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ATE ONDE O QUE VOCÊ SABE SOBRE O BEHAVIORISMO É VERDADEIRO? RKSPO N l H u Nl M) AS P R I N C I P A I S C R Í T I C A S D IR KClOiNADAS AO H KI I AV ' l O R l SMO OK SK1.NNKR Nazaré Costa o i^a n im d o ra Alia nu Uiheiro l*oi < o A m lrc /a Machado I n c i d i r e m i r a Soa ri s da Silva Kercya l ie rnardes l*inlo Bandeira L í\ ia IVriianda l-erreira 1 'erra/ l .uciane da ( 'osla Harros L ud im ar Santos Vieira Nádia P ra /e rcs Pinheiro Simotic dos Sanlos ( 'o n v a Suane M aria M arinho Sá laviian M arques liandeira Viviane Pereira dos Sanlos ESETec Até Onde O Que Você Sabe Sobre O Behaviorismo É Verdadeiro? Respondendo As Principais Críticas Direcionadas Ao Behaviorismo De Skinner Até Onde O Que Você Sabe Sobre O Behaviorismo É Verdadeiro? Respondendo As Principais Críticas Direcionadas Ao Behaviorismo De Skinner Nazaré Costa O rganizadora A liana Ribeiro Porto A ndreia M achado Ingrid Ferreira Soares da Silva Kercya Bernardes Pinto Bandeira Lívia Fernanda Ferreira Ferraz Luciane da Costa Barros Ludimar Santos Vieira Nádia Prazeres Pinheiro Simone dos Santos Corrêa Suane Maria Marinho Sá Taynan M arques Bandeira Viviane Pereira dos Santos ESETec Editores Associados 2004 Copyright desta edição: ESETec Editores Associados. Santo André. 2004. Todos os direitos reserv ados Costa, Nazaré. Até Onde O Que Você Sabe Sobre O Behaviorismo É Verdadeiro? Respondendo As Principais Criticas Direcionadas Ao Behaviorismo De Skinner - Org Nazaré Costa. 1* ed. Santo André. SP: ESETec Editores Associados, 2004. 80 p. 21 cm 1 Behaviorismo Radical 2. Skinner 3. Comportamento Humano ISBN - 85- 88303- 47-7 ESETec Editores Associados Solicitação de exemplares: comercial:a esetec.com.br Td.< 11)4990-5683 Telfex: (11)4438-6866 www.esetec.com.br “Com todas as minhas fraquezas criei um mundo no qual todas as coisas que faço são positivamente reforçadoras. Eu reconstruí um mundo no qual posso me conduzir bem " B.F.Skjnner, 1990 Para meus sobrinhos Xfaick e Maytta que representam os filhos que ainda não me disponibilizei ter. Vocês são muito importantes para mim! Agradecimentos Aos alunos-autores que aceitaram o desafio e se dedicaram ao livro, em especial àqueles que estiveram comigo até o fim. Aos alunos em geral para os quais escrevo, Ao Hugo Leonardo, que tem tomado minha vida mais reforçadora. Ao Olavo Galvào pela disponibilidade de ler o material e tecer comentários sobre o mesmo, À Teca, que mais uma vez confiou em meu trabalho! Apresentação Mais um livro. Agora como idealizadora. orientadora e organizadora. Mais um sonho realizado! Este livro possui uma história longa, considerando sua idealização, mas curta partindo do momento que os autores se engajaram no projeto - junho de 2003. A história deve ter tido seu inicio por volta de 1997 quando fazia parte de um grupo de estudos em Belém e propus aos componentes do mesmo responder as vinte críticas apresentadas por Skinner no livro Sobre o Behaviorismo. A idéia era responder as críticas de forma clara, simples e direta para que mais pessoas tivessem acesso ao pensa mento skinneriano. uma vez que a leitura de Skinner, embora imprescindível para os analistas do comportamento, nem sempre se mostra compreensível e prazerosa, sobretu do. para iniciantes. Como naquela época o grupo não levou o projeto à frente e continuei consideran do relevante executá-lo. apresentei a proposta ao Grupo de Estudos em Análise do Com portamento (GEAO. criado por mim em janeiro de 2003 na Universidade Federal do Maranhão, e este. de pronto, aceitou. O grupo é totalmente formado por alunos e ex-alunos, sendo este um dos aspectos inovadores do livro - um livro escrito quase completamente por alunos de graduação, na sua maioria do 6 ° semestre de Psicologia, quando iniciaram a escrita de seus capítulos. Como no projeto original, o objetivo do livro consiste em responder criticas freqüentes dirigidas ao B ehav iorismo de Skinner. Por isso, a orientação dada aos autores foi a de que redigissem seus argumentos usando ao máximo o próprio Skinner. A idéia então é mostrar que de fato Skinner deu. no mínimo, alguma atenção a tópicos que os críticos alegam que ele negligenciou e que os mesmos sustentam afirmações equivocadas a respeito das proposições skinnerianas. O livro, em última instância, busca divulgar as idéias de Skinner tais quais ele as apresentou, como uma forma de v alorização do seu trabalho tão erroneamente criticado, embora pontos da proposta de Skinner atualmente sejam alvo de criticas pelos próprios analistas do comportamento que se propõem a ir além do legado deixado pelo autor. Sabe-se que o livro de Skinner Sobre o Behaviorismo teve como objetivo exatamente responder as 2 0 criticas mais freqüentes que são feitas ao Behaviorismo Radical. Deste modo. cabe a pergunta - O que distingue esta proposta da já existente? A distinção reside no fato do livro ser escrito para o público leigo e/ou iniciante em Psico logia. Assim, nada mais adequado para a realização desta tarefa do que contar com a participação dos próprios alunos que tiveram e que ainda possuem dificuldades em compreender certos textos e colocações de Skinner. No que se refere à estrutura, o livro seguirá a seqüência das críticas que Skinner enumera em Sobre o Behaviorismo (com exceção da critica que afirma que o Behaviorismo desumaniza o homem, que constituirá o último capitulo), sendo que algumas foram agrupadas em função da possibilidade de relacioná-las. Então, ao invés do livro ser constituído de 2 0 capítulos, como era de se esperar, ele foi dividido em 16, como mostra o sumário. As criticas foram transformadas em questionamentos, tendo, por este motivo, 11 sido mantidas as mesmas palavras e expressões do material de Skinner. Cada uma das criticas tomou-se o titulo dos capítulos. Cabe ainda ressaltar que houve escolha e sorteio, quando havia coincidência de interesse, quanto à critica a ser trabalhada pelos autores. As criticas que restaram foram distribuídas entre os dois estagiários de clinica analitico-comportamental e eu, sendo que ao longo do processo algumas desistências ocorreram e novas divisões de capítulos foram feitas, considerando, sobretudo a disponibilidade para escrever um outro capítulo em um tempo mais curto. Como deve ser o propósito de qualquer autor ou organizador, espero que a meta do livro seja alcançada e que ele seja mais uma contribuição no sentido de divulgar as proposições de Skinner, do modo como ele as defendeu, e não de maneira equivocada e distorcida como muitos ainda apresentam em livros e em sala de aula. Considero ser uma postura ética de um professor-formador falar de forma limitada de autores com os quais não se identifica e não possui familiaridade, apontando isto, e não deturpando e ou afirmando inverdades. Estou imensamente feliz por estar tendo a oportunidade de dividir este sonho com alunos com os quais tive o prazer de trabalhar na universidade e futuros analistas do comportamento (espero!), além de estar iniciando os mesmos, em grande estilo, no mundo científico - produzindo e divulgando conhecimento. As sementes que plantei já estão produzindo frutos e muitos deles já se encon tram bem amadurecidos. Este é o reforço positivo mais potente para a manutenção de meus comportamentos enquanto professora. Estou tranqüila por saber que a Análise do Comportamento mudou a “cara" da Psicologia em São Luís e que a tendência é que seus seguidores afetem positiv amente ainda mais este ambiente. Sazaré Agosto de 2003 Sumário I O B e h a v io r is m o ig n o r a a c o n s c iê n c ia , o s s e n t im e n t o s e o s e s t a d o s MENTAIS, NÃO ATRIBUINDOQUALQUER PAPEL AO EU OU A CONSCIÊNCIA DO Eli? Luciane da Costa Barros.............. ......... .............................. ............. 15 D O B e h a v jo r is m o n e g l ig e n c ia d o n s in a t o s e a r g u m e n t a q l e t o d o c o m po r t a m e n t o é a d q u ir id o d u r a n t e a v id a d o in d iv íd u o ? Lhia Fernanda Ferreira Ferraz......... ....................................................... 19 III O B e h a v io r is m o a p r e s e n t a o c o m p o r t a m e n t o s im p l e s m e n t e c o m o u m c o n ju n t o d e r e s p o s t a s a e s t ím u l o s , d e s c r e v e n d o a p e s s o a c o m o u m a u t ô m a t o , u m r o b ô , u m f a n t o c h e o u u m a m á q u in a ? Sadia Prazeres Pinheiro.................................... ...................................... 23 IV O B e h a v io r is m o NÃO t e n t a e x p l ic a r o s p r o c e s s o c o g n it t v o s? Ih iane Pereira dos Sanlos.......................................................................... 27 V O B e h a v io r is m o n ã o c o n s id e r a a s in t e n ç õ e s o u o s p r o p ó s it o s ? Nádia Prazeres P inheiro ............................................................................. 29 \ 1 O B e h a v io r js m o n ã o c o n s e g u e e x p l ic a r a s r e a l iz a ç õ e s c r ia t iv a s - n a ARTE, POR EXEMPLO, OU NA MÚSICA, NA DE LITERATURA, NA CIÊNCIA OU NA MATEMÁTICA? Taynan Marques Bandeira ........................................................................... 3 3 VII O B ehav io r is m o é n e c e s s a r ia m e n t e s u p e r f ic ia l e n ã o c o n s e g u e l id a r c o m a s p r o f u n d e z a s d a m e n t e o u d a p e r s o n a l id a d e ? Suane Maria Marinho S á ............................................................................ jj VTII O B e h a v io r is m o lim tta- se â p r e v is ã o e a o c o n t r o l e d o c o m p o r t a m e n t o E NÃO APREENDE O SER, OU A NATUREZA ESSENCIAL DO HOMEM? Andrezza M achado....................................................................................... 41 IX O B ehav io r is m o t r a b a l h a c o m a n im a is , p a r t ic u l a r m e n t e c o m r a t o s BRANCOS, MAS NÃO COM PESSOAS, E SUA VISÃO DO COMPORTAMENTO HUMANO ATEM-SE, POR ISSO, ÀQUELES TRAÇOS QUE OS SERES HUMANOS E OS ANIMAIS TÊM EM COMUM? Ludimar Santos Vieira.................................................................................. 45 X O B e h a v io r is m o t r a s r e s u l t a d o s o b t id o s n a s c o n d iç õ e s c o n t r o l a d a s DE UM LABORATÓRIO, NÃO PODENDO SER REPRODUZIDOS NA \ IDA DLÁRLA, E AQUILO QUE ELE TEM A DLZER ACERCA DO COMPORTAMENTO HUMANO NO MUNDO MAIS AMPLO TORN A-SE. POR ISSO UMA METACIÈNCIA NÃO COMPROVA DA. APEN AS CULTUANDO OS MÉTODOS DA CIÊNCI A. MAS NÃO É CIENTIFICO? A liana Ribeiro P orto .................................................................................... 49 13 XI O B e h a v io r is m o é s u p e r s im p u s t a e in g ê n u o e s e u s fa to s s ã o o u TRIVIAIS OU JÁ BEM CONHECIDOS, SENDO QUE SU AS REALIZAÇÕES TECNOLÓGIC AS PO DERIAM TER SIDO OBTIDAS PELO SENSO COMUM? Nazaré Costa, Taynan Marques Bandeira e Viviane Pereira dos Santos 51 XII O B e RWTORISMO CONSIDERA q u e SUAS ALEGAÇÕES SE APLICAM AO PRÓPRIO CIENTISTA BEHAVKHUSTA? ASSIM SENDO. O BEHAVIORISTA DIZ APENAS AQUI LO QUE FOI CONDICIONADO A DIZER E QUE NÃO PODE SER VERDADEIRO? Nazaré Costa............................... ............................................................ 55 XIII O B e h a v io r is m o s ó s e in t e r e s s a p e l o s p r in c íp io s g e r a is e p o r is s o NEGLIGENCIA A UN1CTDADE DO INDIVIDUAL? Ingrid Ferreira Soares da Silva............................................................. 57 XIV O B e h a v io r is m o é n e c e s s a r ia m e n t e a n t id e m o c r á t ic o p o r q u e a r e l a ç ã o e n t r e e x p e r im e n t a d o r e o s u je it o ê d e m a n ip u l a ç ã o e s e u s r e s u l t a d o s p o d e m , p o r e s s a r a z ã o , s e r u s a d o s p e l o s d it a d o r e s e n ã o p e l o s h o m e n s d e b o a v o n t a d e ? Simone Corrêa......................................................................................... 61 XV O B e h a v io r is m o e n c a r a a s id é ia s a b s t r a t a s , t a is c o m o m o r a l id a d e e ju s t iç a c o m o f ic ç õ e s ? Kercya Bemardes Pinto Bandeira.......................................................... 57 XVI O B e h a v io r is m o d e s u m a m z a o h o m e m , r e d u z in d o e d e s t r u in d o o h o m e m e n q u a n t o h o m e m , s e n d o in d if e r e n t e a o c a l o r e à r iq u e z a d a v id a h u m a n a , e in c o m p a t ív e l c o m o g o z o d a a r t e , d a m ú s ic a , d a l it e r a t u r a e c o m o a m o r a o p r ó x im o ? Ingridi Ferreira Soares da Silva. Kercy a Bemardes Pinto Bandeira e Suane Maria Marinho Sá ...................................................................... 7] R e fe r ê n c ia s A p ê n d ic e ...... oi d CaUTUjO [ O Behaviorismo ignora a consciência, os sentimentos e os estados mentais, não atribuindo qualquer papel ao eu ou a consciência do eu? Luciane da Costa Barros O Behaviorismo é comumcnte mal interpretado devido à sua preocupação com o rigor científico. Um dos maiores equívocos está na falsa concepção de que o Behaviorismo ignora os sentimentos, a consciência e os estados mentais (Skinner, 2003). Inicialmente, entre os anos de 1930 e 1944, os estudos de Skinner estavam voltados para os comportamentos publicamente observáveis. Foi em 1945, ano que é considerado o marco de inicio do Behaviorismo Radical, que Skinner incluiu a análise da subjetividade em seus trabalhos (Costa. 2002). Para explicar a subjetividade. Skinner (1990) recorre às contingências ambientais que. segundo ele, atuam nos níveis filogenético. ontogenético e cultural - níveis de deter minação do comportamento que serão abordados nos capítulos 2 e 3. A subjetividade é denominada, por Skinner, de eventos privados que, além de cnghbar os comportamentos encobertos (acessíveis diretamente apenas ao próprio indiví duo), inclui os estímulos internos (condição corporal e resposta emocional) (Skinner, 1998). Skinner trata a subjetividade ou ev entos privados do mesmo modo que os comportamentos públicos, pois, para os behavioristas. cognição, estados mentais e emoção são comportamentos e, como tais, são funções do ambiente - sendo ambiente entendido como tudo que ocorre no universo que é capaz de afetar o organismo (Skinner, 1998). A condição corporal (dor, frio, fome) e a resposta emocional (raiva, tristeza, alegria) são partes do universo que afetam o indivíduo. Entretanto, os estímulos internos não são autônomos, pois estão sempre atrelados a um evento extemo antecedente. O Behaviorismo Radical recorre sempre ao ambiente extemo para explicar o comportamen to. rejeitando as concepções intemafistas que recorrem ao próprio indivíduo como tenta tiva de explicar o comportamento (Tourinho, 1997). 15 TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce Em Ciência e Comportamento Humano (1998), Skinner fala da vida privada como aquela que é construída na relação do individuo com a comunidade verbal perten cente ao seu meio cultural. Por isso. para compreender e analisar a subjetividade é preciso investigar o contexto ao qual está relacionada. No processo de instalação dos eventos privados no repertóriocomporta montai do indivíduo, é preciso que ele se comporte publicamente e que a comunidade verbal o ensine a discriminar e nomear o evento privado. Por exemplo, uma criança que está com dor de barriga provavelmente colocará a mão na barriga com expressões faciais de dor (rosto franzido). Isso permitirá que outra pessoa responda discriminativamente e diga para ela que o que está sentindo é dor de barriga. Nesse sentido. Skinner < 1998) argumenta que todo comportamento antes de ser privado deve ser apresentado publi camente. Contudo, com palavras que designam sentimentos, o aprendizado não ocorre de maneira tão fácil, pois os comportamentos que são expressos publicamente quase nunca coincidem com o que se passa no mundo privado. As palavras que uma pessoa utiliza para responder o que está sentindo foram adquiridas através da comunidade verbal, e esta não sabia exatamente o que ela estav a sentindo (Skinner. 2002). Skinner (2002) mostrou que as palavras aprendidas para expressar sentimen tos começaram com metáforas, como uma forma de mostrar o que se passava internamen te através de algo público que fosse semelhante; por exemplo, uma pessoa que se sente trai da compara tal sentimento com um punhal enfiado no peito. Houve uma transferência do público para o privado. Numa análise do comportamento, segundo Skinner (2002), não precisamos utilizar os nomes que designam sentimentos se pudermos acessar diretamente os ev entos públicos que causaram tais eventos privados. Ao invés de dizer que alguém está deprimi do, podemos dizer que não existe nada de reforça dor no ambiente desse indivíduo. Isso não significa que o Behaviorismo não leva em consideração os sentimentos. O que o Behaviorismo não aceita são os eventos priv ados como determinantes do compor tamento; eles não são aceitos como causa pois, como foi afirmado anteriormente, existe sempre um evento extemo antecedente (Skinner, 2003). Para ilustrar, costumamos dizer que a raiva é o que nos motiva a “brigar” com alguém, mas ninguém fica com raiva sem que algo extemo ao sujeito tenha ocorrido antes de tal evento privado, como uma batida de carro, uma ofensa proferida ou um dia com temperatura excessivamente elevada. É fácil atribuir a causa do comportamento aos sentimentos porque estes ocor rem ao mesmo tempo em que estamos nos comportando ou mesmo antes de nos compor tarmos. formando um elo na cadeia comportamental (Skinner, 2 0 0 2 ). Skinner (2002) esclarece outro ponto que facilita esse engano - o fato de. na maioria das vezes, as pessoas não estarem conscientes das contingências ambientais que estão controlando seus comportamentos. Considerando que a crítica inclui a não-atribuição de papel à consciência, faz-se necessário elucidar de um modo mais especifico como a consciência é vista pelo Behaviorismo Radical. 1 Afirma-se qoe um orgamsmo dvscrômTs» ctstç áots ou -na» «trm uk» quando eic se ceroçiorta difercTWTnerr.e na presença de cada um detaes cHnuuk» < Whotfey e Malkx. 1980*}. : O cooccito <fc estim ule nrfançador será apresentado no capitulo III. 16 TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce C aUt ia o I Skinner (1998) aborda a consciência como a capacidade que o ser humano tem de descrever seu comportamento, identificando a sua relação com as variáveis que o determinam.Ter consciência ou estar consciente refere-se então ao mestno fenômeno - a capacidade que uma pessoa tem de falar sobre o seu comportamento. Quando isso é possível, podemos dizer que tais atos ou comportamentos são conscientes (Baum. 1999). O comportamento de falar também pode ser consciente ou não. Será consciente quando a pessoa que se comportou for capaz de repetir o que foi dito (Baum. 1999). Entretanto. Skinner (1998) revela que. na maioria das vezes, o homem é inca paz de reconhecer tais variáveis, pois estas podem ser sutis a ponto de não despertarem a atenção do indivíduo. Da mesma forma, pode não haver uma razão específica para que este indivíduo se comporte discriminativamente a ponto de tomar consciência daquela relação. Além disso, as variáveis que nos afetam são muitas e discriminar sob controle de qual delas estamos nos comportando não é uma tarefa fácil. Em síntese, quando nos comportamos ou quando estamos aprendendo um com portamento. não nos damos conta do processo como um todo. o que tem como conseqüên cia a atribuição da função de originador do comportamento a um agente interno - o EU - referindo-se ao próprio homem como responsável pelo comportamento (Skinner, 1998). Quando as concepções intemalistas’ referem-se a um EU como o causador de uma ação. esse EU não coincide com o organismo físico. E como se o corpo apenas se comportasse, mas quem o dirige é o EU, e não importa se esse EU é inconsistente (que muda de um momento pra outro), pois um único EU é capaz de comportar diferentes ações (Skinner, 1998). Para Skinner (1998), o conceito de EU não é essencial em uma análise do comportamento porque ele se baseia nas variáveis ambientais. Considera o EU um mero artifício para simplificar a relação funcional “causa e efeito’', já que trabalhar com os dados ambientais exige uma explicação de como se dá as relações entre eles. A concepção behaviorista de EU, que nada se assemelha às concepções intemalistas. revela que o EU está relacionado com a cultura na qual os repertórios comportamentais vão ser instalados em cada indivíduo a partir da sua interação com o ambiente. De acordo com as variáveis ambientais, o indivíduo aprenderá a se comportar de diferentes maneiras em diferentes situações (Skinner, 1998). O que se tomará próprio de cada indivíduo será a forma como se comportará diante de uma dada situação, visto que a história de reforçamento se diferencia de pessoa para pessoa. Em suma. o EU não é um agente interno ao homem e causador de uma ação, mas sim comportamentos instalados a partir da história de reforçamento do indivíduo em interação com o meio cultural. Podemos perceber claramente, ao longo de todo o capitulo, a ênfase que o Behaviorismo dá ao ambiente, mas isso não torna as criticas dirigidas a ele pertinentes. O Behaviorismo Radical atribui ao EU e a subjetividade (ev entos privados) o lugar de ser efeito do ambiente e dos comportamentos que ele produz, e não o de ser causa. Os eventos privados podem fazer parte de uma cadeia de comportamento, mas não o deter minam. O estimulo que produz o comportamento é sempre ambiental externo. Logo, não há gravidade alguma em deixar de atribuir ao EU, ou aos eventos privados, o papel de causador do comportamento já que somos a todo o momento afetados pelo ambiente. 3 Aquelas que explicam o fenômeno comportamentai através do que ocorre no interior do indivíduo. 17 TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce C apitulo II O Behaviorismo negligencia dons inatos e argumenta que todo comportamento é adquirido durante a vida do indivíduo? Lívia Fernanda Ferreira Ferraz A critica parece estar enfocando duas questões: 1) todo comportamento, para um behaviorista radical, é um fenômeno aprendido durante a ontogênese e 2 ) o behaviorísta, então, não acredita na possibilidade de alguns indivíduos nascerem com aptidões, por exemplo, para dança, música. literatura etc. Em relação à primeira questão, pode-se argumentar que não é verdadeira na medida em que Skinner explica os comportamentos a partir do modelo de seleção por conseqüências, que é constituído por três niveis de determinação (Andery, 1993). No primeiro nível, influenciado pela teoria danvinista. Skinner postula que existem respostas que são selecionadas pelas contingências de seleção natural, ou melhor, selecionadasfilogenicamente. Deste processo surgiram os comportamentos ou dons ina tos. eventos que foram selecionados a partir da evolução das espécies (Andery. 1993). “A corte, o acasalamento, a construção de ninhos e os cuidados com as crias são coisas que os organismos fazem e. mais uma vez. presume-se que fazem por causa da maneira porque evoluíram’’ (Skinner, 2003, p. 34). E importante ressaltar que os comportamentos selecionados por contingências de seleção filogenética permitem a interação da espécie humana com o mundo, garantindo sua sobrevivência (Andery, 1993). Sobre isto afirma Skinner (1998), Eslas vantagens biológicas explicam certos reflexos em um sentido evolutivo: os indivíduos que provavelmente mais se comportarem de maneira seme lhante. presumivelmente tiveram maiores probabilidades de sobreviver e transmitir a característica adaptativa ã prole (p.60). Mas a explicação skinneriana para a aquisição dos comportamentos não se restringe ao primeiro nível de seleção. O segundo nível opera sobre o conjunto de respos 19 TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce tas no decorrer do período de vida de um indivíduo e o terceiro ocorre à medida que o comportamento é transmitido entre indiv íduos (Andery, 1993). A explicação de comportamentos adquiridos durante a história particular do índivíduo vem do segundo nível de seleção por conseqüência, postulado por Skinner - a ontogénese. Neste processo, a seleção opera sobre o comportamento (ação) do indivíduo; 0 organismo se comporta gerando conseqüências, que por sua vez. controlarão a emissão do comportamento no futuro. Skinner (1998) em seu livro Ciência e Comportamento Humano afirma: “As conseqüências do comportamento podem retroagir sobre o organis mo. Quando isso acontece, podem alterar a probabilidade de o comportamento ocorrer novamente” (p. 65). Segundo Skinner (1998). o aumento na probabilidade de ocorrência do compor tamento está relacionado cora a atuação de reforçadores1, que por sua vez. funcionam como instrumento de seleção. **Quando temos de considerar o comportamento do orga nismo em toda sua complexidade da vida diária, necessitamos estar constantemente alertas para os reforços que prev alecem e que mantém o comportamento” (Skinner, 1998, p. 109). Isto quer dizer que» durante a vida do indivíduo, existem comportamentos que são fortalecidos por suas conseqüências, ou seja. são instalados e mantidos no repertório comportamental do indivíduo mediante a ação de reforços (Skinner, 2003). Além dos comportamentos inatos e dos comportamentos adquiridos pela ação do reforço sobre o comportamento do indivíduo, existem também repertórios comportamentais instalados e mantidos pelas práticas culturais (Andery, 1993; Skinner. 1998). Trata-se do terceiro nível de seleção por conseqüência, a cultura, que segundo Skinner (1998) vem a ser “um conjunto particular de condições no qual um grande número de pessoas se desenvolve e vive” (p. 468). Este grupo ou este conjunto de contingências sociais dispõe de costumes e relações que nunca foram experimentadas ou vistas pelo indivíduo, porém são eventos que o afetam, permitindo a aquisição de comportamentos, seja em nível privado (pen samentos e sentimentos) como também públicos, como, por exemplo, o manuseio de objetos e aprendizagem de habilidades sociais (Andery, 1993; Skinner, 1998). Vimos, portanto, que Skinner, respaldado pelo modelo de seleção por conseqü ências. não explica a aquisição dos comportamentos partindo somente da história de vida particular do indivíduo, incluindo em sua análise tanto conseqüências filogenéticas quan to culturais. E no que se refere à negligência aos dons inatos? Skinner, na verdade, não negligencia aspectos inatos. Ele nega a existência de “dons”, eqüivalendo a comportamen tos que independem da relação que cada pessoa estabelece com seu ambiente. Para Skinner, como visto no primeiro nível de seleção, existem comportamen tos os quais a espécie já traz em função de sua história filogenética. Deste modo, dons inatos são os que dizem respeito a aspectos genéticos, se referindo apenas a característi cas anatômicas e atividades fisiológicas (respiração e digestão) presentes na espécie humana, como também comportamentos reflexos5 (Skinner, 2003). 1 Estímulos que aumentam a probabilidade futura de um comportamento, como será mais detalhado no prmjmo capitulo. 2 Comportamento* reflexos serão dBcandos no próximo capitulo 2 0 TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce C a fít u l o II Isio significa que. embora Skinner não desconsidere comportamentos inatos, ele não aceita a existência de dons inatos no sentido de aptidões que explicariam compor tamentos como os de cantar, escrever, jogar futebol - a noção de que “a pessoa nasceu para isto”. É correto, então, afirmar que, para Skinner, não existem dons inatos que determinam comportamentos operantes6, supondo que tais dons explicariam completa mente o surgimento de alguns comportamentos. Concluindo, talvez em função de Skinner dar mais ênfase à história pessoal, e principalmente ao papel da cultura na instalação e manutenção dos comportamentos, é que se pense que Skinner negligencia o que é inato. No entanto, espera-se que os argumen tos apresentados sejam suficientes para que a critica possa ser revista. Este upo de comportamento lambém sera abordado no cap«tuk> sefnmic. 2 1 TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce Capítulo III O Behaviorismo apresenta o comportamento simplesmente como um conjunto de respostas a estímulos, descrevendo a pessoa como um autômato, um robô, um fantoche ou uma máquina? Nádia Prazeres Pinheiro É comum nós, analistas do comportamento, escutarmos que a nossa teoria “reduz o homem a uma máquina'’, que afirmamos que todo e qualquer comportamento obedece à lógica estimulo-resposta - o que seria uma afronta aos seres humanos, animais superiores e racionais, dotados de vontade própria e de livre arbítrio. “Descartes deu um passo importante ao sugerir que parte da espontaneidade das criaturas vivas era apenas aparente e. que. às vezes, o comportamento podia ser iniciado por uma ação externa” (Skinner, 1998, p.51). E Skinner vai além... Para responder a esta critica, devemos primeiramente ter claro o que são com portamento reflexo e comportamento operante. No caso do reflexo, os estímulos seriam algum tipo de mudança externa que causaria estimulação orgânica que. por sua vez. provocaria uma resposta orgânica. Suas características são: ser inconsciente, ou seja. ocorre mesmo quando o sujeito não está percebendo; involuntário, ocorre independente da vontade do organismo, não há como controlá-lo ou evitar sua ocorrência por vontade própria e; pode ser previsto com grande precisão, considerando que, na presença do estímulo, a resposta sempre ocorre rá (Skinner, 1998). São exemplos de comportamento reflexo, os casos da contração pupilar frente a um estimulo luminoso, da salivação frente a um prato de comida aparentemente apetitoso e do piscar quando algum objeto é passado na frente de nosso rosto ou olhos. "Os reflexos são produtos da seleção natural. Invariavelmente parecem estar envolvidos na manutenção da saúde e na promoção da sobrevivência e da reprodução” (Baum. 1999. p. 72). Os padrões de comportamentos reflexos são comuns a todos os membros dc uma espécie e. por isso. podemos dizer que estão relacionados com a füogênese. Tais padrões começaram a se modificar e a evoluir na medida em que o organismo precisada se adaptar às mudanças do meio. já que. “só o processo evolutivo pode fornecer um mecanismo, pelo qual oindivíduo possa adquirir respostas a configu rações particulares de um dado ambiente’' (Skinner, 1998. p. 60). Ora, se o ambiente no qual os organismos estavam inseridos sofreram modificações, eles. os organismos, tam bém precisariam ev oluir para permitir a sua sobrevivência e a manutenção de sua espécie. Os camaleões, por exemplo, quando em contato com um estimulo de perigo, mudam sua cor para se esconderem e serem confundidos com o seu esconderijo. Se isso não ocorres se, se esse reflexo nâo estiv esse presente nesse animal, ele seria presa fácil e sua espécie poderia estar extinta. Da mesma maneira nós, os seres humanos, quando lacrimejamos para expulsar uma partícula de poeira é uma questão de sobrevivência para manutenção da espécie (Skinner, 1998). Se todos os nossos comportamentos se restringissem aos reflexos, poderíamos ser comparados às máquinas, pois nossos comportamentos sempre corresponderiam à relação causa e efeito. Entretanto, como afirma Skinner (1998). “A maior parte do com portamento do organismo intacto não está sob esse tipo de controle primário” (p. 54); a maioria dos nossos comportamentos são operantes. O comportamento denominado operante é aquele que opera sobre o meio, produzindo modificações no ambiente físico (natural) e no ambiente social (homens) (Skinner, 1998). Este comportamento é explicado pelo paradigma da triplíce contingência S* - R - Sr. Onde Sd éo estimulo discriminativo, R é a resposta e Sr é o estímulo reforçador. Explicando cada um: Sd é um estimulo que sinaliza a possibilidade de reforçamento. Distinguindo-se do estimulo antecedente do reflexo, ele “não elicia a res posta, simplesmente altera sua probabilidade de ocorrência” (Skinner, 1998. p. 122). Com isso. pode-se concluir o porquê de não falarmos de certezas, e sim de probabilidades em comportamentos operantes, e que, portanto, não somos seres autômatos pois as respostas automáticas não são maiona em nosso repertório comportamental. Assim, podemos alterar a probabilidade de emissão de uma resposta modificando o estimulo discriminativo com o qual o organismo entrará em contato (Skinner, 1998). R é a respos ta, a ação em si mesma. E S' é um estimulo conseqüente à resposta que determina a futura freqüência de emissão da mesma (Skinner, 1998). Quando a conseqüência é um Sr. a resposta tem uma maior probabilidade de voltar a acontecer, se não for reforyadora. ela (a resposta) terá sua probabilidade de ocorrência diminuída. Deste modo. o reforço cumpre a função de fortalecer uma determinada resposta e aumentar a eficiência da mesma: e é por isso que dizemos que o comportamento é selecionado pelas suas conseqüências, elas "podem retroagir sobre o organismo” (Skinner. 1998, p. 65). Ilustrando o paradigma operante. podemos recorrer ao comportamento de la var as mãos quando estas estão sujas. Neste caso o Sc é "as mãos sujas”, R é “lavar as mãos” e Sré “ter as mãos limpas”. Assim, toda vez que estiver frente ao estímulo mãos sujas, a probabilidade de lav ar as mãos é maior do que a de qualquer outra resposta, visto que tal resposta foi anteriormente reforçada. “A história de reforçamento é que determina os efeitos de um evento atual, as conseqüências recebidas no passado alteraram o organis mo de forma a ele aeir de uma dada maneira frente a um ev ento” (Micbeletto, 1997, p. 127). A esta história que é construída ao longo da vida dos indivíduos e que consiste, na verdade, na aquisição de repertórios comportameniais por meio [principalmente] do condicionamento operante chamamos ontogénese. 24 C a p i tu lo III Desta forma, a ontogema diz respeito à história particular de cada indiví duo. na medida em que todo homem interage com o ambiente de maneira singular. Sendo o comportamento operanie uma parte da ontogênese, tal vez a maior parte dela (Costa, 1996, p. 7-8). Desde esse nível de determinação podemos perceber o quão único é o ser humano (tema que será abordado no capitulo XIV), ninguém vai ter os mesmos compor tamentos (mesmo que sejam topograficamente semelhantes, não o serão funcionalmente) de outra pessoa. Haverá sempre algo de novo. o que dará a dimensão de que não podemos ser máquinas - estas são pré-programadas: nós não. estamos em constantes mudanças (cf. Micheletto. 1997). Partindo da própria definição de o perante como o comportamento que é selecionado por suas conseqüências, já é possível refutar a critica de que a concepção de comportamento adotada por Skinner obedece a uma lógica mecanicista. Afinal, não se trata de uma análise causai, na qual se busca uma causa para um efeito. Nas palavras de Skinner (1998), Os "íermos 'causa' e 'efeito': já não são usados em larga esrala na ciência. Lma “causa" vem a ser “uma mudança em uma variável independente" e um “dcrto" uma “mudança em uma variável dependente'1'. A antiga “relação de causa c efeito" transforma-se em uma "relação funcional". Os novos termos não suge rem como uma causa produz o seu efeito, meramente afirmam que eventos diferentes tendem a ocorrer ao mesmo tempo, em uma certa ordem (p. 24). L ma análise funcional avalia contingências e estas são definidas como “relações de dependência entre eventos. Elas prescrevem a probabilidade de ocorrência de um dado evento em função da ocorrência de um outro evento” (Barros, 19%. p. 8 ). Retomando o modelo de seleção por conseqüência, como foi visto no capitulo anterior, o comportamento humano também é controlado pela cultura, como enfatiza Skinner (2002), Podemos atnbuir uma pequena parte do comportamento humano (...) ã seleção natural e à evolução das espécies, uma parte do comportamento humano deve ser atribuida a contingências de reforçamento. especialmente às contingências sociais verdadeiramente complexas a que chamamos cultu ra (p. 41). E complementa: o homem “se encontra controlado por seu ambiente, porém não devemos esquecer que é um ambiente, construi do em grande parte pelo próprio homem” (Skinner, 1983a. p. 160). Isso quer dizer que o homem é controlado pelo próprio homem: é a sociedade, a nossa própria comunidade, que seleciona os comportamentos que devem ser emitidos. E mais. como disse Micheletto (1997). tenho meu comportamento reforçado pelo suces so do meu próprio comportamento, somos “agentes controlados pelo efeito de nossa própria ação” (p. 118). Logo. sou fantoche de mim mesmo? Com certeza não! Nem fantoche do ambiente, nem fantoche de si mesmo, pois a noção de comportamento implica relação. Todos os comportamentos tém uma história. 25 a história de reforçamento de cada uzn de nós. as nossas historias de vida, inseridos em uma determinada sociedade. E é dependendo de como e quando os individuos desta sociedade nos oferecem reforçadores ou punidores que poderemos nos comportar em um determinado contexto. Dizer que o comportamento humano é controlado por eventos externos não significa dizer que o homem é um autômato, um robô. um fantoche ou uma máquina. 26 C apítvlo IV O Behaviorismo não tenta explicar os processos cognitivos? Viviane Pereira dos Santos Como discutido anteriormente, o Behaviorismo ignora a consciência, os senti mentos c os estados mentais como iniciadores do comportamento, excluindo qualquer explicação interna como causa do mesmo. O Behaviorismo. em especial o skinneriano, recebeu severas críticas por ter adotado o recorte externai ista para explicar os comporta mentos. abolindo da Psicologia o termo mente e seus correlatos. Posteriormente ocorreram movimentos para trazer a mente de volta, dentre eles o Cognitivismo: “A mente que a revolução cognitiva colocou em evidência é igual mente a executora das coisas. É a executora dos processos cognitivos. Ela percebe o mundo, organiza os dados sensoriais em todos significantes e processa a informação” (Skinner, 2002. p. 39). Vale ressaltar que o termo mente utilizadopelos psicólogos cognitivos difere daquele utilizado pelos filósofos antigos e pelos psicólogos estruturalistas e funcionalistas. por não ter como ser estudada pela introspecção, uma vez que não pode ser observ ada, apenas inferida. “Não vemos a nós próprios, por exemplo, processando a informação. Vemos os materiais que processamos e o produto, mas não a produção” (Skinner, 2002. p. 40). Atualmente, tem-se usado a palavra cogniçào ou a expressão processo cognitivo em lugar de menie. Conforme Stemberg (2002) o termo cogniçào refere-se ao modo como as pessoas pensam. Neste sentido, a Psicologia Cognitiva estuda a forma das pessoas perceberem, aprenderem, recordarem e pensarem sobre as informações, isto é, busca-se compreender como se dá o processo do conhecimento no indivíduo. Para os behavioristas radicais, pensar é comportamento privado determinado por algum ev ento externo, logo a mente não executa nenhum papel no processo de pensar. Na verdade, o pensamento não está contido na mente nem em lugar nenhum, ele simples 27 mente ocorre. O fato de o pensar ser um comportamento encoberto dificulta a identifica ção das reais causas do comportamento como exteriores ao indivíduo Na teoria cognitiva, o desenvolvimento do mundo no qual o indivíduo está exposto é pouco valorizado. Tal aspecto pode ser observ ado na área educacional na qual professores lançam mão dos mais variados métodos e instrumentos para promover o desenv olvimento cognitivo das crianças. Eles são instruidos para trabalharem o intelecto dos alunos, tomando-o mais receptivo e ágil ao processar as novas informações. Já na teoria skinneriana. é o ambiente externo que assume papel central e não as cognições. A cognição é um processo mental e por isso é rejeitado por Skinner como agente que determina o comportamento. “Os processos cognitivos são processos componamentais; são coisas que as pessoas fazem” (Skinner, 2002. p. 39) e como tais são estudados pelo Behaviorismo. Os cognitivistas aproximaram o conceito de mente ao de cérebro e buscam compreender fenômenos cognitivos que nele ocorrem utilizando, como analogia, progra mas de computador. No entanto, nem o mais avançado dos computadores poderá explicar o comportamento humano, porque o homem não é uma máquina que pode ser programa da para realizar ações. A própria estrutura cerebral também foi selecionada e cabe a outras ciências e não à Psicologia saber como e porque foi selecionada (Skinner, 1990). Não restam dúvidas que a Psicologia Cognitiva é uma abordagem que vem conquistando cada vez mais adeptos em virtude de sua linguagem ser de fãcil entendimen to para o público em geral, enquanto a linguagem skinneriana. por apresentar caráter cientifico, é freqüentemente rejeitada. O extraordinário atrativo das causas internas e a conseqüente negligência das histórias ambientais c do ccnáno atual se devem a algo mais do que a una prática lingüística. Sugiro que tem o encanto do arcano. do oculto, do her mético, do mágico - esses mistérios que mantiveram posição tâo importan te na história do pensamento humano. É o atrativo de um poder aparente mente inexplicável, num mundo que parece situar-se alem dos sentidos e do alcance da razão (Skinner. 2003. p. 140). O que se deve deixar claro é que Skinner procurou explicar os processos cognitivos a partir de um recorte extemalista. Eis o ponto de divergência com as ciências cognitivas que sustentam a idéia de que tais processos podem determinar o comporta mento. Desse modo. a distinção entre a Análise do Comportamento e o Cognitivismo toma-se importante para que se compreenda que se traiam de enfoques distintos cujas diferenças aparecem desde o plano filosófico, passam pelo teórico e se evidenciam na prática clínica- Por isso. a integração entre os modelos cognitivista e behaviorista vem sendo cada vez mais discutida e questionada, visto que tal união resultaria em uma incoerência teórica (Costa, 2002). 28 Ca u t u jo V O Behaviorismo não considera as intenções ou os propósitos? Sàdia Prazeres Pinheiro Ao nos indagarmos sobre “O que é intenção?” ou “O que é propósito?”, a probabilidade de ratificarmos a hipótese de que todos darão explicações pautadas numa crença íntemalísta é alta. Intenção, propósito, expectativa, vontade, desejo, intuito, objetivo... Dificil mente alguém não entende estas palavras. No conhecimento do senso comum, são elas que desencadeiam nossos comportamentos - é por causa delas que agimos. Assim, se “vamos à praia” é porque desejamos ir até lá; se temos a intenção de sermos bons profissionais, buscaremos estudar para isso e o comportamento de estudar estaria sendo causado pela nossa vontade. Porém, como este capitulo é fundamentado na filosofia behaviorista radical, trataremos de enfocar a intenção a partir de um recorte externai ista. Antes de tudo. precisamos retomar o paradigma da tríplice contingência. ( - R - S"). pois a ela estaremos sempre recorrendo. Neste modelo, são as conseqüências reforçadoras que alteram a probabilidade do comportamento ser emitido no futuro. O alcance de tal conseqüência dá-se no comportamento futuro e não no que já ocorreu. A alteração não é imediata no sentido de que ocorre sobre o comportamento presente, ela é na verdade, futura, sendo percebida na emissão ou não de comportamentos futuros (Skinner. 1998). Esta última afirmação necessita de um pouco mais de atenção, pois voltará a ser trabalhada adiante. Segundo Baum (1999). "É claro que um evento futuro não pode causar um comportamento. (...) As variáveis das quais meu comportamento depende devem estar no passado ou no presente” (Baum. 1999. p. 98). De acordo com Baum (1999), existem três significados para a palavra intenção; função, causa e sentimentos. O uso de intenção como função não é incompatível com o discurso científico. Ao afirmarmos que a intenção da borracha é apagar erros de grafia, estamos falando de sua 29 função, o que ela faz. para que ela serve, o que ela é. Em suma. estamos nos referindo à sua definição, à sua classe funcional, ou seja. algo que a caracteriza como borracha, algo que a diferencia de todos os outros objetos, e que independente de sua topografia (forma. cor. tamanho) não a faz perder ou ser excluída de sua unidade funcional. A noção de unidade funcional é semelhante à de classe de estímulos, na qual um conjunto de estímulos apresenta alguma propriedade comum (AVhaley e Mallot, 1980a). Mas isso se aplica quando estamos falando de objetos. E quando falamos de comportamento, como pode mos interpretar intenção vista como função? O uso de intenção, neste caso. designa efeitos ou objetivos. .Assim, quando apresento o comportamento de usar uma borracha, a intenção do comportamento, isto é. o objetivo do comportamento é o próprio reforçador, qual seja, o de ter algo apagado. Logo, a intenção está presente no próprio comportamento operante. seja na funcionalidade do objeto (trabalho que desempenha), seja no reforçador (estimulo conse qüente a um comportamento) de um determinado comportamento. A segunda maneira de definirmos intenção é substituí-la como causa de um comportamento. Deste modo, o comportamento de usar uma borracha é causado por um desejo interno de ter algo apagado. Se agimos de alguma forma, já temos em mente um determinado objetivo, já sabemos o que almejamos, e por isso nos comportamos. Mas. esta assertiva vai de encontro à nossa filosofia que é anti-mentalista. não sendo possível aceitar tal hipótese. Nossa explicação deve, portanto, residir no próprio comportamento operante. Uma vez que ao agirmos temos nosso comportamento reforçado, o fato de termos conseguido o reforço faz com que emitamos comportamento semelhante ao ou- trora reforçado, ou. por outro lado, se formos punidos, teremos menor probabilidade de emitir comportamento semelhante. Tudo depende dahistória de reforçamento de um dado comportamento. “Nós nos lembramos do que fizemos antes e isso nos inclina a nos comportarmos de modo similar ou diferente, dependendo do que é reforçado*’ (Baum. 1999, p. 103). Ora. se. em uma determinada situação, utilizamos uma bonacha para apagar erros e tivemos o nosso comportamento reforçado pelo fato do erro ter sido apagado, o compor tamento de apagar teve sua probabilidade de ocorrência aumentada Logo. quando estiver mos frente a um erro (S4), nos comportaremos de maneira semelhante (R). e obteremos (provavelmente) o reforço (SO- Assim, a causa do comportamento não é interna, ele (o comportamento) é de fato fruto de contingências ambientais: é determinado por elas. Fica. ainda, uma questão: a de por que é comum concebermos intenção como causa. Porque ao dizermos que o comportamento é causado, acreditamos que a causa tem que ser anterior à emissão da resposta como no reflexo (Skinner. 2003). Então, a possi bilidade mais imediata é que tenha em mente o objetivo, e que essa representação mental seria a causa. Bom. e já que a causa tem que ser sempre anterior ao comportamento, como o Sr poderia causar qualquer comportamento? Esse esclarecimento, quem nos dá é Skinner. ao dizer que o efeito do Sr faz-se sentir em outras respostas* e não na resposta que o acompanha: Não é correto dizer que o reforçamento operante ‘reforça a resposta que o precede'. A resposta já ocorreu e não pode ser mudada. (...) No lugar de dizer 1 O termo resposta s<sxio asado como smónizno de cooiportajncine. 30 C A P ín x o V que ura homem se comporta por causa das conseqüências que seguem o seu comportamento, diremos simplesmente que ele se comporta por causa das conseqüências que seguiram um comportamento semelhante no passado (Skinner. 1998. p. 97). Destarte, o estímulo reforçador pode sim, controlar a emissão de respostas. Um outro motivo que justifica a confusão é que ao nos comportarmos seguindo a nossa intenção, esta cessa (Baum. 1999). Por exemplo, se desejamos ter um erro apagado (intenção), o apagamos e, por conseguir êxito em nosso propósito, paramos de apagar. A intenção seria vista como a causa do comportamento, uma vez que a intenção não existe mais. ou seja. o comportamento cessou porque a causa não está mais operando. Faz-se uma relação entre o fim do comportamento com a obtenção do objetivo, conse guindo este. aquele é dado como não mais necessário. Deste modo. o parar de apagar é devido a já ter apagado o erro, portanto "rendo o propósito já realizado, não apagamos mais o erro'’; e tal fato é concebido como se a vontade interna é que estivesse determinan do o nosso comportamento. Novamente podemos esclarecer essa situação, agora recor rendo ao encadeamento de respostas. Se uma resposta deixa de ser emitida, é devido à aparição do reforço, e este. por sua vez. produz uma mudança no meio e serve como estimulo discriminativo para outra resposta (Whaley e Mallot, 1980b). Da seguinte maneira: Erro -> Apagar o erro -> Erro apagado -> Escrev er outra palavra S* R S e S* R A terceira forma de entendermos a intenção é como sentimento. Ao expressar, por exemplo, que estamos com vontade de comprar uma nova peça de roupa e. então, concluirmos que temos a intenção de comprá-la estamos relatando uma vontade, um sentimento. "Se eu sei o que eu quero, isso significa que algum sentimento interno está se comunicando comigo" (Baum. 1999. p. 103). Porém, uma vez mais. estamos nos referin do a mentalismos. Baum (1999) descreve “dicas” que iriam nortear nossos auto-relatos (fala para si mesmo). Isso quer dizer que sempre que emitimos um auto-relato. este comportamen to está baseado tanto em eventos privados quanto em eventos públicos, além de situa ções passadas, na nossa história de vida. e não fundamentado no futuro. Auto-relatos. incluindo palavras como pretender, supor, acreditar, pensar, parecem estar ditando algo futuro, falando do futuro, esclarecendo o que o sujeito irá fazer, mas na verdade estão se referindo a conseqüências passadas que dizem da proba bilidade de uma resposta ser emitida e, por conseguinte, ser reforçada (Skinner, 1984). Por exemplo, ao afirmarmos que “pretendemos comer uma isca de peixe”, estamos nos referindo não ao futuro, como pode parecer, mas sim ao passado, pois. em algum momen to passado, em circunstâncias parecidas com as atuais, comemos a isca de peixe e foi reforçador. Logo. já que os contextos são semelhantes, agora, a isca aluaria como reforçador para o comportamento de comê-la. nossas chances de obter reforço ao emitirmos tal comportamento é maior do que com qualquer outro. Essa explicação é pertinente e cientifica. pois envolve apenas eventos naturais. Assim como escreve Baum. “A explica ção cientifica para a ação aparentemente intencional e para os auto-relatos sobre inten 31 ções sentidas baseia-se nas circunstâncias presentes associadas ao reforço passado em circunstâncias similares, ambas naturais e passíveis de descobertas" (Baum. 1999, p. 104>. Um sentimento pode agir como “dica" de um auto-relalo, como foi dito anteri ormente - sentimento entendido como ato de sentir. Portanto, se sentimos fome. dizemos que temos a intenção de comer, se sentimos frio, temos o desejo de termos conosco um agasalho. E. se dizemos sentir vontade de fazer alguma coisa, se há realmente algum sentimento envolvido na nossa intenção, seja um sentimento de persistência, euforia, raiva, medo etc., ele não é o agente do nosso comportamento, estando apenas presente como subproduto de contingências. Em outras palavras, os sentimentos resultam de condicionamento clássico, por emparelhamento de uma resposta pública com um evento privado (Baum. 1999). Então, ao sentirmos vontade de fazer algo, não estaremos nos referindo a uma intenção interna, mas sim a nossa própria história de reforçamento. “Uma pessoa dis posta a agir porque foi reforçada para tanto pode sentir a condição de seu corpo nesse momento e chamar-lhe “propósito sentido*, mas o que o Behaviorismo rejeita é a eficácia causai desse sentimento” (Skinner. 2003, p. 190-191). Podemos achar suficiente como explicação para uma jovem querer freqüentar uma academia de ginástica o fato de ela poder encontrar lá rapazes bonitos . Pode ser, entretanto, que ela faça isso inconscientemente, ou seja. não percebendo que seu compor tamento está sendo controlado por tal contingência de reforço. Assim, dizemos que sua intenção é essa. qual seja, o reforçador de estar observ ando rapazes bonitos. Portanto, "Uma pessoa pode afirmar seu propósito ou intenção... Ela não pode fazer isso. eviden temente. se ela não estivesse ‘consciente’ das ligações causais.,. Ainda assim as contin gências são efetivas mesmo quando uma pessoa não consegue descrevê-las" (Skinner, 1984, p. 267). A facilidade em dar justificativas internas ao invés de fazer uma análise fúnci' onal (pois nem sempre sabemos das relações entre as contingências que controlam nosso comportamento) é um dos motivos pelos quais dizemos que nosso comportamento é movido por uma intenção interna. E este, por ser um comportamento reforçado e difun dido na nossa sociedade, ganha cada vez mais importância e força. Após esta exposição fica claro que o Behaviorismo Radical não desconsidera a intenção; apenas a explica de maneira diferente, de acordo com o enfoque extemalista. A intenção pode, desta forma, ser a função de um objeto, o reforçador de um determinado comportamento, explicada por reforçadores passados e ou história de vida; não sendo necessário recorrer-se a explicações internas, subjetivas, metafísicas ou fantasiosas. 32 C aíttllo V I O Behaviorismo não consegue explicar as realizações criativas - na arte, por exemplo, ou na música, na literatura, na ciência ou na matemática? Taynan Marques Bandeira É comum a criatividadeser reconhecida pelo senso comum e conceituada por diversos autores como produto de algo intemo. como se fosse intrínseca ao indivíduo. Entretanto, o recorte extemalista de Skinner rejeita a causalidade interna e enfatiza que todos os comportamentos são determinados a partir das variáveis ambientais externas, como já foi argumentado em capítulos anteriores. Devido a este posicionamento, muitos autores o criticam dizendo que sua teoria não explica as realizações criativas. Mas é utilizando esse recorte que Skinner, não só considera a existência de comportamentos criativos, como os explica em algumas obras: A Tecnologia do Ensino, Ciência e Compor tamento Humano e Sobre o Behaviorismo. De acordo com Skinner (2003), a criatividade sempre foi considerada como algo difícil de ser explicado até o surgimento do conceito de comportamento operante, porque as justificativas para explicá-la. até então, eram mentalístas. Para mostrar que a criatividade consiste em um comportamento, e que. dessa forma, é selecionado por suas conseqüências, Skinner contrapõe o processo de condicionamento operante e o processo de evolução descrito por Darwin. Skinner (2003) afirma que, na história das espécies (proposta por Darwin), os traços acidentais originados de mutações foram selecionados em virtude de uma maior sobrevivência da espécie; então, do mesmo modo. acontece com as v ariações comportamentais que são selecionadas em v irtude de suas conseqüências reforçadoras. O conceito de seleção é mais uma vez a chave. As mutações na teoria genética e evolutiva, são casuais e as topografias das respostas selecionadas pelo reforço são. se não aleatórias, pelo menos não necessariamente relaci onadas com as contingências em que serão selecionadas. E o pensamento criador preocupa-se grandemente com a produção de 'mutações'. Escrito 33 res. artistas, compositores, matemáticos, cientistas e inventores estão fa miliarizados com as formas explícitas de tomar mais provável a ocorrência de comportamento original (Skinner. 2003, p. 101). Assim, toma-se claro que a originalidade não está ligada a processos internos, como enfatizam os mentalistas. Os comportamentos criativos são, como qualquer outro comportamento, selecionados pelas suas conseqüências. A seleção por conseqüências invariavelmente implica história. Ao longo do tempo, resultados bem-sucedidos (reforço) tomam algumas ações mais pro váveis, C resultados malsucedidos (não reforço ou punição) tornam outras ações menos prováveis (Baum. 1999, p. 101). Skinner (1998) faz a distinção entre o que se pode chamar de idéias originais e não-originais. As respostas não-originais são aquelas provenientes da imitação ou gover nadas poc regras1. Já as respostas originais são aquelas que resultam da manipulação das variáveis, ou seja, modeladas pelas contingências. “Artistas, compositores e poetas às vezes seguem regras (imitar o trabalho dos outros, por exemplo, é uma forma de seguir regras), mas atribui-se mérito maior ao comportamento devido a exposição pessoal a um ambiente- (Skinner, 2003, p. 110-U1). Baum (1999), um behaviorista radical contemporâneo, argumenta que o objeti vo da atividade de qualquer artista seja ele pintor, escritor, compositor, ou cientista, é buscar a novidade, algo que nunca tenha sido visto ou criado antes. Nesse sentido, cada trabalho criado se constitui como único e novo, não só para a comunidade, mas também para seu próprio aoervo. Entretanto, ninguém cria um trabalho a partir do nada. pois mesmo cada trabalho tendo seu aspecto singular, está relacionado com realizações ante riores e origina-se de uma história de vida particular. É perfeitamente passível de verifica ção que. embora a compositora Marisa Monte não faça duas músicas exatamente iguais, suas composições parecem umas cora as outras, mais do que se fosse realizada uma comparação entre uma música dela com as de Gal Costa, por exemplo. Então, cada trabalho novo é feito com base nos anteriores e depende das conse qüências. pois mesmo não sendo possível sustentar empiricamente. pode-se levantar a hipótese de que se Marisa Monte não tivesse tido conseqüências reforçadoras para suas composições, provavelmente nâo teria continuado a compor. “Os trabalhos anteriores estabelecem um contexto no qual o trabalho novo pode se parecer com eles. mas não tanto que pareça ‘aquela coisa velha"’ (Baum. 1999, p. 102). E quanto mais o ind iv íduo tem a oportunidade de comportar-se. nesse caso. compor cada vez mais. maior será a probabilidade de reforçamento e conseqüentemente serão instalados comportamentos criativos, pois '‘as grandes sinfonias de Mozart são uma seleção de um número maior, os grandes Picassos são só uma parte do produto dc uma vida de pintura” (Skinner, 1972. p. 172). Assim. Skinner (1972) afirma que o importante é evocar comportamentos porque só assim serão emitidas respostas, que se fossem de outro modo, nâo apareceriam. Para Skinner, a cultura desempenha um pape’ fundamental na instalação de comportamentos criativos. Isto fica evidente quando sustenta que “em igualdade de ' Regras são estímulos veifcats que especificam ooonngêncMS (Jonas. 199TV 34 C apitulo VI condições, a cultura terá maior probabilidade de descobrir um artista original, se induz muita gente a pintar quadros ou de produzir um grande compositor, se induz muita gente a compor " (Skinner, 1972. p. 171 -172). Diante disso, torna-se claro que Skinner consegue explicar as realizações criati vas sem recorrer a argumentos mentalistas. E ainda enfatiza que as pessoas podem ser instruídas para aprenderem a ser criativas, ou seja, podem ter um ambiente favorável para o aprendizado de comportamentos criam os. “Por definição, não se pode ensinar com portamento original, pois não seria original ser ensinado, mas podemos ensinar ao estu dante a arranjar ambientes que maximizem a probabilidade de que ocorram respostas originais" (Skinner, 1972, p. 169). Isso por sua vez desestmtura a concepção mentalista. que é determinista ao afirmar que a criatividade é um dom e. conseqüentemente, quem faz trabalhos originais e apresenta respostas criativas os faz porque nasceu com esse traço iniemo. De acordo com Skinner, quando se atribui a “criatividade” a um dom interno, retira-se a responsabilidade de realmente criar contingências ambientais favoráveis ao desenvolvimento de tais comportamentos criativos. O professor que acredita que o estudante cria uma obra de arte através do exercício de alguma faculdade interior e caprichosa não investigará as con dições sob as quais o estudante de fato faz um trabalho criativo. Será também menos capaz de explicar este trabalho quando ocorrer e não tenderá a induzir os estudantes a se comportarem criativamente (Skinner, 1972. p. 160-161). Nesse sentido, os comportamentos inovadores são aprendidos pelo indivíduo, como qualquer outro comportamento. De acordo com Skinner (2002), mesmo algumas v ariações comportamentais ocorrendo de maneira acidental, os indivíduos podem apren der a ser criativos porque o seu comportamento (criativo) é selecionado pelas conseqüên cias reforçadoras que o sucedem. Isso significa que a “criatividade" é determinada pelas contingências ambientais, de modo que o comportamento criativo está relacionado à história de reforçamento de cada indivíduo. Assim, quanto mais alguém é exposto a situações problemas que lhe suscitem variações comportamentais. as quais são selecionadas a partir das conseqüências reforçadoras. provavelmente maiores serão os comportamentos criativos. 35 C aH t u jO VÍF O Behaviorismo é necessariamente superficial e não consegue lidar com as profundezas da mente ou da personalidade? Suane Maria Marinho Sá Sabemos da repercussão que o anti-mentalismo nas obras de Skinner provoca nas pessoas. No entanto, essa já foi uma criticaabordada anteriormente, e. portanto, me deterei. apenas, nas questões que envolvem a personalidade. Todos já ouvimos falar, provavelmente em muitas situações, em “personalidade”. Poucas palavras são tão fascinantes para as pessoas em geral quanto este termo. Como a maioria dos temas em Psicologia, o senso comum "usa e abusa" do termo personalidade, que exerce grande encanto sobre os leigos. Frase como “Maria Eduarda não tem personalidade", “meu filho tem uma personalidade forte", ”é da minha personalidade ser assim", “ele agiu assim devido à sua personalidade psicopata" são freqüentemente proferidas no cotidiano. A palavra personalidade é. portanto, usada de diferentes maneiras, seja para atribuir habilidades sociais a alguém (“perspicaz*’, “veloz"), seja para se referir á caracte rística considerada central de uma pessoa ("inteligente", “tímido”, “nervoso"), ou ainda empregada para anunciar a presença de alguém importante ou ilustre (“vamos receber uma personalidade vinda do exterior)~ (Fíall. 1984). Mas o que é personalidade? A palavra personalidade se origina do latim “persona" (“soar através"), o mesmo que pessoal, e é definida por “aqueles traços relativamente duradouros de um indivíduo que explicam por suas maneiras características de se comportar" (Stratton e Hayes. 2001. p. 175). Desse modo, personalidade refere-se à maneira relativ amente constante de perceber, pensar, sentir e agir do indivíduo, envol vendo. assim, todos esses aspectos de forma a se integrarem e organizarem, conferindo peculiaridade e singularidade ao sujeito. De modo geral, os teóricos da personalidade atribuem um papel decisivo aos processos motivacionais. vendo nestes a chave para a compreensão da conduta humana. Sendo assim, muitas vezes o emprego da palavra personalidade refere-se a uma propriedade comum, algo que está dentro da pessoa, que é estável e que determina o que ela irá fazer em uma situação especifica (HalL 1984). 37 TEREZA CRISTINA Realce No entanto, esta caracterização da personalidade nos leva com um ente a uma série de questionamentos e dúvidas - se tenho uma personalidade, como ela se constitui? Como posso mudar meu jeito de agir se minha personalidade já faz parte da minha “estrutura”? Por que ajo assim, por que penso assim, por que sinto desse modo e não de outro? Se a personalidade é, por assim dizer, imutável, então seria, ao meu ver, inútil a função e o trabalho do psicólogo. E os comportamental ístas, o que entendem por personalidade? Skinner (2003), em Sobre o Behaviorismo, define a personalidade como "um repertório de comportamento partilhado por um conjunto organizado de contingências"’ (p. 130). Em outras palavras. Skinner nos fala que a personalidade é um conjunto de comportamentos de um indivíduo, adquirido a partir de sua história de reforçamento diferencial. Mas o que percebemos comumente é que pessoas são substituídas por “suas” personalidades. Assim, muitos padrões de comportamentos são substituídos por “tra ços de personal idades”. Na medida em que as variáveis externas não são referidas ou ignoradas desco nhecidas. sua função é atribuída a um agente originador dentro do organismo. As vari áveis ambientais e históricas que controlam as respostas são frequentemente desconhe cidas dos indivíduos. Conseqüentemente, as pessoas voltam-se para o seu interior (personalidade, eu. selj) em busca de explicações para a origem de suas ações, como visto no capitulo I. A personalidade é freqüentemente utilizada como uma causa hipo tética de ação, “se não podemos mostrar o que é responsável pelo comportamento do homem, dizemos que ele mesmo é o responsável pelo comportamento” (Skinner, 2003, p. 130). Para Skinner, o uso do termo “personalidade” refere-se aos padrões comportamentais e não as suas causas ou. especificamente, aos papéis que a pessoa adota. O que. então, dizer das brilhantes análises já feitas a respeito da causalidade da personalidade? O que fazer com o fato de que. por toda a nossa história, sábios como Platão. Aristóteles. Nietzsche. Maquiavel e os mais contemporâneos, como Fneud. Jung e Mc Dougall. tentaram construir justamente um conhecimento sobre a personalidade em que esta é tida como a grande motívadora dos nossos comportamentos? Teriam sido buscas e estudos em vão? Skinner (1990) nos fala que. infelizmente, sim. mas que nem tudo está perdido. Muito mais útil seria a análise do comportamento, seja através da clarificação das contingências de reforçamento. seja atrav és do planejamento de ambien tes melhores. A Análise do Comportamento entende a personalidade como um repertório comportamental. adquirido a partir das contingências de reforço, ao qual o indivíduo foi submetido ao longo de sua história. Assim, nos constituímos diferentes devido a diferen ças nas situações às quais fomos e somos expostos. As pessoas são intituladas como “tímidas”, “extrovertidas”, “inteligentes”, “autoritárias”, “zangadas”, “desorganizadas”, “agressivas” por causa de contingências que as envohem (Skinner. 1998), Tímido, inte ligente. desorganizado e agressivo são apenas rótulos para uma categoria de comporta mentos apresentados em um dado contexto e não a causa destes. “As diferenças na experiência entre o ‘ignorante' e o ‘estudado’, o 'ingênuo’ e o ‘sofisticado’, ou o 'inocen te' e o ‘vivo’ se referem principalmente a diferenças em histórias de reforço” (Skinner. 1998. p. 213). 38 TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce CaUTUjO VII Mas o que é sustentado por nossa sociedade é que um único organismo é controlado por vários agentes psiquicos e que seu comportamento é resultante de suas múltiplas tendências. E é dessa maneira que a grande “descoberta inv enção” de Freud é usada e se faz presente: id. ego e superego. Tais conceitos são freqüentemente usados como criaturas que vivem eternamente em conflitos violentos, cujas derrotas e vitórias produzem comportamentos ajustados ou não no indivíduo no qual residem e no qual o mesmo tem que se haver, uma vez que se tratam de forças sobre as quais não se tem controle algum (Skinner. 2003). N ão seria o id - ''velho Adão da teologia judaico-cristão” - caracterizado por Freud como egoísta, agressivo, preocupado com as privações básicas e que constante mente se encontra em conflito com os interesses de outrem - resultante da filogènese responsável por nossos comportamentos de procura de alimento, água. contato sexual e outros reforçadores primários1 ? Nào seria o superego - a “consciência judaico-cristà” - definido por Freud como o agente punitivo que é. em grande parte, inconsciente e que está geralmente representando os interesses de outras pessoas e que se opõe inevitavelmente ao id - produto das práticas culturais punitivas de uma sociedade que tenta eliminar o comportamento egoísta gerado pelos reforçado res primários? Nào seria boa parte do superego inconsciente simplesmente porque a comunidade verbal não instruí as pessoas observá-lo ou descrevê-lo? E o ego - visto por Freud como o agente que. além de tentar alcançar um acordo entre o id e o superego. também lida com as exigências do ambiente - nào sena o produto da ontogênese. do reforço e das contingências punitivas da vida diária organizadas por outras pessoas? Portanto, não é muito mais fácil e óbvio observar que o ator de todo esse impasse é o organismo, que se tomou uma pessoa com repertórios diferentes e possivelmente divergentes, como resultado de contingências diversas e tal vez conflitantes? (Skinner, 1998: Skinner, 2003). Skinner (1998) aponta ainda que. sob diferentes situações, diferentes “perso nalidades" podem se manifestar, chamando, mais uma vez. a atenção para a recusa de explicações em termos da personalidade como agente causadore a importância da busca pelas v erdadeiras causas do comportamento. Assim, em um mesmo organismo podemos encontrar um homem de negócio, agressivo e irritado e um pai. amoroso e calmo. A personalidade de alguém pode ser muito diferente antes e depois do almoço. "O herói pode lutar para esconder o covarde que habita a mesma pele” (Skinner. 1998. p. 312). Existe ainda o fato de que a personalidade pode se restringir a uma ocasião especifica estimulo discriminafivo - em que os comportamentos que são eficientes ao conseguir reforço em uma dada situação não os são em outra (Skinner, 1998). Desse modo. a personalidade de um garoto no seio de sua familia pode ser muito diferente da personalidade na presença de sua namorada. Padrões variados de respostas podem ocor rer junto dos amigos ou de pessoas desconhecidas, diante de reforçadores ou não, estando na condição de aluno ou de professor, sob o efeito do álcool ou não. estando na universi dade ou na igreja, numa roda de amigos ou numa reunião importante de trabalho (Marçal. 2001). Aqui. o que ocorre é que os organismos possuem sistemas de respostas que são adequadas para diferentes conjuntos de circunstâncias, de acordo com a sua história de v ida. No entanto, podem ocorrer situações conflitantes nas quais a pessoa se depara com Traia-se daqueles rdbrçadores “que não dependem de coodicioraaiemo prévio para ter poder reforçador'’ (HalL 19~5. p 6» \ssnn. os reforçadores primários estão rvtacionados com aqueias conseqüências <p<c satisfazem as neces>KÍ*k-s bioiògKas de toda» as formas de vtda aaunal. Ex: comida, bebida, esumdaçao sexual. 39 TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce dois desses conjuntos ao mesmo tempo como, por exemplo, quando um rapaz recebe a visita da namorada no trabalho, ou quando se encontra simultaneamente na presença do chefe e do subordinado (Marçai, 2 0 0 1 ). É hora de começarmos a olhar para fora. Há anos as pessoas, incluindo os cientistas, têm se preocupado com a vida mental, mas está mais do que na hora de começarmos a rev elar algum interesse por uma análise mais precisa do papel do meio sobre os nossos comportamentos. “À medida que a pertinência da história ambiental se tomou mais clara, questões práticas começaram a ser propostas, não sobre sentimentos e estados mentais, mas acerca do meio ambiente, e as repostas se vêm revelando cada vez mais úteis” (Skinner, 2003, p. 148). Vimos que, de um modo geral, a Psicologia e outras áreas do saber concebem comumente a personalidade como o conjunto total das características próprias do indiví duo que, integradas, estabelecem a forma pela qual ele reage costumeiramente ao meio. Não seria justamente o contrário? A Análise Comportamental concebe o ser humano a partir das diversas relações existentes entre o indivíduo e o seu ambiente, levando em consideração a história da espécie, a história do indivíduo e a cultura na qual ele se insere. Assim, aquilo que costumeiramente chamamos de personalidade refere-se aos padrões de comportamentos adquiridos e mantidos por contingências. Não admitir essa idéia é. ao meu ver, recusar a própria natureza humana. A pergunta que ficou é a seguinte, seremos superficiais, então, somente por não atribuirmos causa aos eventos privados? Skinner nos fala que “se excluirmos o significa do pejorativo de ‘superficial' como carente de penetração e o sentido honorífico de profundo’ como perspicaz e entranhado, então há uma ponta de verdade na alegarão de que a análise behaviorista é superficial e nâo atinge as profundezas da mente ou da personalidade” (Skinner, 2003, p. 191). Aqueles que dizem ser a ciência do comporta mento simplista, limitada e superficial por não lidar com as profundezas da mente ou da personalidade, usualmente revelam-se ultra-simplistas, uma vez que as explicações imemalistas são atraentes justamente porque parecem ser muito mais simples do que os fatos que se dizem explicarem. Assim, os behavioristas (e nós futuros) somos facilmente acusados de superficiais porque é muito difícil acreditar que um principio tão simples possa ter amplas conseqüências em nossas vidas (Skinner, 2003). Portanto, os behavioristas não varrem o problema dos eventos mentais e da personalidade, especificamente falando, para debaixo do tapete, abandonando o papel causai da mente sem nada colocar-lhe no lugar. Se isso acontecesse, poderiam sim. ser superficiais no sentido criticável do termo. Skinner (2003) nos fala que ninguém é capaz de dar uma explicação completamente adequada do que é a personalidade, por ser um dos mais complexos assuntos do campo psicológico. No entanto, por mais deficiente que possa ser a explicação dos comportamentalistas. devemos lembrar-nos de que. sob um enfoque comportamental. “as explicações mentalistas nada explicam” (Skinner. 2003, p. 190). 40 TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce C A m ix o YTII O Behaviorismo limita-se à previsão e ao controle do comportamento e não apreende o ser, ou a natureza essencial do homem? Andreza de Souza Machado Antes de argumentar se o Behaviorismo apreende ou não a essência humana, faz-se necessário esclarecer o que seria essa essência. Na verdade, a essência humana adquire diferentes concepções para variados filósofos. Então, devido a sua complexidade, resolvemos tratá-la sob a visão de um único filósofo, o alemão Husserl (o pai da Fenomenologia. ciência que estuda o fenômeno), que costuma emprestar sua teoria, inchisiv e o conceito de essência, para muitas correntes filosóficas e psicológicas. E possível encontrar em qualquer dicionário de filosofia a definição de essência como a natureza de uma coisa e a definição de natureza como um conjunto de caracterís ticas ou propriedades inatas que definem um ser. Nesse caso, qual seria a natureza ou a essência humana? “A natureza humana designa o que estaria presente em todo homem, comum a todos os homens" (Russ. 1994. p. 196). Resta saber agora, à luz da teoria de Husserl. que característica é esta que o Behaviorismo negligenciaria. Em toda sua teoria. Husserl prioriza o sujeito consciente, ou seja. aquele que possui uma consciência que rem como função primordiaJ. dar significado à realidade. A consciência funciona como sujeito do conhecimento, o que significa o mundo a que o homem é exposto (idealmente, materialmente ou culturalmente). E o que são essas signi ficações alcançadas pela consciência? Nada mais do que essências. Assim, a essência é o sentido, o significado de algo que está sempre para uma dada consciência (Chauí, 1999). Nota-se que a consciência ê o ato de dar sentido, de constituir essências. E esse ato de dar sentido é a sua própria essência - toda consciência é consciência de alguma coisa, isto é. está sempre voltada intencionalmente para algo. A intencionalidade é a essência da consciência (Chauí. 1999). Em simples palavras, o homem tem uma consciên cia que doa sentido e significado aos estímulos aos quais está exposto. Nada lhe escapa, já que tudo são fenômenos. Dessa forma, tudo que aparece à consciência recebe dela um significado, uma essência. 41 TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce TEREZA CRISTINA Realce Então, chegando ao ponto central da critica, o que seria a essência humana? Qual o significado e sentido maior do homem? Poder-se-ia concluir que é a própria consciência. A essência do homem seria o ato de doar sentido ao mundo, o estar voltado para as coisas, apreendendo-as. significando-as. Considerando que a essência da natureza humana seria a consciência, fica claro que o Behaviorismo Radical apreende esta essência, como já foi visto no capítulo I deste livro. Porém, também fica claro que o conceito de consciência para Skinner e Husserl é diferente,
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