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Hegel e a dialética 
Aula 6 
Prof.: John Luiz Baytack 
Hegel (1770-1831) foi um filósofo alemão formado pela Tübinger Stiff (grande salão de 
residência e de ensino da igreja evangélica luterana de Württemberg, localizado na cidade 
universitária de Tübingen). 
É considerado um dos mais influentes filósofos do século XIX e que leva a cabo a vertente 
idealista da filosofia (compondo, ao lado de Immanuel Kant e Johann Fichte, o imponente 
Idealismo alemão). Empreendeu o último grande sistema filosófico do qual diversos 
pensadores se contrapuseram e outros aderiram. 
Compõem o primeiro seguimento filósofos como Friedrich Schelling (1775-1854), Arthur 
Schopenhauer (1788-1860), Søren Kierkeggard (1813-1855) e Friedrich Nietzsche (1844-
1900). 
No segundo seguimento, podemos citar Ludwig Feuerbach (1804-1872), Karl Marx (1818-
1883), Jacques Lacan (1901-1981), Alexandre Kojéve (1902-1968) e Jean-Paul Sartre (1905-
1980). 
Hegel viveu no período da grande Revolução Francesa (1789-1799), que foi um período de 
intensa agitação política e social na França. Essa Revolução teve um impacto duradouro na 
história do país e, mais amplamente, em todo o continente europeu. A monarquia absolutista 
que tinha governado a nação durante séculos entrou em profundo colapso em apenas três 
anos. A sociedade francesa passou por uma transformação épica, quando privilégios feudais, 
aristocráticos e religiosos evaporaram-se sobre um ataque sustentado por grupos políticos 
radicais de esquerda, das massas nas ruas e de camponeses na região rural do país. Antigos 
ideais da tradição e da hierarquia de monarcas, aristocratas e da Igreja Católica foram 
abruptamente derrubados pelos novos princípios de Liberté, Égalité, Fraternité. 
Aos 37 anos Hegel publica Fenomenologia do espírito (1807), que se chamaria “Ciência da 
experiência da consciência”. Segundo Henrique Vaz (2002, p. 11), a intenção desse filósofo 
com essa obra é “articular com o fio de um discurso científico – ou com a necessidade de uma 
lógica – as figuras do sujeito ou da consciência que se desenham no horizonte de seu 
afrontamento com o mundo objetivo”. 
Segundo Vaz (2002), Fenomenologia do espírito é a resposta original à grande aporia 
transmitida pela Crítica da razão pura ao Idealismo alemão. Esta aporia se formula como 
cisão entre ciência do mundo como fenômeno, obra do Entendimento, e o conhecimento do 
absoluto ou incondicionado – da Coisa-em-si – que permanece como ideal da Razão. 
Fenomenologia: conforme sua proposta inicial, por fenomenologia podemos entender a 
ciência que estuda logicamente o fenômeno no interior de um processo histórico e dialético e 
que inclui a dimensão absoluta do saber, rejeitada por Kant. 
Dialética: utilizada por pensadores desde a Grécia Antiga (como Heráclito), passando por 
Sócrates e muitos outros, que a utilizaram em suas filosofias, ou a criticaram como Kant, a 
dialética foi por Hegel particularmente situada como o processo pelo qual oposições (tese e 
antítese) podem sintetizar-se na formação do saber absoluto. 
Espírito: Geistes foi o termo escolhido por Hegel para designar “consciência”, “mente”, 
“razão” e também “a vida ética de um povo”, o que confere a esse conceito um amplo escopo 
de análise que abre as vias para as pesquisas de Karl Marx e Friedrich Engels. 
Dialética do Senhor e do escravo 
É no capítulo 6, intitulado O espírito, que Hegel apresenta a dialética cujo modelo concebido 
por ele próprio lhe serve para transmitir o começo da história, o qual remonta às relações 
humanas (intersubjetividade). 
Para Hegel a história humana começa quando se enfrentam dois desejos, duas consciências 
desejantes. 
consciência desejante < -------- > consciência desejante 
Necessidade: é uma propriedade que não se restringe ao humano, pois se estende aos animais 
e às plantas. A necessidade relaciona-se a coisas (“coisas naturais”). Os humanos, os animais 
e as plantas necessitam imprescindivelmente de água para viverem. 
Desejo: em contrapartida, não podemos dizer o mesmo em relação ao desejo. Esse se 
restringe exclusivamente aos homens. O desejo suplanta a necessidade. O desejo deseja 
desejos. Em outras palavras, o desejo do homem deseja o desejo de outro homem; deseja que 
o outro lhe reconheça como seu senhor. Os animais não desejam, eles necessitam de coisas 
para satisfazerem suas necessidades. 
Hegel destaca a consciência da imanência, da interioridade para a qual a levaram os idealistas 
que lhe precederam como Descartes e Kant, para externá-la como desejo. A consciência é 
desejo. 
Luta de morte: a dimensão do desejo é solidária de uma dialética que se desenrola em uma 
luta de morte na qual o desejo do homem deseja ser reconhecido pelo desejo de outro homem. 
Ambos desejam ser reconhecidos como senhor decorrendo daí um enfrentamento. Eu desejo 
que o desejo do outro me reconheça como senhor. O outro também deseja que meu desejo o 
reconheça como senhor. Nesse processo as duas consciências sabem que se estende uma luta 
de morte. A resolução desse enfrentamento dialético torna-se inevitável uma vez que um dos 
dois tem medo: medo da morte. Essa dialética leva a cabo a morte de um dos dois. O medo da 
morte suplanta o desejo, antepõe-se ao seu desejo. É mais forte o temor a morrer que o desejo 
de ser reconhecido pelo desejo do outro. 
Aquele cujo desejo é mais forte que o medo da morte torna-se o senhor. O que o medo da 
morte é mais forte que o desejo é o escravo. 
O senhor é a figura que triunfa sobre o medo da morte ao não ceder do seu desejo. O escravo, 
em contrapartida, é aquele cujo medo da morte suplanta seu desejo de ser reconhecido. 
É com base nessa luta de morte que Hegel localiza o início da história humana. No entanto, 
essa diferença traz um impasse, pois, ao senhor impõem-se uma intensa insatisfação, uma vez 
que aquele que o reconhece em seu desejo como senhor, já não é mais um sujeito desejante, 
mas alguém que tem medo de morrer: um escravo. Essa luta empreendida que leva a cabo o 
reconhecimento de um como senhor torna esse senhor insatisfeito. O escravo será aquele que 
por medo da morte se porá a trabalhar para o senhor confinando esse à passividade, ao ócio e 
ao gozo. O escravo, devido à submissão ao senhor, trabalhará sobre a matéria e a partir dela 
construirá a cultura. A cultura é o efeito exercido pelo trabalho do homem (escravo) sobre a 
matéria, sobre a natureza. É o escravo quem transforma a matéria, a natureza em cultura. 
A história humana é feita pelo trabalho do escravo. E esse descobre que sua relação com o 
trabalho é criativa e essa criatividade faz com que descubra ser mais humano que o senhor. 
É nesse âmbito que se situa a possibilidade da liberdade do escravo. E ao senhor destina-se o 
confinamento ao ócio, à passividade e ao gozo. Com seu trabalho, o escravo transforma o 
senhor em um animal, transforma-o naquele que necessita de coisas. 
Os três tempos da dialética: 
Afirmação (tese): as duas consciências desejantes. 
Negação (antítese): a negação de uma das consciências desejantes. 
Negação da negação (síntese): a negação da negação da consciência do senhor. 
O filme “A comilança”, do diretor italiano Marco Ferreri, que data de 1974, retrata o 
movimento dialético proposto por Hegel. 
Quatro personagens da alta burguesia se isolam numa farta mansão e se propõem a comer até 
morrer. 
Uma possível interpretação desse filme é que o escravo prepara a comida para a burguesia 
comer e essa comerá tanto que morrerá. Os quatro personagens vão comendo excessivamente 
até morrer aos poucos, um a um. 
Depreende-se do filme que o senhor vai morrer comendo, intoxicado com sua própria comida. 
Entretanto, o que vemos é que a burguesia segue comendo e não morre. Ao contrário, são os 
pobres, os escravos que morrem porque não comem. 
O proletariado não enterrou a burguesia como Marx haviadiagnosticado. Ao contrário, é a 
burguesia que está enterrando o proletariado. A burguesia segue enquanto os pobres, 
proletariados, os excluídos do sistema, morrem porque não comem. 
Esse raciocínio torna-se relevante para pensarmos o tema da saúde mental, de políticas de 
redução da maior idade penal, da exclusão da diferença, da redução simplista ancorada 
perspectivas fundamentalista no debate sobre a questão do gênero etc.

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