudicou a regularidade dos serviços públicos federais e não há interesse da União na causa. • Abuso de autoridade praticado por militar: Não é competência da justiça militar (súmula 172 do STJ). O abuso de autoridade não é crime militar. Súmula 172 do STJ. Compete à justiça comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço. Da interpretação dessa súmula, leva à conclusão de que o abuso de autoridade pode ser praticado fora do serviço. • Abuso de autoridade + crime militar = Separação de processos. Crime de abuso de autoridade deve ser praticado no exercício da função ou em razão dela? Resposta: Para o STJ o abuso de autoridade pode ser praticado em serviço ou fora dele, desde que em razão da função. Essa conclusão é extraída da redação da súmula 172 do STJ. Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. Vedada a distribuição, ainda que gratuita. 6. CONCURSO DE CRIMES É pacífico na doutrina e na jurisprudência que o abuso de autoridade não absorve nem é absorvido pelas infrações a ele conexas. O policial militar desfere soco no rosto da pessoa: Abuso de autoridade + lesão corporal. Policial militar desfere tapa no rosto = Injúria + abuso de autoridade. Guilherme de Souza Nucci entende que vias de fato fica absorvida pelo delito de abuso de autoridade. O abuso de autoridade pode ser praticado em concurso com a tortura? Resposta: A tortura absorve o crime de abuso de autoridade. Justificativa da doutrina: O abuso de autoridade é meio de execução da tortura. Silvio Maciel entende que é perfeitamente possível o concurso. Exemplo: Policiais civis torturam suspeito para obter confissão. Obtida a confissão os policiais exibiram a imagem do acusado na televisão contra a sua vontade. O argumento da doutrina de que o abuso de autoridade é meio de execução da torturaé falho, pois o abuso de autoridade pode ser fato posterior à tortura, como no exemplo citado. OBS: Prevalece na doutrina que o abuso de autoridade fica absorvido pela tortura. O CESPE mantém o mesmo entendimento de Silvio Maciel. 7. SUJEITOS DO CRIME Art. 5º. Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração. O art. 5º é norma penal explicativa e traz o conceito de autoridade. O conceito para fins da lei de abuso de autoridade é o mais amplo, abrangente possível. Autoridade é qualquer pessoa que exerce função pública, pertença ou não à Administração Pública. Ainda que exerça a função de forma gratuita (sem remuneração) e passageira. Exemplo: Autoridade pode ser, por exemplo, jurado do Tribunal do Júri, mesário eleitoral. Pessoas que exercem múnus público não são autoridades. O múnus publico é o encargo imposto pela lei ou juiz para proteção de interesse particular. Exemplo: Inventariante, tutor e curador dativos, depositário judicial, advogado. O particular que não exerce nenhuma função pública pode cometer delito de abuso de autoridade? Resposta: Sim, desde que o cometa juntamente com autoridade pública e saiba que o comparsa é autoridade pública. A condição pessoal de autoridade é elementar do crime de abuso de autoridade, transmitindo-se ao particular, desde que ingresse no dolo dele. Exemplo: Policia Militar está batendo em dois Palmeirenses. O pipoqueiro São Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. Vedada a distribuição, ainda que gratuita. Paulino ajuda os Policiais a bater nos Palmeirenses. O pipoqueiro é coautor do crime de abuso de autoridade. Sujeito passivo: O abuso de autoridade protege os direitos fundamentais das pessoas físicas e jurídicas e a regularidade do serviço público. O crime de abuso de autoridade tem sujeito passivo imediato ou principal e sujeito passivo mediato ou secundário. O sujeito passivo imediato/principal é a pessoa física ou jurídica que sofre a conduta abusiva e o sujeito passivo mediato ou secundário é a administração pública cuja regularidade do serviço foi comprometida com o abuso. 8. PRESCRIÇÃO A lei de abuso de autoridade não contém regras sobre prescrição, aplicando-se subsidiariamente as regras de prescrição do Código Penal. 9. PENAS As penas são aplicadas de acordo com as regras do direito penal, dispensando-se a expressão – artigos 42 a 56 do CP, pois houve modificação. Portanto, leia-se: Art. 6º, §3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em: As penas consistem em: • Multa: Deve ser calculada na forma do art. 49 do Código Penal. • Detenção de 10 dias a 6 meses: Infração de menor potencial ofensivo. • Perda do cargo e inabilitação para o exercício de outra função pública por até 3 anos: A inabilitação é para qualquer outra função pública e não somente para aquela que até perdeu. Observe que a inabilitação pode perdurar por até 3 anos. Essas penas podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente. Isso significa que o juiz pode aplicar uma delas, duas delas ou as três. Se o juiz aplicar multa + detenção de 6 meses, poderá substituir a detenção por outra multa, e, portanto, aplicar duas multas? Resposta: Não. Súmula 171 do STJ. Cominadas cumulativamente em lei especial, penas privativa de liberdade e pecuniária é defeso a substituição da prisão por multa. Nos termos da súmula 171 do STJ, se o tipo penal está no Código Penal é possível substituir a prisão, cumulando-a com outra multa. Por outro lado, se o tipo penal está na legislação penal especial, o juiz não pode substituir a prisão por multa, cumulando-a com outra multa. E↓ Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. Vedada a distribuição, ainda que gratuita. • Proibição de exercer função policial ou militar no Município do crime pelo prazo de 1 a 5 anos: Essa sanção não pode ser aplicada à qualquer autoridade, mas apenas para policiais civis e militares (art. 6º, §5º). Para Fernando Capez essa pena não existe mais, pois a reforma penal de 1984 extinguiu as penas acessórias de nosso ordenamento jurídico. Não é o entendimento que prevalece. Prevalece que essa pena não pode ser aplicada como acessória, mas pode ser aplicada como pena autônoma. Lei 4.898 – Lei de abuso de autoridade Lei 9.455 – Lei de tortura Perda do cargo e inabilitação para qualquer outra função pública por até 3 anos (art. 6º, §3º da lei de abuso de autoridade) A perda do cargo e inabilitação são penas, que podem ou não serem aplicadas a critério do juiz. Perda do cargo e interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da condenação (Art. 1º, §5º. A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada). Exemplo: Condenado a 6 anos, fica interditado por 12 anos. A perda do cargo e interdição são efeitos automáticos da condenação, mesmo que o juiz não os declarem na sentença, pois os efeitos decorrem da lei. É cabível transação penal para o delito de abuso de autoridade? • 1ª Corrente: Não, porque a pena de perda do cargo é incompatível com a transação penal. A perda do cargo não pode ser transacionada entre o Ministério Público e o infrator. Esse entendimento pelo não cabimento de transação penal nos crimes de abuso de autoridade é de Nucci e Cézar Roberto Bittencourt. Crítica: A pena transacionada nunca é a pena cominada para o tipo penal. A pena transacionada é uma multa ou restritiva de direitos. • 2ª Corrente: Cabe transação na lei de abuso de autoridade por se tratar de infração de menor potencial ofensivo. É o entendimento que prevalece. 10. CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE Previsão legal: Art. 3º e 4º da lei de abuso de autoridade. Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: a) à liberdade de locomoção; Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. Vedada a distribuição, ainda que gratuita. b) à inviolabilidade do domicílio; c) ao sigilo da correspondência; d) à liberdade de consciência e de crença; e) ao livre exercício do culto religioso; f) à liberdade de associação; g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto; h) ao direito de reunião; i) à incolumidade física do indivíduo; j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional. Princípio da anterioridade da lei (art. 1º do CP): Não há crime sem lei anterior que o defina. Pelo princípio da taxatividade a norma incriminadora deve definir, ou seja, expor com precisão, exatidão qual é a conduta criminosa. A norma incriminadora vaga, genérica, imprecisa é inconstitucional por violação ao princípio da taxatividade (corolário do princípio da anterioridade). O art. 3º da lei de abuso de autoridade é constitucional? • 1ª Corrente: É inconstitucional por violação ao princípio da taxatividade porque possui redação genérica (Fernando Capez). • 2ª Corrente: É constitucional porque não há como o legislador prever todas as hipóteses possíveis de conduta abusiva e descrevê-las no tipo penal. Portanto, assim como nos crimes culposos, o tipo penal deve ser aberto. É o entendimento que prevalece. Consumação e tentativa: Os crimes do art. 3º são formais ou de consumação antecipada. Consumam-se com a conduta, ainda que não ocorra o resultado naturalístico da efetiva lesão do direito protegido. Não é possível a tentativa nos crimes do art. 3º. Liberdade de locomoção: O direito de locomoçãoabrange o direito de ir, vir e permanecer. Não existe direito fundamental absoluto. As legítimas restrições ao direito de locomoção não configuram abuso de autoridade. As legítimas restrições ao direito de locomoção são atos de poder de polícia. Exemplo: Pessoa causando tumulto em discurso da Presidente Dilma. O sujeito poderá ser retirado e até preso. Toda a doutrina faz distinção entre detenção momentânea e prisão para averiguação. Não se pode confundir detenção momentânea com prisão para averiguação. Detenção momentânea Prisão para averiguação É a retenção da pessoa pelo tempo estritamente necessário para uma fiscalização ou verificação. Trata-se Prisão para investigar formal ou informalmente, sem ordem judicial ou situação de flagrante. Esta é sempre Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. Vedada a distribuição, ainda que gratuita. de ato legítimo do exercício do poder de polícia. Exemplo: Bloqueio de trânsito. abuso de autoridade. Inviolabilidade do domicílio: O que é domicílio? Domicílio é qualquer local não aberto ao público onde alguém exerce qualquer atividade, trabalho ou moradia, ainda que momentânea. O art. 150, §4º do CP pune o agente público que viola domicílio ilegalmente. Qual crime comete o agente público que invade domicílio ilegalmente? Resposta: O agente público que ilegalmente viola domicílio comete abuso de autoridade e não o crime do art. 150, §4º do Código Penal (princípio da especialidade). Para a doutrina o art. 150, §4º do Código Penal está tacitamente revogado no que diz respeito à violação de domicílio por agente público. Entrada em domicílio sem ordem judicial em situação de flagrante de crime permanente: Policiais militares abusivamente invadem a cada de uma pessoa porque o sujeito é suspeito de matar um policial militar. Os policiais militares entram no local para discutir e acabam encontrando droga. STF/STJ: A entrada sem ordem judicial fica sanada pela situação de flagrante de crime permanente, mesmo que os policiais desconhecessem a situação de flagrante. Sigilo da correspondência: O tipo penal protege apenas correspondências fechadas. Correspondências abertas perdem o caráter sigiloso. O sigilo de correspondência não é absoluto em que pese o art. 5º, XII da CF passe essa impressão. O art. 5º, XII da CF indica que o sigilo de correspondência é absoluto, mas não é o que prevalece, pois não há direito absoluto. Conclusão: Em situações excepcionais, pode a autoridade violar correspondências (STF – HC 70.814). O diretor pode suspender o direito dos presos se corresponderem, mas não pode violar as correspondências sistematicamente. Em regra, as correspondências não podem ser violadas. Em situações excepcionalíssimas, diz o STF que pode. Liberdade de consciência/crença e liberdade de culto religioso: O excesso na liberdade de consciência, crença e culto religioso deve ser coibido. Exemplo: Culto religioso com barulho as três horas da manhã ao lado de hospital. Liberdade de associação: São vedadas associações ilícitas e paramilitares. Atentado ao exercício do direito de voto: Pode ocorrer inclusive durante referendo, plebiscito, onde há também o direito ao voto. O Fernando Capez sustenta que não há conflito entre esse dispositivo penal (art. 3º, g) e o código Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. Vedada a distribuição, ainda que gratuita. eleitoral, pois neste último, não há nenhuma conduta que se assemelhe ao abuso de autoridade, razão pela qual, inexiste conflito de normas. Juiz impede pessoa de se inscrever como eleitor: Esse delito tem previsão no código eleitoral. O juiz está atingindo direito de voto. Trata-se de crime eleitoral ou delito de abuso de autoridade. Obviamente existe conflito de normas neste caso. Solução: O art. 3º, g da lei de abuso de autoridade é subsidiário, aplicando- se somente se o fato não configurar nenhum crime eleitoral. Direito de reunião: O art. 5º da CF garante o direito de reunião, no entanto, exige requisitos para o exercício desse direito: Reunião pacífica, sem armas, local público, aviso prévio à autoridade e se a reunião não tem por finalidade frustrar outra reunião já marcada para o mesmo local. Integridade ou incolumidade física: Discute-se se o tipo penal protege apenas a integridade física ou também a incolumidade psíquica. Essa discussão foi travada entre dois penalistas no Brasil, Heleno Cláudio Fragoso e Bento de Faria. O art. 322 do Código Penal prevê o crime de violência arbitrária. O crime de violência arbitrária do CP está tacitamente revogado pelo art. 3º, i da lei de abuso de autoridade? Resposta: No RHC 95.617/MG, o STF decidiu que o art. 322 do CP permanece vigente. Qualquer atentado contra as prerrogativas profissionais: Delegado de polícia impede promotor de justiça e conversar com os presos. O Ministério Público é o fiscal da lei de execuções penais. O Ministério Público tem, não só o poder, como também o dever de fiscalizar a cadeia. O Delegado de Polícia impede o advogado de ver o inquérito policial (súmula vinculante 14). O art. 3º, j é norma penal em branco, sendo complementada pela norma que prevê a prerrogativa profissional. Art. 4º Constitui também abuso de autoridade: a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder; b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa; d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada; Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. Vedada a distribuição, ainda que gratuita. e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei; f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor; g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa; h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal; i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade. Ordenar/executar medida privativa da liberdade individual sem as formalidades legais ou com abuso de poder: No verbo “ordenar” tem-se crime formal ou de consumação antecipada, ou seja, o crime se consuma com a simples ordem ilegal, ainda que não seja executada. Se for executada, haverá mero exaurimento do crime. É possível o resultado naturalístico com a execução da ordem. Segundo a doutrina, esse delito admite tentativa, desde que na forma escrita. Haverá tentativa se a ordem não chegar ao destinatário por razões contrárias à vontade de quem ordenou. No verbo “executar”, o crime é de material ou resultado. Neste caso, o delito consuma-se com a efetiva execução da ordem, sendo a tentativa perfeitamente possível. Esse delito pode ser praticado de duas formas: • Descumprimento de formalidades legais: Exemplo: Delegado de Polícia manda recolher para prisão pessoa em situação de flagrante, porém, sem lavrar o auto de prisão em flagrante. • Prisão abusiva: Exemplo: Prisão para averiguação. Sempre haverá um conflito aparente de normas entre o art. 3º e o art. 4º da leide abuso de autoridade. Exemplo: Delegado manda prender pessoa sem ordem judicial e sem flagrante. Isso configura atentado à liberdade de locomoção (art. 3º, a da lei). Mas prender pessoa sem flagrante e sem ordem judicial também configura o art. 4º, a da lei de abuso de autoridade. Percebe-se que prender pessoa sem situação de flagrante e sem ordem judicial pode configurar crime do art. 3º e do art. 4º. Qual a solução? (Não se pode punir duas vezes pelo mesmo crime). Resposta: A solução da doutrina é no sentido de que, havendo conflito entre o art. 3º e o art. 4º da lei de abuso de autoridade, prevalece o art. 4º. Tendo em vista que a redação do art. 3º é genérica, Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. Vedada a distribuição, ainda que gratuita. vaga, aberta, deve prevalecer o art. 4º que possui redação mais descritiva, garantista. Algemar desnecessariamente configura crime da lei de abuso de autoridade (súmula vinculante 11). É possível algemar em três casos: a. Resistência b. Fundado receio de fuga: Não é a mera suposição de fuga que autoriza a algema, pois a possibilidade de alguém fugir existe em todos os casos. c. Risco a integridade física do próprio preso ou de terceira pessoa Fora dos três casos elencados, o uso de algema configura abuso de autoridade. O próprio STF nos precedentes que originaram a súmula vinculante 11 estabeleceu que a conduta de algemar desnecessariamente configura abuso de autoridade. Atenção! Art. 230 do ECA. Se o sujeito passivo da conduta for criança ou adolescente, haverá a prática do crime do art. 230 do ECA. Apreender criança ou adolescente sem flagrante delito ou sem ordem escrita de autoridade judicial é crime do art. 230 do ECA. Aprender adolescente/criança sem lavrar auto de apreensão ou boletim de ocorrência circunstanciado é delito do art. 230, parágrafo único do ECA. Submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou constrangimento não autorizado em lei: O sujeito ativo do crime não é qualquer pessoa, mas apenas aquele que detém a guarda ou custódia da pessoa. É preciso diferenciar o constrangimento ou vexame legal do constrangimento ou vexame ilegal. Constrangimento ou vexame legal Constrangimento ilegal O constrangimento ou vexame legal é fato atípico. Exemplo: Submeter a pessoa a identificação criminal nas hipóteses permitidas em lei é fato atípico. Constitui crime de abuso de autoridade. Exemplo: Exibir a imagem do suspeito na televisão contra a autorização do suspeito. Se a vítima da conduta for menor, o crime é o do art. 232 do ECA. Deixar de comunicar imediatamente ao juiz competente a prisão: A comunicação da prisão deve ser imediata. Comunicação imediata é aquela feita no primeiro momento possível considerada as circunstâncias do caso concreto. Exemplo: Delegado fez a prisão na sexta-feira, e o único juiz da cidade está viajando, a comunicação imediata será na segunda-feira. O retardamento injustificado na comunicação configura abuso de autoridade. A Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. Vedada a distribuição, ainda que gratuita. comunicação proposital ao juiz incompetente configura crime de abuso de autoridade. Exemplo: Delegado de policia comunica juiz incompetente para retardar o controle sobre a prisão. Esse delito é doloso. Isso significa dizer que, se o delegado de polícia por desconhecimento da lei comunica juiz incompetente, não restará caracterizado o delito, pois não existe crime culposo. Exemplo: Delegado cansado foi embora e esqueceu o flagrante na cadeia. Não há abuso de autoridade. Se a vítima é criança ou adolescente o delito é o previsto no art. 231 do ECA. O sujeito ativo no art. 231 do ECA é a autoridade policial. O art. 5º da CF prevê que a prisão deve ser comunicada ao juiz competente e a família do preso ou pessoa por ele indicada. O art. 306 do CPP prevê que a prisão deve ser comunicada ao juiz competente, família e ao Ministério Público. Somando-se essas duas normas, a autoridade tem o dever de comunicar a prisão ao juiz, família e Ministério Público. Lei de abuso de autoridade ECA Deixar de comunicar o juiz, a família do preso ou pessoa por ele indicada e o Ministério Público. Deixar de comunicar o juiz é abuso de autoridade. Deixar de comunicar a família é fato atípico. Deixar de comunicar a prisão ao Ministério Público é fato atípico. OBS: O tipo penal prevê como crime deixar de comunicar ao juiz e veda- se a analogia de norma incriminadora. Se o juiz constata que a prisão é ilegal e não a relaxa, pratica o crime do art. 4º, d da lei de abuso de autoridade. Deixar de comunicar ao juiz é crime Deixar de comunicar a família é crime Deixar de comunicar o Ministério Público é fato atípico. Juiz é comunicado da apreensão ilegal, constata que é ilegal e não libera o menor. Praticará o crime do art. 234 do ECA. Atenção! Os delitos do art. 4º, c e d são crimes omissivos puros ou próprios, consumam-se com a omissão. A tentativa não é possível. Ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal: A alínea h é a prova de que pessoa jurídica pode ser vítima do delito de abuso de autoridade. O tipo penal prevê expressamente a pessoa jurídica como sujeito passivo do crime. Pessoa jurídica de direito público também pode ser vítima de abuso de autoridade. Pode o subordinado praticar abuso de autoridade contra o superior? Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. Vedada a distribuição, ainda que gratuita. Resposta: Claro que pode. Subordinado desfere soco na cara do superior: Abuso de autoridade. Ato lesivo da honra ou patrimônio pode ser: • Legal: O fato será atípico. • Ilegal: Abuso. Fiscais da vigilância sanitária interditam restaurante legalmente (fato atípico). Se ilegal, crime de abuso de autoridade. Ato lesivo demonstra que o crime é material, consumando-se com a efetiva lesão à honra ou patrimônio, sendo a tentativa perfeitamente possível. Prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade: Esse crime é composto por ação e omissão. É crime de conduta mista (comissivo omissivo). O crime consiste em prolongar indevidamente prisão temporária, pena e medida de segurança. Prolongar indevidamente prisão preventiva não é crime? Resposta: É crime do art. 4º, b (submeter o preso a constrangimento ilegal). Art. 350 do Código Penal (exercício arbitrário ou abuso de poder): Segundo o STF, o art. 350 do CP foi revogado em parte pelo art. 4º da lei de abuso. Caput: Revogado pelo art. 4º. Parágrafo único: ? I: Vigente II: Revogado pela lei de abuso. III: Revogado pela lei de abuso IV: Vigente Conclusão: O art. 350 do CP foi parcialmente revogado e continua parcialmente em vigor. Nesse sentido: STJ – HC 65.499.
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