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MADAME BOVARY

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A obra se inicia com a entrada de Charles Bovary no colégio de Rouen. Ele tem, na época, 15 anos. Nos três capítulos seguintes temos a narração a respeito dos estudos “medíocres” de Charles, segundo o narrador, seu primeiro casamento e sua ida a Tostes, para se tornar o médico da cidade. Ali, ele encontra Emma e se casa com ela, logo depois que sua primeira esposa morre. Emma surge, a partir de então, como personagem principal da obra. Nos capítulos seguintes, temos o relato das desilusões conjugais de Emma. 
Charles é novato na escola e foi encaminhado a uma classe de meninos mais novos do que ele. Podemos perceber, pela descrição feita, de um “rapaz do campo”, humilde, sem renda suficiente para comprar roupas e sapatos que lhe servissem. Sua roupa é apertada e seus sapatos são mal cuidados. A partir dessa construção feita pelo narrador, o leitor já começa a adquirir mais elementos para criar uma imagem de quem é Charles Bovary.
Ainda no primeiro capítulo, no qual se narra o primeiro dia de Charles na escola, se mostra um aluno aplicado, muito atento às aulas, diferentemente dos outros alunos, que preferiam brincar. Percebemos, ainda nessa parte do romance, que Charles, ao ficar mais velho, não mudou muito seu comportamento. Continuou estudioso e aplicado, obedecendo às regras sem questioná-las, ou seja, um homem cordato, disciplinado e sem grandes ambições. A imagem prévia construída de Charles é resumidamente, a de um rapaz inteligente, estudioso, tímido e “meio roceiro”.
O Romance "Madame Bovary" retrata a história de Emma Bovary que mora no interior da França e sonha com uma vida na cidade grande, apresentando o seu processo de formação como ponto principal da obra, através de uma narração feita em terceira pessoa. No decorrer do romance, a personagem sofre sérias degradações, vai perdendo sua inocência e acaba culminando com a sua morte provocada pela própria consciência.
O livro de Gustave Flaubert é dividido em três partes, cada uma delas trata de fases distintas da vida da personagem, porém, na primeira parte, Emma Bovary sequer é citada, mas em passagens narradas sobre Carlos Bovary, sua infância e juventude, sua família e seu casamento, existe uma idealização por parte de Carlos de se ter alguém que só tivesse qualidades.
A partir desse momento começa a ser formada a imagem de Emma, que representaria a pessoa ideal. Nesse ponto tem início o desenvolvimento da trama e para tanto, a personagem da futura senhora Bovary está em um nível superior, e o seu processo de formação e de degradação, como dito anteriormente, começa a sofrer um choque entre a essência e a aparência. A inocência apresentada pela personagem através da doçura e dos sonhos se quebra, e os verdadeiros sentimentos aparecem, formando um ser insaciável e que sempre deseja ter mais, não importando que seja algo proibido. Ao assumir uma condição boa de vida, Emma não pensa nas consequências quando é seduzida por bens materiais e paixões ardentes, mas a realidade sempre cruza seu caminho e a felicidade momentânea é substituída por novos desejos, e pior, acaba revelando a sua falta de princípios e limites. Essa ânsia de querer realizar seus desejos, acaba tornando-a "cega", após ser chantageada por L'Heureux e ter consciência de tudo que fez, seu final acaba sendo trágico, culminando com a sua morte.
O capítulo VIII da terceira parte, é completamente o oposto daquele visto anteriormente, pois entre um e outro ocorre todo o processo de degradação da personagem, conforme já observado. A idealização de Emma é substituída pela conclusão de sua formação, quando sem sonhos e esperanças, seus olhos se abrem.
Neste ponto, Emma está totalmente desprotegida e não há mais nada que esconda seus erros, a consciência de seus pecados levam-na a concluir o seu processo de perda de inocência, atingindo assim o ápice do enredo e que só ocorre com a sua morte.
O processo de formação de Emma Bovary está centrado na tensão existente entre a ilusão e a realidade, pois Emma cria seu próprio mundo para viver, sendo esse um mundo de aparências. Isso acaba se tornando claro em determinados momentos da história, quando, por exemplo, ela se desilude com seu casamento com Carlos e passa a ter desejos em novos relacionamentos ou então quando fica indignada com sua vida social, já que gostaria de participar das grandes festas da sociedade, ou até mesmo quando se irrita com a falta de ambição de seu marido, pois queria o sucesso, tudo confrontando com a sua vida na essência. A partir daí, Observa-se que Emma não aceita a vida que tem , vivendo de sonhos e ilusões e novamente se vê "cega" num verdadeiro encantamento frente ao mundo romântico. Esse distanciamento da realidade é o grande responsável pela perda de sua inocência e sua consequente degradação, pois a personagem não possui mais noção do que é certo ou errado, quer apenas a realização de seus sonhos.
Dentro da obra de "Madame Bovary", nenhum outro personagem além de Emma Bovary sofre tamanha degradação, pois todas as tensões giram ao seu redor e os outros personagens, mesmo os outros protagonistas, ajudam a compor essas situações. Observa-se, por exemplo, em Carlos uma vida sem essência, sem os conflitos vividos por Emma, que por sua vez tem uma vida de “aparência” e totalmente contrária a anterior. Outros personagens como León e Rodolfo que participam dessa vida de ilusões de Emma, o fazem de maneira consciente, muito diferente da "cegueira" que toma conta da personagem.
No fim do romance, quando Emma morre, Charles se torna uma pessoa inconsolável. Essa tristeza também o leva à morte. Ele não culpa Emma de nada, ele não a vê como uma pessoa má, que o traiu, que lhe mentiu. A partir desse momento, nós leitores compartilhamos das dores de Charles. Ele sofreu muito, foi enganado por Emma. A construção do personagem Charles, aqui, se cruza, onde vários sentimentos estão presentes, se mesclam. Em um momento catártico, ficamos com pena de Charles por causa de suas dores e construímos, ainda que temporariamente, a imagem de um homem bom, de uma pessoa calma e honesta que foi ludibriado pela esposa.
É possível, e parece ser um desejo de Flaubert, que os leitores, nesse momento, deixem de compartilhar com Emma a imagem construída do marido e passem, ainda que por alguns instantes, a construir uma outra: a imagem de incompetente e medíocre é substituída pela imagem de uma pessoa humanizada, dócil, sensível e fragilizada.

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