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Aula 1 – Conceito e Modelos de Ética

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ÉTICA NA SAÚDE
Seja bem-vindo à disciplina Ética na Saúde. Veremos aqui diferentes aspectos que compõem uma atuação ética na área da saúde. Iniciaremos estudando um breve histórico como os conceitos éticos e sua evolução histórica e passaremos em seguida à análise mais direta da Bioética e de suas aplicações mais práticas em nosso campo de atuação.
Falaremos um pouco sobre os principais temas éticos envolvidos em situações de transplantes, e reprodução assistida. Trataremos da questão da eutanásia e veremos alguns dos procedimentos éticos necessários em situações de epidemias ou outras de recursos escassos. Estudaremos ainda as relações profissionais em equipes multidisciplinares e por fim, abordaremos pacientes com necessidades especiais e a questão dos maus tratos e abusos.
Espero que, ao final de nossa disciplina, você tenha uma visão bem abrangente a respeito de condutas éticas na área da saúde e que possa com isso, não apenas ter uma postura profissional exemplar, como também contribuir de modo significativo para a difusão destas posturas, cumprindo assim, sua função social de modo responsável e ético.
Objetivos da disciplina:
- Refletir sobre o estudo da Ética e da Bioética na abrangência da área de saúde, estabelecendo a diferença entre ética e moral;
- Percorrer o corpo de conhecimentos da Bioética desde sua origem até as discussões atuais na área de saúde;
- Compreender a relevância da Ética na formação dos profissionais da área de saúde.
Aula 1 – Conceito e Modelos de Ética
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Identificar as diferenças entre os conceitos de ética e moral. 
2. Reconhecer as características dos diferentes modelos éticos.  
3. Verificar a influência da política, das crenças e da economia na ética de uma sociedade.
Introdução
Iniciaremos nossos estudos estabelecendo a diferença entre os conceitos de ética e moral. Veremos como, apesar de estarem intimamente relacionados, estes conceitos possuem diferenças bem definidas. 
Em seguida, faremos um breve histórico do desenvolvimento histórico da Ética nas sociedades ocidentais. Veremos suas origens na Grécia antiga, a evolução para a ética cristã e em seguida para a chamada ética moderna que perdurou dos séculos XVI ao século XIX. 
Por fim, analisaremos a ética contemporânea, profundamente influenciada pela globalização e pelos sistemas econômicos e o relativismo ético, produzido pelo novo modelo de ciência e algumas de suas características.
Conceitos de Ética e Moral
ÉTICA (Éthos): O termo ética deriva de éthos, que significa modo de ser, e, por isto, define-se com frequência a ética como a doutrina dos costumes ou hábitos adquiridos pelo homem. Aristóteles tornou a ética uma disciplina autônoma no domínio da filosofia moral. Para ele, o campo ético deveria investigar as características do bem, da perfeição e da felicidade que são atribuídas ao homem, com o fim de ajustá-los à orientação prática da conduta humana. Ele considerava que toda “ação humana está orientada para a realização de algum bem, ao qual estão unidos o prazer e a felicidade”.
MORAL: A conceituação de moral, por sua vez, abrange os costumes, ou seja, representa o conjunto das regras de conduta admitidas numa época ou por um grupo de homens. Ela distingue-se do que é investigado no campo ético, na medida em que “este último domínio se ocupa de uma moral ligada aos fatos, incorporando valores aceitos pelos homens ao se inter-relacionarem socialmente” (SKLAR: 2008). Seguindo este sentido, a ética pode ser compreendida, como propõe Sánchez Vázquez (2002, 23), de “teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade”. O ato moral, portanto, provocado por um ser humano real e contextualizado historicamente, deve ser avaliado sob o código moral que vigora na sociedade daquele que promoveu a ação.
Ética grega
Antes de Aristóteles, encontramos precedentes para a constituição de uma ética filosófica. Entre os pré-socráticos, por exemplo, Heráclito utiliza o vocábulo éthos para situar a condição do homem “como aquela que necessita de um lugar” ou “morada”, definindo um “modo de estar” no mundo (KIRK, RAVEN, SCHOFIELD:1994). Demócrito mostra a virtude sob a busca de um equilíbrio interno diante do movimento das paixões. O saber e a prudência seriam, assim, essenciais, pois ensinariam ao homem de que modo ele deveria viver, conseguindo a felicidade.
A reflexão ética autônoma no mundo grego aparece apenas com Sócrates que, combatendo os sofistas, acreditou na estabilidade das leis, dos princípios verdadeiros e universais das normas, conferindo a elas um valor intrínseco. A partir dele, o termo ética se afasta tanto do sentido originário de morada quanto de equilíbrio das paixões, tal como Heráclito e Demócrito respectivamente entendiam. Este avanço foi possível sob a elaboração de um método, denominado maiêutica, que levasse os diversos cidadãos a uma vida virtuosa.
A Maiêutica Socrática tem como significado "Dar à luz (parto)" intelectual, da procura da verdade no interior do homem.
Com Aristóteles, a ética torna-se uma disciplina filosófica. Sua filosofia critica o dualismo ontológico de Platão, isto é, a separação dos mundos sensível e inteligível. Para Aristóteles, existe uma correlação entre ser e bem. O bem se relaciona com a essência de cada coisa.  O objeto da ética consiste em investigar as características do bem, da perfeição e da felicidade que são atribuídas ao homem, com o fim de ajustá-los à orientação prática da conduta humana. Segundo Aristóteles, o homem deve contentar-se com o ser e o bem que possui, pois está limitado, essencial e temporalmente, pela sua substância mortal e corruptível. O conceito de realidade, assim, condiciona a formulação da ética aristotélica, dominada por um relativismo radical. Ele considera que toda ação humana está orientada para a realização de algum bem, ao qual estão unidos o prazer e a felicidade.
Aprofundando a busca de conhecimentos universais, Platão atribui à formação de conceitos socráticos não só um valor mental, lógico e abstrato, mas um valor também ontológico (parte da Filosofia que estuda o ser em si), considerando-os objetos de pensamento e situados numa dimensão superior ao universo físico percebido pelos sentidos. Desta maneira, a realidade fica dividida, para ele, em dois mundos distintos e contrapostos: um, superior, invisível, eterno e imutável das ideias subsistentes, outro, físico, visível, material, sujeito à transformação. A ética platônica gira em torno da aspiração dos homens à felicidade.
Ética cristã e moderna
A transformação do cristianismo na religião oficial de Roma no século IV trouxe novos sentidos para as doutrinas éticas gregas. O período medieval caracteriza-se por uma profunda fragmentação econômica e política, devido ao surgimento de duas classes que marcam o regime feudal: os senhores feudais, donos absolutos de terras ou feudos, e os camponeses e servos, os quais eram vendidos e comprados com as terras às quais pertenciam e que não podiam abandonar. Nesse quadro, a religião garante certa unidade social, pois a política depende da Igreja exercendo um forte poder espiritual e centralizando integralmente a vida intelectual. Sob essas circunstâncias, “a moral concreta, efetiva, e a ética – como doutrina moral – estão impregnadas (...) de um conteúdo religioso que encontramos em todas as manifestações da vida medieval” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ: 2002,275-276). 
Nesse período, os pensadores cristãos conceberam uma nova ética que encontra em Deus os princípios da vida moral.
A esta nova ética denomina-se teonomia (théos, em grego, significa Deus). Estes pensadores aproveitaram as doutrinas gregas das virtudes e da correspondência do bom ao verdadeiro, agregando-as ao corpo de uma ética cristã, negando, por outro lado, fundamentos éticos naturalistas e hedonistas, incompatíveis com as ideias morais cristãs. Considerando, ainda, que o homem é um peregrino que se prepara para uma vida futura ultraterrena, rejeitaram a busca da felicidade(eudemonia) que caracterizou grande parte do pensamento grego. Ironicamente, no entanto, a ética cristã de igualdade é lançada no momento histórico em que os homens conhecem as maiores desigualdades: a divisão entre escravos e homens livres, ou entre servos e senhores feudais.
Vázquez (1972, 277), no entanto, ressalta que a ética cristã medieval “não condena esta desigualdade social e chega, inclusive, a justificá-la. 
A igualdade e a justiça são transferidas para um mundo ideal, enquanto aqui se mantém e sanciona a desigualdade social”. Podemos afirmar que a formulação conceitual da ética cristã herda conceitos platônicos e aristotélicos, submetendo-os a um processo de cristianização, que transparece nas éticas de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Para o primeiro, a ascensão da alma que em Platão se eleva do mundo sensível ao inteligível, transforma-se na elevação até Deus, cujo fim é o êxtase místico ou felicidade. Para o segundo, retomando Aristóteles, destacam-se a contemplação e o conhecimento que dela decorre; São Tomás de Aquino se afasta, no entanto, da divisão das virtudes e da ética como doutrina dos costumes quando afirma que o fim supremo do conhecimento é Deus, entendido como o maior bem objetivo, cuja posse gera felicidade, um bem subjetivo.
A história da ética ganha um novo rumo, entre os séculos XIV e XVI (Renascimento) a partir da valorização do homem nas ciências e nas artes. Retomam-se algumas tendências éticas antigas no início da Renascença, demarcando-se o início do que se conhece como ética moderna (séculos XVI-XIX). Este período é marcado pela criação de uma nova sociedade que substitui a ordem feudal da Idade Média, sob uma série de mudanças. No plano econômico, há o incremento de forças produtivas em função do desenvolvimento científico, mediante uma perspectiva científica mais prática (Francis Bacon). No plano social, temos o aparecimento de uma nova classe social – a burguesia – inicialmente na França (com a Revolução Francesa, 1789), desenvolvendo-se, no século seguinte, principalmente na Inglaterra. Como consequência, vemos a implantação de um sistema em que o trabalhador, ao trocar sua força de trabalho por um salário, não é dono dos meios de produção; esses passam ao domínio da classe burguesa que, ao vender as mercadorias produzidas pelos trabalhadores, atribui um sobrevalor ao produzido, obtendo uma mais-valia ou lucro: o capitalismo.
No plano espiritual, há a perda do papel de guia atribuído à Igreja Católica, pois a religião deixa de ser a forma ideológica dominante.
Separam-se, em linhas gerais: razão/fé, natureza e homem/Deus, Estado/Igreja. A dimensão humana coloca-se, portanto, no centro da filosofia, ciência, arte, política, e, também, da moral. Dominando a maior parte dos pensadores modernos, a questão da origem das ideias morais desponta nos séculos XVI-XVII. Nicolau Maquiavel chamou atenção sobre o papel da ação política – visando a sobrevivência de um grupo, não de indivíduos isolados – na formação dos conceitos éticos.
Thomas Hobbes defende a tese de que o homem é antissocial, comportando-se sempre para satisfazer seu interesse pessoal e absorvendo aquilo que é bom ou vantajoso para si: egoísmo ético. Baruch Espinosa buscou na correspondência alma-corpo fundamentos de uma ética voltada para o exercício da liberdade, afirmando que são os homens que causam as paixões, não que estas devam estar subjugadas à razão ou vice-versa.
No século XVIII, marcado pelo movimento intelectual denominado de Iluminismo, exalta-se a capacidade que tem o homem de conhecer e agir por uma luz própria da razão. A este respeito, ressalta a obra de Immanuel Kant, para quem a consciência cognoscente ou moral é suscitada em um homem ativo, criador e legislador. Na Crítica da razão prática, e na Fundamentação da metafísica dos costumes, ele descobre princípios racionais na vida prática dos homens, compreendendo como certos costumes podem orientar as ações humanas. Segundo afirma, a vontade é verdadeiramente moral quando é regida por imperativos categóricos – referem-se a ações objetivamente necessárias, em que suas realizações estejam subordinadas tanto a fins quanto condições; a moralidade, neste sentido, diz respeito ao fundamento da bondade dos atos, averiguando em que consiste o bom.
A resposta kantiana: o único bem em si mesmo é a boa vontade, aquela que age por puro respeito ao dever, visando sujeição do homem à lei moral – autonomia humano -moral. O dever torna-se, nesse quadro, incondicionado ou absoluto, abrangendo algo que se estende a todos os seres humanos em quaisquer tempos ou condições.
Duas outras importantes contribuições para o domínio ético são encontradas ainda no século XIX: Friedrich Nietzsche e de Franz Brentano. O primeiro, analisando os valores da cultura europeia, os vê encarnados no cristianismo, socialismo e igualitarismo democrático e sustenta que são formas de uma moral a ser superada mediante a formulação de um ponto vista além do bem e do mal.
Já para Brentano, seria possível se estabelecer leis universais de caráter axiológico, na medida em que há um subjetivismo ético que se relaciona a uma teoria objetiva do valor. Este é enunciado sob atos de preferência (valorização) ou repugnância (desvalorização); assim, a experiência que algo seja bom inclui um aspecto subjetivo (para alguém) e a intenção que leva um homem a preferir algo.
Ética contemporânea e relativismo ético
As discussões sobre as questões a respeito do conceito de bem supremo, ou os debates sobre se o bem é o bem individual ou coletivo, se parte do particular para o geral ou vice-versa, tem encontrado certo consenso no sentido de que o bem só é possível quando compartilhado ao nível social. Assim, o ético se faz a partir do todo social e não a partir da ação individual.
Deste modo, torna-se necessária a noção de uma equidade cultural que possibilitaria a uniformidade de valores e consequentemente em uma única subjetividade de valores morais e sociais que uniformizasse também as expectativas e os desejos individuais. Caso contrário, esta posição seria utópica e desprovida de valor prático uma vez que o bem se relativiza a partir do valor cultural que o fundamenta como um bem próprio e típico do ponto de vista de uma dada Cultura. Estes ideais são direta ou indiretamente a raiz do que se convencionou chamar de Globalização.
As atuais políticas governamentais tem pautado suas bases de atuação em critérios que desconsideram a necessidade de integração entre os diferentes níveis de desenvolvimento e negado os aspectos necessários à construção de um projeto social mais voltado para um futuro harmonioso nas relações sociais.
A Globalização tem tido diversos efeitos sobre os sistemas de organização das sociedades, seja ao nível econômico, seja ao nível ideológico e cultural. Dentre estes efeitos, destaca-se o aprofundamento de uma ética industrial na qual o desenvolvimento econômico se sobrepõe ao desenvolvimento social.
A Ecologia Social, integrando os estudos do homem e de seus ecossistemas através da compreensão da direta correlação entre natureza e cultura, demonstra que as relações deste com a sociedade passam necessariamente pela sanidade de suas relações não só com os demais membros de sua espécie, como também pelo modo relacional que estabelece consigo próprio e com seu ambiente. O esfacelamento deste conjunto inviabiliza qualquer tentativa de desenvolvimento.
Diversos autores, nos mais variados campos do conhecimento, tem ressaltado a importância de estabelecer-se uma relação ética com os recursos sociais, humanos e naturais que reponha uma hierarquia de valores morais e filosóficos como parâmetros do desenvolvimento. Félix Guattari, em seu livro As três ecologias, alerta para as consequências daquilo que ele considera como “o império de um mercado mundial que lamina os sistemas particulares de valor, que coloca num mesmo plano de equivalência os bens materiais, os bens culturais, as áreas naturais.” Para outros autores, os desenvolvimentos social e culturalestão mais diretamente associados à instituição de uma ética social.
Não há desenvolvimento social sem antes a formação de uma ética que baseie os pressupostos fundamentais de uma sociedade e, todo o problema do desenvolvimento, segundo estes autores, reside justamente na ausência desta ética por parte, não apenas dos governos, mas também do próprio modelo de ciência que arbitra o sistema teórico de sustentação das políticas governamentais.
Este relativismo ao qual Bookchin se refere, fundamenta-se nos desdobramentos de um novo modelo de ciência mais relativista que tem nas últimas décadas se firmado como a base teórica não apenas para o meio acadêmico, mas também, através dele, para a própria concepção de mundo e de sociedade. Este novo modelo, se como diz Bookchin, relativizou a ética, teve o mérito de libertar as ciências de uma perspectiva positivista de mensuração e “absolutismo” que nivelou teorias e ideologias sociais que equiparavam sociedades distintas por um único modelo econômico, político e social. A questão, portanto, reside em conhecer-se que modelo ético está sendo gerado nas sociedades modernas como consequência desta nova ciência e qual sua relação com o desenvolvimento. Pois, só através dele, compreenderemos os novos rumos do desenvolvimento social.
Nesta aula, você:
Compreendeu a principal diferença entre os conceitos de Ética e Moral.
Aprendeu o desenvolvimento da ética da Grécia antiga até os nossos dias.
Analisou as influências da ciência, da política e da economia na ética de uma sociedade.
Na próxima aula, você vai estudar:
Conceitos de Bioética.
História da Bioética.
Contexto cultural e princípios da Bioética.

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