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Práticas em Textos: relatórios de estágios em psicologia 
XIV Seminário de Práticas Supervisionadas 
 
v. 2, n. 1 ago./dez. 2011. ISSN 1984-8544 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
INSTITUTO PRESBITERIANO MACKENZIE 
Diretor-Presidente Hesio Cesar de Souza Maciel 
Diretor de Planejamento e Finanças Solano Portela 
Diretor de Ensino e Desenvolvimento José Paulo Fernandes Júnior 
Diretor Administrativo e Gestão de Pessoas Wallace Tesch Sabaini 
 
 
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE 
Chanceler Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes 
Reitor Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto 
Vice-Reitor Dr. Marcel Mendes 
Secretário Geral Eng. Nelson Callegari 
 
 
DECANATO ACADÊMICO 
Drª.Esmeralda Rizzo 
DECANATO DE EXTENSÃO 
Dr. Cleverson Pereira de Almeida 
DECANATO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO 
Dr.Moises Ari Zilber 
 
 
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE 
Dr. Roberto Rodrigues Ribeiro – Diretor do CCBS 
Drª. Berenice Carpigiani – Coordenadora do Curso de Psicologia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
Práticas em Textos: relatórios de estágios em psicologia 
XIV Seminário de Práticas Supervisionadas 
 
v. 2, n.1 . ago./dez. 2011. ISSN 1984-8544 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
Conselho Científico Externo: 
Profª Drª Anete de Souza Farina - IPUSP 
Profª Drª Elisa Medici Pizão Yoshida – PUCC 
Profª Drª Eliana Herzberg – IPUSP 
Profª Drª Leila Cury Tardivo – IPUSP 
Prof. Dr. Marcelo Afonso Ribeiro – IPUSP 
Profª DrªMaria da Conceição Coropus Uvaldo – IPUSP 
Profª Drª Maria Salete Lopes Legname Paulo – UMESP 
Profª Drª Tania Maria Aielo Vaisberg – PUCC 
 
Comissão Científica Interna: 
 
Profª. Drª. Angela Biazi Freire 
Profª. Drª. Glaucia Mitsuko Ataka da Rocha 
Profª. Ms. Lourdes Santina Tomazella 
Prof. Dr. Lucas de Francisco Carvalho 
Prof. Dr. Luiz Renato Rodrigues Carreiro 
Prof. Dr. Nicolau Kuckartz Pergher 
Profª. Ms. Sonia Maria da Silva 
Profª Ms. Susete Figueiredo Bacchereti 
 
Editores Acadêmicos: 
Drª.Maria Leonor Espinosa Enéas 
 Ms. José Estevam Salgueiro 
 
Endereço para correspondência 
Universidade Presbiteriana Mackenzie 
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde 
Rua Consolação, 930 – Edifício 38 – Térreo 
São Paulo – SP – 01239-902 
Telefone: (11) 2114-8142 
e-mail: ccbs.secretaria@mackenzie.com.br 
 
 
Práticas em texto: relatórios de estágios em psicologia. - vol. 2, n. 1 ago./dez. 2011 
 São Paulo: Curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2011 
 
 Semestral 
 ISSN 1984-8544 
 
 1. Psicologia. I. Universidade Presbiteriana Mackenzie. 
 Curso de Psicologia 
 
 
 
5 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA COMUNITÁRIA 
A JUVENTUDE E O VAZIO: UMA PRODUÇÃO DA VISIBILIDADE SOCIAL, 06 
 
 
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DE ADULTO 
MOMENTOS DE DESPEDIDAS: REFLEXÕES SOBRE O MANEJO COM O PACIENTE IDOSO, 11 
 
 
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA JURÍDICA 
PENAS ALTERNATIVAS À PRISÃO: CUIDANDO DA RELAÇÃO ENTRE O PRESTADOR DE 
SERVIÇOS (PSC), SEU TRABALHO E A INSTITUIÇÃO PARCEIRA, 15 
 
 
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA JUNGUIANA 
O PESO ESCURO SOBRE OS OMBROS: LIDANDO COM A SOMBRA NUM PROCESSO 
PSICOTERAPÊUTICO, 20 
 
 
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE 
A VIVÊNCIA DO CÂNCER COMO OPORTUNIDADE DE REVER A VIDA, 25 
 
 
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DO ADOLESCENTE 
A ELABORAÇÃO DO LUTO PELA PERDA DO PAI REAL COMO CONDIÇÃO DE ENTRADA 
NOS LUTOS DA ADOLESCÊNCIA, 30 
 
 
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA COMPORTAMENTAL E COGNITIVA 
PASSIVIDADE: ANÁLISE E INTERVENÇÃO NA CLÍNICA ANALITICO-COMPORTAMENTAL, 35 
 
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ESCOLAR 
RESSIGNIFICANDO A ESCOLA: (DES)CONSTRUINDO CONCEPÇÕES E SENTIDOS, 40 
 
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO 
INSERÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO, 45 
 
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL 
A DOR DO CRESCIMENTO, 50 
 
 
 
6 
 
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA COMUNITÁRIA1 
A JUVENTUDE E O VAZIO: UMA PRODUÇÃO DA VISIBILIDADE SOCIAL 
Profª Dra Adriana Rodrigues Domingues 
Helga Helena Batista Martins 
Juliana Siqueira Korodi 
 
APRESENTAÇÃO 
 A Psicologia Comunitária é uma das áreas de estágio voltada à inserção do aluno em 
espaços institucionais. A atuação dos estagiários visa, em um primeiro momento, 
compreender as relações entre os diferentes sujeitos que compõem o cenário institucional: 
profissionais, funcionários, usuários e a comunidade em torno dele. Após a identificação das 
demandas presentes neste contexto, busca-se promover intervenções que possam auxiliar o 
fortalecimento destas relações e o desenvolvimento de reflexões acerca das dificuldades 
encontradas neste cenário. A prática da Psicologia Comunitária está voltada para o 
desenvolvimento de uma atividade social consciente, que reflita sobre o estilo de vida da 
comunidade (suas relações e significações construídas coletivamente); portanto, possibilita a 
transformação do pensar, sentir e agir, promovendo a conscientização dos fatores 
psicossociais que impedem a autonomia e liberdade dos sujeitos (GÓIS, 2004). Por meio de 
ações de diversas naturezas, busca-se promover as potencialidades humanas e a 
transformação social, sendo necessário, para que isto ocorra, que os sujeitos reconheçam 
suas capacidades, além de se responsabilizem pela participação na construção de suas 
histórias e da história da comunidade. 
Introdução 
Quando pensamos em comunidade e nos sujeitos que a compõe, podemos observar 
que a imagem do jovem é socialmente percebida por meio de representações que 
interferem diretamente na forma de compreendê-los. É importante entendermos essas 
imagens como constituídas socialmente, o que torna necessário perceber como cada jovem 
tem construído sua história, suas singularidades e suas experiências. 
 
1
 Supervisores da área: Profª Drª Adriana Rodrigues Domingues, Profª. Drª. Cláudia Stella, Prof. Ms. Pablo de Carvalho 
Godoy Castanho, Prof. Dr. Robson Jesus Rusche. 
 
 
 
7 
Uma imagem fortemente associada à juventude é a ideia de que há “jovens em 
situação de vulnerabilidade social”. Entendemos que esta vulnerabilidade não é devida 
apenas a condição socioeconômica, mas, sobretudo, à própria condição de ser jovem. 
Segundo Nicácio (2007), a vulnerabilidade é algo inerente a essa fase da vida porque todos 
jovens são susceptíveis aos efeitos da contemporaneidade, independente de sua classe 
social, etnia, cultura ou nível econômico. Um dos fenômenos vividos por eles é a 
preocupação com a construção de sentidos para suas vidas, a fim de que possam assumir 
suas próprias experiências. 
Segundo Aquino et al (2011), essa ausência de sentido tem sido entendida como um 
vazio existencial. Para Frankl (2005 apud AQUINO et al., 2011), a juventude atual vive o vazio 
por causa da impossibilidade de encontrar sentido naquilo que fazem, gerando um mal-estar 
expresso pelo tédio. Como consequência, os jovens buscam na drogadição, na violência e 
agressividade, nos relacionamentos fluídos e fugidios, algo que possa preenchê-los. Diante 
de uma vida na qual ele não sabe o que realmente quer e o que fazer da sua existência, o 
jovem abandona sua autenticidade e adere à vontade dos outros. Assim, não consegue 
atribuir valor e significadoa sua vida, e não consegue, por isso, perceber as próprias 
potencialidades. 
Objetivos 
O projeto buscou criar um espaço que proporcionasse visibilidade social a dois 
grupos de jovens que frequentam a instituição onde se desenvolveu o estágio. 
Consideramos que eles desejam ser vistos e percebidos em suas necessidades e interesses, 
por isso, procuramos fornecer um instrumento em que, por meio da livre expressão, os 
jovens pudessem utilizar seus recursos pessoais e grupais, reconhecer e desenvolver seus 
potenciais, e serem protagonistas na construção de uma atitude mais ativa, autônoma e 
responsável diante da vida. 
O projeto também foi um instrumento utilizado para fortalecer a dinâmica e o 
vínculo grupal, favorecendo o estabelecimento de um contexto seguro para que os jovens se 
sentissem acolhidos e respeitados em suas diferenças. A ferramenta utilizada foi pensada, 
considerando os interesses que possuíam em comum, no caso, a internet. 
 
 
 
 
8 
Método 
O projeto foi realizado com dois grupos de jovens de 14 a 22 anos, de ambos os 
sexos, inscritos em um Centro para Juventude, e consistiu na criação de um blog por cada 
um dos grupos. A estrutura do blog foi sugerida pelos próprios jovens, que utilizaram o 
espaço da sala de informática para construí-lo e administrá-lo. O blog foi alimentado por 
atividades semanais sugeridas por nós e pelos próprios jovens, os quais puderam trazer suas 
ideias, temas de interesse e relatos de experiências. As atividades foram estruturadas a 
partir da definição de temas mensais, sendo eles: identidade, expressão e conscientização. 
Discussão 
 No desenvolvimento dos encontros, percebemos que os jovens não possuíam um 
autoconceito desenvolvido, pois pouco se olhavam e pensavam sobre si mesmos. O 
autoconceito refere-se à representação social que o jovem tem de si e de suas 
características individuais, sendo desenvolvido nas relações sociais desde a infância. 
Também são aspectos que desempenham uma grande influência no modo de perceber os 
acontecimentos e as pessoas, influenciando o comportamento e as experiências do 
indivíduo (SÁNCHEZ; ESCRIBANO, 1999; 1969 apud ASSIS et al., 2003). 
 Quando eram questionados a respeito de quem eram, não conseguiam responder, 
apresentavam dificuldade de se olhar e dificilmente enxergavam suas qualidades. Desta 
forma, procuramos proporcionar momentos de reflexão, nos quais eram incentivados a se 
olhar sem o medo de sofrerem censuras ou críticas, e expressar suas percepções a respeito 
de si mesmo, do outro e de seus interesses. 
 Ao incentivarmos a participação mais efetiva dos jovens, buscamos desenvolver neles 
uma postura mais ativa frente à vida. É comum falarmos em autonomia e defendermos a 
postura de que eles precisam se sentir autônomos, mas, o que percebemos foi uma situação 
de conformidade e passividade frente a qualquer desafio que surge em seus cotidianos. 
Ainda podemos pensar essa passividade, como resultante do vazio existencial vivenciado por 
eles, no qual não conseguem construir sentido e direção em suas vidas. Segundo Zibas, 
Ferretti e Tartuce (2006), é importante valorizar as iniciativas dos jovens e traduzi-las em 
direção a construção do protagonismo social. Entendemos que o incentivo a reflexão e a 
valorização das ideias que os jovens possuem, é uma forma de preencher esse vazio e 
 
 
9 
ressignificá-lo, demonstrando o potencial que os jovens possuem para buscar novas formas 
e meios de viver. 
Por meio da construção do blog, os jovens puderam expressar seus interesses e 
opiniões, escrevendo textos sobre esporte, música, moda, novelas e programas de TV. A 
atividade era dirigida de forma que eles tivessem liberdade para escolher os temas e, ao 
refletirmos juntos sobre o que escreveriam no blog, puderam ressignificar a visão que 
possuíam acerca de si mesmos, do que gostavam e do que faziam. 
Considerações Finais 
A elaboração e o desenvolvimento do projeto nos proporcionou um intenso 
desenvolvimento profissional e pessoal. A prática profissional nos ensinou que para se 
relacionar com seres humanos, antes de tudo, é preciso lembrar que também somos seres 
humanos e portamos características e valores pessoais. No cotidiano com os jovens, 
aprendemos a lidar com a transitoriedade da sua participação. A cada encontro, um novo 
desafio nos esperava e uma nova postura era solicitada, por isso, foi necessário 
compreender suas necessidades para juntos buscarmos entender o que vivíamos como 
grupo. 
Nos momentos de reflexão, quando os jovens contavam suas histórias de vidas, 
ensinavam-nos as formas que encontram para sobreviver frente a uma realidade repleta de 
dificuldades. Aprendemos e crescemos como seres humanos e como profissionais da 
Psicologia, pois, na convivência com estes jovens, foi importante respeitarmos os diferentes 
valores, mesmo que estes se confrontassem com os nossos próprios valores. Aprendemos a 
nos desapegar de nossos ideais e valores moralistas, para que fosse possível enxergar a 
realidade que estes jovens vivem e auxiliá-los na descoberta de suas potencialidades. 
 
Palavras-chave: Juventude; visibilidade social; potencialidade. 
 
Referências 
AQUINO, et al. Avaliação de uma Proposta de Prevenção do Vazio Existencial com 
Adolescentes. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 31, n.1, p.146-159, 2011. 
ASSIS, S. G. et al. A representação social do ser adolescente: um passo decisivo na promoção 
da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 8, n. 3, p. 669-680, 2003. 
 
 
10 
GÓIS, C.W.L. - Psicologia Comunitária. In SILVA, M.F.S.; AQUINO, C.A.B. (orgs.) – Psicologia 
Social: Desdobramentos e Aplicações. São Paulo: Escritura Editora, 2004. (Coleção Ensaios 
Transversais). 
NICÁCIO, C. S. Violência na televisão: a juventude colonizada. Revista Outro Olhar, 19 – 23, 
2007. 
ZIBAS, D. M. L.; FERRETTI, C. J.; TARTUCE, G. L. B. P. Micropolítica escolar e estratégias para o 
desenvolvimento do Protagonismo juvenil. Cadernos de Pesquisa, v. 36, n. 127, jan./abr, 
2006. 
 
 
 
 
11 
 
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DE ADULTO2 
MOMENTOS DE DESPEDIDAS: REFLEXÕES SOBRE O MANEJO COM O PACIENTE IDOSO 
Profª. Ms. Martha Serôdio Dantas 
Roberta Silveira Bueno Pelosini 
 
APRESENTAÇÃO 
Este estágio tem como objetivo proporcionar ao aluno-estagiário a prática do 
atendimento psicoterápico de abordagem psicodinâmica com adultos. Pretende-se que o 
aluno desenvolva e apure o raciocínio clínico por meio da prática clínica e discussões grupais. 
Para atingir tais objetivos, o estagiário presta atendimento clínico adequado às demandas da 
comunidade, de acordo com preceitos éticos e legais, no serviço-escola do CCBS da 
Universidade Presbiteriana Mackenzie. 
Introdução 
A atual demanda por atendimento psicológico em instituições é enorme e a maioria 
das pessoas não possui disponibilidade emocional e financeira para atendimentos de longa 
duração. Em vista disso, a Psicoterapia Breve (PB) surgiu como forma de diminuir o 
sofrimento das pessoas e oferecer bom atendimento. Freud, no início, acreditava que a 
psicanálise com idosos não era possível, pela reduzida plasticidade mental (MARTINS, 1998). 
Não se pensa mais assim, e encontramos excelentes trabalhos com idosos e aumento da 
procura de atendimento por esta população. Os idosos representam hoje 8,6% da população 
brasileira (BRASIL, 2003) e o percentual tende a aumentar. A ampliação dos conhecimentos 
na área de Psicoterapia Breve com Idosos, portanto, se torna necessária. Entretanto, muitos 
relutam em procurar atendimento psicológico entendendo as questões que aparecem na 
velhice como “coisas da idade”, dispensando cuidado específico (MARTINS,1998). O 
tratamento de idosos exige que o terapeuta despenda grande esforço, pois as questões 
humanas mais difíceis de lidar estão presentes: “medos e ansiedades pessoais sobre 
dependência, desamparo, envelhecimento e morte” (MARTINS, 1998, p.12). Como, ao 
 
2
 Supervisores da área: Dinorah Fernandes Gioia Martins, Fernando Genaro Junior, Gláucia Mitsuko Ataka da Rocha, Maria 
Alice Barbosa Lapastini, Maria Leonor Espinosa Enéas, Maria Lucia Souza Campos Paiva, Maria Olinda G. Sementille, 
Martha Serôdio Dantas, Monica Maria de Angelis Mota, Rosa Maria Lopes Affonso, Sonia Maria da Silva. 
 
 
 
12 
procurar atendimento, os idosos em geral buscam alívio para suas dificuldades imediatas ou 
auxilio para lidar com determinado problema (MARTINS, 1998), a Psicoterapia Breve é bem 
eficiente. Vamos destacar agora a paciente que foi atendida em Psicoterapia Breve de 
Adulto. Trata-se de X, senhora com 84 anos, aposentada há 25 anos (trabalhava no setor 
público), e que após a aposentadoria foi secretária em consultório de um médico, até o seu 
falecimento, há dez anos. X tinha duas irmãs e dois irmãos, todos falecidos. A primeira irmã, 
que faleceu de câncer aos 30 anos de idade, deixou um filho de quatro anos de idade que foi 
“adotado” pela paciente e pela outra irmã (falecida em 2002). X sempre considerou o 
sobrinho um filho, estando presente durante toda sua educação. O sobrinho, com 62 anos, 
reside com ela. X foi sempre pessoa ativa e disposta, gostava de atividades variadas, ia ao 
cinema, ao teatro, saía para jantar, ia a casa dos amigos. A última amiga, porém, faleceu no 
ano passado, e desde então, X não tem mais vontade de sair de casa. X vive momento 
bastante complicado, pois enfrenta séria crise financeira, com dívidas e tendo por única 
fonte de renda a aposentadoria. O sobrinho não tem renda. 
O motivo que levou X a buscar ajuda foi o medo de morrer. Ela sente-se impotente 
frente às questões da velhice, não viveu o processo de envelhecimento, tendo se percebido 
de repente uma pessoa idosa. Segundo ela, até os oitenta anos, nunca tinha pensado na 
velhice, nunca havia tido empecilhos para as atividades diárias. X sempre evitou pensar 
sobre a velhice, demonstrando dificuldade em vivenciá-la e em elaborar o luto da perda da 
juventude. X apresenta quadro com diferentes doenças físicas: diabetes, disfunção da 
tireoide, pressão e colesterol elevados, o que produz nela sofrimento e desorganização, em 
parte pela dificuldade em tomar os medicamentos de forma correta e com regularidade. 
Estas circunstâncias contribuem para o quadro de depressão severa. Segundo 
Zimmerman (1999), podemos ver aí caso de depressão por perdas do ego, já que a paciente, 
além das perdas materiais, sofreu também, perdas de atributos do ego: diminuição da 
mobilidade e dos reflexos, perda da audição etc.. O principal sentimento deste quadro é o de 
que a pessoa não se sente mais a mesma, e X não se sente a mesma de quatro anos atrás. 
Objetivos 
Buscaremos enfatizar aspectos técnicos no manejo clínico de atendimento ao 
paciente idoso, destacando as peculiaridades relativas ao momento de vida. No caso clínico 
apresentado, considerando a queixa inicial e o momento de vida da paciente, o objetivo 
 
 
13 
terapêutico foi o de fornecer suporte emocional para X aceitar e elaborar o envelhecimento 
e lidar com a angústia da morte. 
Método 
Foram utilizadas intervenções suportivas, a estratégia mais recomendada no 
tratamento com idosos (MARTINS, 1998) por proporcionar alívio dos sintomas por meio de 
vínculos de aceitação e compreensão do terapeuta. Seguindo os preceitos da Psicoterapia 
Breve, evitamos a neurose de transferência ou a regressão. Ao atender idosos, é 
interessante permitir certa flexibilidade na estratégia, como a inclusão de familiares 
(MARTINS, 1998). A possibilidade da participação do sobrinho foi considerada. X, entretanto, 
mostrou resistência a isto alegando: (1) não querer “preocupá-lo” e (2) manter a privacidade 
do espaço terapêutico, que ela valoriza bastante sendo o momento no qual pode falar e 
compartilhar seus medos. No planejamento, consideramos a possibilidade de uma sessão 
com o sobrinho quando do encerramento, com objetivo de transmitir orientações de 
cuidados. 
Discussão 
Percebemos que foi importante a criação da aliança terapêutica entre a estagiária e a 
paciente. Quando do início dos atendimentos, no primeiro semestre, para conseguir mostrar 
o quanto é desesperador viver pensando que é possível morrer a qualquer momento, e 
mostrar a intensidade do sofrimento, X atuou na sessão, simulando estar morrendo. O 
vínculo de confiança entre a estagiária e a paciente criado após este dia foi importante para 
o bom andamento do tratamento. Percebemos logo que X possui frágil estrutura egoica e 
não consegue lidar com as questões do envelhecimento, sentindo-se impotente frente aos 
problemas vividos. O medo de morrer a impede de perceber o que pode agora na vida. X 
demonstrava inconformismo, comparando sua vida à de outros idosos. X queria entender 
porque, apesar de ter se esforçado tanto ao longo da vida, tem a velhice que jamais 
imaginara. A resistência em aceitar a velhice e a negação foram cedendo aos poucos ao 
longo do atendimento e ela pôde elaborar o envelhecimento, percebendo-o como 
inevitável, possível de ser vivido e que a velhice não precisa ser paralisante. Novos 
sentimentos foram surgindo, e X relatou sentir revolta por sua velhice difícil: tal revolta a 
ajudou a enfrentar os problemas e a pensar em soluções. Se antes X não conversava com o 
sobrinho acerca dos problemas financeiros, deixando-o resolver sozinho, apesar da angústia 
 
 
14 
que isto provocava, agora lhe foi possível enfrentar a situação e pensar em mudança. Sem a 
mínima vontade de sair de casa, nos últimos meses X só dormia e comparecia aos 
atendimentos de psicoterapia. Dormir era a forma de não pensar nos problemas e de 
encontrar nos sonhos os parentes queridos falecidos. Em um dos sonhos, X ouviu a noite 
toda uma música do Roberto Carlos, da qual lembrava apenas a frase “se chorei ou se sorri, 
o importante é que emoções eu vivi”. O sonho foi útil para começar a elaborar e aceitar a 
velhice, aprendendo a resgatar momentos bons vividos naqueles anos. Tomada pelos 
problemas agora vividos, ela só conseguia lembrar momentos difíceis e ruins que 
justificassem a situação atual. A aliança terapêutica foi essencial, pois a relação de suporte 
com a estagiária, X não encontrava em seu meio. Criou-se o espaço no qual X podia falar e 
elaborar questões difíceis e também podia chorar (ali era o único lugar em que ela podia 
chorar). O final da terapia foi difícil, pois intensificou tanto as experiências de perdas que X 
vivenciou durante a vida quanto seu sentimento de finitude. As mudanças por ela 
experimentadas foram valorizadas e ela pôde ver no término algo inevitável e não 
necessariamente ruim, pois aprendeu (com o auxilio do terapeuta) a “olhar para trás”, 
compreender a importância do processo tendo ele lhe possibilitado sentir-se diferente. 
Considerações Finais 
O trabalho atingiu o objetivo. X conseguiu pensar sobre o que pode ou não fazer na 
velhice, entendendo sua inevitabilidade. Foi importante a compreensão e elaboração por 
parte da estagiária de particularidades da fase do ciclo vital da paciente para que pudesse 
haver um planejamento e manejo terapêutico adequados, o que possibilitou o devido 
acolhimento e possibilidade de elaboração por parte da paciente. 
 
Palavras-chave: psicoterapia breve; idosos; manejo clínico. 
Referências 
BRASIL, Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, 2003. 
MARTINS, R, C. Psicoterapiabreve de idosos: avaliação de resultados. Dissertação de 
Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, 1998, 95 p. 
SEGRE, C. D. Psicoterapia breve. São Paulo: Lemos Editorial, 1997. 
ZIMERMAN, D. E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica: uma abordagem 
didática. Porto Alegre: Artmed, 1999. 
 
 
15 
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA JURÍDICA3 
PENAS ALTERNATIVAS À PRISÃO: CUIDANDO DA RELAÇÃO ENTRE O PRESTADOR DE 
SERVIÇOS (PSC), SEU TRABALHO E A INSTITUIÇÃO PARCEIRA. 
Profª Dra. Vânia Conselheiro Sequeira 
Mariana Zanzini 
Thaylla Carvalho Cavalcante Gomes 
APRESENTAÇÃO 
A Psicologia Jurídica envolve ações da psicologia na área jurídica, atuando em 
abrigos, medidas socioeducativas, Conselhos Tutelares, Vara de Infância e Juventude, 
sistema penal, ONGs e Instituições de defesa de direitos humanos. Nesse estágio, em Penas 
e Medidas Alternativas, foi realizado um diagnóstico institucional, um projeto de intervenção 
cujo foco foi cuidar da dimensão do trabalho na pena de prestação de serviços à 
comunidade. 
 
Introdução 
As penas alternativas à prisão surgiram a partir de uma reforma penal em 1984 que 
incorporou novas modalidades de penas para indivíduos que cometeram crimes de pouca 
gravidade ou os cometeram pela primeira vez. O objetivo principal é a não colocação do 
sentenciado em uma penitenciária, entendo o encarceramento como prejudicial, em que 
este é separado do convívio da própria sociedade em que vive, (SEQUEIRA, 2000). Nesse 
projeto, só trabalhamos com a prestação de serviços à comunidade, pois esta pena tem um 
caráter educativo, fazendo com que o sentenciado desenvolva um trabalho a serviço da 
comunidade; além de garantir a convivência com indivíduos que não estão envolvidos com 
atos criminais. Este trabalho que o PSC desenvolverá em uma instituição parceira deve estar 
de acordo com suas aptidões, habilidades e interesses, (SEQUEIRA, 2002), havendo assim, 
uma identificação com o trabalho a ser desenvolvido, facilitando o cumprimento da pena, 
sendo também, reconhecido não como alguém que cometeu um crime, mas alguém que 
pode contribuir para sociedade com seu trabalho, e valorizado por isso. Segundo Dejours 
(apud Sequeira 2002), o trabalho ajuda o homem a se disciplinar, fazendo com que existam 
condições de consentimento e banalização do mal, além de ser um elemento de 
 
3
 Supervisores da área: Profª. Drª. Anna Christina da M. P. Cardoso de Mello; Prof. Ms. Fernando da Silveira; Profª. Ms. Leila 
Sueli Dutra de Paiva; Prof. Dr. Marcelo Moreira Neumann; Profª. Ms. Tânia Aldrighi e Profa Dr. Vânia Conselheiro Sequeira. 
 
 
16 
transformação social, pois, através dele, o homem consegue experimentar muitos tipos de 
vivências subjetivas. 
O objetivo geral do projeto foi melhorar a relação entre os prestadores de serviço à 
comunidade e o trabalho que executam nas instituições parceiras, colaborando para uma 
humanização da prestação de serviços à comunidade; trazendo benefícios tanto para os 
PSCs como para as instituições parceiras. 
Diagnóstico: Na pena alternativa de PSC, os sentenciados cumprem penas 
trabalhando, por isso é importante que o trabalho não seja aviltante, nem humilhante para o 
sujeito, pois assim os apenados podem refazer laços de cidadania por meio da atividade 
realizada nas instituições parceiras. Porém, na prática, isso é bem difícil de ocorrer, pois os 
PSCs são encaminhados para locais perto de suas residências, sem um levantamento 
detalhado sobre seu perfil, habilidades e potenciais. No que diz respeito à captação de 
vagas, ela também é bem geral, sem se ater a atividades que possam fazer diferença na 
realidade institucional. Atualmente a instituição conta com 1.026 instituições parceiras para 
onde os PSCs podem ser encaminhados, e muitas instituições estabelecem parceria sem uma 
proposta clara para o PSC. Isso tudo faz com que a maioria dos PCSs viva apenas a dimensão 
punitiva da pena, tendo dificuldades em lidar com o trabalho a ser realizado, com as 
instituições, abandonando a pena ou sendo devolvidos para a instituição para outro 
reencaminhamento. 
Projeto dividido em 4 eixos: 
1º-Atualização de dados das instituições parceiras 
Objetivo: Na pasta consultada pelos técnicos e estagiários, cada instituição deve ter uma 
pequena parte descritiva, contendo a população que atende, sua finalidade e perfil do 
prestador que espera receber e de potencialidades de vagas. 
Justificativa: Com os dados da instituição mais detalhados, o entrevistador, juntamente com 
o PSC, poderá fazer uma escolha compatível com o perfil do prestador e com as atividades 
que deseja executar, cruzando suas habilidades, aptidões e interesses com os da instituição. 
Procedimento: Contato telefônico e visita para descrição da instituição em relação à 
população que atende, finalidade, vagas e o perfil do prestador. 
2º-Treinamento de estagiários e técnicos com foco no trabalho do PSC 
 
 
17 
Objetivo: Na entrevista psicossocial, o entrevistador deverá fazer o levantamento do perfil 
de habilidades, interesses e aptidões dos PSCs de acordo com as atividades que poderão 
executar nas instituições. Também deverá conhecer as instituições, de forma mais 
particularizada para poder fazer um melhor encaminhamento. 
Justificativa: Com um encaminhamento adequado, consequentemente haverá uma 
diminuição no índice de abandono e reencaminhamento. 
Procedimento: Durante a entrevista psicossocial, o entrevistador deve definir o perfil do 
PSC, questionando-o sobre suas habilidades, aptidões e interesses, população que gostaria 
de atuar, tipo de instituição que gostaria de cumprir sua pena e atividades que gostaria de 
realizar, para encaminhá-lo a uma instituição compatível com suas características. 
3º - Acompanhamento das instituições 
Objetivo: Atualizar constantemente as vagas das instituições. Transmitindo posteriormente 
esses dados para os profissionais que executam as entrevistas psicossociais. 
Justificativa: A atualização de vagas mostra-se como um instrumento de grande 
importância, pois assim a instituição fica mais próxima das instituições parceiras. 
Demonstrando preocupação tanto com as instituições, quanto com os prestadores, 
orientando e dando suporte para ambos. Deve-se investir na capacitação de estagiários que 
façam contato com a periodicidade a ser estabelecida. 
Procedimento: Acompanhar as instituições por meio de visitas ou telefonemas se 
aproximando do responsável dos prestadores na instituição, para saber de ocorrências. 
4º - Inclusão do PSC na instituição parceira 
Objetivo: Proporcionar ao prestador uma recepção humanizada na instituição que cumprirá 
pena. 
Justificativa: A humanização é um fator essencial para o prestador desenvolver bem suas 
atividades e sentir-se valorizado pelo trabalho pela sociedade. Isso provavelmente terá 
como consequência um menor índice de abandono e reencaminhamento. Também haveria 
mais comprometimento das instituições ou seja da comunidade com a ressocialização dos 
apenados. 
Procedimento: 
1. Captação de vagas: No momento em que ocorre a parceria entre a instituição e a Central, 
os representantes da Central que realizam a captação deverão sensibilizar as instituições 
 
 
18 
sobre a importância do trabalho a ser realizado pelo PSC, e o cuidado que devem ter nesse 
sentido da valorização da atividade e da pessoa que cumpre pena. 
2. Orientação: Sensibilizar as instituições que a humanização no recebimento dos 
prestadores é essencial para que o mesmo possa desenvolver seu serviço de forma 
adequada, tendo consciência que seu serviço é importante tanto para si quanto para acomunidade. 
Desenvolvimento da ação 2º-Treinamento de estagiários e técnicos com foco no trabalho 
do PSC 
 Foram realizados seis encontros com a equipe de atendimento psicossocial. O 
primeiro encontro visava o fortalecimento da equipe. O segundo encontro abordou o tema 
trabalho pois ele é central na pena de PSC. O terceiro encontro abordou o tema da função 
simbólica da pena, pois a pena tem como função ofertar ao sujeito um novo lugar social, 
tecer sua cidadania. O quarto encontro abordou o tema trabalho comunitário, focado na 
utilidade pública da PSC. O quinto encontro tinha como tema o preconceito, pelas 
dificuldades que o PSC vive em sua pena. Por fim, o sexto encontro teve como eixo central, a 
entrevista psicossocial para o cruzamento das habilidades e interesses dos PSC’s com as 
atividades que realizarão na instituição. 
Considerações Finais 
Conseguimos notar que a equipe trabalha de forma mais colaborativa. Estão mais 
atentos para a importância do trabalho que eles realizam para os PSC’s e para a sociedade 
em geral, levando em conta a necessidade de se realizar um encaminhamento adequado ao 
PSC para que a função simbólica da pena seja atingida, para que, através do trabalho, o PSC 
possa ressignificar-se e reinserir-se na sociedade pautando sua identidade em algo que seja 
valorizado dentro da lei e mais do que isso, realizando um trabalho que goste e que seja 
voltado para ajudar o próximo, conseguindo assim, reordenar sua cidadania. 
Palavras-chave: psicologia jurídica; penas e medidas alternativas; prestação de 
serviços à comunidade. 
Referências Bibliográficas 
SEQUEIRA, V. C. O trabalho vale a pena? Considerações sobre o trabalho na pena alternativa 
à prisão. Pulsional Revista de Psicanálise, ano XV, n. 157, p. 41-56, Maio, 2002. 
 
 
19 
SEQUEIRA, V. C. Capítulo VI- Reflexões psicanalíticas sobre a pena de prisão e sobre a 
prestação de serviços à comunidade. In: Penas Alternativas à Prisão: Um estudo sobre os 
efeitos subjetivos da Prestação de Serviços à Comunidade. Dissertação (Mestrado em 
Psicologia Social) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2000, p. 105-
110. 
 
 
 
 
20 
 
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA JUNGUIANA4 
O PESO ESCURO SOBRE OS OMBROS: LIDANDO COM A SOMBRA EM UM PROCESSO 
PSICOTERAPÊUTICO 
Prof. Ms. Guilherme Scandiucci 
Mariana Martinez Mesa Campos 
 
APRESENTAÇÃO 
O estágio proporciona o desenvolvimento de habilidades e competências para a 
aplicação dos conhecimentos teóricos e técnicos na condução de processo psicoterápico 
individual dentro da abordagem da psicologia analítica, inaugurada por Carl G. Jung (1875-
1961). Tem como objetivos desenvolver e apurar o raciocínio clínico através da prática 
clínica e de discussões grupais; desenvolver a capacidade de elaboração de documentos 
técnicos; prestar atendimentos adequados às demandas da comunidade; e desenvolver 
atendimento clínico de acordo com preceitos éticos e legais. 
Introdução 
No trabalho com esta paciente exploraram-se alguns conceitos desenvolvidos por 
Jung. Dentre eles: complexo materno, sombra e persona. Jung (1984) descreve a estrutura 
dos complexos como sendo formada por imagens associadas e memórias congeladas de 
momentos traumáticos cravadas no inconsciente e não são acessadas facilmente para 
recuperação do ego (centro da consciência). Os complexos são fragmentos ou “estilhaços” 
que compõem a psique. 
“O elemento central é a imagem nuclear e a experiência em que o complexo está 
baseado é a memória congelada.” (Stein, 2006, p. 55). Tal núcleo é composto por duas 
partes: uma é a imagem psíquica do trauma originador do complexo e a outra é a “peça 
inata (arquetípica) que lhe está intimamente associada”. (Stein, 2006, p. 55). Os complexos 
se formam por meio de trauma, que cria uma imagem fortemente carregada que se associa 
a uma imagem arquetípica. Juntas se congelam numa estrutura razoavelmente permanente. 
Essa estrutura tem uma quantidade específica de energia e pode ligar-se a outras imagens 
 
4
 Supervisores da área: Profª. Ms. Ana Lúcia Ramos Pandini e Prof. Ms. Guilherme Scandiucci 
 
 
 
21 
associadas para criar uma rede. Assim, o complexo é ampliado e enriquecido por 
experiências semelhantes com aquela que o originou. Os complexos podem irromper de 
forma brusca e espontânea na consciência, podendo se apossar das funções do ego ao ser 
constelado. (STEIN, 2006). 
No caso da paciente, o complexo materno, que está associado ao arquétipo materno, 
é constelado com frequência. De acordo com Jung (2000, p.92), “(...) seus atributos são o 
‘maternal’: simplesmente a mágica autoridade do feminino; a sabedoria e a elevação 
espiritual além da razão; o bondoso, o que cuida, o que sustenta, o que proporciona as 
condições de crescimento, fertilidade e alimento; o lugar da transformação mágica, do 
renascimento; o instinto e o impulso favoráveis; o secreto, o oculto, o obscuro, o abissal, o 
mundo dos mortos, o devorador, sedutor e venenoso, o apavorante e fatal”. 
Em relação ao arquétipo da persona, é possível dizer que é tudo aquilo que a 
consciência aceita, sendo identificada e absorvida em si tornando-se parte da persona, 
associada a uma “máscara” e representa o papel que a pessoa desempenha no mundo. 
Whitmont (1990, p. 140) coloca que a persona está associada a um “impulso arquetípico 
para uma adaptação à realidade exterior e a coletividade”. Já na sombra, estão as 
características negativas, negadas pelo ego. 
É interessante notar que, frequentemente, o ego pode se identificar com a persona. 
Quando isso acontece, sente-se idêntico a ela, de modo que a sombra fica no inconsciente. 
“A sombra é caracterizada pelos traços e qualidades que são incompatíveis com o ego 
consciente e a persona”. (Stein, 2006, p.100). A sombra possui características essenciais de 
uma pessoa, porém contrárias aos costumes e convenções sociais. Assim, a sombra é “o lado 
inconsciente das operações intencionais, voluntárias e defensivas do ego” (Stein, 2006, 
p.101). Um fato interessante é que a sombra pode ser tão forte e tão ignorada que, para se 
fazer conhecer e “chamar a atenção” da consciência, pode ser somatizada em forma de 
doença – entendida, portanto, como comunicação simbólica da psique. 
Objetivos 
A paciente queixa-se do seu ambiente de trabalho e sobre algumas dores no corpo – 
que veio a se concentrar especificamente em seu ombro. Por isso o foco estabelecido visou 
uma compreensão de seu sofrimento frente às mudanças ao seu redor, a fim de que ela 
pudesse rever a maneira como se coloca no mundo. Conforme o avanço do processo ocorria, 
 
 
22 
o objetivo passou a mirar a necessidade de ela cuidar de si mesma, atentando para que o 
complexo dominante não impusesse constantes obrigações ao ego. 
Método 
O sujeito deste processo é A., uma senhora de 58 anos fortemente identificada com a 
persona de trabalhadora (trabalha desde os oito anos de idade). Seu sofrimento está ligado 
tanto à saída da Madre, diretora da escola em que trabalha e com quem mantinha uma forte 
relação, quanto à exploração que viveu durante toda sua vida. No princípio estava alienada 
disso. Os instrumentos utilizados foram: interpretação de sonhos e fantasia, e análise 
imagética trazidos por meio da fala não-dirigida (entrevista clínica). O procedimento 
consistiu em encontros semanais de 50 minutos (total de 24 sessões). 
Discussão 
Por meio da queixa principal de A., foi possível trabalhar diversos outros conflitos. A. 
sofreu e sentiu a saída da Madre da escola como uma morte e não tinha bom 
relacionamento com os novos funcionários. Em 2010 passoupelo processo psicoterápico de 
mesma orientação na clínica e foi encaminhada. No início de 2011 ela foi despedida da 
escola; contudo foi readmitida devido à ilegalidade desta medida. Tal fato provocou 
sentimento de humilhação, fazendo com que seu sofrimento fosse agravado. 
Toda vez que falava da Madre, A. chorava. Levantou-se a hipótese de que a Madre 
era o estímulo que constelava o complexo materno fortemente carregado em A. A Madre é 
um símbolo ligado ao complexo e ao arquétipo materno. Em função disso, A. só conseguia 
enxergar hostilidade por parte dos funcionários. Seu ambiente de trabalho era muito 
aversivo e A. relata que não sentia motivação nenhuma no trabalho, algo diverso do que 
ocorria nos tempos da Madre. É possível inferir que, com a saída da diretora, o complexo 
materno ficou na linha de frente. De acordo com Stein (2006), quando um complexo é 
constelado, “é como se a pessoa estivesse em poder de (...) uma força muito superior à sua 
vontade. Isso gera um sentimento de impotência.”. Jung diz que a constelação exprime “o 
fato de que a situação exterior desencadeia um processo psíquico que consiste na 
aglutinação e atualização de determinados conteúdos” (Jung, 2001, p.31). 
Ao longo do processo, observou-se que o complexo materno perdia força, e assim A. 
ia se relacionando melhor com seus colegas de trabalho e este ambiente passou a ser mais 
tolerável. A. passou a identificar a necessidade de não realizar tarefas que não eram suas, ao 
 
 
23 
passo que percebia que outrora deixava de fazer muita coisa, como, por exemplo, se impor 
perante a nova diretoria – algo que passou a fazer. Como resultado, se sentiu mais 
respeitada e menos injustiçada. Ao final da primeira parte do processo, A. começou a 
perceber grande necessidade de cuidar de si mesma e deixar de cuidar dos outros, à medida 
que o complexo materno perdia força. Apesar disso, ao longo desta etapa, permaneceu 
apenas refletindo e acumulando energia para as mudanças necessárias. As ações foram 
escassas, embora significativas. A. começava a caminhar. 
Na segunda parte do processo, A. passou a se queixar de dores no ombro e obteve 
diagnóstico de bursite. Por meio de uma imagem trazida por ela em relação a essa dor (“algo 
preto grudado nela, que some do nada”), foi possível trazer à luz a seguinte hipótese: o forte 
complexo materno, possuidor de um núcleo arquetípico e que rege seu comportamento 
(ainda que menos carregado), está ligado à persona de A. Esta é de uma mulher provedora e 
trabalhadora, que não pode parar. Sua sombra, psicossomatizada e projetada em seu ombro 
(a sombra de A. aparece simbolicamente por meio da dor no ombro), é de alguém 
preguiçoso e ocioso – algo que nunca havia se permitido. Sendo assim, tal dor (sombra) vem 
para desacelerar A. e fazer com que ela olhe para si. “De fato, o ego, usualmente, não possui 
sequer consciência de que projeta uma sombra.” (Stein, 2006, p. 98). 
Durante toda a vida A. foi explorada pelos outros, e principalmente por si mesma. É 
separada e criou sozinha a filha e, por isso, não podia experimentar o ócio. Ela viveu a vida 
inteira num ritmo acelerado. Isso, de certa forma, gerou uma onipotência, pois A. sempre diz 
que antigamente “dava conta de tudo”. Conforme se trabalhou o diálogo entre sombra e 
persona, A. passou a se perceber de forma mais integral. Deixou de ser alienada em relação 
à exploração que viveu e passou a investir mais cuidados em si mesma. Como resultado, já 
não se martiriza quando não consegue fazer algumas coisas. Em consequência, tem se 
permitido o lazer. Foi interessante notar que, ao entrar em contato com sua sombra, a dor 
no ombro diminuiu. 
A. atravessa o processo de individuação; uma de suas características mais fortes é o 
fato de que o sujeito passa a rever personas, de modo a abandonar algumas, dando espaço 
para que novas “nasçam”. A. passa a refletir sobre seus valores, crenças e atitudes, 
corrigindo atitudes que considera prejudiciais. Passou-se a trabalhar questões ligadas ao 
envelhecimento. Wenth (2008) afirma que, na doença, abandonamos velhos hábitos, o que 
 
 
24 
ocorre com A., pois deve abandonar hábitos que agravam a dor no ombro. De acordo com 
Monteiro (2008, p. 55) “(...) à medida que envelhecemos, devemos cada vez mais ter a 
capacidade de RE-SIGNIFICAR nossas vivências, de nos RE-ENCANTAR com a vida em seu 
renovar dia a dia”. 
Considerações finais 
A. passou a demonstrar grande preocupação com sua qualidade de vida e busca 
melhorá-la, investindo em mudanças. Por muitas vezes, o complexo materno já tomou a 
frente de seu comportamento, mas percebe-se que perde boa parte de sua força 
progressivamente. Pode-se dizer que isso ocorre em função do diálogo entre sombra, 
persona e ego. Conforme A. “abandona” a persona de trabalhadora, começa a adotar outra 
persona, que, parece, vem menos carregada de obrigações e tarefas, e mais consciente da 
necessidade de potencializar sua vida de maneira mais múltipla e diversificada. A sombra 
ajuda nesse processo na medida em que parte dela passa a ser integrada por essa nova 
persona – processo mediado pelo ego agora menos “heroico” e mais flexível frente aos 
complexos. 
 
Palavras-chaves: psicoterapia junguiana; sombra; complexo. 
 
Referências: 
JUNG, C. G. A natureza da psique. Petrópolis: Vozes, 1984. 
_______. A Vida Simbólica: escritos diversos. Petrópolis: Vozes, 2001. 
_______. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2000. 
MONTEIRO, D. M. R. No envelhecer. In: MONTEIRO, D. M. R. (Org.) Puer-Senex: dinâmicas 
relacionais. Petrópolis: Vozes, 2008. 
STEIN, M. Jung o mapa da alma: uma introdução. São Paulo: Cultrix, 2006. 
WENTH, R. C. No processo de adoecer. In: MONTEIRO, D. M. R. (Org.) Puer-Senex: dinâmicas 
relacionais. Petrópolis: Vozes, 2008. 
WHITMONT, E. C. A busca do símbolo: conceitos básicos de psicologia analítica. São Paulo: 
Cultrix, 1990. 
 
 
 
 
25 
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE5 
A VIVÊNCIA DO CÂNCER COMO OPORTUNIDADE DE REVER A VIDA 
Profª Drª Sandra Ribeiro de Almeida Lopes 
Flávia Cristina Da Silva Araújo Hodroj 
APRESENTAÇÃO 
A área de estágio específico em Psicologia da Saúde possibilita que o aluno 
desenvolva habilidades técnicas e teóricas na condução do trabalho clínico realizado em 
instituições de saúde. Propicia ainda a inserção no cotidiano institucional através do contato 
direto com indivíduos em situação de adoecimento e seus familiares, em sintonia com a 
equipe multiprofissional. O estágio pode ser desenvolvido em diferentes equipamentos de 
saúde, públicos ou privados, por meio de um trabalho de avaliação e intervenção psicológica 
individual e/ou grupal. 
Introdução 
O trabalho que será descrito ocorreu em um Ambulatório de Neuro-oncologia de um 
hospital público da Cidade de São Paulo. Neste hospital, o estagiário de Psicologia é inserido 
na equipe interdisciplinar e participa ativamente de decisões que visem o bem-estar dos 
pacientes atendidos. A clientela do ambulatório é, em sua grande maioria, adultos, de baixo 
nível socioeconômico, de ambos os sexos. O ambulatório oferece atendimento para 
pacientes com tumor cerebral em qualquer fase do tratamento. 
Um Ambulatório é destinado à pacientes para a realização de diagnóstico e 
tratamento de alguma patologia específica (PROAHSA, 1978 apud ROMANO, 1999). O 
trabalho do psicólogo em um ambulatório deve priorizar o atendimento a pacientes que 
tenham problemas emocionais estritamente ligados à patologia orgânica (ROMANO, 1999), 
visando trabalhar a forma como o indivíduo lida com os desafios impostos pela doença e 
pelos tratamentos. 
Neste caso específico, os pacientes chegam ao ambulatóriode Neuro-oncologia já 
diagnosticados sendo, portanto, acompanhados no processo de tratamento, que pode ser 
quimioterápico, radioterápico e/ou cirúrgico. Todos os pacientes são atendidos por uma 
equipe de médicos oncologistas, residentes e neuropsicóloga. 
 
5
 Supervisores da área: Profª Drª Angela Biazi Freire; Profª Drª Dinorah Fernandes Gióia Martins; Profª Drª 
Sandra Ribeiro de Almeida Lopes e Profª Ms. Sandra Fernandes de Amorim 
 
 
26 
O atendimento psicológico é oferecido por estagiários vinculados à Universidade 
àqueles pacientes que manifestam demanda emocional frente à situação de adoecimento e 
tratamento. 
Objetivos 
Este trabalho tem como objetivo apontar a relevância do 
atendimento/acompanhamento psicológico a pacientes com câncer e seus familiares, em 
qualquer momento do tratamento, a partir do estudo de um caso. 
Método 
João, 59 anos, casado há 37 anos, dois filhos (31 e 29 anos) atualmente aposentado. 
Foi atendido no Ambulatório de Neuro-oncologia, após submeter-se a uma ressecção parcial 
de um tumor alocado no lobo frontal esquerdo de cérebro. Foi diagnosticado com 
glioblastoma, um tumor cerebral maligno, com grau de malignidade IV, necessitando de 
radioterapia e quimioterapia via oral após a cirurgia. Descobriu o tumor após uma queda em 
sua casa, enquanto colocava uma calha no telhado. Foi assistido pela psicologia desde sua 
entrada no ambulatório, totalizando onze atendimentos psicológicos individuais, um 
atendimento de casal e quatro acompanhamentos de consulta médica. 
Em um primeiro momento, João respondeu de forma tranquila ao diagnóstico, 
demonstrando certa indiferença frente ao tratamento proposto. Diante desse quadro, 
considerou-se necessário acompanhar o paciente em atendimento psicológico, uma vez que 
o mesmo poderia estar em processo de negação da gravidade de sua doença. 
Logo no primeiro atendimento, revelou ter trabalhado como militar por mais de 20 
anos, em um primeiro momento policial militar, depois bombeiro, e, pouco antes da 
aposentadoria, trabalhou em uma divisão administrativa. Demonstrou ter muito orgulho de 
ter sido bombeiro, trazendo diversas cenas em que precisava enfrentar as adversidades com 
coragem, para salvar a vida de outras pessoas. 
Em seus relacionamentos afetivos, demonstrou ser bastante rígido, alegando não 
tolerar mentiras e traições. Recriminou o filho mais novo por ter se envolvido com outra 
mulher durante o casamento, e por conta desse envolvimento, ter se separado. Sempre 
falou da nova namorada do filho utilizando palavras que depreciavam a sua imagem. João 
apresentava dificuldade de aceitar mudanças, estando muito ligado às regras e leis. 
 

 Nome fictício 
 
 
27 
No sexto atendimento, João relatou que acreditava que seu tumor era um castigo 
enviado por Deus, pois há 34 anos havia cometido um erro que considerava imperdoável. 
Por conta desse erro, que não chegou a revelar, sentiu que merecia o castigo de ter câncer. 
Concomitantemente ao término da radioterapia e ao início de uma nova fase do 
tratamento quimioterápico, quando não precisaria comparecer diariamente ao hospital, 
João começou a desaminar frente ao tratamento, chegando a negar o atendimento 
psicológico uma vez. 
Durante essa fase trouxe a história de uma hamster da qual cuidou com muito 
carinho e que morreu de câncer algum tempo antes de descobrir seu tumor. Começou a 
associar o seu tumor à morte da hamster, alegando que a morte foi um evento muito 
significativo e mal elaborado. Afirmava que, para se esquecer da perda do animal, ocupava 
sua mente realizando trabalhos em casa, e que, no dia em que caiu, pensava muito em seu 
bicho de estimação que havia falecido. 
No décimo primeiro atendimento, relatou que a nova namorada de seu filho 
começou a frequentar sua casa, e que se sentia mais à vontade com a sua presença. No 
décimo segundo atendimento relatou que sentia “a cabeça vazia, faltando uma parte” (sic). 
Associou o seu desânimo a essa parte que lhe faltava, afirmando que lhe arrancaram algo do 
qual não conseguia nomear. 
Disse que sempre gostou de reciclar, e que encontrava coisas jogadas no lixo que 
acreditava que poderiam ser transformadas em outros objetos que tivessem utilidade em 
sua casa. Guardava os objetos em um quarto apelidado de “Mocó” (entre os policiais, este é 
o apelido dado aos cativeiros utilizados pelos sequestradores). Contou que tudo que 
encontrava ficava nesse quarto até que ele conseguisse arranjar uma nova utilidade para o 
objeto. 
Durante o tratamento, João foi delegando suas atividades para as pessoas de sua 
família, primeiramente por debilidade física (teve trombose nas duas pernas) e também por 
querer que sua família soubesse o que fazer caso ele morresse. Dentre as atividades que 
deixou de exercer, estava a visita ao “Mocó”, justificando que estava muito “desorganizado” 
(sic) e que ainda não estava preparado para arrumá-lo. Diante da queixa de desânimo e falta 
de apetite, foi necessária à incorporação de Fluoxetina em seu tratamento clínico. 
 
 
28 
No último atendimento realizado, João reconheceu que estava mais flexível e que 
sentia que ainda podia ser menos rígido, porém reconheceu que estas mudanças ocorreriam 
de maneira lenta, já que durante toda a sua vida sempre pensou de uma mesma maneira. 
Discussão 
João passou grande parte de sua vida trabalhando como bombeiro. Uma das 
principais características do trabalho prático desse profissional é a de que se deve primeiro 
“apagar o fogo” e depois observar quais foram às consequências do incêndio. A relação de 
João com a sua doença pode ter tido o mesmo significado, em que a primeira parte do 
tratamento (cirurgia+quimioterapia e radioterapia) tinha sido vivenciada com naturalidade. 
Quando o “incêndio” do tratamento inicial se apagou, João pôde ver as consequências que o 
tumor havia lhe proporcionado, como a perda de autonomia. 
O “Mocó”, local da casa onde João guardava tudo aquilo para que pretendia 
encontrar outra utilidade, foi visto pelo mesmo como “desorganizado” (sic) justamente em 
um dos momentos quando sua vida estava igualmente desorganizada. Além disso, o local 
guardava objetos que deveriam ser reciclados, objetos que deveriam ganhar uma nova 
função. O “Mocó” acabou sendo uma representação de seu inconsciente. Assim como o 
“Mocó”, a vida de João precisava ser reorganizada; valores, lembranças e afetos guardados 
em seu inconsciente necessitavam ser ressignificados. Simultaneamente a melhora de seu 
estado emocional, o paciente conseguiu ir ao “Mocó” para tentar reorganizá-lo. Admitiu que 
estivesse se percebendo mais flexível, afirmando que “é muito difícil reaprender a viver, mas 
agora vejo algumas coisas com outros olhos” (sic). Essa fala mostra que João assumiu sua 
dificuldade de mudança, que entendia ser necessário empenhar-se neste processo de 
transformação. O medicamento contribuiu para melhora de seu estado de humor, como 
também o sono e o apetite, porém, com os atendimentos psicológicos, começou a perceber 
melhoras que haviam ocorrido durante todo o seu processo de adoecimento, apesar de 
ainda não aceitar que tais mudanças tenham sido desencadeadas a partir do câncer. 
Considerações finais 
Segundo LeShan (1994), “a terapia de um paciente terminal deve concentrar-se na 
expansão, crescimento e libertação do eu e não na recuperação física” (p.78-9). O 
atendimento de João visou exatamente à reorganização de sua vida. 
 
 
29 
O caso apresentado comprova a importância do processo psicoterapêutico atrelado 
ao tratamento do paciente com câncer no sentido de promover umamelhor qualidade de 
vida na vigência da doença e do tratamento. 
O atendimento de João possibilitou que ele reavaliasse sua forma de olhar a vida e as 
relações afetivas. Passou a assumir uma postura menos rígida e mais tolerante. Atualmente 
é capaz de aceitar e respeitar as suas limitações, não exigindo de si uma postura correta a 
todo o momento. 
 
Palavras-chave: psicologia da Saúde; câncer; transformação. 
 
Referências Bibliográficas 
LESHAN, L.; Brigando pela vida: Aspectos emocionais do câncer. São Paulo: Summus 
Editorial, 1994. 
ROMANO; B. W.; Princípios para a prática da psicologia clínica em hospitais. São Paulo: 
Casa do Psicólogo, 1999. 
 
 
 
 
 
30 
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DO ADOLESCENTE6 
A ELABORAÇÃO DO LUTO PELA PERDA DO PAI REAL COMO CONDIÇÃO DE ENTRADA 
NOS LUTOS DA ADOLESCÊNCIA 
 
Prof. Ms. Lourdes SantinaTomazella 
Rodrigo Mattieli de Cavalho Guilhem 
 
APRESENTAÇÃO 
O estágio supervisionado em psicoterapia breve psicodinâmica do adolescente 
pretende, por um lado, oferecer ao estagiário do último ano do curso de Psicologia uma 
primeira oportunidade de prática clínica dirigida ao adolescente; e, por outro lado, oferecer 
tratamentos psicoterápicos à população de jovens de 12 a 18 anos de idade, assim como 
acompanhamento psicológico a seus pais, quando necessário. 
Introdução 
De acordo com Aberastury e Knobel (1976), para que o jovem insira-se na 
maturidade, deve elaborar perdas pelo abandono do mundo infantil. Relacionam quatro 
tipos de lutos: pela perda do corpo infantil, pela perda do papel e identidade infantil, pela 
perda da bissexualidade infantil e pela perda dos pais da infância. Entende-se que tais lutos 
inevitáveis são decorrentes das modificações físicas e psíquicas determinadas pela passagem 
da infância para a adolescência, envolvendo especificamente quanto aos pais da infância, 
introjeções e idealizações. A morte real do genitor poderá desencadear um processo de luto 
similar, em muitos aspectos, aos lutos pelas perdas fantasmáticas da infância. Segundo 
Fukumitsu e Oddone (2008), o processo de luto é importante como fechamento da situação 
inacabada que é a morte de um ente querido, tornando necessário trabalhar a consciência 
da finitude como caminho para a re-significação da vida, tendo o terapeuta a tarefa de 
confirmar e acolher os sentimentos oriundos da perda. 
Objetivos 
Apresentação do processo de psicoterapia breve de um adolescente, realizado na 
Serviço-escola Mackenzie por terapeutas-estagiários, em três momentos. 
 
6
 Supervisores da área: Prof. Ms. Aurélio Fabrício Torres de Mello, Prof. Dra. Berenice Carpegiani, Prof. Ms 
Cristine Lacet, Prof. Ms. Lourdes Santina Tomazella, Prof. Dra. Monica M. de Angelis Mota, Prof. Dra. Sandra R. 
de Almeida Lopes. 
 
 
 
31 
Através do relato do atendimento, refletir sobre a necessidade de trabalhar, até sua 
elaboração, o luto de um menino pela morte do pai como condição de possibilitar-lhe a 
entrada na adolescência. 
O adolescente e sua história de vida 
Atualmente, novembro de 2011, o menino está com treze anos e onze meses de 
idade. Quando estava com nove anos, seu pai foi assassinado durante uma "corrida" por um 
passageiro que levava em seu táxi. A partir daí, o garoto passou a viver só com a mãe, que, 
envolvida nas dificuldades de seu próprio luto, colocou-o "no lugar" do falecido marido. Esta 
mãe casou-se tardiamente, o marido foi seu único relacionamento afetivo e sempre esteve 
ao seu lado, inclusive tomando todas as providências da criação do filho. Assim, em seus 
temores de um novo abandono, esta mãe, quando enviuvou, tentou impedir o crescimento 
do menino, como que evitando que ele também "fosse embora". Depois de dois anos do 
trágico acontecimento, o garoto até então saudável em todos os aspectos de seu 
desenvolvimento, passou a apresentar sintomas. E foi neste momento que a mãe procurou 
uma ajuda psicológica para o filho. 
O adolescente e seus atendimentos na clínica psicológica Mackenzie 
1) Psicodiagnóstico: segundo semestre de 2009 
 O paciente estava com onze anos e seis meses de idade quando sua mãe procurou o 
Serviço-escola referindo que o filho estava mais fechado, triste, com medo de dormir 
sozinho em seu quarto e com medo de escuro. O menino confirmou estas queixas, 
acrescentando que não se considerava mais uma criança, mas a mãe o tratava como tal. 
Neste aspecto, dizia ter uma "dúvida" (sic): agir como queria sua mãe ou agir como os 
amigos de sua idade e se arriscar a perder o amor materno. Após a realização de uma 
avaliação psicológica, o menino foi encaminhado para Psicoterapia Breve de Adolescente. 
2) Psicoterapia breve de adolescente: primeiro e segundo semestre de 2010 
Durante dois semestres letivos, o adolescente e sua mãe foram atendidos 
individualmente por duas estagiárias-terapeutas, já sob a supervisão da primeira autora 
deste trabalho. Ao longo do ano, foram realizadas 25 sessões com a mãe e 26 com o 
adolescente. A inclusão da mãe no processo tornou-se imprescindível, pois, impedida por 
seus próprios conflitos de elaborar seu luto pela morte do marido, esperava do filho o papel 
de um companheiro que a amparasse. Mas, se por um lado, exigia do menino uma conduta 
 
 
32 
inadequadamente madura para sua idade, por outro lado, tentava a todo custo impedir sua 
saída da infância para poder controlá-lo e tê-lo sempre a seu lado. O garoto, para não correr 
o risco de perder também a mãe, correspondia às suas exigências, ficando impedido de 
elaborar seu próprio luto. Enfocando estes conflitos na "área de mutualidade psíquica" mãe-
filho (CRAMER, 1974), objetivou-se: com a mãe, auxiliá-la na elaboração do luto para que 
"permitisse" ao menino um desenvolvimento coerente com sua idade; e com o adolescente, 
auxiliá-lo na elaboração do seu próprio luto, preparando-o para elaborar os lutos da 
adolescência. Ao final do processo, concluiu-se que a mãe conseguira atingir parcialmente os 
objetivos propostos, mas necessitava um tratamento que atingisse seus núcleos depressivos, 
optando-se por encaminhá-la para Psicoterapia Breve de Adulto. O adolescente já não 
apresentava seus sintomas iniciais e dava mostras de ter elaborado o luto pela morte do pai. 
Porém, assim que a possibilidade de encerramento do processo foi colocada para o menino, 
voltaram seus temores de "perdas". E durante a fase de termino do processo, ele "provou" 
para a terapeuta que não estava preparado para uma alta: tinha medo de crescer e perder o 
amor materno, assim como tinha "dúvidas de adolescente" de (sic) que não conseguira 
conversar com a terapeuta por ela ser mulher. 
3) Psicoterapia breve de adolescente: primeiro e segundo semestre de 2011 
Este último processo foi realizado em 25 sessões, não coincidentemente por um 
terapeuta do sexo masculino (o segundo autor desse artigo), sem a inserção sistemática da 
mãe. Na primeira sessão a mãe foi atendida e manifestou preocupação pelo filho estar 
mudando muito rápido, tanto física quanto emocionalmente. O adolescente trouxe como 
queixa, nesta nova fase, uma dificuldade em se reconhecer, com pensamentos, desejos e 
aspirações diferentes de outros momentos de sua vida. Como no ano anterior, também 
manifestou dúvidas sobre seguir os conselhos da mãe ou de seus amigos, alegando que 
"antes, tudo era mais fácil, eu podia apenas seguir o que minha mãe falava, mas hoje nem 
sempre ela está certa" (sic). O paciente ainda demonstrava vergonha do próprio corpo, 
chegando a fazer a barba com cera quente, por sugestão da mãe, que não lhe permitia usar 
lâmina de barbear. Todas suas queixas estavam ligadas aoslutos da adolescência, 
especialmente no caso da perda abstrata dos pais da infância, que se somavam ao seu luto 
pelo falecimento do pai, tornando essas elaborações particularmente difíceis. Objetivou-se, 
então, criar um espaço para que o paciente se apropriasse de suas questões, para que o 
 
 
33 
processo de passagem da infância para adolescência não lhe fosse ainda mais complicado do 
que já é naturalmente. Ao longo do primeiro semestre, o adolescente foi levado a perceber 
que muitas de suas preocupações com garotas, mudanças corporais ou dúvidas sobre a vida 
adulta também eram compartilhadas por seus amigos da mesma idade. Durante este mesmo 
período, ele também passou a depender menos da mãe como confidente e conselheira, 
começando a se individualizar. No segundo semestre, o adolescente retornou com novas 
queixas: sua mãe estava manifestando interesse em se mudarem para o Nordeste. Ele 
terminaria o ensino fundamental no final do ano e sua vizinha, com a qual estava tendo um 
relacionamento afetivo, iria mudar-se de casa. A própria terapia se aproximava de sua 
conclusão e, como no ano anterior, o paciente parecia temer a ideia de receber alta. Tantas 
alterações nas mais diversas áreas de sua vida criaram uma sobreposição de lutos, 
obrigando-o confrontar o fim da sua identidade infantil com seu medo de perdas, fruto do 
trauma pela morte do pai. Ao longo de todo o processo, foram feitas intervenções acerca de 
lutos, levando o paciente a diferenciar o que vivenciou no passado com a morte do pai de 
seus lutos atuais, decorrentes de sua atual fase de vida. Próximo ao fim do processo, o 
paciente verbalizou: "Eu consegui passar pela morte do meu pai. Acho que consigo passar 
por essas coisas também, pois agora eu sou menos criança e mais adolescente". Essas 
elaborações e mudanças de auto-imagem, decorrentes da grande capacidade do paciente 
para insights, assim como sua menor dependência em relação à mãe, lhe permitiram 
individualizar-se e atingir os objetivos propostos pelo processo. E dessa vez, ele não 
conseguiu "provar" para o terapeuta e nem para si mesmo a necessidade da continuidade do 
processo... 
Discussão 
No primeiro ano de psicoterapia breve, tanto a mãe quanto o filho partilhavam 
angústias decorrentes da morte do pai do paciente. O adolescente conseguiu elaborar esse 
luto com maior sucesso que a mãe, que foi então encaminhada para uma psicoterapia 
individual. A partir deste momento, o paciente passou a trabalhar sua entrada na 
adolescência, além de conseguir diferenciar-se cada vez mais da mãe. Graças à elaboração 
do luto pelo falecimento do pai, alcançada anteriormente, o paciente pode apropriar-se de 
sua adolescência, desligando-se das idealizações dos pais da infância, alcançando maior 
autonomia e confiança. Ao entrar em contato com os lutos característicos da adolescência, o 
 
 
34 
paciente atualizou angústias ainda não elaboradas advindas da morte do genitor em sua 
infância. Essa sobreposição de lutos reais e imaginários acabou trazendo-lhe temores 
relativos ao seu crescimento. Conforme foram ocorrendo, durante a psicoterapia, 
elaborações sobre as diferenças entre o luto vivenciado no passado e os atuais, o temor a 
mudanças do adolescente pôde ser superado, diminuindo sua ansiedade quanto ao futuro, 
permitindo-lhe até mesmo uma postura otimista para enfrentar mudanças que, com certeza, 
ainda acontecerão em sua vida. 
Conclusão 
Finalmente pode-se concluir que a elaboração do luto pela perda do pai real foi, 
neste caso, uma condição obrigatória de entrada nos lutos da adolescência. Além disso, 
constatou-se que a psicoterapia breve, por suas características de duração que obrigam um 
aprofundado trabalho na fase de término do processo, é uma importante modalidade de 
atendimento quando objetiva-se mostrar ao paciente a diferença entre uma separação 
determinada pelo absolutismo da morte e as relativas separações da vida. 
 
Palavras-chave: Psicoterapia breve; adolescente; lutos. 
 
Referências 
ABERASTURY, A.; KNOBEL, M. Adolescência. Buenos Aires: Kargieman, 1976. 
CRAMER, B. Interventions thèrapeutiques brèves avec parents et enfants. Psyquiatrie de 
l'Enfant, v. 17, n. 1, p.53-117, 1974 
FUKUMITSU, K. O.; ODDONE, H. R. B. (Orgs.). Morte, suicídio e luto: estudos gestálticos. 
Campinas: Livro Pleno, 2008. 
 
 
 
 
 
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ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA COMPORTAMENTAL E COGNITIVA7 
PASSIVIDADE: ANÁLISE E INTERVENÇÃO NA CLÍNICA ANALITICO-COMPORTAMENTAL8 
Prof. Dr. Nicolau Kuckartz Pergher 
Livia Fracchetta Negrão 
APRESENTAÇÃO 
A terapia analítico-comportamental pretende investigar as relações entre variáveis 
ambientais e comportamentais, incluindo os sentimentos dos indivíduos. O terapeuta 
analítico-comportamental, por meio de intervenções verbais e não verbais, propicia 
autoconhecimento e auxilia os clientes a produzirem reforçamento positivo, especialmente 
aqueles oriundos de interações sociais. 
Introdução 
 Em análise do comportamento, muito se discute a respeito da estimulação aversiva e 
de seus efeitos sobre o comportamento humano. A punição é uma prática de controle 
comumente utilizada nas relações humanas e possui uma série de consequências poderosas. 
A mais reforçadora das conseqüências, do ponto de vista do agente punidor, é a supressão 
imediata da estimulação aversiva do ambiente. Os efeitos da punição para o indivíduo que é 
punido envolvem: a ocorrência de respostas de fuga e esquiva, a eliciação de subprodutos 
emocionais desagradáveis, o contra-controle e a não aprendizagem de respostas 
alternativas. 
 Sidman (1995) descreve que “não aprendemos a pressionar barra de esquivas antes 
de experienciar choques. A primeira causa da esquiva está em nosso passado, nos choques 
que já tomamos” (p. 138). Sabe-se que a esquiva tem a função de “prevenir” algum tipo de 
estimulação aversiva. Contudo, a topografia da resposta de esquiva pode dar-se de inúmeras 
maneiras. Alguns autores fazem a diferenciação entre esquiva ativa e esquiva passiva. 
Nesses termos, a esquiva ativa é comportamento expresso, ou seja, a pessoa age e evita, 
com sua ação, eventos aversivos. Na esquiva passiva, diz-se que a pessoa não age e, com 
essa passividade, evita conseqüências danosas ou desagradáveis (VANDERBERGHE, 2007). 
 
7
 Supervisores da área: Profª Ms. Ana Cristina Kuhn Pletsch; Profª Drª Cássia Roberta da Cunha Thomaz; Profª Drª Cristina 
Moreira Fonseca; Prof. Dr. Nicolau Kuckartz Pergher; Prof. Thiago Pacheco de Almeida Sampaio. 
 
8
 Demais componentes do grupo: Barbara Nogueira, Felipe Bruno, Mayara Lazarini, Mayra Seraceni, Tamala Resende, 
Vanessa Pereira, Yuri Busin. 
 
 
36 
O termo “passividade” é facilmente designado e entendido por meio da oposição 
com seu antônimo - “atividade”. Esta contraposição pode passar a errônea ideia de que o 
comportamento passivo é um “não comportar-se”. De acordo com os princípios da análise 
do comportamento, até mesmo o comportamento de permanecer parado ou inerte deve ser 
entendido como uma resposta selecionada por seus aspectos adaptativos e funcionais. 
Desse modo, deve ficar claro que os comportamentos chamados, neste trabalho, de 
“passivos” estão sendo analisados como subprodutos de históricos de punição e que são 
passíveis de mudança por meio da identificação e manipulação das variáveis mantenedoras 
desses comportamentos. 
Objetivos 
 Este trabalho tem por objetivo apresentar análises de variáveis ambientais que 
selecionam e mantêm alguns comportamentos passivos no repertório comportamental de 
diferentes clientes atendidos no serviço-escola, bem como apresentar algumas propostas deintervenção em relação aos comportamentos passivos. 
Método 
Sujeitos 
Para a elaboração deste trabalho, considerou-se o atendimento clínico de oito 
clientes. Os atendimentos ocorreram ao longo do semestre letivo, no serviço-escola, em 
sessões semanais. 
Procedimentos 
 Foi observado que o tema “passividade” era recorrente entre os casos atendidos 
pelos membros do grupo de supervisão. Assim, decidiu-se apresentar alguns recortes de 
cada caso que ilustrassem comportamentos de “passividade”, juntamente com um breve 
relato das intervenções colocadas em prática. 
Discussão 
Caso 1: “Antes só do que mal acompanhada”. 
A., 30 anos, artista plástica. A cliente tem histórico de rejeição em relacionamentos 
afetivos e afasta-se de novos relacionamentos, inclusive evitando falar no tema. 
Inicialmente, a cliente preferia falar sobre aspectos de seu trabalho, mesmo quando esse 
assunto não parecia envolver sofrimento clínico relevante. A cliente aceitou a análise de que 
estava evitando falar no tema “relacionamentos” e, recentemente, envolveu-se 
 
 
37 
afetivamente com rapaz mais jovem, que a valoriza e que não sinaliza a ocorrência de 
sofrimento, fazendo com que se sinta confortável e segura nesse relacionamento. 
Caso 2: “Antes ‘só amigos’ do que só”. 
B., 40 anos, vendedor. O cliente apresenta repertório de descrição das variáveis que 
o fazem manter contato com seu ex-namorado, mas não consegue modificar a maneira de 
se comportar em relação a ele, permanecendo exposto a condições aversivas. O terapeuta 
auxiliou no processo de autoconhecimento e na identificação de novas oportunidades de 
reforçamento, apoiando-o na variabilidade comportamental. O cliente parou com o uso de 
drogas, diminuiu o contato com o ex-namorado e com a família dele e ampliou seu círculo de 
relacionamentos sociais. 
Caso 3: “Antes acompanhada do que só”. 
 C., 48 anos, fotógrafa. Conta que seus familiares sempre a acharam burra e fútil por 
gostar de atividades relacionadas ao corpo, como a dança. A passividade é observada na 
maneira como a cliente se porta nos relacionamentos familiares, eximindo-se de argumentar 
contra os membros da família e vitimizando-se por meio de suas limitações físicas. A cliente, 
em estado de privação afetiva, envolvia-se em quaisquer relacionamentos nos quais os 
companheiros dessem um mínimo de acolhimento. Entretanto, esses contatos eram todos 
perenes. A terapeuta auxiliou na descrição da relação entre as contingências aversivas 
experienciadas na infância e a formação de seu autoconceito, além de incentivar posturas 
assertivas na presença de familiares. 
Caso 4: “Antes só do que acompanhada”. 
D., 38 anos, historiadora. A cliente possui uma doença que afeta sua aparência física 
e lhe foi dito, por sua mãe, que ela nunca conseguiria um companheiro. A passividade é 
observada na dificuldade da cliente em estabelecer relacionamentos sociais, ficando limitada 
ao ambiente de trabalho e não se expondo a situações descritas como aversivas por sua 
mãe. A terapeuta passou a estabelecer pequenas metas de comportamentos a serem 
emitidos em situações sociais, discutindo os efeitos subjetivos observados pela cliente no 
cumprimento das metas. 
Caso 5: “Antes calada do que só”. 
 E., 25 anos, projetista. A cliente esteve exposta a conseqüências aversivas verbais e 
físicas por parte de seu pai. Atualmente, a cliente exime-se de dizer o que pensa em relação 
 
 
38 
ao noivo, aceitando passivamente o que ele propõe como correto para a vida futura do 
casal. Durante o processo terapêutico, foram modelados, em sessão, comportamentos 
verbais assertivos em relação ao noivo, fazendo com que ela passasse a expressar suas 
vontades e discordâncias em relação às propostas feitas por ele. 
Caso 6: “Antes a minha prima do que só”. 
F., 83 anos, do lar. A cliente relatou, em diversas sessões, que a prima com quem 
mora não a entende e a trata mal. Observou-se que a cliente queixa-se da prima, mas deixa 
de descrever o seu papel na relação com ela, bem como deixa de variar seu comportamento. 
Embora a cliente reclame da convivência com a prima, analisou-se que a prima provê 
reforçadores diversos, inclusive para a classe de respostas de queixar-se. Incentivou-se a 
busca por reforçadores em outras relações sociais e fora da casa onde moram. 
Caso 7: “Antes mal acompanhado do que só”. 
G., 30 anos, estudante de química. Apresentou queixas relacionadas à baixa estatura, 
principalmente de baixa autoestima e insegurança nos relacionamentos amorosos e 
profissionais. Apesar de relatar insatisfações relacionadas à namorada e à vida profissional, 
não apresenta comportamentos efetivos para mudanças, evitando atitudes que possam 
gerar consequências aversivas, tais como término do namoro ou não suprir as expectativas 
no ambiente de trabalho. Evita emitir respostas que produzam rejeição. Durante o processo 
terapêutico, as análises aqui descritas foram apresentadas ao cliente. Assim, espera-se que 
possa expor-se assertivamente no relacionamento com a namorada e no trabalho. 
Caso 8: “Antes mal-casada do que só” 
H., 35 anos, dona de casa. Queixa-se de que o marido é controlador e de que não 
consegue expor seus sentimentos e vontades a ele, permanecendo passiva às suas vontades. 
Durante o processo terapêutico, a cliente descobriu traições do marido e decidiu terminar o 
relacionamento, pedindo a separação. Enquanto a separação não ocorre, a cliente vem 
conseguindo colocar limites na presença do marido dentro de casa e na ingerência que ele 
tem sobre sua rotina diária. 
Considerações Finais 
Podemos observar que repertórios comportamentais considerados “passivos” estão 
atrelados a históricos coercitivos, nos quais a resposta de esquiva foi uma solução adaptativa 
e selecionada. Entretanto, mostra-se uma solução, em última análise, inócua, visto que 
 
 
39 
envolve sofrimento emocional e que as fontes de coerção permanecem inalteradas. O 
trabalho do terapeuta analítico-comportamental segue no sentido de auxiliar os clientes na 
descrição das fontes de controle e no autoconhecimento referente às reações emocionais e 
ao repertório comportamental. A partir disso, o terapeuta exerce o papel de auxiliar os 
clientes na produção de reforçamento positivo, especialmente aqueles produzidos nas 
relações afetivas e sociais. 
 
Palavras-chave: terapia analítico-comportamental; passividade; esquiva. 
 
Referências 
SIDMAN. Coerção e suas implicações. Campinas: Editorial Psy II, 1995. 
VANDERBERGHE, L. Terapia comportamental construtiva: uma outra face da clínica 
comportamental. Psicologia USP, v. 18, n. 4, p. 89-102, 2007. 
 
 
 
 
 
 
 
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ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ESCOLAR9 
RESSIGNIFICANDO A ESCOLA: (DES)CONSTRUINDO CONCEPÇÕES E SENTIDOS 
Profa. Dra Roseli Fernandes Lins Caldas 
Eduardo Freitas Prates 
Malka Sherry Shnaider 
APRESENTAÇÃO 
Ao longo da história da psicologia escolar paulistana, o espaço do psicólogo foi 
ganhando novas versões. Inicialmente participante direto das equipes escolares, depois, dos 
espaços gestores e administrativos e, por fim, alijado formalmente da equipe escolar. 
Entretanto, a psicologia encontra uma brecha e retorna à rede pública por meio dos estágios 
supervisionados em psicologia escolar, como parte da formação no último ano do curso. O 
processo de estágio na Universidade Presbiteriana Mackenzie se dá a partir de uma parceria 
com algumas diretorias de Ensino em que são levantadas as demandas junto a diretores e 
coordenadores e elabora-se uma listagem das escolas que indiquem adesão e desejem 
intervenção em psicologia escolar. Os alunos são alocados de acordo com suas 
disponibilidades

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