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Ação de Reintegração de Posse

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1
AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO 
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ. 
 
 
 
 
 
 
 
 
XXX, .............................................................................................em 
Campo Magro/PR, vêm, respeitosamente perante Vossa Excelência, por seus 
Procuradores que esta subscrevem (procurações nos Autos de origem), 
tempestivamente, com fundamento nos artigos 522 e seguintes do Código de 
Processo Civil e demais aplicáveis à espécie, interpor 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO 
(com pedido de suspensão da liminar deferida) 
 
não se conformando com os termos do respeitável despacho de fls. 242 e 243, 
nos Autos 918/2004 em trâmite perante a Vara Cível da Comarca de Almirante 
Tamandaré/PR, com base nos fatos e fundamentos de direitos aduzidos nas 
Razões do Recurso a seguir expressas. 
 
Para formação e instrução do presente Agravo de Instrumento, junta-se cópia das 
peças processuais obrigatórias, às quais confere autenticidade, segundo 
disposição dos artigos 525 e 544, § 1º do Código de Processo Civil brasileiro. 
 
 
PROCURADORES DOS AGRAVANTES:.............................................................................. 
 
PROCURADORA DOS AGRAVADOS: 
 2
 
 
Termos em que requer seja recebido, conhecido e processado o presente Agravo 
de Instrumento. 
 
Aguarda deferimento. 
 
Curitiba, 18 de abril de 2005. 
 
............................................ 
 
 
RAZÕES DO RECURSO 
 
AGRAVANTES: XXXXXX 
AGRAVADOS: XXXXXXX 
 
 
AUTOS DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE N. ............ 
VARA CÍVEL DA COMARCA DE ALMIRANTE TAMANDARÉ/PR. 
 
 
EGRÉGIO TRIBUNAL 
COLENDA CÂMARA 
EMINENTE RELATOR 
 
 
1. DOS FATOS 
 
 3
Trata-se de Ação de Reintegração de Posse movida por, contra () 
pessoas e ainda “demais invasores” ainda não identificados, na data 
de 27.12.2004. 
Na inicial, os autores alegaram, em síntese: serem senhores e possuidores, 
desde outubro de 1977, do imóvel individuado na Escritura Pública de Compra e Venda, 
objeto da matrícula sob nº 1.589; que em 14 de maio de 2004, o referido imóvel teria 
sofrido uma invasão coletiva; que tomaram várias medidas como tentativa de fazer cessar a 
invasão inclusive contatando vários órgãos públicos como ao Instituto Ambiental do Paraná 
– IAP, a Polícia local e a Prefeitura de Campo Magro. 
. Em decisão de fls. Foi deferida liminar de reintegração de posse inaudita altera 
pars . 
Não se conformando com a decisão, os Agravantes protocolaram pedido de 
reconsideração da liminar alegando: serem possuidores do terreno há mais de um ano e um 
dia, juntando documentos probatórios em relação a este fato; a ausência do periculum in 
mora (tendo em vista que os autores tomaram a medida judicial anos após a ocupação do 
terreno) e, por fim, a ausência de demonstração de posse anterior pelos autores. 
A mm. Juíza, como de justiça, acolheu a argumentação dos Autores. 
Reconhecendo que: “Depreende-se da documentação acostada aos autos, mormente às 
de fls. 97/105, que alguns dos requeridos possuem posse velha, insuscetível da 
concessão de liminar. Ademais, vislumbra-se pela documentação juntada pelo autor, 
a inexistência de comprovação do exercício de sua posse, a qual deverá ser 
demonstrada na instrução processual, vez que se tratando de posse superior a ano 
e dia, insuscetível a designação de audiência de justificação.” (sem grifos no 
original) 
Todavia, os Autores, ora agravados, trouxeram novos documentos aos 
autos, e, mesmo sendo incapazes de modificar a situação fática dos autos, a MM. 
Juíza a quo reviu sua decisão de fl. 107 na qual revogara a liminar de reintegração 
de posse antes concedida para recompô-la nos seguintes termos: 
 
Autos nº918/2004 
 
 4
Trata-se de ação de reintegração de posse com pedido 
liminar o qual foi deferido às fls.79/81. 
 
Às fls.82/94 foi pelo réu requerido reconsideração (sic) da 
liminar aduzindo que possuem posse velha. Juntou os 
documentos de fls.97/105. 
 
A liminar concedida foi revogada ante a juntada dos 
documentos de fls.97/105. 
 
Os autores às fls.122/126 alegaram que a área sub judice 
refere-se ao Manancial do Passaúna, responsável pelo 
abastecimento de água potável de Curitiba e Região 
Metropolitana, localizada na Área de Proteção Ambiental do 
Passaúna – APA, criada pelo Decreto Estadual nº5.063/01 e 
Lei Municipal nº141/2000 contendo o imóvel Zona de 
Conservação de Vida Silvestre, Zona de Preservação de 
Fundo de Vale e Zona de Ocupação Orientada. Que o 
requerido juntou fotocópia de documento sem autenticação 
alegando posse de quase vinte anos. Que Heitor Mattuela 
Sobrinho e Sirlei Aparecida Rissardi não integram o pólo 
passivo da ação. Que o requerido vendeu lotes junto com 
Moacir Linhar, consoante ação penal nº2004.1204-1 em 
maio de 2004 e parecer técnico nº01/05 da prefeitura 
Municipal de Campo Magro, relatório de fiscalização nº29 e 
parecer técnico nº26/2004 que verificam construções 
irregulares, desmate da mata nativa e o entijolamento de 
uma nascente em afronta a legislação ambiental. Juntaram 
os documentos de fls. 127/241. 
 
Compulsando os documentos juntados pelas partes verifica-
se a necessidade da imediata concessão liminar de 
reintegração de posse em favor dos autores face o esbulho 
praticado pelo réu, o qual além de privar a posse do imóvel 
pertencente aos autores vêm destruindo uma área de 
preservação ambiental, consoante depreende-se (sic) do 
parecer técnico nº01/05 (fls. 188/229). 
 
A posse velha alegada pelo réu deve ser refutada visto que 
as fotografias constantes no parecer técnico nº01/05 às 
fls.192/195 demonstram que o esbulho iniciou-se no mês 
de maio de 2004, portanto há menos de anos e dia, 
impondo-se dessa maneira a concessão da liminar de 
reintegração de posse aos autores. 
 
Portanto, revogo a decisão de fls.107 e concedo a medida 
liminar de reintegração de posse em favor dos autores, em 
decorrência do esbulho praticado pelo réu, com fulcro no 
artigo 926 e ss do CPC. No caso de não cumprimento da 
liminar fixar-se-á multas diárias no valor de um salário 
 5
mínimo. Caso houver resistência ao cumprimento da 
presente decisão autorizo reforço policial. 
 
Oficie-se a Secretaria de Segurança Pública acerca da 
presente decisão. 
 
Intime-se. 
 
Almirante Tamandará, 07 de abril de 2005. 
 
Elisiane Minasse 
Juíza de Direito 
 
 
É precisamente contra esta decisão, Nobre Desembargador Relator e 
Eminentes Julgadores, que se interpõe o presente agravo de instrumento, posto 
que manifestamente não preenche os requisitos para sua validade. 
 
1. DOS FUNDAMENTOS DO PRESENTE AGRAVO 
 
Cabe a reforma in totum da decisão, ora agravada, de fls. 242 e 243 dos 
Autos 918/2004 da Vara Cível da Comarca de Almirante Tamandaré, pois os 
elementos trazidos às fls. 127 a 241 pelos Agravados não alteraram a situação 
fática analisada na respeitável decisão do juízo a quo de fl. 107. 
Nesse sentido, merece a análise acurada e serena própria deste 
Egrégio Tribunal de Justiça dos elementos trazidos aos autos pela parte 
agravada, para modificação da decisão. 
Vejamos. 
Consistem os documentos juntados pela parte Autora da Reintegração de Posse: 
no “parecer técnico” nº 01/05, “parecer técnico’ nº 24/04, “parecer técnico” nº 26/04 e 
“relatório de fiscalização nº 29”, todos expedidos pela Prefeitura de Campo Magro. 
(fls.) 
Os documentos, denominados “pareceres técnicos” com assunto Fiscalização/ 
Reintegração de Posse, são datados de 15 de março de 2005, contendo fotos supostamente 
realizadas em outubro de 2004. 
 6
Lembre-se que não foram juntados quaisquer documentos que comprovem 
a data das fotos, tais como negativos e que as “autoridades técnicas”que assinaram 
os pareceres não possuem, por lei, fé pública. Nenhum dos documentos é apto a 
comprovar a posse dos Autores, não trazendo qualquer elemento novo em relação aos 
que já haviam sido acostados. 
Por outro lado, todas as fotos revelam que em outubro de 2004, cerca de 100 
famílias já residiam no local, inclusive com casas construídas, o que não se faz da noite 
para o dia. Portanto, os documentos não permitem afirmar que o esbulho ocorreu em 
outubro de 2004, conforme a r. decisão de fls. 
Os “pareceres técnicos” mencionam ainda que as famílias residentes no local 
solicitaram a instalação e fornecimento de água tratada , o que demonstra sua boa-fé e 
intenção de permanecer no local. 
A outra documentação juntada aos autos refere-se a uma ação penal movida 
contra Antonio Jefferson Ribeiro e Moacir Linhar pelo Ministério Público Estadual, por 
crime definido no art. 50 da lei 6.766/79. Apesar de não ser esta Ação Penal objeto de 
discussão na presente Ação, cabe ressaltar, devido à gravidade da situação, que ao contrário 
do que faz parecer os Autores, a existência de uma denúncia não faz com que o réu da 
Ação Penal seja condenado. Pelo princípio da presunção da inocência o réu só pode ser 
considerado culpado depois da sentença penal ter transitado em julgado. Por essa razão, 
afirmar que o requerido Antônio Jefferson Ribeiro e que o morador do terreno, Moacir 
Linhar, estaria vendendo lotes é condená-los por antecipação, sem o devido processo legal. 
Ademais, é de se considerar que residem no local dezenas de famílias que sequer foram 
citadas para responder a presente ação (o Autor sequer depositou as custas do oficial de 
justiça para promover a citação). 
A leitura dos documentos juntados na referida Ação Penal, alías, 
comprovam a posse velha. A este respeito, o depoimento de Luis Carlos Andretta (fl. 
152) : “ que tem alguns moradores que residem na área há mais de 10 anos”.O 
depoente Silvio Elizio de Lara informa que reside no terreno 16 anos (fl. 161) e o 
depoente Pedro Siebre de Oliveira há 11 anos. (fl. 167) 
 7
Outros depoimentos, além de comprovarem que não houve loteamento e 
venda de lotes ainda dão conta de que a maior parte das pessoas residem na área de 
ocupação há mais de um ano e um dia. (fl.198; 199 e outras) 
Por fim, quanto à breve defesa da questão ambiental aduzida pelos autores, cabe 
lembrar que conforme o Anexo do Decreto 5053/2001 (doc, 05), a área é totalmente 
suscetível de ter habitações unifamiliares, devendo o Poder Público (no caso a 
prefeitura) promover e propor a regularização fundiária adequada. 
A situação presente pode vir a causar uma atrocidade processual, além de 
graves violações de direitos humanos dos moradores, vez que as ações possessórias têm a 
finalidade de defender a posse, entendida como a relação fática entre o sujeito e a coisa 
possuída, e no presente caso estaria protegendo, em sede de liminar, algo que nem de 
longe foi tido como comprovado, como, aliás, já fora decidido pela MM. Juiíza: 
 
“Ademais, vislumbra-se pela documentação juntada pelo 
autor, a inexistência de comprovação do exercício de sua 
posse, a qual deverá ser demonstrada na instrução 
processual”. 
 
Com isso, como já destacamos anteriormente, os Autores não atenderam um 
dos requisitos constantes no artigo 927 do CPC: a prova da posse. 
A doutrina e a jurisprudência são unânimes quanto ao entendimento de que a 
falta de um dos requisitos do mencionado artigo dá ensejo a extinção do processo sem 
julgamento do mérito, pois a falta desse requisito específico caracteriza a falta de interesse 
de agir. 
Dessa forma, a concessão de medida cautelar é contraditória, pois não é 
possível falar-se em fummus boni iuri, isto é, na fumaça do bom direito, na aparência de 
que verdade daquilo que foi trazido ao juízo, quando nem ao menos se fez prova a respeito 
da posse anterior. 
Destaque-se que os documentos que os Autores reputaram como “simples”, por 
não acompanharem qualquer “original ou autenticação” (fl. 123) são provas da posse 
reputadas por renomados doutrinadores como “prova diabólica” dada a dificuldade que 
envolve sua busca. Comprovantes de endereço são simples assim, uma conta de luz, um 
registro no posto de saúde, não necessitam serem autenticados em cartório para serem 
 8
considerados válidos e demonstram claramente a posse. A contrário senso, os Autores 
nem ao menos isso apresentaram e, destaque-se mais uma vez, não comprovaram a 
posse em nenhum momento no processo, como será devidamente demonstrado a 
seguir: 
 
1,1 DA INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA POSSE PELO 
AGRAVADO 
 
A fim de comprovar sua posse na área, os Agravados juntaram à peça 
inicial a seguinte relação de documentos: (i) escritura pública de compra e venda; 
matrícula nº 1.589 do registro de imóveis de Rio Branco do Sul; certificado de 
cadastro de imóvel rural; (ii) BO delegacia de Campo Magro nº 247/2004; BO 12º 
DP de Curitiba nº 12/2004001880; laudo de lesões corporais nº 6387/2004; recorte 
do jornal “O Estado do Paraná”; comunicação à Prefeitura Municipal de Campo 
Magro – PR, denunciando o esbulho; denúncia IAP nº 4960; ofício SAMAB nº 
30/2004 ao IAP; ofício nº 357/04 – C.A. ao IAP; relatório de atendimento nº 
69/2004; notificações nº 55102 e 55103; auto de infração ambiental nº 45.765; 
termo de embargo nº 26.529; ofício nº 357/04 – C.A. do Centro de Apoio 
Operacional às Promotorias de Proteção ao Meio Ambiente para o IAP; ofício nº 
1394/2004 da Promotoria de Justiça de Proteção ao Meio Ambiente para o 
Promotor de Justiça Diego Fernandes Dourado; parecer técnico nº 78/04 da 
Secretaria de Desenvolvimento Urbano – SEDUR – do município de Campo 
Magro – PR. 
Pode reivindicar a posse aquele que a tem, não se confundindo aquela 
com a propriedade, visto não ser uma ação de natureza real a Ação de 
Reintegração de Posse. 
O art. 927 do Código de Processo Civil é claro ao afirmar que incumbe 
ao Autor provar sua posse.1 Não obstante os Agravados discorram fartamente 
 
1 “Art. 927 - Incumbe ao autor provar: 
 9
acerca dos fatos do processo, olvidou-se de demonstrar o principal, qual seja, a 
sua posse anterior. 
Note-se que é entendimento pacífico na doutrina e jurisprudência 
pátrias, ser o título de propriedade insuficiente para comprovar a posse, embora, 
possa – desde que válido- comprovar a propriedade. 
Por essa razão, a simples matrícula do terreno não é prova hábil em 
uma ação de reintegração de posse, visto que segundo a lição de Orlando Gomes 
as ações possessórias são meios processuais adequados a solução de conflitos 
relativos à posse e o título em questão seria capaz de provar apenas a 
propriedade do terreno. De acordo com Orlando Gomes “o dono coisa não pode, 
sob o fundamento de que lhe pertence, embaraçar o exercício da posse de 
alguém, seja qual for a sua qualidade, nem se apossar, por conta própria do bem 
que está a possuir”.2 
É o entendimento pacífico do Tribunal de Alçada do Estado do Paraná: 
 
"O título de propriedade confere direito à posse, mas não 
conduz à situação fática suficiente, só por isso, à defesa da 
tutela da posse, tal qual amparada pelos interditos 
possessórios. Falta interesse de agir à demanda possessória, 
autorizando-se a extinção do processo sem julgamento do 
mérito. (Acórdão nº. 6343 - Quinta Câmara Cível - TAPR - Juiz 
Relator ANTONIO MARTELOZZO)." 
 
Os demais documentos apresentados resumem-se a boletins de 
ocorrências, uma notícia do jornal “O Estado do Paraná”, uma comunicação à 
Prefeitura Municipal, além de vários documentos relacionados a denúncias 
ambientais ao IAP, noticiando que o imóvel teria sido esbulhado em maiode 2004. 
Apesar da extensa documentação acostada nenhum desses 
documentos é capaz de comprovar a relação possessória, requisito primeiro 
da ação de reintegração. Citando Ihering, Orlando Gomes esclarece que o 
possuidor tem direito enquanto possui, de modo que, na posse, o fato é 
condição permanente do direito. Assim sendo, a persistência da relação de 
fato é requisito indispensável à proteção possessória. 
 
I - a sua posse; II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III - a data da turbação ou do 
esbulho;IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a perda da posse, na 
ação de reintegração.” 
2 Orlando Gomes, ob cit. P. 102 
 10
Ora veja, nenhum dos documentos é capaz de elucidar se o dito 
proprietário exercia a posse do imóvel, quando muito poderiam provar a 
propriedade dos Agravados, mas de maneira alguma a posse. 
 
Sobre o esbulho, que alega ter ocorrido em maio de 2004, o Agravado 
junta apenas boletins de ocorrência, em fls. 46 e 47 dos autos de origem. 
 
Todavia, é preciso ressaltar, que, conforme entendimento pacificado 
pelo E. Superior Tribunal de Justiça, o Boletim de Ocorrência “não gera presunção 
iuris tantum da veracidade dos fatos narrados, uma vez que apenas consigna as 
declarações unilaterais narradas pelo interessado, sem atestar que tais 
informações sejam verdadeiras” (a respeito ver RESP 264508 / MT; RECURSO 
ESPECIAL 2000/0062611-2 – STJ). São também meras declarações unilaterais 
os outros documentos trazidos aos autos pelos Agravados quais sejam: a 
Comunicação à Prefeitura Municipal de Campo Magro acerca da ocupação, bem 
como as denúncias ao IAP. 
Assim, é de se reconhecer a fragilidade das alegações dos Agravados, 
no que pertine à efetiva posse do imóvel em questão e, conseqüentemente, do 
esbulho sofrido. 
O entendimento pacífico do Tribunal de Alçada do Paraná: 
“REINTEGRAÇÃO DE POSSE - INEXISTÊNCIA DE POSSE 
EFETIVA DO ADQUIRENTE - AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO 
PARA AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE - PRELIMINAR 
DE CARÊNCIA DA AÇÃO ACOLHIDA - EXTINÇÃO DO 
PROCESSO - INCIDÊNCIA DO ARTIGO 267, INCISOS IV E VI 
DO CPC - APELO CONHECIDO E PROVIDO. Ao se intentar a 
via possessória, deve a parte ter o objetivo de restaurar o status 
quo ante. Assim, a ausência de prova de posse anterior 
ocasiona também a ausência de um dos pressupostos para 
a propositura da ação de reintegração de posse, qual seja, a 
posse efetiva. Até porque, não se reintegra na posse aquele 
que jamais dela dispunha. O requisito básico para a Ação 
de Reintegração de Posse não é a propriedade, mas sim a 
posse. Assim, o requisito fundamental da ação é a existência 
da posse anterior do autor e que este tenha sido privado de seu 
exercício, não podendo o proprietário sem posse anterior 
reclama-la pela via da reintegração.” (TAPR – 6a Câm. Cív. – 
Ap. Cív. n.º 0199148-0- Ac. n.º 14.415 – Rela. Juíza Anny Mary 
Kuss – j. 04/11/02 – unân. - DJ: 6255). 
 
 
 11
A este respeito o ensinamento do renomado processualista Luiz 
Guilherme Marinoni, “A verossimilhança a ser exigida pelo juiz (...) deve 
considerar: (i) o valor do bem jurídico ameaçado, (ii) a dificuldade de o autor 
provar sua alegação, (iii) a credibilidade da alegação, de acordo com as regras de 
experiência, e (iv) a própria urgência descrita.”3. 
Por todo o exposto não é possível considerar verossímeis as 
alegações dos Agravados, com o que requer seja suspensa a medida liminar 
e reestabelecido o procedimento ordinário para apuração da verdade fática. 
 
1.1. DA POSSE VELHA EXERCIDA PELOS AGRAVANTES 
 
Cumpre frisar que os Agravantes HEITOR MATTUELA SOBRINHO e SIRLEI 
APARECIDA RISSARDI entendem que residem no imóvel objeto da presente Ação, 
posto que os Autores não forneceram a delimitação e as confrontações atuais do 
terreno de oito alqueires, que pretendem ter “reintegrado” (fl. ) As confrontações 
expressas na matrícula, datadas de quase 30 anos não correspondem mais à 
realidade. 
Ainda, na primeira reconsideração de fls. 107 dos autos, a Douta Juíza a 
quo expressamente reconheceu que “alguns dos requeridos possuem posse 
velha, insuscetível da concessão de liminar”, incluindo os Agravantes no pólo 
passivo da lide. 
Conforme documentos juntados aos autos pelos próprios Agravados, há 
cerca de 70 famílias residindo no imóvel objeto da presente ação possessória, 
dentre eles, os Agravantes. 
De fato, trata-se de uma área de ocupação irregular, característica da 
Região Metropolitana de Curitiba, cujo processo de ocupação iniciou-se há quase 
20 anos 
O Agravante reside neste imóvel com sua família há pelo menos 17 
anos. O requerido possui cadastro na COPEL referente ao endereço na área 
desde janeiro de 1995, conforme documento em anexo nos Autos de origem (fls. 
97/98). 
 
3 Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart, Manual de Processo do Conhecimento. – 3ª ed. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. 
 12
 Os documentos juntados à peça contestatória, a saber, uma nota fiscal 
de fatura de energia datada de 19.10.1998 (fl. 99 dos autos de origem), uma 
certidão de óbito de sua filha, , datada de 18.10.1996 (fl. 100 dos autos de 
origem), trazem, como endereço do requerido, respectivamente, aXXXXX. Como a 
área de ocupação Passaúna não é urbanizada, estes endereços são utilizados 
para designar justamente a localidade da área de ocupação. 
Outro documento, este um cadastro do Departamento de Ação Social do 
Município de Campo Magro (fls. 101 e 102 dos autos de origem), referente à 
concessão de cestas básicas a XXX , também residente no Conjunto Alpha Boy 
Ville I, traz como endereço desta a Rua Francisco Passe, Passaúna. Do 
mencionado cadastro, há referência à data de 16.04.2003, tendo o cadastro 
propriamente dito, sido feito inclusive anteriormente a esta data. Este 
documento também demonstra a posse anterior à data da ocupação 
apontada pelos Agravados (maio de 2004), deixando claro que em 2003 já 
havia famílias na posse do imóvel. 
Lembre-se que XXX consta como parte na Ação, na qualidade de 
dependente de XXX. Aliás, várias pessoas da família Rissardi residem no 
imóvel objeto da presente ação. 
Importante ressaltar que reforça os fatos aqui aduzidos o 
documento acostado aos Autos de reintegração de posse pelos Agravados 
em fls. 56. Trata-se do Relatório de Atendimento do Instituto Ambiental do 
Paraná, que se refere ao endereço da área de ocupação como Rua Luis 
Franscisco Pase, o mesmo que consta do Cadastro de Sirlei Rissardi no 
Departamento de Ação Social de Campo Magro. 
O Agravante, por sua vez, adquiriu a posse do terreno que atualmente 
ocupa de um antigo morador. Reside neste terreno desde novembro de 2003, 
quando solicitou a Copel instalação de poste de energia elétrica que foi instalado 
em janeiro de 2004, sendo a primeira conta cobrada em fevereiro de 2004, 
conforme demonstrativo em anexo (fl. 103 dos autos de origem). 
Segundo as lições de Orlando Gomes as ações de manutenção e 
reintegração de posse têm o procedimento simplificado quando intentadas dentro 
 13
de um ano e dia (arts. 926 a 931 do CPC); passado esse prazo, o procedimento 
será o ordinário4. Dessa forma, o douto professor define a ação com força nova 
como aquela impetrada antes de ano e dia da posse. 
Munidos dessa definição é salutar destacarmos o entendimento da 
jurisprudência pátria: 
PROCESSO CIVIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. A ação de 
reintegração é o meio próprio para defender a posse, inclusive a 
de força velha; só a de força nova, todavia, está municiada 
pela medida liminar.Recurso especial conhecido e provido. 
(STJ. RESP 138932 / RS. 3ª Turma. Rel. Ministro ARI 
PARGENDLER Julgamento em 16.12.2002 grifos acrescidos ao 
original). 
Desta forma, é incabível a concessão de medida liminar no caso em 
tela, por expressa vedação legal, decorrente do fato da posse ser exercida 
pelos ocupantes há muito mais de 01 ano. 
Como exposto e restará comprovado nos autos de origem, há 
famílias que moram no mencionado terreno há mais de dez anos, detendo a 
posse mansa, pacífica e inconteste do imóvel, o que inclusive dará ensejo a 
um pedido de usucapião coletivo. 
 
1.2. DA AUSÊNCIA DO PERICULUM IN MORA A JUSTIFICAR A LIMINAR 
 
É pacífico na doutrina o entendimento de que o periculum in mora 
ocorre “quando, pela demora processual, for provável a ocorrência de atos 
capazes de causas lesões, de difícil e incerta reparação, ao direito de uma das 
partes.”5 É o que diz o artigo 798 do CPC. 
Ora, Excelência, o caso em questão não incide na definição de perigo 
iminente, uma vez que não há ameaça de atos de poder lesivo irreparável por 
parte dos que ocupam a área. Por óbvio a simples atividade de convívio no terreno 
verificada há muito mais de um ano e dia não implica em dano irreversível ao seu 
proprietário, que inclusive não realiza qualquer atividade no imóvel. É contraditória 
 
4 Orlando Gomes, Direitos Reais. – 19ª ed. Atualizada / por Edson Fachin. – Rio de Janeiro: 
Forense 2004 – página 100. 
5 José Frederico Marques, Manual de Direto processual Civil. 
 14
a alegação do periculum in mora a justificar a concessão da medida liminar sendo 
que o proprietário, tendo alegado que a ocupação ocorreu em maio de 2004 
entrou com a presente ação somente em dezembro do mesmo ano, portanto a 
sete meses após a alegada ocupação. 
Ao contrário, a desocupação liminar da área pode causar danos 
irreparáveis aos moradores atuais, que têm sua vida estruturada no imóvel objeto 
da presente reintegração, inclusive com casas e outras benfeitorias. 
 As pessoas que hoje estão na área em litígio têm, ali, seu espaço de 
moradia, direito garantido tanto pela Constituição Federal como por Pactos 
Internacionais dos quais o Brasil é signatário. Desta forma, a concessão da 
medida liminar implicaria na destruição das casas dos que hoje, sem ter 
alternativas, ali habitam. 
Desta forma, salienta-se novamente a necessidade de garantir os 
direitos dos ora requeridos e demais moradores. Uma desocupação certamente 
conduzirá as famílias a uma situação extremamente precária, pela falta de 
condições mínimas de higiene e até mesmo de elementos básicos à subsistência 
das famílias, como a moradia. 
Ademais, o Código de Processo Civil, ao tratar da tutela antecipada, é 
contundente ao destacar no seu artigo 273, § 2º que “não se concederá a 
antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento 
antecipado”. Ora veja, se a liminar de reintegração de posse for cumprida – 
acarretando no despejo das famílias e na destruição de suas casas – mesmo que 
haja uma futura decisão favorável aos Agravantes os prejuízos morais causados 
pelo ato serão impossíveis de serem reparados, fato este que por si só caracteriza 
a irreversibilidade mencionada no dispositivo legal. 
1.3. DA OCUPAÇÃO INFORMAL EM ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL 
 
 15
Os Agravantes ocupam um terreno em uma área da Região 
Metropolitana de Curitibana que é cercada por condomínios horizontais de alta 
valorização. Todas as Áreas de Preservação desta região coexistem com 
unidades habitacionais, confirmando a possibilidade de manutenção da ocupação 
nesta área. 
 Neste sentido, as fotos trazidas aos autos de origem demonstram a 
existência de vegetação nativa e a preservação de nascentes do Manancial 
Passaúna. 
O terreno ocupado pelos Agravantes está localizado em áreas do 
zoneamento municipal que permitem a existência de habitação, como se verifica 
na descrição da Zona de Ocupação Orientada – ZOO (fls. 134 dos autos de 
origem) e da Zona de Conservação da Vida Silvestre – ZCVS (fls. 135). 
É sabido que o Município possui autonomia para legislação acerca da 
cobertura florestal, nos planos e leis de uso do solo municipais, respeitando 
sempre as normas gerais da União. Neste âmbito, o Estatuto da Cidade, lei n. 
10.257/2001, acrescenta no seu parágrafo 1º do art. 1º o conceito de ordem 
urbanísticas, que deve ser respeitado na execução da política ambiental do 
Município. 
Em sua autoridade, o doutrinador Paulo Affonso Leme Machado6 define 
este conceito trazido por esta lei urbanística: 
Ordem urbanística é o conjunto de normas de ordem pública e de 
interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol 
do bem coletivo, da segurança, do equilíbrio ambiental e do bem-
estar dos cidadãos. 
A ordem urbanística deve significar a institucionalização do justo 
na cidade. Não é uma “ordem urbanística” como sendo resultado 
da opressão ou ação corruptora de latifundiários ou 
especuladores imobiliários, porque aí seria a desordem 
urbanística gerada pela injustiça. 
 
 
6 Machado, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, 11ª ed. rev., at. e ampliada, Ed. Malheiros 
Editores, 2003, pág.368/369. 
 16
Desta forma, os Agravantes ocupam área em perfeita regularidade com 
a legislação municipal vigente, referente ao zoneamento ecológico-econômico da 
Área de Proteção Ambiental do Passaúna. 
 
Trata-se sim, Nobre Desembargador Relator e Emitente Câmara 
Julgadora, de uma ocupação social por trabalhadores desprovidos de moradia, 
que pagavam aluguel ou estavam em outras ocupações informais na cidade de 
Curitiba que foram igualmente despejadas. 
Considerando a convivência harmônica dos Agravantes com os 
princípios e normas da legislação municipal ambiental, requer-se seja provido 
suspensão da liminar deferida pelo digno Juízo a quo. 
 
1.3 DA NULIDADE DA DECISÃO DE FLS. 242 E 243 FRENTE A 
INOBSERVÂNCIA DO CONTRADITÓRIO, DA AMPLA DEFESA E DO DEVIDO 
PROCESSO LEGAL 
 
Em decisão de revogação da medida liminar, a respeitável Magistrada 
reconsiderou a fls. 107 dos autos de origem, nos seguintes termos: 
 
Depreende-se da documentação acostada aos autos, mormente 
às de fls. 97/105, que alguns dos requeridos possuem posse 
velha, insuscetível da concessão de liminar. Ademais, 
vislumbra-se pela documentação juntada pelo autor, a 
inexistência de comprovação do exercício de sua posse, a qual 
deverá ser demonstrada na instrução processual, vez que 
se tratando de posse superior a ano e dia, insuscetível a 
designação de audiência de justificação. (grifo nosso) 
 
Considerando tratar-se de posse velha o objeto da lide, o douto Juízo a 
quo instituiu o procedimento ordinário para prosseguimento da ação, afastando o 
 17
procedimento especial e impondo o rito comum como ordenado pelo art. 275, 
parágrafo I, do CPC. 
 
A decisão de fls. 242 e 243 restabeleceu a liminar de reintegração 
fundamentada na análise dos documentos de fls. 122/241, contudo, não concedeu 
aos Agravantes a oportunidade de se manifestar sobre as novas provas juntadas 
aos autos de reintegração, contrariando os princípios constitucionais do 
contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal. 
 
O artigo 3987 do CPC que determina a manifestação da parte contrária 
em até 5 (cinco) dias foi violado e a decisão que restabeleceu a reintegração de 
posse deve ser declarada nula, para que desta forma os Agravantes tenham 
oportunidade de, segundo as regras do devido processo legal, provar seu direito. 
Ensina o doutrinador Nelson Nery Junior neste sentido8: 
 
Ouvida da outra parte.Após o deferimento de juntada dos 
documentos nos autos, o juiz deve determinar seja ouvida a 
parte contrária. Se isto não ocorrer e o documento influir no 
julgamento do juiz, em sentido contrário ao do interesse da 
parte preterida, a sentença que vier a ser proferida é nula e 
assim deve ser declarada (CPC 249). 
 
Requer, Nobres Desembargadores, seja declarada nula a decisão 
agravada, restaurando o procedimento ordinário e permitindo aos Agravantes o 
acesso à ampla defesa e ao contraditório processual. 
 
1.4. DA DECISÃO ULTRA PETITA DO JUÍZO A QUO 
 
 
7 Art. 398 – Sempre que uma das partes requerer a juntada de documento aos autos, o juiz ouvirá, 
a seu respeito, a outra, no prazo de 5 (cinco) dias. 
8 Nery Juinior, Código de Processo Civil Comentado e leg. Extravagante, 7ª ed. rev. e at., Ed. RT, São Paulo, 
2003. 
 18
O Douto Juízo a quo decidiu ultrapassando os limites da sentença e em 
desacordo com o pedido dos Agravados, pois na petição para restabelecimento da 
medida liminar não foi pedido o arbitramento de multa e a sentença instituiu 
multas diárias no valor de um salário mínimo no caso de não cumprimento da 
presente decisão. 
 
Assim, configura-se verdadeiro julgamento ultra petita, acrescentando 
motivação para anulação da decisão agravada, pelo qual, requer-se desde já seja 
deferida por este E. Tribunal. 
 
 
1.5. DO RISCO DE VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS, ECONÔMICOS, 
SOCIAIS E CULTURAIS E DA RESPONSABILIDADE DO JUDICIÁRIO 
 
O despejo, máxime em sede de liminar, sem qualquer tentativa de 
mediação, das famílias residentes no local negaria direitos básicos constantes na 
Constituição Federal. 
 O artigo 6o da Carta Magna estabelece, dentre os direitos sociais, a 
assistência aos desamparados. A desocupação negaria tais prerrogativas, uma 
vez que os trabalhadores em questão, por encontrarem-se privados de quaisquer 
outra possibilidade de moradia que não através da ocupação da área, enquadram-
se na classificação de “desamparados” posta pela Lei Maior. 
Está ainda qualificado como direito social a moradia. Os trabalhadores e 
suas famílias seriam, data vênia, alijados ainda de qualquer possibilidade digna de 
habitação, já que inexiste outro lugar onde possam se fixar de forma ao menos 
razoável. Importante ressaltar que é pacífico na doutrina que os direitos sociais, 
tendentes à equalização de situações econômicas, sociais e culturais distintas, 
determinam prestações positivas do Estado. 
 19
A responsabilidade do Poder Judiciário com a garantia dos direitos das 
famílias em questão fica ainda mais evidente ao ter-se em consideração o artigo 
5o da Lei de Introdução ao Código Civil, que estabelece que o juiz deve atender 
aos fins sociais a que a lei se dirige e às exigências do bem comum na aplicação 
da norma. Assim, o Estado-Jurisdição não pode ficar alheio às conseqüências de 
sua decisão. 
Neste sentido, a sentença do Juiz Federal Dr. Dr. Antônio Francisco 
Pereira é elucidativa acerca da questão dos “fins sociais” e do “bem comum” aos 
quais a lei objetiva: 
Quando a lei regula as ações possessórias, mandando 
defenestrar os invasores (art. 920 e ss. do CPC), ela – COMO 
TODA LEI – tem em mira o homem comum, o cidadão médio 
que, no caso, tendo outras opções de vida e moradia diante de 
si, prefere assenhorar-se do que não é dele (...). Mas os 
‘invasores’ são excluídos, resultado do perverso modelo 
econômico adotado pelo país.(...) O Estado não pode exigir a 
rigorosa aplicação da lei (no caso, reintegração de posse) 
enquanto ele próprio – o Estado – não se desincumbir, pelo 
menos razoavelmente, da tarefa que lhe reservou a Lei Maior. 
(JF/MG. Ação de reintegração de posse n. 95.0003154-0.) 
 
As ocupações desencadeadas por grupos de sem-tetos precisam ser 
tratadas pela Justiça como forma coletiva e legítima de efetivação do Direito à 
Moradia, que não foram efetivados pelo Estado em decorrência de um modelo 
social e econômico que o próprio ordenamento jurídico reconhece como uma 
questão a ser paulatinamente resolvida. É o que estabelece o preâmbulo da 
Constituição brasileira ao orientá-la a “instituir um Estado democrático, destinado a 
assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais”, que, portanto, ainda não 
existem em sua plenitude. 
Esse entendimento é reforçado pelo Pacto Internacional de Diretos 
Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais (decreto 591/62), que compreende que 
“o indivíduo por ter deveres para com seus semelhantes e para com a coletividade 
a que pertence, tem a obrigação de lutar pela promoção e observância dos direitos 
 20
reconhecidos no presente Pacto”. Dentre esses direitos estão justamente aqueles 
passíveis de serem violados pelo cumprimento da ordem liminar exarada. O 
tratado reconhece, em seus artigos 10 e 11 a assistência e a preservação da 
dignidade da família. Tais prerrogativas estão também positivadas pela 
Convenção Americana Sobre os Direitos Humanos, que trata do dever de 
proteção à família por parte do Estado no seu artigo 17, além de, em seu artigo 
11, tratar da dignidade da pessoa humana, que contemporaneamente informa os 
sistemas internacionais, constitucionais e infraconstitucionais. 
O entendimento das conseqüências danosas acerca dos despejos 
é consolidado também pela Comissão de Direitos Humanos da ONU. A 
resolução 1993/77a, de março de 1993, reconhecendo que toda pessoa tem o 
direito de viver em um lugar seguro e digno, que os despejos intensificam os 
conflitos e a miséria, enfatiza que a responsabilidade legal acerca dos 
despejos é do Estado. 
Cabe ressaltar que a responsabilidade do Estado não fica restrita ao 
Poder Executivo. Sobretudo diante da complexidade contemporânea, o Poder 
Judiciário tem um papel político relevante e pode contribuir imensamente para a 
resolução pacífica de conflitos sociais. De acordo com ZAFFARONI: 
o limite entre o político e o judicial não pode ser definido 
formalmente no Estado moderno. A justiça moderna não pode 
ser “apolítica” nesse sentido, e hoje, mais do que nunca deve-se 
reconhecer que o poder judiciário é ‘governo.’9 
Desta forma, além de não estarem presentes os requisitos para 
manutenção da medida liminar, como já exposto, a possibilidade de que o 
despejo poderá causar danos irreversíveis e gravíssimas violações de 
direitos humanos às famílias que residem no conjunto Alpha Boy Ville, no Bairro 
Passaúna, requer-se a suspensão da medida liminar reestabelecida. 
 
 
9 Poder judiciário: crise, acertos e desacertos. p. 24. 
 21
1.6. DA NECESSIDADE DE CONCESSÃO LIMINAR DO EFEITO SUSPENSIVO 
 
Nos termos do artigo 558, do Código de Processo Civil, é possível a 
suspensão da decisão agravada, "em outros casos dos quais possa resultar lesão 
grave e de difícil reparação, sendo relevante a fundamentação". 
No caso em apreço, estão presentes ambos os requisitos. É induvidoso 
que a execução da liminar acarretará os danos irreparáveis ás famílias e os 
fundamentos jurídicos já alinhavados caracterizam a relevância suficiente à 
concessão do efeito suspensivo. 
Do exposto, resta evidente a necessidade de imediata 
suspensão dos efeitos da liminar concedida (artigo 527, II, C.P.C.), 
porque desatendidos os pressupostos essenciais a sua concessão. 
2. DOS PEDIDOS 
Diante do exposto, requer: 
a) A admissão e processamento do presente agravo de instrumento; 
b) A concessão liminar do efeito suspensivo; 
c) O provimento do presente Agravo de Instrumento para que seja a 
Ação Possessória extinta sem julgamento do mérito, nos termos do artigo 267 do 
Código de Processo Civil brasileiro, considerando a inexistência decomprovação 
da posse pelos Agravados; 
d) A suspensão da liminar de reintegração de posse, ou 
alternativamente, a declaração de nulidade da liminar de reintegração de posse, 
em virtude da afronta aos princípios constitucionais da ampla defesa, do 
contraditório e do devido processo legal; 
e) A concessão dos benefícios da Assistência Judiciária Gratuita aos 
 22
Agravantes, nos termos da Lei 1.060/50, tendo em vista que os mesmos não 
podem arcar com as custas do processo sem prejuízo do sustento próprio e de 
sua família; 
f) a intimação dos Agravados, para que, querendo, responda aos 
termos do presente recurso. 
Nestes termos, 
Pede deferimento. 
 
Curitiba, 18 de abril de 2005.

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