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CESSÃO DE CRÉDITO E RESSEGURO Ruy Rosado Aguiar Ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça. Advogado. A questão é a seguinte: uma companhia de seguros celebra, com um Fundo, contrato de cessão de direitos creditórios provenientes de ações judiciais retroativas, julgada pela seguradora contra os reais causadores dos danos por ela indenizados aos seguros. Aproximadamente um ano depois, constataram que determinados créditos cedidos decorriam de indenizações pagas em razão de apólices de seguros que possuíam anteriores resseguros. Havendo empasse entre a concessionária e a seguradora, quanto ao pagamento de ressarcimento . Vale referir que no instrumento da cessão, na cláusula 2.4, alínea a, constava o seguinte: 2.4 A CEDENTE deverá restituir ao CESSIONÁRIO, o valor do preço pago pelo crédito, corrido pela taxa DI, caso um ou mais créditos por ela cedidos seja objeto de qualquer dos seguintes eventos de restituição: a) caso o crédito venha a ser reclamado por qualquer terceiro que comprove, documentalmente ou judicialmente, ser o titular de tal crédito. 2. Os quesitos. Diante dos fatos surgiram várias dúvidas em relação titularidade de crédito, crédito cedido ao fundo, conduta das partes e boa-fé, responsabilidade do cedente. 3. A cessão A cessão de crédito é um negócio jurídico, em geral de caráter oneroso, através do qual o sujeito ativo de uma obrigação a transfere a terceiro, estranho ao negócio original, independentemente da anuência do devedor. O alienante toma o nome de cedente, o adquirente o de cessionário, e o devedor, sujeito passivo da obrigação, o de cedido. Outro aspecto relevante acerca da cessão de crédito é que o cedido (devedor na relação obrigacional) não pode se opor à realização do negócio, ou seja, a cessão independe da anuência do devedor. O cessionário ao ingressar em um contrato através da cessão de posição contratual, o faz em um complexo obrigacional que orbita em torno do antigo contratante. Ao transferir a posição contratual, o cedente deve garantir que tal posição exista, bem como que ele seja o legítimo possuidor da mesma, já que a ninguém é permitido transferir mais direitos do que aqueles que possui, sob pena de invalidade do negócio jurídico da cessão. 5.O Resseguro O resseguro é o seguro das seguradoras. É o contrato em que ressegurador assume o compromisso de indenizar a companhia segurada (cedente) pelos danos que possam vir a ocorrer em decorrência das suas apólices de seguro. O resseguro é regido pelo princípio da mais estrita boa-fé entre a cedente e o ressegurador, sendo que ambos buscam obter lucros com a operação. A responsabilidade do ressegurador está limitada apenas ao sinistro ( materialização do risco ) real que a seguradora sofreu. Tecnicamente, o resseguro é uma operação financeira típica realizada entre as duas partes, com a finalidade de dividir responsabilidades. Sub rogação No Direito das obrigações, o pagamento com sub-rogação é um instrumento jurídico utilizado para se efetuar o pagamento de uma dívida, substituindo-se o sujeito da obrigação, mas sem extingui-la , visto que a dívida será considerada extinta somente em face do antigo credor, mas permanecendo os direitos obrigacionais do novo titular do crédito.O ato de sub-rogar é substituir o credor, de modo que o pagamento por sub-rogação se assemelha a cessão de crédito por se tratar da pessoa do credor. Ocorre a sub-rogação quando a dívida de alguém é paga por um terceiro que adquire o crédito e satisfaz o credor, mas não extingue a dívida e nem libera o devedor, que passa a dever a este terceiro. A interpretação do contrato Primeiro deve buscar qual o objetivo que as partes pretendem Deve interpretar o contrato, hermenêutica contratual, sobre clausulas duvidosas existentes, adequar a boa-fé. No caso quem pagou foi o terceiro, então caberia a ele exercer o direito contra a seguradora. A clausula 2.4 impede a duplicidade de pagamento e garante ao beneficiário da ação a restituição do valor. A boa-fé Objetiva é conduta de lealdade nas negociações art 422cc, aplicada a todas relações obrigacionais Três funções básicas: Orienta na interpretação, limita o exercício de direitos, impõe obrigações. Boa-fé tem função interpretativa expressamente prevista no art. 113 cc. Cabendo as artes darem o significado ao contrato corretos e leais.
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