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Cap. 13 Vida afetiva

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CAPÍTULO 13 
 
Vida afetiva 
 
 
 
A IMPORTÂNCIA DA VIDA AFETIVA 
“O coração tem razões que a própria razão desconhece.” 
Quais são essas razões? 
São nossos afetos que dão o 
colorido especial à conduta de cada 
um e às nossas vidas. Eles se 
expressam nos desejos, sonhos, 
fantasias, expectativas, nas palavras, 
nos gestos, no que fazemos e 
pensamos. É o que nos faz viver. 
Para falarmos de afetos, seria 
preferível dar a palavra aos poetas. 
Estes sim, expressam-nos de uma 
maneira tão clara, tão precisa, que 
traduzem com perfeição estados 
internos que não cabem na 
racionalidade científica: 
Quanto mais desejo 
Um beijo seu 
Os afetos podem ser duradouros ou 
passageiros. 
Muito mais eu vejo 
Gosto em viver.1 [pg. 189] 
Por que os psicólogos precisam falar da vida afetiva? 
Porque ela é parte integrante de nossa subjetividade. Nossas 
expressões não podem ser compreendidas, se não considerarmos os 
afetos que as acompanham. E, mesmo os pensamentos, as fantasias — 
aquilo que fica contido em nós — só têm sentido se sabemos o afeto que 
os acompanham. Por exemplo, aquela idéia de que o melhor amigo irá 
se sair mal em uma competição, só adquire sentido quando descobrimos 
que sua origem está na inveja que se tem dele. O Psicólogo, em seu 
trabalho, não pode deixar de lado esse aspecto constitutivo da 
subjetividade — a vida afetiva — e estudar apenas a vida cognitiva e 
racional dos indivíduos. Agindo assim, certamente não irá compreendê-
los em sua totalidade. 
Por tanto amor 
Por tanta emoção 
A vida me fez assim 
Doce ou atroz 
Manso ou feroz 
Eu, caçador de mim.2 
Pense em quantas vezes você já programou uma forma de agir e, 
na hora “H”, comportou-se completamente diferente. Por exemplo, uma 
jovem soube algo de seu namorado que a aborreceu, mas ela 
racionalmente resolveu não criar caso e pensou: “Quando ele chegar, 
vou ser carinhosa e não vou deixar transparecer que me aborreci” e, de 
repente, quando o tem à sua frente, ela se vê esbravejando, agredindo, 
enciumada. Seus afetos a traíram. Foi difícil ou, no caso, impossível 
contê-los. Tanto nesse exemplo, como em muitas situações de vida, não 
 
1 Djavan. Pétala. In: Luz. LR Rio de Janeiro, CBS, 138251, 1982. L. A. F. 1. 
2 Sérgio Magrão e Luís Carlos Sá. Caçador de mim. In: Caçador de mim. Milton Nascimento. LP. 
Diadema, Ariola, 201632, 1981. Outro lado. F. 1. 
há a mediação do pensamento — são os afetos que determinam nosso 
comportamento. É nesta circunstância que se ouve aquela frase tão 
corriqueira: “Como ele é impulsivo!”. 
Por isso, os afetos são importantes para os psicólogos. 
Marx afirmou “que o homem se define no mundo objetivo não 
somente em pensamento, senão com todos os sentidos (...). Sentidos 
que se afirmam, como forças essenciais humanas (...). Não só os cinco 
sentidos, mas os sentidos espirituais (amor, vontade...)”3. [pg. 190] 
 
O ESTUDO DA VIDA AFETIVA 
O estudo da razão tem sido privilegiado no interesse dos homens, 
principalmente na ciência, pois os afetos têm sido vistos como 
deformadores do conhecimento objetivo. Mesmo na Psicologia, não são 
todas as teorias que consideram a importância da vida afetiva, tendo, 
muitas delas, priorizado apenas o estudo da cognição, das funções 
intelectivas. 
Consideramos que estudar apenas alguns aspectos do homem é 
considerá-lo como um ser fragmentado, correndo-se o risco de deixar de 
analisar aspectos importantes. 
Como diz Bader Sawaya: 
“O homem se afirma no mundo objetivo, não só no ato do pensar, 
mas com todos os sentidos, até com os sentidos mentais (vontade, 
amor e emoção)”4. 
Minha mãe achava estudo 
A coisa mais fina do mundo, 
Não é. 
A coisa mais fina do mundo é o sentimento. 
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, 
 
3 K. Marx. Manuscritos econômicos e filosóficos, p. 149-50. 
4 B. Sawaya. A consciência em construção no trabalho de construção da existência. São Paulo, PUC, 
1987, tese de doutoramento (mimeo.). 
Ela falou comigo: 
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”. 
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com 
Água quente. 
Não me falou em amor, 
Essa palavra de luxo.5 
A vida afetiva, ou os afetos, abarca muitos estados pertencentes à 
gama prazer-desprazer, como, por exemplo, a angústia em seus 
diferentes aspectos — a dor, o luto, a gratidão, a despersonalização — 
os afetos que sustentam o temor do aniquilamento e a afânise, isto é, o 
desaparecimento do desejo sexual. 
Ao procurarmos compreender a vida afetiva, é importante 
adotarmos a terminologia adequada por tratar-se de uma área de estudo 
repleta de nuances. Portanto, se até o século 19 usavam-se, 
indiscriminadamente, termos como emoção e sentimento, hoje, no 
estudo da vida afetiva, já fazemos uma distinção mais precisa entre 
esses termos: 
• a emoção: estado agudo e transitório. Exemplo: a ira. 
• o sentimento: estado mais atenuado e durável. Exemplo: a 
gratidão, a lealdade. [pg. 191] 
 
OS AFETOS 
Os afetos podem ser produzidos fora do indivíduo, isto é, a partir 
de um estímulo externo — do meio físico ou social — ao qual se atribui 
um significado com tonalidade afetiva: agradável ou desagradável, por 
exemplo. A origem dos afetos pode também nascer, surgir do interior do 
indivíduo. 
O universo dos afetos é comunicável na medida que as 
representações de coisa e palavra formam, com os afetos, um complexo 
 
5 Adélia Prado. Ensinamento. In: Bagagem. 2. ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1979. p. 124 (Coleção 
Poiesis). 
psíquico inteligível. É importante lembrar aqui que, para a Psicanálise, 
não há afeto sem representação, isto é, sem idéia. Se assim fosse, 
poderíamos ter a impressão que existe afeto solto dentro de nós — uma 
sensação de mal-estar, por exemplo —, isso porque a idéia à qual o 
afeto se refere pode estar inconsciente. 
O prazer e a dor são as matrizes psíquicas dos afetos, ou se 
constituem em afetos originários. Entre estes dois extremos encontram-
se inúmeras tonalidades, intensidades de afetos, que podem ser vagos, 
difíceis de nomear ou discriminados. 
Com açúcar, com afeto 
Fiz seu doce predileto 
Pra você parar em casa.6 
Existem dois afetos que 
constituem a vida afetiva: o amor e o 
ódio. Estão sempre presentes na vida 
psíquica — de modo mais ou menos 
integrado —, associados aos 
pensamentos, às fantasias, aos sonhos 
e se expressam de diferentes modos na 
conduta de cada um. 
Freud, quando postulou a teoria do 
Complexo de Édipo, concebeu-o como 
conflito desses afetos básicos 
(ambivalência de sentimentos), pois uma 
das suas principais dimensões é a 
oposição entre “um amor fundamentado e um ódio não menos justificado, 
ambos dirigidos à mesma pessoa”7. 
As aparências enganam 
 
6 Chico Buarque de Hollanda. Com açúcar, com afeto. In: Chico Buarque de Hollanda. LP. São Paulo, 
RCA-Abril Cultural, 1970 (MPB, 4). L.1. F. 2. 
7 Freud. Apud J. Laplanche e J.-B. Pontalis. Vocabulário da Psicanálise, p. 51. 
Entre o prazer e a dor há inúmeros 
matizes de afeto. 
 
Aos que odeiam e aos que amam 
Porque o amor e o ódio 
Se irmanam na fogueira das paixões8. [pg. 192] 
Os afetos ajudam-nos a avaliar 
as situações, servem de critério de 
valoração positiva ou negativa para as 
situações de nossa vida; eles 
preparam nossas ações, ou seja, 
participam ativamente da percepção 
que temos das situações vividas e do 
planejamento de nossas reações ao 
meio. Essa função é caracterizada 
como função adaptativa. 
Quando olhaste bem 
Nos olhos meus 
E o teu olhar era de adeus 
Juro que não acreditei 
Eu te estranhei 
Me debrucei sobre oteu corpo 
E duvidei 
E me arrastei.9 
Os afetos também têm uma outra característica — eles estão 
ligados à consciência, o que nos permite dizer ao outro o que sentimos, 
expressando, através da linguagem, nossas emoções. E é isso o que 
fazem, incessantemente, os poetas, até mesmo quando não querem 
falar: 
 
8 Tunai e Sérgio Natureza. As aparências enganam. In: Saudade do Brasil. Elis Regina. LP. Rio de 
Janeiro, Elektra, 32054, 1980. v. 1. L. B. F. 2. 
9 Chico Buarque de Hollanda e Francis Hime. Atrás da porta. In: O melhor de Elis. LP. Rio de Janeiro, 
Polygram, 6470625, 1979. L. 2. F. 3. 
Qual o afeto oculto por esta expressão? 
 
Não quero falar, 
Pois sinto. 
Não tenho de amar, 
Pois amo.10 
Contudo, muitas vezes os afetos são enigmáticos para quem os 
sente. Exemplos: quando temos muitos motivos para não gostar de 
alguém de quem gostamos; ou quando deveríamos ser gratos a alguém 
de quem temos raiva. Há motivos dos afetos que estão fora do campo da 
consciência; nem mesmo quem os vivência consegue explicar — só 
sente a estranheza daquele sentimento que parece “fora do lugar”. 
Eu queria ficar triste 
Mas não consigo parar de rir...11 [pg. 193] 
Os afetos também podem ser enigmáticos para aqueles que os 
supõem em nós a partir de alguma expressão, isso porque, muitas 
vezes, nossa reação não condiz com o que sentimos (com que o outro 
esperava), ou seja, nem sempre o comportamento está em conformidade 
com os nossos afetos, os quais não queremos (ou não podemos) 
demonstrar. 
Nada ficou no lugar 
Eu quero quebrar essas xícaras 
Eu vou enganar o diabo 
Eu quero acordar sua família 
Eu vou escrever no seu muro 
E violentar o seu gosto 
Eu quero roubar no seu jogo 
Eu já arranhei os seus discos. 
 
10 Paulo Benedito Pinheiro (Lentomar de Cascais). Eternidade. In: Marvento. São Paulo, Taba, 1981. 
11 Alvin L. e Vinícius Massena. Casa e Jardim. Cantada por Marina Lima. 
Que é pra ver se você volta 
Que é para ver se você vem 
Que é pra ver se você olha pra mim12. 
 
AS EMOÇÕES 
As emoções são expressões afetivas acompanhadas de reações 
intensas e breves do organismo, em resposta a um acontecimento 
inesperado ou, às vezes, a um acontecimento muito aguardado 
(fantasiado) e que, quando acontece... 
Nas emoções é possível observar uma relação entre os afetos e a 
organização corporal, ou seja, as reações orgânicas, as modificações 
que ocorrem no organismo, como distúrbios gastrointestinais, 
cardiorrespiratórios, sudorese, tremor. Um exemplo comum é a alteração 
do batimento cardíaco. 
Meu coração 
Não sei por quê 
Bate feliz 
Quando te vê.13 [pg. 194] 
Durante muito tempo, acreditou-se no coração como o lugar da 
emoção, talvez pelo fato de, ao manifestar-se, vir freqüentemente 
acompanhada de fortes batimentos cardíacos. Por isso, até hoje 
desenhamos corações para dizer que estamos apaixonados. 
Amigo é coisa pra se guardar 
Debaixo de sete chaves 
Dentro do coração.14 
Outras reações orgânicas acompanham as emoções e revelam 
 
12 Adriana Calcanhoto. Mentiras. 
13 Pixinguinha. Carinhoso. In: Pixinguinha. LR São Paulo, RCA-Abril Cultural, 1970 (MPB, 2). L. 1. F. 
2. 
14 Milton Nascimento e Fernando Brant. Canção da América. In: Saudade do Brasil. Elis Regina. LP Rio 
de Janeiro, Elektra, 32054, 1980. v. 2. L. A. F. 4. 
vivências ou estados emocionais do indivíduo: tremor, riso, choro, 
lágrimas, expressões faciais etc. As reações orgânicas fogem ao nosso 
controle. Podemos “segurar o choro”, mas não conseguimos deixar de 
“chorar por dentro”, sentindo aquele nó na garganta e, às vezes, 
tentamos, mas não conseguimos segurar duas ou três lágrimas que 
escorrem, traindo-nos, demonstrando nossa emoção. 
Assim como o riso e a 
aceleração dos batimentos 
cardíacos, o choro — 
cantado e recantado pelos 
poetas como expressão de 
amor, saudade e desejo — 
é uma das reações mais 
freqüentes e comuns em 
nossa cultura. 
Você partiu 
Saudades me deixou 
Eu chorei15. 
Quem parte leva saudades 
De alguém que fica16. 
Todas essas reações de que vimos falando são importantes 
descargas de tensão do organismo emocionado, pois as emoções [pg. 
195] são momentos de tensão em um organismo, e as reações orgânicas 
são descargas emocionais. 
Se eu chorasse 
Talvez desabafasse 
O que sinto no peito 
E não posso dizer 
 
15 Alcebíades Barcellos e Armando V. Marçal. Agora é cinza. In: Carnaval, confete e serpentina. Rio de 
Janeiro, Coopim, 1985. 
16 Henricão e Rubens Campos. Está chegando a hora. In: Carnaval, confete e serpentina. Rio de Janeiro, 
Coopim, 1985. 
É possível dissimular as emoções. 
Só porque não sei chorar 
Eu vivo triste a sofrer17. 
Infelizmente, nossa cultura estimula algumas reações emocionais e 
reprime outras. Os homens sabem bem disso. “Homem não chora” é 
uma das frases mais comuns na educação de nossos jovens. 
Infelizmente, o senso comum não foi sensível para aprender com os 
poetas que se chora, sim, e que choro é expressão de vida afetiva, de 
amor e de ódio; de força de um organismo que se adapta a uma situação 
de tensão — nunca sinal de fraqueza! 
Por outro lado, as reações emocionais orgânicas são, até certo 
ponto, aprendidas, ou seja, nosso organismo pode responder de diversas 
maneiras a uma situação, mas a cultura “escolhe” algumas formas como 
sendo mais adequadas a determinadas situações ou tipo de pessoas 
(por exemplo, de acordo com a idade, o sexo ou a posição social). 
Durante nossa socialização, aprendemos essas formas de expressão 
das emoções aceitas pelo grupo a que pertencemos. 
Assim, passamos a associar reações do organismo às emoções, 
as quais podemos distinguir. Por exemplo, distinguimos o choro de 
tristeza do choro de alegria; o riso de alegria do riso de nervoso. 
As emoções são muitas: surpresa, raiva, nojo, medo, vergonha, 
tristeza, desprezo, alegria, paixão, atração física — ora são mais difusas, 
ora mais conscientes; às vezes encobertas, às vezes não. 
As emoções, por estarem ligadas diretamente à vida afetiva — aos 
afetos básicos de amor e ódio — estão ligadas também à sexualidade 
(amor). [pg. 196] 
Quando transmites o calor 
De tua mão para o meu corpo 
Que te espera 
Me deixas louca 
 
17 Max Bulhões e Milton de Oliveira. Não tenho lágrimas. In: Carnaval, confete e serpentina. Rio de 
Janeiro, Coopim, 1985. 
E quando sinto que teus braços 
Se cruzaram em minhas costas 
Desaparecem as palavras 
Outros sons enchem o espaço 
Você me abraça 
A noite passa 
Me deixas louca.18 
Não temos por que esconder nossas emoções. Elas são nossa 
própria vida, uma espécie de linguagem na qual expressamos 
percepções internas; são sensações que ocorrem em resposta a fatores 
geralmente externos. São fortes, passageiras; intensas, mas não 
imutáveis. Isto quer dizer que o que hoje nos emociona, poderá amanhã 
não nos emocionar mais. 
Essa força e mutabilidade foi expressa neste poema de Vinícius de 
Moraes: 
De tudo, ao meu amor serei atento 
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto 
Que mesmo em face do maior encanto 
Dele se encante mais meu pensamento 
Quero vivê-lo em cada vão momento 
E em seu louvor hei de espalhar meu canto 
E rir meu riso e derramar meu pranto 
Ao seu pesar ou seu contentamento 
E assim, quando mais tarde me procure 
Quem sabe a morte, angústia de quem vive 
Quem sabe a solidão, fim de quem ama 
 
18 A. Manzanero. Me deixas louca. Ver. Paulo Coelho. In: Trem azul. LR Rio de Janeiro, Som Livre, 
4116006, 1982.Disco 1. L. B. F. 5. 
Eu possa me dizer do amor (que tive): 
Que não seja imortal, posto que é chama 
Mas que seja infinito enquanto dure.19 [pg. 197] 
 
OS SENTIMENTOS 
Os afetos básicos (amor e ódio), além de manifestarem-se como 
emoções, podem expressar-se como sentimentos. 
Os sentimentos diferem das emoções por serem mais duradouros, 
menos “explosivos” e por não virem acompanhados de reações 
orgânicas intensas. 
Assim, consideramos a paixão uma emoção, e o enamoramento, a 
ternura, a amizade, consideramos sentimentos, isto é, manifestações do 
mesmo afeto básico — o amor. 96467785 
O importante é compreender que a vida afetiva — emoções e 
sentimentos — compõe o homem e constitui um aspecto de fundamental 
importância na vida psíquica. As emoções e os sentimentos são como 
alimentos de nosso psiquismo e estão presentes em todas as 
manifestações de nossa vida. Necessitamos deles porque dão cor e 
sabor à nossa vida, orientam-nos e nos ajudam nas decisões. Enfim, são 
elementos importantes para nós, que não podemos nos compreender 
sem os sentimentos e as emoções. 
Socorro, não estou sentindo nada. 
Nem medo, nem calor, nem fogo. 
Não vai dar mais pra chorar. 
Nem pra rir. 
Socorro, alguma alma, mesmo que penada, 
me empreste suas penas. 
Já não sinto amor nem dor, 
 
19 Vinícius de Moraes. Soneto de fidelidade. In: Antologia poética. Rio de Janeiro, José Olympio, 1987. p. 
77. 
Já não sinto nada. 
Socorro, alguém me dê um coração, 
Que esse já não bate nem apanha. 
Por favor, uma emoção pequena, 
Qualquer coisa. 
Qualquer coisa que se sinta, 
Tem tantos sentimentos, 
Deve ter algum que sirva. 
Socorro, alguma rua que me dê sentido, 
Em qualquer cruzamento, 
Acostamento, 
Encruzilhada. 
Socorro, eu já não sinto nada.20 [pg. 198] 
Saber e compreender o mundo que nos rodeia é fundamental para 
que possamos estar nele. A apreensão do real é feita de modo sensível e 
reflexivo e, portanto, realizada pelo pensar, sentir, sonhar, imaginar. 
Para finalizar este capítulo — o poeta não poderia estar ausente! 
— escolhemos o trecho de uma poesia cujos versos destacam a 
importância da vida afetiva: 
O que pode o sentimento 
não pode o saber 
nem o mais claro proceder 
 nem o mais amplo pensamento. 
(...) 
Só o amor com sua ciência 
nos torna tão inocentes.21 
 
20 Arnaldo Antunes e Alice Ruíz. Socorro. In: Um som. 
21 Violeta Parra. Volver a los 17. In: Geraes. LR S. Bernardo do Campo, EMI-Odeon, 12973, 1976. L. 
1.F. 3. 
 
Texto complementar 
O ENAMORAMENTO 
Quando nos enamoramos, por muito tempo continuamos a dizer a 
nós mesmos que não o estamos. Passado o momento em que se revelou 
o acontecimento extraordinário, retornamos à vida quotidiana e 
pensamos que tudo foi passageiro. Mas, para nosso espanto, esse 
momento nos volta à mente, nos cria um desejo, uma ânsia que só se 
aplacam quando re-vemos a pessoa amada ou escutamos sua voz. Mas 
tudo volta logo a desaparecer, e dizemos a nós mesmos que foi apenas 
uma exaltação que não tem importância alguma. Talvez haja um pouco 
de verdade nisso, pois no começo não se distingue bem se é realmente 
um enamoramento ou se tudo não passa de uma reestruturação radical 
do mundo social em que vivemos, e que faz parte orgânica de todos nós. 
Mas se esse desejo reaparece, e torna a reaparecer e se impõe, então 
estamos verdadeiramente enamorados. O enamoramento é um processo 
no qual a outra pessoa, aquela que encontramos e que nos 
correspondeu, se nos impõe como o objeto pleno do desejo. Esse 
acontecimento nos impõe a reorganização de tudo, e esse fato obriga-
nos a repensar tudo, especialmente o nosso passado. Na realidade, não 
é um repensar, mas um refazer. É, com efeito, um renascimento. O 
estado nascente (do enamoramento ou dos movimentos sociais) tem a 
extraordinária propriedade de refazer o passado. Na vida quotidiana, não 
podemos refazer o passado. Nosso passado existe com suas desilusões, 
suas recordações, suas amarguras. (...) As pessoas enamoradas (e 
muitas vezes ambas conjuntamente) revêem o passado e se dão conta 
de que o que aconteceu foi assim porque, naquele momento, fizeram 
opções, que elas quiseram e agora não querem mais. O passado não é 
negado nem oculto, é privado de valor. É verdade que amei e odiei meu 
marido, mas não o odeio mais; enganei-me, mas posso mudar. Então o 
passado se configura como [pg. 199] pré-história, e a verdadeira história 
começa agora. Desse modo terminam o ressentimento, o rancor e o 
desejo de vingança. Não se pode odiar o que não tem mais valor nem 
importância. Essa experiência muitas vezes provoca nos enamorados 
uma angústia, uma inquietação. A pessoa amada fala na minha frente 
sobre o seu passado, sobre seus amores e sobre a pessoa com quem se 
casou ou com quem vive. De início fala com rancor, num desabafo; 
depois, pouco a pouco, quase com ternura. Diz: “Ele foi mau para mim, 
mas me ama; gosto dele, não quero fazê-lo sofrer, gostaria que fosse 
feliz”. Essas palavras indicam um distanciamento que existe apenas 
porque não há mais tensão, nem medo, nem vingança. Mas podem ser 
interpretadas como um amor que persiste e que, por vezes, provoca 
ciúme. A pessoa enamorada pode até relacionar-se com o marido (ou 
com a mulher), se este não cria obstáculo, sem rancor, com afeto. Seu 
passado adquiriu outro significado à luz de seu novo amor. No fundo, 
pode até continuar gostando do marido ou da mulher justamente por 
estar apaixonada. A alegria desse amor a torna dócil, meiga, boa. É 
geralmente a outra pessoa enamorada que não aceita esse fato, que não 
acredita nele, que deseja a pessoa amada somente para si. Como cada 
um dos dois almeja essa exclusividade e essa certeza, ambos se vêem 
obrigados muitas vezes a se magoarem mais do que cada um desejaria. 
(...) 
Francesco Alberoni. Enamoramento e amor. 
Trad. Ary Gonzales Galvão. Rio de Janeiro, Rocco, 1986. p. 18-9. 
 
Questões 
1. Por que os psicólogos estudam as emoções? 
2. Por que, por vezes, as emoções são consideradas como 
deformadoras da realidade? 
3. O que são os afetos? 
4. Quais os dois afetos básicos de nossa vida psíquica? 
5. O que é a ambivalência de sentimentos? 
6. O que são emoções? 
7. Por que se pensava que o lugar das emoções era o coração? 
8. Quais tipos de reações orgânicas acompanham as emoções? 
9. Qual a importância dessas reações orgânicas para a saúde? 
10. Como se explica a função adaptativa das emoções? 
 
Atividades em grupo 
1. Descreva para seus colegas um momento de emoção que você viveu, 
procurando completar a descrição com as reações orgânicas que você 
sentiu. 
2. Qual a importância das emoções e sentimentos na nossa vida? Falem 
de situações que vocês viveram. 
3. Discutam a influência da socialização na expressão dos afetos. Vocês 
conhecem alguma cultura em que as pessoas expressem 
diferentemente de nós os seus afetos? [pg. 200] 
4. Escolham uma emoção ou um sentimento e pronunciem-se sobre: 
• o que aquele afeto significa para você; 
• quando e como você o sente? 
5. Debatam se os nossos sentimentos e as nossas emoções são 
sentidos da mesma forma por todos nós. As pessoas sentem 
emoções sempre da mesma forma? 
6. De acordo com o texto complementar, respondam: que é o 
enamoramento e o que acontece quando nos enamoramos? 
7. Discutam um filme visto por vocês e que os tenha emocionado. Falem 
sobre a emoção sentida e suas causas. 
 
Bibliografia indicada 
Para o aluno 
É interessante explorar com os alunos a sua própria vivência 
afetiva, favorecendo a troca de experiências entre eles. A literatura em 
Psicologia sobre o assunto não é muito adequada para esta fase da 
escolarização. Temos, no entanto, “Emoção e afetividade”,texto de 
Solange Nogueira Buono, publicado no livro Psicologia no ensino de 2º 
grau, coordenado pelo Sindicato dos Psicólogos e CRP-06 (São Paulo, 
Edicon, 1986). Há ainda o capítulo 5 do livro Motivação e emoção, de 
Edward Murray (Rio de Janeiro, Zahar, 1971). E, sem dúvida, grande 
parte dos livros de Psicologia abordam este aspecto, podendo o 
professor selecionar textos mais simples que complementem o trabalho. 
 
Para o professor 
Para os alunos aprofundarem o estudo do tema deste capítulo, 
sugerimos a leitura de Teoria das emoções: introdução à obra de 
Henri Wallon (Lisboa, Moraes, 1981), de M. Martinet. O discurso vivo 
— uma teoria psicanalítica do afeto (Rio de Janeiro, Francisco Alves, 
1982), de André Green, aborda a vida afetiva na obra de Freud e na dos 
pós-freudianos, como Lacan e Melanie Klein, além de desenvolver uma 
teoria sobre os afetos baseada na Psicanálise. 
 
Filmes indicados 
O cinema é um excelente meio de provocar e reviver emoções. 
Qualquer filme pode ser visto com proveito para o debate da vida afetiva. 
[pg. 201]

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