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O tenentismo

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O tenentismo
RIO - Tiros de canhão disparados do Forte de Copacabana em direção ao Centro da cidade. Civis e militares mortos, outros tantos feridos. Caos. Estado de sítio decretado pelo presidente da república. Tudo isso aconteceu em julho de 1922 no Rio de Janeiro, parte de um levante militar que ficou conhecido como a Revolta dos 18 do Forte, mas do qual não participaram apenas 18, e nem se restringiu a Copacabana. O movimento que o desencadeou reapareceria em São Paulo dois anos depois. A capital paulista seria tomada por três semanas e acabaria bombardeada. Um grupo de praças e oficiais sublevados partiria para o interior do país, que cruzaria de Norte a Sul e escreveria uma das páginas mais épicas da nossa História.
É a essa página da História do Brasil, cujas repercussões foram sentidas ao longo de todo o século XX, que o jornalista Pedro Doria, colunista do GLOBO, dedica o seu terceiro livro. “Tenentes: a guerra civil brasileira” (Record) se segue a “1789”, sobre a história de Tiradentes e da Inconfidência Mineira, e “1565: enquanto o Brasil nascia”, que aborda a empreitada de portugueses, franceses, índios e negros na fundação do país (ambos lançados pela Nova Fronteira). Para Doria, os três momentos têm em comum o impasse e a necessidade de mudança.
— O que me fascina são os momentos de transição. Em todos esses casos, um grupo de pessoas ou um indivíduo percebem que o país está travado e têm um estalo sobre como resolver o problema — diz o jornalista. — Nesse momento abordado no livro, o império já tinha ido embora, mas a nossa república tinha eleições abertamente fraudadas. Se você não tivesse nascido na elite, essencialmente agrária, não teria acesso ao curso superior. Isso para não falar na legislação trabalhista, que não existia. Crianças trabalhavam dez horas por dia. Até que um grupo de militares decidir resolver isso tudo.
INFLUÊNCIA ESTRANGEIRA
Para compreender o que levou esses jovens a pegar em armas e tomar o poder à força é preciso recuar ao final do século XIX. Da Prússia do chanceler Otto von Bismarck vieram a sensibilidade social e a necessidade de algum tipo de regulação legal das relações trabalhistas. Já da Turquia vieram as ideias de Mustafa Kemal Atatürk, líder militar que tornou o país uma república laica. Para Atatürk, as Forças Armadas são a instituição que melhor representa os interesses nacionais. Em outras palavras, os interesses dos militares e da nação se confundem. Doria explica que esse pensamento influenciou oficiais não só no Brasil, mas em todos os países da época.
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No Brasil, uma personagem central foi o marechal Hermes da Fonseca. Sobrinho de Deodoro, que proclamou a república, e ajudante de ordens do Conde d’Eu, que comandou as tropas brasileiras na Guerra do Paraguai, ele foi presidente do país entre 1910 e 1914. Influenciado por Bismarck e sua concepção de profissionalização do Exército, Hermes investiu na modernização das Forças Armadas e no envio de oficiais ao exterior para cursos. De volta ao país, eles seriam instrutores na Escola Militar de Realengo e formariam a geração mais importante do Exército brasileiro, aponta o jornalista.
— Nenhuma geração teve nem de perto a importância desta para a História brasileira. Os instrutores voltaram da Europa com um pé na ciência. Tudo é científico, calculado, engenharia mesmo. E trazem junto as ideias de Atatürk. Esses serão os professores das turmas que se formam em 1918, 19 e 20, as turmas dos tenentes.
O movimento não era movido por um conjunto bem definido de ideias. Estavam claros apenas os problemas da Primeira República, como a corrupção e a difícil mobilidade social. Não à toa a maioria dos jovens era de família humilde e via no Exército uma chance de ascensão. O futuro dos homens que fizeram parte do grupo não poderia ser tão diferente: Eduardo Gomes, depois candidato à presidência da União Democrática Nacional (UDN), a Luiz Carlos Prestes, líder comunista. Todos seriam protagonistas dos desenlaces políticos das décadas seguintes, da Revolução de 1930 à ditadura iniciada em 1964, passando pelo Estado Novo varguista.
Doria identifica, entretanto, um elemento comum a esses personagens tão diferentes entre si:
— Nenhum deles interiorizou um ideal democrático, todos acharam que rasgar a Constituição era um caminho para resolver a crise que eles enxergavam. Nós temos muita noção de como é recente a convicção de que a defesa da Constituição é o mais importante — afirma.
No livro, o jornalista narra em detalhes a crise política provocada pela sucessão do presidente Epitácio Pessoa. Após negociações e mais uma eleição fraudada, o mineiro Artur Bernardes derrotou Nilo Peçanha e foi eleito presidente. Contudo, os tenentes não aceitavam a posse de Bernardes, acusado ser o autor de cartas ofensivas a Hermes da Fonseca, líder do movimento. Bernardes tomou posse e governou, mas o destino da Primeira República estava selado.
Para descrever a sucessão de eventos que culminou nas batalhas campais no Rio, em 1922, e em São Paulo, em 1924, Doria pesquisou acervos disponíveis na internet, como a hemeroteca da Biblioteca Nacional, e documentos guardados no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
— Havia uma imprensa incrível na época. Os textos eram muito descritivos, já que ainda não existia o rádio. Um material muito rico — diz. — Eu me propus a utilizar as ferramentas do jornalismo literário para contar um período do passado, e teria sido quase impossível sem essas bases digitais.
RESENHA
Os anos 1930 são fundamentais para a história brasileira. Marcados por duas revoluções – em outubro de 1930 e de julho a setembro de 1932 –, essa instabilidade é até hoje explicada como fruto da disputa entre as “oligarquias” e o “tenentismo”. Mas essas análises esquecem as versões dos contemporâneos, que marcaram profundamente as explicações posteriores. Nesta cuidadosa pesquisa histórica, Vavy Borges retoma essas versões para descobrir quem, na realidade, são os sujeitos históricos, como e por que se dão suas disputas, quais os seus reais interesses, como tentam manipular as massas urbanas. A República brasileira decepcionou muitos de seus apoiadores ao promover o estabelecimento das oligarquias centrais no poder. O regime não abriu espaço para novas demandas políticas e sociais que se colocaram ao longo das décadas de 1910 e 1920, tornando-se frágil perante diferentes formas de crítica, que passaram do discurso às armas 
A história da crise política que desencadeou uma guerra civil no Brasil.
“Nestas páginas, o Rio de Janeiro será bombardeado. São Paulo será bombardeada. Prédios, casas, fábricas, arrasadas; estupros e execuções em bairros elegantes à luz do dia e centenas de corpos mortos terminarão espalhados pelas ruas. Um governador se verá sitiado por dia, trincheiras improvisadas à porta do palácio para resistir ao avanço inimigo. Metralhadoras, tanques de guerra. E aviões chegarão muito perto de explodir presidentes. Isto: presidentes. Dois presidentes da República distintos. Nestas páginas, não há uma vírgula de ficção. Tudo aconteceu assim”. É com esta maestria de estilo, unindo o rigor da investigação histórica minuciosa à experiência de repórter tarimbado, que Pedro Doria recria – em ângulos originais, hiper-realistas – o cenário que deflagrou o movimento tenentista na década de 1920. Narrado em forma de thriller, Tenentes apresenta a história da crise política que desencadeou uma guerra civil sem precedentes no país, em um tempo – nada remoto – em que as crises políticas se resolviam de outro jeito.
TENENTISMO
O tenentismo foi um movimento que ganhou força entre militares de média e baixa patente durante os últimos anos da República Velha. No momento em que surgiu o levante dos militares, a inconformidade das classes médias urbanas contra os desmandos e o conservadorismo presentes na cultura política do país se expressava. Ao mesmo tempo, o tenentismo era mais uma clara evidência do processo de diluiçãoda hegemonia dos grupos políticos vinculados ao meio rural brasileiro.
Influenciados pelos anseios políticos das populações urbanas, os militares envolvidos nesse movimento se mostraram favoráveis às tendências políticas republicanas liberais. Entre outros pontos, reivindicavam uma reforma constitucional capaz de trazer critérios mais justos ao cenário político nacional. Exigiam que o processo eleitoral fosse feito com o uso do voto secreto e criticavam os vários episódios de fraude e corrupção que marcavam as eleições.
Além disso, eram favoráveis à liberdade dos meios de comunicação, exigiam que o poder Executivo tivesse suas atribuições restringidas, maior autonomia às autoridades judiciais e a moralização dos representantes que compunham as cadeiras do Poder Legislativo. Entretanto, todo esse discurso liberal e moralizador também convivia com a opinião de alguns oficiais que defendiam a presença de um poder forte, centralizado e comprometido com mal definidas “necessidades da nação brasileira”.
As primeiras manifestações militares que ganharam corpo durante a República Oligárquica aconteceram nas eleições de 1922. Aproveitando a dissidência de algumas oligarquias estaduais, os tenentes apoiaram a candidatura de Nilo Peçanha em oposição ao mineiro Arthur Bernardes, politicamente comprometido com as demandas dos grandes cafeicultores. Nesse momento, a falta de unidade política dos militares acabou enfraquecendo essa primeira manifestação conhecida como “Reação Republicana”.
Durante essas eleições a tensão entre os militares e o governo aumentou quando diversas críticas contra os militares, falsamente atribuídas a Arthur Bernardes, foram veiculadas nos jornais da época. Com a vitória eleitoral das oligarquias, a primeira manifestação tenentista veio à tona com uma série de levantes militares que ficaram marcados pelo episódio dos “18 do Forte de Copacabana”, ocorrido no Rio de Janeiro, em julho de 1922.
Nos dois anos seguintes, duas novas revoltas militares, uma no Rio Grande do Sul (1923) e outra em São Paulo (1924), mostrou que a presença dos tenentistas no cenário político se reafirmava. Após terem suas pretensões abafadas pelas forças fiéis ao governo, esses dois grupos se juntaram para a formação de uma guerrilha conhecida como Coluna Prestes. Entre 1925 e 1927, esse grupo composto por civis e militares armados entrecortou mais de 24 mil quilômetros sob a liderança de Luís Carlos Prestes
A falta de apelo entre os setores mais populares, e as intensas perseguições e cercos promovidos pelo governo acabaram dispersando esse movimento. Luís Carlos Prestes, notando a ausência de um conteúdo ideológico mais consistente à causa militar, resolveu aproximar-se das concepções políticas do Partido Comunista Brasileiro. Em 1931, o líder da Coluna mudou-se para a União Soviética, voltando para o país somente quatro anos mais tarde.
Tenentismo e política - tenentismo E camadas médias urbanas na crise da Primeira República
Por Maria Cecília Spina Forjaz. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1977.
O próprio título do livro já sugere não se tratar apenas de mais uma obra sobre esse tema já bastante explorado e analisado. A autora, depois de um levantamento e sistematização das análises existentes sobre o tema, elege uma perspectiva bem definida para pensar o fenômeno tenentista: quais seriam as reais bases sociais desse movimento. Para tanto, delimita sua análise no período de julho de 1922 a fevereiro de 1927, portanto a fase inicial do movimento, que coincide com sua configuração liberal-democrática. É exatamente nesse período que o tenentismo começa a elaborar um projeto de transformação da sociedade brasileira marcada, de um lado, pela crise agrário exportadora e pela crise do estado oligárquico, e de outro lado pela sua contrapartida, a emergência e progressiva hegemonia dos setores urbano-industriais.
Já na Introdução a autora afirma que, embora a resposta ao seu problema central exija "uma análise histórica mais ampla, que se estendesse pelo menos até 1934, quando o tenentismo se desintegra como grupo político organizado" (p. 16), e que é sua intenção prosseguir posteriormente a análise, esse corte no tempo se justifica pela unidade própria que a fase liberal-democrata do tenentismo possui.
Num primeiro capítulo, Maria Cecília, depois de apresentar os "marcos estruturais" mais gerais em que se insere a conjuntura da década de 20, passa a analisar o processo histórico social da formação das camadas médias urbanas, pois o que a preocupa é estabelecer possíveis vinculações entre esse grupo social e o movimento tenentista. E a utilização da expressão "camadas médias urbanas" não é arbitrária, como ela mostra, mas designa - utilizando aí o trabalho de Décio Saes -"aqueles setores da população urbana que não sendo detentores do capital, realizam trabalhos predominantemente não-manual, quer trabalhando por conta própria, quer vendendo a sua capacidade de trabalho a terceiros" (p. 20).
Embora consciente de estar abordando um problema teórico mais geral, qual seja, "o da 'especificidade' das classes sociais nos países da periferia capitalista" a autora aí não se atém, mas segue adiante, levantando e analisando na sociologia brasileira os estudos sobre as relações entre tenentismo e camadas médias urbanas. E chega a detectar duas tendências: uma que vê os grupos industriais aliados às classes médias representando os agentes de transformação social e política no sentido da implantação de um sistema capitalista industrial no Brasil (p. 23), e outra, mais recente, que surge como uma crítica à anterior, que contesta a tese da representatividade dos setores médios da população brasileira através dos tenentes.
Feito o que, a autora passa a desenvolver sua hipótese central: a de que "na conjuntura da década de vinte o tenentismo assumiu o papel de porta-voz das. Aspirações das camadas médias urbanas. Esse grupo social, por sua dependência estrutural das oligarquias dominantes, foi incapaz de organizar um partido político que expressasse seus interesses e que efetivamente contestasse a dominação oligárquica. Esse papel foi preenchido por um setor da burocracia estatal, os militares, que embora integrantes das camadas médias urbanas, possuem uma autonomia própria advinda de suas funções no aparelho de Estado" (p. 31). As análises históricas que a autora desenvolve nos capítulos seguintes demonstram não só essa sua hipótese central, como também desvendam mais duas características do movimento tenentista: de um lado, o de ser "muito radical em sua forma e limitado em sua ideologia" - o que é explicado, segundo a autora, pela combinação da situação institucional dos tenentes como membros do aparelho militar do Estado e de sua composição social como membros das camadas médias urbanas; e de outro, o fato de as contradições que apresenta residirem "exatamente na combinação da autonomia relativa frente às forças sociais em luta, característica da burocracia estatal, à dependência histórica das camadas médias urbanas das forças sociais hegemônicas na sociedade brasileira" (p. 30-31). Noutros termos, os tenentes não se expressam somente em nome do Exército, mas expressam também o inconformismo anti-oligárquico das camadas médias urbanas.
No segundo capítulo a autora vai lastrear as raízes do descontentamento militar na fase inicial da crise da Primeira República, a articulação entre a rebeldia militar e os conflitos internos das oligarquias regionais, e verificar até que ponto existe uma convergência entre ambos.
São analisados assim o governo de Epitácio Pessoa e seu conhecido civilismo, e, paralelamente à rebeldia militar, a rebeldia das oligarquias regionais dos estados "intermediários" - Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco.
No terceiro capítulo são analisadas as revoluções de 1924, que representariam o amadurecimento político e ideológico da sedição de 1922, e que "configuram uma fase específica do movimento tenentista: a fase liberal-democrata, na qual os tenentes agem relativamentedesvinculados de setores dissidentes da oligarquia dominante" (p. 51).
O importante a ressaltar aí é que a autora mostra como a ampla simpatia da opinião pública e mesmo o. empenho em conquistá-la não são só indicadores da inexistência de uma tendência isolacionista do tenentismo dessa fase, como do fato de que os próprios tenentes não pretenderam efetivamente organizar o povo, mas apenas obter o apoio popular. Mais do que isso, os tenentes buscavam alianças nas próprias elites, "e não concebiam a luta política como algo a ser realizado pelo próprio povo, mas, . . . por uma vanguarda em nome do povo". O que não quer dizer, segundo a autora, que os tenentes não representassem as camadas médias urbanas, mas que "o elitismo dos tenentes e sua incapacidade de organizar correspondem ao elitismo das camadas médias e à sua incapacidade de organizar-se politicamente" (p. 80-81).
Finalmente a autora analisa a formação da Coluna Paulista e os levantes revolucionários nos outros estados para, no último capítulo, estudar a formação da Coluna Prestes, que "se constitui a partir do momento da junção das alas paulista e gaúcha da revolução tenentista" (p. 96), sua marcha até fevereiro de 1927, ressaltando que os "tenentes da Coluna mantinham a concepção, desenvolvida desde 22 de que as Forças Armadas são o principal agente da mudança política no Brasil e que elas representam os interesses gerais da nacionalidade, que estariam expressos em seu programa liberal-democrata e antioligárquico" (p. 109).
Como ressalta Francisco Correa Weffort na introdução do livro, não só o tenentismo é hoje ainda uma questão em aberto, como o livro de Maria Cecília Forjaz se destaca entre a bibliografia existente, tendo como uma de suas perspectivas mais fecundas a de ver no movimento tenentista não uma oposição entre a interpretação institucional e a classista da presença militar na política, mas a de analisar os tenentes como simultaneamente fazendo parte da sociedade e do Estado, não se podendo entender seu comportamento político, e suas aparentes incongruências, sem essa dupla relação.
Constituição de 1891
A primeira Constituição republicana brasileira, resultante do movimento político-militar que derrubou o Império em 1889, inspirou-se na organização política norte-americana. No texto constitucional, debatido e aprovado pelo Congresso Constituinte nos anos de 1890 e 1891, foram abolidas as principais instituições monárquicas, como o Poder Moderador, o Conselho de Estado e a vitaliciedade do Senado. Foi introduzido o sistema de governo presidencialista. O presidente da República, chefe do Poder Executivo, passou a ser eleito pelo voto direto para um mandato de quatro anos, sem direito à reeleição. Tinham direito a voto todos os homens alfabetizados maiores de 21 anos.
O Poder Legislativo era exercido pelo Congresso Nacional, formado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. O poder dos estados (antigas províncias) foi significativamente ampliado com a introdução do princípio federalista. Os estados passaram a organizar-se com leis próprias, desde que respeitando os princípios estabelecidos pela Constituição Federal. Seus governantes, denominados presidentes estaduais, passaram a ser eleitos também pelo voto direto. Foi abolida a religião oficial com a separação entre o Estado e a Igreja Católica, cuja unidade era fixada pela antiga Constituição Imperial.
Durante grande parte da Primeira República (1889-1930) desenvolveu-se um intenso debate sobre a necessidade de se reformar a Constituição de 1891. Muitos reformadores defendiam a ampliação dos poderes da União e do presidente da República como forma de melhor enfrentar as pressões advindas dos grupos regionais. A Emenda Constitucional de 1926 iria em parte atender a essas demandas centralizadoras. A Revolução de 1930 encerraria o período de vigência dessa primeira carta republicana.
Movimento Tenentista
A Primeira Guerra Mundial colocou na ordem do dia a questão da defesa nacional. Governo e setores da sociedade começaram então a dar maior atenção às Forças Armadas. Algumas medidas concretas de modernização foram adotadas: o recrutamento universal e a vinda da Missão Francesa para melhor formar os oficiais brasileiros.
Só que no começo dos anos 1920 a situação continuava desalentadora no Exército. Faltava de tudo: armamento, cavalos, medicamentos, instrução para a tropa. Os oficiais brasileiros se ressentiam de uma política mais eficaz e mostravam-se descontentes com a nomeação do civil Pandiá Calógeras para o Ministério da Guerra pelo presidente Epitácio Pessoa. Os soldos permaneciam baixos e o governo não fazia menção de aumentá-los.
Esta situação afetava particularmente os tenentes. Havia um grande número deles, e as promoções eram muito lentas. Um segundo-tenente podia demorar dez anos para alcançar a patente de capitão.
Foi nesse quadro de crescente insatisfação, com as condições do Exército e com a política do governo, que eclodiram diversos levantes militares. A presença significativa de tenentes na condução desses movimentos deu origem ao termo "tenentismo". Os principais movimentos tenentistas da década de 1920 foram os 18 do Forte, os levantes de 1924, e a Coluna Prestes.
O principal objetivo dos tenentes era derrubar o governo. Mas que tipo de governo desejavam implantar no país? Em suas formulações percebe-se que nem eles mesmos sabiam muito bem o que queriam. Eram pródigos na ação e na crítica, mas econômicos na proposição. Não havia um programa muito claro, apenas algumas ideias gerais. Eram homens formados na caserna. Suas formulações derivavam principalmente dessa situação. Acreditavam que sua ação era parte de uma missão que salvaria o país.
As propostas políticas dos tenentes de uma maneira geral se vinculavam ao clima do pós-Primeira Guerra Mundial, marcado pelo avanço do nacionalismo e da centralização política. Nesse ponto, eles assumiam bandeiras de luta próximas às das oligarquias regionais que se opunham ao predomínio de Minas Gerais e São Paulo. Entre outras reformas, defendiam o voto secreto, a independência do Poder Judiciário e um Estado mais forte.
Os movimentos tenentistas foram combatidos por outras correntes no interior do Exército que defendiam a legalidade e a profissionalização. Muitos oficiais continuavam descontentes com o governo federal, que não fazia muita coisa para alterar a situação geral da instituição, mas achavam que os métodos de ação dos tenentes dividiam e enfraqueciam o Exército. Entre meados da década de 1920 e o início dos anos 1930, foi tomando corpo uma proposta que concebia a intervenção na vida política do país como algo que deveria ser feito não por um grupo ou facção, mas pela própria instituição militar, representada pelo seu estado-maior. Seus principais formuladores foram Bertoldo Klinger e o tenente-coronel Góes Monteiro. Segundo essa concepção, o Exército e a Marinha, como instituições nacionais, tinham o dever de intervir na vida política brasileira em caso de grave ameaça à organização nacional.
Muitos tenentes, devido às perseguições, se exilaram. E no exílio, se dividiram. Luís Carlos Prestes, principal líder da Coluna Prestes, aderiu ao socialismo e afastou-se de vários de seus antigos companheiros que no final da década 1920 retornaram ao Brasil animados com a possibilidade de promover um novo levante armado. Para eles, a hora da revolução havia chegado. Em 1930, os ânimos estavam exaltados nos meios políticos e nos quartéis. A vitória do candidato oficial Júlio Prestes contra o oposicionista Getúlio Vargas promoveu divisões nos grupos regionais dominantes e colocou por terra o projeto de alguns deles de chegar ao poder pela via legal. A conspiração ganhou corpo no decorrer daquele ano, contando com o apoio de lideranças civis e militares, entre eles Góes Monteiro, interessadas em reservar para o Exército uma situação de maior importância no futuro governo. Os tenentes, mesmo divididos, tiveram um papel fundamental tanto na preparação como na direção do movimento que promoveu a derrubadado governo na Revolução de 1930. A partir daí, subiram de posto e chegaram ao poder. O caminho agora estava aberto para reformar o país.
18 do Forte
Ao se aproximar a sucessão presidencial de Epitácio Pessoa, em 1922, aguçaram-se as contradições entre o Exército e as oligarquias dominantes. O Exército já guardava ressentimento contra Epitácio, que havia nomeado o civil Pandiá Calógeras para o Ministério da Guerra. As coisas pioraram quando, em outubro de 1921, a imprensa divulgou cartas supostamente escritas pelo candidato oficial, Artur Bernardes, contendo acusações ao Exército e ofensas ao marechal Hermes da Fonseca, presidente do Clube Militar.
Em março de 1922, apesar da oposição, Artur Bernardes foi eleito presidente da República. Sua posse estava marcada para novembro. Em junho, o governo, ainda chefiado por Epitácio, interveio na sucessão estadual de Pernambuco e foi duramente criticado pelo marechal Hermes da Fonseca. Em reação, Epitácio, ordenou a prisão do marechal e o fechamento do Clube Militar, no dia 2 de julho de 1922.
Na madrugada de 5 de julho, a crise culminou com uma série de levantes militares. Na capital federal, levantaram-se o forte de Copacabana, guarnições da Vila Militar, o forte do Vigia, a Escola Militar do Realengo e o 1° Batalhão de Engenharia; em Niterói, membros da Marinha e do Exército; em Mato Grosso, a 1ª Circunscrição Militar, comandada pelo general Clodoaldo da Fonseca, tio do marechal Hermes. No Rio de Janeiro, o movimento foi comandado pelos "tenentes", uma vez que a maioria da alta oficialidade se recusou a participar do levante.
Os rebeldes do forte de Copacabana dispararam seus canhões contra diversos redutos do Exército, forçando inclusive o comando militar a abandonar o Ministério da Guerra. As forças legais revidaram, e o forte sofreu sério bombardeio. O ministro da Guerra, Pandiá Calógeras, empreendeu em vão várias tentativas no sentido de obter a rendição dos rebeldes.
Finalmente, no início da tarde do dia 6 de julho, ante a impossibilidade de prosseguir no movimento, os revoltosos que permaneciam firmes na decisão de não se renderem ao governo abandonaram o forte e marcharam pela avenida Atlântica de encontro às forças legalistas. A eles aderiu o civil Otávio Correia, até então mero espectador dos acontecimentos.
Conhecidos como os 18 do Forte - embora haja controvérsias quanto a seu número, pois os depoimentos dos sobreviventes e as notícias da imprensa da época não coincidem -, os participantes da marcha travaram tiroteio com as forças legais. Os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes, sobreviveram com graves ferimentos. Entre os mortos, estavam os tenentes Mário Carpenter e Newton Prado.
Em 15 de novembro de 1922, Artur Bernardes assumiu a presidência da República sob estado de sítio, decretado por ocasião do levante de julho.
Levantes de 1924
Em dezembro de 1923, o julgamento e a punição dos implicados nos levantes militares do ano anterior, acusados de promover um golpe de Estado, agravaram as relações entre o Exército e o governo federal. A tensão crescente redundou na eclosão, em julho de 1924, de uma rebelião militar em São Paulo, articulada pelo general reformado Isidoro Dias Lopes, pelo major Miguel Costa, comandante do Regimento de Cavalaria da Força Pública do estado, e pelo tenente Joaquim Távora, este último morto durante os combates. Tiveram ainda participação destacada os tenentes Juarez Távora, Eduardo Gomes, João Cabanas, Filinto Müller e Newton Estillac Leal.
 Movimento teve início na madrugada do dia 5 de julho, mesma data do levante dos 18 do Forte. Em suas primeiras ações, os revoltosos ocuparam as estações da Luz, da Estrada de Ferro Sorocabana e do Brás, além dos quartéis da Força Pública e outros pontos estratégicos da cidade. No dia 8, após a fuga do presidente do estado Carlos de Campos, que deixou a cidade na companhia de membros de seu governo e sob a proteção de tropas fiéis, os rebeldes tomaram o palácio dos Campos Elísios. No dia seguinte, instalaram um governo provisório chefiado pessoalmente pelo general Isidoro. Em resposta, as tropas legalistas promoveram um forte bombardeio, que provocou o caos generalizado na capital paulista. Em meio ao pânico da população, ocorreram numerosos assaltos e saques a armazéns e depósitos de firmas particulares, especialmente nos bairros operários.
A partir do dia 16, sucederam-se as tentativas de armistício. Um dos principais mediadores foi José Carlos de Macedo Soares, membro da Associação Comercial de São Paulo. Num primeiro momento, o general Isidoro condicionou a assinatura de um acordo à entrega do poder a um governo federal provisório e à convocação de uma Assembleia Constituinte. A negativa do governo federal, somada às consequências do bombardeio da cidade, reduziu as exigências dos revoltosos à concessão de uma anistia ampla aos revolucionários em 1922 e 1924. Entretanto, nem essa reivindicação foi atendida.
Diante do recrudescimento da ação repressiva das tropas do governo, as forças rebeladas de São Paulo, determinadas a continuar a luta, decidiram abandonar a capital do estado na madrugada de 28 de julho e rumar para o interior. Àquela altura, já haviam eclodido rebeliões militares no Amazonas, em Sergipe e em Mato Grosso, em apoio ao levante de São Paulo, mas os revoltosos paulistas desconheciam tais acontecimentos.
Em outubro, enquanto os paulistas combatiam em território paranaense, tropas sediadas no Rio Grande do Sul iniciaram um levante, associadas a líderes gaúchos contrários à situação estadual. As forças rebeladas juntaram-se aos paulistas em Foz do Iguaçu, no Paraná, no mês de abril de 1925. Formou-se assim o contingente que deu início à marcha da Coluna Prestes.
Coluna Prestes
Diante do avanço das forças legais que reprimiram os levantes de 1924 em São Paulo, os revoltosos decidiram deixar a capital paulista no dia 28 de julho, iniciando sua marcha pelo interior do estado na direção sudoeste. Ingressando no Paraná, em setembro conquistaram Guaíra, Foz do Iguaçu (onde estabeleceram seu quartel-general) e depois Catanduvas. Nessa região, permaneceram até abril de 1925, enfrentando as forças federais comandadas pelo general Cândido Rondon em uma série de combates, principalmente na serra de Medeiros, em Formigas e em Catanduvas, recuperada pelos legalistas no mês de março.
Ainda no início da campanha paranaense, alguns líderes como Juarez Távora e João Alberto partiram para o Rio Grande do Sul, a fim de colaborar com oficiais que lá serviam na preparação da revolta militar que abriria nesse estado uma nova frente de combate ao governo. Em outubro de 1924, a insurreição foi finalmente deflagrada no Rio Grande, com o levante, comandado pelo capitão Luís Carlos Prestes, do 1º Batalhão Ferroviário, sediado em Santo Ângelo.
Ao mesmo tempo, sublevaram-se tropas nas cidades gaúchas de São Luís, São Borja e Uruguaiana, chefiadas respectivamente por Pedro Gay, Rui Zubaran e Juarez Távora. Em São Borja, o capitão Zubaran contou com a colaboração de Siqueira Campos, que retornara clandestinamente do exílio em Buenos Aires. O movimento atingiu ainda várias outras cidades. Em Alegrete, o levante foi chefiado por João Alberto e, em Guaçuboi, as forças comandadas pelo caudilho libertador Honório Lemes foram derrotadas pelas tropas legalistas de Flores da Cunha.
Obedecendo às instruções do general Isidoro Dias Lopes, as forças rebeladas no Rio Grande do Sul marcharam em seguida para o norte do estado, visando a alcançar Foz do Iguaçu e unir-se aos revoltosos paulistas. Em abril de 1925, após atravessarem Santa Catarina e parte do Paraná, travando com as tropas legalistas seguidos combates em que perderam quase metade de seu contingente, as forças gaúchas chegaram a seu destino.
No dia 12 de abril, em reunião que contou com a presença de Isidoro Dias Lopes, Miguel Costa, Luís Carlos Prestes e do general Bernardo Padilha, foi tomada a decisão de prosseguir a marcha e invadir Mato Grosso, contrariando a opinião do general Isidoro, favorável à cessaçãoda luta. Formada a 1ª Divisão Revolucionária, assumiu seu comando o general comissionado Miguel Costa, tendo como chefe de estado-maior o coronel comissionado Luís Carlos Prestes. Estava formada aquela que ficaria conhecida como Coluna Miguel Costa-Prestes ou simplesmente Coluna Prestes.
A coluna era composta de quatro destacamentos, comandados por Cordeiro de Farias, João Alberto, Siqueira Campos e Djalma Dutra, que foi promovido a coronel pelo comando revolucionário. Decidiu-se também na reunião que o general Isidoro partiria para a Argentina, onde deveria coordenar a ação dos revolucionários exilados ou inativos no sul do país.	
Iniciando a marcha, a coluna concluiu a travessia do rio Paraná em fins de abril de 1925 e penetrou no Paraguai rumo a Mato Grosso. Em seguida, percorreu Goiás, entrou em Minas Gerais e retornou a Goiás. Seguiu em direção ao Nordeste e em novembro atingiu o Maranhão, onde o tenente-coronel Paulo Krüger foi preso e enviado a São Luís. Em dezembro, penetrou no Piauí e travou em Teresina sério combate com as forças do governo. Rumando então para o Ceará, a coluna teve outra baixa importante: na serra de Ibiapina, Juarez Távora foi capturado.
Em janeiro de 1926, a coluna atravessou o Ceará, chegou ao Rio Grande do Norte e, em fevereiro, invadiu a Paraíba, enfrentando na vila de Piancó séria resistência comandada pelo padre Aristides Ferreira da Cruz, líder político local. Após ferrenhos combates, a vila acabou ocupada pelos revolucionários.
Prosseguindo a marcha rumo ao sul, a coluna atravessou Pernambuco e Bahia e dirigiu-se para o norte de Minas Gerais. Encontrando vigorosa reação legalista e precisando remuniciar-se, o comando da coluna decidiu interromper a marcha para o sul e, em manobra conhecida como "laço húngaro", retornar ao Nordeste através da Bahia. Cruzou o Piauí, alcançou Goiás e finalmente chegou de volta a Mato Grosso em outubro de 1926. Àquela altura, o estado-maior revolucionário decidiu enviar Lourenço Moreira Lima e Djalma Dutra à Argentina, para consultar o general Isidoro Dias Lopes quanto ao futuro da coluna: continuar a luta ou rumar para o exílio.
ntre fevereiro e março de 1927, afinal, após uma penosa travessia do Pantanal, parte da coluna, comandada por Siqueira Campos, chegou ao Paraguai, enquanto o restante ingressou na Bolívia, onde encontrou Lourenço Moreira Lima, que retornava da Argentina. Tendo em vista as condições precárias da coluna e as instruções de Isidoro, os revolucionários decidiram exilar-se. Durante sua marcha de quase dois anos, haviam percorrido cerca de 25.000 quilômetros.
Miguel Costa seguiu para Libres, na Argentina, enquanto Prestes e mais duzentos homens rumaram para Gaiba, na Bolívia, onde trabalharam por algum tempo para uma companhia inglesa, a Bolívia Concessions Limited. Em 5 de julho de 1927, os exilados inauguraram em Gaiba um monumento em homenagem aos mortos da campanha da coluna. Instadas pelos protestos do governo brasileiro, autoridades bolivianas tentaram destruir o monumento, mas foram impedidas de fazê-lo ante a atitude enérgica de Luís Carlos Prestes.
Partido Democrático de São Paulo (PD)
O Partido Democrático foi fundado em fevereiro de 1926, reunindo elementos descontentes com o longo domínio do Partido Republicano Paulista (PRP) nos governos do estado de São Paulo e da República. Seu primeiro presidente foi o conselheiro Antônio Prado, antigo político do Império, agricultor, banqueiro e industrial. Entre seus principais líderes estavam Francisco Morato, Paulo Nogueira Filho e Marrey Júnior, e entre seus membros predominavam fazendeiros e profissionais liberais.
Nos seus primeiros documentos, o PD fazia a defesa do voto secreto e da autonomia do Poder Judiciário. O conselheiro Antônio Prado declarava-se contrário a uma composição com as forças situacionistas de qualquer estado, e por isso o partido preferiu fazer contatos com a oposição gaúcha e com elementos dissidentes do Distrito Federal. Representantes dessas correntes chegaram a compor a comissão organizadora de um futuro Partido Democrático Nacional (PDN), que não chegou a ser criado.
O PD mostrava-se entusiasmado pelos feitos da Coluna Prestes (1925-1927) e não manifestava maiores expectativas com relação às disputas eleitorais. A estreia eleitoral do partido ocorreu apenas nas eleições municipais de 1928, quando se aliou a elementos de esquerda, mas foi duramente derrotado pela máquina do PRP.
Nas eleições presidenciais de 1930, o PD apoiou a formação da chapa da Aliança Liberal encabeçada pelo líder gaúcho Getúlio Vargas. Diante da derrota de Vargas, alguns dirigentes do partido mostraram-se conformados com o resultado, mas um outro grupo, liderado por Francisco Morato, apoiou as conspirações político-militares contra o governo federal que resultaram na Revolução de 1930. Quando o presidente Washington Luís foi deposto, a junta militar que assumiu o poder ofereceu o governo de São Paulo a Francisco Morato. Este, no entanto recusou a indicação, argumentando que só poderia aceitá-la com o consentimento de Vargas, líder supremo do movimento revolucionário. Ao assumir o governo dias depois, Vargas, pressionado pela jovem oficialidade militar que o apoiava, preferiu nomear o líder tenentista João Alberto para o cargo de interventor federal em São Paulo. Iniciaram-se então os conflitos entre o PD e o interventor.
Em abril de 1931, após sucessivos desentendimentos, o PD declarou seu rompimento com João Alberto. A substituição deste, em julho, por Laudo de Camargo satisfez parcialmente os democráticos. A tensão, porém, continuou e em novembro Laudo de Camargo renunciou, sendo substituído pelo general Manuel Rabelo, ligado aos "tenentes". Em fevereiro de 1932, o PD finalmente divulgou um manifesto rompendo com Vargas. Seus dirigentes iniciaram então entendimentos com os antigos adversários do PRP, que levaram à formação, no mês seguinte, da Frente Única Paulista (FUP). As principais reivindicações da FUP eram o retorno do país ao regime constitucional e a recuperação da autonomia estadual pelos paulistas.
Vargas recuou e nomeou interventor Pedro de Toledo, nome simpático ao PD. Ao mesmo tempo, promulgou o novo Código Eleitoral, primeiro passo para a reconstitucionalização do país. Tais medidas, porém, não foram suficientes para conter a exaltação dos membros da FUP, que a partir de maio passaram a dominar inteiramente o secretariado estadual. Controlando a situação no estado, a FUP deflagrou, em julho de 1932, a Revolução Constitucionalista, que visava à derrubada de Vargas. Contudo, sem a esperada adesão de mineiros e gaúchos, o movimento fracassou. Em outubro, após a rendição, os principais líderes do PD foram para o exílio.
Em 1933, quando finalmente se realizaram as eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, formou-se a Chapa Única por São Paulo, composta por membros da FUP que haviam permanecido no país. A Chapa Única venceu as eleições no estado, mas a ampla maioria dos eleitos pertencia ao PRP. Naquele momento, a nomeação para a interventoria de Armando de Sales Oliveira, nome vinculado ao PD mas com bom trânsito entre as forças políticas do estado, contribuiu para distensão política entre os paulistas e o governo federal.
Em 1934, por iniciativa de Armando Sales, foi criado o Partido Constitucionalista. O PD decidiu incorporar-se à nova agremiação e foi extinto em fevereiro daquele ano, após exatos oito anos desde sua fundação.
Aliança Liberal
Coligação oposicionista de âmbito nacional formada no início de agosto de 1929 por iniciativa de líderes políticos de Minas Gerais e Rio Grande do Sul com o objetivo de apoiar as candidaturas de Getúlio Vargas e João Pessoa respectivamente à presidência e vice-presidência da República nas eleições de 1º de março de 1930.
Para assegurar a continuidade de sua política econômico-financeira, de austeridade e contenção de recursos para a cafeiculltura, o presidente da República Washington Luís, ex-presidente de São Paulo, indicou para a sua sucessão o paulista Júlio Prestes. Essadecisão representou o rompimento do esquema de revezamento entre Minas Gerais e São Paulo conhecido como "política do café com leite", segundo o qual, para o novo quadriênio, o candidato oficial devia ser mineiro.
Sentindo-se alijado da disputa eleitoral, o presidente de Minas, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, buscou apoio do Rio Grande do Sul para se opor aos planos de Washington Luís. Terceiro estado em importância eleitoral, o Rio Grande do Sul tornava-se a peça-chave no jogo sucessório.
Foram intensas as negociações políticas entre as principais lideranças daqueles dois estados desde o final do ano de 1928 até julho de 1929. No dia 30 desse mês, a comissão executiva do Partido Republicano Mineiro lançou as candidaturas de Getúlio Vargas e João Pessoa (presidente da Paraíba) respectivamente à presidência e à vice-presidência da República. No dia seguinte, o Partido Libertador (PL), do Rio Grande do Sul, unindo-se ao Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) na Frente Única Gaúcha (FUG), deu apoio à chapa de oposição. Para tornar sua ação mais concreta, a oposição formou então, no início de agosto, a Aliança Liberal. A direção do movimento coube ao mineiro Afonso Pena Jr. (presidente) e ao gaúcho Ildefonso Simões Lopes (vice-presidente). Além de Minas, Rio Grande e Paraíba, a Aliança Liberal recebeu a adesão de todas as oposições estaduais, destacando-se o Partido Democrático de São Paulo e o Partido Democrático do Distrito Federal.
m 20 de setembro, em convenção realizada no Rio de Janeiro, a Aliança Liberal homologou a chapa Vargas-Pessoa e sua plataforma eleitoral, redigida pelo republicano gaúcho Lindolfo Collor. Estabelecendo como essencial a reforma política do país, o programa aliancista defendia a representação popular através do voto secreto, a Justiça Eleitoral, a independência do Judiciário, a anistia para os revolucionários de 1922, 1924 e 1925-27, e a adoção de medidas econômicas protecionistas para produtos de exportação além do café. Preconizava, ainda, medidas de proteção aos trabalhadores, como a extensão do direito à aposentadoria, a aplicação da lei de férias e a regulamentação do trabalho do menor e da mulher.
Ainda em 1929, uma corrente mais radical da Aliança Liberal, formada por políticos jovens como João Neves da Fontoura, Oswaldo Aranha e Virgílio de Melo Franco, passou a admitir a hipótese de desencadear um movimento armado em caso de derrota nas urnas. Como primeiro passo, buscaram a colaboração dos tenentes, levando em conta seu passado revolucionário e seu prestígio no interior do Exército. Essas negociações se deram com grande dificuldade devido a desconfianças recíprocas. Na Aliança Liberal, estavam alguns dos principais adversários dos "tenentes", notadamente Artur Bernardes, Epitácio Pessoa e João Pessoa.
Pouco seguro em relação ao seu futuro, Vargas estabeleceu um acordo político com Washington Luís em que ficou acertado que, em caso de derrota, o candidato oposicionista aceitaria o resultado e passaria a apoiar o governo constituído. Em compensação, o governo federal se comprometia a não apoiar a oposição gaúcha e a reconhecer a vitória dos candidatos vinculados à Aliança Liberal nas eleições para a Câmara dos Deputados. Vargas restringiria sua participação pessoal na campanha ao Rio Grande do Sul.
Com a radicalização da campanha, o acordo acabou sendo rompido. A maioria governista na Câmara dos Deputados decidiu não dar quorum às sessões parlamentares, impedindo assim a manifestação dos deputados aliancistas. Em janeiro de 1930, Vargas viajou para o Rio de Janeiro, e na capital federal promoveu um grande comício na esplanada do Castelo. Estendeu sua viagem a São Paulo e Santos, onde foi recebido com demonstrações populares de apoio.
O resultado do pleito de 1º de março de 1930 deu a vitória a Júlio Prestes e Vital Soares, eleitos com 57,7% dos votos. A fraude, dominante na época, verificou-se dos dois lados.
Em 19 de março de 1930, Borges de Medeiros, líder do PRR, reconheceu a vitória de Júlio Prestes, dando por encerrada a campanha da oposição. No entanto, as articulações dos oposicionistas prosseguiram, vindo a resultar, no mês de outubro, na Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder.
A Coluna Prestes. Análise e depoimentos.
O ilustre militar, professor, crítico literário e um esforçado e persistente pesquisador da História brasileira lançou esta obra poucos anos após ser cassado pelo regime iniciado no Brasil em primeiro de abril de 1964. Nascido no Rio de Janeiro, em 1911, foi um historiador sem formação acadêmica e, além disso, um ativista político. Asseverou em carta a Acir da Cruz Camargo em 01/08/1992: “Posso lhe assegurar, de mim, que estou, mais do que nunca, aferrado ao socialismo e ao marxismo, fora dos quais não vejo saída para a sociedade humana e para a brasileira em particular”. Poucos anos depois, faleceu em Itu/SP, deixando uma vasta bibliografia, infelizmente deixada de lado, ou “exterminada” pela academia, usando termos de sua filha Olga Sodré. 
O livro A Coluna Prestes divide-se em duas partes: “Análise” e “Depoimentos”. Apesar de demonstrar alguns dos limites do movimento ao qual a Coluna fez parte, o autor teve como objetivo geral provar que a Coluna Prestes foi um agrupamento anti-imperialista, que realizou diversos feitos que constituíram-se em episódios políticos e militares heroicos. Basicamente, aqui Sodré expôs o seu orgulho de ser um militar de carreira, evidenciando as suas influências do positivismo. Embora NWS tenha sido um difusor no Brasil de José Carlos Mariátegui La Chira- um escritor, jornalista, sociólogo e militante comunista peruano - para o autor de A Coluna Prestes, era impensável criar novas categorias para interpretar nossa realidade, conforme reiterou em sua crítica ácida a Jacob Gorender em “Desventuras da marxologia”. 
A situação internacional, na época do Tenentismo, era de divisão do mundo em três grupos: o grupo dos países capitalistas, dos países dependentes e dos países coloniais. O Brasil localizava-se no segundo grupo, e tinha regiões aonde “predominavam absolutas as relações feudais”. A Coluna Prestes foi expressão maior da vanguarda pequeno-burguesa armada que ficou conhecida na História como Tenentismo. 
Com a força militar do latifúndio em oposição aos revolucionários tenentistas, configurou-se uma luta entre a força do atraso, do conformismo, ou do feudalismo, contra a força do avanço, do inconformismo, ou do capitalismo. NWS situou a Coluna Prestes na Revolução Brasileira, burguesa, embora ressaltando: “já em condições e características muito diferentes da revolução burguesa clássica”. Afirmou, de fato, a especificidade brasileira, mas a criação de categorias novas, como fizeram Jacob Gorender e Mariátegui, NWS não se permitiu. 
Não há, portanto, muita originalidade em A Coluna Prestes, sim diversas descrições e informações, e faltou um aprofundamento analítico. São abundantes as citações sem qualquer análise, as páginas que mais podem ser consideradas resumos de uma única obra do que uma escrita autoral, e as reafirmações de ideias presentes em livros seus anteriores. 
Nelson Werneck Sodré foi um cientista social e militante político como poucos foram em nosso país e com sua peculiar humildade, em vida assumia as suas limitações. Apenas repetia o que foi escrito até o seu tempo, conforme suas palavras. Não há como discordar do general da História e da cultura, ao ler criticamente A Coluna Prestes.

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