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Revisão p/ AV1 Direito Penal 1 Aula 1 (Cap. 1 do Livro Didático) A missão do Direito Penal é proteger os bens jurídicos mais importantes, tais como a vida, a integridade física, a honra, moralidade pública, etc. dada à sua intervenção mínima e subsidiariedade. São Fontes do Direito Penal: Fontes Materiais: indicam o órgão encarregado da produção do direito penal. Em nosso ordenamento jurídico, somente a União possui competência legislativa para criar normas penais (CF, art. 22, I). Exceção: Note-se que o parágrafo único do dispositivo constitucional citado prevê que lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas acerca de matérias penais. Fontes Formais: Também conhecidas como fontes do conhecimento. Subdividem-se em IMEDIATAS: Somente a lei pode servir como fonte imediata do direito penal, ou seja, fonte primária, porquanto NÃO HÁ CRIME SEM LEI ANTERIOR QUE O DEFINA, NEM PENA SEM PRÉVIA COMINAÇÃO LEGAL. MEDIATAS: Também conhecidas como fontes secundárias. São os costumes e os princípios gerais do direito. Porém não se admite que seu emprego resulte no surgimento de crimes não previstos em lei ou, ainda, a agravação da punibilidade de delitos já existentes. Os princípios gerais do direito e os costumes, portanto, somente incidem na seara da licitude penal, ampliando-a. Analogia x interpretação Analógica No direito penal, devido ao Princípio da Legalidade, somente se admite a analogia in bonam partem, ou seja, aquela utilizada em benefício do sujeito ativo da infração penal. A analogia é uma forma de auto integração da lei penal, não existindo a lei, mas sim uma lacuna, uma brecha legislativa, por isso somente poderá ser aplicada em benefício do réu. “PARECIDO NÃO É IGUAL, NÃO SERVE PARA O DIREITO PENAL” Já na interpretação analógica, a lei existe, razão pela qual não há restrição ao seu uso no Direito Penal. Ex.: A analogia visa deixar o Direito mais justo? Imagine a seguinte situação: o art. 128, II, do CP admite o aborto praticado por médico em caso de estupro. No caso do aborto realizado por enfermeiro, havendo a impossibilidade de atendimento médico, há o crime? Aula 2 Princípios Norteadores, Garantidores e Limitadores do Direito Penal (Cap. 2 do Livro Didático) Diversos são os princípios de Direito Penal que estão assegurados na Constituição. Vejamos: Princípio da Dignidade Humana: Trata-se do mais importante dos princípios penais e constitui um dos fundamentos da República Federativa do Brasil (CF, art. 1º, III). Proíbe a incriminação de comportamentos socialmente inofensivos, isto é, que não provoquem dano efetivo ou lesão ao corpo social (ex.: incriminar o ato de manifestar publicamente admiração por pessoas queridas). Impede, ademais, que a aplicação das normas penais ocorra de maneira totalmente divorciada da realidade. Princípio da humanidade ou Princípio da Limitação em Razão das Penas: As normas penais devem sempre dispensar tratamento humanizado aos sujeitos ativos de infrações penais, vedando-se a tortura, o tratamento desumano ou degradante (CF, art. 5º, III), penas de morte, de caráter perpétuo, cruéis, de banimento ou de trabalhos forçados (CF, art. 5º, XLVII). Princípio da Legalidade: Trata-se da verdadeira garantia do homem contra o abuso do poder estatal, uma vez só haverá crime se a conduta estiver anteriormente descrita em uma lei, geral, abstrata e impessoal. Sendo o Estado o único titular do direito de punir, não pode ABUSAE deste poder. Princípios da Proporcionalidade e da Razoabilidade: Não são sinônimos, mas geralmente andam juntos. Baseiam-se na necessidade e idoneidade, na proibição dos excessos. ―Quando a criação do tipo penal não se revelar proveitosa para a sociedade, estará ferido o princípio da proporcionalidade, devendo a descrição legal ser expurgada de nosso ordenamento jurídico por vício de inconstitucionalidade. Além disso, a pena, isto é, a resposta punitiva estatal ao crime, deve guardar proporção com o mal infligido ao corpo social‖ (Edilson M. Bonfi m e Fernando Capez, Direito penal: parte geral, p. 130). Princípio da Intervenção Mínima: Somente se deve recorrer à intervenção do direito penal em situações extremas, como a última saída (ultima ratio). A princípio, portanto, deve-se deixar aos demais ramos do direito a disciplina das relações jurídicas. A subtração de um pacote de balas em um supermercado, já punida com a expulsão do cliente do estabelecimento e com a cobrança do valor do produto ou sua devolução, já foi resolvida por outros ramos do direito, de modo que não necessitaria da interferência do direito penal. Por essa razão que ilícitos civis não são necessariamente, também ilícitos penais. Princípio da Fragmentariedade: trata-se, na verdade, de uma característica do direito penal, mencionada por alguns autores também sob a forma de princípio, estabelecendo que as normas penais somente se devem ocupar de punir uma pequena parcela, um pequeno fragmento dos atos ilícitos, justamente aquelas condutas que violem de forma mais grave os bens jurídicos mais importantes. Princípio Lesividade ou da Alteridade ou da Transcendentalidade: A incriminação de uma conduta deve transcender a esfera individual do autor e atingir o interesse do outro. Por conta desse princípio, não se pune a autolesão, salvo quando se projeta a prejudicar terceiros, como no art. 171, § 2º, V, do CP (autolesão para fraudar seguro); a tentativa de suicídio (nosso CP somente pune a participa- ção no suicídio alheio — art. 122); o uso pretérito de droga (o porte é punido porque, enquanto o agente detém a droga, coloca em risco a incolumidade pública). Princípio da Adequação Social: O fato deixará de ser típico quando aceito socialmente. Acompanhe esse exemplo extraído da jurisprudência: ―Contravenção Penal — ‗jogo do bicho‘. Tal princípio não tem merecido acolhida da maioria da jurisprudência, uma vez que sua aceitação implicaria a conclusão de que os costumes teriam força para revogar lei penal, o que é inadmissível em face do art. 22, I, da CF, e art. 2º, § 1º, da LINDB. Princípio da culpabilidade: Como decorrência do princípio da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III) e da presunção de não culpabilidade (CF, art. 5º, LVII), exsurge esse princípio, segundo o qual: a) não se admite responsabilidade penal objetiva, ou seja, desprovida de dolo ou culpa (v. art. 19 do CP) ou carente de culpabilidade (v. arts. 21 a 28 do CP); b) a pena há de ser dosada segundo o grau de reprovabilidade da conduta do agente. Princípio da insignificância ou da bagatela: Compreende que o direito penal não deve se preocupar com bagatelas, com condutas incapazes de lesar o bem jurídico protegido pelo tipo penal. O STF vem adotando critérios que nos parecem ajustados para a verificação, em cada caso, sobre a possibilidade de aplicar o princípio. São eles: (i) a mínima ofensividade da conduta do agente (ii) a nenhuma periculosidade social da ação (iii) o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento (iv) a inexpressividade da lesão jurídica provocada Princípio da confiança: Uma pessoa não pode ser punida quando, agindo corretamente e na confiança de que o outro também assim se comportará, dá causa a um resultado não desejado (ex.: o médico que confia em sua equipe não pode ser responsabilizado pela utilização de uma substância em dose equivocada, se para isso não concorreu; o motorista que conduz seu automóvel cuidadosamente confia que os pedestres se manterão na calçada e somenteatravessarão a rua quando não houver movimento de veículos, motivo pelo qual não comete crime se atropela um transeunte que se precipita repentinamente para a via trafegável). Princípio do ne bis in idem: ninguém pode ser condenado pelo mesmo fato mais de uma vez; além disso, uma única e determinada circunstância fática não pode ser utilizada mais de uma vez, seja para agravar, seja para benefi ciar o agente. Princípio da anterioridade da lei penal: A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu (CF, art. 5º, XL, e CP, art. 2º). Princípio da Retroatividade da Lei mais Benéfica (mesmos nos casos transitados em julgados) Aula 3 Classificação das Normas Penais Quanto à classificação das normas penais, é possível classificá-las como incriminadora e não incriminadora. Normas Penais Incriminadoras: compreende todos os dispositivos penais que descrevem condutas e lhes cominam uma pena. Compõe-se do preceito ou preceito primário — descrição da conduta proibida — e da sanção ou preceito secundário — quantidade e qualidade da(s) pena(s) aplicável(eis). Preceito Primário + Preceito Secundário: Descreve Conduta + Sanção Abstrato Normas Penais não-Incriminadoras: subdivide-se em explicativa ou complementar, quando fornece parâmetros para a aplicação de outras normas (ex.: o conceito de funcionário público para fins penais do art. 327 do CP), e permissiva, quando aumenta o âmbito de licitude da conduta (e, a contrario sensu, restringe o direito de punir do Estado), ou seja: a. Explicativa = dar correta aplicação a norma b. Complementares = fornece princípio para a aplicação da lei penal Permissivas = torna licita determinada conduta i. Justificantes = afastar a ilicitude ii. Exculpantes = afastrar a culpabilidade Normas Penais em Branco: Trata-se da lei cujo preceito primário é incompleto, embora o preceito secundário seja determinado. Tal lei tem de ser completada por outra, já existente ou futura, da mesma hierarquia ou de hierarquia inferior. Neste sentido podemos classificar a Norma Penal em Branco como: 1. Homogêneas – em sentido lato: aquela cujo complemento se encontra descrito numa fonte formal da mesma hierarquia da norma incriminadora, ou seja, quando o complemento também está previsto numa lei ordinária (ou outra espécie normativa equivalente). a. Homovitelina = a complementação é do mesmo ramo, ou seja, uma lei penal complementada por outra lei penal. b. Heterovitelina = a complementação é de ramo diferente, ou seja, uma lei penal complementada por outra lei civil. Ex.: art. 237 do CP (―Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta‖), cujo complemento se encontra no Código Civil, o qual enumera as causas de nulidade do matrimônio nos arts. 1.521, 1.517, 1.523 e 1.550. 2. Heterogêneas – em sentido estrito: é aquela cujo complemento está descrito em fonte formal distinta daquela do tipo penal incriminador. Ex.: Lei n. 11.343/2006, art. 33 (tráfico ilícito de drogas), que não indica quais são as ―drogas ilícitas‖, delegando tal função a normas administrativas (portarias da ANVISA); com efeito, o art. 1º, parágrafo único, desta Lei dispõe que: ―... consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União‖. Normas Penais Incompletas ou Imperfeitas ou Norma Penal em Branco Inversa: para saber a sanção imposta (preceito secundário) o legislador remete a outro texto de lei. Ex.: art. 304 do CP ― Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302. Pena – a cominada à falsificação ou à alteração. Conflito Aparente das Normas (Cap. 3 do Livro Didático) Um mesmo fato concreto não pode ser enquadrado em vários tipos penais, sob pena de afronta ao princípio do ne bis in idem. Portanto, se aparentemente ocorrer a incidência de mais de um tipo penal a um mesmo fato, caberá ao intérprete, socorrendo-se dos princípios da especialidade, consunção, subsidiariedade ou alternatividade, resolver o conflito, apontando o correto enquadramento. Princípios Solucionadores de Conflitos de Normas A) Princípio da Especialidade: a lei especial prevalece sobre a lei geral, a qual deixa de incidir sobre a hipótese, ou seja, a norma especial afasta a norma geral. Dá-se quando existir, entre as duas normas aparentemente incidentes sobre o mesmo fato, uma relação de gênero e espécie. Será especial e, portanto, prevalecerá a norma que contiver todos os elementos de outra (a geral), além de mais alguns, de natureza subjetiva ou objetiva, considerados especializantes. Ex.: Contrabando x Tráfico internacional de drogas (Especial prevalece); Homicídio x Infanticídio (onde a vítima é o próprio filho) (Especial prevalece); B) Princípio da Subsidiariedade (soldado reserva): A relação de subsidiariedade pressupõe que haja entre as normas aparentemente aplicáveis uma relação de conteúdo a continente. Há uma norma mais ampla (norma primária), porque descreve um grau maior de violação ao bem jurídico, e uma norma menos ampla (norma subsidiária), pois descreve um grau inferior de violação a esse mesmo bem. A diferença que existe entre especialidade e subsidiariedade é que, nesta, ao contrário do que ocorre naquela, os fatos previstos em uma e outra norma não estão em relação de espécie e gênero, e se a pena do tipo principal (sempre mais grave que a do tipo subsidiário) é excluída por qualquer causa, a pena do tipo subsidiário pode apresentar-se como ‗soldado de reserva‘ e aplicar-se pelo residuum. A norma aplicável será sempre a que previr o maior grau de violação (lei primária). Assim, por exemplo, o crime de estupro (art. 213 do CP) contém o de constrangimento ilegal (art. 146 do CP). Se alguém constrange mulher à conjunção carnal, haverá estupro. Há duas espécies de subsidiariedade: 1ª) expressa: se a norma expressamente declarar que só terá aplicação ―se o fato não constituir crime mais grave‖ (a norma se autoproclama ―soldado de reserva‖) — Ex.: art. 132 do CP; 2ª) tácita: verifica-se quando o crime definido por uma norma é elemento ou circunstância legal de outro crime — ex.: art. 304 do CTB (omissão de socorro em acidente de trânsito) em relação ao homicídio culposo na direção de veículo automotor, qualificado pela omissão de socorro (art. 302 c/c o art. 303, parágrafo único, do CTB). Ex.: Art. 146 CP Resumindo: A norma principal mais forte afasta a norma subsdiária mais fraca. C) Princípio da Consunção (peixão engole o peixinho): o fato maior (salvo raras exeções) absorve, consome o fato menor, de modo que sobra a norma que o regula. Imprescindível que tudo esteja dentro do mesmo contexto, ou seja, o crime fim absorve o crime meio. Ex.: O homicídio absorve as lesões leves, que absorvem as vias de fato. No final só resta o maior, o homicídio; Ex.: Porte ilegal, disparo de arma de fogo e homicídio doloso. Se tudo aconteceu no mesmo contexto, o homicídio absorve tudo. D) Princípio da alternatividade: este princípio tem lugar nas infrações penais de ação múltipla ou conteúdo variado, que são aqueles tipos penais que possuem diversos núcleos (verbos), separados pela conjunção alternativa ―ou‖. Quando alguém pratica mais de um verbo do mesmo tipo penal, num mesmo contexto fático, só responde por um crime (e não pelo mesmo crime mais de uma vez). Ex.: a) aquele que expõe à venda e, emseguida, vende substância entorpecente pratica um só crime de tráfi co ilícito de entorpecentes (Lei n. 11.343/2006, art. 33); b) quem induz e instiga outrem a se suicidar, vindo a vítima a falecer, incorre uma só vez no delito de auxílio ao suicídio (art. 122 do CP). Anote-se, entretanto, que em tais casos o juiz deve considerar a incursão em mais de uma ação nuclear na dosagem da pena, de modo a exacerbar a sanção imposta ao agente. Resumindo: A prática de mais de uma conduta em um só contexto, configura um só crime. Aula 4 Validade e Eficácia da Lei Penal no Tempo e no Espaço (Cap. 4 do Livro Didático) Conflito de Leis Penais no Tempo Quando várias leis penais que tratam do mesmo assunto de modo distinto se sucedem no tempo, deve o intérprete definir qual delas será aplicada ao fato. A regra é que a lei que deve ser aplicada é a vigente ao tempo da prática do fato criminoso, de acordo com o princípio do tempus regit actum. Contudo, existem exceções e elas se dividem em retroatividade (aplicação da lei a fatos cometidos antes da sua vigência quando for mais benéfica) e ultra-atividade (a lei penal revogada pode ser aplicada após sua revogação, quando o ilícito praticado durante a sua vigência for sucedido por lei mais severa). Hipotese Prática Significado Solução Novatio Legis Incriminadora Lei posterior incrimina conduta que era lícita (cria um novo crime) Irretroatividade Abolitio Criminis Lei posterior discriminaliza condutas, tornando-as atípicas Retroatividade Novatio Legis in pejus Lei posterior, mantendo a incriminação do fato, torna mais grave a situação do réu (ex.: aumenta a pena cominada ao crime) Irretroatividade Novatio Legis in mellius Lei posterior, sem suprimir a incriminação do fato, beneficia de algum modo a situação do agente (ex.: diminui a pena cominada ao crime) Retroatividade Em suma, a lei penal mais benéfica retroage para atingir os fatos passados (retroatividade) e a lei revogada será aplicada aos fatos cometidos durante a sua vigência mesmo quando não estiver mais em vigor e a conduta for regulamentada por lei mais severa (ultra-atividade). Leis Excepcionais ou Temporárias: De acordo com o art. 3º do CP, ―A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência‖. É considerada excepcional a lei elaborada para incidir sobre fatos havidos somente durante determinadas circunstâncias excepcionais, como situações de crise social, econômica, guerra, calamidades etc. E temporária aquela elaborada com o escopo de incidir sobre fatos ocorridos apenas durante certo período de tempo. Tempo do Crime: O Código Penal adotou a Teoria da Atividade (o momento da ação ou omissão) como descrito no seu art. 4º.CP. “Art. 4º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado” Em relação ao tempo do crime podemos classificá-los quanto a sua duração do momento consumativo em: 1. Instantâneo: a consumação ocorre em um só instante. Ex.: Estupro; furto; roubo. 2. Permanente: o momento consumativo se prolonga no tempo por vontade do agente. Ex.: Crime de seqüestro; extorsão mediante seqüestro; associação criminosa 3. Instantâneos de efeitos permanentes: a consumação se dá em determinado tempo, porém seus efeitos são permanentes. Ex.: Homicídio. Princípio da Territorialidade da lei penal (CP, art. 5º): Dá-se o fenômeno da territorialidade quando a lei penal se aplica ao fato cometido dentro do território nacional. Conforme dispõe o art. 5º do CP, a lei penal brasileira aplica-se em todo o território nacional, ressalvado o disposto em tratados, convenções ou regras de direito internacional. Trata-se do princípio da territorialidade temperada ou mitigada. Por território, no sentido jurídico, deve-se compreender todo o espaço em que o Brasil exerce sua soberania, que abrange: a) os limites compreendidos pelas fronteiras nacionais; b) o mar territorial brasileiro (faixa que compreende o espaço de 12 milhas contadas da faixa litorânea média — art. 1º da Lei n. 8.617/93); c) todo o espaço aéreo subjacente ao nosso território físico e ao mar territorial nacional (princípio da absoluta soberania do país subjacente — Código Brasileiro de Aeronáutica, art. 11, e Lei n. 8.617/93, art. 2º); d) as aeronaves e embarcações: — brasileiras privadas, em qualquer lugar que se encontrem, salvo em mar territorial estrangeiro ou sobrevoando território estrangeiro; — brasileiras públicas, onde quer que se encontrem; — estrangeiras privadas, no mar territorial brasileiro. Como se viu inicialmente há crimes que, embora praticados dentro do território nacional, não se sujeitam à lei brasileira (em função de ressalvas previstas em tratados ou convenções internacionais): isso se dá nos casos de imunidade diplomática. Note-se que a embaixada de um país no Brasil não é considerada território estrangeiro, de modo que, se um crime ali for praticado, a ele será aplicável a nossa lei, a não ser que ocorra um caso de imunidade diplomática. Resumindo EXTENSÃO DO CONCEITO DE TERRITÓRIO: Embarcação ou aeronave pública: aplica a lei brasileira onde quer que se encontre Embarcação ou aeronave particular: aplica a lei brasileira apenas em águas internacionais A Lei Penal no Espaço (Lugar do Crime): O CP definiu no art. 6º - Considera- se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir se o resultado, adotando a Teoria da Ubiquidade (ou mista), segundo a qual o crime se considera praticado tanto no lugar da conduta, quanto naquele em que se produziu ou deveria produzir-se o resultado. A preocupação do legislador foi estabelecer quais crimes podem ser considerados como ocorridos no Brasil e, por via de consequência, as quais delitos se aplicam a lei penal brasileira. A regra em estudo só terá relevância nos chamados crimes a distância ou de espaço, que são aqueles cuja execução se inicia no território de um país e a consumação se dá ou deveria dar-se em outro. Imagine a hipótese de um agente iniciar a execução de um crime na Argentina, visando produzir o resultado no Brasil, ou o inverso. Em ambos os casos, os delitos serão considerados como ocorridos em território nacional, de modo que a lei penal brasileira a eles se aplicaria. Como dizia Hungria, basta que o crime tenha ―tocado‖ o território nacional para que nossa lei seja aplicável. Aula 6 Classificação de Crime Quanto à Conduta 1) Crimes Comissivos (Ação) – No tipo comissivo o tipo penal traz em seu núcleo (verbo) uma ação, um fazer e o agente é punido justamente porque praticou uma conduta ativa (uma ação) quando o Estado queria que ele não praticasse 2)Crimes Omissivos: a)Crime Omissivo Próprio: o tipo penal traz em seu núcleo uma inatividade e uma omissão, e o agente é punido porque ele deixou de fazer o que o Estado esperava que ele fizesse. Ex.: Art. 135 CP – deixar de prestar assistência ou socorro; Art. 269 CP – deixar o médico de denunciar doença b)Crime Omissivo Impróprio ou COMISSIVO POR OMISSÃO: o tipo penal é comissivo e o agente não pratica a ação, mas é punido por sua omissão como se tivesse praticado a ação, ou seja, responde pelo resultado que não impediu, desde que esteja na posição de agente garantidor (possa e deva agir) nos termos do Art. 13, §2º, CP. Nos crimes omissivos impróprios o dolo estará presente desdeque o Agente Garantidor tenha consciência de que devia e podia agir, querendo se omitir, restando culpa para as hipóteses de erro onde se manifesta a falta de dever de cuidado. Ex.: Dolo – Salva Vidas que deixa afogando morrer. Independente que querer ou não a morte do afogando, será doloso. Culpa – Erro na apreciação da situação fática que deixa o filho na piscina se afogando, achando que este está apenas brincando. Aula 7 A responsabilidade penal exige a subjetividade da conduta. Dolo e Culpa são elementos subjetivos da conduta. Sem Dolo ou Culpa não há crime. Dolo – É a consciência e a vontade de realizar um fato que, por acaso, se encontra descrito em um tipo penal. É Natural (sem valoração = não se julga o querer, mas sim o porque se quis) = vontade + consciência Espécies de Dolo: Direto – Art. 18, I, 1ª parte – Teoria da Vontade: i) 1º grau – fim proposto e meios escolhidos ii) 2º grau – efeitos colaterais, das conseqüências necessárias Ex.: Quero matar o passageiro A que está em um vôo, então, coloco uma bomba no avião. Em relação ao passageiro A, teremos dolo de 1º grau, e em relação aos demais passageiros dolo de 2º grau. Indireto: Eventual (tô nem ai) e Alternativo (tanto faz) Dolo Indireto Alternativo = É o “tanto faz”. É muito difícil de acontecer. Ex.: Ao atirar em uma pessoa, a pessoa não se importa com o resultado que irá causar, se irá matar ou apenas causar uma lesão. Na letra da lei não há distinção de Dolo Direto ou Indireto. Influencia na dosimetria da pena Dolo Eventual – Art. 18, I, 2ª Parte – Teoria do Assentimento ou Consentimento. É o “tô nem ai” = Previsão (tem contornos definidos) + Assumiu o risco (tô nem ai) – É um ―Excesso Excessivo‖, pois não é qualquer excesso que vai levar ao dolo eventual. “Querer eu não quero, mas se acontecer, dane-se” Ex.: Roleta Russa; Racha. Não se importar com o resultado = Assumir o risco Dolo Eventual x Culpa Consciente - Na culpa consciente, em que pese haja também, a previsão, o agente acredita que as suas habilidades irão impedir o resultado, não aceitando o resultado. Ex.: de Culpa Consciente = Piloto do avião que transportou o time da Chapecoense. Diante da previsão do resultado, o piloto acreditava que suas habilidades iriam impedir o resultado. Ex.: Atirador de Facas. Dolo Geral – dolo da primeira conduta abraça o dolo da segunda. É o que ocorre na aberratio causae / erro que recai sobre o nexo causal. CULPA - É a inobservância de um dever de cuidado manifestada na produção de um resultado não querido, porém, objetivamente previsível. Todavia, só há crime culposo quando expressamente previsto em lei! É o tipo aberto. Não teria como o legislador descrever todas as formas culposas de crime. É preciso a comparação para verificar se ocorreu ou não a culpa, logo: A CULPA é normativa. Precisa ser valorada (comparada com o “homem médio”). Elementos do Crime Culposo: Conduta Falta do dever de cuidado objetivo, manifestado pela espécie de culpa (Negligência / Imprudência / Imperícia) Previsibilidade (objetiva e/ou subjetiva – divergência doutrinária) Resultado não adquirido nem assumido pelo agente Nexo de causalidade Tipicidade, pois conforme § U do art. 18 – o crime culposo é exceção Espécies de Culpa: Culpa inconsciente (apenas previsibilidade) e consciente (previsão) Culpa Imprópria ou por equiparação – ocorre nas descriminantes putativas (art. 20, § 1º do CP), onde o agente, por erro evitável pelas circunstâncias dá causa ao resultado por dolo, mas responde por culpa, se o crime admitir a forma culposa, ou seja, o agente age com dolo, mas é punido por culpa. Ex.: Pai que atira no filho, pensando que atira em legitima defesa. Ao atirar, temdolo, mas vai ser punido por homicídio culposo. A impropriedade é agir com dolo e ser punido por culpa. Exclui a Culpabilidade dolosa. Culpa Imediata ou Direta – A conduta gera diretamente o resultado. Culpa mediata ou Culpa Indireta (Não é admitida no direito brasileiro) – Desdobramento de um fato culposo, mão impões pena ao agente. Ex.: A atropela B. C sai em socorro de B e é atropelado por D. A apenas responderá pelo atropelamento de B e não pelo de C. CRIME PRETERDOLOSO Espécie de crime qualificado pelo resultado, sendo um único crime. O agente quer praticar um crime, mas acaba excedendo-se e produzindo culposamente um resultado mais grave do que o desejado. DOLO (Antecedente) + CULPA (Consequente – resultado mais grave / não planejado) Ex.: Lesão – Aborto (Art. 129 § 2º Inciso V) Lesão – Morte (Art. 129, § 3º) Tortura – Morte (Lei 9.455/97)
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