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COMUNICAÇÃO E A CULTURA DAS APARELHAGENS CROCODILO E POP SOM: REFLEXÃO DAS MANIFESTAÇÕES PARAENSE
Christian Maciel Reis¹
Maria Grasiela e Silva Costa ²
RESUMO
O tema central deste trabalho é analisar os processos de comunicação e cultura a partir das produções de sentidos que as aparelhagens Crocodilo e Pop Som produzem para interagir com o público e a agregação cultural para o cenário amazônico/paraense. Os objetivos específicos desta pesquisa são: 1) analisar a produção do discurso criado para comunicar e agregar adeptos ao tipo de manifestação, e a relação de poder com olhar baseado nas obras Arqueologia do Saber e Vigiar e Punir de Foucault; 2) a soma de culturas, ritmos, tecnologias e artifícios que existem nas aparelhagens, baseado nos conceitos de Clanclini, Culturas híbridas; 3) a construção da identidade, com base em Stuart Hall,Bauman e Castells . 4) e a comunicação verbal e não verbal, baseando-se nas Teorias da comunicação: conceitos escolas e tendências de Luiz C. Martino. 
Palavras-chave: comunicação, cultura, aparelhagem, poder. 
 
ABSTRACT
The central theme of this work is to analyze the processes of communication and culture from the productions of meanings that the Crocodilo and Pop Sound sound systems produce to interact with the public and the cultural aggregation for the Amazonian / Paraense scenario. The specific objectives of this research are: 1) to analyze the production of the discourse created to communicate and to add adepts to the type of manifestation, and the relation of power with look based on the works Archeology of the Knowing and Vigiar and Punir de Foucault; 2) the sum of cultures, rhythms, technologies and artifacts that exist in the apparatuses, based on the concepts of Clanclini, Hybrid Cultures; 3) identity construction, based on Stuart Hall. . 4) and verbal and non-verbal communication, based on communication theories: concepts schools and trends of Luiz C. Martino. 
Keywords: communication, culture, apparatus, power.
Introdução 
Há mais de 60 anos as aparelhagens fazem o público do Pará dançar, no início as atrações eram de segunda a domingo ao som do merengue, jovem guarda, bolero, cambia, brega e lambada. Embora muitas das vezes discriminadas pela sociedade, as festas eram realizadas em sedes sociais e espaços abertos nas periferias de Belém. Segundo os pesquisadores do Projeto Sonoro Paraenses, realizado desde 2009, Júnior Almeida (Eletrônica Avi Azul) e Darien Lamen (EUA), as primeiras aparelhagens eram conhecidas na época como sonoros ou picapes, antes da segunda guerra mundial, e ofereciam um novo meio de comunicação com diversos usos e aplicações, colocando-se à disposição de políticos, empresas, sindicatos, entre outros. Com o passar dos tempos, as aparelhagens foram se consolidando como um dispositivo de diversão popular nos bairros periféricos de Belém, de forma bem simples. O levantamento do Projeto Sonoro Paraense mostra como foi o início. 
Os sonoros que surgiram nos anos 40 e 50 eram bastante simples. No lugar da caixa de som ficava o "projetor de som," também conhecido como boca-de-ferro, que era ligado a um ou dois toca-discos. Nessa época o controlista (como era chamado o "DJ" antigamente) colocava discos de 78 rotações feitos de cera de carnaúba sem a ajuda de fones de ouvido ou retorno. Depois de 3 músicas era necessário trocar a agulha. Nessa época, o que diferenciava um sonoro do outro era sobretudo os discos que tocavam nas festas, o nome do sonoro e a personalidade do seu locutor. Na sua maioria os técnicos de som responsáveis pelo abastecimento de equipamentos sonoros em Belém adquiriram todo seu know-how na oficina, ou seja, tinham mínima ou às vezes nenhuma formação. Apesar disso, a concorrência os obrigava a sempre estar desenvolvendo técnicas novas e mais apuradas, como mais canais, eco, caixas maiores com som bem equalizado, etc. 
Os técnicos compravam peças e equipamentos avulsos no centro comercial e levavam para suas oficinas na periferia para montar as caixas de som. Segundo muitos deles, o som bem equalizado era uma arte, resultado de muita experimentação e muitas noites sem dormir. (ALMEIDA; LAMEN, 2009)
As festas saíram do cotidiano, se resumiram aos finais de semana e passaram a ser um elemento tradicional da cultura paraense. A empresa Pop Som é uma das mais tradicionais 
do Pará, e foi criada entre os anos de 1986 e 1987, e iniciou sua trajetória em eventos de pequeno porte. A empresa ganhou espaço no mercado e intensificou a marca com o nome “Pop Som Águia de Fogo”. Há 10 anos a empresa A3 Entretenimento criou a aparelhagem Crocodilo, e quebra o tabu de uma subcultura, o último hit é uma parceria gravada com Mister Catra chamada “A boquinha do animal”. Em entrevista ao site ORM News, de 29 de julho, 2016, Cidinho Assis - responsável pela aparelhagem- afirma que o Crocodilo abrange todas as classes e que a mística de que aparelhagem é coisa de pobre foi tirada, criando uma nova identidade. Para HALL (2005), as identidades invocam algo que parece pertencer a um passado histórico, do qual se formam a partir da linguagem, da cultura e da história para explicar não o que se é, mas que se tornou.
As aparelhagens são peças-chave na divulgação de músicas regionais. “Antes que o carimbó começasse a conquistar o público mais urbano no início de 70 promoviam festas onde se tocava som mecânico intervalado com apresentações de grupos de carimbó, pau-e-corda.” (ALMEIDA; LAMEN, 2009). Com o passar dos anos, outras artes foram agregadas nas apresentações das aparelhagens. Os Djs animam o público com coreografias; equipamentos eletrônicos tecnológicos; show pirotécnico; mixagem de músicas de todos os estilos. Essas junções culturais na visão do antropólogo Nestor García Canclini, são "processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas" (1997, p.19). Percebe-se que a identidade cultural não se restringe a apenas um artifício. Lembra Canclini, que “nenhuma cultura é pura ou plenamente homogênea” (1997, p. 19-20), ou “ciclos de hibridação”. 
O estudo das aparelhagens leva em consideração a construção de uma identidade, pois há décadas vêm formando o cenário da música paraense. Para conceituar sobre identidade, Start Hall diz que é necessário “compreendê-las como produzidas em locais históricos e institucionais específicos, no interior de formações e práticas discursivas específicas, por estratégias e iniciativas específicas”. As aparelhagens Crocodilo e Pop Som possuem fragmentações que agradam o seu público de acordo com que é apresentado ao longo dos anos. 
A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar — ao menos temporariamente. (HALL, 2001, p. 13)
Nota-se que a identidade das aparelhagens são processos culturais que foram construídos pela sociedade e que surtem efeitos a partir dos efeitos que geram nos outros, ou seja: alteridade, pois é pela diferença que é construída uma identidade. 
Com este breve apanhado da origem das aparelhagens e dos objetos que serão estudados com alguns conceitos teóricos, os tópicos centrais do trabalho girarão sob a ótica do princípio teórico e metodológico do filósofo francês Michel Foucault do livro Arqueologia do Saber, publicado em 1969, e Vigiar e Punir, publicado em 1975, onde serão abordadas proposições sobre de formações discursivas que nos ajudarão a entender os discursos empregados e praticados do Crocodilo e do Pop Som e as construções de sentido, formadas com as materialidades; e a relação do poder em diversos dispositivos, como: música, comunicação através das redes sociais, coreografia, efeitos tecnológicos, entre outros. 
Em Arqueologia do Saber Foucault conceituaa formação discursiva como um dispositivo metodológico que analisa o discurso. 
No caso em que se puder descrever, entre um certo número de enunciados, semelhante sistema de dispersão e, no caso em que entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas se puder definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições e funcionamentos, transformações) diremos, por convenção, que se trata de uma formação discursiva ... (FOUCAULT, 1969, p.43).
Na arqueologia foucaultiana, serão analisados dos enunciados feitos pelas aparelhagens e as temáticas das festas que são usadas para atrair o público.
Em uma outra particularidade da filosofia francesa de Foucault, analisaremos a tecnologia utilizada pelas aparelhagens e as estruturas de shows como um dispositivo de controle. Nesse caso, veremos o poder a partir do sonoro, das músicas, das estruturas materiais que dão um tom de empoderamento, dos DJs que são vistos pelo público como os dominadores das festas. No Vigiar e Punir Foucault apresenta duas formas de sociedade disciplinar. A primeira é a disciplina-bloco, que mostra uma instituição estabelecida à margem e com funções negativas, que buscava acabar com o mal, algo mais severo de manter a ordem. A Segunda é a disciplina-mecanismo (Panóptico), dispositivo funcional a serviço de melhorar o exercício de poder, tornando-o rápido, leve, eficaz e pautado em coerções mais leves.
Na periferia de uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é divida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas tem duas janelas, uma para o interior, correspondendo as janelas da torre; a outra, que da para o exterior, permite que a luz travesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar. (FOUCAULT, 2001, pp. 165-6)
Este é o modelo de panóptico de Jeremy Bentham que Foucault conceitua como poder óptico. Este era um dispositivo de poder que foi difundido no século XVIII, alegando que a visibilidade continha o poder, mas neste trabalho analisaremos outros dispositivos de poder: música, estrutura de som, Djs, coreografia, tais meios de comunicação que dominam o público do Crocodilo e Pop Som. E a comunicação verbal e não verbal, baseando-se nas Teorias da comunicação: conceitos escolas e tendências de Luiz C. Martino. 
Para a construção da pesquisa, será necessário in loco nas festas das duas aparelhagens para capturar sonoras dos Djs, organizadores das festas e frequentadores e identificar os discursos colhidos com as obras bibliográficas acima, utilizando, também, matérias relacionas as aparelhagens encontradas nos portais e jornais, além do que está disponibilizado nas redes sociais. 
Este trabalho será divido das seguintes formas: introdução de um levantamento histórico das aparelhagens; uma análise das mídias alternativas usadas para atrair o público e desmistificar a ideia de cultura de periferia e a construção do discurso; a representação do Dj na festa como detentor do poder, do dominador da festa e a transformação em celebridade; a análise de comunicação não verbal nos sinais e expressão corporal dos frequentadores das festas de aparelhagem; a representação cultural na Amazônia. 
1- Festa de Aparelhagem 
Na tese de doutorado de Antônio Maurício da Costa, defendida em 2006, com o título Festa na Cidade: o circuito bregueiro de Belém, é mostrado esse modelo de festa que é sonorizado com aparelhagens desde meados do século XX em Belém. Na obra, COSTA define o que é aparelhagem: 
[...] empresas de sonorização voltadas especialmente para a realização de festas de brega. Normalmente de propriedade familiar [...] as aparelhagens passam de pai para filho. Da mesma forma, suas diversas funções de gerenciamento são divididas entre os membros masculinos do núcleo familiar. [...] 
no sentido estrito, a aparelhagem é o equipamento sonoro composto de uma unidade de controle e seu operador (o DJ), que possibilita o uso de diversos recursos e alta qualidade na emissão musical, e suas caixas de som, que comportam diversos alto-falantes e tweeters, agrupados no formato de colunas de 3 a 5 metros de altura, aproximadamente (COSTA, 2006, p. 95)
Em todo o Estado do Pará há aproximadamente 2 mil aparelhagens, de acordo com a pesquisa de doutorado de COSTA 2006, com diversas estruturas que se diferenciam umas das outras, de acordo com o Projeto Sonoro Paraense (2009), seja no estilo musical, no tipo de festa, no público e na estrutura de som. 
Dependendo do porte da aparelhagem, se faz necessário a presença de um dj, outras de apenas de um aparelho de toca-cd, que – na maioria das vezes- são utilizados em programações pequenas, como confraternizações de empresas, aniversários, bingos em comunidades e demais eventos destes portes; já uma estrutura maior requer de profissionais de montagem, iluminação, técnicos de som, projetores, caminhão de transporte, etc. e, nesse caso, as aparelhagem desse tipo costumam tocar em boates, casas de festas e para centenas de pessoas. 
As músicas tocadas pelas aparelhagens de grande porte enaltecem a própria aparelhagem e cria um laço afetivo, como exemplo um trecho da música Super Pop, cantada pela banda AR 15: “Esse é o som que contagia e faz a galera dançar. Super pop águia de fogo, arrasta povo do Pará. Dj Elison e Juninho, os Dj's que mandam ver. Sinta o peso desse som e comece a mecher, e comece a mecher, e comece a mecher...”. Essa relação que as aparelhagens têm com o público, construído com as composições, é para além das festas. Surgem, então, os fã-clubes, que também são constituídos por causa das apresentações rotineiras nos bairros de Belém. 
[...] ou seja, aqueles que se mobilizam especialmente para participar das suas festas. Aparelhagens de grande e médio porte possuem aproximadamente de 30 a 50 fã-clubes cada, que se revezam participando das apresentações de ‘suas’ aparelhagens a cada final de semana, tanto em Belém como em cidades vizinhas” (COSTA, 2006, p. 97).
As evoluções e as inovações são características das aparelhagens. As mudanças vão desde as estruturas de som, iluminação, etc., até a forma de interagir com o público, as intervenções carismáticas dos dj’s com os frequentadores das festas são do tipo: “quem tá solteiro levanta a mão” ou, por exemplo, “Cadê a galera do Remo? Cadê a galera do Paysandu”. 
 As músicas e as danças também ligam o púbico às aparelhagens e dependendo do local da festa o repertório musical pode ser modificado, como explica o antropólogo Andrey Faro de Lima.
[...] os gêneros mais tocados (e dançados) são o forró, o funk, o house music, o brega melody e o tecnobrega (além de outros segmentos da música brega). Todavia, embora estes gêneros sejam os mais requisitados, os repertórios podem se diferenciar bastante em decorrência da diversificação do público, dos locais e circunstâncias em que ocorrem.” (LIMA, 2008, p.22)
LIMA (2008) identifica o público das aparelhagens como de diferentes procedências, curiosos em geral e, “sobretudo, jovens de camadas médias interessados em participar e conhecer, incentivados ou não pelas propagandas e matérias veiculadas nos meios de comunicação, juntam-se pouco a pouco aos demais frequentadores”. 
As festas das aparelhagens eram realizadas na região metropolitana de Belém, por exemplo, no CASOTA, no bairro da Sacramenta, o Clube Ipanema, no bairro Cidade Nova, município de Ananindeua, o Carrossel, na Av. Almirante Barroso, o Bolero, no bairro da Cremação, o Caldeirão do Alan, no Entroncamento, dentre outros, em espaços periféricos, mas aos poucos foram ganhando espaço nos lugares de classe média e elitizada de Belém como, por exemplo, a Assembleia Paraense; e outros tipos de festas, como shows de artistas nacionais, micaretas, formaturas, etc. 
“Com a composição deste cenário, as festas de aparelhagem, expressas em múltiplos desdobramentos,entremeiam-se num jogo de significações bem heterogêneo,através de discursos que as representam ora como sustentáculos de toda uma cadeia (mainstream alternativo) cultural e econômica “periférica”, “independente” e “original”; que norteia e reafirma identidades segundo uma lógica contemporânea – gostos, sociabilidades e interesses típicos da “periferia” paraense – conforme os meios de comunicação recorrentemente veiculam; ora como uma “cultura nociva, perniciosa e alienante” que homogeneiza, pela influência da “indústria de massa”, as práticas culturais realmente “autênticas”. (LIMA, 2008, p.23)
Com essas considerações, esta pesquisa trabalhará com apenas duas aparelhagens, que após as evoluções e inovações são conhecidas como: Super Pop Live e Gigante Crocodilo Prime, uma com 31 anos e o outra com 10 anos, nessa sequência. 
1.1 -Pop Som o Águia de Fogo 
Com 31 anos de existência, o Pop Som já passou por algumas evoluções, entre elas: Pop Som: o águia de fogo, Pop Som 1, 2, 3 e 4, Super Pop: o peso do som, Super Pop: o águia de fogo, O Águia de Fogo Super Pop: O Arrasta Povo, atualmente conhecido como Super Pop Live: o águia de fogo. 
 Elias Carvalho, juntamente com seus filhos Élison, Juninho e Betinho criaram o famoso Pop Som, e começaram a tocar em festas de aniversários da família. Na medida em que o tempo passava, o empresário comprava mais tecnologia, como amplificador e alto falante, e assim melhorou sua aparelhagem. Ele fechou contrato para tocar em bares e seu negócio começou a render. 
Na época, quem tocava era apenas Elias e seu filho Betinho. Em 1998, a aparelhagem já tinha muitos contratos e estava difícil atender a demanda. Por isso, houve a necessidade de criar submarcas para satisfazer o público. 
Por volta de 2002 houve a necessidade da criação do Pop Som 1, 2, e 3 para assistir ao público que os seguiam, os irmãos compraram os aparelhos de uma aparelhagem que fechou, chamada Artsom, a qual possuía sons novos e mais modernos, com tecnologias de acústica dentro das caixas de som. Com a compra dos aparelhos da Artsom, criou-se o Pop Som 4.
A partir de então passaram a existir quatro Pop Som em Belém, os quais tentavam suprir a grande demanda. Mas isso durou até 2003, devido ao fato da má distribuição dos shows na cidade. 
Como por exemplo, dois dos “Pop som” tocavam em um mesmo bairro, só que dias diferentes. Mas o público não comparecia a determinada festa da aparelhagem, pois já tinha participado na festa anterior. Com isso o prejuízo aumentava e a demanda de show logo começou a cair.
Com isso houve a necessidade de os administradores reduzirem de quatro para duas versões de aparelhagens, ficando somente Super Pop Som e Pop Som Saudade, pois são dois públicos totalmente diferentes.
O Pop Saudade faz um remake das canções dos anos 70 e 80. O Super Pop sempre mudou de tema (O Águia de Fogo, O Arrasta Povo, O Peso do Som, Novo Super Pop O Águia de Fogo). Por um tempo foi chamado de O Águia de Fogo Super Pop: O Arrasta Povo, e os Djs acreditam que esse tema irá permanecer por muito mais tempo, pois há muito a se explorar nele, como o grito e o vôo da águia, identidade da marca.
Com o avanço da tecnologia, a empresa ganhou nova roupagem de som, sendo a Empresa Pop foi a primeira a lançar em seus shows o telão de LED, que hoje é um dos itens mais prestigiados nos shows das aparelhagens. Com as exigências do mercado por investimento, aprimoramento e mudanças, a empresa buscou se adequar à modernidade criando mais novo empreendimento chamado “Super Pop Live - O Águia de Fogo”, que conta com um Pick Up estruturada em um formato moderno de águia, toda revestida em alumínio, com sistema hidráulico que dá movimento, além de um sistema de iluminação de última geração, telões de LED em alta definição.
O Super Pop Live, hoje percorre todo o Estado do Pará e outros Estados como Macapá e Maranhão, fazendo uma média de 20 shows ao mês, sob o comando dos Dj’s Elison, Juninho, Wesley e Nandinho.
1.2- Crocodilo- O animal toca tudo do Pará
Com uma cabine de nove metros de comprimento para o maior e melhor conforto dos DJs, o Crocodilo- O animal toca tudo do Pará, passou a ser chamado agora, Gigante Crocodilo Prime. A nova estrutura chama mais atenção do público.
Foram meses de preparação para concluir o novo projeto do Crocodilo. A atual fase da aparelhagem é resultado de muito trabalho e dedicação. “Já eram dois anos que a gente estava com o Crocodilo antigo e o mercado e o público sempre exigem as melhores coisas do cenário das aparelhagens”, conta o DJ Gordo. “Por isso nos reinventamos e agora vamos apresentar essa nova estrutura, com um jacaré gigante, iluminação, telão de LED e muito mais. Tudo novo, sempre para proporcionar a melhor qualidade ao nosso público”, explica.
Na pacata cidade de Barcarena por volta dos anos 2000 surge a aparelhagem Crocodilo, mas sem muito sucesso logo ficou sem apresentações. Depois de um período sem atividades o grupo se juntou novamente, no bairro do Jurunas, para retomar o projeto. O sucesso veio rapidamente e atualmente a aparelhagem é recordista de público na Grande Belém e no interior, com uma média de quatro apresentações por semana. A direção da aparelhagem só contabiliza os anos da aparelhagem a partir de 2007 quando passou a fazer sucesso. 
2- Mídias alternativas das aparelhagens: a produção do discurso e o convite à festa 
As chamadas mídias alternativas são aquelas que fogem dos meios de comunicação tradicionais como, rádio, TV e jornais. São alternativas na internet, rádios comunitárias, jornais de baixa circulação, busdoor, faixas de rua, entre outras que estejam fora dos padrões tradicionais, de acordo com DE FELIPPE JUNIOR (1994). O surgimento destas mídias foi no contexto de regime político autoritário, onde determinados assuntos eram banidos para que causassem revoltas contra o governo da época, como relata PERUZZO. 
“Eram jornais dirigidos e elaborados por jornalistas de esquerda, alguns ligados à pequena burguesia, que, cansados do autoritarismo, aspiravam um novo projeto social e preocupavam-se em informar a população sobre temas de interesse nacional numa abordagem crítica.” (PERUZZO, 2006, P. 7)
A mídia alternativa não é apenas uma base para o jornalismo alternativo, já que outros conteúdos que não são de cunho jornalístico também circulam nela, como: propagandas, artes, músicas e os convites das festas de aparelhagens que são divulgados nas redes sociais, fixados como placas e faixas nas ruas de Belém, entre outros. 
O discurso criado nas faixas e convites de festas do Pop Som e Crocodilo estabelecem um modo de intersubjetividade, ou seja, um alguém anuncia, outro alguém interpreta. O discurso é esta possibilidade que reside no entremeio, no espaço entre os sujeitos. No caso desses anúncios, o discurso não está no texto, e sim na prática discursiva (FOUCAULT, 1995) entre as aparelhagens e o público das festas. 
Este convite, por exemplo, publicado no Facebook da aparelhagem Crocodilo, no dia 26 de setembro de 2017, com a festa intitulada “Dentada Vip Privilége” mostra a dominação do espaço, nesse caso, na sede social da Assembleia Paraense – clube considerado da classe A de Belém. 
Imagem de divulgação - Festa da Assembleia Paraense
No anúncio nota-se uma imposição de espaço, onde um discurso montado através do convite que aparece um casal de cor branca, bem vestido e que parte do título da festa tem a palavra VIP, que é a sigla em inglês de “Very Important Person”, e o subtítulo em francês: Privilége, que significa privilégio, e que dialoga com o pensamento de Foucault, na A Ordem do Discurso. 
Desta vez, não se trata de dominar os poderes que eles têm, nem de conjurar os acasos de sua aparição; trata-se de determinar as condições de seu funcionamento, de impor aos indivíduos que os pronunciam certo número de regras e assim de não permitir que todo mundo tenha acesso a eles. Rarefação, desta vez, dos sujeitos que falam; ninguém entrará na ordem do discurso se não satisfazer a certas exigênciasou se não for, de início, qualificado para fazê-lo (FOUCAULT, 2009, p.37).
Em entrevista ao site ORM News, de 29 de julho, 2016, Cidinho Assis - responsável pela aparelhagem- afirma que o Crocodilo abrange todas as classes e que a mística de que aparelhagem é coisa de pobre foi tirada. Para Stuart Hall (2003), na discussão da junção de elementos na constituição das identidades, “os elementos da tradição ‟podem ser reorganizados para articular as diferentes práticas e posições e adquirir um novo significado e relevância” (HALL, 2003, p. 260). 
Imagem de divulgação- Festa no Pará Clube com show de pagode
No anúncio feito no Facebook do Super Pop, no dia 28 de abril de 2017, a atração da festa foi o cantor de pagode Xande de Pilares. Com essas conquistas de espaços, de pessoas de diferentes classes e atrações artísticas, chega-se na hibridação, que segundo o antropólogo Nestor García Canclini, são "processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas" (1997, p.19).
As aparelhagens Crocodilo e Super Pop estão para além do ritmo do brega ou tecnobrega, das áreas periféricas e dos frequentadores de pouco poder aquisitivo. Esses processos socioculturais e a construção do discurso fizeram com que novos espaços, ritmos musicais e frequentadores fossem conquistados. 
Antigamente a imagem ilustrava o texto, mas hoje o texto sobrecarrega a imagem, ou seja, há uma redução do texto à imagem, uma amplificação da imagem ao texto que resulta em uma comunicação não-verbal. 
Partindo para uma análise de linguagem não verbal, com base na teoria de Conforme Martino (2001, p. 21), “Pode-se dizer que é no âmbito do reino dos Seres brutos que a comunicação assume sua acepção mais geral, justamente aquela indicada em sua etimologia: a comunicação é relação”. E acrescenta, 
[...] o ser vivo interpõe o organismo entre a ação e a reação, alterando assim a dinâmica do processo. [...] neste domínio, sob pena de perder de vista sua especificidade, as reações não podem mais ser descritas como processos mecânicos visto que o organismo, em sua idiossincrasia, seleciona as respostas (MARTINO, 2001, p. 21).
Portanto, podemos dizer que, se é relação, obrigatoriamente é signo. Desta forma, observamos que a comunicação não-verbal é uma das facetas mais interessantes da comunicação.
3- O comando da festa: a representação dos Dj’s e o domínio do público
O Super Pop Live está sob o comando dos Dj’s Elison, Juninho, Wesley e Nandinho. O Crocodilo sob o comando do Dj Gordo. Os Djs são considerados artistas e com as aparelhagens recebem homenagens em músicas compostas por cantores e bandas, como por exemplo, na canção “Batidão do Super Pop “da Banda Mellody: ‘’Preste atenção agora o que eu vou te falar. O águia de fogo tá botando pra quebrar, com os Dj’s Elison e Juninho mandão ver. Essa noite só vai dá eu e você... ‘’
Na festa os Dj’s tem um lugar de destaque com luzes, fogos de artifícios e efeitos especiais que os credenciam como os “donos da festa”, que acabam se tornando uma celebridade. 
Dialogando com o pensamento de Edgar Morin (1989), onde o cinema de Hollywood possuía uma capacidade tamanha de produzir grandes ídolos, acontece da mesma forma com as aparelhagens. Ídolos esses que são constituintes do star system, termo designado àqueles que foram de “meros mortais” a “semideuses”. De acordo com o autor, o star system nada mais é do que uma máquina de fabricar, manter e promover as estrelas. Morin completa:
Depois das matérias-primas e das mercadorias de consumo material, era natural que as técnicas industriais se apoderassem dos sonhos e dos sentimentos humanos: a grande imprensa, o rádio e o cinema os revelam e, por conseguinte, a considerável rentabilidade do sonho, matéria-prima livre e etérea como o vento, que basta formar e uniformizar para que atenda aos arquétipos fundamentais do imaginário (...). Os deuses tinham que ser fabricados um dia, os mitos tinham que se tornar mercadoria. (MORIN, 1989, p. 77)
Além disso, Morin tem outra ideia de inserção das estrelas fabricadas pelo star system: o surgimento de um novo produto da chamada cultura de massa, o termo “olimpianos modernos” para as celebridades, fazendo alusão aos deuses adorados da mitologia grega. Surge, então, os Dj’s que são cultuados agora por meio da representação de suas imagens.
Os novos olimpianos são, simultaneamente, magnetizados no imaginário e no real, simultaneamente ideais inimitáveis e modelos imitáveis; sua dupla natureza é análoga à dupla natureza teológica do herói-deus da religião cristã: olimpianas e olimpianos são sobre humanos no papel que encarnam, humanos na existência privada que levam. A imprensa de massa, ao mesmo tempo que investe os olimpianos de um papel mitológico, mergulha em suas vidas privadas a fim de extrair delas a substância humana que permite a identificação. (MORIN, 1962, p. 101)
Nas fotos de divulgação do Crocodilo e Super Pop, as imagens dos Dj’s evidenciam o domínio das festas. Nota-se que além dos efeitos pirotécnicos e de iluminação direcionados aos Dj’s, existe um local de destaque e elevado que permite uma visão de todos os que estão na festa e a interação com o público. Essa estrutura lembra o projeto do filósofo inglês Jeremy Bentham de um modelo de prisão, em 1789, que serviu para todas as instituições: o panóptico. O Panóptico era um edifício em forma de anel, no meio do qual havia um pátio com uma torre no centro onde ficava um vigilante observando o prisioneiro, a criança aprendendo a escrever, o operário a trabalhar, segundo o objetivo da instituição. Nas festas, o vigilante na torre se encarna nos Dj e as classes monitoradas seriam os frequentadores. Michel Foucault ao estudar a sociedade disciplinar, constata um dispositivo de poder. 
Daí o efeito mais importante do Panóptico: induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder. Fazer com que a vigilância seja permanente em seus efeitos, mesmo se é descontínua em sua ação; que a perfeição do poder tenda a tornar inútil a atualidade de seu exercício; que esse aparelho arquitetural seja uma máquina de criar e sustentar uma relação de poder independente daquele que o exerce. (FOUCAULT,1997, p.195)
É partir desta centralização de poder e vigilância que o Dj comanda a festa. Surgem as interações com o público, como: “Cadê a galera do Remo?” “Cadê a galera do Paysandu? ” “Só quem tá solteiro levanta a mão pra cima! ”. 
Imagem de divulgação - Festa do Super Pop e o Dj Dinho no comando
Imagem de divulgação - Dj Gordo no centro da festa
 “O Panóptico é uma máquina maravilhosa que, a partir dos desejos mais diversos, fabrica efeitos homogêneos de poder” (FOUCAULT, 1997, p.196). 
Essa “torre de vigilância” nas festas entrega o domínio e a representatividade aos Dj’s que a partir de uma observação faz do público um termômetro para saber se a música está de agrado.
4- O corpo: “faz o S pra mim” e a “boquinha do animal”
A expressão corporal nas festas do Pop Som e Crocodilo é a recepção do que os Dj’s produzem, ou seja, o ritmo e a batida da música movimenta o corpo em passos ensaiados, mas há um espaço entre a produção musical e a recepção que gera a coreografia, e esse espaço Martín Barbero chama de mediação. Em Dos meios às mediações (1997), Barbero mostra a descentralização da observação dos meios e amplia essa visão para o cotidiano, para as experiências de vida, etc. O autor usa a mediação para ligar a comunicação à cultura. Essa ligação –nesta análise- se desenvolve da seguinte forma: com a expressão corporal. Durante as festas do Pop Som os frequentadores gesticulam com as mãos às ordens de músicas com verbos imperativos, como este trecho de música da Banda Bruno e Trio: “faz o S pra mim, faz o S pra mim, louco por você, meu águia de fogo vou te ver...”. Nas músicas que exaltam a aparelhagem Crocodilo, o gesto característico é feito com as duas mãoscomo se tivesse imitando a boca de um crocodilo. A música do Mc Dourado e Mr. Catra, lançado em 2016, estimula a performance no trecho: “faz a boquinha do animal, boquinha do animal, dá-lhe a dentada, dentada...”
Imagem de divulgação- Coreografia do Pop Som
Imagem de divulgação- Coreografia da aparelhagem Crocodilo
Analisando essas imagens pela ótica de William Shakespeare, o poeta inglês- sabiamente- dizia que “o mundo inteiro é um palco, e todos os homens e mulheres são apenas atores... Um homem representa muitos papéis em sua vida”. As expressões corporais nessas festas revelam, evidentemente, muitas coisas diferentes, onde os “papeis encenados” (fotografias) são compartilhados em redes sociais expressando alegria e os símbolos das festas, e automaticamente há uma identificação de qual festa de aparelhagem esses “atores” frequentam.
Dialogando com Foucault (1997), em Vigiar e Punir, percebe-se que o corpo não é apenas um texto cultural, e que o gesto do “S” e da “boquinha do animal” são resultados do que o autor chama de “corpos dóceis”, ou seja, os corpos são treinados, moldados e marcados pelo contexto histórico que se vive. Foucault explicita que micropoderes perpassam todo o corpo social, acarretando em transformações e modificações de condutas nos indivíduos. O corpo social, ao longo dos séculos, se consolida como algo fabricado, influenciado por uma coação calculada, esquadrinhado em cada função corpórea, com fins de automatização, cabe aqui às letras com verbos imperativos e que enaltecem as aparelhagens, pois quanto mais os frequentadores reproduzem os gestos das letras das músicas, mais intensa fica a festa e sob o domínio dos D’js; estimulando a assiduidade em outras festas e o consumo. 
Seguindo a análise com Foucault, com a obra Arqueologia do Saber (2009), o autor melhor define o seu conceito base: o discurso, que é “um conjunto de enunciados, na medida em que se apoiem na mesma formação discursiva”; este conjunto é limitado a um certo número de enunciados, além de ser “histórico – fragmento de história, unidade e descontinuidade na própria história, que coloca o problema de seus próprios limites, de seus cortes, de suas transformações, dos modos específicos de sua temporalidade, e não de seu surgimento abrupto em meio às cumplicidades do tempo.” (FOUCAULT, 2009, p. 132-133).
As expressões corporais são consideradas como discursos, e possuem um suporte histórico e institucional (aparelhagens) que, nesse caso, permite a sua realização. Um frequentador das aparelhagens Pop Som ou do Crocodilo, quando ocupa um lugar institucional (festa de aparelhagem) faz uso dos enunciados de determinado campo discursivo segundo os interesses de cada trama momentânea. Além destes elementos, há outro central: a compreensão de que o discurso é uma prática, que constrói seu sentido nas relações e nos enunciados em pleno funcionamento.
Essa prática discursiva de se comunicar numa festa de aparelhagens com o símbolo do “S” e a “boquinha do animal” se define como um “conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa” (FOUCAULT, 2009, p. 133). Ou seja, é um discurso que se atém um espaço físico, que é a festa; e por vezes é divulgado nas redes sociais. Essa forma de se expressar com símbolos feitos com as mãos não faz parte de uma comunicação diária e uma das máximas dos estudos discursivos foucualtianos é a de que “não podemos falar de tudo em qualquer circunstância“(FOUCAULT, 2009, pag. 3) o que consiste em afirmar que “não se pode dizer qualquer coisa em qualquer lugar”, esses gestos se referenciam a uma série de inter-relações que fazem com que determinado objeto e discurso apareçam em determinados momentos. 
5- A construção da identidade: a metamorfose do Crocodilo e do Pop Som 
Ao longo dos 31 anos do Pop Som e dos 10 anos do Crocodilo, as aparelhagens passaram por mudanças influenciadas pela historicidade, pelo capitalismo e, também, pela exigência do público. Essa metamorfose de equipamentos eletrônicos, luzes de LED, e ritmos musicais- entre outros fatores- contribuíram na construção de identidade. Desde o século XVIII, com a revolução industrial e as mudanças econômicas, a discursão de identidade foi ampliada, onde o sujeito deixa de ser visto de forma individual, e passa ser analisado como parte de uma estrutura/sociedade. O Pop Som já passou por algumas evoluções, entre elas: Pop Som: o águia de fogo, Pop Som 1, 2, 3 e 4, Super Pop: o peso do som, Super Pop: o águia de fogo, O Águia de Fogo Super Pop: O Arrasta Povo, atualmente conhecido como Super Pop Live: o águia de fogo. Para Hall (2005) as identidades são construídas historicamente através de mudanças do “eu”, o sujeito assume uma identidade diferente em cada momento, ou seja, a sociedade mudou com o tempo e as aparelhagens também mudaram para acompanhar essas mudanças, como explica Castells (2003) a construção da identidade utiliza os artifícios históricos, biológicos, culturais, aparatos de poder, fantasias pessoais, crenças religiosas.
Essa metamorfose das aparelhagens são atribuídas ao que Hall (2005) chama de sujeito pós-moderno, que não possui uma única identidade, e sim múltiplas e cambiantes. O reflexo do sujeito pós-moderno nas mudanças das aparelhagens são os diferentes ritmos tocados em uma festa, por exemplo, como pagode, sertanejo, funk, etc. 
Por ora, o Crocodilo passou por apenas por uma mudança. Atualmente, a aparelhagem tem uma cabine de nove metros de comprimento para o maior e melhor conforto dos DJs, o Crocodilo- O animal toca tudo do Pará, passou a ser chamado de Gigante Crocodilo Prime; mudança incitada pelo público múltiplo. 
Essas representações sociais e culturais criam identidades deslocadas e esse modo de vida e os rearranjos de tempo/espaço propiciam uma conexão com outros povos, em resumo: uma multiplicidade de frequentadores conquistados pelas transformações. Como já dito, o público fomentou as mudanças das aparelhagens, que se deram com as novas “revoluções industriais”.
Neste trecho de entrevista ao Portal ORM, no dia 06 de setembro de 2017, o Dj Gordo explica os motivos da mudança: 
“Já eram dois anos que a gente estava com o Crocodilo antigo e o mercado e o público sempre exigem as melhores coisas do cenário das aparelhagens... Por isso nos reinventamos e agora vamos apresentar essa nova estrutura, com um jacaré gigante, iluminação, telão de LED e muito mais. Tudo novo, sempre para proporcionar a melhor qualidade ao nosso público” (Site ORM, 2017)
Essas mudanças do Pop Som e do Crocodilo contribuem, também, para a identidade do público, por meio do que Bauman (2005) chama comunidade de destino, onde as pessoas são “fundidas unicamente por ideias ou por variedade de princípios)
As múltiplas identidades que as aparelhagens possuem por conta das múltiplas mudanças dos frequentadores são frutos principalmente da globalização que reestruturou as sociedades que deixaram de ser tradicionais e passaram a ser estruturas mais complexas. 
As transformações associadas à modernidade libertaram o indivíduo de seus apios estáveis nas tradições e nas estruturas. Antes essas eram divinamente estabelecidas; não estavam sujeitas, portanto, a mudanças fundamentais. O status, a classificação e a posição de uma pessoa na “grande cadeia do ser” – a ordem secular e divina das coisas – predominavam sobre qualquer sentimento de que a pessoa fosse um indivíduo soberano. O nascimento do “indivíduo soberano”, entre o Iluminismo Renascentista do século XVI e o Iluminismo do século XVIII, representou uma ruptura importante com o passado. (HALL, 2005, p.25)
Essas construções de identidades, seguidas de mudanças estruturais no Pop Som e Crocodilo consideram-se adaptações ao meio, mas que deixaram rastros ao longo dos anos que as caracterizam como cultura do Estado do Pará. 
 Bibliografia (REFERÊNCIAS)
BAUMAN, Zigmunt.Identidade: entrevista a Benedetto Vechi.. Rio de Janeiro. Editora Jorge Zahar. 2005.
CASTELLS. Manuel. A era da informação: Economia, sociedade e cultura- vol II. O poder da Identidade. Lisboa. Gulbenkian. 2003.
CANCLINI, Nestor García. 4ª. ed. Culturas híbridas. São Paulo: EDUSP, 2006. 
 COSTA, Antônio Maurício Dias da. Festa na cidade: o circuito bregueiro de Belém. Belém: S/N, 2007. 316 p il.
MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
DE FELIPPE JUNIOR, Bernardo. Mídias eletrônicas, impressas e alternativas: o que são e como utilizar. Brasília: Ed. SEBRAE, 1994.
FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.
 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Nascimento da Prisão. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1997
FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. 5º Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2009.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2005
HOHLFELDT, Antonio; MARTINO, Luiz C. et FRANÇA, Vera Veiga (Org.). Teorias da comunicação – Conceitos, escolas e tendências, Petrópolis: Vozes, 2001.
LOUREIRO, João de Jesus Paes. Cultura Amazônica: uma poética do imaginário. Belém: Cejup,1995.
PERUZZO, Cecília. Revisitando os conceitos de comunicação popular, alternativa e comunitária. 29º congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Intercom. 2006.
Site
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http://www.superpoplive.com.br/ - Acesso em 26/10/2017

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