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1 SOCIOLOGIA APLICADA SOCIOLOGIA APLICADA Graduação SOCIOLOGIA APLICADA 55 U N ID A D E 5 A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA Nesta unidade, examinaremos o processo de globalização que se desenvolve entre nós e suas repercussões nas áreas econômica, política e cultural. OBJETIVO DA UNIDADE: Caracterizar o processo de globalização, avaliando suas conseqüências no contexto sócio-político-econômico e cultural. PLANO DA UNIDADE: • O fenômeno da globalização • Um estudo sobre os primórdios da globalização • As conseqüências do processo de globalização Bons estudos! 56 UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA O FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO O assunto que vamos estudar agora é muito comentado em revistas, jornais e livros, pois se trata de um tema bastante atual e polêmico. Contudo, tentaremos esclarecê-lo abordando-o passo a passo. O fenômeno da globalização vem se fazendo presente na atualidade de forma avassaladora, se expandindo a cada dia, alterando estruturas políticas, econômicas, jurídicas e ideológicas. O panorama nacional e internacional ganha novos perfis, uma vez que, as negociações transnacionais com empresas que aplicam seus capitais nos mercados que mais lhes ofereçam vantagens, crescem vertiginosamente. Esse fato é possível, pois a tecnologia, as comunicações e a economia fazem do planeta uma unidade cada vez mais entrelaçada, complexa e inter- relacionada, como afirma Leslie Sklair (1995, p.14): Historicamente, a sociedade mundial se tornou uma idéia acreditável somente nos últimos séculos e a ciência, a tecnologia, a indústria e os valores universais estão produzindo um mundo do século XX que difere de qualquer épocas passadas. O estudioso no assunto John Naisbitt (1983) chamou a atenção para um fato muito importante, pois observou que ao invés do que pensava Marshall McLuhan que seria a televisão que faria do mundo uma “aldeia global”, na verdade foram os satélites que a princípio estavam voltados para as pesquisas espaciais, que realmente propiciaram esse fato. UM ESTUDO SOBRE OS PRIMÓRDIOS DA GLOBALIZAÇÃO Mas o que é globalização? Quando este fenômeno começou? Tentaremos responder a essas perguntas nesse item, mas precisaremos recorrer aos conhecimentos de várias ciências, pois esse fenômeno vem desafiando os diversos saberes, e, conseqüentemente, não encontraremos um conceito único para o tema e nem tão pouco uma data ou época precisas. Ainda mais por se tratar de um assunto estudado pelas ciências sociais que são, na sua essência, questionadoras, proporcionando pontos de vistas diferentes entre os estudiosos do assunto. Enquanto que para alguns autores a globalização se iniciou desde o século XV com as Grandes Navegações, pois a partir daí a Europa tomou conhecimento de outros povos e nações do mundo como um todo e o capitalismo encontrou assim as possibilidades de seu desenvolvimento, para outros a globalização é um processo nítido que teve início no século passado (século XX) através da comunicação via satélite, o que propiciou uma transformação na sociedade como destaca NAISBITT (1983, p.12): (...) 1957, marca o começo da globalização, da revolução da informação. Os soviéticos lançam o Sputnik – o catalisador tecnológico que faltava numa crescente sociedade de informação. A real importância não vem do fato de ter se iniciado a era espacial – iniciou-se a era da comunicação global por satélite. Aldeia global – termo criado por Marshall McLuhan com a inten- ção de demonstrar que com a utilização da televisão o mun- do todo faria parte de uma mes- ma sociedade. 57 SOCIOLOGIA APLICADA Portanto, observando por esta perspectiva, a globalização é um fenômeno típico da segunda metade do século XX que estabeleceu a crescente inter-relação das economias e das sociedades dos vários países, tanto no que diz respeito à circulação de mercadorias e serviços quanto aos mercados financeiros e de informações e que vem se desenvolvendo até hoje. Segundo outros autores, a globalização surgiu a partir da queda do bloco socialista e o conseqüente fim da Guerra Fria (entre 1989 e 1991), como esclarece IANNI ( 1997, p.219): (...) Emerge de forma particularmente evidente, em suas configurações e em seus movimentos, no fim do século XX, a partir do desabamento do mundo bipolarizado em capitalismo e comunismo (...) A globalização também é considerada como uma fase do desenvolvimento do capitalismo, ou seja, assim como o colonialismo esteve para a sua etapa comercial e o imperialismo para sua fase industrial e inicio da financeira, está a globalização para a fase científico-tecnológica do capitalismo. Verificamos também que essa fase é uma expansão que tem por objetivo aumentar os mercados e conseqüentemente os lucros da classe dominante. Desta forma, a globalização rompe fronteiras geográficas e históricas se consolidando a cada dia, como podemos observar nos estudos de IANNI (1997, p.221): Na base da ruptura que abala a geografia e a história no fim do século XX está a globalização do capitalismo. Em poucas décadas, logo se revela que o capitalismo se tornou um modo de produção global. Está presente em todas as nações e nacionalidades, independente de seus regimes políticos e de suas tradições culturais ou civilizatórias. Aos poucos, ou de repentemente, as forças produtivas e as relações de produção organizadas em moldes capitalistas generalizam-se por todo o mundo. Mas apesar dessa expansão da globalização ter sido vertiginosa, isto não quer dizer que tenha sido de forma linear e sem resistências. Encontramos, no decorrer desse processo, avanços e recuos, como esclarece HAESBAERT (1998, p.14): Se retornarmos no tempo, verificaremos que, na identificação de fases ou “ondas”, o capitalismo apresentou avanços e recuos em sua dinâmica competitiva, imperialista e globalizadora, não só pela natureza contraditória de sua reprodução como também pela interferência, mais ou menos intensa, dos trabalhadores (organizados em sindicatos, por exemplo) e do Estado (...) A sociedade global deixou de ser imaginária e se tornou uma realidade econômica, política e social, tendo conseqüências marcantes no campo cultural, pois alterou as condições de vida e de trabalho de muitas pessoas. 58 UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA No passado, as inovações tecnológicas atingiram a sociedade agrária dando lugar ao desenvolvimento do setor industrial, a mão de obra se transferiu para a área urbana. Hoje, as novas tecnologias, ligadas ao setor da informação e da microeletrônica atingem o setor industrial, aumentando a sua produção e destruindo milhões de empregos. Entretanto, como podemos observar, há uma mudança nos empregos, como afirma MAGNOLI et al (1997, p.24): Nas duas últimas décadas, a diminuição de empregos industriais nos países ricos foi parcialmente compensada pela criação de empregos no setor de serviços. Nos países do G7 (os sete países economicamente mais poderosos do planeta: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália e Canadá), entre 1974 e 1994, registraram-se treze anos de redução de empregos no setor secundário: no mesmo período os serviços ampliaram continuamente os seus postos de trabalho (...) Surge então, a sociedade de informação ou a sociedade pós-moderna como chamou Daniel Bell sociólogo de Harvard. Atualmente, muito mais trabalhadores lidam com a informação do que dentro de fábricas. Muito mais pessoas gastam o seu tempo criando, processando ou distribuindo informações. E o que caracteriza uma sociedade, como já vimos em outras unidades, é justamente o modo como se organiza o trabalho. Portanto, a sociedade hoje é chamada de sociedadede informação, pois passou a sociedade industrial em números de trabalhadores (Naisbitt, 1983). Da mesma forma que a rede de transportes levou os produtos da industrialização, a rede de comunicação está levando agora os novos produtos da sociedade da informação. AS CONSEQÜÊNCIAS DO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO. O fenômeno da globalização vem desafiando os estudiosos quanto as suas conseqüências. Apesar de seu aspecto econômico ter sido enfatizado, outras ciências, como já foi dito anteriormente, também vêm estudando esse processo. A cada dia são promovidos seminários, encontros, palestras de avaliação e previsão de suas conseqüências. O interesse dispensado ao tema pelas universidades e pela imprensa, já demonstra que este se trata de um assunto que gera polêmicas e conflitos. Delineiam-se, desta forma, dois grupos de análises: os que são a favor e os que são contra a globalização, FLORIANI (2004). GLOBALIFÓLICOS GLOBALIFÍLICOS Grupo que critica a globalização Grupo que defende a globalização O grupo contrário à globalização critica a idéia de que este fenômeno promove a interdependência entre os países e as regiões, aproximando-os e propiciando o desenvolvimento. Acredita, este grupo, que a unilateralidade 59 SOCIOLOGIA APLICADA do poder das nações mais ricas em busca da hegemonia do mercado é que acaba prevalecendo, ou seja, essas nações é que ditariam sempre as regras para as nações mais pobres. Além de destacarem que as nações mais ricas possuem o domínio da tecnologia e que hoje a distância entre os países ricos e os países pobres é cada vez maior do que no passado. Já para o grupo que a defende, a globalização desfaz fronteiras e o mundo passa a ser um todo regido por regras e práticas comuns, que devem ser adotadas por todos. Nessa abordagem, muitas são as vantagens advindas da globalização, pois um mercado sem limites entre as nações, que possui liberdade e se auto- regulariza é a base ideal para o desenvolvimento pleno do Neoliberalismo. Também, o Estado se livra de suas responsabilidades públicas, diminuindo sua participação nas ações sociais destinadas a garantir o desenvolvimento da população, deixando essas atribuições para as empresas particulares. É a política do Estado Mínimo. Conseqüentemente, os Estados-Nacionais transformarão seus perfis adotando novas formas e funções possibilitando a formação de uma gestão mundial, como prevêem alguns cientistas políticos. Entretanto, o processo de globalização vem recebendo severas críticas desde as últimas crises no mercado financeiro internacional e também a partir do elevado crescimento dos níveis de pobreza e de exclusão social. Um outro aspecto apontado é que a globalização não está conseguindo uniformizar os gostos, os padrões culturais como era previsto, pois os seus benefícios não são para todos os cidadãos como já foi dito acima. Grande parte da população não consegue se inserir nesse processo ficando assim excluída. Diante desses fatos, adverte FLORIANI (2004, p.54) que: Como pano de fundo, dois cenários parecem desafiar os contendores: por um lado, o economicismo do Fórum Econômico (Davos-Nova York) que não só propugna por mais globalização dos mercados, do comércio, mas considera a única saída viável para o planeta; por outro, o Fórum Social Mundial (de Porto Alegre) que se coloca na resistência do processso, com os mais diferentes matizes, mas com uma grande coincidência de oposição ao neoliberalismo globalizante. Além dos riscos econômicos, sociais e culturais, Giddens e Beck (In: Floriani, 2004) apontam como o maior problema da sociedade mundial o risco global, em especial o risco ecológico proveniente, dentre outros, da crescente desigualdade entre as regiões e países. Hegemonia – dominação e di- reção exercidas por uma clas- se social dominante. Neoliberalismo – Fase atual do capitalismo que prega a liber- dade total de transações co- merciais sem a interferência do Estado. Estados-Nacionais – Surgiram na Europa renascentista quan- do as monarquias absolutistas empreenderam a centralização do poder político, destruindo assim o poder local dos senho- res feudais. 60 UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA MAS SERÁ QUE ESSE PROCESSO É IGUAL EM TODOS OS PAÍSES? Apesar de falarmos sempre em um processo de globalização, os sociólogos advertem que existem vários processos de globalização, que este fenômeno é plural, isto é, cada realidade compõe o processo de globalização de forma diferente. Portanto, existem vários processos de globalização distintos para cada realidade, ou seja, cada país, dependendo da sua posição no capitalismo (país central ou periférico), viverá este processo de maneira particular. Quanto às influências culturais, os antropólogos assinalam que cada realidade incorporará os elementos importados de outros países de acordo com sua realidade, ou seja, a homogeneização cultural seria impossível na medida em que cada grupo social incorporasse nesses elementos as suas vivências locais recriando-os. Segundo Huntington (1998) os conflitos que surgirão nas próximas décadas entre as nações serão de ordem cultural, pois estas questões gerarão os maiores conflitos no mundo contemporâneo. O choque entre as diferentes civilizações dominará a política global. TERIA O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO ATINGIDO TAMBÉM A ÁREA EDUCACIONAL? Podemos afirmar que sim, pois nesse contexto constatamos mudanças nos processos de produção das mercadorias, nos perfis dos trabalhadores, nas relações de trabalho e nos hábitos de consumo que necessariamente terão repercussões no terreno educacional, exigindo novas necessidades de qualificação e requalificação profissional. Muitas são as idéias que surgem desse processo, uma delas é a de que o estudante será cada vez mais independente e autodidata, podendo aprender sozinho através de suas pesquisas e o professor não será mais um transmissor de conteúdos em uma escola formal, mas um orientador em uma escola virtual. Os estudiosos no assunto enfatizam que a escola atual não está atendendo as necessidades de uma sociedade em transformação, pois a mesma não está conseguindo acompanhar a evolução tecnológica. Em contrapartida, assinalam que a escola também é uma formadora de valores essenciais para o convívio humano, valorizando o seu papel na educação. Faz-se necessário que a escola atenda as demandas do século XXI seja criada, com novos currículos, metodologias e dinâmicas educativas próprias que enfrentem o futuro. Essas mudanças seriam resultantes de novos objetivos advindos dessa visão de mundo. Uma escola onde exista a crítica 61 SOCIOLOGIA APLICADA das informações e a produção do conhecimento. Onde os estudantes saibam encontrar a informação, seja nas aulas, na biblioteca, no computador, e diante dessa informação saibam reelaborá-la criticamente. Os veículos de informação, tais como: a televisão, o vídeo, o computador, o cinema não poderão mais ser ignorados, pois eles também são veículos de aprendizagem. Cabe ao professor ensinar ao aluno a processar essas informações, ou seja, dar significado a elas. Outros paradigmas de ensino-aprendizagem surgirão para atender esse novo processo. Os professores, segundo Libâneo (1998), deverão desenvolver comportamentos éticos e saberem orientar os alunos em valores e atitudes em relação à vida, ao ambiente, às relações humanas e a si próprios. Estamos cientes de que com esta unidade não esgotamos o assunto, mas esperamos que você tenha aprendido um pouco sobre o processo de globalização que, como vimos, é muito complexo. LEITURA COMPLEMENTAR: NAISBITT, J. Megatendências. As dez grandes transformações que estão ocorrendona sociedade moderna. Edição. São Paulo: Abril, 1983. SKLAIR, L. Sociologia do sistema global. Trad. de Reinaldo Orth. Edição. Rio de Janeiro: Vozes, 1995. IANNI, O. Sociedade e linguagem. Edição. Campinas: Editora da UNICAMP, 1997. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Na próxima unidade, iremos estudar alguns dos conceitos e expressões muito utilizadas no campo da Sociologia.
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