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01.08 Contrastes Tietê

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Enquanto o Rio Tietê representa qualidade de via a moradores do Cocuera, onde ainda é possível nadar, pescar e captar a água para abastecimento público, apenas 15 quilômetros abaixo, na Ponte Grande, ele não passar de um grande depósito de esgoto a céu aberto, praticamente sem vida.
Com 40% de todo o esgoto produzido sendo lançado diretamente no rio, Mogi das Cruzes é a primeira grande poluidora do Tietê. É aqui na Cidade que ele morre, conforme atestou, em setembro do ano passado, a Fundação SOS Mata Atlântica, com uma placa simbolicamente afixada na altura do Conjunto Residencial Toyama, no Jardim Armênia, no meio do caminho entre a estação de captação Pedra de Afiar, no Cocuera, e a Ponte Grande.
Na Pedra de Afiar estão os últimos resquícios de vida do Rio Tietê na Região. Apesar de receber carga poluidora de Biritiba Mirim e Salesópolis, a água ainda é transparente no local.
O produtor de cogumelo Jorge Cardoso Ribeiro, de 59 anos, saiu da Vila Suíssa com a família para morar às margens do Tietê, ao lado da Pedra de Afiar, e se diz privilegiado por viver em um trecho ainda considerado aceitável do rio mais poluído do Brasil.
Jorge diz que os vizinhos costumam ir até o rio para pescar e nadar, como se fazia antigamente em praticamente toda a extensão do Tietê. Para ele, isso significa qualidade de vida. “Aqui a gente pode sentir o cheiro do mato. O ar é bom. Não tem poluição sonoro, só os sons dos passarinhos”, relata. Ali próximo, o Tietê ainda é habitat de lambaris, traíras, carás e até algumas enguias, segundo afirma o produtor.
A esposa dele, Marilene Bezerra Ribeiro, de 57 anos, também se orgulha do rio que passa a poucos metros da porta de casa. “De vez em quando, a gente até toma um 'banhozinho' lá. Água é limpa. Aqui o rio ainda é muito bonito”, comenta. 
Alguns quilômetros abaixo, na Ponte Grande, o mau cheiro denuncia de longe as mudanças no curso d'água. Assim como as impressões dos moradores, os adjetivos para descrever o Rio Tietê nessa região mudam bastante. “É um esgoto, um bueiro. Cheiro horrível de fossa”, avalia o almoxarife Paulo Rogério, de 61 anos.
Ele mora às margens do rio há duas décadas e, mesmo que por pouco tempo, pôde conviver com um Tietê ainda limpo. “Quando vim pra cá, o rio era limpinho. Eu pescava, via o pessoal nadar. É uma pena ele ter se transformado nisso”, completa.
No local, uma tubulação que vem do bairro lança no Tietê uma água fedida e com aparência de gordurosa. Fora isso, há também os vestígios da má educação da população: sacolas plásticas, garrafas de refrigerante e toda sorte e lixo que é jogada indiscriminadamente no leito do rio.

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