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Processo I
Aula 8
O Debate no Serviço Social Frente às Transformações Ocorridas
Buscando entender as raízes da radicalização da “questão social” nos dias atuais, Marilda Iamamoto, no texto intitulado “O Serviço Social na cena contemporânea”, vai afirmar que o processo de financeirização indica um modo de estruturação da economia global.
Citando o trabalho de Husson, a autora nos diz que tal processo não se trata de uma mera preferência do capital por aplicações financeiras em detrimento do investimento produtivo.
O fetichismo dos mercados, segundo ela, apresenta as finanças como potências autônomas diante das sociedades nacionais, escondendo “o funcionamento e a dominação operada pelo capital transnacional e pelos investidores financeiros, que contam com o efetivo respaldo dos Estados Nacionais e das grandes potências internacionais” (IAMAMOTO, 2009, p. 17-18).
De acordo com a autora, a esfera das finanças por si mesma não cria nada. Na verdade, continua, ela se nutre da riqueza que é gerada pelo investimento capitalista produtivo junto com a ação da força de trabalho no seu interior.
Embora pareça capaz de gerar dinheiro em seu próprio circuito (na esfera das finanças), o capital-dinheiro não pode prescindir da retenção que faz do lucro e dos salários criados na produção.
Segundo Iamamoto, o fetichismo causador dessa impressão “só é operante se existe produção de riquezas, ainda que as finanças minem seus alicerces ao absorverem parte substancial do valor produzido” (IAMAMOTO, 2009, p. 18).
O capital dinheiro aparece, para Iamamoto, como “coisa autocriadora de juro”, como dinheiro que gera dinheiro (D – D’), obscurecendo as fontes de sua origem, “as cicatrizes" desta última. Segundo ela, essa forma coisificada do capital é denominada por Marx como capital fetiche. “O juro aparece como se brotasse da mera propriedade do capital, independente da produção e da apropriação do trabalho não pago”. 
A circulação do capital como mercadoria teria na forma de empréstimo a sua peculiaridade. Esta forma constitui-se na diferença específica do capital portador de juro. Assim, como o juro faz parte da mais-valia, diz ela, a mera divisão dela em lucro e juro “não pode alterar sua natureza, sua origem e suas condições de existência” (IAMAMOTO, 2009, p. 18).
No exemplo da dívida pública, Iamamoto nos diz que o Estado tem que pagar aos seus credores o juro referente ao capital emprestado. Embora os títulos da dívida pública sejam objetos de compra e venda, como a soma emprestada ao Estado já foi despendida – não como capital –, e portanto já não mais existe, tem-se então um capital ilusório e fictício.
E – diz ela – “uma vez que esses títulos se tornem invendáveis desaparece a aparência de capital” (IAMAMOTO, 2009, p.19). Só que para o capitalista credor, no entanto, a parte que lhe será destinada dos impostos representa o juro do seu capital. “O credor possui o título de dívida contra o Estado, que lhe dá direitos sobre as receitas anuais do Estado, produto anual dos impostos” (IAMAMOTO, 2009, p.18). Na esteira do que está sendo dito, a autora afirma:
A crescente elevação da taxa de juros favorece o sistema bancário e instituições financeiras, assim como a ampliação do superávit primário afeta as políticas públicas com a compressão dos gastos sociais, além do desmonte dos serviços da administração pública. Ela combina-se com a desigual distribuição de renda e a menor tributação de rendas altas, fazendo com que a carga de impostos recaia sobre a maioria dos trabalhadores (IAMAMOTO, 2009, p. 19).
Segundo Iamamoto, os principais agentes do processo de financeirização são os grupos industriais transnacionais e investidores institucionais, como bancos, companhias de seguros, sociedades financeiras de investimentos coletivos, fundos de pensão e fundos mútuos.
Estes tornam-se proprietários acionários das empresas e passam a atuar de modo independente delas. “Por meio de operações realizadas no mercado financeiro, interferem no ritmo de investimentos dessas empresas, na repartição de suas receitas e na definição das formas de emprego assalariado e gestão da força de trabalho, no perfil do mercado de trabalho” (IAMAMOTO, 2009, p. 19).
A autora assinala que a base onde estão sustentados os dois pilares das finanças, isto é, o mercado acionário das empresas e as dívidas públicas, só se mantém firme graças à decisão política dos Estados e às políticas fiscais e monetárias.
Segundo ela, esses dois braços de sustentação das finanças se encontram, na verdade, “na raiz de uma dupla via de redução do padrão de vida do conjunto dos trabalhadores, com o efetivo impulso dos Estados Nacionais”.
A respeito dela, se escreve: [...] por um lado a privatização do Estado, o desmonte das políticas públicas e a mercantilização dos serviços, a chamada flexibilização da legislação protetora do trabalho; por outro lado a imposição da redução dos custos empresariais para salvaguardar as taxas de lucratividade, e com elas a reestruturação produtiva centrada menos no avanço tecnológico e fundamentalmente na redução dos custos do chamado “fator trabalho” com elevação das taxas de exploração (IAMAMOTO, 2009, p. 20).
De acordo com a nossa autora, disso se explicaria o motivo de fechamento de empresas que não conseguiriam se manter na concorrência com a abertura comercial, a chamada desindustrialização, culminando em desemprego, diminuição dos postos de trabalho, intensificação do trabalho daqueles que continuam no mercado, ampliação das jornadas de trabalho, clandestinidade e invisibilidade do trabalho não formalizado etc.
O capital financeiro – segundo ela – avança sobre o fundo público, cujo financiamento é constituído tanto pelo lucro do empresariado como pelo trabalho necessário dos assalariados, apropriados pelo Estado sob a forma de impostos e taxas. Segundo Iamamoto, os investimentos especulativos nas ações de empresas no mercado financeiro esperam ter, baseados na extração da mais-valia presente e futura dos trabalhadores, a garantia de lucratividade das futuras empresas.
Com isso, interferem silenciosamente nas:
[...] políticas de gestão e de enxugamento da mão de obra; na intensificação do trabalho e no aumento da jornada; no estímulo à competição entre os trabalhadores num contexto recessivo, dificultando a organização sindical; na elevação da produtividade do trabalho com tecnologias poupadoras de mão de obra; nos chamamentos à participação e consentimento dos trabalhadores às metas empresariais, além de uma ampla regressão dos direitos, o que se encontra na raiz das metamorfoses do mercado de trabalho (IAMAMOTO, 2009, p. 20-21).
O referido processo atinge a cultura ao gerar mercantilização universal e descartabilidade, além de superficialidade e banalização da vida. A sugestão da autora é que a mundialização financeira unifica no interior de um mesmo movimento diferentes processos que tendem a ser tratados pelos intelectuais de forma isolada e autônoma, como se os mesmos não fossem interligados entre si – “reforma” do Estado, reestruturação produtiva, a “questão social”, a ideologia neoliberal e concepções pós-modernas.
A “questão social” nesse contexto
A hipótese que Iamamoto defende é que na raiz da “questão social” na atualidade se encontram as políticas governamentais que favorecem a esfera financeira e o grande capital produtivo. Segundo ela, há uma estreita relação entre as políticas monetárias e fiscais praticadas pelos governos e a liberdade dada aos movimentos do capital transnacional para atuar sem controle e sem regulamentação, “transferindo lucros e salários [ideia de conceber salário como juro e a força de trabalho como capital que proporciona esse juro] oriundos da produção para se valorizarem na esfera financeira”. Este processo, portanto, em sua opinião, redimensiona a “questão social”, radicalizando suas múltiplas manifestações.
“Parece ser esse o malabarismo que se atualiza hoje com os ‘fundos de pensão’ que fazem com que a centralização das poupanças dotrabalho assalariado atue na formação de capital fictício, como capitalização” (IAMAMOTO, p. 19).
O capital financeiro ao subordinar toda a sociedade impõe-se em sua lógica de incessante crescimento, de mercantilização universal. Ele aprofunda desigualdades de toda a natureza e torna paradoxalmente invisível o trabalho vivo que cria a riqueza e os sujeitos que o realizam. Nesse contexto, a “questão social” é mais do que pobreza e desigualdade.
Ela expressa a banalização do humano, resultante de indiferença frente à esfera das necessidades das grandes maiorias e dos direitos a elas atinentes. Indiferença ante os destinos de enormes contingentes de homens e mulheres trabalhadores submetidos a uma pobreza produzida historicamente (e, não, naturalmente produzida), universalmente subjugados, abandonados e desprezados, porquanto sobrantes para as necessidades médias do capital (IAMAMOTO, 2009, p. 22).
Iamamoto afirma que sob a órbita do capital, as múltiplas manifestações da “questão social” transformam-se em objeto de ações benemerentes e filantrópicas, bem como de “programas focalizados de combate à pobreza”. Estes acompanham a mais ampla privatização da política social pública, cuja implementação fica a cargo agora de organismos privados da sociedade civil, o chamado “terceiro setor”.
A desregulamentação das políticas públicas e dos direitos sociais tem deslocado a atenção da pobreza para a iniciativa privada ou individual, que é impulsionada por questões de solidariedade e benemerência, ambas submetidas ao arbítrio do indivíduo isolado e ao mercado, e não à responsabilidade pública do Estado – são feitos, nesse sentido, claros chamamentos à sociedade civil.
As conquistas sociais acumuladas têm sido transformadas em causa de “gastos sociais excedentes” que se encontrariam na raiz da crise fiscal dos Estados. A contrapartida tem sido a difusão da ideia liberal de que o “bem-estar social” pertence ao foro privado dos indivíduos, famílias e comunidades. A intervenção do Estado no atendimento às necessidades sociais é pouco recomendada, transferida ao mercado e à filantropia, como alternativas aos direitos sociais que só têm existência na comunidade política. Como lembra Yazbek (2001), o pensamento neoliberal estimula um vasto empreendimento de “refilantropização do social”, e opera uma profunda despolitização da “questão social” ao desqualificá-la como questão pública, questão política e questão nacional (IAMAMOTO, 2009, p. 22-23).
A atuação do assistente social
A reprodução do modo de vida no interior da sociedade capitalista implica, segundo Iamamoto, duas contradições básicas: na primeira, a igualdade jurídica dos cidadãos livres é indissociável da desigualdade econômica, resultante do caráter cada vez mais social da produção e da apropriação privada do trabalho alheio. Na segunda, ao crescimento do capital corresponde a crescente pauperização relativa do trabalhador – diz a autora. “Essa é a lei geral da produção capitalista, que se encontra na gênese da ‘questão social’ nessa sociedade” (IAMAMOTO, 2009, p. 11).
Dessa forma, o processo de reprodução das relações sociais não pode ser mera reposição do instituído. Isto porque ele gera novas necessidades, novas forças produtivas sociais do trabalho são criadas “em cujo processo aprofundam-se desigualdades e são criadas novas relações sociais entre os homens na luta pelo poder e pela hegemonia entre as diferentes classes e grupos na sociedade”.
Destarte, verifica-se a dimensão contraditória das requisições sociais postas ao profissional do Serviço Social, “expressão das forças sociais que nelas incidem”. Segundo Iamamoto, estas corresponderiam tanto ao movimento do capital quanto aos direitos, valores e princípios que fazem parte das conquistas e do ideário dos trabalhadores. Seriam essas forças contraditórias inscritas na própria dinâmica do processo social que criam as bases reais para a renovação do estatuto da profissão conectadas à intencionalidade de seus agentes.
O projeto profissional beneficia-se tanto da socialização da política conquistada pelas classes trabalhadoras quanto dos avanços de ordem teórico-metodológica, ética e política acumulados no universo do Serviço Social a partir dos anos de 1980 (IAMAMOTO, 2009, p. 11).
Nesse sentido, o exercício profissional é necessariamente perpassado pela trama de suas relações e interesses sociais. Ele participa tanto dos mecanismos de exploração e dominação quanto, ao mesmo tempo e pela mesma atividade, da resposta às necessidades de sobrevivência das classes trabalhadoras. “Isso significa que o exercício profissional participa de um processo que tanto permite a continuidade da sociedade de classes quanto cria as possibilidades de sua transformação”.
Nas últimas três décadas, a América Latina passou por inúmeras transformações na face do capitalismo. A mundialização do capital que vai repercutir no âmbito das políticas públicas, além de redimensionar as requisições dirigidas aos assistentes sociais, afeta as condições de vida e de trabalho de distintos segmentos de trabalhadores em função da radicalização das desigualdades. Verifica-se isso num contexto de retração das lutas sociais diante dos dilemas “do desemprego, da desregulamentação das relações de trabalho e da (re)concentração da propriedade fundiária aberta ao grande capital internacional”.
Essa investida [investida ideológica por parte do capital e do Estado] é acentuada pela “assistencialização” da pobreza contra o direito ao trabalho, transversal às políticas e programas sociais focalizados, dirigidos aos segmentos mais pauperizados dos trabalhadores, com marcantes incidências na capacidade de mobilização e organização em defesa dos direitos. Como as competências profissionais expressam a historicidade da profissão, elas também se preservam, se transformam, redimensionando-se ao se alterarem as condições históricas de sua efetivação (IAMAMOTO, 2009, p. 15).
As expressões da “questão social”, que é indissociável à sociabilidade capitalista, condensam múltiplas desigualdades que são mediadas por disparidades nas relações de gênero, características étnico-raciais, relações com o meio ambiente e formações regionais.
Segundo Iamamoto, como dispõe de uma dimensão estrutural – isto é, está enraizada na produção social contraposta à apropriação privada do trabalho –, a “questão social” atinge diretamente a vida dos indivíduos “numa luta aberta e surda pela cidadania (IANNI, 1992), no embate pelo respeito aos direitos civis, políticos e sociais” (IAMAMOTO, 2009, p.16). Para a autora, esse é um processo permeado por conformismo e rebeldia, e é nele que o profissional do Serviço Social irá atuar.
É na tensão entre produção da desigualdade, da rebeldia e do conformismo que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido por interesses sociais distintos, os quais não é possível abstrair – ou deles fugir –, pois tecem a trama da vida em sociedade (IAMAMOTO, 2009, p.16). 
Iamamoto afirma que foram as lutas sociais que romperam o domínio privado na relação entre capital e trabalho, extrapolando a questão social para a esfera pública, exigindo a intervenção do Estado no reconhecimento e a regulação de direitos e deveres dos sujeitos sociais envolvidos. Estes serão “consubstanciados nas políticas e serviços sociais, mediações fundamentais para o trabalho do assistente social”.
Processo
Aula 8
As férias, o reconhecimento do acidente de trabalho, o primeiro Código de Menores, o Seguro Doença foram garantias legais criadas na década de:
  1920
Ultimamente estamos acompanhando a um desmantelamento das "leis trabalhistas", conquistas alcançadas a partir da luta da classe trabalhadora do início do século XX, no governo de Vargas em 1937. Qual foi o documento que unificou tais leis?
CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas)
Iamamoto afirma que sob a órbita do capital, as múltiplas manifestações da questão social transformam-se em objeto de ações:Filantrópicas e benemerentes
Iamamoto afirma que sob a órbita do capital, as múltiplas manifestações da ¿questão social¿ transformam-se em objeto de ações ________, bem como de ¿programas focalizados de combate à pobreza¿.
Filantrópicas.
Apresenta as finanças como potências autônomas diante das sociedades nacionais, escondendo o funcionamento e a dominação operada pelo capital transnacional e pelos investidores financeiros, que contam com o efetivo respaldo dos Estados Nacionais e das grandes potências internacionais(IAMAMOTO, 2009, p. 17-18).Neste afirmativa Marilda Iamamoto está tratando do fenômeno do (a):
 Fetichismo

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