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São Paulo 2017 UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP GRADUAÇÃO EM DIREITO CONTRATO E SEGURO DE CARRO Edileia Santos Conceição RA: C235920 Eduardo Cobra Storolli RA: C295fg7 Fernanda Silva Guimarães RA: C524bf9 Simone Lopes da Silva RA: T576253 São Paulo 2017 Edileia Santos Conceição – RA: C235920 Eduardo Cobra Storolli - RA: C295fg7 Fernanda Silva Guimarães - RA: C524bf9 Simone Lopes da Silva - RA: T576253 CONTRATO E SEGURO DE CARRO Projeto de pesquisa, apresentado no curso de Direito à Universidade Paulista UNIP, Tatuapé com a exigência para a disciplina de Contratos Geral. São Paulo 2017 RESUMO O UBER é um aplicativo bastante recente no Brasil e sua legalidade ainda é controversa nos aspectos jurídicos. Devido a esses fatores a maioria das seguradoras ainda não tem um campo específico no perfil de risco com uma pergunta, por exemplo, “Tipo de utilização?” = “Uber” ou algo do tipo. “No momento apenas a Porto Seguro, Sul América, Mapfre e Tokio Marine aceitam veículos UBER. Delas, a Tokio Marine é a mais restritiva: o proprietário legal do carro tem que ser obrigatoriamente o motorista (não podendo haver outro) e o carro só pode ser usado exclusivamente para fins comerciais, não cobrindo lazer. a Tókio Marine foi à única seguradora com que trabalhamos a qual incluiu no seu perfil de risco a opção “Tipo de utilização” Transporte de pessoas (por aplicativo)”. Nas demais ainda não existe um campo específico, por isso é necessário solicitar ao corretor para consultar junto à seguradora qual o enquadramento necessário. Na grande maioria a aceitação exige que seja preenchido tipo de utilização como “comercial”, mas é sempre necessário confirmar junto ao corretor, pois estas regras dependem da norma e Condições Gerais de cada seguradora. Por isso, a dica sobre o perfil de risco é: peça ao corretor para checar com as seguradoras de seu interesse quais as regras de enquadramento para quem usa UBER. Questione se deve constar como “utilização comercial”, “utilização para transporte de pessoas através de aplicativo”, etc. São Paulo 2017 SUMÁRIO 1 PROBLEMA APRESENTADO .......................................................................... 1 2 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 2 3. ORIGEM DOS CONTRATOS DE SEGURO .................................................. 3 5.1 O CONTRATO DE SEGURO E A RESPONSABILIDADE CIVIL .............. 11 6. CONTRATO DE SEGURO DE CARRO .......................................................... 15 6.1 CONCEITOS E ELEMENTOS DO SEGURO ........................................... 16 7. CODIGO DO CONSUMIDOR .......................................................................... 19 7.1 A LEGISLAÇAO APLICAVEL AO SEGURO: CC ou CDC ........................ 20 7.1.1 LIMITES RESPONSABILIDADE FACE DA AUSENCIA DE BOA FE .... 21 8. EFEITOS JURÍDICOS ..................................................................................... 23 8.1 CARACTERES JURÍDICOS ..................................................................... 24 9. SEGURADORA PODE NEGAR INDENIAÇAO PARA MOTORISTAS QUE OMITEM SER DO UBER .......................................................................................... 26 10 Excelentíssimo Senhor Doutor Professor de Direito da Universidade Paulista da comarca de São Paulo Campus Tatuapé. ......................................... 30 10.1 I - O PROBLEMA APRESENTADO .......................................................... 30 10.2 II - DOS FATOS ........................................................................................ 31 10.3 III - DOS FUNDAMENTOS ....................................................................... 33 10.4 IV - DO PEDIDO ....................................................................................... 34 São Paulo 2017 1 PROBLEMA APRESENTADO Marco Antônio Joao é proprietário de um veiculo para uso próprio e, contratou seguro junto à seguradora Felicidade Total para se prevenir de danos decorrentes de furto, roubo, colisão e incêndio. Acontece que Marco Antônio perdeu o emprego e não conseguiu se recolocar no mercado de trabalho. Preocupado com o sustento da família ele começou a trabalhar como UBE, utilizando seu veiculo para essa finalidade. Na segunda semana de trabalho Marco Antônio sofreu um grave acidente de transito que resultou na perda total do veiculo. A seguradora foi notificada do acidente, realizou os trabalhos de regulação do sinistro e concluiu que não poderia haver pagamento de indenização pela perda total do veiculo, uma vez que o segurado estava utilizando o automóvel para destinação diversa daquela declarada no momento da contratação do seguro. Fundamentou a negativa no código civil. Marco Antônio Joao procurou vocês como Advogados. 2 São Paulo 2017 2 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por finalidade estudar o contrato de seguro, com foco na jurisprudência dos tribunais Brasileiros, pesquisar julgados favoráveis á tese do cliente, ou seja, de que o pagamento da indenização é devido, identificar artigos de lei que sustentaram a negativa da seguradora. Sem se abster de citar entendimentos doutrinários sobre o tema, principalmente, os enunciados das Jornadas de Direito Civil. Esse tipo de contrato se torna cada dia mais comum, e do mesmo modo, cada vez mais demandado nos tribunais brasileiros, em face das discordâncias das seguradoras e dos segurados. Em face das discordâncias das seguradoras e dos segurados. O seguro pode ser conceituado conforme a concepção de cada autor, mas tem sido possível uniformizar os conceitos básicos. Dentre os principais tratadistas, temos o seguinte: “O seguro é a compensação , segundo as leis da estatística ou outros dados científicos, de um conjunto de riscos da mesma natureza, permitindo, mediante remuneração chamada prêmio ou cotização, fornecer, pela garantia mútua e nas condições fixadas, certas prestações em caso de realização de uma eventualidade suscetível de criar um estado de carência”. Verificar espécie de contrato pelo qual o segurador se obriga a garantir, contra riscos não determinados, um interesse do segurado, referente a uma pessoa ou coisa, através do pagamento de um prêmio em caso de sinistro – suas principais espécies, e peculiaridades em relação a outros contratos. Analisar também os sujeitos participantes do seguro, os elementos deste contrato, além dos demais regramentos e entendimentos que se mostrarem importantes à compreensão do funcionamento desta espécie de contrato largamente utilizada por nossa sociedade, tais como suas formas de extinção, prescrição, litisconsórcio e procedimentos trâmites práticos tanto da contratação quanto para pagamento ou não do prêmio 3 São Paulo 2017 3. ORIGEM DOS CONTRATOS DE SEGURO A história do seguro remonta a séculos antes de Cristo, quando as caravanas atravessavam os desertos do Oriente para comercializar camelos., bem como no ramo da navegação, em que também foi adotado o princípio de seguro entre os fenícios, cujos barcos navegavam através dos mares Egeu e Mediterrâneo. A preocupação com transporte marítimotinha como causa interesses econômicos, pois o comércio exterior dos países se dava apenas por mar. A ideia de garantir o funcionamento da economia por meio do seguro prevalece até hoje. A forma de seguro é que mudou, e se aperfeiçoa cada vez mais. A civilização chinesa utilizava-se do rio Amarelo como via de transporte de pessoas e mercadorias, no período de 5.000 a 2.300 a. C. E a principal prática adotada a fim de minorar prejuízos advindos de qualquer acidente era a distribuição de mercadorias dos comerciantes em várias embarcações. Dessa forma, em caso de afundamento, nenhum comerciante perderia toda sua mercadoria, mas apenas uma fração desta. Essa técnica, apesar de outras formas que surgiram de minimizar prejuízos, ainda é utilizada na atualidade devido a sua eficiência. Em 3.000 a. C, na Mesopotâmia, as informações gravadas em tábuas de argila, em escrita cuneiforme, relatam que em 2.300 a. C. Os mercadores babilônios já tinham suas formas de se proteger dos eventos que poderiam ocorrer às caravanas nas travessias dos desertos, pois alguns camelos eram perdidos no trajeto, e os mercadores uniam-se nessas travessias de maneira a garantir o pagamento de camelos perdidos ao longo da viagem, contudo, é com o desenvolvimento do comércio marítimo que as convenções visando à proteção contra riscos futuros vão se aperfeiçoando. Em 1.600 a. C., os fenícios tinham convenções que garantiam a construção de novos barcos para os armadores em substituição aos que fossem perdidos. A construção seria paga pelos outros que participassem da viagem. Também se tem notícia de que na Fenícia foi criado um fundo de reserva formado de parte dos lucros de maneira a fazer frente a eventuais prejuízos de viagens futuras. Também se oneravam as mercadorias que chegavam a salvo a seu destino de forma a fazer face ao valor das que eram perdidas a talassocracia grega também 4 São Paulo 2017 foi responsável por avanços nas formas embrionárias de seguro. Data de 900 a. C., na ilha de Rodes, o surgimento da Lex Rhodia de Jactu de proteção contra os perigos do mar, chamadas de Leis de Rodes. Estas leis formavam o Código Navale Rhodorium que se espalhou entre várias outras potências marítimas e perdurou por vários séculos. Adotavam-se regras como a de que no caso de ser indispensável atirar mercadorias no mar para o bem de todos, o prejuízo resultante deveria ser reparado pela contribuição de todos os envolvidos na empreitada. Em 600 a. C., as Leis de Atenas criavam caixas de auxílio mútuo, corporativas ou religiosas, visando à prevenção de gastos inesperados, configurando assim associações de caráter mutualista. No entanto, o Mutualismo teve seus fundamentos de fato lançados por volta de 500 a. C., quando gregos e fenícios passam a agrupar diversas pessoas de maneira a juntos formarem uma reserva de recursos, de maneira que, no caso de infortúnios (naufrágios, ataques de piratas, incêndios), ninguém arcaria sozinho com as despesas. Com o início da Baixa Idade Média, os seguros voltam a ganhar importância com o reaquecimento do comércio marítimo. Em 1.115 o Papa Alexandre IV torna obrigatório segurar os bens eclesiásticos contra roubos. Em 1.190, o rei Ricardo Coração de Leão faz melhorias na Lex Rhodia de Jactu, passando os seguros marítimos a gozar de certa importância. Cerca de 100 anos depois, em 1.293, o rei D. Diniz de Portugal institui a primeira fora de seguro (dedicada exclusivamente para a atividade marítima). Por meio de um acordo entre os mercadores, pagava-se certa quantia sobre as embarcações, que era calculada de acordo com o porte da embarcação, bem como seu tráfego. O resultado da arrecadação servia para fazer face aos "sinistros" que ocasionassem a perda de mercadorias e navios. Em 1.300, na Inglaterra e Itália já se poderia "segurar" a vida humana com um seguro marítimo que garantia um pagamento no caso de perda de um homem no mar. Em 1.318, surge a Ordenança de Pisa, a primeira legislação sobre seguros nos moldes atuais. Os historiadores apontam que foi em 1.347 quando se deu a realização do primeiro contrato de seguro, o qual era referente a um transporte de 5 São Paulo 2017 mercadorias entre Gênova e a ilha de Maiorca, e, com o qual, surgiu a primeira apólice de seguro. Devido às condições históricas, entretanto, foi em Portugal que houve um grande desenvolvimento dos seguros, uma vez que, já no século XIV, figurava como uma potência marítima. Ainda em 1.383, ano da Revolução de Avis, que marcou a subida ao trono de D. João (Mestre de Avis), representante de classe mercantil, foi publicada a primeira lei nacional sobre seguros. Apesar da imensa importância dos seguros no campo do comércio marítimo, somente em 1.488 é que se tem notícia da primeira apólice de seguros terrestres, em favor do rei de Nápoles e referente a uma valiosa coroa a ser transportada de Florença até seu reino. Em 1.583, é emitida a primeira apólice de seguro de vida pela Real Bolsa de Londres, referente à vida de um londrino proprietário de salinas, William Gybbons. Com o desenvolvimento dos cálculos de probabilidade, os seguros puderam se desenvolver mais ainda, na medida em que se tornou possível avaliar melhor os riscos referentes ao interesse a ser segurado. Em 1.654, com o trabalho "Geometria do Acaso" de Pascal torna-se possível a elaboração de "tábuas de mortalidade". Baseado neste trabalho, em 1.671, o holandês Johan de Witt calculou a probabilidade de uma pessoa, em cada ano de sua vida, morrer num determinado período de tempo. Em Londres, no ano de 1.660, Edward Lloyd abre um café, ponto de encontro de navegadores e de pessoas interessadas em negócios de seguros. Em 1.678, a partir deste café, surge a “Lloyd’s Underwriters”(tomadores de riscos), corporação que se tornou uma bolsa de seguros existente até hoje. Em 1.666, antes de converter-se em corporação, houve o grande incêndio de Londres, que poupou o, então ainda café, “Lloyd’s”, que logo em seguida passou a negociar também os primeiros seguros contra incêndios. Este fato marca o surgimento de um novo e vultoso filão para os seguros ao lado dos de comércio marítimo. Em 1.846, com a criação da Colônia de Resseguros na Alemanha, passa-se a se poder segurar os mais variados interesses, v. G., colheitas, gado, contra acidentes 6 São Paulo 2017 de trabalho, contra as consequências de inundações, meios de transporte. Nova ampliação do campo de abrangência de seguros ocorre ainda na primeira metade do século XX, por obra de países como os EUA, podendo-se, atualmente, segurar até contra divórcios e o nascimento de gêmeos. 7 São Paulo 2017 4. CONTRATOS DE SEGURO NO BRASIL No dia 24 de fevereiro de 1.808, o príncipe regente D. João assinou o decreto que autorizava o funcionamento da primeira companhia de seguros do país, a Companhia de Seguros Boa Fé, na capitania da Bahia, seguida, ainda no mesmo ano e capitania, pela Companhia de Seguros Conceito Pública. Estas primeiras companhias estavam voltadas para o mercado de seguros marítimos, visto que no mesmo ano ocorrera a abertura dos portos brasileiros. Após a Independência, foi autorizado, em 1.828, o funcionamento da primeira companhia de seguros do Império, a Sociedade de Seguros Mútuos Brasileiros, voltada para o mercado marítimo. No ano seguinte surgem seguros de cartas e maços de papéis para o caso de extravio. Após a promulgação, em 1.850, do Código Comercial Brasileiro, que regulou os segurosmarítimos, surgem onze seguradoras nacionais atuando neste ramo. Na mesma época, começam a atuar no ramo de incêndios e de vida. No caso destas últimas, havia duas especializadas em atuar contra a mortalidade de escravos, que eram segurados como mercadorias ou bens. No ano de 1.860, antes do início de autorizações para o funcionamento de companhias estrangeiras no país, o governo imperial, através de dois decretos começou a exercer certo controle no ramo de seguros, o que não destoa do resto do mundo e mantém-se até hoje. Com a autorização, 54 empresas estrangeiras de seguros se instalaram no país (sendo a prevalência das inglesas as quais perfaziam o total de 28) e que foram importantes para o incentivo do pouco desenvolvido mercado de seguros nacional. Contudo, com o início da República, crescia a preocupação em aumentar o controle do mercado de seguros, assim como evitar a evasão de divisas do país para o exterior. Em 1.901, através do Regulamento Murtinho (homenagem ao Ministro da Fazenda Joaquim Murtinho, do governo Campos Salles), cria-se o primeiro órgão fiscalizador da atividade de seguros, a Superintendência Geral de Seguros. O mercado de seguros desenvolve-se bastante nas primeiras décadas do século XX, o que é acompanhado pelo maior intervencionismo do Estado. Em 1.919 torna-se 8 São Paulo 2017 obrigatório o seguro de acidentes de trabalho em todas as empresas industriais. Já na década de 30, é fundada a Atlântica Companhia Nacional de Seguros, hoje a Bradesco Seguros, que viria a se tornar a maior companhia do setor na América Latina. No ano de 1.939, é criado o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) que existe até hoje e foi grande responsável pelo desenvolvimento da atividade securitária no mercado nacional, que a partir de então passou por um período de nacionalização e expansão. Em 1.966, tem início a reforma do setor de seguros sendo criado o Sistema Nacional de Seguros Privados (Decreto-lei nº 73), composto pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), pelo IRB e pelas seguradoras e corretores. 9 São Paulo 2017 5. RESPONSABILIDADE CIVIL A conceituação do instituto da responsabilidade civil está sempre ligada à ideia de violação do direito de outrem, neste sentido, Carlos Roberto Gonçalves diz que “Responsabilidade Civil é, assim, um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário”. Responsabilidade civil nas lições de De Plácido e Silva “designa a obrigação de reparar o dano ou de ressarcir o dano, quando injustamente causado a outrem. Revela-se, assim, ou melhor, resulta da ofensa ou da violação de direito, que redundam em dano ou prejuízo a outrem”. Embora os conceitos esposados sejam abrangentes, necessário se faz acrescentar que a responsabilidade civil decorre da obrigação de reparar o dano, desde que da prática de um ato omissivo ou comissivo resulte prejuízo moral ou material a terceiro, sendo que o ressarcimento estará condicionado a aplicação de duas teorias distintas: - da culpa, - do risco. Na Teoria da Culpa o dever de indenizar estará atrelado à prova da culpa do agente ofensor na prática do ato que gerou o evento lesivo, estamos falando portanto, de responsabilidade subjetiva. Já na Teoria do Risco, o ofensor do dano assume os riscos do ato praticado, razão pela qual o dever de indenizar independe de sua culpa, daí porque se denomina responsabilidade objetiva. Do ponto de vista histórico, o instituto da responsabilidade civil evoluiu muito, haja vista que nos primórdios jurídicos a sua aplicação não estava atrelada à reparação do dano, mas sim a vingança decorrente do ato violador, como se vê das lições de João Agnaldo Donizete Gandini: “Nos primórdios da civilização humana, a responsabilidade civil fundava-se na vingança coletiva, que se caracterizava pela reação conjunta do grupo contra o agressor, pela ofensa a um de seus componentes. O instituto evoluiu para uma reação individual, ou seja, passou da vingança coletiva para a privada, em que os homens faziam justiça pelas próprias mãos, fundamentados na Lei de Talião, que é conhecida hoje pela expressão ‘olho por olho, dente por dente’. O poder público, neste caso, intervinha apenas para ditar 10 São Paulo 2017 como e quando a vítima poderia ter o direito de retaliação, ensejando no lesante dano idêntico ao que foi produzido”. No Direito brasileiro, o instituto teve reconhecimento no Código Civil de 1916, onde o legislador determinava que: “Artigo 159 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”. No entanto, tal dispositivo fundava-se na Teoria da Culpa, fazendo com que o ofendido para buscar a reparação tivesse que fazer prova tríplice: - da prática do ato omissivo ou comissivo pelo agente ofensor; - da culpa na violação de seu direito; - do dano. Posteriormente, a legislação brasileira veio evoluindo e passou a inserir no contexto da responsabilidade civil a teoria do risco, restando ao ofendido apenas a necessidade da prova do ato e do dano, exonerando-se a prova da culpa, como é o caso do Código de Defesa do Consumidor, Lei de Responsabilidade Civil por Danos Praticados ao Meio Ambiente e da Lei de Imprensa. No atual Código Civil, o instituto foi incluído no Título IX – Responsabilidade Civil do Livro I – Do Direito das Obrigações, que em seu artigo 927 assim disciplina: “Artigo 927 - Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. “Parágrafo único – Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, riscos para os direitos de outrem”. Note-se que com isso, o legislador brasileiro evoluiu para uma teoria mista, mantendo-se a Teoria da Culpa no caput do artigo 927 e incluindo a Teoria do Risco no parágrafo único do mesmo dispositivo. Ocorre, que, se de um lado nada mudou naqueles casos onde se aplicava legislação especial como é o caso das relações de consumo, danos causados ao meio ambiente ou proveniente da atividade da imprensa, no que tange às relações disciplinadas exclusivamente pelo Código Civil o legislador incorporou a Teoria do 11 São Paulo 2017 Risco, mas com um complicador adicional, qual seja, o de definir as atividades que pela sua natureza gerem riscos a terceiros. Sobre isso, o Professor Luiz Antônio Rizzatto Nunes costuma afirmar em suas aulas que o legislador evita colocar definições nos institutos jurídicos para não permitir restrição em sua aplicação, o que leva o entendimento de que a questão trazida pelo citado parágrafo será por muito tempo discutido jurisprudencial mente para estabelecer contornos próprios. Por último, cabe lembrar que a regra da responsabilidade civil no direito brasileiro é a da responsabilidade patrimonial gerada por força do Princípio da Imputação Civil dos Danos, como descreve Rosa Nery: “Segundo o sistema jurídico de direito privado, a dívida se paga com bens do patrimônio material do sujeito e a isto se chama ‘imputação civil dos danos’”. Portanto, somente nos casos excepcionais é que a responsabilidade pessoal pode ser invocada no direito brasileiro. Porém, como o instituto aqui será analisado considerando-se os contratos de seguro e de transporte, passamosa conhecê-los para verificar a aplicabilidade da responsabilidade civil a espécie. 5.1 O CONTRATO DE SEGURO E A RESPONSABILIDADE CIVIL O Contrato de Seguro, disciplinado no Código Civil nos artigos 757 a 802, é a espécie contratual em que uma parte denominada segurador, assume os riscos de terceiro, denominado segurado, mediante o pagamento de um prêmio. Portanto, tal contrato possui cinco elementos distintos: - segurador; - segurado; - sinistro; - prêmio, e - risco segurado. O segurador é pessoa jurídica de direito privado, constituída na forma de Sociedade Anônima que só pode funcionar mediante autorização do Poder Público e assume no contrato os riscos provenientes de eventual sinistro. O segurado pode ser pessoa física ou jurídica que transfere o risco sobre um bem jurídico que vai desde a própria vida até o seu patrimônio ao segurador que assumirá a obrigação de indenizar na hipótese de ocorrer sinistro previsto em contrato. O sinistro é qualquer evento previsto capaz de lesar o bem jurídico protegido. No entanto, ainda que previsto, sua ocorrência é incerta. Portanto, o contrato de seguro 12 São Paulo 2017 é de natureza aleatória, podendo ou não ocorrer o evento danoso, sem que este fato prejudique o objeto contratado. O prêmio é o valor pago pelo segurado ao segurador para que este último assuma os riscos da eventual ocorrência de um sinistro. Por último temos o risco segurado que trata justamente dos limites de cobertura do contrato de seguro, haja vista que o bem jurídico a ser protegido estará resguardado dentro de limites estabelecidos pelas partes na contratação. O contrato de seguro tem como balizamento principal o Princípio da Boa-Fé ou seja, a intenção das partes na hora da contratação, se de um lado deve o segurado o dever de informações precisas sobre o bem jurídico a ser protegido, deve o segurador por outro lado o dever objetivo de indenizar na hipótese de ocorrência do sinistro. Aliás, é importante ressaltar que o princípio da boa-fé revolucionou todo o direito das obrigações, como nos ensina Clóvis do Couto e Silva: “A boa-fé, compreendida como um estado subjetivo, tem sido objeto de inumeráveis estudos, não valendo reproduzi-los agora. Parece, pois, importante circunscrever o tema ao Direito Obrigacional, onde a boa-fé constituiu-se no elemento que, em muitos países, operou verdadeira transformação jurídica, através da doutrina e do Poder Judiciário”. No tocante a aplicação da responsabilidade civil nos contratos de seguro, está nasce justamente na hipótese do dever de indenizar que se impõe ao segurador decorrente do objeto contratado no contrato de seguro. A respeito do bem jurídico protegido, o legislador disciplinou que a proteção do risco será excluída e considerado nulo o contrato proveniente de ato doloso, como se vê: “Artigo 762 – Nulo será o contrato para garantia de risco proveniente de ato doloso do segurado, do beneficiário, ou de representante de um ou de outro”. O legislador quis resguardar aqui, o segurador da prática deliberada de má-fé por parte do segurado, como bem exemplificou Clóvis Beviláqua ao discorrer da hipótese de suicídio por parte do segurado: “O suicídio para anular o seguro deve ser conscientemente deliberado, porque será igualmente um modo de procurar o risco, desnaturando o contrato”. É que é da natureza do contrato de seguro o elemento aleatório, ou seja, o sinistro pode ou não ocorrer, porém, quando o 13 São Paulo 2017 segurado provoca ou agrava o risco, ele desnatura o contrato ao modificar a natureza aleatória própria da espécie. Apesar de bem regrado, o tema contrato de seguro é muito controvertido no Direito brasileiro, haja vista que nem sempre o segurado presta as informações exatas sobre o bem jurídico protegido, ou quando presta, o segurador desconfia. Além disso, é muito comum, dada a complexidade de formulação dos contratos de seguro, a existência de cláusulas limitativas de indenização que nem sempre estão claras ao segurado, o que só se descobre quando da ocorrência de sinistro, levando a discussão judicial do contrato. Mas neste último ponto, o da existência de cláusulas limitativas, temos um posicionamento que também parece crescente na doutrina e na jurisprudência nacional, o de que o dever de indenizar é objetivo, independentemente das limitações existentes nos contratos. É que o prêmio pago pelo segurado para transferência do risco para o segurador é calculado com base na hipótese de ocorrência do sinistro, levando-se em consideração todas as variantes que possam interferir na sua probabilidade, o que permite afirmarmos que existe uma socialização do risco de ocorrência do sinistro com toda a massa que se utiliza dos contratos de seguro como meio de proteção. Ora, se de fato existe essa socialização do risco, o montante dos prêmios pagos são suficientes para indenização de todos os sinistros que tenham ocorrência natural, não restando dúvidas quanto ao dever de indenizar. E, se todos os riscos foram socializados com os contratantes de seguro, não restou risco para o segurador, razão pela qual deve ele objetivamente indenizar o sinistro, exceto nos casos de comprovada má-fé do segurado, esse também é o entendimento de Clóvis do Couto e Silva: “O dever de indenizar surge como decorrência da necessidade de repartir os riscos na vida social”. Nem por isso somos favoráveis à quebra do Princípio da Boa-Fé, pois, caso se comprove má-fé por parte do segurado, esta será suficiente para a rescisão contratual e do não pagamento de eventual indenização a que teria direito o segurado, como bem disciplinou o legislador: 14 São Paulo 2017 “Artigo 768 – O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato” Ainda sobre a responsabilidade civil aplicável aos contratos de seguro, resta importante lembrarmos aqui que o legislador, a fim de evitar procrastinações no pagamento das indenizações por parte dos seguradores, acrescentou a responsabilidade civil decorrente do ato do representante, figura esta comum nos contratos de seguro, denominados de corretores de seguro. Desta forma, o legislador determinou que “os agentes autorizados do segurador presumem-se seus representantes para todos os atos relativos aos contratos que agenciarem”, restando ao segurador, eventual direito de regresso. 15 São Paulo 2017 6. CONTRATO DE SEGURO DE CARRO “O contrato de seguro é aquele pelo qual uma das partes (segurador) se obriga para com a outra (segurado), mediante pagamento de um prêmio, a garantir-lhe interesse legítimo relativo à pessoa ou a coisa e a indenizá-la de prejuízo decorrente de riscos futuros previstos no contrato”. Inicialmente, importa frisar a conceituação do que vem a ser um contrato de seguro, realizado pelo próprio Código Civil, em seu artigo 757, segundo o qual neste contrato “o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados”. DINIZ define o contrato de seguro desta forma: “[...] é aquele pelo qual uma das partes (segurador) se obriga para com a outra (segurado), mediante o pagamento de um prêmio, a garantir-lhe interesse legítimo reativo a pessoa ou a coisa e a indenizá-la de prejuízo decorrente de riscos futuros, previstos no contrato” (CC, art. 757) Tais riscos podem ser relativos à vida, saúde ou ainda direitos e patrimônio do segurado, contra os quais eventuais fatos danosospodem acontecer. Além disso, não se pode falar somente em fatos danosos, visto que a atual amplitude do risco vai além dessa visão inicial, abrangendo inclusive situações de insucesso, infortúnios ou constrangimentos no âmbito das atividades da pessoa. Nesse âmbito, acrescenta Diniz que “a noção de seguro supõe a de risco, isto é, do fato de estar o sujeito exposto à eventualidade de um dano à sua pessoa, ou aos seus bens, motivado pelo acaso”. Da mesma forma, Cavalieri Filho afirma que: “Três são os elementos essenciais do seguro - o risco, a mutualidade e a boa- fé -, elementos, estes, que formam o tripé do seguro, uma verdadeira, “trilogia”, uma espécie de santíssima trindade”. Risco é perigo, é possibilidade de dano decorrente de acontecimento futuro e possível, mas que não depende da vontade das partes. Por ser o elemento material do seguro, o seu base fática, é possível afirmar que onde não houver risco não 16 São Paulo 2017 haverá segurado. “As pessoas fazem seguro, em qualquer das suas modalidades - seguro de vida, seguro de saúde, seguro de automóveis etc. -, porque estão expostas a risco”. 6.1 CONCEITOS E ELEMENTOS DO SEGURO O seguro é uma espécie de transferência de risco onde, conforme descreve o art. 757 do Código Civil, o segurador se obriga, através de um contrato, a garantir interesse legítimo do segurado – o que se dá através do pagamento de determinado valor, denominado prêmio - referente a determinada pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados. Têm por princípios norteadores, além das cláusulas legais, a sinceridade e a boa-fé do contratante, que está disposta na regra geral dos contratos, nos termos do art. 422 do Código Civil: “os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. Um dos melhores conceitos de seguro é exposto por Cavalieri Filho: “[...] Em apertada síntese, seguro é contrato pelo qual o segurador, mediante o recebimento de um prêmio, assume perante o segurado a obrigação de pagar-lhe uma determina indenização, prevista no contrato, caso o risco a que está sujeito se materialize em um sinistro. Segurador e segurado negociam as consequências econômicas do risco, mediante a obrigação do segurador de repará-las”. Frise-se que em se tratando de contrato de seguro, o segurador só poderá se exonerar de sua obrigação se ficar comprovado o dolo ou a má-fé do segurado. Da mesma forma, o agravamento do risco pode servir de preceito ao não pagamento do sinistro, haja vista o desequilíbrio da relação contratual, onde o segurador receberá um prêmio inferior ao risco que estará cobrindo, em desconformidade com o avençado”. O segurado tem como obrigações: a prestação de informações corretas para que seja formulado o valor do prêmio do seguro, o pagamento das parcelas e a comunicação à seguradora da eventual ocorrência de sinistro, que deve ser tempestiva. 17 São Paulo 2017 Por outro lado, as obrigações do segurador vão mais além, sendo basicamente: a prestação de informações ao segurado sobre as condições do seguro, de forma completa e antes do contrato ser firmado, já na contratação o fornecimento de cópia de documento que demonstre os termos da apólice, e a correta, integral e célere indenização ou cobertura quando da ocorrência do sinistro. SEGURADORES: é aquele que suporta o risco, assumindo mediante o recebimento do prêmio, obrigando-se a pagar uma indenização. Assim, o prêmio é a garantia pecuniária que o segurado paga à seguradora para obter o direito a uma indenização se ocorrer o sinistro oriundo do risco garantido e previsto no contrato, o risco constituirá num acontecimento futuro e incerto, que poderá prejudicar os interesses do segurado, provocando-lhe uma diminuição patrimonial evitável pelo seguro, e a indenização é a importância paga pela seguradora ao segurado, compensando-lhe o prejuízo econômico decorrente do risco e assumido na apólice da seguradora. A atividade do segurador é exercida por companhias especializadas, isto é, por sociedades anônimas, mediante prévia autorização do governo federal (ASSP,1.852:74; CF 88,art.192,II, com redação da EC 13/96; lei nº 8.177/91, art. 21;CC, art.757, paragráfo único), ou cooperativas devidamente autorizadas (Dec- Lei nº 73166, art.24; Regulamento nº 59.195/66), porém tais cooperativas só poderão operar em seguros agrícolas e seguros de saúde. - SEGURADO: é o que tem interesse direto na conservação da coisa ou da pessoa, fornecendo uma contribuição periódica e moderada, isto é, o prêmio, em troca do risco que o segurador assumirá de, em caso se incêndio, abalroamento, naufrágio, furto, falência, acidente, morte, perda das faculdades humanas, etc , indenizá-los pelos danos sofridos. Dessa forma, ao contrário do que se dá com o segurador, qualquer pessoa pode figurar na posição de segurado, sendo necessário, em princípio ter capacidade civil. - BENEFICIÁRIO: é uma figura que exsurge nos contratos de seguro de vida e no obrigatório de acidentes pessoais em que ocorre morte por acidente e que consiste na pessoa a quem é pago o valor do seguro, a “indenização”. Nos casos em que o beneficiário é um terceiro, ou seja, um estranho a relação contratual estaremos diante de um caso de estipulação em favor de terceiro. Tal estipulação ocorre 18 São Paulo 2017 quando uma pessoa convenciona com outra que está concederá uma vantagem ou benefício em favor daquele que não é parte no contrato. É o que ocorre nos seguros de vida em favos de terceiro: o estipulante convenciona com o segurador que ocorrendo o sinistro, o valor do seguro será pago a um terceiro. Não é qualquer pessoa que pode figurar como beneficiário, deve-se observar os arts.793 e 1814, CC. - CO-SEGURADOR: no caso de seguros vultosos, pode acontecer de uma pluralidade de seguradores dar cobertura simultaneamente e a um mesmo risco, configurando-se a multiplicidade de seguros. Contudo o art.778, CC, dispõe que “nos seguros de dano, a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da conclusão do contrato...”. Dessa maneira, é defeso ao segurador celebrar mais de um contrato relativo ao mesmo bem, pelos mesmos riscos de maneira que, em ocorrendo o sinistro, receba-se a indenização integral de todos os seguradores. Isto se dá, pois o contrato não é instrumento de lucro. -RESSEGURADOR: a figura do resseguro consiste na transferência de parte ou toda responsabilidade do segurador para o ressegurador, com a finalidade de distribuir para mais de um segurador a responsabilidade pelo adimplemento da contraprestação. Na verdade, o resseguro consiste no “seguro do seguro”, uma vez que é o segurador que transfere a sua responsabilidade ou “um seguro mediato”, na medida em que é um seguro assumido entre o segurador e a resseguradora. 19 São Paulo 2017 7. CODIGO DO CONSUMIDOR Na simples leitura do supra citado art. 3°, conclui-se que a seguradora é pessoa jurídica, podendo ser nacional ou mesmo estrangeira, e desenvolve atividade no mercado de consumo. Aliás, não deixando qualquer dúvida, o parágrafo 2° do artigo em estudo é claro ao enfatizar que a atividade securitária está incluída nas atividades abrangidas pelo CDC. Assim, conclui-se que a relação jurídica firmada entre seguradora e segurado é uma relação jurídica de consumo, não olvidando, entretanto, o fato de que esta afirmação não tem por consequência, a exclusão da incidência de outras normas. Este fato, portanto, cria a possibilidade de incidênciacumulativa do Código de Defesa do Consumidor com outras normas aos contratos de seguro. Após o surgimento do CDC, verificou-se uma avalanche de ações judiciais fulcradas na nulidade de cláusulas contratuais por serem abusivas e contrárias ao disposto no artigo 51 e 54 do CDC. Para se adequar a nova disposição legal, os contratos de seguro passaram a ser redigidos de forma mais clara, com cláusulas destacadas e palavras de fácil compreensão. Porém, não deixou de continuar sendo um contrato de adesão, o que não permitiu uma diminuição no número de ações judiciais propostas com o mesmo objetivo: declaração de nulidade/abusividade de cláusulas. Todavia, urge não confundir cláusula abusiva com cláusula restritiva, esta perfeitamente aceitável pela própria lei de consumo, nos termos do parágrafo 4º do seu artigo 54, restando plenamente válido admiti-la como parte inerente à natureza do contrato de seguro, em que a tônica é a seleção e a limitação dos riscos impostos pela ciência autuarial, a teor dos artigos 1432 e 1460 do CC/16. Desta forma, as eventuais particularizações quanto aos riscos cobertos e abrangências do seguro, desde que condizentes com seu objetivo, não implicam estabelecer para as seguradas obrigações consideradas iníquas e exageradas ou, ainda, incompatíveis com a boa-fé e a equidade, pois se assim não fosse, poder-se-ia ensejar ao mesmo, direito a uma cobertura securitária pela qual não pagou o correspondente prêmio, calculado sempre de acordo com os riscos assumidos (Krieger Filho). 20 São Paulo 2017 Para que haja a aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos contratos de seguro, é preciso, primeiramente, que o segurado enquadre-se nos termos do artigo 2o do Código de Defesa do Consumidor. Deste modo, nota-se inicialmente que é equivocada a idéia de que alguém ou alguma empresa é, por excelência, fornecedora ou consumidora. Cada caso definirá a aplicabilidade ou não das normas contidas no Código de Defesa do Consumidor. 7.1 A LEGISLAÇAO APLICAVEL AO SEGURO: CC ou CDC Em nosso país a atividade securitária acha-se sob o controle do Estado, através de seus órgãos competentes, tendo sido criado o Sistema Nacional de Seguros Privados, que foi regulamentado pelo Decreto Lei n° 073, de 21 de Novembro de 1966. Este, por sua vez, regulamentou as operações de seguros e resseguros, conforme definido no art. 1º que diz que as operações de seguros privados feitas no país estão subordinadas ao mencionado Decreto-lei. O referido Decreto-lei, determina que compete ao Governo Federal a formulação da política dos seguros privados, bem como legislar sobre as normas e, igualmente, exercer a função fiscalizadora das operações no mercado nacional. Além disto, este Decreto-lei criou outras composições: Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP; Superintendência de Seguros Privados – SUSEP; Instituto de Resseguros do Brasil – IRB; Sociedades autorizadas a operar em seguros privados; corretores habilitados. Esses órgãos regulam a atividade securitária no país, no sentido burocrático- administrativo, editando normas gerais de contabilidade e estatística a serem observadas pelas sociedades seguradoras, organizando seu funcionamento e fiscalizando suas atividades, disciplinando as operações, delimitando capitais, enfim, tratam da área administrativa do seguro, cabendo às legislação pátria – Código Civil e Código de Defesa do Consumidor – a regulamentação jurídica dos contratos de seguro. O conceito de consumidor está positivado no CDC, no art. 2º, que traz a seguinte redação: "Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final" (CDC). 21 São Paulo 2017 O CDC utilizou a expressão "destinatário final" exatamente para delimitar aquele ou aqueles que adquirem ou utilizam serviço ou produto para si e não como intermediários. O artigo 3º dispõe: "fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”. 7.1.1 LIMITES DA RESPONSABILIDADE EM FACE DA AUSENCIA DE BOA FE O princípio da boa-fé é justificado no interesse coletivo de que as pessoas pautem seu agir na cooperação e retidão, é a representação mental do indivíduo que atua honestamente, sem lesar os direitos alheios. Frisa ainda que, na legislação brasileira, o princípio da boa-fé se consagrou com a publicação do Código de Defesa do Consumidor, que o determinou como um modelo de comportamento no direito brasileiro, representando um corte epistemológico, conforme expõe Rousenvald (2007, p. 85), com sua inserção definitiva no regulamento. No antigo código civil de 1946, não havia cláusula geral de previsão da boa- fé, porém, já constava no artigo 1.443, a sua aplicabilidade aos contratos de seguro. Desta forma, é possível aferir a importância do emprego da boa-fé nos contratos de seguro, eis que quando o código civil quedou-se silente em determinar a sua aplicação às relações negociais, em geral, previu, expressamente, sua aplicabilidade a este tipo contratual. O novo código civil de 2002 manteve a disposição expressa da utilização da boa-fé aos contratos de seguro, conforme prevê o artigo 765: “O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes” 22 São Paulo 2017 Portanto, tanto formação quanto na conclusão do contrato faz-se a ressalva de que a boa-fé deverá ser igualmente respeitada. Esclarece-se que a fase pré-contratual, ou de formação do contrato, consiste no momento em que as partes irão realizar a apresentação de propostas entre os interessados que vinculará as partes após a sua apresentação formal. Consoante Matiello (2008, p.41), a proposta ou policitação é a primeira fase de formação dos contratos, consistindo na apresentação, pelo proponente, de uma oferta para contratação, dirigida ao destinatário, a quem cabe aceitá-la ou não, tendo em vista a autonomia de vontade das partes. Portanto, no contrato de seguros, a proposta será: “(...) o instrumento de que se utiliza o segurado para apresentar à seguradora o pedido de cobertura dos riscos que deseja segurar, fornecendo todas as informações necessárias ao perfeito enquadramento do risco pela seguradora, bem como dos valores dos bens a segurar.” Neste mesmo sentido dispõe o artigo 759 do código civil, ao determinar que a emissão da apólice será precedida de proposta escrita com a declaração dos elementos essenciais do interesse a ser garantido e do risco. De acordo com Marques (1998, p.73) vivemos em um momento de “uma crescente importância da fase pré-contratual, onde nascem as expectativas legítimas das partes e de uma exigente fase contratual de realização da confiança despertada, com o aparecimento mesmo de alguma pós-eficácia dos contratos já cumpridos.” É salutar, portanto, a observância do princípio da boa-fé pelo proponente segurado, eis que a contratação ocorrerá com base nas suas declarações determinando as cláusulas contratuais, entre elas o preço e a extensão do risco a ser coberto. Desta forma, a ausência da boa-fé na proposta consiste em causa de limitação da responsabilidade da seguradora, eis que esta não poderá ser responsabilizada por riscos que desconhece em virtude da ausência de boa-fé impetrada pelo segurado durantea proposta. 23 São Paulo 2017 8. EFEITOS JURÍDICOS O seguro como sendo um contrato, para que possa produzir efeitos jurídicos, deve se sujeitar aos mesmos princípios e pressupostos de validade que regem os contratos em geral, tais como autonomia da vontade, capacidade das partes (principalmente o disposto no parágrafo único do artigo 757, do atual CC), licitude do objeto e forma prescrita em lei, dentre outros. Ainda tem como características a bilateralidade, e o é não somente porque é contratado por duas partes, mas pelo fato de que ambas adquirem direitos e obrigações. Portanto, para a perfectibilizarão do contrato, é necessário que seja ele precedido de uma proposta escrita com a declaração dos elementos essenciais do interesse a ser garantido e do risco (art. 759 do atual CC). Desta forma, somente após a aceitação da proposta por parte do segurador, que o contrato de seguro poderá ser considerado como vigente entre as partes, conforme dispõe o artigo 757 do atual CC. A contraprestação do contratante/segurado denomina-se prêmio, que segundo Santos, (Apud KRIEGER FILHO), é o preço pelo qual o segurador aceita responder pelos riscos. O segurador pede a cada segurado uma cota suficiente para que, com o total de todas as cotas de um mesmo grupo de segurados, que se encontre em condições idênticas, possa fazer face ao pagamento das somas seguradas, de acordo com as previsões dos sinistros que se podem verificar no período coberto pelo seguro. Desta forma, estão obrigadas as partes a respeitar tão somente o que por elas foi convencionado, nem mais, nem menos. Em caso de lacuna, é que as partes socorrer-se-ão da lei, para dirimir conflitos advindos do contrato. 24 São Paulo 2017 8.1 CARACTERES JURÍDICOS 1) contrato de natureza bilateral ou sintagmático: contrato de seguro é bilateral devido aos efeitos por ele gerados que, exatamente, a constituição de obrigações para ambos os contraentes, ou seja, há reciprocidade de obrigações (sintagmático). As partes, segurado e segurador, são sujeitos de direitos e deveres: um tem como uma de suas prestações a de pagar o prêmio e o outro tem como contraprestação pagar a indenização em se concretizando o risco. 2) contrato oneroso: pois traz prestações e contraprestações, uma vez que cada um dos contraentes visa obter vantagem patrimonial. 3) contrato aleatório: por não haver equivalência entre as prestações, o segurado não poderá antever, de imediato, o que receberá em troca da sua prestação, pois o segurador assume o risco, elemento essencial desse contrato, devendo ressarcir o dano sofrido pelo segurado, se o evento incerto e previsto no contrato ocorreu. O ganho ou a perda dos contraentes dependerá de fatos futuros e incertos, previstos no contrato, que constituem o risco. 4) contrato formal: segundo entendimento da jurista Maria Helena Diniz, o contrato de seguro seria formal, visto ser obrigatório a forma escrita, já que não obriga antes de reduzido a escrito, considerando-se perfeito o contrato desde o momento em que o segurador remete a apólice ao segurado, ou faz nos livros o lançamento usual da operação ( CC,arts.758 e 759).A forma escrita é exigida para a substância do contrato. Porém, grande parte da doutrina afirma que o contrato de seguro está perfeito e acabado quando se der o acordo de vontades (consenso das partes). Numa primeira análise do art.758,CC , pode-se-ia concluir que o seguro seria formal devido à necessidade do documento. Todavia percebe-se facilmente que o documento exigido não faz parte da substância do ato, possuindo apenas caráter probatório. 5) contrato de execução sucessiva ou continuada: destinando a subsistir durante um período de tempo, por menos que seja, pois visa proteger o bem ou a pessoa. Sua execução se realiza escalonadamente, sendo necessário que a obrigação do segurado seja satisfeita dentro dos termos convencionados, sob pena 25 São Paulo 2017 de rescindir-se por tratar-se de obrigação de trato sucessivo. Os efeitos passados serão mantidos, cessando-se os que decorrerem dali para frente. 6) contrato por adesão: formando-se com a aceitação pelo segurado, sem qualquer discussão, das cláusulas impostas ou previamente estabelecidas pelo segurador na apólice impressa, e as modificações especiais que se lhe introduzem são ressalvadas que o segurador insere por carimbo ou justaposição. 7) contrato de boa-fé: (CC,arts.765,766 e parágrafo único),pois o contrato de seguro, por exigir uma conclusão rápida, requer que o segurado tenha uma conduta sincera e leal em suas declarações a respeito do seu conteúdo e dos riscos, sob pena de receber sanções se proceder de má-fé, em circunstâncias em que o segurador não pode fazer as diligências recomendáveis à sua aferição, como vistorias, inspeções ou exames médicos, fiando-se apenas nas afirmações do segurado, que por isso deverão ser verdadeiras e completas, não omitindo fatos que possam influir na aceitação do seguro. A boa-fé é exigida também do segurador. 26 São Paulo 2017 9. SEGURADORA PODE NEGAR INDENIAÇAO PARA MOTORISTAS QUE OMITEM SER DO UBER Seja na tentativa de economizar ou dar uma de esperto, omitir informações na hora de contratar, renovar ou atualizar o seguro veicular pode resultar em prejuízos. A omissão de especificações, como a finalidade do carro, tira da seguradora a obrigação de pagar a indenização em caso de sinistro. A adesão às novas plataformas de transporte de passageiros, como o Uber, por exemplo, também é uma informação que deve ser repassada para as seguradoras. O único seguro exigido pelo Uber para se tornar um motorista parceiro é o de Acidentes Pessoais de Passageiros (APP), outra modalidade de proteção que não inclui danos com o veículo (leia mais sobre o assunto abaixo). Por isso, segundo a assessoria de comunicação da plataforma, não há como mensurar quantos motoristas ativos no aplicativo possuem o seguro convencional para carro e quantos já fizeram a alteração da apólice. Dos 15 motoristas do Uber entrevistados pelo jornal A Redação, sete afirmaram terem feito a modificação da apólice e alterado o ‘uso’ do veículo para fins comerciais. Cinco deles disseram ainda manter o seguro veicular convencional e os outros três contam apenas com a sorte e andam sem qualquer proteção. Deivid Pereira fez um alerta para quem trabalha com o veículo e ainda não se adequou. “Por mais que a prestação de serviço seja por um tempo determinado, a atualização do ‘uso’ do carro deve ser feita porque não há como prever quando um acidente, roubo ou furto vai acontecer. E temos que pensar que os acidentes também são provocados por terceiros. Então é melhor prevenir, e ter a certeza de que a seguradora não vai negar ressarcir o segurado, do que arcar com um prejuízo bem maior posteriormente”, avisou. Negar o ressarcimento do segurado que omitiu ou mentiu uma informação está previsto em grande parte dos contratos firmados entre motoristas e empresas, segundo o representante do Sindicato das Seguradoras (Sindseg) em Goiás, Francisco Vidigal. “Cada seguradora tem sua 27 São Paulo 2017 política de aceitação de risco e uma forma de analisar cada caso. Nas propostas constam dois artigos do Código Civil: o 765 e o 766, que preveem, respectivamente, a boa fé e veracidade das declarações e a perda do direito ao prêmio em caso de constatação de fraude. Toda situação de sinistro é analisada com cuidado e não adianta mentir ou omitir detalhes.O motorista pode até sair ganhando no começo, mas vai arriscar perder muito mais no final”, ressaltou. O vice-presidente Social e de Benefícios do Sindicato dos Corretores e Empresas Corretoras de Seguros no Estado de Goiás (Sincor-GO), o corretor de seguros Deivid Pereira explica que transformar o veículo de uso particular em transporte de passageiros aumenta o valor da apólice em cerca de 20%. “Nesses casos o motorista não tem um trajeto definido. Ele circula mais, em diversas regiões e fica mais exposto aos riscos, já que o trabalho dele é no trânsito. Os motoristas de táxi, por exemplo, pagam uma taxa maior por conta desse risco. O Uber entra na mesma categoria”. Talvez esse seja um dos assuntos mais comentados do momento: Uber. É um tema que desperta muito interesse e dúvidas, tanto nos motoristas quanto nos passageiros. É inevitável o passageiro se questionar: é seguro pegar o Uber? Posso ficar tranquilo? Em caso de acidentes, vou ter cobertura? Mas, além dos passageiros, os motoristas que ingressam para trabalhar com o aplicativo também têm dúvidas frequentes: há uma classe de seguro para Uber como existe para táxis? Se eu for dirigir, tenho que ter um seguro especial? Posso dirigir o carro com meu seguro convencional? De fato, as perguntas são diversas, mas com calma daremos as respostas para tudo. Deivid Pereira fez um alerta para quem trabalha com o veículo e ainda não se adequou. “Por mais que a prestação de serviço seja por um tempo determinado, a atualização do ‘uso’ do carro deve ser feita porque não há como prever quando um acidente, roubo ou furto vai acontecer. E temos que pensar que os acidentes também são provocados por terceiros. Então é melhor prevenir, e ter a certeza de que a seguradora não vai negar ressarcir o segurado, do que arcar com um prejuízo bem maior posteriormente”, avisou. Negar o ressarcimento do segurado que omitiu ou mentiu uma informação está previsto em grande parte dos 28 São Paulo 2017 contratos firmados entre motoristas e empresas, segundo o representante do Sindicato das Seguradoras em Goiás, Francisco Vidigal. “Cada seguradora tem sua política de aceitação de risco e uma forma de analisar cada caso”. Nas propostas constam dois artigos do Código Civil: O 765 e o 766, que preveem, respectivamente, a boa fé e veracidade das declarações e a perda do direito ao prêmio em caso de constatação de fraude. Toda situação de sinistro é analisada com cuidado e não adianta mentir ou omitir detalhes. O princípio da boa-fé está também exigido no art. 422, ao cuidar dos contratos. Afirma tal dispositivo: "Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé." Temos aí uma regra de natureza imperativa. O legislador obriga, sem exceção, as partes contratantes a guardar, tanto na conclusão do contrato como na sua execução, o princípio da boa-fé ao lado do de probidade. Vamos encontrar a boa-fé exigida, explicitamente, na formação do contrato de seguro, conforme redação do art. 765: "Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do premio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido." O segurado, ao apresentar a sua proposta à empresa seguradora, deve adorar comportamento ético de acordo com as obrigações que lhe são inerentes. O artigo 769, por sua vez, é expresso ao dispor que o considerável agravamento de riscos associado à má-fé do segurado é o que acarreta a perda do direito à indenização securitária. Confira-se: “Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má- fé.” Dito de outra forma, ainda que ocorra o sinistro e os fatos demonstrem que tal evento não se deu exatamente dentro da “cláusula de perfil”, eventual agravamento de riscos só terá o condão de afastar o dever de indenizar da seguradora se esta comprovar a má-fé do segurado. O que também se denota da leitura dos dispositivos legais anteriormente citados é a incidência do princípio venire contra factum proprium, ou seja, considerada sua conduta anterior, uma pessoa não pode contrariá-la ao exercer um direito próprio, 29 São Paulo 2017 pois tem o dever de manter a confiança e a lealdade que decorrem da boa-fé objetiva iniciada já na fase pré-contratual. O único seguro exigido pelo Uber para se tornar um motorista parceiro é o de Acidentes Pessoais de Passageiros (APP), outra modalidade de proteção que não inclui danos com o veículo (leia mais sobre o assunto abaixo). Por isso, segundo a assessoria de comunicação da plataforma, não há como mensurar quantos motoristas ativos no aplicativo possuem o seguro convencional para carro e quantos já fizeram a alteração da apólice. Dos 15 motoristas do Uber entrevistados pelo jornal A Redação, sete afirmaram terem feito a modificação da apólice e alterado o ‘uso’ do veículo para fins comerciais. Cinco deles disseram ainda manter o seguro veicular convencional e os outros três contam apenas com a sorte e andam sem qualquer proteção. Deivid Pereira fez um alerta para quem trabalha com o veículo e ainda não se adequou. “Por mais que a prestação de serviço seja por um tempo determinado, a atualização do ‘uso’ do carro deve ser feita porque não há como prever quando um acidente, roubo ou furto vai acontecer. E temos que pensar que os acidentes também são provocados por terceiros. Então é melhor prevenir, e ter a certeza de que a seguradora não vai negar ressarcir o segurado, do que arcar com um prejuízo bem maior posteriormente”, avisou. Negar o ressarcimento do segurado que omitiu ou mentiu uma informação está previsto em grande parte dos contratos firmados entre motoristas e empresas, segundo o representante do Sindicato das Seguradoras (Sindseg) em Goiás, Francisco Vidigal. “Cada seguradora tem sua política de aceitação de risco e uma forma de analisar cada caso. Nas propostas constam dois artigos do Código Civil: o 765 e o 766, que preveem, respectivamente, a boa fé e veracidade das declarações e a perda do direito ao prêmio em caso de constatação de fraude. Toda situação de sinistro é analisada com cuidado e não adianta mentir ou omitir detalhes. O motorista pode até sair ganhando no começo, mas vai arriscar perder muito mais no final”. 30 São Paulo 2017 10 Excelentíssimo Senhor Doutor Professor de Direito da Universidade Paulista da comarca de São Paulo, Campus Tatuapé. DISTRIBUIÇAO PETIÇÃO INICIAL (NCPC, art. 319) Ação de Reparação de Danos Materiais. Requerente: Marco Antônio João, (sem qualificação, não possuímos os dados). Requerida: Seguradora Felicidade Total, pessoa jurídica de direito privado, (sem qualificação, não possuímos os dados). 10.1 I - O PROBLEMA APRESENTADO Marco Antônio João é proprietário de um veículo para uso próprio e, contratou seguro junto à Seguradora Felicidade Total para se prevenir de danos decorrentes de furto, roubo, colisão e incêndio. Acontece que Marco Antônio perdeu o emprego e não conseguiu se relocar no mercado de trabalho. Preocupado com o sustento da família ele começou a trabalhar como UBER, utilizando seu veículo para essa finalidade. Na segunda semana de trabalho Marco Antônio sofreu um grave acidente de trânsito que resultou na perda total do veículo. A seguradora foi notificada do acidente, realizou os trabalhos de regulaçãodo sinistro e concluiu que não poderia haver pagamento de indenização pela perda total do veículo, uma vez que o segurado estava utilizando o automóvel para destinação diversa daquela declarada no momento da contratação do seguro. Fundamentou a negativa no Código Civil. 31 São Paulo 2017 10.2 II - DOS FATOS Marco Antônio João sempre manteve uma relação jurídica com a Seguradora Felicidade Total, porém, por um infortúnio, algo imprevisível, Marco Antônio perdeu seu emprego, tendo a necessidade buscar um meio alternativo para o sustento seu e de sua família, ao começar a trabalhar como motorista de aplicativo (Uber), Marco Antônio, que não possui conhecimento técnico sobre seguros, não tinha conhecimento de que ao se tornar um motorista de aplicativo poderia ter, no seu seguro já previamente contratado, uma divergência na destinação de seu veículo já que ainda não havia renovado seu contrato. Há hoje, um crescente abuso das seguradoras na recusa de pagamento dos prejuízos causados por acidente. Normalmente, o segurado só fica sabendo que não possui cobertura quando precisa dela. Os problemas em relação ao seu perfil, questionário com informações ao seu respeito, cujo resultado pode levar a um desconto, não podem ser motivo para a seguradora negar a indenização porque serve apenas como parâmetro para determinar o valor do prêmio e o bônus a ser aplicado à apólice. O que notamos hoje, é que as seguradoras tendem a forçar que seus clientes possuam conhecimento técnico, o que muitas vezes não existe. O caso aqui apresentado é um ótimo exemplo. Marco Antônio João só foi descobrir que não possuiria cobertura, do seguro previamente contratado, no momento em que se acidentou e necessitou da cobertura do seguro, claramente mostrando que a seguradora somente entrou em contato com seu cliente no momento em que negou o a cobertura, nunca houve, até então um contato da Seguradora Felicidade Total, para atualizar seus dados cadastrados no contrato de seguro. E como expressa dignamente o art. 4º do Código de Defesa do Consumidor em seus incisos I, IV e VI: Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo; VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida 32 São Paulo 2017 de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores; Tendo em vista que as operadoras de serviço não mantem contato com seus clientes, de forma periódica, para informar que mudança de destinação do veículo é necessária para continuar com sua cobertura de seguro, a seguradora não pode exigir que seu cliente soubesse, ainda mais, que tenha conhecimento de que há uma categoria de destinação do veículo, destinação essa que sempre foi utilizado apenas para motoristas de táxi. E como já salientado anteriormente, a alteração da destinação do veículo apenas serve para o calculo do prêmio e o bônus a ser aplicado à apólice, na relação de consumo que vemos entre as seguradoras e seus clientes, a desvantagem técnica dos clientes é exorbitante para com a seguradora, necessitando assim que a seguradoras mantivessem contato com seus clientes, a fim de atualizar seus dados cadastrais. Como Sanseverino leciona: “Enquanto os defeitos são falhas do produto ou do serviço que afetam a segurança legitimamente esperada pelo consumidor, causando-lhe danos pessoais ou patrimoniais, os vícios são falhas, ocultas ou aparentes, que afetam, via de regra, apenas o próprio produto ou serviço. Tornando-os inadequados ao uso a que se destinam por não apresentarem a qualidade ou quantidade esperada pelo consumidor, inclusive por deficiência de informação”. É de se ressaltar que a todos os contratos de seguro são aplicadas as regras do Código de Defesa do Consumidor. É o que se depreende da análise do caput do artigo 2º e do artigo 3º, § 2º deste diploma legal: Artigo 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. (...) Artigo 3º... § 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária... 33 São Paulo 2017 10.3 III - DOS FUNDAMENTOS Nesse sentido a Constituição Federal estabelece em seu artigo 5º, inciso XXXII: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo- se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: “XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;” E o Código de Defesa do Consumidor estabelece em seus artigos 2º caput, 3º § 2° e 4º incisos I, IV e VI que: “Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.” “Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.” “§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.” “Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:” “I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;” “IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;” “VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores;” 34 São Paulo 2017 10.4 IV - DO PEDIDO Diante do exposto, requer-se: a) a citação da Requerida, para apresentar defesa, sob pena de reputarem-se aceitos os fatos afirmados pelo Requerente, em conformidade com o artigo 344 do Novo Código de Processo Civil; b) a procedência total do pedido, com a condenação da Requerida ao pagamento dos valores do prêmio do referido contrato de seguro, devidamente corrigido e acrescido de juros moratórios, até a data da quitação; c) que as intimações sejam encaminhadas aos advogados da Requerente abaixo assinados, nos termos do artigo 77, V, do Novo Código de Processo Civil; d) protesta, ainda, provar o alegado por todos os meios de provaem direito admitidos; Dá-se à causa o valor de... (o valor do prêmio do seguro) Termos em que, Pede deferimento. P.P Edileia Santos Conceição R.A: C235920 Eduardo Cobra Storolli R.A: C295FG7 Fernanda Silva Guimarães R.A: C524BF9 Simone Lopes da Silva R.A: T576253 35 São Paulo 2017 IBLIOGRAFIA - http://www.conteudojuridico.com.br - http://www.seguroauto.org - www.bidu.com.br/seguro-auto/o-que-e-endosso-de-seguro -http://aredacao.com.br/noticias/74535/seguradora-pode-negar-indenizacao-para- motoristas-que-omitem-ser-do-uber - https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=NEGATIVA - www.tudosobreseguros.org.br/portal/pagina. php - www.tudosobreseguros.org.br/portal/pagina. php? - https://www2.susep.gov.br/download/cartilha/cartilha_susep2e.pdf - https://jus.com.br/artigos/46360/as-informacoes-prestadas -DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Editora: Saraiva. 2002 -DECRETO-LEI 73/66. Disponível em ttp://www.planalto.gov.br/ccivi -STJ, Informativo 553. Disponível em https://ww2.stj.jus.br/jurisprudencia -Silva, Michael. Livro: Contrato De Seguro De Automoveis. Editora:Lumen Juris (2012) -GONÇALVEZ, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro - Contratos e Atos Unilaterais. Saraiva: 3º vl, 2012. -GONÇALVEZ, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro - Responsabilidade Civil. Saraiva: 4º vl, 2012. -MARTINEZ, Pedro Romano. Direito dos Seguros - Apontamentos. Ed. Principia, 2006. -SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Ed. Forense: 1º vl. 2002. -VENOSO Silvio de Salvo. Direito Civil - Contratos Em Espécie. Ed. Atlas: 3º vl. 2011.
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