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DOSSIÊ CURSO DA VIDA ADULTA E GERAÇÕES 
 
cadernos pagu (13) 1999: pp.11-35 
 
Novas imagens do envelhecimento 
e a construção social do curso da vida* 
Tamara K. Hareven** 
 
 
 
Resumo 
A primeira parte deste artigo discute a emergência da “velhice” 
como uma nova etapa da vida no contexto da descoberta de 
outros estágios; a segunda parte aborda o surgimento de 
descontinuidades no curso da vida; a última parte discute a 
contribuição de mudanças históricas na família e no curso da vida 
para a segregação por idade. 
 
 
 
 
 
Palavras-Chave: Curso da Vida, Família, Gerações, Imagens do 
Envelhecimento. 
 
* Publicado em FEATHERSTONE, Mike and WERNICK, Andrew. Images of Aging. 
Cultural representations of later life. London and New York, Routledge, 1995, 
pp.119-134. (Tradução: Plínio Dentzien; Revisão: Guita Grin Debert.) O 
Cadernos Pagu agradece a autorização da Routledge e da autora para traduzir 
este artigo. 
** University of Delaware, Dept. of Indiv. and Family Studies, Newark, USA. 
Novas imagens do envelhecimento 
 12 
 
 
 
 
 
 
 
 
Changing Images of Aging and the Social 
Constructionof the Life Course 
 
Abstract 
The first part of this article discusses the emergence of “old age” as 
a new stage of life in the context of the discovery of other stages of 
life; the second part addresses the emergence of discontinuities in 
the life course; and the last part discusses the contribution of 
historical changes in the family and the life course to age 
segregation. 
 
 
 
 
 
 
Key words: Life Course, Family, Generations, Images of Aging. 
Tamara K. Hareven 
 13 
Introdução 
 
A preocupação com a velhice em nossos dias focaliza esse 
estágio da vida, isolando-o do curso da vida como um todo. Sem 
negar os problemas que singularizam esse período, é importante 
interpretá-lo no curso da vida e no contexto histórico. No século 
vinte, o reconhecimento da velhice como um período singular é 
parte de um processo histórico mais amplo que envolve o 
surgimento de novos estágios da vida e seu reconhecimento social. 
É também parte de uma tendência contínua à segregação por 
idade na família e na sociedade mais ampla.1 Uma perspectiva 
histórica é útil, portanto, porque lança alguma luz sobre 
desenvolvimentos que afetam tanto a “meia idade” quanto a 
“velhice”. 
A primeira parte deste artigo discute a emergência da 
“velhice” como uma nova etapa da vida no contexto da 
descoberta de outros estágios; a segunda parte aborda o 
surgimento de descontinuidades no curso da vida; e a última parte 
discute a contribuição de mudanças históricas na família e no 
curso da vida para a segregação por idade. 
Não foi provavelmente por acaso que G. Stanley Hall, que 
formulara o conceito de “adolescência” nos anos 80 do século 
passado, ofereceu uma síntese de “senescência” como sua última 
obra criativa em 1920, quando ele mesmo tinha 80 anos: 
 
aprender que se é velho é uma experiência longa, complexa e 
dolorosa. A cada década, o círculo da Grande Fadiga se 
estreita em torno de nós, restringindo a intensidade e 
duração de nossas atividades. 
 
Enquanto seus contemporâneos davam atenção à deterioração 
característica da velhice, ou buscavam os segredos da 
 
1 HAREVEN, Tamara K. The last stage: historical adulthood and old age. 
Daedalus: American Civilization: New Perspective 105 (4), 1976, pp.13-27. 
Novas imagens do envelhecimento 
 14 
longevidade, Hall salientava os processos psicológicos singulares 
relacionados ao envelhecimento e sua significação social. Em vez 
de ver a velhice como um período de declínio e decadência, ele a 
via como um estágio de desenvolvimento em que as paixões da 
juventude e os esforços de uma carreira atingiam fruição e 
consolidação: 
 
Há uma certa maturidade de julgamento sobre os homens, 
coisas, causas e a vida, em geral, que nada no mundo 
senão a idade pode trazer; uma sabedoria real que só a 
idade pode ensinar.2 
 
O interesse no significado do envelhecimento no começo do 
século vinte não derivou da mera curiosidade. Estava relacionado 
a questões sobre os limites da utilidade e eficiência no trabalho 
que acompanhavam a industrialização e o movimento por 
proteção social para os idosos. Em 1874, o psicólogo George 
Beard tinha começado a perguntar sobre as limitações da velhice: 
 
Qual é o efeito da velhice sobre as faculdades mentais?; até 
que ponto a responsabilidade dos homens é prejudicada 
pela mudança que as faculdades mentais sofrem na velhice? 
 
Analisando o registro das “maiores conquistas humanas”, 
tentou determinar com que idade se fizera “o melhor trabalho do 
mundo”. Descobriu que 70 por cento do trabalho criativo 
tinha sido realizado até os 45 anos e 80 por cento até os 50. 
Nesse âmbito, identificou o período dos 30 aos 45 como o 
período ótimo da vida. Embora fosse enfático sobre a 
necessidade de estabelecer uma idade para a aposentadoria dos 
 
2 HALL, G. Stanley. Senescence: The Last Half of Life. New York, Appleton, 
1922, p.366. 
Tamara K. Hareven 
 15 
juizes, não recomendou uma idade determinada para a 
aposentadoria dos trabalhadores.3 A pesquisa de Beard 
representou a primeira tentativa de investigação científica da 
relação entre envelhecimento e eficiência, e montou a cena para 
o conceito do “homem aposentado” que viria em seguida. 
No fim do século dezenove, a sociedade norte-americana 
passou de uma aceitação da velhice como processo natural a 
uma visão dela como um período distinto da vida, caracterizado 
pelo declínio, fraqueza e obsolescência. A idade avançada, vista 
anteriormente como manifestação da sobrevivência do mais forte, 
passava a ser rebaixada como condição de dependência e 
deterioração: “Somos marcados pelos dedos deformantes do 
tempo com a feiura da idade”.4 Escritores começaram a 
identificar idade avançada com declínio físico e deterioração 
mental. A partir de 1860, as revistas populares mudaram sua 
ênfase da conquista da longevidade para a discussão dos 
sintomas médicos da senescência. No começo do século vinte a 
geriatria surge como ramo da medicina. Em 1910, I. L. Nascher, 
médico de New York, foi o primeiro a formular as características 
biológicas e necessidades médicas da senescência como processo 
do ciclo vital. Com base no trabalho de seus predecessores para 
conceptualizar o tratamento médico ele assentou, assim, os 
fundamentos da geriatria.5 
Os problemas do envelhecimento são abordados de 
diversos ângulos pela literatura gerontológica: a perspectiva 
desenvolvimentista se interessa pelas mudanças biológicas e 
psicológicas relacionadas ao envelhecimento; a institucional 
sublinha o status sócio-econômico e os papéis dos idosos; e a 
cultural se concentra nos estereótipos e percepções dos idosos. 
 
3 BEARD, George. Legal Responsibility in Old Age, Based on Researches into the 
Relationship of Age to Work. New York, Russells, 1874. 
4 Apology from age to youth. Living Age CXCIII, 1893, p.170. 
5 NASCHER, I. L. Geriatrics. Philadelphia, 1914. 
Novas imagens do envelhecimento 
 16 
Algumas dessas perspectivas levaram à confusão dos “idosos” 
com um grupo de idade, ou como uma classe social em 
envelhecimento. Pouco esforço se fez para integrar essas visões 
ou interpretá-las como processos interrelacionados no curso da 
vida. 
A emergência da “velhice” como fenômeno social, cultural 
e biológico pode ser melhor entendida no contexto dos outros 
estágios da vida. As condições sociais das crianças e adolescentes 
numa dada sociedade estão relacionadas ao modo como o ser 
adulto é concebidonessa sociedade. De maneira semelhante, o 
papel e posição dos adultos e dos idosos estão relacionados ao 
tratamento das crianças e dos jovens. A formidável tarefa de 
investigar a sincronização do desenvolvimento individual com a 
mudança social requer uma perspectiva que leve em 
consideração o curso de toda a vida e várias condições históricas 
e culturais, em vez de simplesmente concentrar-se num grupo 
específico de idade. Como disse Erik Erikson: 
 
À medida em que chegamos ao último estágio [a velhice], 
nos apercebemos de que nossa civilização não tem um 
conceito da vida como um todo... Qualquer trecho do ciclo 
vivido sem significado vigoroso, no começo, no meio, ou 
no fim, põe em perigo o senso da vida e o sentido da morte 
em todos aqueles cujos estágios de vida se entrelaçam.6 
A descoberta dos estágios da vida 
A idade e o envelhecimento estão relacionados a 
fenômenos biológicos, mas seus significados são determinados 
social e culturalmente. “Idade social” é um conceito relativo e 
varia em diferentes contextos culturais. Ao tentar entender as 
condições societais que afetam a idade adulta e a velhice é 
 
6 ERIKSON, Erik. Insight and Responsibility. New York, 1964, pp.132-3. 
Tamara K. Hareven 
 17 
importante perceber que as definições do envelhecimento, bem 
como as condições e funções sociais de cada grupo de idade, não 
só mudam significativamente ao longo do tempo, mas também 
variam entre diferentes culturas. Na sociedade ocidental, estamos 
acostumados a referir-nos a estágios da vida – infância e 
adolescência – como etapas reconhecidas de desenvolvimento 
que envolvem grupos específicos de idade, que também são 
acompanhadas por certas características culturais. A “descoberta” 
de um novo estágio é em si mesma um processo complexo. 
Primeiro, os indivíduos se tornam conscientes das características 
específicas de um dado período como uma condição distinta 
entre certas classes ou grupos sociais. Essa descoberta é então 
tornada pública e popularizada num nível societal. Profissionais e 
reformadores definem e formulam as condições singulares de tal 
estágio da vida, que passa a ser publicitado na cultura popular. 
Finalmente, se as condições peculiares a esse estágio forem 
associadas a algum problema social importante, ele atrai a 
atenção das agências públicas e se torna institucionalizado: suas 
necessidades e problemas passam a integrar a legislação e o 
estabelecimento de instituições direcionadas a resolvê-los. Essas 
atividades públicas, por sua vez, afetam a experiência dos 
indivíduos que estão passando por essa fase. Elas claramente 
influenciam o momento das transições de e para tal estágio ao 
dar apoio público e, às vezes, ao colocar limites que afetam o 
momento das transições. 
Na sociedade norte-americana, a infância surgiu como um 
estágio distinto na vida privada das famílias urbanas de classe 
média no começo do século dezenove. A nova definição do 
significado da infância e do papel das crianças estava relacionada 
ao refúgio da família na domesticidade, à separação entre local 
de trabalho e lar, à redefinição do papel da mãe como guardiã 
principal da esfera doméstica e à ênfase nas relações sentimentais 
e não instrumentais como base da própria vida familiar. De 
acordo com Philippe Ariès, a nova concentração da vida familiar 
Novas imagens do envelhecimento 
 18 
urbana na Europa ocidental de fins do século dezoito e princípio 
do dezenove em torno da criança se caracterizava por seu foco no 
casal e na criança, e não mais no grupo familiar ou na 
linhagem. Era também uma resposta a duas mudanças 
demográficas importantes: o declínio da mortalidade infantil e o 
aumento da prática consciente de limitação de filhos.7 Tendo 
surgido primeiro na vida das famílias da classe média e tendo se 
tornado parte integrante de seu estilo de vida, a infância 
enquanto estágio distinto de desenvolvimento se tornou objeto de 
volumoso corpo de literatura sobre criação de filhos e conselhos 
às famílias. Esses livros e artigos de revistas popularizavam o 
conceito da infância e das necessidades das crianças, prescreviam 
os meios de permitir seu desenvolvimento e clamavam pela 
regulamentação do trabalho infantil. 
A descoberta da adolescência no final do século dezenove 
seguiu um padrão semelhante ao do surgimento da infância. 
Embora a puberdade em si mesma seja um processo biológico 
universal, os fenômenos sócio-psicológicos da adolescência só 
foram identificados e definidos gradualmente, notadamente por 
G. Stanley Hall, no final do século dezenove.8 Há evidência de 
que a experiência da adolescência, particularmente de alguns dos 
problemas e tensões a ela associados, foi percebida nas 
vidas privadas de indivíduos que alcançaram a puberdade 
durante a segunda metade do século dezenove.9 Educadores e 
reformadores urbanos começaram a observar a congregação de 
jovens com seus pares e a identificar estilos de comportamento 
que poderiam ser caracterizados como uma “cultura da 
adolescência” a partir de meados do século dezenove. A 
ansiedade relativa a essas condutas cresceu, particularmente nas 
 
7 ARIÈS, Philippe. Centuries of Childhood: A Social History of Family Life. New 
York, Vintage, 1962. 
8 HALL, G. Stanley. Senescence: The Last Half of Life. Op.cit. 
9 DEMOS, John e DEMOS, Virginia. Adolescence in historical perspective. Journal 
of Marriage and the Family 31(4), 1969, pp.632-8. 
Tamara K. Hareven 
 19 
grandes cidades, em que os reformadores alertaram para a 
ameaça potencial das gangues de jovens. 
No começo do século vinte, Hall e seus colegas definiram a 
adolescência como um novo estágio da vida. Esse novo estágio foi 
também amplamente popularizado na literatura. A extensão da 
idade escolar ao curso secundário na segunda metade do século 
dezenove, o aumento adicional do limite da idade para o trabalho 
infantil e o estabelecimento de reformatórios e de escolas 
vocacionais para jovens fazem parte do reconhecimento público 
das necessidades e problemas da adolescência.10 
Os limites entre infância e adolescência, de um lado, e entre 
adolescência e idade adulta, de outro, foram ficando mais 
claramente marcados ao longo do século vinte. A experiência da 
infância e da adolescência se tornou mais geral entre grandes 
grupos da população norte-americana, à medida em que famílias 
imigrantes e da classe trabalhadora ingressavam na classe média. 
Keniston chegou a sugerir que no século vinte a extensão de uma 
moratória das responsabilidades adultas para além da 
adolescência resultou no surgimento de mais um estágio da vida – 
o da juventude.11 
A despeito da crescente consciência desses estágios pré-
adultos, os limites da vida adulta na América do Norte não 
surgiram claramente até mais tarde, quando a “velhice” se tornou 
proeminente como uma nova etapa da vida e, com ela, a 
necessidade de diferenciar seus problemas sociais daqueles da 
“meia idade”. Há muitas indicações de que uma nova 
consciência da “velhice”, juntamente com definições institucionais 
e reconhecimento social, surgiram no final do século dezenove 
 
10 BREMNER, Robert H. et alii. Children and Youths in America: A Documentary 
History, vol I (1600-1865). Cambridge, MA., Harvard University Press, 1970; e 
BREMNER, Robert H. et alii. vol II (1866-1932). Cambridge, MA., Harvard 
University Press, 1971. 
11 KENISTON, Kenneth. Psychological development and historical change. Journal 
of Interdisciplinary History 2(2), 1971, pp.329-45. 
Novas imagens do envelhecimento 
 20 
e início do século vinte. A convergência do volume crescente da 
literatura gerontológica, a proliferação de estereótiposnegativos 
sobre os velhos e o estabelecimento da aposentadoria compulsória 
representam os primeiros movimentos de uma formulação pública 
e institucional da “velhice” enquanto um estágio distinto.12 
A articulação dos novos estágios da vida e seu 
reconhecimento na sociedade norte-americana no passado vieram 
em geral como uma resposta a pressões externas e a um medo da 
desorganização potencial que poderia, de outra forma, seguir-se 
à negligência societal de um grupo de idade particular. No século 
dezenove essa apreensão foi particularmente dramática, pois se 
manifestava em atitudes relativas ao tratamento de crianças e 
adolescentes, quando jovens indisciplinados e não socializados 
eram vistos como as “classes perigosas”. 
Os idosos receberam comparativamente pouca atenção, 
porque não eram considerados perigosos para a ordem social. O 
argumento contra negligencia das crianças era que elas poderiam 
ser adultos perigosos e socialmente destrutivos. Nenhum 
argumento paralelo se aplicava aos idosos. Numa sociedade que 
perdera seu medo da vida após a morte, e em que a consciência e 
o contato com a morte não se integrava na vida quotidiana (pois a 
morte não tinha mais um poder mítico sobre os vivos), não havia 
razão para temer qualquer vingança dos idosos. 
Consequentemente, a primeira demonstração de poder político 
organizado dos idosos não se manifestou até o movimento 
Townshend nos anos 30, que teve sucesso em sua pressão sobre o 
governo federal pela instituição da previdência social. 
Muito antes, ao final do século dezoito, entretanto, a 
sociedade norte-americana tinha começado, pelo menos 
 
12 FISCHER, David. H. Growing Old in America. New York, Oxford University 
Press, 1977. 
Tamara K. Hareven 
 21 
gradualmente, a reconhecer a existência de vários estágios da vida 
e a desenvolver uma série correspondente de instituições. Como 
vimos, a infância foi “descoberta” na primeira metade do século 
dezenove e a adolescência foi “inventada” ao final do século. 
Ambos os estágios apareceram na consciência pública como 
resultado das crises sociais associadas a aqueles grupos de idade 
de modo semelhante ao do surgimento da velhice mais tarde. No 
entanto, a despeito da consciência crescente da infância, da 
adolescência e da juventude enquanto estágios pré-adultos, não 
surgiram limites claros para a idade adulta até muito depois, 
quando o interesse na meia-idade como segmento distinto da vida 
adulta surgiu da necessidade de diferenciar os problemas sociais e 
psicológicos da “meia idade” daqueles da “velhice”. As condições 
sociais e culturais do último meio século vêm contribuindo desde 
então para o refinamento dos limites entre os dois estágios. Mais 
recentemente, a própria velhice tem sido dividida em estágios – 
“jovens velhos” e “velhos velhos”.13 
É claro, porém, que na sociedade norte-americana a 
“velhice” é hoje reconhecida como um período específico da vida 
adulta. Pelo menos até recentemente ela tinha um começo formal 
– 65 anos – no que diz respeito à vida de trabalho do indivíduo. 
Era institucionalizada por um rito de passagem – a aposentadoria 
e o ingresso na previdência social. Como boa parte da experiência 
adulta dependia do trabalho, especialmente para os homens, a 
aposentadoria freqüentemente também envolvia migração e 
mudanças nos arranjos da vida. Mais recentemente, a 
aposentadoria compulsória vem sendo revisada conforme nova 
legislação e as políticas da “despedida de ouro” adotadas por 
várias corporações. 
No começo do século vinte a preocupação e o interesse 
públicos com a velhice vinha de várias direções. Além dos 
 
13 NEUGARTEN, Berenice L. e DATON, Nancy. Sociological perspectives on the life 
cycle. In: BALTES, Paul B. e SCHAIE, K. Warner. (orgs.) Life Span Development 
Psychology: Personality and Socialization. New York, Academic Press, 1973. 
Novas imagens do envelhecimento 
 22 
médicos, psicólogos e escritores populares, especialistas em 
eficiência e reformadores sociais foram importantes para atrair a 
atenção para a velhice como problema social. Uma multiplicidade 
de estudos médicos e psicológicos, realizados por especialistas em 
eficiência industrial, deram atenção às limitações físicas e mentais 
da velhice. Ao mesmo tempo, reformadores sociais começaram a 
expor a pobreza e dependência sofrida por muitos idosos, como 
parte de uma pesquisa geral sobre a pobreza, e a militar em prol 
da previdência e da seguridade sociais.14 
O reconhecimento governamental da velhice evoluiu de 
maneira mais gradual e surgiu primeiro ao nível estadual. Em 
1920, apenas dez estados tinham instituído alguma forma de 
legislação sobre a velhice; todos os programas tinham âmbito 
limitado e a maioria deles foi declarada inconstitucional pela 
Suprema Corte. Apesar disso, a militância em prol da previdência 
na velhice continuou, culminando no Social Security Act de 1935. 
Só nos anos quarenta, porém, a gerontologia passou a ser 
reconhecida como um campo novo e, mais recentemente, os 
cientistas sociais passaram a identificar a velhice como 
constituindo um novo e urgente problema para a sociedade 
ocidental. A definição social dos limites de idade e seu tratamento 
público através da reforma institucional, legislação sobre 
aposentadoria e medidas de bem estar representam o 
reconhecimento social mais recente desse estágio da vida.15 
Tanto a literatura popular como as ciências sociais vem 
devotando atenção à demanda social e econômica dos mais 
velhos e a seu isolamento. Os principais fatores citados como 
 
14 DOUGLAS, Paul H. Social Security in the United States. New York, 1936; 
EPSTEIN, Abraham. Facing Old Age: A Study of Old Age Dependency in the 
United States and Old Age Pensions. New York, 1922. 
15 TIBBITS, Clark. Origin, scope and fiels of social gerontology. In: TIBBITS, Clark. 
(org.) Handbook of Social Gerontology. Chicago, 1960; PHILIBERT, Michael A. J. 
The emergence of social gerontology. Journal of Social Issues XXI (4) 1965, pp.4-
12. 
Tamara K. Hareven 
 23 
explicações para esses problemas são: o impacto generalizado da 
urbanização e da industrialização, mudanças demográficas 
derivadas do aumento da expectativa de vida na infância e início 
da idade adulta e do prolongamento da vida na velhice devido a 
avanços na tecnologia médica; a proporção crescente dos idosos 
na população como resultado da diminuição da fertilidade e do 
aumento na expectativa de vida; a diminuição dos papéis 
produtivos que os mais velhos poderiam desempenhar como 
resultado da passagem de uma economia rural para uma 
industrial; a revolução tecnológica; e, finalmente, o desprezo pela 
velhice, que tem sido atribuído ao “culto da juventude”. 
Sem negar a importância dessas explicações, os estereótipos 
do envelhecimento e os problemas da velhice e do 
envelhecimento na sociedade norte-americana podem ser melhor 
compreendidos no contexto das mudanças na construção social e 
cultural de outros estágios da vida e nas descontinuidades 
históricas fundamentais no curso da vida em relação ao 
surgimento da segregação por idade no trabalho e nas orientações 
e funções da família. 
Como os limites de idade e os critérios da vida adulta 
variam significativamente entre culturas, classes e períodos 
históricos, seus significados não podem ser definidos meramente 
em termos de um estágio específico. Diferente da adolescência, 
que representa a passagem de uma pessoa pela puberdade, a vida 
adulta não pode ser claramente demarcada em termos biológicos. 
Em um mesmo grupo de idade, seu significado social e as funções 
a ela associadas variam entre culturas e segundo condições 
psicológicas. Por essas razões, é importantedeterminar até que 
ponto, e de que maneiras, os indivíduos no passado percebiam 
sua entrada na vida adulta e as transições para a velhice sob 
condições históricas diferentes. 
Novas imagens do envelhecimento 
 24 
O surgimento das descontinuidades no curso da vida 
A experiência social de cada coorte é influenciada não só 
pelas condições históricas correntes, mas também pelo impacto 
cumulativo de eventos históricos passados sobre o curso da vida 
de seus membros. Consequentemente, a posição dos idosos na 
sociedade norte-americana foi formada, em parte, pelas condições 
sociais e econômicas que se combinaram para isolar sua família e 
sua vida produtiva quando eles chegavam aos sessenta ou setenta 
anos e, em parte, por sua experiência cumulativa prévia ao longo 
do curso da vida. Por exemplo, indivíduos que chegaram aos 
sessenta na década de 1890 e ainda trabalhavam tinham entrado 
para o mercado de trabalho mais cedo e nele continuariam até o 
fim da vida ou enquanto fossem capazes. Tendo crescido em 
períodos em que as transições eram marcadas ou 
institucionalizadas em termos menos rígidos, teriam achado a 
aposentadoria compulsória muito mais traumática que uma coorte 
que atingiu a mesma idade no começo do século vinte, quando 
tanto a entrada como a saída da força de trabalho eram muito 
mais claramente marcadas pela idade. A resposta da coorte mais 
velha à condições sociais e econômicas em transformação é, 
portanto, significativamente diferente da mais jovem, porque se 
baseia em experiências individuais e sociais muito diferentes.16 Ao 
tentar entender essas diferenças, é necessário considerar tanto o 
meio social contemporâneo em que os membros de uma coorte 
atingem tal idade quanto sua experiência cumulativa ao longo de 
suas vidas inteiras. 
Na sociedade pré-industrial, fatores demográficos, sociais e 
culturais se combinaram para produzir apenas uma diferenciação 
mínima entre os períodos da vida. A infância e a adolescência 
não eram vistas como estágios distintos; as crianças eram 
 
16 HAREVEN, Tamara K. Historical changes in the social construction of the life 
course. Human Development 29 (3), 1986, pp.171-80; RILEY, M. W. Aging, social 
change and the power of ideas. Daedalus: Generations, 1978. 
Tamara K. Hareven 
 25 
consideradas adultos em miniatura, que assumiriam gradualmente 
papéis adultos muito antes dos vinte anos e entrariam na vida 
adulta sem uma moratória relativa às suas responsabilidades. O 
adulto passava para a velhice sem disrupções institucionalizadas. 
Seus dois principais papéis – paternidade e trabalho – em geral se 
estendiam por toda a vida, sem qualquer intervalo de “ninho 
vazio” ou aposentadoria compulsória.17 Em comunidades rurais, a 
insistência dos mais velhos na auto-suficiência e seu controle 
continuado sobre o patrimônio familiar atrasou a independência 
econômica dos filhos adultos e deu aos pais que envelheciam 
poder de barganha para obter o sustento na velhice.18 
A integração de atividades econômicas com a vida familiar 
também dava continuidade à utilidade dos mais velhos, 
particularmente das viúvas, ainda quando sua capacidade de 
trabalho estava em descenso. No entanto, não se deve idealizar as 
condições dos idosos na sociedade pré-industrial. John Demos 
indica que eles eram publicamente venerados, mas inseguros em 
suas vidas privadas. Alguns sintomas da insegurança e incerteza 
se refletem, por exemplo, em testamentos onde o sustento de 
uma mãe viúva aparece como condição para a herança do 
patrimônio familiar.19 Em todo caso, os idosos experimentavam 
segregação social e econômica com menor freqüência do que 
 
17 CHUDACOFF, Howard P. e HAREVEN, Tamara K. From the empty nest to family 
dissolution: life course transitions into old age. Journal of Family History 41, 
1979, pp.69-83. 
18 GREVEN JR., Philip. Four Generations of Population, Land and Family in 
Colonial Andover, Mass. Ithaca, NY, Cornell University Press, 1970; SMITH, 
Daniel Scott. Parental power and marriage patterns: an analysis of historical 
trends in Hingham, Massachussets. Journal of Marriage and the Family 35 (3), 
1973, pp.419-29. 
19 DEMOS, John. A Little Commonwealth: Family Life in Colonial Plymouth. New 
York, Oxford University Press, 1969; ID. Old age in New England. In: VAN TASSEL, 
David. (org.) Aging, Death and the Completion of Being. Cleveland, Ohio, Case 
Western University Press, 1979. 
Novas imagens do envelhecimento 
 26 
hoje e retinham suas posições familiares e econômicas até o fim de 
suas vidas.20 Se se tornavam “dependentes” devido a doença ou 
pobreza, eram sustentados por seus filhos ou outros parentes, ou 
colocados pelas autoridades locais nas casas de vizinhos, mesmo 
não parentes. Eram postos em instituições só em último caso.21 
Descontinuidades no curso da vida 
Sob o impacto da industrialização e das mudanças 
demográficas do século dezenove, porém, uma diferenciação 
gradual entre os grupos de idade e uma maior especialização nas 
funções relacionadas à idade começaram a emergir, ainda que 
esses processos não estivessem acabados ao final do século. As 
descontinuidades no curso da vida individual ainda não eram 
marcadas e os grupos de idade ainda não eram completamente 
segregados de acordo com suas funções. Mesmo na família, as 
configurações de idade eram consideravelmente diferentes das de 
hoje: o declínio da mortalidade desde de 1870 aliado ao declínio 
da fertilidade afetou tanto o tamanho da família como as 
configurações de idade. Uma das principais mudanças históricas a 
esse respeito foi a transição da grande família para uma menor, e 
do amplo espectro de idade dos filhos na família para a família 
comprimida, com 2,3 filhos de idades próximas na sociedade 
norte-americana contemporânea.22 Antes da década de 1870 um 
grande número de filhos na família significava não só a presença 
de um grande número de irmãos, mas também a diversidade de 
suas idades. 
 
20 SMITH, Daniel Scott. Parental power and marriage patterns... Op.cit. 
21 GREVEN JR., Philip. Four Generations of Population... Op.cit. 
22 UHLENBERG, P. Changing configurations of the life course. In: HAREVEN, 
Tamara K. (org.) Transitions: The Family and The Life Course in Historical 
Perspective. New York, Academic Press, 1978. 
Tamara K. Hareven 
 27 
Em famílias com grande número de filhos, as configurações 
de idade eram consideravelmente diferentes das famílias com dois 
ou três filhos. Por exemplo, em famílias onde os filhos tivessem 
diferenças de dois ou três anos, se a família tivesse cinco ou seis 
filhos, o mais velho estaria pronto para deixar a casa ou casar-se 
quando o mais jovem ainda estivesse na escola primária. Como 
assinala Peter Uhlenberg: 
 
Consideremos, por exemplo, crianças numa família de oito 
ou nove filhos, comparadas com outras de dois. Na maior, 
o primogênito entra numa família de três membros, que vai 
se expandindo até 11. O mais jovem nasce numa unidade 
grande, que vai diminuindo à medida em que ele cresce, 
até que ele seja o único filho em casa. Além disso, as idades 
dos pais e as idades e número de irmãos presentes em 
diversos estágios da infância variam consideravelmente na 
família grande, dependendo de sua ordem de nascimento. 
Na pequena, ao contrário, os irmãos podem nascer com 
alguns anos de diferença e não ocorrem outras diferenças 
durante sua infância.23 
 
Em famílias com maior diferença de idade entre os filhos, 
os mais jovens tendiam a ter mais contato com os irmãos mais 
velhos que com os próprios pais. Dada a idade dos pais no 
casamento, estes já seriam de meia-idade enquanto seus filhos 
mais jovens estivessem crescendo. Em tais circunstâncias,irmãos 
mais velhos (especialmente irmãs) funcionavam muitas vezes 
como encarregados de seus irmãos mais jovens. Quando um ou 
os dois pais morriam, os irmãos mais velhos agiam como pais 
substitutos. Essas variadas configurações de idade entre os irmãos 
tinha implicações significativas para suas relações, especialmente 
para sua interação ao longo do curso da vida. Filhos que 
cresciam em famílias com maiores diferenças de idade eram 
 
23 ID., IB., p.77. 
Novas imagens do envelhecimento 
 28 
expostos a diversos papéis e responsabilidades relativamente a 
seus próprios irmãos. O cuidado das crianças pelos irmãos mais 
velhos permitia que as mães trabalhassem fora de casa. Em 
famílias imigrantes de classe trabalhadora os jovens tomavam 
conta de seus irmãos pequenos.24 
Até a virada do século, a paternidade não se limitava a 
certos períodos do curso da vida. Enquanto hoje os pais ainda tem 
um terço de sua vida pela frente quando completam suas funções 
de criação dos filhos, a paternidade no século dezenove era uma 
tarefa para toda a vida. A combinação do casamento 
relativamente tardio, curta expectativa de vida e alta fertilidade 
raramente permitia estágios de “ninho vazio”. Além disso, o 
casamento se rompia com freqüência pela morte de um dos 
esposos antes do final do período de criação dos filhos. Porque se 
casavam mais jovens e viviam mais, essa tarefa era mais comum 
para as mulheres. Viúvas ou não, porém, a extensão da 
maternidade pela maior parte do curso da vida continuou a 
envolver as mulheres em papéis familiares ativos até a velhice.25 
Em condições em que o curso da vida era comprimido num 
período mais curto e mais homogêneo, as principais transições 
para a vida adulta – sair da escola, entrar na força de trabalho, 
sair de casa, estabelecer um lar, casar e ter filhos – não eram 
tão estruturadas como hoje. Com exceção do casamento e da 
formação de lares, elas nem chegavam a representar um 
movimento em direção a uma vida adulta independente. A 
ordem em que ocorriam variava significativamente em vez de 
seguir uma seqüência comum. Crianças e jovens mudavam da 
 
24 HAREVEN, Tamara K. Historical changes in the life course and the family. In: J. 
YINGER, M. e CUTLER, S. J. (orgs.) Major Social Issues: A Multidisciplinary View. 
New York, Cambridge University Press, 1978, pp.338-45; ID. Family Time and 
Industrial Time: The Relationship Between the Family and Work in a New 
England Industrial Community. New York, Cambridge University Press, 1982. 
(Reeditado pela University Press of America, 1993.) 
25 UHLENBERG, P. Changing configurations of the life course. Op.cit. 
Tamara K. Hareven 
 29 
escola para o trabalho dependendo da estação, da disponibilidade 
de trabalho e das necessidades econômicas da família. A saída da 
escola não marcava um ponto de transição, assim como a entrada 
na força de trabalho também não implicava necessariamente no 
começo da vida adulta, num tempo em que o trabalho infantil era 
uma prática estabelecida. Sair de casa, um fenômeno hoje 
tipicamente associado com o começo da vida adulta, não tinha tal 
significado no período pré-industrial e no início da 
industrialização.26 
Nas famílias rurais e urbanas de classe trabalhadora do 
século dezenove, os filhos e as filhas continuavam a viver em casa 
depois dos vinte anos, contribuindo com seus ganhos para o 
orçamento familiar comum. Alguns filhos deixavam a casa com 
pouco mais de dez anos para tornar-se serventes ou aprendizes, 
enquanto outros continuavam a viver com a família e a adiar o 
casamento e as responsabilidades da vida adulta até muito mais 
tarde. Famílias imigrantes irlandesas em Massachussets, por 
exemplo, costumavam manter em casa o filho mais jovem até os 
trinta anos. Entre outros trabalhadores industriais imigrantes na 
Nova Inglaterra, esperava-se que a última filha a permanecer em 
casa adiasse ou mesmo desistisse do casamento e continuasse a 
viver no lar para tomar conta dos pais enquanto vivessem. 
Quando filhos solteiros deixavam a casa paterna, freqüentemente 
passavam períodos de transição como pensionistas em famílias 
estranhas, antes de estabelecer seus próprios lares.27 
 
26 MODELL, John, FURSTENBERG, Frank e HERSHBERG, Theodore. Social change 
and transitions to adulthood in historical perspective. Journal of Family History 1 
(1) 1976, pp.7-32. 
27 MODELL, John e HAREVEN, Tamara K. Urbanization and the malleable 
household: an examination of boarding and lodging in American families. Journal 
of Marriage and the Family 35 (3), 1973, pp.467-79; HAREVEN, Tamara K. The 
last stage: historical adulthood and old age. Daedalus: American Civilization: New 
Perspective 105 (4), 1976, pp.13-27; ID. Historical changes in the timing of family 
transitions: their impact on generational relations. In: FOGEL, Robert, RIESLER, 
Novas imagens do envelhecimento 
 30 
Mesmo o casamento, usualmente visto como ato “adulto” 
na sociedade do século vinte, marcava menos a transição para a 
vida adulta autônoma no século dezenove. Em comunidades 
urbanas, onde a imigração produzia tanto a escassez de moradia 
como o desemprego, era difícil montar um lar, de modo que os 
recém casados freqüentemente traziam seus esposos ou esposas 
para morar nas casas de seus pais no período de transição. Mesmo 
quando viviam em separado, viviam geralmente próximos, muitas 
vezes no mesmo bairro. Nos primeiros anos do casamento e 
especialmente depois do nascimento do primeiro filho, os casais 
jovens de bom grado sacrificavam a privacidade em nome da 
assistência e do apoio paternos, o que se acentuava ainda mais 
em períodos de crise e depressão econômica, ou durante crises 
familiares geradas pelo desemprego, doença ou morte.28 
A mudança histórica mais significativa no momento e na 
seqüência das transições da vida desde o começo deste século foi 
a emergência de maior uniformidade no ritmo em que uma coorte 
realiza uma dada transição. Isso é particularmente evidente nas 
transições para a vida adulta (sair de casa, casamento e o 
estabelecimento de um novo lar). Durante o século passado, as 
transições da vida se tornaram mais claramente marcadas, mais 
rápidas e mais comprimidas no tempo. Em contraste com nossos 
tempos, no final do século dezenove as transições da casa 
paterna para o casamento e para a chefia do próprio lar eram 
mais graduais e menos rígidas. O tempo necessário para que uma 
coorte realizasse tais transições era mais amplo e a seqüência em 
 
Sarah B., HATFIELD, Elaine e SHANAS, Ethel. (orgs.) Aging: Stability and Change 
in the Family. New York, Academic Press, 1981. 
28 CHUDACOFF, Howard P. Newlyweds and familial extensions: first stages of the 
family cycle in Providence, R.I., 1864-1880. In: HAREVEN, Tamara K. e VINOVSKIS, 
Maris. (orgs.) Demographic Processes and Family Organization in Nineteenth-
Century American Society. Princeton, N.J., Princeton University Press, 1978. 
Tamara K. Hareven 
 31 
que as transições se davam era mais flexível. No século vinte, as 
transições para a vida adulta se tornaram mais uniformes para as 
coortes de idade, mais ordenadas em sua seqüência e mais 
rigidamente definidas.29 A consciência de entrar num novo estágio 
da vida e as implicações do movimento de um estágio para o 
seguinte ficaram mais firmemente estabelecidas. 
As mudanças históricas do século passado, em particular a 
crescente rapidez na sucessão das transições e a introdução de 
transições publicamente reguladas e institucionalizadas, 
convergiram para isolar e segregar grupos de idade na sociedade 
mais ampla. Aomesmo tempo, esses casos geravam novas 
pressões sobre o momento e na seqüência das transições, dentro e 
fora das famílias. A principal mudança histórica ao longo do século 
passado foi de momentos e seqüências mais articulados às 
necessidades coletivas da família para momentos e seqüências 
mais individualizados. A temporalidade passou a ser mais regulada 
por normas específicas à idade que pelas necessidades coletivas da 
família. 
Mudanças na família 
Em épocas anteriores, a ausência de transições dramáticas 
para a vida adulta permitia uma interação mais intensa entre 
diferentes grupos de idade dentro da família e da comunidade, 
dando assim maior sentido de continuidade e interdependência a 
pessoas em diversos estágios da vida. Mas, à medida que a maior 
diferenciação entre os estágios da vida começou a se desenvolver, 
as funções sociais e econômicas se tornaram mais relacionadas à 
idade, aumentando a segregação entre os grupos etários. 
As principais mudanças que levaram ao isolamento das 
pessoas mais velhas na sociedade de hoje se enraízam não tanto 
 
29 MODELL, John, FURSTENBERG, Frank e HERSHBERG, Theodore. Social change 
and transitions to adulthood in historical perspective. Op.cit. 
Novas imagens do envelhecimento 
 32 
em mudanças na estrutura familiar ou nos arranjos residenciais, 
como em geral se tem afirmado, quanto na transformação e 
redefinição das funções e valores da família. Entre essas 
mudanças, a erosão de uma visão instrumental das relações 
familiares – e o resultante recurso à sentimentalidade e à 
intimidade como as principais forças de coesão na família – levou 
a um enfraquecimento da interdependência entre membros da 
família nuclear e seus demais parentes. As relações afetivas 
substituíram gradualmente as instrumentais. 
Essa mudança aconteceu primeiro na classe média, por 
volta da metade do século dezenove, mas afetou em seguida a 
classe trabalhadora e diversos grupos étnicos, à medida em que o 
conformismo crescente introduzia valores de classe média 
nas vidas da classe trabalhadora. Desde então, a ênfase 
na domesticidade e na criação dos filhos como principais 
preocupações da família de classe média – especialmente no papel 
das mulheres como guardiãs do retiro doméstico – tendeu a isolar 
as famílias urbanas de classe média da participação e influência de 
parentes mais velhos e outros familiares. A partir de 1830, essas 
famílias se tornaram ávidas consumidoras da literatura popular de 
conselhos sobre a criação de filhos, não porque os parentes mais 
velhos não estivessem disponíveis para oferecer tais conselhos, 
mas porque a orientação baseada na experiência pessoal e na 
tradição vinha sendo gradualmente posta de lado em favor da 
informação semi-profissional “empacotada”. Essa transição 
aumentou a perda de poder e influência dos mais velhos na 
família. 
A ideologia da domesticidade, que surgiu durante a primeira 
metade do século dezenove, também entronizou a privacidade 
como valor maior na vida familiar. O lar era glorificado como 
refúgio do mundo e, ao mesmo tempo, como centro especializado 
de criação dos filhos. Philippe Ariès resumiu sucintamente essa 
mudança na sociedade européia ocidental: 
 
Tamara K. Hareven 
 33 
A família moderna... se separa do mundo e opõe à 
sociedade grupos isolados de pais e filhos. Toda a energia 
do grupo é gasta em ajudar os filhos a subir na vida, 
individualmente e sem qualquer ambição coletiva: os filhos 
mais que a família.30 
 
Sob o impacto da industrialização, a família acabou 
deixando para outras instituições sociais muitas das funções 
previamente concentradas no lar. A retirada e crescente privatismo 
da moderna família de classe média levou ao estabelecimento de 
fronteiras mais estritas entre família e comunidade e intensificou a 
segregação dos grupos de idade dentro da família, levando à 
exclusão dos mais velhos de papéis familiares viáveis. A 
transferência de funções de bem-estar, outrora concentradas na 
família, para instituições na sociedade mais ampla contribuiu ainda 
mais para a segregação dos idosos. O cuidado dos membros 
dependentes, doentes, delinqüentes e idosos da comunidade, que 
era considerada parte da obrigação das famílias no período pré-
industrial, foi gradualmente transferido para instituições 
especializadas como asilos e reformatórios. A família deixava de 
ser a única fonte disponível de apoio a seus membros dependentes 
e a comunidade deixava de apoiar-se na família como principal 
agência de bem-estar e controle social.31 
Conclusão 
A caracterização dos idosos como “inúteis”, “ineficientes”, 
“não atraentes”, “temperamentais” e “senis” acompanhou a 
expulsão gradual de pessoas da força de trabalho aos 65 anos 
 
30 ARIÈS, Philippe. Centuries of Childhood... Op.cit. 
31 BREMNER, Robert H. From the Depths: The Discovery of Poverty in the United 
States. New York, New York University Press, 1956; ROTHMAN, David. The 
Discovery of the Asylum. Boston, Little, Brown, 1971. 
Novas imagens do envelhecimento 
 34 
desde o começo do século vinte. O desenvolvimento do que 
Erving Goffman chamou de “identidade deteriorada” ou que 
outros referiram como a “mística dos idosos” já começara a 
aparecer na literatura popular nos Estados Unidos ao final do 
século dezenove. O surgimento desses estereótipos negativos não 
deve ser considerado a causa do declínio imediato no status dos 
idosos, mas certamente refletia o início de uma tendência 
crescente a rebaixar os idosos na sociedade. 
Alguns autores atribuíram o surgimento de uma imagem 
negativa da velhice a um “culto da juventude” na sociedade norte-
americana, mas, embora exista uma conexão inegável, um fator 
não pode ser considerado causa do outro. A glorificação da 
juventude e o rebaixamento da velhice são dois aspectos de um 
processo muito mais complexo. Ambos resultam da crescente 
segregação dos diferentes estágios da vida – e dos grupos de idade 
correspondentes – na moderna sociedade norte-americana. 
As mudanças sócio-econômicas e culturais do século 
passado levaram gradualmente a uma separação do trabalho de 
outros aspectos da vida e a um abandono da predominância dos 
valores familiares em favor do individualismo e da privacidade. A 
legislação sobre o trabalho infantil e a educação compulsória até 
os 14 (ou 16) anos favoreceram a segregação dos jovens, cada vez 
mais a partir de meados do século dezenove.32 De modo 
semelhante, a expulsão gradual dos mais velhos da força de 
trabalho, no começo do século vinte, e o declínio em suas funções 
paternas, nos últimos anos da vida, tenderam a separá-los de seus 
descendentes. Uma das mudanças mais importantes a afetar os 
idosos, portanto, foi a crescente associação de funções com a 
idade e a formação de grupos etários segregados. Essa segregação 
por idade ocorreu primeiro na classe média e só mais tarde se 
expandiu para o resto da sociedade. 
 
32 BREMNER, Robert H. et alii. Children and Youths in America. Op.cit., 1971, vol. 
II. 
Tamara K. Hareven 
 35 
Essas mudanças afetaram cada um dos estágios da vida: 
resultaram na segmentação do curso da vida em etapas mais 
formais, em transições mais uniformes e rígidas de um período 
para o próximo e na separação dos vários grupos etários entre si. 
Os problemas dos idosos na sociedade norte-americana são, em 
certos aspectos, singulares, mas, em outros, refletem, em sua 
forma mais aguda, problemas experimentados por outros grupos 
de idade e também em outros estágios da vida.

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