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HIDRÁULICA (Aula 04) Sumário Condutos forçados ..................................................................... 1 1. Análise dos escoamentos .................................................. 2 1.1 Escoamento laminar .................................................. 2 1.2 Número de Reynolds ................................................. 6 1.3 Escoamento turbulento .............................................. 8 1.4 Fórmulas empíricas ................................................. 14 PROBLEMAS ........................................................................... 18 Referências bibliográficas ........................................................ 18 Condutos forçados Nesta aula serão apresentados os conceitos básicos da hidráuli- ca dos condutos forçados, seus métodos de análise, variáveis e soluções de problemas pertinentes. 2 1. Análise dos escoamentos Nesta seção serão apresentados os conceitos básicos sobre escoamento laminar e turbulento e sua relação com o número de Reynolds. 1.1 Escoamento laminar O balanço das forças em uma tubulação leva a dedução da equação 4.1. o ePH L A (4.1) Em que ΔH é a perda de carga entre os trechos 1 e 2 dos es- coamento (m); τo é a tensão de cisalhamento no contato líquido- parede do duto (N/m2); Pe é o perímetro da seção transversal ao fluxo (m); A é a área da seção transversal ao fluxo (m2), L é o comprimento do trecho do duto (m) e γ é o peso específico do fluido (N/m3). Na Engenharia Hidráulica, o perímetro que corresponde a linha de contato sólido-fluido recebe o nome de perímetro molhado e a razão da área da seção transversal por este é o raio hidráulico. Assim, a equação anterior pode ser rearranjada como na eq. 4.2. 3 o hR J (4.2) Em que Rh é o raio hidráulico (A/Pe, dado em m) e J é a perda de carga unitária (ΔH/L). Quando o escoamento é bem desenvolvido e predominam os esforços viscosos, diz que este é um escoamento laminar. Nesse caso, a equação de Newton para a viscosidade se aplica. Admitindo o escoamento ao longo de uma tubulação de seção circular e regular de raio R, tem-se que a 4.1 torna-se a eq. 4.3. H r 2L (4.3) Perceba que na eq. 4.3, τ é a tensão cisalhante para uma posição (r) qualquer do escoamento. Nos escoamentos lamina- res, em que predominam as forças viscosas, podemos igualar a eq. 4.3 com a Lei de Newton da viscosidade. A figura 4.1 mostra a relação entre a variável y (da lei de Newton) e um raio qualquer r no interior da tubulação. 4 Figura 4.1. Esquema de um volume de controle no interior de uma tubulação. Como y = R – y, temos, H dv H r dv rdr 2L dr 2 L o máx RR 2 v o máx v 0 0 H H r dv rdr v v 2 L 2 L 2 2 máx H R v 4 L A integral generalizada da equação anterior tem como resultado: 5 ov R 2 2 o v r H H R r dv rdr v v 2 L 2 L 2 2 2 máx 2 r v v 1 R (4.4) A eq. 4.4 descreve o perfil de velocidades presentes no escoamento laminar de um fluido em uma tubulação com seção transversal circular. A velocidade média é extremamente impor- tante para esses problemas. Pode-se obter esse parâmetro a partir da equação abaixo. vdA v A R RR 32 máx 2máx 2 0 00 2 2 rr 2 v rdr drv 1 2 r dr RR v R R 6 2 máx 1 H R v v 2 8 L Substituindo R por D na equação anterior, temos: 2H D v 32 L (4.5) Por simplicidade, a partir deste ponto, a velocidade média do es- coamento será designada apenas por v. 1.2 Número de Reynolds Podemos comparar a equação 4.5 com a equação geral da perda de carga para calcularmos o fator de atrito do duto. 2 2 32 Lv L v 64 H f f D D 2g vD (4.6) O número de Reynolds é definido como, e e vD 64 R f R 7 Portanto, existe uma relação linear entre o número de Reynolds e o fator de atrito para um escoamento laminar em regime permanente. Exercício 4.1: uma tubulação com 100 mm de diâmetro e um extensão de 460 m, transporta água entre dois reservatórios. O escoamento ocorre em regime uniforme, permanente e la- minar. A velocidade máxima é igual a 0,045 m/s. Adote μ = 0,001 Pa.s e g = 9,81 m/s2. Determine: a) A velocidade média do escoamento; b) A perda de carga entre os extremos da tubulação; c) O número de Reynolds e o fator de atrito do duto. a) máxvv 0,0225m s 2 b) 2 máx máx 2 3 2 4 v LH R v H 4 L R 4 10 0,045 460 0,0034m 3,4mm 9810 0,05 8 c) 3 e 3 vD 10 0,0225 0,10 R 2.250 10 e 64 f 0,028 R Como pode ser notado do exercício anterior, a perda de carga para os escoamentos laminares é muito pequena. Na prática, a perda de carga tende a ser bastante elevada, podendo alcançar metros ou até dezenas de métodos de coluna d’água. Não obs- tante, deve-se tomar muito cuidado ao aplicar as equações aqui deduzidas! 1.3 Escoamento turbulento O escoamento turbulento é mais complexo que o laminar. Fisicamente, a turbulência causa uma dispersão no fluido, o que pode ser notado visualmente (não se consegue individualizar claramente as linhas de corrente). Ao longo do último século diversos modelos e diagramas foram propostos para determinar as relações entre as variáveis do escoamento. Para os escoa- mentos turbulentos, em especial, torna-se importante definir a rugosidade (e) da tubulação. Os tubos podem ser perfeitamente 9 lisos ou rugosos, quando apre-sentam uma superfície interna irregular devido ao processo de fabricação, envelhecimento do tubo ou em decorrência da preci-pitação de reagentes químicos dissolvidos no fluido. Nikuradse definiu a rugosidade relativa do duto (e/D) e de- terminou o fator de atrito para dutos em diferentes condições, conforme apresentado na figura 4.2. O trabalho de Nikuradse de- monstra a validade da equação 4.6 para valores de Re < 2.300. Para os demais intervalos, tem-se: Tubos lisos (Von Kármán) e 1 2log R f 0,8 f (4.7) Tubos rugosos (Nikuradse) 1 D 1,74 2log 2ef (4.8) Tubos comerciais na zona de transição entre o escoamento hidraulicamente liso e rugosos (Colebrook e White) 10 e 1 e 2,51 2log 3,71Df R f (4.9) Figura 4.2. Harpa de Nikuradse (adaptado de CHADWICK, MORFFET E BORTHWICK, 2013). O diagrama de Moody (figura 4.3) também é bastante utilizado para se estudar as variáveis do escoamento turbulento. 11 Figura 4.3. Diagrama de Moody (adaptado de HOUGHTALEN, AKAN e HWANG, 2009). Obs.: NR = Re. Nas equações 4.7 e 4.8, f não pode ser explicitado e as equações devem ser resolvidas numericamente. Swamee-Jain propôs uma equação empírica (4.10). 12 2 0,9 e 0,25 f e 5,74 log 3,7D R (4.10) Para 10-6 ≤ e/D ≤ 10-2 e 5x103 ≤ Re ≤ 108 Exercício 4.2 (PORTO, 2006): Imagine uma tubulação de 4” de diâmetro, material aço soldado novo, rugosidade e = 0,10 mm, pela qual passa uma vazão de 11 L/s de água. Dois pontos A e B estão distantes 500 m um do outro e são tais que a cota piezométrica de B é igual a cota geométrica de A. Determinea carga de pressão disponível em A, assumindo que o escoamento se dá de A para B. A B A B P P z z H e B B A P z z → AP H 13 3 3 2 2 Q 11 10 m s v 1,4m s A 0,05 m → 3 5 e 3 vD 10 1,4 0,10 R 1,4 10 10 2 0,9 e 2 0,9 0,25 f 0,0217 e 5,74 log 3,7D R 0,25 0,10 5,74 log 3,7 100 140000 2 2 2 L v 500 1,4 H f 0,0217 10,83mH O D 2g 0,10 2 9,81 AP H 9810 10,83 106,33kPa 14 1.4 Fórmulas empíricas Existem diversas formulações matemáticas empíricas pa- ra o cálculo da perda de carga unitária em tubulações se seção circular. Essas equações, em geral, assumem, um formato como dado abaixo: n m Q J K D K, n e m são determinadas para cada formulação e respectiva faixa de aplicação (PORTO, 2006). A fórmula universal toma forma semelhante como na eq. 4.11. 2 2 5 f v fQ J 0,0827 D 2g D (4.11) Fórmula de Hazen-Williams 1,85 1,85 4,87 Q J 10,65 C D (4.12) Em 4.12, C (m0,367/s) é o coeficiente de rugosidade e depende do tipo da tubulação. A eq. 4.12 é adequada para: (1) 15 escoamento turbulento de transição; (2) água a 20 oC; D ≥ 4”; (3) sistemas de abastecimento de água e recalque. Fórmula de Fair-Whipple-Hsiao: (a) Aço galvanizado novo (água fria) 1,88 4,88 Q J 0,002021 D (4.13) (b) PVC rígido (água fria) 1,75 4,75 Q J 0,0008695 D (4.14) Essas formulações são recomendadas pela ABNT para projetos de instalações hidráulico sanitárias. Exercício 4.3: uma tubulação (ϕ = 300 mm) com 210 m de extensão transporta 18 L/s de água fria entre dois reserva- tórios. Estime e compare os valores de perda de carga unitária a partir das equações 4.11 a 4.14 para: (a) uma tubulação de 16 aço galzanizado (C = 125); (b) um tubo de PVC (C = 150). Assuma viscosidade dinâmica da água é 10-3 Pa.s. Solução: 1. Cálculo da velocidade média de escoamento 3 3 2 Q 18 10 m s v 0,255m s 0,300A 4 2. Cálculo do número de Reynolds e 3 vD 1000 0,255 0,300 R 76500 10 3. Cálculo do fator f para um tubo liso 2 0,9 0,25 f 0,0189 5,74 log 76500 4. Cálculo da perda de carga pela equação universal 2 2 4f v 0,0189 0,255J 2,088 10 D 2g 0,300 2 9,81 5. Cálculo da perda de carga com a equação 4.12 (aço) 17 1,85 3 4 1,85 4,87 18 10 J 10,65 2,93 10 125 0,300 6. Cálculo da perda de carga com equação 4.13 (aço) 1,88 3 4 4,88 18 10 J 0,002021 3,78 10 0,300 7. Cálculo da perda de carga com a eq. 4.14 (PVC) 1,75 3 4 4,75 18 10 J 0,0008695 2,34 10 0,300 8. Cálculo da perda de carga com a eq. 4.12 (PVC) 1,85 3 4 1,85 4,87 18 10 J 10,65 2,09 10 150 0,300 ΔH (4) ΔH (5) ΔH (6) ΔH (7) ΔH (8) 4,4 cm 6,15 cm 8 cm 5 cm 4,4 cm 18 PROBLEMAS 01. No exercício 4.1, determine a posição relativa da velocidade média no interior do escoamento. 02. Calcule a perda de carga unitária para a tubulação estudada no exercício 4.2. 03. No exercício 4.2 determine a pressão A caso o sentido do escoamento fosse invertido. 04. Cheque se o valor do fator de atrito calculado para o exercício 4.2 concorda com o valor apresentado no diagrama de Nikuradse. 05. Assuma no exercício 4.2 que a tubulação sofre um estreita- mento brusco imediatamente antes do ponto B e determina a pressão no ponto A. 06. Repita o exercício 4.3 admitindo uma vazão de 600 ℓ/s, diâmetro da tubulação igual a 500 mm e extensão total de 1km. Referências bibliográficas CHADWICK, A.; MORFETT, J.; BORTHWICK, M. Hydraulics in Civil and Environmental Engineering. 5.ed. Boca Raton: CRC Press, 2013. 19 FERNANDEZ, M. F.; ARAÚJO, R.; ITO, A. E. Manual de Hidráulica Azevedo Netto. 8.ed. São Paulo: Blucher, 1998. GRIBBIN, J. E. Introduction to Hydraulics and Hydrology: with applications for stormwater management. 4.ed. New York: Cengage Learing, 2014. HOUGHTALEN, R. J.; AKAN, A. O.; HWANG, N. A. C. Fundamentals of Hydraulic Engineering Systems. 4.ed. Boston: Prentice Hall, 2009. PORTO, R. M. Hidráulica Básica. 4.ed. São Carlos: EESC-USP, 2006.
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