Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Práticas em Textos: relatórios de estágios em psicologia XIV Seminário de Práticas Supervisionadas v. 2, n. 1 ago./dez. 2011. ISSN 1984-8544 2 INSTITUTO PRESBITERIANO MACKENZIE Diretor-Presidente Hesio Cesar de Souza Maciel Diretor de Planejamento e Finanças Solano Portela Diretor de Ensino e Desenvolvimento José Paulo Fernandes Júnior Diretor Administrativo e Gestão de Pessoas Wallace Tesch Sabaini UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Chanceler Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes Reitor Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto Vice-Reitor Dr. Marcel Mendes Secretário Geral Eng. Nelson Callegari DECANATO ACADÊMICO Drª.Esmeralda Rizzo DECANATO DE EXTENSÃO Dr. Cleverson Pereira de Almeida DECANATO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO Dr.Moises Ari Zilber CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE Dr. Roberto Rodrigues Ribeiro – Diretor do CCBS Drª. Berenice Carpigiani – Coordenadora do Curso de Psicologia 3 Práticas em Textos: relatórios de estágios em psicologia XIV Seminário de Práticas Supervisionadas v. 2, n.1 . ago./dez. 2011. ISSN 1984-8544 4 Conselho Científico Externo: Profª Drª Anete de Souza Farina - IPUSP Profª Drª Elisa Medici Pizão Yoshida – PUCC Profª Drª Eliana Herzberg – IPUSP Profª Drª Leila Cury Tardivo – IPUSP Prof. Dr. Marcelo Afonso Ribeiro – IPUSP Profª DrªMaria da Conceição Coropus Uvaldo – IPUSP Profª Drª Maria Salete Lopes Legname Paulo – UMESP Profª Drª Tania Maria Aielo Vaisberg – PUCC Comissão Científica Interna: Profª. Drª. Angela Biazi Freire Profª. Drª. Glaucia Mitsuko Ataka da Rocha Profª. Ms. Lourdes Santina Tomazella Prof. Dr. Lucas de Francisco Carvalho Prof. Dr. Luiz Renato Rodrigues Carreiro Prof. Dr. Nicolau Kuckartz Pergher Profª. Ms. Sonia Maria da Silva Profª Ms. Susete Figueiredo Bacchereti Editores Acadêmicos: Drª.Maria Leonor Espinosa Enéas Ms. José Estevam Salgueiro Endereço para correspondência Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Rua Consolação, 930 – Edifício 38 – Térreo São Paulo – SP – 01239-902 Telefone: (11) 2114-8142 e-mail: ccbs.secretaria@mackenzie.com.br Práticas em texto: relatórios de estágios em psicologia. - vol. 2, n. 1 ago./dez. 2011 São Paulo: Curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2011 Semestral ISSN 1984-8544 1. Psicologia. I. Universidade Presbiteriana Mackenzie. Curso de Psicologia 5 SUMÁRIO ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA COMUNITÁRIA A JUVENTUDE E O VAZIO: UMA PRODUÇÃO DA VISIBILIDADE SOCIAL, 06 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DE ADULTO MOMENTOS DE DESPEDIDAS: REFLEXÕES SOBRE O MANEJO COM O PACIENTE IDOSO, 11 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA JURÍDICA PENAS ALTERNATIVAS À PRISÃO: CUIDANDO DA RELAÇÃO ENTRE O PRESTADOR DE SERVIÇOS (PSC), SEU TRABALHO E A INSTITUIÇÃO PARCEIRA, 15 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA JUNGUIANA O PESO ESCURO SOBRE OS OMBROS: LIDANDO COM A SOMBRA NUM PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO, 20 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE A VIVÊNCIA DO CÂNCER COMO OPORTUNIDADE DE REVER A VIDA, 25 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DO ADOLESCENTE A ELABORAÇÃO DO LUTO PELA PERDA DO PAI REAL COMO CONDIÇÃO DE ENTRADA NOS LUTOS DA ADOLESCÊNCIA, 30 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA COMPORTAMENTAL E COGNITIVA PASSIVIDADE: ANÁLISE E INTERVENÇÃO NA CLÍNICA ANALITICO-COMPORTAMENTAL, 35 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ESCOLAR RESSIGNIFICANDO A ESCOLA: (DES)CONSTRUINDO CONCEPÇÕES E SENTIDOS, 40 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO INSERÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO, 45 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL A DOR DO CRESCIMENTO, 50 6 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA COMUNITÁRIA1 A JUVENTUDE E O VAZIO: UMA PRODUÇÃO DA VISIBILIDADE SOCIAL Profª Dra Adriana Rodrigues Domingues Helga Helena Batista Martins Juliana Siqueira Korodi APRESENTAÇÃO A Psicologia Comunitária é uma das áreas de estágio voltada à inserção do aluno em espaços institucionais. A atuação dos estagiários visa, em um primeiro momento, compreender as relações entre os diferentes sujeitos que compõem o cenário institucional: profissionais, funcionários, usuários e a comunidade em torno dele. Após a identificação das demandas presentes neste contexto, busca-se promover intervenções que possam auxiliar o fortalecimento destas relações e o desenvolvimento de reflexões acerca das dificuldades encontradas neste cenário. A prática da Psicologia Comunitária está voltada para o desenvolvimento de uma atividade social consciente, que reflita sobre o estilo de vida da comunidade (suas relações e significações construídas coletivamente); portanto, possibilita a transformação do pensar, sentir e agir, promovendo a conscientização dos fatores psicossociais que impedem a autonomia e liberdade dos sujeitos (GÓIS, 2004). Por meio de ações de diversas naturezas, busca-se promover as potencialidades humanas e a transformação social, sendo necessário, para que isto ocorra, que os sujeitos reconheçam suas capacidades, além de se responsabilizem pela participação na construção de suas histórias e da história da comunidade. Introdução Quando pensamos em comunidade e nos sujeitos que a compõe, podemos observar que a imagem do jovem é socialmente percebida por meio de representações que interferem diretamente na forma de compreendê-los. É importante entendermos essas imagens como constituídas socialmente, o que torna necessário perceber como cada jovem tem construído sua história, suas singularidades e suas experiências. 1 Supervisores da área: Profª Drª Adriana Rodrigues Domingues, Profª. Drª. Cláudia Stella, Prof. Ms. Pablo de Carvalho Godoy Castanho, Prof. Dr. Robson Jesus Rusche. 7 Uma imagem fortemente associada à juventude é a ideia de que há “jovens em situação de vulnerabilidade social”. Entendemos que esta vulnerabilidade não é devida apenas a condição socioeconômica, mas, sobretudo, à própria condição de ser jovem. Segundo Nicácio (2007), a vulnerabilidade é algo inerente a essa fase da vida porque todos jovens são susceptíveis aos efeitos da contemporaneidade, independente de sua classe social, etnia, cultura ou nível econômico. Um dos fenômenos vividos por eles é a preocupação com a construção de sentidos para suas vidas, a fim de que possam assumir suas próprias experiências. Segundo Aquino et al (2011), essa ausência de sentido tem sido entendida como um vazio existencial. Para Frankl (2005 apud AQUINO et al., 2011), a juventude atual vive o vazio por causa da impossibilidade de encontrar sentido naquilo que fazem, gerando um mal-estar expresso pelo tédio. Como consequência, os jovens buscam na drogadição, na violência e agressividade, nos relacionamentos fluídos e fugidios, algo que possa preenchê-los. Diante de uma vida na qual ele não sabe o que realmente quer e o que fazer da sua existência, o jovem abandona sua autenticidade e adere à vontade dos outros. Assim, não consegue atribuir valor e significadoa sua vida, e não consegue, por isso, perceber as próprias potencialidades. Objetivos O projeto buscou criar um espaço que proporcionasse visibilidade social a dois grupos de jovens que frequentam a instituição onde se desenvolveu o estágio. Consideramos que eles desejam ser vistos e percebidos em suas necessidades e interesses, por isso, procuramos fornecer um instrumento em que, por meio da livre expressão, os jovens pudessem utilizar seus recursos pessoais e grupais, reconhecer e desenvolver seus potenciais, e serem protagonistas na construção de uma atitude mais ativa, autônoma e responsável diante da vida. O projeto também foi um instrumento utilizado para fortalecer a dinâmica e o vínculo grupal, favorecendo o estabelecimento de um contexto seguro para que os jovens se sentissem acolhidos e respeitados em suas diferenças. A ferramenta utilizada foi pensada, considerando os interesses que possuíam em comum, no caso, a internet. 8 Método O projeto foi realizado com dois grupos de jovens de 14 a 22 anos, de ambos os sexos, inscritos em um Centro para Juventude, e consistiu na criação de um blog por cada um dos grupos. A estrutura do blog foi sugerida pelos próprios jovens, que utilizaram o espaço da sala de informática para construí-lo e administrá-lo. O blog foi alimentado por atividades semanais sugeridas por nós e pelos próprios jovens, os quais puderam trazer suas ideias, temas de interesse e relatos de experiências. As atividades foram estruturadas a partir da definição de temas mensais, sendo eles: identidade, expressão e conscientização. Discussão No desenvolvimento dos encontros, percebemos que os jovens não possuíam um autoconceito desenvolvido, pois pouco se olhavam e pensavam sobre si mesmos. O autoconceito refere-se à representação social que o jovem tem de si e de suas características individuais, sendo desenvolvido nas relações sociais desde a infância. Também são aspectos que desempenham uma grande influência no modo de perceber os acontecimentos e as pessoas, influenciando o comportamento e as experiências do indivíduo (SÁNCHEZ; ESCRIBANO, 1999; 1969 apud ASSIS et al., 2003). Quando eram questionados a respeito de quem eram, não conseguiam responder, apresentavam dificuldade de se olhar e dificilmente enxergavam suas qualidades. Desta forma, procuramos proporcionar momentos de reflexão, nos quais eram incentivados a se olhar sem o medo de sofrerem censuras ou críticas, e expressar suas percepções a respeito de si mesmo, do outro e de seus interesses. Ao incentivarmos a participação mais efetiva dos jovens, buscamos desenvolver neles uma postura mais ativa frente à vida. É comum falarmos em autonomia e defendermos a postura de que eles precisam se sentir autônomos, mas, o que percebemos foi uma situação de conformidade e passividade frente a qualquer desafio que surge em seus cotidianos. Ainda podemos pensar essa passividade, como resultante do vazio existencial vivenciado por eles, no qual não conseguem construir sentido e direção em suas vidas. Segundo Zibas, Ferretti e Tartuce (2006), é importante valorizar as iniciativas dos jovens e traduzi-las em direção a construção do protagonismo social. Entendemos que o incentivo a reflexão e a valorização das ideias que os jovens possuem, é uma forma de preencher esse vazio e 9 ressignificá-lo, demonstrando o potencial que os jovens possuem para buscar novas formas e meios de viver. Por meio da construção do blog, os jovens puderam expressar seus interesses e opiniões, escrevendo textos sobre esporte, música, moda, novelas e programas de TV. A atividade era dirigida de forma que eles tivessem liberdade para escolher os temas e, ao refletirmos juntos sobre o que escreveriam no blog, puderam ressignificar a visão que possuíam acerca de si mesmos, do que gostavam e do que faziam. Considerações Finais A elaboração e o desenvolvimento do projeto nos proporcionou um intenso desenvolvimento profissional e pessoal. A prática profissional nos ensinou que para se relacionar com seres humanos, antes de tudo, é preciso lembrar que também somos seres humanos e portamos características e valores pessoais. No cotidiano com os jovens, aprendemos a lidar com a transitoriedade da sua participação. A cada encontro, um novo desafio nos esperava e uma nova postura era solicitada, por isso, foi necessário compreender suas necessidades para juntos buscarmos entender o que vivíamos como grupo. Nos momentos de reflexão, quando os jovens contavam suas histórias de vidas, ensinavam-nos as formas que encontram para sobreviver frente a uma realidade repleta de dificuldades. Aprendemos e crescemos como seres humanos e como profissionais da Psicologia, pois, na convivência com estes jovens, foi importante respeitarmos os diferentes valores, mesmo que estes se confrontassem com os nossos próprios valores. Aprendemos a nos desapegar de nossos ideais e valores moralistas, para que fosse possível enxergar a realidade que estes jovens vivem e auxiliá-los na descoberta de suas potencialidades. Palavras-chave: Juventude; visibilidade social; potencialidade. Referências AQUINO, et al. Avaliação de uma Proposta de Prevenção do Vazio Existencial com Adolescentes. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 31, n.1, p.146-159, 2011. ASSIS, S. G. et al. A representação social do ser adolescente: um passo decisivo na promoção da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 8, n. 3, p. 669-680, 2003. 10 GÓIS, C.W.L. - Psicologia Comunitária. In SILVA, M.F.S.; AQUINO, C.A.B. (orgs.) – Psicologia Social: Desdobramentos e Aplicações. São Paulo: Escritura Editora, 2004. (Coleção Ensaios Transversais). NICÁCIO, C. S. Violência na televisão: a juventude colonizada. Revista Outro Olhar, 19 – 23, 2007. ZIBAS, D. M. L.; FERRETTI, C. J.; TARTUCE, G. L. B. P. Micropolítica escolar e estratégias para o desenvolvimento do Protagonismo juvenil. Cadernos de Pesquisa, v. 36, n. 127, jan./abr, 2006. 11 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DE ADULTO2 MOMENTOS DE DESPEDIDAS: REFLEXÕES SOBRE O MANEJO COM O PACIENTE IDOSO Profª. Ms. Martha Serôdio Dantas Roberta Silveira Bueno Pelosini APRESENTAÇÃO Este estágio tem como objetivo proporcionar ao aluno-estagiário a prática do atendimento psicoterápico de abordagem psicodinâmica com adultos. Pretende-se que o aluno desenvolva e apure o raciocínio clínico por meio da prática clínica e discussões grupais. Para atingir tais objetivos, o estagiário presta atendimento clínico adequado às demandas da comunidade, de acordo com preceitos éticos e legais, no serviço-escola do CCBS da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Introdução A atual demanda por atendimento psicológico em instituições é enorme e a maioria das pessoas não possui disponibilidade emocional e financeira para atendimentos de longa duração. Em vista disso, a Psicoterapia Breve (PB) surgiu como forma de diminuir o sofrimento das pessoas e oferecer bom atendimento. Freud, no início, acreditava que a psicanálise com idosos não era possível, pela reduzida plasticidade mental (MARTINS, 1998). Não se pensa mais assim, e encontramos excelentes trabalhos com idosos e aumento da procura de atendimento por esta população. Os idosos representam hoje 8,6% da população brasileira (BRASIL, 2003) e o percentual tende a aumentar. A ampliação dos conhecimentos na área de Psicoterapia Breve com Idosos, portanto, se torna necessária. Entretanto, muitos relutam em procurar atendimento psicológico entendendo as questões que aparecem na velhice como “coisas da idade”, dispensando cuidado específico (MARTINS,1998). O tratamento de idosos exige que o terapeuta despenda grande esforço, pois as questões humanas mais difíceis de lidar estão presentes: “medos e ansiedades pessoais sobre dependência, desamparo, envelhecimento e morte” (MARTINS, 1998, p.12). Como, ao 2 Supervisores da área: Dinorah Fernandes Gioia Martins, Fernando Genaro Junior, Gláucia Mitsuko Ataka da Rocha, Maria Alice Barbosa Lapastini, Maria Leonor Espinosa Enéas, Maria Lucia Souza Campos Paiva, Maria Olinda G. Sementille, Martha Serôdio Dantas, Monica Maria de Angelis Mota, Rosa Maria Lopes Affonso, Sonia Maria da Silva. 12 procurar atendimento, os idosos em geral buscam alívio para suas dificuldades imediatas ou auxilio para lidar com determinado problema (MARTINS, 1998), a Psicoterapia Breve é bem eficiente. Vamos destacar agora a paciente que foi atendida em Psicoterapia Breve de Adulto. Trata-se de X, senhora com 84 anos, aposentada há 25 anos (trabalhava no setor público), e que após a aposentadoria foi secretária em consultório de um médico, até o seu falecimento, há dez anos. X tinha duas irmãs e dois irmãos, todos falecidos. A primeira irmã, que faleceu de câncer aos 30 anos de idade, deixou um filho de quatro anos de idade que foi “adotado” pela paciente e pela outra irmã (falecida em 2002). X sempre considerou o sobrinho um filho, estando presente durante toda sua educação. O sobrinho, com 62 anos, reside com ela. X foi sempre pessoa ativa e disposta, gostava de atividades variadas, ia ao cinema, ao teatro, saía para jantar, ia a casa dos amigos. A última amiga, porém, faleceu no ano passado, e desde então, X não tem mais vontade de sair de casa. X vive momento bastante complicado, pois enfrenta séria crise financeira, com dívidas e tendo por única fonte de renda a aposentadoria. O sobrinho não tem renda. O motivo que levou X a buscar ajuda foi o medo de morrer. Ela sente-se impotente frente às questões da velhice, não viveu o processo de envelhecimento, tendo se percebido de repente uma pessoa idosa. Segundo ela, até os oitenta anos, nunca tinha pensado na velhice, nunca havia tido empecilhos para as atividades diárias. X sempre evitou pensar sobre a velhice, demonstrando dificuldade em vivenciá-la e em elaborar o luto da perda da juventude. X apresenta quadro com diferentes doenças físicas: diabetes, disfunção da tireoide, pressão e colesterol elevados, o que produz nela sofrimento e desorganização, em parte pela dificuldade em tomar os medicamentos de forma correta e com regularidade. Estas circunstâncias contribuem para o quadro de depressão severa. Segundo Zimmerman (1999), podemos ver aí caso de depressão por perdas do ego, já que a paciente, além das perdas materiais, sofreu também, perdas de atributos do ego: diminuição da mobilidade e dos reflexos, perda da audição etc.. O principal sentimento deste quadro é o de que a pessoa não se sente mais a mesma, e X não se sente a mesma de quatro anos atrás. Objetivos Buscaremos enfatizar aspectos técnicos no manejo clínico de atendimento ao paciente idoso, destacando as peculiaridades relativas ao momento de vida. No caso clínico apresentado, considerando a queixa inicial e o momento de vida da paciente, o objetivo 13 terapêutico foi o de fornecer suporte emocional para X aceitar e elaborar o envelhecimento e lidar com a angústia da morte. Método Foram utilizadas intervenções suportivas, a estratégia mais recomendada no tratamento com idosos (MARTINS, 1998) por proporcionar alívio dos sintomas por meio de vínculos de aceitação e compreensão do terapeuta. Seguindo os preceitos da Psicoterapia Breve, evitamos a neurose de transferência ou a regressão. Ao atender idosos, é interessante permitir certa flexibilidade na estratégia, como a inclusão de familiares (MARTINS, 1998). A possibilidade da participação do sobrinho foi considerada. X, entretanto, mostrou resistência a isto alegando: (1) não querer “preocupá-lo” e (2) manter a privacidade do espaço terapêutico, que ela valoriza bastante sendo o momento no qual pode falar e compartilhar seus medos. No planejamento, consideramos a possibilidade de uma sessão com o sobrinho quando do encerramento, com objetivo de transmitir orientações de cuidados. Discussão Percebemos que foi importante a criação da aliança terapêutica entre a estagiária e a paciente. Quando do início dos atendimentos, no primeiro semestre, para conseguir mostrar o quanto é desesperador viver pensando que é possível morrer a qualquer momento, e mostrar a intensidade do sofrimento, X atuou na sessão, simulando estar morrendo. O vínculo de confiança entre a estagiária e a paciente criado após este dia foi importante para o bom andamento do tratamento. Percebemos logo que X possui frágil estrutura egoica e não consegue lidar com as questões do envelhecimento, sentindo-se impotente frente aos problemas vividos. O medo de morrer a impede de perceber o que pode agora na vida. X demonstrava inconformismo, comparando sua vida à de outros idosos. X queria entender porque, apesar de ter se esforçado tanto ao longo da vida, tem a velhice que jamais imaginara. A resistência em aceitar a velhice e a negação foram cedendo aos poucos ao longo do atendimento e ela pôde elaborar o envelhecimento, percebendo-o como inevitável, possível de ser vivido e que a velhice não precisa ser paralisante. Novos sentimentos foram surgindo, e X relatou sentir revolta por sua velhice difícil: tal revolta a ajudou a enfrentar os problemas e a pensar em soluções. Se antes X não conversava com o sobrinho acerca dos problemas financeiros, deixando-o resolver sozinho, apesar da angústia 14 que isto provocava, agora lhe foi possível enfrentar a situação e pensar em mudança. Sem a mínima vontade de sair de casa, nos últimos meses X só dormia e comparecia aos atendimentos de psicoterapia. Dormir era a forma de não pensar nos problemas e de encontrar nos sonhos os parentes queridos falecidos. Em um dos sonhos, X ouviu a noite toda uma música do Roberto Carlos, da qual lembrava apenas a frase “se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”. O sonho foi útil para começar a elaborar e aceitar a velhice, aprendendo a resgatar momentos bons vividos naqueles anos. Tomada pelos problemas agora vividos, ela só conseguia lembrar momentos difíceis e ruins que justificassem a situação atual. A aliança terapêutica foi essencial, pois a relação de suporte com a estagiária, X não encontrava em seu meio. Criou-se o espaço no qual X podia falar e elaborar questões difíceis e também podia chorar (ali era o único lugar em que ela podia chorar). O final da terapia foi difícil, pois intensificou tanto as experiências de perdas que X vivenciou durante a vida quanto seu sentimento de finitude. As mudanças por ela experimentadas foram valorizadas e ela pôde ver no término algo inevitável e não necessariamente ruim, pois aprendeu (com o auxilio do terapeuta) a “olhar para trás”, compreender a importância do processo tendo ele lhe possibilitado sentir-se diferente. Considerações Finais O trabalho atingiu o objetivo. X conseguiu pensar sobre o que pode ou não fazer na velhice, entendendo sua inevitabilidade. Foi importante a compreensão e elaboração por parte da estagiária de particularidades da fase do ciclo vital da paciente para que pudesse haver um planejamento e manejo terapêutico adequados, o que possibilitou o devido acolhimento e possibilidade de elaboração por parte da paciente. Palavras-chave: psicoterapia breve; idosos; manejo clínico. Referências BRASIL, Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, 2003. MARTINS, R, C. Psicoterapiabreve de idosos: avaliação de resultados. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, 1998, 95 p. SEGRE, C. D. Psicoterapia breve. São Paulo: Lemos Editorial, 1997. ZIMERMAN, D. E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica: uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed, 1999. 15 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA JURÍDICA3 PENAS ALTERNATIVAS À PRISÃO: CUIDANDO DA RELAÇÃO ENTRE O PRESTADOR DE SERVIÇOS (PSC), SEU TRABALHO E A INSTITUIÇÃO PARCEIRA. Profª Dra. Vânia Conselheiro Sequeira Mariana Zanzini Thaylla Carvalho Cavalcante Gomes APRESENTAÇÃO A Psicologia Jurídica envolve ações da psicologia na área jurídica, atuando em abrigos, medidas socioeducativas, Conselhos Tutelares, Vara de Infância e Juventude, sistema penal, ONGs e Instituições de defesa de direitos humanos. Nesse estágio, em Penas e Medidas Alternativas, foi realizado um diagnóstico institucional, um projeto de intervenção cujo foco foi cuidar da dimensão do trabalho na pena de prestação de serviços à comunidade. Introdução As penas alternativas à prisão surgiram a partir de uma reforma penal em 1984 que incorporou novas modalidades de penas para indivíduos que cometeram crimes de pouca gravidade ou os cometeram pela primeira vez. O objetivo principal é a não colocação do sentenciado em uma penitenciária, entendo o encarceramento como prejudicial, em que este é separado do convívio da própria sociedade em que vive, (SEQUEIRA, 2000). Nesse projeto, só trabalhamos com a prestação de serviços à comunidade, pois esta pena tem um caráter educativo, fazendo com que o sentenciado desenvolva um trabalho a serviço da comunidade; além de garantir a convivência com indivíduos que não estão envolvidos com atos criminais. Este trabalho que o PSC desenvolverá em uma instituição parceira deve estar de acordo com suas aptidões, habilidades e interesses, (SEQUEIRA, 2002), havendo assim, uma identificação com o trabalho a ser desenvolvido, facilitando o cumprimento da pena, sendo também, reconhecido não como alguém que cometeu um crime, mas alguém que pode contribuir para sociedade com seu trabalho, e valorizado por isso. Segundo Dejours (apud Sequeira 2002), o trabalho ajuda o homem a se disciplinar, fazendo com que existam condições de consentimento e banalização do mal, além de ser um elemento de 3 Supervisores da área: Profª. Drª. Anna Christina da M. P. Cardoso de Mello; Prof. Ms. Fernando da Silveira; Profª. Ms. Leila Sueli Dutra de Paiva; Prof. Dr. Marcelo Moreira Neumann; Profª. Ms. Tânia Aldrighi e Profa Dr. Vânia Conselheiro Sequeira. 16 transformação social, pois, através dele, o homem consegue experimentar muitos tipos de vivências subjetivas. O objetivo geral do projeto foi melhorar a relação entre os prestadores de serviço à comunidade e o trabalho que executam nas instituições parceiras, colaborando para uma humanização da prestação de serviços à comunidade; trazendo benefícios tanto para os PSCs como para as instituições parceiras. Diagnóstico: Na pena alternativa de PSC, os sentenciados cumprem penas trabalhando, por isso é importante que o trabalho não seja aviltante, nem humilhante para o sujeito, pois assim os apenados podem refazer laços de cidadania por meio da atividade realizada nas instituições parceiras. Porém, na prática, isso é bem difícil de ocorrer, pois os PSCs são encaminhados para locais perto de suas residências, sem um levantamento detalhado sobre seu perfil, habilidades e potenciais. No que diz respeito à captação de vagas, ela também é bem geral, sem se ater a atividades que possam fazer diferença na realidade institucional. Atualmente a instituição conta com 1.026 instituições parceiras para onde os PSCs podem ser encaminhados, e muitas instituições estabelecem parceria sem uma proposta clara para o PSC. Isso tudo faz com que a maioria dos PCSs viva apenas a dimensão punitiva da pena, tendo dificuldades em lidar com o trabalho a ser realizado, com as instituições, abandonando a pena ou sendo devolvidos para a instituição para outro reencaminhamento. Projeto dividido em 4 eixos: 1º-Atualização de dados das instituições parceiras Objetivo: Na pasta consultada pelos técnicos e estagiários, cada instituição deve ter uma pequena parte descritiva, contendo a população que atende, sua finalidade e perfil do prestador que espera receber e de potencialidades de vagas. Justificativa: Com os dados da instituição mais detalhados, o entrevistador, juntamente com o PSC, poderá fazer uma escolha compatível com o perfil do prestador e com as atividades que deseja executar, cruzando suas habilidades, aptidões e interesses com os da instituição. Procedimento: Contato telefônico e visita para descrição da instituição em relação à população que atende, finalidade, vagas e o perfil do prestador. 2º-Treinamento de estagiários e técnicos com foco no trabalho do PSC 17 Objetivo: Na entrevista psicossocial, o entrevistador deverá fazer o levantamento do perfil de habilidades, interesses e aptidões dos PSCs de acordo com as atividades que poderão executar nas instituições. Também deverá conhecer as instituições, de forma mais particularizada para poder fazer um melhor encaminhamento. Justificativa: Com um encaminhamento adequado, consequentemente haverá uma diminuição no índice de abandono e reencaminhamento. Procedimento: Durante a entrevista psicossocial, o entrevistador deve definir o perfil do PSC, questionando-o sobre suas habilidades, aptidões e interesses, população que gostaria de atuar, tipo de instituição que gostaria de cumprir sua pena e atividades que gostaria de realizar, para encaminhá-lo a uma instituição compatível com suas características. 3º - Acompanhamento das instituições Objetivo: Atualizar constantemente as vagas das instituições. Transmitindo posteriormente esses dados para os profissionais que executam as entrevistas psicossociais. Justificativa: A atualização de vagas mostra-se como um instrumento de grande importância, pois assim a instituição fica mais próxima das instituições parceiras. Demonstrando preocupação tanto com as instituições, quanto com os prestadores, orientando e dando suporte para ambos. Deve-se investir na capacitação de estagiários que façam contato com a periodicidade a ser estabelecida. Procedimento: Acompanhar as instituições por meio de visitas ou telefonemas se aproximando do responsável dos prestadores na instituição, para saber de ocorrências. 4º - Inclusão do PSC na instituição parceira Objetivo: Proporcionar ao prestador uma recepção humanizada na instituição que cumprirá pena. Justificativa: A humanização é um fator essencial para o prestador desenvolver bem suas atividades e sentir-se valorizado pelo trabalho pela sociedade. Isso provavelmente terá como consequência um menor índice de abandono e reencaminhamento. Também haveria mais comprometimento das instituições ou seja da comunidade com a ressocialização dos apenados. Procedimento: 1. Captação de vagas: No momento em que ocorre a parceria entre a instituição e a Central, os representantes da Central que realizam a captação deverão sensibilizar as instituições 18 sobre a importância do trabalho a ser realizado pelo PSC, e o cuidado que devem ter nesse sentido da valorização da atividade e da pessoa que cumpre pena. 2. Orientação: Sensibilizar as instituições que a humanização no recebimento dos prestadores é essencial para que o mesmo possa desenvolver seu serviço de forma adequada, tendo consciência que seu serviço é importante tanto para si quanto para acomunidade. Desenvolvimento da ação 2º-Treinamento de estagiários e técnicos com foco no trabalho do PSC Foram realizados seis encontros com a equipe de atendimento psicossocial. O primeiro encontro visava o fortalecimento da equipe. O segundo encontro abordou o tema trabalho pois ele é central na pena de PSC. O terceiro encontro abordou o tema da função simbólica da pena, pois a pena tem como função ofertar ao sujeito um novo lugar social, tecer sua cidadania. O quarto encontro abordou o tema trabalho comunitário, focado na utilidade pública da PSC. O quinto encontro tinha como tema o preconceito, pelas dificuldades que o PSC vive em sua pena. Por fim, o sexto encontro teve como eixo central, a entrevista psicossocial para o cruzamento das habilidades e interesses dos PSC’s com as atividades que realizarão na instituição. Considerações Finais Conseguimos notar que a equipe trabalha de forma mais colaborativa. Estão mais atentos para a importância do trabalho que eles realizam para os PSC’s e para a sociedade em geral, levando em conta a necessidade de se realizar um encaminhamento adequado ao PSC para que a função simbólica da pena seja atingida, para que, através do trabalho, o PSC possa ressignificar-se e reinserir-se na sociedade pautando sua identidade em algo que seja valorizado dentro da lei e mais do que isso, realizando um trabalho que goste e que seja voltado para ajudar o próximo, conseguindo assim, reordenar sua cidadania. Palavras-chave: psicologia jurídica; penas e medidas alternativas; prestação de serviços à comunidade. Referências Bibliográficas SEQUEIRA, V. C. O trabalho vale a pena? Considerações sobre o trabalho na pena alternativa à prisão. Pulsional Revista de Psicanálise, ano XV, n. 157, p. 41-56, Maio, 2002. 19 SEQUEIRA, V. C. Capítulo VI- Reflexões psicanalíticas sobre a pena de prisão e sobre a prestação de serviços à comunidade. In: Penas Alternativas à Prisão: Um estudo sobre os efeitos subjetivos da Prestação de Serviços à Comunidade. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2000, p. 105- 110. 20 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA JUNGUIANA4 O PESO ESCURO SOBRE OS OMBROS: LIDANDO COM A SOMBRA EM UM PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO Prof. Ms. Guilherme Scandiucci Mariana Martinez Mesa Campos APRESENTAÇÃO O estágio proporciona o desenvolvimento de habilidades e competências para a aplicação dos conhecimentos teóricos e técnicos na condução de processo psicoterápico individual dentro da abordagem da psicologia analítica, inaugurada por Carl G. Jung (1875- 1961). Tem como objetivos desenvolver e apurar o raciocínio clínico através da prática clínica e de discussões grupais; desenvolver a capacidade de elaboração de documentos técnicos; prestar atendimentos adequados às demandas da comunidade; e desenvolver atendimento clínico de acordo com preceitos éticos e legais. Introdução No trabalho com esta paciente exploraram-se alguns conceitos desenvolvidos por Jung. Dentre eles: complexo materno, sombra e persona. Jung (1984) descreve a estrutura dos complexos como sendo formada por imagens associadas e memórias congeladas de momentos traumáticos cravadas no inconsciente e não são acessadas facilmente para recuperação do ego (centro da consciência). Os complexos são fragmentos ou “estilhaços” que compõem a psique. “O elemento central é a imagem nuclear e a experiência em que o complexo está baseado é a memória congelada.” (Stein, 2006, p. 55). Tal núcleo é composto por duas partes: uma é a imagem psíquica do trauma originador do complexo e a outra é a “peça inata (arquetípica) que lhe está intimamente associada”. (Stein, 2006, p. 55). Os complexos se formam por meio de trauma, que cria uma imagem fortemente carregada que se associa a uma imagem arquetípica. Juntas se congelam numa estrutura razoavelmente permanente. Essa estrutura tem uma quantidade específica de energia e pode ligar-se a outras imagens 4 Supervisores da área: Profª. Ms. Ana Lúcia Ramos Pandini e Prof. Ms. Guilherme Scandiucci 21 associadas para criar uma rede. Assim, o complexo é ampliado e enriquecido por experiências semelhantes com aquela que o originou. Os complexos podem irromper de forma brusca e espontânea na consciência, podendo se apossar das funções do ego ao ser constelado. (STEIN, 2006). No caso da paciente, o complexo materno, que está associado ao arquétipo materno, é constelado com frequência. De acordo com Jung (2000, p.92), “(...) seus atributos são o ‘maternal’: simplesmente a mágica autoridade do feminino; a sabedoria e a elevação espiritual além da razão; o bondoso, o que cuida, o que sustenta, o que proporciona as condições de crescimento, fertilidade e alimento; o lugar da transformação mágica, do renascimento; o instinto e o impulso favoráveis; o secreto, o oculto, o obscuro, o abissal, o mundo dos mortos, o devorador, sedutor e venenoso, o apavorante e fatal”. Em relação ao arquétipo da persona, é possível dizer que é tudo aquilo que a consciência aceita, sendo identificada e absorvida em si tornando-se parte da persona, associada a uma “máscara” e representa o papel que a pessoa desempenha no mundo. Whitmont (1990, p. 140) coloca que a persona está associada a um “impulso arquetípico para uma adaptação à realidade exterior e a coletividade”. Já na sombra, estão as características negativas, negadas pelo ego. É interessante notar que, frequentemente, o ego pode se identificar com a persona. Quando isso acontece, sente-se idêntico a ela, de modo que a sombra fica no inconsciente. “A sombra é caracterizada pelos traços e qualidades que são incompatíveis com o ego consciente e a persona”. (Stein, 2006, p.100). A sombra possui características essenciais de uma pessoa, porém contrárias aos costumes e convenções sociais. Assim, a sombra é “o lado inconsciente das operações intencionais, voluntárias e defensivas do ego” (Stein, 2006, p.101). Um fato interessante é que a sombra pode ser tão forte e tão ignorada que, para se fazer conhecer e “chamar a atenção” da consciência, pode ser somatizada em forma de doença – entendida, portanto, como comunicação simbólica da psique. Objetivos A paciente queixa-se do seu ambiente de trabalho e sobre algumas dores no corpo – que veio a se concentrar especificamente em seu ombro. Por isso o foco estabelecido visou uma compreensão de seu sofrimento frente às mudanças ao seu redor, a fim de que ela pudesse rever a maneira como se coloca no mundo. Conforme o avanço do processo ocorria, 22 o objetivo passou a mirar a necessidade de ela cuidar de si mesma, atentando para que o complexo dominante não impusesse constantes obrigações ao ego. Método O sujeito deste processo é A., uma senhora de 58 anos fortemente identificada com a persona de trabalhadora (trabalha desde os oito anos de idade). Seu sofrimento está ligado tanto à saída da Madre, diretora da escola em que trabalha e com quem mantinha uma forte relação, quanto à exploração que viveu durante toda sua vida. No princípio estava alienada disso. Os instrumentos utilizados foram: interpretação de sonhos e fantasia, e análise imagética trazidos por meio da fala não-dirigida (entrevista clínica). O procedimento consistiu em encontros semanais de 50 minutos (total de 24 sessões). Discussão Por meio da queixa principal de A., foi possível trabalhar diversos outros conflitos. A. sofreu e sentiu a saída da Madre da escola como uma morte e não tinha bom relacionamento com os novos funcionários. Em 2010 passoupelo processo psicoterápico de mesma orientação na clínica e foi encaminhada. No início de 2011 ela foi despedida da escola; contudo foi readmitida devido à ilegalidade desta medida. Tal fato provocou sentimento de humilhação, fazendo com que seu sofrimento fosse agravado. Toda vez que falava da Madre, A. chorava. Levantou-se a hipótese de que a Madre era o estímulo que constelava o complexo materno fortemente carregado em A. A Madre é um símbolo ligado ao complexo e ao arquétipo materno. Em função disso, A. só conseguia enxergar hostilidade por parte dos funcionários. Seu ambiente de trabalho era muito aversivo e A. relata que não sentia motivação nenhuma no trabalho, algo diverso do que ocorria nos tempos da Madre. É possível inferir que, com a saída da diretora, o complexo materno ficou na linha de frente. De acordo com Stein (2006), quando um complexo é constelado, “é como se a pessoa estivesse em poder de (...) uma força muito superior à sua vontade. Isso gera um sentimento de impotência.”. Jung diz que a constelação exprime “o fato de que a situação exterior desencadeia um processo psíquico que consiste na aglutinação e atualização de determinados conteúdos” (Jung, 2001, p.31). Ao longo do processo, observou-se que o complexo materno perdia força, e assim A. ia se relacionando melhor com seus colegas de trabalho e este ambiente passou a ser mais tolerável. A. passou a identificar a necessidade de não realizar tarefas que não eram suas, ao 23 passo que percebia que outrora deixava de fazer muita coisa, como, por exemplo, se impor perante a nova diretoria – algo que passou a fazer. Como resultado, se sentiu mais respeitada e menos injustiçada. Ao final da primeira parte do processo, A. começou a perceber grande necessidade de cuidar de si mesma e deixar de cuidar dos outros, à medida que o complexo materno perdia força. Apesar disso, ao longo desta etapa, permaneceu apenas refletindo e acumulando energia para as mudanças necessárias. As ações foram escassas, embora significativas. A. começava a caminhar. Na segunda parte do processo, A. passou a se queixar de dores no ombro e obteve diagnóstico de bursite. Por meio de uma imagem trazida por ela em relação a essa dor (“algo preto grudado nela, que some do nada”), foi possível trazer à luz a seguinte hipótese: o forte complexo materno, possuidor de um núcleo arquetípico e que rege seu comportamento (ainda que menos carregado), está ligado à persona de A. Esta é de uma mulher provedora e trabalhadora, que não pode parar. Sua sombra, psicossomatizada e projetada em seu ombro (a sombra de A. aparece simbolicamente por meio da dor no ombro), é de alguém preguiçoso e ocioso – algo que nunca havia se permitido. Sendo assim, tal dor (sombra) vem para desacelerar A. e fazer com que ela olhe para si. “De fato, o ego, usualmente, não possui sequer consciência de que projeta uma sombra.” (Stein, 2006, p. 98). Durante toda a vida A. foi explorada pelos outros, e principalmente por si mesma. É separada e criou sozinha a filha e, por isso, não podia experimentar o ócio. Ela viveu a vida inteira num ritmo acelerado. Isso, de certa forma, gerou uma onipotência, pois A. sempre diz que antigamente “dava conta de tudo”. Conforme se trabalhou o diálogo entre sombra e persona, A. passou a se perceber de forma mais integral. Deixou de ser alienada em relação à exploração que viveu e passou a investir mais cuidados em si mesma. Como resultado, já não se martiriza quando não consegue fazer algumas coisas. Em consequência, tem se permitido o lazer. Foi interessante notar que, ao entrar em contato com sua sombra, a dor no ombro diminuiu. A. atravessa o processo de individuação; uma de suas características mais fortes é o fato de que o sujeito passa a rever personas, de modo a abandonar algumas, dando espaço para que novas “nasçam”. A. passa a refletir sobre seus valores, crenças e atitudes, corrigindo atitudes que considera prejudiciais. Passou-se a trabalhar questões ligadas ao envelhecimento. Wenth (2008) afirma que, na doença, abandonamos velhos hábitos, o que 24 ocorre com A., pois deve abandonar hábitos que agravam a dor no ombro. De acordo com Monteiro (2008, p. 55) “(...) à medida que envelhecemos, devemos cada vez mais ter a capacidade de RE-SIGNIFICAR nossas vivências, de nos RE-ENCANTAR com a vida em seu renovar dia a dia”. Considerações finais A. passou a demonstrar grande preocupação com sua qualidade de vida e busca melhorá-la, investindo em mudanças. Por muitas vezes, o complexo materno já tomou a frente de seu comportamento, mas percebe-se que perde boa parte de sua força progressivamente. Pode-se dizer que isso ocorre em função do diálogo entre sombra, persona e ego. Conforme A. “abandona” a persona de trabalhadora, começa a adotar outra persona, que, parece, vem menos carregada de obrigações e tarefas, e mais consciente da necessidade de potencializar sua vida de maneira mais múltipla e diversificada. A sombra ajuda nesse processo na medida em que parte dela passa a ser integrada por essa nova persona – processo mediado pelo ego agora menos “heroico” e mais flexível frente aos complexos. Palavras-chaves: psicoterapia junguiana; sombra; complexo. Referências: JUNG, C. G. A natureza da psique. Petrópolis: Vozes, 1984. _______. A Vida Simbólica: escritos diversos. Petrópolis: Vozes, 2001. _______. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2000. MONTEIRO, D. M. R. No envelhecer. In: MONTEIRO, D. M. R. (Org.) Puer-Senex: dinâmicas relacionais. Petrópolis: Vozes, 2008. STEIN, M. Jung o mapa da alma: uma introdução. São Paulo: Cultrix, 2006. WENTH, R. C. No processo de adoecer. In: MONTEIRO, D. M. R. (Org.) Puer-Senex: dinâmicas relacionais. Petrópolis: Vozes, 2008. WHITMONT, E. C. A busca do símbolo: conceitos básicos de psicologia analítica. São Paulo: Cultrix, 1990. 25 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE5 A VIVÊNCIA DO CÂNCER COMO OPORTUNIDADE DE REVER A VIDA Profª Drª Sandra Ribeiro de Almeida Lopes Flávia Cristina Da Silva Araújo Hodroj APRESENTAÇÃO A área de estágio específico em Psicologia da Saúde possibilita que o aluno desenvolva habilidades técnicas e teóricas na condução do trabalho clínico realizado em instituições de saúde. Propicia ainda a inserção no cotidiano institucional através do contato direto com indivíduos em situação de adoecimento e seus familiares, em sintonia com a equipe multiprofissional. O estágio pode ser desenvolvido em diferentes equipamentos de saúde, públicos ou privados, por meio de um trabalho de avaliação e intervenção psicológica individual e/ou grupal. Introdução O trabalho que será descrito ocorreu em um Ambulatório de Neuro-oncologia de um hospital público da Cidade de São Paulo. Neste hospital, o estagiário de Psicologia é inserido na equipe interdisciplinar e participa ativamente de decisões que visem o bem-estar dos pacientes atendidos. A clientela do ambulatório é, em sua grande maioria, adultos, de baixo nível socioeconômico, de ambos os sexos. O ambulatório oferece atendimento para pacientes com tumor cerebral em qualquer fase do tratamento. Um Ambulatório é destinado à pacientes para a realização de diagnóstico e tratamento de alguma patologia específica (PROAHSA, 1978 apud ROMANO, 1999). O trabalho do psicólogo em um ambulatório deve priorizar o atendimento a pacientes que tenham problemas emocionais estritamente ligados à patologia orgânica (ROMANO, 1999), visando trabalhar a forma como o indivíduo lida com os desafios impostos pela doença e pelos tratamentos. Neste caso específico, os pacientes chegam ao ambulatóriode Neuro-oncologia já diagnosticados sendo, portanto, acompanhados no processo de tratamento, que pode ser quimioterápico, radioterápico e/ou cirúrgico. Todos os pacientes são atendidos por uma equipe de médicos oncologistas, residentes e neuropsicóloga. 5 Supervisores da área: Profª Drª Angela Biazi Freire; Profª Drª Dinorah Fernandes Gióia Martins; Profª Drª Sandra Ribeiro de Almeida Lopes e Profª Ms. Sandra Fernandes de Amorim 26 O atendimento psicológico é oferecido por estagiários vinculados à Universidade àqueles pacientes que manifestam demanda emocional frente à situação de adoecimento e tratamento. Objetivos Este trabalho tem como objetivo apontar a relevância do atendimento/acompanhamento psicológico a pacientes com câncer e seus familiares, em qualquer momento do tratamento, a partir do estudo de um caso. Método João, 59 anos, casado há 37 anos, dois filhos (31 e 29 anos) atualmente aposentado. Foi atendido no Ambulatório de Neuro-oncologia, após submeter-se a uma ressecção parcial de um tumor alocado no lobo frontal esquerdo de cérebro. Foi diagnosticado com glioblastoma, um tumor cerebral maligno, com grau de malignidade IV, necessitando de radioterapia e quimioterapia via oral após a cirurgia. Descobriu o tumor após uma queda em sua casa, enquanto colocava uma calha no telhado. Foi assistido pela psicologia desde sua entrada no ambulatório, totalizando onze atendimentos psicológicos individuais, um atendimento de casal e quatro acompanhamentos de consulta médica. Em um primeiro momento, João respondeu de forma tranquila ao diagnóstico, demonstrando certa indiferença frente ao tratamento proposto. Diante desse quadro, considerou-se necessário acompanhar o paciente em atendimento psicológico, uma vez que o mesmo poderia estar em processo de negação da gravidade de sua doença. Logo no primeiro atendimento, revelou ter trabalhado como militar por mais de 20 anos, em um primeiro momento policial militar, depois bombeiro, e, pouco antes da aposentadoria, trabalhou em uma divisão administrativa. Demonstrou ter muito orgulho de ter sido bombeiro, trazendo diversas cenas em que precisava enfrentar as adversidades com coragem, para salvar a vida de outras pessoas. Em seus relacionamentos afetivos, demonstrou ser bastante rígido, alegando não tolerar mentiras e traições. Recriminou o filho mais novo por ter se envolvido com outra mulher durante o casamento, e por conta desse envolvimento, ter se separado. Sempre falou da nova namorada do filho utilizando palavras que depreciavam a sua imagem. João apresentava dificuldade de aceitar mudanças, estando muito ligado às regras e leis. Nome fictício 27 No sexto atendimento, João relatou que acreditava que seu tumor era um castigo enviado por Deus, pois há 34 anos havia cometido um erro que considerava imperdoável. Por conta desse erro, que não chegou a revelar, sentiu que merecia o castigo de ter câncer. Concomitantemente ao término da radioterapia e ao início de uma nova fase do tratamento quimioterápico, quando não precisaria comparecer diariamente ao hospital, João começou a desaminar frente ao tratamento, chegando a negar o atendimento psicológico uma vez. Durante essa fase trouxe a história de uma hamster da qual cuidou com muito carinho e que morreu de câncer algum tempo antes de descobrir seu tumor. Começou a associar o seu tumor à morte da hamster, alegando que a morte foi um evento muito significativo e mal elaborado. Afirmava que, para se esquecer da perda do animal, ocupava sua mente realizando trabalhos em casa, e que, no dia em que caiu, pensava muito em seu bicho de estimação que havia falecido. No décimo primeiro atendimento, relatou que a nova namorada de seu filho começou a frequentar sua casa, e que se sentia mais à vontade com a sua presença. No décimo segundo atendimento relatou que sentia “a cabeça vazia, faltando uma parte” (sic). Associou o seu desânimo a essa parte que lhe faltava, afirmando que lhe arrancaram algo do qual não conseguia nomear. Disse que sempre gostou de reciclar, e que encontrava coisas jogadas no lixo que acreditava que poderiam ser transformadas em outros objetos que tivessem utilidade em sua casa. Guardava os objetos em um quarto apelidado de “Mocó” (entre os policiais, este é o apelido dado aos cativeiros utilizados pelos sequestradores). Contou que tudo que encontrava ficava nesse quarto até que ele conseguisse arranjar uma nova utilidade para o objeto. Durante o tratamento, João foi delegando suas atividades para as pessoas de sua família, primeiramente por debilidade física (teve trombose nas duas pernas) e também por querer que sua família soubesse o que fazer caso ele morresse. Dentre as atividades que deixou de exercer, estava a visita ao “Mocó”, justificando que estava muito “desorganizado” (sic) e que ainda não estava preparado para arrumá-lo. Diante da queixa de desânimo e falta de apetite, foi necessária à incorporação de Fluoxetina em seu tratamento clínico. 28 No último atendimento realizado, João reconheceu que estava mais flexível e que sentia que ainda podia ser menos rígido, porém reconheceu que estas mudanças ocorreriam de maneira lenta, já que durante toda a sua vida sempre pensou de uma mesma maneira. Discussão João passou grande parte de sua vida trabalhando como bombeiro. Uma das principais características do trabalho prático desse profissional é a de que se deve primeiro “apagar o fogo” e depois observar quais foram às consequências do incêndio. A relação de João com a sua doença pode ter tido o mesmo significado, em que a primeira parte do tratamento (cirurgia+quimioterapia e radioterapia) tinha sido vivenciada com naturalidade. Quando o “incêndio” do tratamento inicial se apagou, João pôde ver as consequências que o tumor havia lhe proporcionado, como a perda de autonomia. O “Mocó”, local da casa onde João guardava tudo aquilo para que pretendia encontrar outra utilidade, foi visto pelo mesmo como “desorganizado” (sic) justamente em um dos momentos quando sua vida estava igualmente desorganizada. Além disso, o local guardava objetos que deveriam ser reciclados, objetos que deveriam ganhar uma nova função. O “Mocó” acabou sendo uma representação de seu inconsciente. Assim como o “Mocó”, a vida de João precisava ser reorganizada; valores, lembranças e afetos guardados em seu inconsciente necessitavam ser ressignificados. Simultaneamente a melhora de seu estado emocional, o paciente conseguiu ir ao “Mocó” para tentar reorganizá-lo. Admitiu que estivesse se percebendo mais flexível, afirmando que “é muito difícil reaprender a viver, mas agora vejo algumas coisas com outros olhos” (sic). Essa fala mostra que João assumiu sua dificuldade de mudança, que entendia ser necessário empenhar-se neste processo de transformação. O medicamento contribuiu para melhora de seu estado de humor, como também o sono e o apetite, porém, com os atendimentos psicológicos, começou a perceber melhoras que haviam ocorrido durante todo o seu processo de adoecimento, apesar de ainda não aceitar que tais mudanças tenham sido desencadeadas a partir do câncer. Considerações finais Segundo LeShan (1994), “a terapia de um paciente terminal deve concentrar-se na expansão, crescimento e libertação do eu e não na recuperação física” (p.78-9). O atendimento de João visou exatamente à reorganização de sua vida. 29 O caso apresentado comprova a importância do processo psicoterapêutico atrelado ao tratamento do paciente com câncer no sentido de promover umamelhor qualidade de vida na vigência da doença e do tratamento. O atendimento de João possibilitou que ele reavaliasse sua forma de olhar a vida e as relações afetivas. Passou a assumir uma postura menos rígida e mais tolerante. Atualmente é capaz de aceitar e respeitar as suas limitações, não exigindo de si uma postura correta a todo o momento. Palavras-chave: psicologia da Saúde; câncer; transformação. Referências Bibliográficas LESHAN, L.; Brigando pela vida: Aspectos emocionais do câncer. São Paulo: Summus Editorial, 1994. ROMANO; B. W.; Princípios para a prática da psicologia clínica em hospitais. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. 30 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DO ADOLESCENTE6 A ELABORAÇÃO DO LUTO PELA PERDA DO PAI REAL COMO CONDIÇÃO DE ENTRADA NOS LUTOS DA ADOLESCÊNCIA Prof. Ms. Lourdes SantinaTomazella Rodrigo Mattieli de Cavalho Guilhem APRESENTAÇÃO O estágio supervisionado em psicoterapia breve psicodinâmica do adolescente pretende, por um lado, oferecer ao estagiário do último ano do curso de Psicologia uma primeira oportunidade de prática clínica dirigida ao adolescente; e, por outro lado, oferecer tratamentos psicoterápicos à população de jovens de 12 a 18 anos de idade, assim como acompanhamento psicológico a seus pais, quando necessário. Introdução De acordo com Aberastury e Knobel (1976), para que o jovem insira-se na maturidade, deve elaborar perdas pelo abandono do mundo infantil. Relacionam quatro tipos de lutos: pela perda do corpo infantil, pela perda do papel e identidade infantil, pela perda da bissexualidade infantil e pela perda dos pais da infância. Entende-se que tais lutos inevitáveis são decorrentes das modificações físicas e psíquicas determinadas pela passagem da infância para a adolescência, envolvendo especificamente quanto aos pais da infância, introjeções e idealizações. A morte real do genitor poderá desencadear um processo de luto similar, em muitos aspectos, aos lutos pelas perdas fantasmáticas da infância. Segundo Fukumitsu e Oddone (2008), o processo de luto é importante como fechamento da situação inacabada que é a morte de um ente querido, tornando necessário trabalhar a consciência da finitude como caminho para a re-significação da vida, tendo o terapeuta a tarefa de confirmar e acolher os sentimentos oriundos da perda. Objetivos Apresentação do processo de psicoterapia breve de um adolescente, realizado na Serviço-escola Mackenzie por terapeutas-estagiários, em três momentos. 6 Supervisores da área: Prof. Ms. Aurélio Fabrício Torres de Mello, Prof. Dra. Berenice Carpegiani, Prof. Ms Cristine Lacet, Prof. Ms. Lourdes Santina Tomazella, Prof. Dra. Monica M. de Angelis Mota, Prof. Dra. Sandra R. de Almeida Lopes. 31 Através do relato do atendimento, refletir sobre a necessidade de trabalhar, até sua elaboração, o luto de um menino pela morte do pai como condição de possibilitar-lhe a entrada na adolescência. O adolescente e sua história de vida Atualmente, novembro de 2011, o menino está com treze anos e onze meses de idade. Quando estava com nove anos, seu pai foi assassinado durante uma "corrida" por um passageiro que levava em seu táxi. A partir daí, o garoto passou a viver só com a mãe, que, envolvida nas dificuldades de seu próprio luto, colocou-o "no lugar" do falecido marido. Esta mãe casou-se tardiamente, o marido foi seu único relacionamento afetivo e sempre esteve ao seu lado, inclusive tomando todas as providências da criação do filho. Assim, em seus temores de um novo abandono, esta mãe, quando enviuvou, tentou impedir o crescimento do menino, como que evitando que ele também "fosse embora". Depois de dois anos do trágico acontecimento, o garoto até então saudável em todos os aspectos de seu desenvolvimento, passou a apresentar sintomas. E foi neste momento que a mãe procurou uma ajuda psicológica para o filho. O adolescente e seus atendimentos na clínica psicológica Mackenzie 1) Psicodiagnóstico: segundo semestre de 2009 O paciente estava com onze anos e seis meses de idade quando sua mãe procurou o Serviço-escola referindo que o filho estava mais fechado, triste, com medo de dormir sozinho em seu quarto e com medo de escuro. O menino confirmou estas queixas, acrescentando que não se considerava mais uma criança, mas a mãe o tratava como tal. Neste aspecto, dizia ter uma "dúvida" (sic): agir como queria sua mãe ou agir como os amigos de sua idade e se arriscar a perder o amor materno. Após a realização de uma avaliação psicológica, o menino foi encaminhado para Psicoterapia Breve de Adolescente. 2) Psicoterapia breve de adolescente: primeiro e segundo semestre de 2010 Durante dois semestres letivos, o adolescente e sua mãe foram atendidos individualmente por duas estagiárias-terapeutas, já sob a supervisão da primeira autora deste trabalho. Ao longo do ano, foram realizadas 25 sessões com a mãe e 26 com o adolescente. A inclusão da mãe no processo tornou-se imprescindível, pois, impedida por seus próprios conflitos de elaborar seu luto pela morte do marido, esperava do filho o papel de um companheiro que a amparasse. Mas, se por um lado, exigia do menino uma conduta 32 inadequadamente madura para sua idade, por outro lado, tentava a todo custo impedir sua saída da infância para poder controlá-lo e tê-lo sempre a seu lado. O garoto, para não correr o risco de perder também a mãe, correspondia às suas exigências, ficando impedido de elaborar seu próprio luto. Enfocando estes conflitos na "área de mutualidade psíquica" mãe- filho (CRAMER, 1974), objetivou-se: com a mãe, auxiliá-la na elaboração do luto para que "permitisse" ao menino um desenvolvimento coerente com sua idade; e com o adolescente, auxiliá-lo na elaboração do seu próprio luto, preparando-o para elaborar os lutos da adolescência. Ao final do processo, concluiu-se que a mãe conseguira atingir parcialmente os objetivos propostos, mas necessitava um tratamento que atingisse seus núcleos depressivos, optando-se por encaminhá-la para Psicoterapia Breve de Adulto. O adolescente já não apresentava seus sintomas iniciais e dava mostras de ter elaborado o luto pela morte do pai. Porém, assim que a possibilidade de encerramento do processo foi colocada para o menino, voltaram seus temores de "perdas". E durante a fase de termino do processo, ele "provou" para a terapeuta que não estava preparado para uma alta: tinha medo de crescer e perder o amor materno, assim como tinha "dúvidas de adolescente" de (sic) que não conseguira conversar com a terapeuta por ela ser mulher. 3) Psicoterapia breve de adolescente: primeiro e segundo semestre de 2011 Este último processo foi realizado em 25 sessões, não coincidentemente por um terapeuta do sexo masculino (o segundo autor desse artigo), sem a inserção sistemática da mãe. Na primeira sessão a mãe foi atendida e manifestou preocupação pelo filho estar mudando muito rápido, tanto física quanto emocionalmente. O adolescente trouxe como queixa, nesta nova fase, uma dificuldade em se reconhecer, com pensamentos, desejos e aspirações diferentes de outros momentos de sua vida. Como no ano anterior, também manifestou dúvidas sobre seguir os conselhos da mãe ou de seus amigos, alegando que "antes, tudo era mais fácil, eu podia apenas seguir o que minha mãe falava, mas hoje nem sempre ela está certa" (sic). O paciente ainda demonstrava vergonha do próprio corpo, chegando a fazer a barba com cera quente, por sugestão da mãe, que não lhe permitia usar lâmina de barbear. Todas suas queixas estavam ligadas aoslutos da adolescência, especialmente no caso da perda abstrata dos pais da infância, que se somavam ao seu luto pelo falecimento do pai, tornando essas elaborações particularmente difíceis. Objetivou-se, então, criar um espaço para que o paciente se apropriasse de suas questões, para que o 33 processo de passagem da infância para adolescência não lhe fosse ainda mais complicado do que já é naturalmente. Ao longo do primeiro semestre, o adolescente foi levado a perceber que muitas de suas preocupações com garotas, mudanças corporais ou dúvidas sobre a vida adulta também eram compartilhadas por seus amigos da mesma idade. Durante este mesmo período, ele também passou a depender menos da mãe como confidente e conselheira, começando a se individualizar. No segundo semestre, o adolescente retornou com novas queixas: sua mãe estava manifestando interesse em se mudarem para o Nordeste. Ele terminaria o ensino fundamental no final do ano e sua vizinha, com a qual estava tendo um relacionamento afetivo, iria mudar-se de casa. A própria terapia se aproximava de sua conclusão e, como no ano anterior, o paciente parecia temer a ideia de receber alta. Tantas alterações nas mais diversas áreas de sua vida criaram uma sobreposição de lutos, obrigando-o confrontar o fim da sua identidade infantil com seu medo de perdas, fruto do trauma pela morte do pai. Ao longo de todo o processo, foram feitas intervenções acerca de lutos, levando o paciente a diferenciar o que vivenciou no passado com a morte do pai de seus lutos atuais, decorrentes de sua atual fase de vida. Próximo ao fim do processo, o paciente verbalizou: "Eu consegui passar pela morte do meu pai. Acho que consigo passar por essas coisas também, pois agora eu sou menos criança e mais adolescente". Essas elaborações e mudanças de auto-imagem, decorrentes da grande capacidade do paciente para insights, assim como sua menor dependência em relação à mãe, lhe permitiram individualizar-se e atingir os objetivos propostos pelo processo. E dessa vez, ele não conseguiu "provar" para o terapeuta e nem para si mesmo a necessidade da continuidade do processo... Discussão No primeiro ano de psicoterapia breve, tanto a mãe quanto o filho partilhavam angústias decorrentes da morte do pai do paciente. O adolescente conseguiu elaborar esse luto com maior sucesso que a mãe, que foi então encaminhada para uma psicoterapia individual. A partir deste momento, o paciente passou a trabalhar sua entrada na adolescência, além de conseguir diferenciar-se cada vez mais da mãe. Graças à elaboração do luto pelo falecimento do pai, alcançada anteriormente, o paciente pode apropriar-se de sua adolescência, desligando-se das idealizações dos pais da infância, alcançando maior autonomia e confiança. Ao entrar em contato com os lutos característicos da adolescência, o 34 paciente atualizou angústias ainda não elaboradas advindas da morte do genitor em sua infância. Essa sobreposição de lutos reais e imaginários acabou trazendo-lhe temores relativos ao seu crescimento. Conforme foram ocorrendo, durante a psicoterapia, elaborações sobre as diferenças entre o luto vivenciado no passado e os atuais, o temor a mudanças do adolescente pôde ser superado, diminuindo sua ansiedade quanto ao futuro, permitindo-lhe até mesmo uma postura otimista para enfrentar mudanças que, com certeza, ainda acontecerão em sua vida. Conclusão Finalmente pode-se concluir que a elaboração do luto pela perda do pai real foi, neste caso, uma condição obrigatória de entrada nos lutos da adolescência. Além disso, constatou-se que a psicoterapia breve, por suas características de duração que obrigam um aprofundado trabalho na fase de término do processo, é uma importante modalidade de atendimento quando objetiva-se mostrar ao paciente a diferença entre uma separação determinada pelo absolutismo da morte e as relativas separações da vida. Palavras-chave: Psicoterapia breve; adolescente; lutos. Referências ABERASTURY, A.; KNOBEL, M. Adolescência. Buenos Aires: Kargieman, 1976. CRAMER, B. Interventions thèrapeutiques brèves avec parents et enfants. Psyquiatrie de l'Enfant, v. 17, n. 1, p.53-117, 1974 FUKUMITSU, K. O.; ODDONE, H. R. B. (Orgs.). Morte, suicídio e luto: estudos gestálticos. Campinas: Livro Pleno, 2008. 35 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA COMPORTAMENTAL E COGNITIVA7 PASSIVIDADE: ANÁLISE E INTERVENÇÃO NA CLÍNICA ANALITICO-COMPORTAMENTAL8 Prof. Dr. Nicolau Kuckartz Pergher Livia Fracchetta Negrão APRESENTAÇÃO A terapia analítico-comportamental pretende investigar as relações entre variáveis ambientais e comportamentais, incluindo os sentimentos dos indivíduos. O terapeuta analítico-comportamental, por meio de intervenções verbais e não verbais, propicia autoconhecimento e auxilia os clientes a produzirem reforçamento positivo, especialmente aqueles oriundos de interações sociais. Introdução Em análise do comportamento, muito se discute a respeito da estimulação aversiva e de seus efeitos sobre o comportamento humano. A punição é uma prática de controle comumente utilizada nas relações humanas e possui uma série de consequências poderosas. A mais reforçadora das conseqüências, do ponto de vista do agente punidor, é a supressão imediata da estimulação aversiva do ambiente. Os efeitos da punição para o indivíduo que é punido envolvem: a ocorrência de respostas de fuga e esquiva, a eliciação de subprodutos emocionais desagradáveis, o contra-controle e a não aprendizagem de respostas alternativas. Sidman (1995) descreve que “não aprendemos a pressionar barra de esquivas antes de experienciar choques. A primeira causa da esquiva está em nosso passado, nos choques que já tomamos” (p. 138). Sabe-se que a esquiva tem a função de “prevenir” algum tipo de estimulação aversiva. Contudo, a topografia da resposta de esquiva pode dar-se de inúmeras maneiras. Alguns autores fazem a diferenciação entre esquiva ativa e esquiva passiva. Nesses termos, a esquiva ativa é comportamento expresso, ou seja, a pessoa age e evita, com sua ação, eventos aversivos. Na esquiva passiva, diz-se que a pessoa não age e, com essa passividade, evita conseqüências danosas ou desagradáveis (VANDERBERGHE, 2007). 7 Supervisores da área: Profª Ms. Ana Cristina Kuhn Pletsch; Profª Drª Cássia Roberta da Cunha Thomaz; Profª Drª Cristina Moreira Fonseca; Prof. Dr. Nicolau Kuckartz Pergher; Prof. Thiago Pacheco de Almeida Sampaio. 8 Demais componentes do grupo: Barbara Nogueira, Felipe Bruno, Mayara Lazarini, Mayra Seraceni, Tamala Resende, Vanessa Pereira, Yuri Busin. 36 O termo “passividade” é facilmente designado e entendido por meio da oposição com seu antônimo - “atividade”. Esta contraposição pode passar a errônea ideia de que o comportamento passivo é um “não comportar-se”. De acordo com os princípios da análise do comportamento, até mesmo o comportamento de permanecer parado ou inerte deve ser entendido como uma resposta selecionada por seus aspectos adaptativos e funcionais. Desse modo, deve ficar claro que os comportamentos chamados, neste trabalho, de “passivos” estão sendo analisados como subprodutos de históricos de punição e que são passíveis de mudança por meio da identificação e manipulação das variáveis mantenedoras desses comportamentos. Objetivos Este trabalho tem por objetivo apresentar análises de variáveis ambientais que selecionam e mantêm alguns comportamentos passivos no repertório comportamental de diferentes clientes atendidos no serviço-escola, bem como apresentar algumas propostas deintervenção em relação aos comportamentos passivos. Método Sujeitos Para a elaboração deste trabalho, considerou-se o atendimento clínico de oito clientes. Os atendimentos ocorreram ao longo do semestre letivo, no serviço-escola, em sessões semanais. Procedimentos Foi observado que o tema “passividade” era recorrente entre os casos atendidos pelos membros do grupo de supervisão. Assim, decidiu-se apresentar alguns recortes de cada caso que ilustrassem comportamentos de “passividade”, juntamente com um breve relato das intervenções colocadas em prática. Discussão Caso 1: “Antes só do que mal acompanhada”. A., 30 anos, artista plástica. A cliente tem histórico de rejeição em relacionamentos afetivos e afasta-se de novos relacionamentos, inclusive evitando falar no tema. Inicialmente, a cliente preferia falar sobre aspectos de seu trabalho, mesmo quando esse assunto não parecia envolver sofrimento clínico relevante. A cliente aceitou a análise de que estava evitando falar no tema “relacionamentos” e, recentemente, envolveu-se 37 afetivamente com rapaz mais jovem, que a valoriza e que não sinaliza a ocorrência de sofrimento, fazendo com que se sinta confortável e segura nesse relacionamento. Caso 2: “Antes ‘só amigos’ do que só”. B., 40 anos, vendedor. O cliente apresenta repertório de descrição das variáveis que o fazem manter contato com seu ex-namorado, mas não consegue modificar a maneira de se comportar em relação a ele, permanecendo exposto a condições aversivas. O terapeuta auxiliou no processo de autoconhecimento e na identificação de novas oportunidades de reforçamento, apoiando-o na variabilidade comportamental. O cliente parou com o uso de drogas, diminuiu o contato com o ex-namorado e com a família dele e ampliou seu círculo de relacionamentos sociais. Caso 3: “Antes acompanhada do que só”. C., 48 anos, fotógrafa. Conta que seus familiares sempre a acharam burra e fútil por gostar de atividades relacionadas ao corpo, como a dança. A passividade é observada na maneira como a cliente se porta nos relacionamentos familiares, eximindo-se de argumentar contra os membros da família e vitimizando-se por meio de suas limitações físicas. A cliente, em estado de privação afetiva, envolvia-se em quaisquer relacionamentos nos quais os companheiros dessem um mínimo de acolhimento. Entretanto, esses contatos eram todos perenes. A terapeuta auxiliou na descrição da relação entre as contingências aversivas experienciadas na infância e a formação de seu autoconceito, além de incentivar posturas assertivas na presença de familiares. Caso 4: “Antes só do que acompanhada”. D., 38 anos, historiadora. A cliente possui uma doença que afeta sua aparência física e lhe foi dito, por sua mãe, que ela nunca conseguiria um companheiro. A passividade é observada na dificuldade da cliente em estabelecer relacionamentos sociais, ficando limitada ao ambiente de trabalho e não se expondo a situações descritas como aversivas por sua mãe. A terapeuta passou a estabelecer pequenas metas de comportamentos a serem emitidos em situações sociais, discutindo os efeitos subjetivos observados pela cliente no cumprimento das metas. Caso 5: “Antes calada do que só”. E., 25 anos, projetista. A cliente esteve exposta a conseqüências aversivas verbais e físicas por parte de seu pai. Atualmente, a cliente exime-se de dizer o que pensa em relação 38 ao noivo, aceitando passivamente o que ele propõe como correto para a vida futura do casal. Durante o processo terapêutico, foram modelados, em sessão, comportamentos verbais assertivos em relação ao noivo, fazendo com que ela passasse a expressar suas vontades e discordâncias em relação às propostas feitas por ele. Caso 6: “Antes a minha prima do que só”. F., 83 anos, do lar. A cliente relatou, em diversas sessões, que a prima com quem mora não a entende e a trata mal. Observou-se que a cliente queixa-se da prima, mas deixa de descrever o seu papel na relação com ela, bem como deixa de variar seu comportamento. Embora a cliente reclame da convivência com a prima, analisou-se que a prima provê reforçadores diversos, inclusive para a classe de respostas de queixar-se. Incentivou-se a busca por reforçadores em outras relações sociais e fora da casa onde moram. Caso 7: “Antes mal acompanhado do que só”. G., 30 anos, estudante de química. Apresentou queixas relacionadas à baixa estatura, principalmente de baixa autoestima e insegurança nos relacionamentos amorosos e profissionais. Apesar de relatar insatisfações relacionadas à namorada e à vida profissional, não apresenta comportamentos efetivos para mudanças, evitando atitudes que possam gerar consequências aversivas, tais como término do namoro ou não suprir as expectativas no ambiente de trabalho. Evita emitir respostas que produzam rejeição. Durante o processo terapêutico, as análises aqui descritas foram apresentadas ao cliente. Assim, espera-se que possa expor-se assertivamente no relacionamento com a namorada e no trabalho. Caso 8: “Antes mal-casada do que só” H., 35 anos, dona de casa. Queixa-se de que o marido é controlador e de que não consegue expor seus sentimentos e vontades a ele, permanecendo passiva às suas vontades. Durante o processo terapêutico, a cliente descobriu traições do marido e decidiu terminar o relacionamento, pedindo a separação. Enquanto a separação não ocorre, a cliente vem conseguindo colocar limites na presença do marido dentro de casa e na ingerência que ele tem sobre sua rotina diária. Considerações Finais Podemos observar que repertórios comportamentais considerados “passivos” estão atrelados a históricos coercitivos, nos quais a resposta de esquiva foi uma solução adaptativa e selecionada. Entretanto, mostra-se uma solução, em última análise, inócua, visto que 39 envolve sofrimento emocional e que as fontes de coerção permanecem inalteradas. O trabalho do terapeuta analítico-comportamental segue no sentido de auxiliar os clientes na descrição das fontes de controle e no autoconhecimento referente às reações emocionais e ao repertório comportamental. A partir disso, o terapeuta exerce o papel de auxiliar os clientes na produção de reforçamento positivo, especialmente aqueles produzidos nas relações afetivas e sociais. Palavras-chave: terapia analítico-comportamental; passividade; esquiva. Referências SIDMAN. Coerção e suas implicações. Campinas: Editorial Psy II, 1995. VANDERBERGHE, L. Terapia comportamental construtiva: uma outra face da clínica comportamental. Psicologia USP, v. 18, n. 4, p. 89-102, 2007. 40 ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ESCOLAR9 RESSIGNIFICANDO A ESCOLA: (DES)CONSTRUINDO CONCEPÇÕES E SENTIDOS Profa. Dra Roseli Fernandes Lins Caldas Eduardo Freitas Prates Malka Sherry Shnaider APRESENTAÇÃO Ao longo da história da psicologia escolar paulistana, o espaço do psicólogo foi ganhando novas versões. Inicialmente participante direto das equipes escolares, depois, dos espaços gestores e administrativos e, por fim, alijado formalmente da equipe escolar. Entretanto, a psicologia encontra uma brecha e retorna à rede pública por meio dos estágios supervisionados em psicologia escolar, como parte da formação no último ano do curso. O processo de estágio na Universidade Presbiteriana Mackenzie se dá a partir de uma parceria com algumas diretorias de Ensino em que são levantadas as demandas junto a diretores e coordenadores e elabora-se uma listagem das escolas que indiquem adesão e desejem intervenção em psicologia escolar. Os alunos são alocados de acordo com suas disponibilidades
Compartilhar