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TEORIA DO CRIME

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RESUMO Nº 4 - DP I �
TEORIA DO CRIME
Conceito de Crime
	O crime pode ser conceituado sob aspecto formal ou material:
no aspecto formal crime é o fato típico e antijurídico;
no aspecto material é a violação de um bem penalmente protegido.
	O termo infração penal congrega o crime e a contravenção penal.
	Delito é sinônimo de crime.
OBSERVAÇÕES:
	Sujeito Ativo – é aquele que pratica o fato criminoso;
	
	Sujeito Passivo – é aquele que sofre as conseqüências da prática delituosa. É o titular do bem jurídico tutelado.
	Capacidade penal – é o conjunto de condições necessárias para que o sujeito seja titular de direito e obrigações no campo penal. Em regra, é a pessoa humana. Contudo, a pessoa jurídica pode ser considerada com capacidade penal para cometer crimes, conforme dispõem os artigos 173, § 5º�, e 225, § 1º,� da Constituição Federal e a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98).
	Objeto do crime – pode ser jurídico ou material:
Objeto jurídico do crime é a objetividade jurídica, ou seja, é o bem ou interesse protegido pela norma penal; Segundo Leal, “Objeto jurídico do crime é, assim, o interesse individual ou coletivo ou o valor (bem jurídico) atingido pela conduta delituosa e protegido pela lei penal. No caso de um homicídio, o objeto jurídico é a vida humana, elevada à categoria de um bem jurídico geral e não a vida da pessoa efetivamente atingida; tanto que esta pode até ter concordado com sua própria morte (seria o caso de eutanásia). No furto, não o dinheiro ou as jóias efetivamente subtraídas e pertencentes a um determinado indivíduo (sujeito passivo).”�
Objeto material do crime é o bem jurídico sobre o qual recai a conduta criminosa. Consoante Leal, “Este pode ser definido como sendo o ser (pessoa ou coisa) sobre o qual recai concretamente a conduta delituosa. É a pessoa ou coisa que sofre diretamente o resultado da ação criminosa. Assim, no caso de furto, o objeto material é a coisa subtraída (dinheiro, jóia, veículo), enquanto que o sujeito passivo é o indivíduo, titular do objeto furtado. Em muitos casos, há coincidência entre o objeto material e o sujeito passivo: a pessoa morta é, ao mesmo tempo, o sujeito passivo e o objeto material do homicídio. Da mesma forma, pode-se dizer em relação ao crime de lesão corporal e de vários outros.. Segundo a doutrina, nos crimes formais ou de mera conduta (aqueles que se consumam sem a ocorrência de um resultado separado da ação típica), inexiste objeto material: calúnia (art. 138), violação de domicílio (art. 150), ato obsceno (art. 133) etc.”�
	
	Punibilidade – é a conseqüência jurídica do crime. Com a violação da norma penal, surge para o Estado o direito de punir o sujeito ativo da infração.
Fato Típico
	É o comportamento humano, positivo ou negativo, que provoca um resultado e é previsto na lei penal como infração. É aquele que se enquadra nos elementos contidos no tipo penal.
	O fato típico é composto:
conduta humana dolosa ou culposa;
resultado;
nexo de causalidade entre a conduta e o resultado;
enquadramento do fato material a uma norma penal incriminadora.
	Segundo Jesus, 
“Para a integração do fato típico concorre, primeiramente, uma ação ou omissão, uma vez que, consistindo na violação de um preceito legal, supõe um comportamento humano.
A ação humana, porém, não é suficiente para compor o primeiro requisito do crime. É necessário um resultado, que é o efeito do comportamento (nos crimes materiais).
Todavia, entre a conduta e o resultado se exige uma relação de causalidade objetiva. A desfere facadas em B, que, transportado para um hospital, vem a falecer. Surge, dessa maneira, outro elemento do fato típico: a relação de causalidade ou nexo causal.
A seguir, é preciso que esteja presente a imputação objetiva, exigindo-se que o sujeito tenha realizado uma conduta relevante e juridicamente proibida, tendo afetado um bem jurídico.
Por último, para que um fato seja típico, é necessário que os elementos acima expostos estejam descritos como crime.
A mata B com tiros de revólver. Há a conduta (desfechar tiros), o resultado (morte), e o nexo causal entre eles (a vítima faleceu em conseqüência dos ferimentos produzidos pelos tiros). Presentes a imputação objetiva, verifica-se que esses elementos estão descritos pela lei como crime de homicídio (CP, art. 121). Assim, o fato penalmente relevante é o correspondente a um dos modelos abstratos definidos pelas normas incriminadores.
Aparece um último elemento, a tipicidade, que é a adequação daqueles requisitos na definição legal do crime.
São componentes do fato típico:
conduta dolosa ou culposa;
o resultado (salvo nos crimes de mera conduta);
o nexo de causalidade entre a conduta e o resultado (salvo nos crimes de mera conduta e nos formais);
a imputação objetiva; e
a tipicidade.
O fato típico se diferencia do fato material, que é o conjunto dos elementos de natureza objetiva descritos pela norma incriminadora.
São elementos do fato material:
a conduta;
o resultado;
o nexo causal.
Acrescendo-se a esses elementos a tipicidade e a imputação objetiva, teremos o fato típico.
Faltando um dos elementos do fato típico a conduta passa a constituir um indiferente penal. É um fato atípico. Ex.: seduzir mulher virgem, maior de dezoito anos, e ter com ela conjunção carnal, aproveitando-se de sua justificável confiança. Há todos os elementos do crime de sedução (CP, art. 217), menos a idade legal da ofendida, que o Código exige tenha mais de 14 e menos de 18 anos.”�
Tipo
	É o conjunto de elementos descritivos do crime contido na lei penal.
Adequação típica
É a adaptação do fato à norma penal. Apresenta-se sob duas formas:
de subordinação imediata, em que o fato se enquadra na norma penal, imediatamente, sem necessidade de outra disposição. Exemplo: homicídio.
de subordinação mediata, ampliada ou por extensão, em que o fato não se enquadra imediatamente na norma penal incriminadora, necessitando, para isso, do concurso de outras disposições. Exemplos: tentativa, co-autoria.
	Em função da adequação típica, são estabelecidos elementos do tipo, que são classificados em:
objetivos - que se referem à materialidade da infração penal, a forma de execução, tempo, lugar. Exemplo: repouso noturno – art. 155, § 1º, do CP; lugar ermo – art. 150, § 1º, do CP;
subjetivos - que se referem ao estado anímico do sujeito, ao fim especial da conduta ou ao estado de consciência do agente em relação a determinada circunstância Ex: se é a intenção do agente – art. 130, § 1º, do CP.
normativos - componentes da figura típica que exigem, para sua ocorrência, um juízo de valor. Ex: indevidamente – art. 151 do CP; sem justa causa – arts. 153, 154 e 244 do CP. 
Conflito aparente de normas
	Ocorre o conflito aparente de normas quando a um mesmo fato podem ser aplicadas, aparentemente, duas ou mais normas penais. Esse conflito é apenas aparente, uma vez que é impossível duas ou mais normas incidirem sobre um mesmo fato.
	Tal conflito aparente ocorre quando há:
unidade do fato;
pluralidade de normas que, aparentemente, com ele há identidade.
	Para solução de tal conflito aparente há princípios:
princípio da especialidade – a norma especial derroga a norma geral, devendo ser aplicada no lugar desta por conter elementos especializantes. Exemplo: infanticídio com relação ao homicídio;
princípio da subsidiariedade - a norma subsidiaria somente se aplica se não houver tipificação de outro delito geral. Exemplo - art. 132 do CP; (Com uma pá, alguém tenta acertar a cabeça de Robervaldo, mas erra na execução. A conduta foi tentar acertar a cabeça de Robervaldo, contudo poderá ser tentativa de homicídio, ou tentativa de lesão corporal, ou crime de exposição de perigo do artigo 132. Tudo isso dependendo da intenção do agente).
princípio da consunção – em que a norma geral é mais abrangente absorveas normas de âmbito menor. Ex: para matar é necessário ferir, ou seja, o homicídio absorve a lesão corporal.
Conduta
	Conduta é o comportamento humano consistente em uma ação ou omissão, consciente e voltada a uma finalidade (teoria finalista da ação).
	Existem várias teorias a respeito da conduta, podendo ser destacadas:
Teoria causalista (também conhecida como Teoria Naturalista ou Causal ou Teoria Clássica): só o movimento corpóreo é capaz de produzir alguma alteração no mundo exterior. Dela não faz parte nem o dolo nem a culpa (é o ato voluntário – vontade de fazer ou não fazer). Essa teoria foi concebida por Franz Von Liszt e dominou todo o século XIX. Para seus defensores crime só pode ser fato típico, antijurídico e culpável. Desta forma, o penalista tradicional adota uma conceituação de crime TRIPARTIDA, qual seja: crime é fato típico, antijurídico e culpável;� 
Teoria finalista: comportamento humano consciente dirigido a uma finalidade (comportamento doloso ou culposo) - (ato doloso ou culposo). Com finalismo de Hans Welzel, descobriu-se que o dolo e a culpa integram o fato típico e não a culpabilidade. Para os defensores dessa teoria o conceito de crime é BIPARTIDO, ou crime é o fato típico e antijurídico. Tal teoria começou ser elaborada no final da década de 1920 e início da de 1930.
Teoria social (também conhecida por teoria normativa, teoria da adequação social ou teoria da ação socialmente adequada) segundo a qual a ação (ou omissão) nada mais é que a realização de uma conduta socialmente relevante.�
	No Brasil, até a década de setenta, predominou a teoria causalista do delito (Bento de Faria, Nélson Hungria, Basileu Garcia, Magalhães Noronha, Aníbal Bruno, Frederico Marques etc.). Dessa época até hoje passou a preponderar a teoria finalista (Mestieri, Dotti, Toledo, Delmanto, Damásio, Mirabete, Tavares, Cirino dos Santos, Bitencourt, Silva Franco, Prado, Capez, Greco, Brandão etc.). O Código Penal adotou o princípio finalista da ação a partir da reforma de 1984, conforme prevê o seu artigo 18. 
	Ora, matar uma pessoal com tiros é um fato, contudo a intenção do agente (teoria finalista) é o que definirá o crime. Por exemplo:
matar uma pessoa por dinheiro é latrocínio;
matar uma pessoa por vingança é homicídio doloso;
matar uma pessoa em acidente de carro por excesso de velocidade é homicídio culposo. 
Formas de conduta
	A conduta pode ser de duas formas:
ação – que é a atuação humana positiva voltada a uma finalidade;
omissão – que a ausência de comportamento, a inatividade.
TÍTULO II
DO CRIME
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Superveniência de causa independente
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
Relevância da omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
Nexo de causalidade�
Conceito: nexo de causalidade é a relação de causa e efeito que existe entre a conduta e o resultado naturalístico.� 
É a relação física de causa e efeito a ligar a conduta ao resultado naturalístico, pelo qual se pode dizer que a conduta produziu o resultado. Exemplo: se João põe a mão no fogo, ela vai queimar, logo, há nexo causal físico entre a conduta e o resultado. 
Incidência do nexo causal: 
Nos crimes materiais de ação (que descrevem e exigem resultado naturalístico) pois somente estes exigem o resultado naturalístico para sua consumação.�
 E nos crimes omissivos impróprios (ou crimes comissivos por omissão): no âmbito de admissibilidade do nexo de causalidade é o dos crimes comissivos de resultado (ou crimes omissivos impróprios). Isso porque, não há que se falar em nexo de causalidade nos crimes omissivos puros (ou omissivos próprios), pois a responsabilidade do agente nesse caso não deriva de nenhum vínculo naturalístico entre a omissão e o resultado, mas, sim, do não cumprimento de um mandamento imposto pela norma. Ou seja, nos omissivos próprios a omissão é um nada e o nada não causa coisa alguma.
Teoria da equivalência dos antecedentes causais ou das condições: o nexo de causalidade (leia-se: o centro nevrálgico da causação) está regido, entre nós, pelo art. 13 do CP, que diz: “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”.
O art. 13 do CP adotou a conhecida teoria da equivalência dos antecedentes causais, também denominada teoria da conditio sine qua non (elaborada por Glaser e Von Buri).� 
Tudo que concorre para o resultado é causa do resultado (considera-se causa do resultado a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido). Para o nosso Código Penal tudo que concorre para o resultado é causa dele. Exemplo: se os pais não tivessem se encontrado naquela noite infeliz, não teria nascido o assassino que praticou aquele crime; logo os pais são uma das causas do crime cometido pelo filho. Sem eles o filho não existiria e, assim, não praticaria crime algum. Tal conclusão é conseqüência de o legislador ter adotado uma teoria que rege o nexo-causal, inspirada na lei da causa e efeito. 
Do perigo de regresso ao infinito. Do exemplo anterior teríamos a situação do tataravô, sem o qual, o bisavô não existiria e, sucessivamente. Contudo, os pais e os demais ancestrais não responderão pelo crime, pois eles não tiveram o dolo ou a culpa no fato delituoso praticado pelo filho (neto, bisneto, trineto etc.). 
Para se descobrir se uma determinada circunstância foi ou não causa do resultado a doutrina clássica se valia do chamado “procedimento hipotético de eliminação”, que é constituído de duas regras:
se eliminada mentalmente uma determinada circunstância da cadeia causal e mesmo assim o resultado teria ocorrido, essa circunstância não é causa do resultado. Exemplo: segundos antes de o autor disparar contra a vítima, ela se encontrou com um amigo e com ele discutiu. Essa circunstância não pode ser considerada causa do resultado porque com ela ou sem ela o resultado teria ocorrido. Ou seja, A CAUSA NÃO ESTÁ NO DESDOBRAMENTO FÍSICO CAUSAL. 
se eliminada mentalmente uma determinada circunstância da cadeia causal e, com isso, conclui-se que o resultado não teria ocorrido (como ocorreu, no momento em que ocorreu e da forma como ocorreu), essa circunstância é causa do resultado. Exemplo: a compra da arma de fogo utilizada para o cometimento do crime é causa do resultado, porque sem ela este não teria ocorrido com o uso daquela arma. Ou seja, A CAUSA ESTÁ NO DESDOBRAMENTO FÍSICO CAUSAL.
A doutrina retratada pela teoria da equivalência dos antecedentes causais (ou da conditio sine qua non) é muito criticada porque é demasiadamente ampla, pois não é possível ir ao regressus ad infinitum. A regra que dela emana é que tudo que contribui para o resultado é causa dele.
Tal regra é exageradamente elástica e se aplicada sem critério gera injustiça. 
Isso porque, se fosse aplicada ao pé da letra permitiria que todos que tivessem contribuído causalmente para o delito seriam responsáveis por ele (exemplo: o comerciante que vendeu a arma, o fabricante que a produziu, os pais, o bisavô e tataravô são responsáveis pelo crime da descendência, etc.). A função delimitadora do tipo penal perderia completamente seu sentido se referida teoria fosse acolhida sem reservas, sem limites.
Por isso, há limitações constantesno § 1º, do art. 13 do Código Penal, que trata da concausa superveniente relativamente independente.� 
O § 1º do art. 13 do CP diz: “A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou”.
Em alguns delitos, junto com a causa principal pode surgir uma causa paralela, que é denominada de concausa. As causas paralelas (ou concausas) podem ser:
(a) absolutamente independentes da conduta do agente (da conduta principal); ou
(b) relativamente independentes da conduta do agente (da conduta principal).
Em outras palavras: paralelamente a uma causa principal (“A” efetuou um disparo contra “B”, acertando levemente o seu braço), podem acontecer concausas absolutamente independentes ou relativamente independentes. Importa saber se o agente que efetuou o disparo responde ou não pelo resultado ocorrido.
Concausas absolutamente independentes da conduta do agente: as concausas absolutamente independentes da conduta do agente podem ser:
(a) preexistentes à conduta principal. Exemplo: “A”, com intenção de matar, disparou contra “B”, causando-lhe leve ferimento no braço, todavia, minutos antes, a vítima ingerira veneno e acabou morrendo de envenenamento. Solução penal: o agente só responde pelo que fez (tentativa de homicídio). Não responde pelo resultado morte porque não há nexo de causalidade entre o disparo e a morte decorrente do envenenamento. 
Outros exemplos: Afrísio, acometido de infarto agudo do miocárdio, é transportado para um hospital em um táxi, que, no caminho, é abalroado pelo automóvel dirigido por Zenóbio, que invadira imprudentemente a via preferencial. Na colisão, Afrísio sofre lesões leves, mas vem a falecer exclusivamente em conseqüência do infarto. Neste caso, o infarto é causa preexistente absolutamente independente da conduta de Zenóbio, que só responde pelo que causou (lesão corporal culposa).
A caminho de sua lavoura, Quirino percebe, deitado à sombra de uma árvore, seu inimigo Juca. Vendo a oportunidade de eliminá-lo, Quirino dele se aproxima sorrateiramente e lhe desfere certeiro tiro no coração. A necropsia, entretanto, revelou que Juca estava morto antes do disparo, em conseqüência de fulminante infarto miocárdio.�
(b) concomitantes à conduta principal. Exemplo: “A”, com intenção de matar, disparou contra “B”, causando-lhe leve ferimento no braço, todavia, a vítima nesse exato momento estava sofrendo colapso cardíaco, que a levou à morte. Solução penal: o agente só responde pelo que fez (tentativa de homicídio). Não responde pelo resultado morte porque não há nexo de causalidade entre o disparo e a morte decorrente do colapso cardíaco.
Outro exemplo: pretendendo matar Juca, Teco serve-lhe bebida a que previamente misturara veneno. Nesse exato momento, Juca é atingido e morto por uma bala perdida, disparada de um morro próximo. O tiro é causa concomitante absolutamente independente. Teco responde pela tentativa de homicídio
(c) supervenientes à conduta principal. Exemplo: “A”, com intenção de matar, disparou contra “B”, causando-lhe leve ferimento no braço, todavia, segundos depois, a vítima vem a sofrer traumatismo craniano decorrente de um terremoto que causou o desabamento do prédio. Solução penal: o agente só responde pelo que fez (tentativa de homicídio). Não responde pelo resultado morte porque não há nexo de causalidade entre o disparo e a morte decorrente do terremoto.
Outro exemplo: Chico Bento desentende-se com Zé Bernardo, na venda do vilarejo, e aplica-lhe alguns socos, de que resultam lesões corporais leves. Aborrecido, Zé retira-se para sua residência, mas no caminho, é atacado por um touro bravio, que resultou incapacidade permanente para o trabalho. O touro é uma causa superveniente absolutamente independente da agressão de Chico Bento, que só responde por lesão corporal leve.�
Concausas relativamente independentes da conduta do agente (Art. 13, § 1º, do CP): as concausas relativamente independentes da conduta do agente podem ser:
(a) preexistentes à conduta principal. Exemplo: “A”, com intenção de matar, disparou contra “B”, causando-lhe leve ferimento no braço, todavia, a vítima era hemofílica e isso concorreu decisivamente para a sua morte. Solução penal dada pela doutrina: o agente responde pelo resultado morte, visto que o § 1º do art. 13 só o isenta de responsabilidade quando a concausa for superveniente. Na atualidade, essa solução é muito criticada. 
Outro exemplo: Zelão, com dolo de homicídio, golpeia Ataliba, diabético. O ferimento, em si, não era mortal, mas, agravado pela moléstia de Ataliba, acaba provocando-lhe a morte. Zelão responde por homicídio consumado. A diabete da vítima, causa preexistente que se aliou à conduta de Zelão para produção do resultado, é relativamente independente, e, portanto, não exclui a sua responsabilidade.�
(b) concomitantes à conduta principal. Exemplo: “A”, com intenção de matar, disparou contra “B”, causando-lhe leve ferimento no braço, todavia, a vítima já estava com hemorragia em curso e isso contribuiu decisivamente para a sua morte. Solução penal dada pela doutrina: o agente responde pelo resultado morte, visto que o § 1º do art. 13 só o isenta de responsabilidade quando a concausa for superveniente. Essa solução hoje não se coaduna com a doutrina da imputação objetiva, como veremos.
Outro exemplo: Teco quer matar Juca e entrega-lhe veneno. Juca, após sorver o primeiro gole da bebida envenenada sofre ataque cardíaco, que, com complicação resultante da quantidade de veneno ingerida, lhe determine a morte.�
(c) supervenientes à conduta principal. Exemplo: “A”, com intenção de matar, disparou contra “B”, causando-lhe leve ferimento no braço, todavia, a vítima acabou morrendo em virtude de traumatismo craniano provocado por acidente causado pelo motorista (da ambulância) que a transportava ao hospital. Solução penal: nesse caso, o agente não responde pela morte, por força do art. 13, § 1º, do CP. Concausa superveniente que, por si só, causou o resultado, isenta o agente de responsabilidade por ele. Ele só responde pelo que fez: tentativa de homicídio. 
Outro exemplo: Num ônibus de excursão a Foz de Iguaçu, José Sacoleiro desfere uma punhalada em Tonico Muamba, com dolo de homicídio. Tonico é levado ao hospital, mas morre por infecção hospitalar. José responde pelo crime de homicídio consumado.�
	Que se entende por concausa que “por si só” causou o resultado? É a concausa que inaugura um novo curso causal, que é de responsabilidade de outra pessoa ou que decorre da própria natureza. Quando a concausa não provoca um novo curso causal e acha-se na mesma linha de desdobramento físico da conduta do agente, não é concausa que “por si só” causou o resultado. Logo, nessa hipótese, o agente responde pelo resultado. Exemplo: a vítima, ferida por um disparo, morre em virtude de infecção causada por esse ferimento. Ou morre no momento da cirurgia, que foi bem feita, porém, a vítima não resistiu ao ferimento.
Caso fortuito e força maior
(Interrompe o nexo causal)
	Caso fortuito é aquele que ocorre de modo inevitável, imprevisível, sem a vontade do agente, que não age com dolo ou culpa: Exemplo: problema mecânico apresentado pelo veículo, fazendo com que o motorista, sem condições de controlá-lo, atropele e mate transeunte. 
	A força maior pode ser caracterizada pela influência inafastável de uma ação externa. Exemplo: coação física irresistível.
Relevância da omissão – Art. 13, § 2º
	A omissão é relevante nos crimes omissivos impróprios, ou comissivos por omissão, pois são praticados por certas pessoas denominadas de garantes, que por lei têm o dever de impedir o resultado e a obrigação de proteção e vigilância em relação a alguém.
	São garantes (art. 13, § 2º, letras “a”, “b” e “c”)
aquelas que por lei têm obrigação de cuidado, proteção e vigilância como parentes próximos entre si. Exemplo: oencarregado de uma cadeia pública deixa de fornecer medicamento disponível, prescrito por médico, a um detento gravemente enfermo. Alertado sobre as possíveis conseqüências de sua atitude, responde que a morte do preso (que acaba sobrevindo) não lhe importaria, pois “cadeia não é hospital de vagabundo. O encarregado da cadeia é o legalmente responsável pela incolumidade física do preso. Responde por homicídio doloso (dolo eventual)”.�
quem, de alguma forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado, como o guia de alpinistas ao dirigir um grupo. Exemplo: um guarda-vidas, de serviço em uma praia, percebe pedido de socorro que se debate nas ondas. Pelo binóculo, vê que o banhista em grave risco da vida era um seu inimigo e, desejando-lhe a morte, nada faz, deixando perecer, resultado que tinha condições de evitar.� 
ou aquele que por comportamento anterior criou o risco da ocorrência do resultado, como aquele que convida um nadador bisonho a atravessar o rio e este vem afogar-se.
TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA
	A Teoria da Imputação Objetiva surgiu no século XX, em 1930, por Richard Honig, para conter os excessos da teoria da conditio sine qua non. O nexo causal não pode ser estabelecido, exclusivamente, de acordo com a relação de causa e efeito, pois o direito penal não pode ser regido pela física (causa e efeito). Assim, para teoria da imputação objetiva são necessários para a ocorrência do NEXO CAUSAL:
elo naturalístico entre a causa e o efeito;
criação de um risco proibido (exemplo: mulher leva o marido para jantar, contando que este se engasgue e morra. Supondo que tal fato aconteça, ela não responderá por homicídio, pois é normal levar as pessoas para jantar. Assim, não há nexo causal, uma vez que levar para jantar é um risco permitido e não proibido. Ninguém pode matar alguém mediante convite para jantar);�
que o resultado esteja na mesma linha de desdobramento causal da conduta, ou seja, dentro do seu âmbito de risco (Exemplo – um traficante vende droga para um usuário, o qual, por imprudência toma uma overdose e morre. A morte por uso imoderado não pode ser imputada ao traficante, por se tratar de uma ação a próprio risco, fora do âmbito normal de perigo provocado pela ação do traficante);�
que o agente atue fora do sentido de proteção da norma – toda a vez que o agente realizar um comportamento socialmente padronizado, normal, socialmente adequado e esperado, desempenhando socialmente seu papel social, estará gerando um risco permitido, não podendo ser considerado causador de nenhum resultado proibido. Assim, aquele que atira no braço do pretenso suicida para evitar a sua morte não responde por lesões corporais.�
CRIME CONSUMADO E CRIME TENTADO
Art. 14 - Diz-se o crime:
Crime consumado
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;
Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Pena de tentativa
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
	Consumação do delito ocorre quando existe a realização integral do tipo. É aquele em que foram realizados todos os elementos constantes da definição legal. Exemplo: o crime de furto se consuma no momento em que o agente subtrai, para si ou para outrem, coisa alheia móvel.�
	A consumação varia de acordo com o tipo de crime:
crimes materiais – havendo ação e resultado, somente com a ocorrência deste é que existe consumação. Exemplos: homicídio (art. 121, CP), estelionato (art. 171).
crimes formais – a consumação ocorre independentemente do resultado naturalístico, que é dispensável. Exemplo: ameaça (art. 147, do CP);
crimes de mera conduta – na consumação se dá com a simples conduta do agente, não havendo resultado naturalístico. Exemplos – desobediência (art. 330, do CP); violação de domicílio (art. 150, do Código Penal);
crimes culposos – a consumação se dá com a ocorrência do resultado naturalístico. Exemplos – homicídio culposo (art. 121, § 3º, do Código Penal); lesão corporal culposa (art. 129, § 6º, do Código Penal);
crimes permanentes – a consumação se prolonga no tempo, perdurando enquanto não cessar a atividade do agente. Exemplo: seqüestro e cárcere privado (art. 148, do Código Penal);
crimes omissivos próprios - a consumação se dá com o comportamento negativo, independentemente de resultado posterior (art. 135, do Código Penal)
crimes omissivos impróprios (ou comissivos por omissão) a consumação se dá com a produção do resultado naturalístico, não bastando a simples conduta negativa. Exemplo: mãe que deixa de alimentar filho com a finalidade de matá-lo (art. 121 do Código Penal);
crimes qualificados pelo resultado – a consumação ocorre no momento da produção do resultado mais grave. Exemplo: lesão corporal seguida de morte (Art. 129, § 3º, do Código Penal).
Iter criminis
	O fato delituoso apresenta uma trajetória que se compõe de quatro etapas:
cogitação (cogitatio)
atos preparatórios
atos de execução
consumação.
	A tentativa ocorre quando o agente não chega à consumação.
a) Cogitação
	Não é punida, pois o que se passa no foro íntimo da pessoa e não tem relevância criminal. O agente apenas mentaliza, idealiza, prevê, antevê, planeja, deseja, representa mentalmente a prática do crime. Nessa fase o crime é impunível, pois cada um pode pensar o que bem quiser.
	Alguns autores entendem que o crime de bando e quadrilha – art. 288 do Código Penal é uma exceção a presente regra, pois a sua consumação ocorre com a mera cogitação.�
b) Atos preparatórios
	Atos preparatórios são aqueles que se situam fora da esfera de cogitação do agente, embora ainda não se traduzam em início da execução do crime. Em regra, os atos preparatórios não são puníveis, salvo, se por si só configurem atos de execução de infrações penais autônomas. Exemplo: art. 25 do Decreto-lei nº 3.688/41 (Lei das Contravenções Penais).� 
	Nessa fase ainda não se iniciou a agressão ao bem jurídico. Como exemplos de atos preparatórios podemos citar, no homicídio, a compra da arma, a direção ao local do crime; no furto, a obtenção dos petrechos necessários à subtração.
	Exemplos: 
João Dedinho decide realizar furto na casa de um rico industrial, que sabia ausente, em viagem. Munido de pé-de-cabra e outros apetrechos apropriados, aproxima-se, de madrugada, da casa visada, mas, percebendo a presença de um vigia no local, retira-se, adiando indefinidamente o projeto.� A ação de João Dedinho não ultrapassou a fase dos atos preparatórios. Não está sujeito à sanção alguma, ressalvada eventual ocorrência de contravenção prevista no art. 25 da Lei das Contravenções Penais (posse não justificada de instrumento de emprego usual na prática de furto)
Descobrindo que seu sócio Ligeirinho o enganava nos negócios, Licurgo resolve matá-lo, e manifesta esse propósito a várias pessoas. Adquire um revólver, carrega-o e se dirige ao prédio da empresa, onde se encontrava o sócio. O porteiro do edifício, porém, sabedor da intenção de Licurgo, desarma-o e impede o confronto.� A ação de Licurgo não ultrapassou a fase dos atos preparatórios. Não está sujeito à sanção alguma, ressalvada eventual ocorrência de crime de porte ilegal de arma, contida no Estatuto do Desarmamento.
c) Atos de execução
	Atos de execução (ou executórios) são aqueles voltados diretamente à prática do crime, iniciando-se a reunião dos elementos integrantes da definição legal do crime. O bem jurídico começa a ser atacado. Nessa fase o agente inicia a realização do núcleo do tipo e o crime já se torna punível.
	Ressalte-se que linha é muito tênue entre ato de preparação e de execução, sendo difícil, às vezes, separá-los.
	Exemplos: 
Janjão, com dolo de homicídio, desfere punhalada em Petrúcio, ferindo-o mortalmente. É impedido de prosseguir no ataque por terceiros, que tratamde conduzir a vítima a um hospital, onde os médicos lhe salvam a vida.� Neste caso, houve ato de execução (portanto, tentativa), não ocorrendo a consumação por circunstâncias que escaparam ao controle do agente.
Pio Gaturamo quebra o vidro de um automóvel estacionado, com intenção de apoderar-se de uma valise que estava no interior do veículo. Nesse momento, é surpreendido por um policial, que o prende em flagrante. � Neste caso, houve ato de execução (portanto, tentativa), não ocorrendo a consumação por circunstâncias que escaparam ao controle do agente.
Um puxador quer furtar um automóvel estacionado na via pública fazendo “ligação direta”. Não logra, porém, fazer funcionar o motor, porque o proprietário do veículo, precavido, retira o fio da bobina.
Disposto a causar incêndio em uma casa, Zeca Pavio põe fogo a um monte de trapos e papéis velhos junto a uma parede de madeira, retirando-se em seguida. Antes que as chamas tomassem vulto capaz de caracterizar perigo comum, forte aguaceiro extingue o fogo incipiente que, não fosse por essa circunstância fortuita, certamente se propagaria.� Neste caso, houve ato de execução (portanto, tentativa), não ocorrendo a consumação por circunstâncias que escaparam ao controle do agente.
 Zé Radical, pretendendo matar um líder político rival, dispara contra ele seu revólver, atingindo-lhe o peito. A vítima visada nada sofre,, posto que, usava um colete à provas de balas.
d) Consumação
	Quando todos os elementos que se encontram descritos no tipo penal foram realizados.
Tentativa
	O crime é tentado quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
	Ou seja:
início da execução;
a não-consumação;
interferência de circunstância alheia a vontade do agente.
	Existem duas teorias a respeito da tentativa:
teoria objetiva (ou critério lógico-formal)� – segundo a qual existe tentativa com o início dos atos de execução;
teoria subjetiva – para configurar a tentativa, a revelação da intenção delituosa, ainda que em atos preparatórios. Seu enfoque não é a descrição da conduta típica, mas o momento interno do autor. É criticada, pois o agente é apontado delinqüente cedo demais, havendo possibilidade de incriminar o indivíduo inclusive na fase da cogitação.
	O Código Penal adotou a teoria objetiva, exigindo para a ocorrência da tentativa, início de atos de execução.
Elementos da tentativa
a ação que se caracteriza por início da execução – atos executórios;
a interrupção da execução por circunstâncias alheias à vontade do agente, que pode dar-se em qualquer momento antes da consumação
dolo – vontade, intenção do agente na prática do delito
Espécies de tentativa
	Há duas espécies de tentativa:
tentativa perfeita ou acabada, chamada de crime falho – é aquela que se verifica quando o agente fez tudo o quanto lhe era possível para alcançar o resultado. Exemplo: agente ministra dose mortal de veneno a seu inimigo, vindo este, porém, após a ingestão, por qualquer circunstância se salvar.
tentativa imperfeita ou tentativa inacabada – é aquela que ocorre quando a ação não chega a exaurir-se, ou seja, quando o sujeito ativo não esgotou em atos de execução sua intenção delituosa. Exemplo: L.
Branca ou incruenta – a vítima não é atingida, nem vem a sofrer ferimentos. Importante que a tentativa branca pode ser perfeita como imperfeita. No primeiro caso, o agente realiza a conduta integralmente, sem, contudo, conseguir ferir a vítima (erra todos os tiros). No segundo, a execução é interrompida sem que a vítima seja atingida (após o primeiro disparo errado, o agente é desarmado).
Cruenta – a vítima é atingida, vindo a lesionar-se. Do mesmo modo, pode ocorrer a tentativa cruenta imperfeita (vítima é ferida, e, logo em seguida, o agente vem a ser desarmado) ou na perfeita o autor descarrega a arma na vítima, lesionando-a. 
	Pena da tentativa - é a do crime consumado, diminuída de 1 a 2/3, dependendo do iter criminis percorrido. QUANTO MAIS PRÓXIMO O AGENTE CHEGAR DA CONSUMAÇÃO, MENOR SERÁ A REDUÇÃO, E VICE-VERSA. Assim, na tentativa branca a redução da pena será maior do que naquela em que a vítima sofre ferimentos graves. Tal critério é fruto de construção jurisprudencial.
	Exemplo: Uma enfermeira, contratada para cuidar de pessoa enferma, resolve deixa-la morrer, para tanto suspendendo a medicação que, de acordo com a prescrição médica, devia ministrar-lhe a intervalos regulares. O médico, todavia, desconfiado com a acelerada deterioração do estado do paciente, despede a enfermeira. Restabelecida a medicação, volta o enfermo à situação anterior.� A hipótese trata de tentativa de crime omissivo impróprio.� Ou seja, tentativa de homicídio, pois a suspensão da medicação por parte de quem estava contratualmente obrigada a ministrá-lo só não resultou a morte da vítima pela intervenção do médico.
Infrações penais que não admitem tentativa
culposas (exceto na culpa imprópria, para parte da doutrina);
preterdolosas (latrocínio tentado, o resultado morte era querido pelo agente, logo, embora qualificado pelo resultado, esse delito só poderá ser preterdoloso quando consumado);
contravenções penais (art. 4º, da Lei de Contravenções Penais – a tentativa não é punível)
crimes omissivos próprios;
crimes unissubsistentes;
habituais (ou há habitualidade e o delito se consuma, ou não há e inexiste o delito)
crimes que a lei só pune se ocorrer o resultado (art. 122 do CP);
crimes em que a lei pune a tentativa como delito consumado (art. 352, do CP). 	
Classificação dos crimes�
	
	Os crimes são classificados de diversas maneiras, ora porque se atenta à gravidade do fato, ora à forma de execução, ora ao resultado, etc. 
     
Crimes instantâneos, permanentes e instantâneos de efeitos permanentes
	Crime instantâneo  é aquele que, quando consumado, encerra-se. A consumação ocorre em determinado momento e não mais se prossegue. No homicídio (Art. 121, do Código Penal), por exemplo, o crime é consumado quando da morte da vítima, não importando o tempo decorrido entre a ação e o resultado. 
     	Crime permanente existe quando a consumação se prolonga no tempo, dependente da ação ou omissão do sujeito ativo, como acontece no cárcere privado (Art. 148, do Código Penal). 
     	Delito instantâneo de efeitos permanentes  é aquele em que a permanência do efeito não depende do prolongamento da ação do sujeito ativo, ou seja, ocorre quando, consumada a infração em dado momento, os efeitos permanecem, independentemente da vontade do sujeito. 
Crimes comissivos, omissivos puros e omissivos impróprios 
     	Crime comissivo é o que exige, segundo o tipo penal objetivo (descrição abstrata de um comportamento), em princípio, uma atividade positiva do agente. Exemplo: crime de furto – Art. 155, do Código Penal. 
     	Crimes omissivos são os que objetivamente são descritos com uma conduta negativa, de não fazer o que a lei determina, consistindo a omissão na transgressão da norma jurídica. É a omissão do autor quando deve agir. Exemplo: omissão de socorro – Art. 135, do Código Penal. 
     	Crimes omissivos impróprios existem quando a omissão consiste na transgressão do dever jurídico de impedir o resultado, praticando-se o crime que, abstratamente, é comissivo. Nestes casos a lei descreve uma conduta de fazer, mas o agente se nega a cumprir o dever de agir. A obrigação jurídica de agir deve existir, necessariamente. Exemplo: o médico que se recusa a atender o paciente e este vem a falecer pela ausência de atendimento. O médico irá responder pelo homicídio.
Crimes unissubjetivos e plurissubjetivos 
     	Crime unissubjetivo é aquele que pode ser praticado por uma só pessoa, embora nada impeça a co-autoria ou a participação (ex.: calúnia� e estelionato�). 
     	Crime plurissubjetivo (também denominado de crime coletivo) é aquele que, por sua conceituação típica, exige dois ou maisagentes para a prática da conduta criminosa. As condutas podem ter o mesmo objetivo, como no crime de quadrilha�, ou divergentes, em que as ações são dirigidas de uns contra outros, como na rixa.� Crime plurissubjetivo passivo é aquele que demanda mais de um sujeito passivo na infração, como ocorre na violação de correspondência.� 
Crimes simples, qualificados e privilegiados 
     	Crime simples ocorre quando o tipo legal é único, por exemplo, o homicídio. Neles, a lesão jurídica é una e seu conteúdo não apresenta qualquer circunstância que aumente ou diminua sua gravidade ex.: homicídio simples. 
     	O crime é qualificado quando o legislador, ao tipo básico, ou fundamental, eleva ou majora a pena, tal qual se dá com o homicídio (art. 121 e par. 2º). Não surge a formação de um novo tipo penal, mas apenas uma forma mais grave de ilícito. 
     	Se as circunstâncias do crime são minorativas, isto é, se atenuam a pena, diz-se privilegiado. São crimes privilegiados, por exemplo, o homicídio praticado por relevante valor moral e o furto de pequeno valor praticado por agente primário. 
Crime progressivo e progressão criminosa 
     	O crime é considerado progressivo quando contém implicitamente outro que deve necessariamente ser realizado para se alcançar o resultado. O anterior é uma simples passagem para o posterior sendo, assim, absorvido (ex.: no homicídio é necessário que exista, em decorrência da conduta, lesão corporal que ocasione a morte).
 
     	Na progressão criminosa há dois fatos, e não só um (como no crime progressivo). O agente pretende praticar um crime e, em seguida, resolve praticar outro mais grave. 
Crime habitual 
     	Crime habitual é constituído de uma reiteração de atos (penalmente indiferentes de per si), que constituem um todo, um delito apenas, traduzindo geralmente um modo ou estilo de vida. Nestes casos, a prática de um ato apenas não seria típica: o conjunto de vários, praticados com habitualidade, é que configura o crime (ex.: curandeirismo – Art. 284, do Código Penal). 
Crime profissional 
	O crime profissional é qualquer delito praticado por aquele que exerce uma profissão e utiliza-a para atividade ilícita (ex.: aborto praticado por médicos). 
Crime exaurido e falho
     	O crime é exaurido quando, após a consumação, que ocorre quando estiverem preenchidos no fato concreto o tipo objetivo, o agente o leva a conseqüências mais lesivas. 
		O crime falho – é o que ocorre na tentativa perfeita e acabada, quando o agente esgota, em meio de execução, todo o seu potencial ofensivo, mas o resultado não ocorre. 
Crimes de ação única e ação múltipla 
     	Crime de ação única é aquele cujo tipo penal contêm apenas uma modalidade de conduta, expressa no verbo que constitui o núcleo da figura típica (ex.: homicídio com a conduta de matar). 
     	Crime de ação múltipla é aquele cujo tipo contém várias modalidades de conduta, em vários verbos, qualquer deles caracterizando a prática de crime (ex.: pode-se praticar o crime definido no art. 122 induzindo, instigando ou prestando auxílio ao suicida). 
Crimes unissubsistentes e plurissubsistentes 
     	O crime unissubsistente, como o próprio nome diz, realiza-se apenas com um ato, ou seja, a conduta é una e indivisível (ex.: injúria�), coincidindo o ato, temporalmente, com a consumação, de modo que não admitem tentativa. 
     	O crime plurissubsistente é, por sua vez, composto de vários atos, que integram a conduta, ou seja, existem fases que podem ser separadas, fracionando-se o crime. Admitem a tentativa e constituem a maioria dos delitos: homicídio, furto e roubo, por exemplo. 
Crimes materiais, formais e de mera conduta 
     	Os crimes materiais, formais e de mera conduta são assim classificados em relação ao seu resultado. 
     	Crime material é aquele em que há necessidade de um resultado externo à ação, descrito na lei, e que se destaca lógica e cronologicamente da conduta (ex.: homicídio: morte). 
     	Crime formal é aquele em que não há necessidade de realização daquilo que é pretendido pelo agente e o resultado jurídico previsto no tipo ocorre em concomitância com o desenrolar da conduta (ex.: no delito de ameaça,� a consumação dá-se com a prática do fato, não se exigindo que a vítima realmente fique intimidada; no de injúria é suficiente que ela exista, independentemente da reação psicológica do indivíduo). 
     	No crime de mera conduta a lei não exige qualquer resultado naturalístico, contentando-se com a ação ou omissão do agente. Em outras palavras, o crime é classificado como sendo de mera conduta quando não é relevante o resultado material (ex.: violação de domicílio, ato obsceno, omissão de notificação de doença e a maioria das contravenções). 
Crimes de dano e de perigo 
     	Ainda quanto ao resultado, podem os crimes ser divididos em crimes de dano e de perigo. 
     	Crime de dano só se consuma com a efetiva lesão do bem jurídico visado (ex.: lesão à vida). 
     	No crime de perigo, o delito consuma-se com o simples perigo criado para o bem jurídico. O perigo pode ser individual (quando expõe ao risco o interesse de uma só ou de um número determinado de pessoas) ou coletivo (quando ficam expostos ao risco os interesses jurídicos de um número indeterminado de pessoas). 
Crimes complexos e de conexão 
     	O crime é complexo quando encerra dois ou mais tipos em uma única descrição legal (ex.: roubo = furto + ameaça), ou quando, em uma figura típica, abrange um tipo simples acrescido de fatos ou circunstâncias que, em si, não são típicos (ex.: constrangimento ilegal = crime de ameaça + outro fato, que é a vítima fazer o que não quer ou não fazer o que deseja). 
	Crime conexo é o que guarda relação, nexo com outro(s) delito (s). Exemplo: furto (art. 155, do CP) e homicídio (art. 121, CP) – agente subtrai coisa da vítima e mata a testemunha que presenciou a ação. 
Crimes comuns, crimes próprios e de mão própria 
     	Crimes comuns podem ser praticados por qualquer pessoa. 
     	Crimes próprios são aqueles que exigem ser o agente portador de capacidade especial. Este assunto está situado no campo da tipicidade: é a descrição legal que exige, para configuração do tipo, que haja sujeito ativo específico. Exemplo: Infanticídio – Art. 123 do Código Penal. 
     	Crimes de mão própria são passíveis de serem cometidos por qualquer pessoa mas não podem ser praticados por intermédio de outrem (ex.: falso testemunho)�. 
Crimes principais e crimes acessórios 
     	Os crimes principais independem da prática do delito anterior. 
     	Os crimes acessórios sempre pressupõem a existência de uma infração penal anterior, a ele ligada pelo dispositivo penal que, no tipo, faz referência àquela. 
Crimes vagos 
     	Crimes vagos são aqueles em que o sujeito passivo é uma coletividade sem personalidade jurídica, como a família, por exemplo.� 
Crimes comuns e crimes políticos 
     	Os crimes comuns atacam os bens ou interesses jurídicos do indivíduo, da família e da sociedade, penalmente protegidos pelo Estado. 
     	Crimes políticos agridem a própria segurança interna ou externa do Estado ou são dirigidos contra a própria personalidade deste. 
Crimes militares 
     	Os crimes militares estão divididos, segundo o Código Penal Militar, em crimes militares em tempo de paz e crimes militares em tempo de guerra. São ainda divididos em puramente militares e impróprios. 
Crimes hediondos 
     	A Constituição Federal de 1988 dispôs que são considerados inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia os crimes definidos como hediondos (art. 5º, inc. XLIII). São crimes que, por sua natureza ou forma de execução, se mostram repugnantes causando clamor público e intensa repulsa, e estão relacionados no art. 1º da Lei 8072/90. 
Crimes de tipo fechado e tipo aberto
 	Crime de tipo fechado– é o que apresenta descrição típica completa. Ex: lesão corporal, artigo 129, do Código Penal.
	Crime de tipo aberto – é o que apresenta descrição típica incompleta. Necessita de outra lei para ser complementado. 
Outras classificações 
     Existem, ainda, outras classificações das infrações penais, quais sejam: crimes continuados�, crimes de ação pública� e de ação privada�, crimes dolosos,� culposos,� preterdolosos (ou preterintencionais),� putativos,� impossíveis,� provocados,� multitudinários,� etc. 
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_____. A ilusão de Segurança Jurídica. Do controle da violência à violência do controle penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado. 2004.
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�
MATERIAL DE APOIO
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE: ART. 13 DO CÓDIGO PENAL�
Por José Carlos Gobbis Pagliuca�
1-Causa é tudo que pode modificar o resultado do mundo exterior. É qualquer alteração naturalística entre um fato e o resultado. Abrange a condição e motivação. Este resultado, no campo jurídico-penal pode ser um resultado material (físico) nos crimes materiais ou absolutamente valorativo no sentido jurídico para os crimes formais e os de mera conduta. De qualquer forma, considera-se não o resultado material unicamente, mas a ofensabilidade ao bem jurídico protegido pela norma.
            
O Código Penal adota a teoria da equivalência dos antecedentes causais e, portanto, não difere o que seja causa principal, próxima ou remota. Assim é que, no art. 13 diz que "causa é a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido." Sem embargo, o parágrafo 1º do art. 13 do Código Penal traz uma exceção à equivalência das condições, passando ali, a admitir a teoria da causalidade adequada, já que trabalha na hipótese de causa superveniente e faz uma avaliação jurídico-formal sobre o que deva ser a causa superveniente relativamente independente que por si só produziu o resultado, excluindo essa do nexo causal do resultado.
            
No campo jurídico-penal, assim como nos mais variados fenômenos sociais ou naturais, existem situações que iniciam todo o processo de criação, desenvolvimento, modificação e finalização de determinados eventos. Nada é por acaso. Por isso, se imprescinde do impulso, do starting para que tal fenômeno se modifique. A isso, podemos, chamar de causa. De igual modo como o vento e a água alteram uma rocha, por exemplo, as condutas humanas também podem mudar e interferir no próprio relacionamento entre os seres humanos propriamente. Essa concepção de causa é então, decorrente do conceito científico-prático existente no relacionamento humano. Contudo, essas condutas humanas por si só, não atendem à realidade do Direito Penal, e, por isso, houve a necessidade de se criar, no que diz respeito ao campo jurídico-penal, a relação de causalidade, ou seja, algo que, partindo dum comportamento volitivo humano, seja capaz de influenciar no mundo exterior natural, gerando situações que, em face da relevância modificativa, atinjam o que é determinado penalmente como figuras típicas.
Trata-se do famoso nexo causal. Mas as condutas do homem, como sabemos, podem ser iniciadas por ação ou pela omissão. Quer dizer, pelo atuar físico, mecânico propriamente do corpo humano, quer pela inércia, a ausência desse comportamento mecânico. Sem embargo, ambos os comportamentos são formas de conduta, eis que derivam, da intelectualidade humana e constituem, em cada situação, a causa, a gênese, para a produção de um resultado juridicamente relevante. Dessa forma, o Direito Penal embasa a responsabilidade, ou seja, a imputação do evento criador do resultado na causalidade jurídica, que, em termos singelos, nada mais é senão a possibilidade de se atribuir a alguém o resultado ilícito em razão de sua conduta. E para isso, o Direito Penal delimita a atuação na qual podemos atribuir a alguém o resultado. A par disso, essa limitação não é perfeita, já que transcende ao comportamento humano e ingressa na determinação do interesse legal para que se considere a responsabilidade, verificando-se até que ponto, as condutas são causas verdadeiramente do fato, ou existem comportamentos anteriores que devam ser desprezados ou valorizados. Bem assim expõe ROXIN: 
"a questão jurídica fundamental propriamente dita não consiste em se averiguar se ocorrem determinadas circunstâncias, senão em estabelecer os critérios conforme os quais queremos imputar determinados resultados a uma pessoa. Deste modo, a alteração de perspectiva que aqui se leva a cabo desde a causalidade à imputação faz com que o centro de gravidade se desloque já na teoria da ação, da esfera ontológica para a normativa: segundo isso, a questão de se é possível imputar a um homem um resultado como obra sua depende desde um princípio dos critérios de processamento que submetemos a dados empíricos." (1).
 De qualquer forma, não há, com efetiva segurança, uma teoria capaz de estabelecer uma regra taxativa e perfeita. O que sabemos, é que, hoje, em todas as legislações modernas e integrantes dos estados democráticos de direito, impõe-se uma limitação na causalidade, impedindo-se, pois, a antiga versari in re illicita.
"Num Direito Penal baseado na culpabilidade perdem todo apoio legal as antigas figuras consistentes na versari in re illicita, em cuja virtude,quem realizava um ato ilícito respondia em todas por todas suas conseqüências, a fundamentação o agravamento da pena pelo mero resultado, isto é, a responsabilidade objetiva e os delitos qualificados pelo resultado, e, enfim, a velha presunção de culpabilidade do acusado." (2) 
Na verdade, duas teorias acerca da causalidade desenvolvidas tiveram maior emprego e aceitação. A chamada Teoria da Equivalência das Condições e a denominada Teoria da Causalidade Adequada, as quais, se expõe, muito sucintamente abaixo.
2-TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES
            A teoria da equivalência das condições também denominada como teoria da equivalência dos antecedentes causais ou da conditio sine qua non, é atribuída a JULIUS GLASER, sendo desenvolvida por MAXIMILIAN VON BURI. É a teoria do Código Penal Brasileiro em vigor e de maior escolta na doutrina para determinar a vinculação entre conduta e resultado.Aqui, causa é o conjunto de condições ativas e inativas que contribuíram para a produção de um fenômeno modificador. Usando da idéias de que todos os antecedentes do resultado são de iguais modos necessários, conclui pelo equilíbrio valorativo de todos os antecedentes causais, não estabelecendo distinções entre causas, causas concomitantes (concausas), condições ou ocasiões. Daí porque, chamar-se teoria da equivalência.
            Considera que a relação da causalidade não ocupa nenhuma valoração jurídica, senão naturalista. Diz-se tratar de concepção autoritária, pois considera qualquer contribuição para a produção do resultado como causa, eis que amplia a intervenção repressiva, à medida que permite o aumento de prováveis autores.
            Na verdade, a teoria da equivalência dos antecedentes poderia levar aos extremos de um retorno ao infinito (regressum ad infinitum) capaz de responsabilizar pessoas que agiram remotamente, como no caso tradicional do fabricante e do comerciante da arma de fogo utilizada no homicídio. Sem embargo, tal incongruência é superada pela acomodação do nexo causal que gera responsabilidade se não atribuído também subjetivamente o resultado ao autor da ação ou omissão.
            Assim, criou-se a fórmula da conditio sine qua non que aplica o processo de eliminação hipotética (atribuído ao sueco THYRÉN), no qual eliminando-se mentalmente a ação, questiona-se se a produção do resultado teria ocorrido da forma como ocorreu. A conduta somente será considerada causa do resultado caso se possa afirmar que sem ela o resultado não teria existido. Logo se a conduta não criar modificações na produção do resultado, não será considerada causa deste resultado quando suprimida hipoteticamente. É a posição do Código Penal , em seu art. 13 que determina : "o resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido".
            Não obstante, esta doutrina traz dificuldades na aplicação da equivalência, uma vez que o método não é suficiente à relação de causalidade de forma imediata, mas a supõe.
            Pior ainda na aplicação do procedimento hipotético de eliminação nos crimes tentados e nos crimes omissivos. Na tentativa a causalidade não é apurada completamente, ou seja, na integralidade, pois o resultado jurídico não ocorreu por inteiro. Nos crimes por omissão, não havendo ação por parte do agente, mas inércia, a eliminação hipotética significa acrescentar-se mentalmente a ação esperada e indagar se o resultado teria sido interceptado. Como o operador não pode verificar concretamente a influência da ação esperada na dinâmica dos fatos, a causalidade é totalmente presumida. Não se pode afirmar, com a plena segurança certeza de que a ação devida evitaria o resultado.
            O procedimento da eliminação hipotética, como visto, é assaz naturalística, e portanto, físico, saindo da esfera da subjetividade do agente, deixando a desejar em casos de crimes cujos resultados não sejam materialmente demonstrados; em vista disso, é de utilização limitada, sendo que, para os casos que não resolve, fica na expectativa de que outro instituto penal sirva-lhe de apoio, já que, por si, não demonstra a existência da relação de causalidade que aproveita ao Direito Penal. Assim, o vínculo subjetivo do agente deve ser aglutinado para a fixação valorativa da relação de causalidade. E esse vínculo, nada mais é, senão, estar a causalidade equivalente à sirga do dolo e da culpa.
            O Direito Penal é dinâmico. Move-se e adapta-se; muda e retorna. É simbiótico também. Por isso, sua dogmática não pode embasar-se em conceitos estratificados e distantes da realidade fática. Como o Direito se orienta para atender a finalidade prática de proteger as condições vitais da sociedade, seu conteúdo há de ser infinitamente variável, de modo a se adaptar às necessidades que se fazem atuais na sociedade em que têm aplicação.
3- TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA
            Verificando-se que o nexo de causalidade pela equivalência e eliminação hipotética não solucionava os problemas da responsabilidade sem deixar alguma aresta duvidosa, entre as várias outras teorias que trabalharam a idéia de causalidade qualificada, tem lugar-tenente também a teoria da causalidade adequada, cuja criação se defere a VON BAR e VON KRIES. Para essa escola a causa é o antecedente não apenas imprescindível, mas também o mais adequado para a produção do resultado. Isto significa que não devem ser considerados todos os antecedentes necessários e imprescindíveis à produção do resultado, mas aqueles que, além disso, forem úteis, ou seja, com probabilidade de produzirem o resultado, segundo uma valoração posterior do fato naturalístico, uma vez que, somente com isso, se poderia trabalhar sobre quais as causas que se adequaram ao resultado e a ele deram impulso.
            Essa teoria também foi alvo de críticas, pois não apontou os critérios de probabilidade, deixando sempre, margem ao julgador analisar fatos passados considerados no presente.
            Isto ocorre, nem tanto porque já pode parecer problemático, fundamentadamente, descrever o comportamento humano no esquema de uma regularidade causal: ademais disso, a descrição de regularidades fracassa mais tarde por nos sermos possível, geralmente, uma descrição completa e exata de todas as condições limite nas quais um determinado comportamento (a valorar) provoca um comportamento humano subseqüente. (3) 
Na verdade, a teoria da causalidade adequada não é uma concepção de causalidade, mas critério corretivo da teoria da equivalência que orienta a imputação independentemente do subjetivismo. Sem embargo, pode ser usada para as deficiências da teoria da equivalência na questão dos crimes qualificados pelo resultado, dos delitos omissivos, na co-autoria, na tentativa impossível e na conceituação do perigo, dentre outros institutos do Direito Penal, pois a teoria da adequação não é uma teoria causal, mas, sim, uma teoria sobre a relevância jurídica ou, em outras palavras, sobre a imputação.
            
Está presente no Código Penal Brasileiro, eis que o § 1º do art. 13 determina fórmula restritiva para a teoria da equivalência. De acordo com este parágrafo, "a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou". Logo, adequa-se a causa antecedente e adequada por outra considerada mais relevante e superveniente.
4- CONCAUSAS
            Paralelamente à causa, existem o que se denomina, doutrinariamente, concausa. Ou seja, são outras causas que concorrem juntamente no fato então praticado e dão força, duma forma ou doutra, ao resultado.
            II - Concausas absolutamente independentes
            -preexistentes
            -concomitantes
            -supervenientes.
            A causa é absolutamente independente se, no curso causal, o resultado advém de situação totalmente dispersa ao conteúdo volitivo do agente. Embora absolutamente alheia, dá, duma forma qualquer, auxílio ao resultado. Porém, nunca se esquecendo que em nada pertence ao universo subjetivo do agente. Essa causa, por si só produz o resultado.
            -Causa absoluta preexistente
            A causa absolutamente independente preexistente ocorre, por exemplo: A quer suicidar-se e ingere veneno. Durante o processo de intoxicação da substância ingerida, recebe um ferimento por parte de B, que quer matá-lo. Contudo, pouco depois vem a morrer, mas em conseqüência do veneno, não da lesão recebida. (4) Abstraindo-se a conduta de B, o resultado apareceria de qualquer forma. Logo, a ação de B, não é causa, porque fora do alcance do art. 13 do Código Penal, já que causa é apenas a conduta sem a qual o resultado não teria ocorrido. Restará a tentativa, porque, a contrariosensu, pode-se aplicar o § 2º do art. 13. Deveras, tal tentativa é juridicamente irrelevante, pois não tinha mais o condão de ofender o bem jurídico que era a vida. É como se fosse uma espécie de crime impossível.
            
-Causa absoluta concomitante
            
No mesmo momento da conduta do agente poderá, entretanto, aparecer uma outra causa que determine, por exclusividade, o mesmo resultado pretendido. A e B atiram contra C (fora de co-autoria) e prova-se que o projétil de B é que causou a morte de C, atingindo-o no coração, enquanto a bala disparada por A alvejou, de leve, o braço de C. A morte apenas é imputada a B. (5)
            -Causa absoluta superveniente
            Após o esgotamento da conduta do agente, surge uma nova causa que determina também, o mesmo resultado intencionado, porém sem ingressar na linha do desdobramento causal do fato pretendido. A envenena B, mas, ainda sem que o veneno aja, ocorre a queda de uma viga sobre B, que então morre em razão dos ferimentos decorrentes da queda. (6)
            III- Causas relativamente independente
            Doutra banda, as causas podem ser relativamente independentes. Ou seja, não são exclusivamente determinantes do resultado, mas agregam-se ao fato praticado pelo agente, tendo sempre, uma relevância com a conduta praticada e a ocorrência do resultado. As causas relativamente independentes "que Von Liszt denomina independentes aparentemente, são relativas no sentido que derivam do fato de outrem ou de um acontecimento estranho ao agente, mas se ligam ao processo causal posto em movimento pelo agente (tratamento errado, golpe desferido por terceiro, etc.)." (7) 
O conceito de relativamente independente é um pouco confuso pois dá a noção de separação, distanciamento do resultado. No entanto, é justamente o oposto. Podem ser também preexistentes, concomitantes e supervenientes.
            
-Causa relativamente independente preexistente
            Na causa o resultado é imputável ao agente, uma vez que, sendo excluída hipoteticamente, permanece o resultado. Ex: uma pessoa hemofílica é ferida e morre em face da complicação dos ferimentos decorrente da hemofilia. O resultado morte é imputado ao agressor uma vez que, pela eliminação hipotética, o resultado permaneceria, já que houve uma soma de esforços, ou de energias que serviram para incrementar a morte. (8)
            -Causa relativamente independente concomitante
            Também não exclui o resultado, imputando-se o fato ao agente. A atira em B que está, naquele mesmo instante, sofrendo um ataque cardíaco, demonstrando-se, depois, que o tiro contribuiu diretamente para o resultado morte, acelerando o colapso. (9)
            -Causa relativamente independente superveniente
            Uma pessoa é ferida e socorrida numa ambulância. O veículo de socorro vem a capotar e a vítima morre.
            IV- Superveniência de causa relativamente independente que por si só produziu o resultado
            Como visto, as concausas relativamente independentes (nº III) não excluem a imputação, pois atuam numa homogeneidade do desdobramento causal inicial do autor (obs.: é preciso mesmo fazer um esforço mental para separar as situações) e, portanto, se incluem como causa, ex vi do art. 13.
            Sem embargo, o Código faz uma ressalva, que é a do § 1º, do art. 13. Neste, exclui a imputação do resultado se a causa superveniente (e somente esta, porque as preexistentes e as concomitantes já são absolutas) sozinha, isoladamente, sem qualquer interferência, der razão ao resultado. Assim temos v.g.: Uma vítima de agressão vem a morrer porque a enfermeira, imprudentemente, ministrou-lhe o medicamento tóxico ao invés do corretamente prescrito. (10) Logo, a segunda causa, ou seja, a superveniente não está na linha de desdobramento físico natural da causa remota, a lesão. Assim, por si só foi causa do resultado morte. Ou ainda, Alguém é ferido e levado a um pronto-socorro que vem a desabar, morrendo o ferido exclusivamente em razão do desabamento. A expressão por si só não é absoluta, mas compreende nosso sentido de interpretação, pois nunca estará, num processo causal, totalmente isolada. Por isso, a excluímos quando acreditamos que não esteja no itinerário do resultado, existindo, na verdade, uma interrupção ou exclusão da causalidade remota.
5- CAUSALIDADE NA OMISSÃO
           
Nos crimes omissivos puros a omissão é determinada pelo próprio núcleo do tipo que indica um não atuar. A lei já determina o que é ilícito na ausência de ação. "Da situação de tipicidade de um delito omissivo próprio não pode derivar qualquer dever de garantidor, pois, no caso, se trata de um dever jurídico inteiramente geral, que atinge qualquer pessoa." (11)
            
Destarte, nos crimes omissivos impróprios ou comissivos omissivos ou comissivos por omissão, a lei não consegue atribuir essa característica, daí porque, o art. 13, § 2º, do Código Penal. Por isso, segundo o Código, a omissão é juridicamente relevante nos casos em que o agente podia e devia agir, sendo que tal dever incumbe a quem:
            - tenha por lei a obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
            
Aqui, existe um comando normativo que determina a que se impeça o resultado. Deriva sempre de disposição legal, genérica ou específica. Assim, os pais têm o dever de cuidar dos filhos (art. 384 do Código Civil). Logo, é o caso da mãe que deixa de alimentar o filho e este morre por inanição. Aplica-se a todas relações de pátrio-poder, curatela, tutela, matrimônio e em todas as situações onde a lei possibilite uma hierarquia protetiva entre pessoas. Também decorre duma relação contratual, formal ou não.
            -de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
            Nessa situação há o que se conhece por posição de garante ou garantidor e não decorre de relação contratual ou legalmente estrita. O agente se coloca como figura que não deixaria o resultado ocorrer na configuração valorativa do fato. Ex: o guia e o excursionista. Aquele leva o segundo a um bosque e, depois, resolve abandoná-lo para que volte sozinho, desconhecendo-se porém, sem o guia, o caminho. Ou a admissão de alguém que necessita de cuidados numa comunidade familiar. (12)
            -com seu comportamento anterior criou o risco da ocorrência do resultado.
            Nesta hipótese o agente cria o perigo ou até mesmo aumenta um já existente. Se alguém causa um incêndio, corre-lhe o dever de impedir que se propague. (13) O gerente de um estabelecimento comercial que o fecha supondo-o vazio tem o dever de abri-lo se possui conhecimento de que ali ficou trancado inadvertidamente um empregado. (14)
6-A NOVA CAUSALIDADE
            Sem embargo das proposições teóricas da causalidade equivalente ou adequada, se buscava outra viabilidade alternativa, já que nenhuma dessas duas teorias contentava os juristas e não resolviam todas as situações senão deixando sempre um traço de indecisão. Assim é que, em 1930, por iniciativa de KARL LARENZ, surgiu na Alemanha um contexto de idéias buscando solucionar a problemática da causalidade material causal, num primeiro momento pretendendo resolver lides civis relacionadas com a responsabilidade civil objetiva. "LARENZ, numa obra que determina um marco no tratamento do problema objeto deste trabalho, elabora sua doutrina da imputação objetiva tomando como ponto de partida a doutrina do idealismo crítico e, em especial, a doutrina da imputação de Hegel. Este autor atribui ao conceito de imputação objetiva a função de separar entre o fato próprio e acidental, denominando imputação objetiva ao ‘juízo sobre a questão de se um sucesso pode ser atribuído a um sujeito próprio’, juízo este independente do que decide sobre a existência ou não do nexo causal." (15) Um pouco mais tarde, RICHARD HONIG tratou de trazer a doutrina inicialmente idealizada por LARENZ para o Direito Penal.Dizia HONIG "que na ciência do Direito Penal não é possível que a única coisa que importe seja a comprovação do nexo causal em si, senão que há que discutir a explicação de uma determinada propriedade, que corresponde às exigências da ordem jurídica, do nexo existente entre ação e resultado." * kausalitat.
            Contudo, a eclosão da 2ª Grande Guerra abafou a teorias progressistas surgidas naquela época na Europa, maximamente na Alemanha, sendo que a inovação de HONIG permaneceu oculta por quase quatro décadas, sendo, então, redescoberta no final dos anos 60, após a ascensão do Finalismo de HANS WELZEL. Surgiram, pois, com GUNTHER JAKOBS, CLAUS ROXIN e JESCHECK, entre outros, novas ideais aclarando e aperfeiçoando à era atual, o que fora exposto por HONIG. Em suma, se buscava nada mais que se trazer, objetivamente, o resultado jurídico duma conduta humana voltada à criação dum resultado típico de forma a se viabilizar a responsabilização do autor daquela conduta além do mero plano naturalístico. Fernando Galvão. E assim afirma ROXIN que "cada vez ganha mais terreno a concepção de que para o Direito Penal é menos importante averiguar se e com que requisitos se podem qualificar como ação uma conduta humana, que estabelecer quando e até que ponto se pode imputar como fundamentador da responsabilidade um resultado a uma pessoa." (16) A novel formulação acerca da causalidade e a responsabilidade fática se denomina então, Imputação Objetiva.
7-CONCEITO DE IMPUTAÇÃO OBJETIVA
            Surgindo como verdadeira alternativa ao problema da causalidade, a imputação objetiva tem por escopo modificar a relação causal absolutamente física (material) por uma relação de caráter valorativo ou normativo, situação ainda não muito apaziguada entre os doutos. Sem embargo, ainda tem muito a assentar, sendo, entretanto, de total aplicabilidade atual, sem destarte, deixar de atuar conjuntamente com a causalidade física em razão da própria dogmática, como também pela sua tenra realização, estando, no contexto moderno, ainda em pleno desenvolvimento. "Ela completa a teoria do nexo de causalidade objetiva, fornecendo solução adequada às hipóteses em que as doutrinas naturalistas não apresentam resposta satisfatória." (17). Também se expressa claramente FRISCH: "No desenvolvimento deste enfoque básico, a teoria da imputação objetiva não se coloca realmente em contradição com as teorias da causalidade já antes expostas. Acolhe suas colocações e tenta melhorá-los , continuá-los e completá-los, razão pela qual se pode qualificar a teoria da imputação objetiva, sem mais, como a teoria da adequação continuada ou como teoria de relevância desenvolvida". (18)
            A doutrina da Imputação Objetiva não pode, sob forma alguma, ser confundida ou interpretada com a "responsabilidade penal objetiva". Esta atribui ao autor a responsabilização pelo evento independentemente da culpabilidade, importando-se apenas e tão-somente com a ligação entre a causa e o resultado. Já a Imputação Objetiva tem por escopo determinar a possibilidade de se imputar a responsabilidade de alguém em face duma conduta que cria um perigo ou risco a um bem juridicamente relevante (protegido pela norma) e a realização (acontecimento – material ou formal) de um resultado também jurídico (de alguma importância). Verifica-se na imputação objetiva a relação causal entre a conduta e o resultado e a relevância jurídica da produção do resultado, sob a ótica da concretização de um perigo não permitido juridicamente. (19) Percebe-se, pois, que a imputação objetiva não se restringe à verificação do resultado material, mas sim, vai além, pois ainda tem em mente, além disso, que é a primeira etapa, imprescinde da valoração da relevância jurídica entre a conduta e o resultado do fato, independentemente deste resultado ser material, eis que, nos crimes sem resultado, este está, na verdade, oculto na potencialidade de sua ocorrência, eis que o risco é a transformação do resultado jurídico. Por isso, aplica-se a imputação objetiva a toda classe de infrações penais. (20) No mesmo rumo MARGARITA M. ESCAMILLA: "Sem embargo, atualmente se propõe a extensão de seu âmbito de aplicação também aos delitos de atividade e aos omissivos. Inclusive se propõe sua ampliação à teoria da co-delinqüência, à tentativa, etc." (21)
8- A IMPUTAÇÃO OBJETIVA NA REALIDADE
            Por isso, abaixo seguem alguns exemplos, bem resumidamente, de casos reais onde, duma forma ou outra, houve a presença da imputação objetiva na resolução jurídica.
            
-O caso do Serviço Funerário
            Dois funcionários do Serviço Funerário Municipal são encarregados de realizar a remoção de cadáveres do velório para o local do sepultamento. Numa dessas ocasiões, deparam-se com um defunto, já no esquife, pronto para ser removido, mas expelindo secreção natural (comum em todos os cadáveres) em razão da morte, pelos ouvidos e narinas, embora com tamponamento anterior com algodão realizado pela enfermagem. Mas tal serviço não operou o efeito devido e assim, não podem efetuar o transporte, porque é vedado, pela municipalidade, o carregamento nessas situações. O que fazem os funcionários? Propõem aos parentes do falecido que, por determinada quantia, realizem, eles, funcionários, novo tamponamento. Este serviço não faz parte da função dos oferecedores. Apenas se valem da condição da função para poderem oferecer seus préstimos, dada a ineficiência de outros setores particulares ou públicos. Mas os parentes (aqui vítimas) não aceitam o pagamento e reclamam à polícia. Há acusação de corrupção passiva ou até mesmo concussão (artigos 317 e 316 do Código Penal). Não há culpabilidade dos funcionários pela imputação objetiva.
            O que quer a lei é resguardar a integridade moral do governo, por intermédio da boa conduta de seus agentes.
            Sob o prisma unicamente estatal, o fato é reprovável, tanto que na parte sindicante, os averiguados foram exonerados. Porém, sob o aspecto jurídico-penal, não há reprovabilidade, já que se tratava de fato inerente aos serviços médicos, não de transporte.
            Enfim, os agentes não criaram e nem aumentaram risco algum ao bem jurídico com suas condutas.
            -O caso da cura espiritual
            Determinada pessoa F sofria de uma moléstia gravíssima e, desalentada com o tratamento terapêutico convencional e pretendendo também se salvar a qualquer modo, procurou por G, conhecido por curas espirituais sem ministrar farmacopéicos. G, conhecendo a doença de F, já que por esta exposta a situação, diz para F suspender sua medicação alopática e tomar apenas água. F aquiesce, mas , dias após, vem a falecer. G responde por homicídio pela imputação objetiva, não sendo, num primeiro momento, necessário se indagar sobre sua culpabilidade estrita. Houve, o que na imputação objetiva se chama incremento do risco. Sinteticamente, G conhecendo o risco de morte a que se sujeitava F, fê-la sustar seu tratamento, tornando aquela, totalmente dependente da conduta de G, que, sabedor da potencialidade daquele risco, aumentou-o ao receitar tão-só água.
            -O caso da morte na cadeia pública
            D, carcereiro, conduz V, preso, e, ao colocá-lo num xadrez onde já existem outros encarcerados, fala em alta voz, referindo-se a V: "você é cagüete, hein !" Mais tarde, V é morto pelo outros presos, motivos pela acusação da delação. O carcereiro responde pela morte também, segundo a imputação objetiva. A criação do risco de morte, ao pronunciar aquela frase na presença de outros presos foi fundamental, ou seja, de total nexo causal entre a conduta e a morte.
            -A novação da dívida em cheque sem fundos
            X recebe um cheque sem fundos de Y. No decorrer da apuração policial, há novação da dívida, porque Y assina uma nota promissória em substituição ao cheque. Porém, também não resgata o segundo título. Não há estelionato por parte de Y. A novação da dívida fez

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