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Dissertação sobre o filme "Tempo de Matar"
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Publicado por Thiago Husai
ano passado
2.156 visualizações
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho foi desenvolvido a partir de uma avaliação do filme “Tempo de Matar” de Joel Schumacher, onde sua história apresenta várias violações aos direitos fundamentais em uma sociedade ainda marcada, principalmente, pelo racismo. São apresentados e conceituados os direitos fundamentais feridos no filme, mostrando também como deveria ser a aplicação correta do direito no enredo sob análise. Destaca-se que os Direitos Fundamentais estão previstos e garantidos pela nossa Constituição Federal de 1988, entretanto são baseados em direitos universais, mais precisamente na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.
É feita uma breve análise sobre o racismo e como esse crime exemplifica o ferimento de um dos principais direitos fundamentais, a igualdade. Ainda é apresentada uma avaliação de possíveis formas de a legislação brasileira ser aplicada no caso concreto apresentado no filme.
2 HISTÓRICO DO FILME
O filme Tempo de Matar conta a história de Carl Lee Hailey, um negro que vive na cidade de Canton, no Mississipim onde a sociedade ainda é muito marcada pelo racismo. Em dado momento, Carl Lee tem sua filha de dez anos espancada e estuprada por dois indivíduos brancos e racistas. Os dois acabam sendo presos e levados a justiça, porém a sentença seria o pagamento de fiança. O pai da garota então chega ao tribunal no momento em que seria decretado o valor da fiança e começa a atirar contra os dois, vindo a matá-los, além de ferir um policial que fazia a escolta. Carl Lee é preso imediatamente e contrata o advogado Jake Tyler Brigance para sua defesa, porém Jake e uma estudante de direito o ajudam, e em razão disso se tornam inimigos de um grupo racista da cidade que não concorda com o fato de que eles defendam um negro que matou dois cidadãos brancos.
Como analisa Elton Kenso Abe[1], o filme demonstra que o advogado da defesa enfrenta muita dificuldade para convencer os jurados em sua oratória e, por isso, parte para outro lado de oratória a fim de convencer os jurados a analisarem o caso sem preconceitos:
O advogado de defesa parte para outro lado na oratória, um lado sentimental, deixando de lado os argumentos jurídicos e partindo para o principio da emoção, ele narra todo acontecimento do estupro da filha do acusado, enriquecendo os detalhes do ocorrido, porém, no momento final, ele pede que os jurados imaginem a menina como sendo de etnia branca, ganhando totalmente a comoção dos jurados [...]. (ABE, 2010).
3 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Os direitos fundamentais são preceitos que norteiam os demais direitos e são bases para um convívio social onde exista o mínimo de respeito à dignidade. De igual sentido esclarece Joaquim Carlos Salgado (1986, p. 9/10) que Direitos Fundamentais são aqueles, “matrizes de todos os demais; são direitos sem os quais não podemos exercer muitos outros. São os direitos fundamentais, direitos que dão fundamento a todos os demais”.
Deste modo percebemos que os direitos fundamentais devem ser os primeiros a serem conservados, uma vez que a ausência destes comprometeria toda legislação vigente. Por se tratar de norma básica para o convívio em sociedade, os Direitos Fundamentais devem ser estabelecidos para “todos os homens, em todos os tempos e em todos os lugares”, conforme José Carlos Vieira de Andrade (1976). Por esse motivo a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou em 10 de dezembro de 1948 a chamada Declaração Universal dos Direitos Humanos, que em seu artigo I se lê o seguinte texto:
Artigo I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.
A mesma declaração expressou em seu artigo II:
Artigo II - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
Roosevelt se referiu à Declaração Universal dos Direitos Humanos como a "Carta Magna internacional para toda a Humanidade”. É visível que a principal preocupação da legislação mencionada é que ela tenha alcance igualitário em qualquer sociedade. Esta é a ideia que desenvolve o roteiro do filme, uma vez que na cidade onde ocorre o enredo não existe igualdade de direitos fundamentais, sendo assim, o filme apresenta uma das práticas que melhor exemplifica tal desigualdade: o racismo.
4 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
A Constituição Federal da República do Brasil de 1988 teve como base a Declaração Universal dos Direitos Humanos, já mencionada. Nossa Constituição garante os principais direitos fundamentais em seu Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais, sendo que a maioria desses direitos estão elencados em seu artigo 5º, que expressa em seu caput:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...].
Conforme exposto, a Legislação Brasileira também visa garantir a igualdade de direitos. Como descrito anteriormente, o enredo do filme se dá em uma sociedade predominantemente racista, que não respeita a garantia igualitária de direitos.
O direito brasileiro condena a distinção por raça ou cor e criou uma lei própria para tratar o crime de racismo. A Lei nº 7.716, que foi sancionada em de 05 de janeiro de 1989 para definir os crimes de preconceito de raça ou de cor e estabelece em seu artigo 1º:
Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Além de estabelecer os casos em que serão definidos como práticas racistas, essa lei tornou mais rigorosa a punição por esses atos. A legislação brasileira define o crime de racismo como imprescritível e inafiançável, podendo o autor ser condenado a pena de até cinco anos de reclusão e multa (a depender da hipótese).
É preciso destacar que no filme ocorre tanto o crime de preconceito racial quanto o de injúria racial, ambos condenados pelo ordenamento jurídico brasileiro. Conforme Paulo Renato Guedes Bezerra[2], entre as diferenças de cada um dos dois crimes, estão as seguintes:
o crime de racismo é imprescritível e inafiançável, enquanto que o de injúria racial o réu pode responder em liberdade, desde que pague a fiança, e tem sua prescrição determinada pelo art. 109, IV do CP em oito anos;
o crime de racismo, em geral, sempre impede o exercício de determinado direito, sendo que na injúria racial há uma ofensa a pessoa determinada;
o crime de racismo é de ação pública incondicionada, sendo que a injúria racial é de ação penal privada (há quem defenda ser condicionada à representação);
enquanto que no crime de racismo há a lesão do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, no crime de injúria há a lesão da “honra subjetiva da vítima”.
Deve ser destacado o fado de que no filme, a princípio, são garantidos a Carl Lee todos os direitos relativos ao acesso à justiça (direito a defesa, direito ao contraditório e ampla defesa, etc.). Porém os jurados formam sua opinião baseados no preconceito racial que têm, uma vez que não precisam justificar seus votos. Este fator subjetivo torna difícil a comprovação de discriminação racial por parte dos jurados.
Assim como no filme, muitas situações, onde a pessoa tem o poder de decisão sem precisar justifica-la, tornam difícil a comprovação da existência do crime de racismo.
4.1 Legislação Brasileira no Julgamento
O ponto que desperta maior curiosidade no filme é o resultado final do julgamento de Carl Lee. Toda situação passada pelo protagonista e toda situação da cidade racista em que ele vive acabam por deixardúvida sobre como ele seria julgado.
Cesare Beccaria[3] (2006, p.60) destacou que “para que uma pena realize o seu fim basta que o seu mal não ultrapasse o que o bem nascido do crime produziu”. O bem nascido do crime de homicídio praticado por Carl Lee foi somente a vingança pelo estupro de sua filha, sendo que com isso defenderia sua moral. O direito brasileiro adota circunstâncias atenuantes e agravantes para se realizar a dosimetria da pena. O fato de Carl Lee ter agido em decorrência de uma situação que feriu sua moral, se amoldando na atenuante prevista no Artigo 65 do Código Penal Brasileiro, onde se lê:
Artigo 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
III - ter o agente:
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;
De igual modo o parágrafo primeiro do artigo 121, também do Código Penal, define o seguinte caso de diminuição de pena:
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Não há dúvidas de que o estupro de uma filha é motivo relevante a moral de um pai, entretanto, o que dificultou essa comprovação foi o fato do autor ser negro em uma sociedade extremamente racista. O júri não conseguia visualizar a moral ferida, uma vez que não enxergavam os negros como pessoas que também possuem moral própria. De igual modo o ato de Carl Lee também podia ser interpretado como de relevante valor social, uma vez que o estupro é um crime que gera revolta popular, ainda mais quando praticado contra criança. Destaca-se a diferença entre o valor social e valor moral de acordo com Cezar Roberto Bitencourt (2003):
Motivo de relevante valor social é aquele que tem motivação e interesse coletivos, ou seja, a motivação fundamenta-se no interesse de todos os cidadãos de determinada coletividade; relevante é o importante ou considerável valor social, isto é, do interesse de todos em geral, ao contrário do valor moral, que, em regra, encerra interesse individual. Age impelido por motivo de relevante valor social quem mata sob a pressão de sentimentos nobres segundo a concepção da moral social, como, por exemplo, por amor à pátria, por amor paterno ou filial etc. [...] Relevante valor moral, por sua vez, é o valor superior, engrandecedor de qualquer cidadão em circunstâncias normais.
A legislação brasileira procura avaliar todo o enredo do fato criminoso visando aplicar a lei com o máximo de justiça. Para isso estabeleceu no artigo 59 do Código Penal o seguinte disposto:
Artigo 59 – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.
Ressalta-se que de acordo com a legislação brasileira seria impossível à absolvição de Carl Lee sob a alegação de que agiu por motivo de relevante valor social ou moral, sendo este somente motivo para atenuante ou diminuição de pena. O Artigo 28 do Código Penal estabelece o seguinte:
Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:
I - a emoção ou a paixão;
Diante das citações feitas, fica aparente que a atitude criminosa de Carl Lee foi decorrente de um fato isolado, tornando difícil a possibilidade de cometê-la novamente. A medida da pena se dá de acordo com a avaliação do perfil do agente, das circunstâncias do fato e do perigo que este ainda trás para a sociedade. Concluímos essa ideia com uma reflexão de Cesare Beccaria:
“a grandeza das penas deve ser relativa ao próprio estado a nação. Devem ser mais fortes e sensíveis as impressões sobre os ânimos endurecidos de povo que apenas saiu do estado selvagem: requer-se um raio para abater um leão feroz que se agita ao tiro do fuzil. Porém, à medida que se abrandam os ânimos no estado de sociedade, cresce a sensibilidade e, crescendo ela, deve diminuir a força das penas, se se quiser manter constante a relação entre o objetivo e a sensação”.
5 CONCLUSÃO
Não mais obstante, é certo que os Direitos Fundamentais são compostos de princípios básicos para que a dignidade humana seja respeitada em uma sociedade. Percebe-se que o racismo é um crime que fere diretamente o direito fundamental (e Constitucional) da igualdade e que nossa legislação procura meios para punir e evitá-lo ao máximo.
No contexto do julgamento, concluímos que o direito brasileiro procura adotar medidas onde não é avaliado somente o enquadramento legal do agente, mas sim todo contexto do fato, além do perfil do réu. Tais medidas acabam por garantir maior justiça na hora da condenação, porém devem ser garantidas a todos os cidadãos, sem nenhuma diferenciação ou preconceito.

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