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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP GRADUAÇÃO EM DIREITO CONTRATO E SEGURO DE SAÚDE Edileia Santos Conceição RA: C235920 Eduardo Cobra Storolli RA: C295fg7 Fernanda Silva Guimarães RA: C524bf9 Simone Lopes da Silva RA: T576253 São Paulo 2016 Edileia Santos Conceição – RA: C235920 Eduardo Cobra Storolli - RA: C295fg7 Fernanda Silva Guimarães - RA: C524bf9 Simone Lopes da Silva - RA: T576253 CONTRATO E SEGURO DE SAÚDE Projeto de pesquisa, apresentado no curso de Direito à Universidade Paulista UNIP, Tatuapé com a exigência para a disciplina de Contratos Geral. Orientador: Dr. George Ibrahim Farath São Paulo 2016 RESUMO A grande quantidade de reclamações dos consumidores de planos e seguros privados de saúde se tornou frequente no setor suplementar, com reflexos sobre o Poder Judiciário. Essa problemática fez surgir a necessidade de regulação desse mercado privado, que se iniciou em 1998, por meio da Lei nº. 9.656. Um dos desafios que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) enfrenta é a resistência das operadoras perante a legislação, além do fato de ainda existirem contratos não regidos pela referida lei. O objetivo do estudo foi analisar recursos de decisões judiciais que concederam ou não o pedido liminar da antecipação da tutela solicitado pelo consumidor de plano de saúde, julgados nos Tribunais de Justiça do Rio de Janeiro e de São Paulo. Os principais dados pesquisados foram: Tribunal que proferiu a decisão; réu; tema debatido; posicionamento de 1ª e de 2ª Instâncias e fundamentação jurídica. Verifica-se que o Poder Judiciário continua sendo um importante espaço de reivindicação dos consumidores de planos de saúde. O papel da ANS é importante para preencher algumas lacunas que ainda não foram solucionadas pela regulação do setor. 2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO..................................................................................................3 2. CONTRATO E SEGURO DE SAÚDE..............................................................4 2.1. Natureza jurídica dos contratos de plano de saúde.....................................4 2.2. Legislações aplicáveis aos contratos de plano de saúde............................5 3. TIPOS DE PLANO E SUAS COBERTURAS...................................................8 3.1. Plano de seguro referências.......................................................................8 3.2. Negativa de cobertura de doenças e procedimentos..................................9 3.3. Doenças preexistentes e necessidade de realização de exame prévio…12 3.4. Suspensão ou rescisão contratual de forma arbitrária..............................12 4. AUTAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO...........................................................14 4.1 Envios de Ofícios solicitando e realização de audiências públicas.....................14 4.2 Recomendações Administrativas........................................................................15 4.3 Ação Civil Pública................................................................................................16 5. CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL.................................................18 5.1 Responsabilidade contratual.................................................................................18 5.2 Responsabilidade contratual e extracontratual...........................................................19 5.3 Responsabilidade subjetiva e objetiva.......................................................................20 5.4 Responsabilidade civil nas relações de consumo.....................................................22 6 RELAÇÃO DE CONSUMO..................................................................................24 6.1 Consumidor..........................................................................................................24 6.2 Nova Lei e o Código de Defesa do Consumidor.......................................................24 7 DA BOA FÉ NOS CONTRATOS DE PLANO DE SAÚDE..................................27 8 TUTELA PROVISÓRIA E O NOVO CPC............................................................30 9 CONCLUSÃO......................................................................................................32 10 BIBLIOGRAFIA..................................................................................................34 3 1. POBLEMA APRESENTADO Marcos Orlando contratou um seguro de saúde individual junto a OMP Seguros Saúde. O contrato foi assinado em 17 de março de 2014com vigência renovada a cada ano e om o objetivo de fornecer procedimentos de saúde na rede de médicos e hospitais credenciados pela empresa. Em junho de 2015 Marcos Orlando teve conhecimento de que precisava realizar um procedimento de colocação de prótese no joelho esquerdo, cuja a cartilagem foi fortemente prejudicada em um tombo que levou jogando futebol com os amigos. O médico informou que todas as despesas de cirurgia e hospitalização estão cobertas no contrato, porém a prótese não será fornecida pelo plano de saúde porque há uma cláusula expressa de não fornecimento. 4 2. CONTRATO E SEGURO DE SAÚDE 2.1 Naturezas jurídica dos contratos de plano de saúde É dever, ou melhor, responsabilidade da operadora do plano de saúde: informar o consumidor sobre do que se trata o objeto contratado, cumprir estritamente o previsto no contrato, não incluir cláusulas abusivas no contrato do plano, e, não negar cobertura a qualquer tratamento que vise à recuperação da saúde. Cláudia Lima Marques: acena para a importância desses valores na relação contratual: “Três valores são cada vez mais raros e, por isso, valiosos no mundo atual: segurança, previsibilidade e proteção contra riscos futuros”. Estes três valores são oferecidos no mercado através dos planos e seguros privados de saúde, os quais possibilitam a transferência legal de riscos futuros envolvendo a saúde do consumidor e de seus dependentes a serem suportados por empresas de assistência médica, cooperativas ou seguradoras, prometendo ao seu turno segurança e previsibilidade, face ao pagamento constante e reiterado das mensalidades e prêmios. A relação entre paciente e médico sempre foi caracterizada como uma relação de confiança. No mundo de hoje, parte da confiança (ides) vai ser transferidos para o organizador destes planos e seguros, intermediados ou conveniados, na previsibilidade do financiamento leal dos eventos futuros relacionados com a saúde. Ao celebrar um contrato de plano de saúde, o consumidor confia na contratada, a ponto de esperar ser atendido com dignidade quando necessitar de uma assistência médico-hospitalar. Prefere pagar uma mensalidade a uma pessoa jurídica administradora, a poupar o mesmo valor e utilizá-lo quando de uma eventualidade. Citando a mesma autora, transcreve-se o objetivo principal dos planos de saúde: O objetivo principal destes contratos é a transferência (onerosa e contratual) de riscos referentes a futura necessidade de assistência médica ou hospitalar. A efetiva cobertura (reembolso no caso dos seguros de reembolso) dos riscos futuros à sua saúde e de seus dependentes, a adequada prestação direta ou indiretados serviços de assistência médica (no caso dos seguros de pré-pagamento ou de planos de saúde semelhantes) é o que objetivam os consumidores que contratam com estas empresas. Para atingir este objetivo os consumidores manterão relações de convivência e 5 dependência com os fornecedores desses serviços de saúde, por anos, pagando mensalmente suas contribuições, seguindo as instruções (por vezes exigentes e burocráticas) regulamentadoras dos fornecedores, usufruindo ou não dos serviços, a depender da ocorrência ou não do evento danoso à saúde do consumidor e seus dependentes (consumidores-equiparados). Os contratos de plano de saúde também são considerados contratos de adesão, pois não permitem a negociação direta entre fornecedor e consumidor, havendo uma relação de hipossuficiência entre as partes contratantes. As pessoas jurídicas monopolizam o poder de barganha nessa relação, daí a razão da existência das práticas abusivas. Por fim, conforme as lições de Daniela Batalha Trettel, os contratos de plano de saúde são considerados contratos cativos de longa duração: Os contratos de planos de saúde também se caracterizam como contratos cativos de longa duração, em que o usuário dos serviços de saúde coloca-se em situação de dependência em relação à operadora, havendo a legítima expectativa de manutenção do vínculo contratual por tempo indeterminado. A esse tipo de contrato dá-se o nome de “contratos de trato sucessivo”. 2.2 Legislações aplicáveis aos contratos de plano de saúde Ao condicionar a atuação da Administração à edição de lei, a Constituição também impôs o dever de legislar. Todavia, as proposições de legislação específica para o setor de planos de saúde pelo Poder Executivo e sua posterior votação pelo Congresso Nacional tardaram e somente aconteceram depois de muita pressão social. A lei de Planos de Saúde (Lei 9.656/98) só entrou em vigor mais de dez anos depois da Constituição. Com a ausência de regulamentação criou-se um ambiente propício para que operadoras de plano de saúde cometessem abusos, sendo numerosos os conflitos com usuários. O setor, no que diz respeito aos parâmetros de prestação de serviços, formou-se segundo suas regras, sem regulação ou regulamentação do Estado. Diante dessa omissão legislativa até o ano de 1998, surgiu uma divisão acerca da aplicação da legislação aos contratos celebrados após a entrada em vigor da Lei 9.656/98 e os celebrados anteriormente. 6 Antes da entrada em vigor da Lei dos Planos de Saúde, os contratos também eram divididos entre aqueles celebrados antes da vigência do Código de Defesa do Consumidor Lei 8078/90 e após a vigência destes. Os contratos celebrados antes da vigência do CDC, eram regulados pelo Código Civil, com exceção dos contratos de seguro saúde, que eram regulamentados pelo Decreto Lei 73/66. Por isso, é importante solucionar um conflito aparente de normas no tempo, devendo-se responder aos seguintes questionamentos: a) qual legislação deverá ser aplicada aos contratos celebrados antes da vigência do Código de Defesa do Consumidor? b) qual legislação deverá ser aplicada aos contratos celebrados após a vigência do Código de Defesa do Consumidor e antes da vigência da Lei dos planos de saúde? C) é possível aplicar o Código de Defesa do Consumidor e a Lei dos Planos de Saúde de maneira concomitante, em relação aos contratos celebrados após a edição da Lei nº 9.656/98? Em resposta à primeira pergunta, O Superior Tribunal de Justiça tem entendido que o Código de Defesa do Consumidor deverá ser aplicado aos contratos celebrados antes da sua vigência, por serem os contratos de planos de saúde contratos cativos, de trato sucessivo. O Código de Defesa do Consumidor foi um divisor de águas na defesa do usuário de planos de saúde diante das práticas restritivas de direito das operadoras de planos de saúde. Em vigor a nova lei, começou o debate acerca da sua aplicabilidade aos contratos anteriores a ela. Contratos anteriores à vigência do Código de Defesa do Consumidor. O Superior Tribunal de Justiça entende que o contrato de plano de saúde é contrato de trato sucessivo, caracterizado pela prestação continuada no tempo, sendo o Código de Defesa do Consumidor aplicável aos fatos que ocorreram após a sua entrada em vigor. 'a questão fundamental a ser dirimida é sobre a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, considerando que o contrato é anterior. Mas, na minha compreensão, esta terceira turma já decidiu eu nos contratos de execução continuada incide o Código de Defesa do Consumidor (Resp nº 331.860/RJ, DJ de 5/8/02), não sendo os fatos narrados anteriores, á sua vigência (...). No mesmo sentido ainda os Recursos Especiais 244.847/SP, 7 julgamento em 19/5/05, relator Ministro Pádua Ribeiro; 735.168/RJ e 986.947/RN, ambos julgados em 11/3/08 e relatados pela Ministra Nancy Andrighi. Para se dá um exemplo, suponha-se que um cidadão tivesse celebrado um contrato em 1975 e venha a pleitear algum direito no Poder Judiciário. Neste caso, seguindo o posicionamento do STJ, o julgador deverá aplicar o Código de Defesa do Consumidor, sob o argumento de que embora o contrato tivesse sido celebrado naquela data, houve uma renovação ano a ano do contrato, sendo ele um contrato cativo. Não é o caso de aplicar a Lei de Planos de Saúde, mas somente o CDC, salvo se o contratante tiver optado por aderir à nova lei. 8 3. TIPOS DE PLANO E SUAS COBERTURAS A Lei 9656/98, visando regulamentar os serviços oferecidos pelos planos de saúde, que até então ofereciam uma diversidade de planos, sem haver um plano standard, passou a estabelecer a existência de determinados planos considerados padrão. Foram estabelecidos cinco tipos de plano, que delimitam a cobertura a ser garantida pelo contratado: a) plano de seguro referência b) plano ambulatorial c) plano hospitalar d) plano hospitalar com obstetrícia e) plano odontológico. 3.1 Planos de seguro referência O plano de seguro referência é o plano mais completo. A inclusão desse serviço no artigo 10º da Lei 9656/98, teve a intenção de impor às contratadas o oferecimento de um serviço padrão, de modo que os consumidores pudessem comparar esse tipo de plano com os outros serviços fornecidos. Conforme leciona Nilza Rodrigues Almeida: O artigo 10 da Lei 9.656/98 estabelece o plano de seguro-referência. È o mais completo, inclui todas as doenças relacionadas pela Organização Mundial de Saúde, consultas e exames sem limitação de valor ou quantidade. O tratamento será realizado somente no Brasil; quando necessária à internação hospitalar, o padrão será enfermaria ou centro de tratamento intensivo. O plano inclui consultas e exames sem limitação de valor e quantidade. (...) O plano-referência não exclui doenças, todavia, exclui tratamentos como: clínico ou cirúrgico experimental: procedimento clínico para fins estéticos; inseminação artificial; tratamento de rejuvenescimento ou emagrecimento com finalidade estética; fornecimento de medicamentos tanto para tratamento domiciliar como medicamentos importados, fornecimento de próteses, órteses e seus acessórios não ligados a ato cirúrgico; procedimentos odontológicos, salvo o conjunto de serviços voltados à prevenção e manutenção básica da saúde dentária; tratamentos ilícitos ou antiéticos; casos de cataclismos, guerras e comoções internas. Observa-se que o plano de seguro referência é um plano que engloba todas as espécies de doenças, mas não todos os tiposde procedimento. Há limites que são excepcionados no próprio artigo e que serão expostos em tópico específico, 9 quando da análise das práticas abusivas. Ressalte-se, por fim, que as operadoras são obrigadas a fornecer esse tipo de plano, com exceção das empresas que mantêm sistema de assistência à saúde por autogestão e empresas que operem somente planos odontológicos. 3.2 Negativas de cobertura de doenças e procedimentos Os contratos celebrados após vigência da Lei 8656/98 não são de gerar polêmica quanto à cobertura de doenças, pois o artigo 10º da Lei é expresso ao dispor que as doenças listadas na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde da Organização Mundial de Saúde deverão estar inseridas na cobertura dos planos de saúde. Dessa forma, por haver previsão literal, os planos não poderão se negar a cobrir eventos relacionados às doenças enquadradas naquela relação. Qualquer cláusula contratual que disponha de forma diversa deverá ser considerada abusiva e caso haja a ocorrência de alguma doença não prevista no rol, o usuário poderá ingressar no Poder Judiciário visando à cobertura, com base nos princípios da proporcionalidade, a depender do caso em concreto. O foco do problema, todavia, está nos contratos que foram celebrados antes da vigência da lei, pois em alguns desses contratos há previsão expressa de que certas doenças não poderão ser cobertas pelo plano. Tal problemática, todavia, que a princípio é complicada, poderá ser solucionada facilmente, uma vez que conforme já fora esposado, o Código de Defesa do Consumidor deverá ser aplicado aos contratos firmados antes da vigência da Lei 9656/98. Esse posicionamento já é adotado pelo Superior Tribunal de Justiça, que entende serem os contratos de plano de saúde contratos cativos de trato sucessivo. Assim sendo, qualquer cláusula que vede a cobertura de doenças catalogadas no Cadastro Internacional de Doenças deverá ser considerada abusiva. O próprio STJ já julgou casos nos quais se visava declarar abusiva cláusula que restringia o atendimento de usuários com o vírus da AIDS e outras doenças infectocontagiosas e entendeu serem abusivas tais cláusulas. Conforme relata TRETTEL "Na análise dos julgados referentes à cobertura de AIDS e outras doenças infectocontagiosas verifica-se a tendência do STJ de 10 considerar abusiva cláusula contratual que exclui a cobertura de determinada doença". No que tange à negativa na realização de procedimentos, tem-se uma questão mais complexa, uma vez que a própria Lei, em seu artigo 10º já exclui a cobertura de certos procedimentos. Transcreve-se: Art. 10º (...) respeitadas as exigências mínimas estabelecidas em lei, exceto: I- tratamento clínico ou cirúrgico experimental; II - procedimentos clínicos ou cirúrgicos para fins estéticos, bem como órtoses e próteses para o mesmo fim; II- inseminação artificial; IV - tratamento de rejuvenescimento ou de emagrecimento com finalidade estética; V - fornecimento de medicamentos importados não nacionalizados; VI fornecimento de medicamentos para tratamento domiciliar; VII - fornecimento de próteses, órteses e seus acessórios não ligados ao ato cirúrgico; IX - Tratamentos ilícitos ou antiéticos, assim definidos sob o aspecto médico, ou não reconhecidos pelas autoridades competentes; X casos de cataclismos, guerras e comoções internas, quando declarados pela autoridade competente" Transcritas as exceções, surge uma pergunta: seriam tais exceções numerus clausus ou os planos de saúde poderiam excluir da cobertura outros tipos de procedimentos ou outras hipóteses nas quais seria restrita a cobertura? Entende-se que sejam cláusulas fechadas, pois a intenção do legislador fora prever os casos em espécie, em que seria possível negar a cobertura. Ademais, a razão de o Estado editar a Lei em estudo fora intervir nos abusos e por um marco regulatório no setor. O posicionamento do Superior Tribunal de Justiça leva a concluir que se tratam realmente de cláusulas fechadas pois as demandas levadas àquela Corte, no que tange à cobertura de procedimentos relacionados à angioplastia, parto cesariana, quimioterapia, hemodiálise e fisioterapia obtiveram decisões favoráveis ao consumidor, em razão de tais procedimentos não estarem previstos dentro das exceções. Nas decisões analisadas do STJ foram identificados casos referentes à negativa dos procedimentos de angioplastia (RESP 399.585/MG, julgamento em 23/4/02, relator Ministro Ruy Rosado de Aguiar), parto cesariano (RESP 11 341.528/MA, julgamento em 3/3/05, relator Ministro Barros Monteiro) quimioterapia (RESP 668.216/SP, julgamento em 15/3/07, relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito), hemodiálise, (RESP 541.339/SP, julgamento em 4/1/03, relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito) e fisioterapia (RESP 439.410/SP, julgamento em 10/12/02, Relator Ministro Carlos Alberto Meneses Direito). Em todas essas demandas, a tutela requerida pelo usuário foi conferida, garantindo-se a cobertura do procedimento. Todavia, é importante relatar que uma grande polêmica recai sobre a cobertura dos procedimentos relativos à realização de transplantes e procedimentos de alta complexidade. “Dispõe o parágrafo 4º do art 10º da Lei 9656/98: A amplitude das coberturas, inclusive de transplantes e de procedimentos de alta complexidade, será definida pela ANS” uma vez que se trata de um ponto delicado da Lei 985656. Observa-se que a previsão encastelada nesse dispositivo abre a possibilidade de uma dupla interpretação: a ANS poderá prever casos excluindo da cobertura determinados exame ou só poderá versar sobre a amplitude das coberturas em determinados exames? Entende-se que a finalidade do dispositivo é deixar para a ANS a regulamentação da cobertura e não estabelecer as restrições quanto à cobertura, sob pena de violação ao princípio da legalidade. Todavia, não é essa a posição da ANS que possui resolução prevendo quais são os transplantes cobertos pelas operadoras, conforme cita TRETTEL: A discussão sobre a possibilidade de exclusão de cobertura de transplante ganho relevo se considerar que mesmo os contratos novos possuem esse tipo de exclusão. Segundo a Resolução Normativa 167/08 da ANS, que lista os procedimentos de cobertura obrigatória pelos planos de saúde, são necessariamente cobertos os transplantes de rim, córnea, e autólogo de medula óssea. Os demais procedimentos, dentre eles o de coração, fígado e heterólogo de medula óssea, permanecem fora do rol de coberturas obrigatórias 12 3.3 Doenças preexistentes e necessidade ou não de realização de exame prévio Sabe-se que a Lei 9656/98 prevê que as operadoras estão autorizadas a negar a cobertura de atendimento durante os 24 (vinte e quatro) meses, no caso de doenças preexistentes: Art. 11. É vedada a exclusão de cobertura às doenças preexistentes à data de contratação dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei após vinte e quatro meses de vigência do aludido instrumento contratual, cabendo à respectiva operadora o ônus da prova e da demonstração do conhecimento prévio do consumidor ou beneficiário. Parágrafo único. È vedada a suspensão da assistência à saúde do consumidor ou beneficiário, titular ou dependente, até a prova de que trata o caput, na forma da regulamentação a ser editada pela ANS" Não é necessário discutir sobre a possibilidade de a operadora se negar a fornecer a cobertura, no caso de doença preexistente, nos primeiros 24 (vinte e quatro) meses do contrato, pois há previsão legal quantoa essa possibilidade, sendo legítima a negativa por parte da operadora. Todavia, a pergunta a ser feita é se a operadora poderá se negar a efetivar a cobertura sem que tenha sido feito um exame prévio no usuário, quando da celebração do contrato. Os defensores da necessidade de realização prévia do exame sustentam que seria injusto que o consumidor, geralmente leigo no assunto, firmasse o contrato, pagasse a mensalidade durante vários meses e quando necessitasse do plano tivesse uma negativa. Sustentam que a doença preexistente deveria estar prevista quando da celebração do contrato, para que o consumidor não fosse tomado de surpresa. De outra banda, os que sustentam não ser necessária a realização do exame, afirma que não se pode desconsiderar a má-fé do consumidor, que sabia da doença ou lesão pré-existente e não comunicou ao plano. 3.4. Suspensão ou rescisão contratual de forma arbitrária. As operadoras de plano de saúde não estão obrigadas a aturar a inadimplência dos usuários, pois do contrário, se tornaria inviável a exploração da atividade econômico, nesse sentido. 13 Porém, por ser um serviço de relevância pública, que envolve a integridade física e até a vida das pessoas, o legislador trouxe restrições quanto à suspensão ou rescisão contratual, no caso de inadimplência por parte dos usuários. Dispõe o artigo 13 da Lei 9656/98: Art. 13. Os contratos de produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei têm renovação automática à partir do vencimento do prazo inicial de vigência, não cabendo a cobrança de taxas ou qualquer outro valor no ato da renovação. Parágrafo único. Os produtos de que trata o caput , contratados individualmente, terão vigência mínima de um ano, sendo vedadas: i- a recontagem de carências II - a suspensão ou a rescisão unilateral do contrato, salvo por fraude ou não-pagamento da mensalidade por período superior a sessenta dias, consecutivos ou não, nos últimos doze meses de vigência do contrato, desde que o consumidor seja comprovadamente notificado até o quinquagésimo dia de inadimplência; e III- a suspensão ou a rescisão unilateral do contrato, em qualquer hipótese, durante a ocorrência de internação do titular. Da leitura do dispositivo, afere-se que é ilícito suspender o fornecimento da cobertura, no caso de atraso de pagamento inferior a sessenta dias, seguidos ou não durante doze meses. Além disso, é necessário que haja uma notificação prévia do usuário no quinquagésimo dia de inadimplência. Sem todas essas formalidades, será ilícito ao contratado suspender o fornecimento do serviço. Outro ponto que merece comentário é a impossibilidade de se suspender o serviço quando do internamento do usuário. Nesse caso, mesmo estando em inadimplência, que supere o prazo, o usuário não poderá ser retirado do internamento. 14 4. AUTAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO Sabe-se que o Ministério Público, após a Constituição Federal de 1988, passou a ser a instituição responsável pela defesa dos direitos individuais indisponíveis e dos direitos difusos dos cidadãos. Na visão constitucional, percebe-se que o Ministério Público passou a ser o "porto seguro" da sociedade, uma vez que obteve status de instituição autônoma e independente e os seus membros passaram a dispor das mesmas garantias e prerrogativas dos membros do Poder Judiciário. No âmbito das relações de consumo, o Ministério Público passou a ter atuação relevante, uma vez que o Direito do Consumidor é um direito difuso, que atinge uma quantidade indeterminada de sujeitos. Por essa razão, necessário discorrer sobre a atuação dessa instituição autônoma e permanente, responsável pela defesa do Direito Difuso do Consumidor quando da ocorrência de práticas abusivas nos contratos de plano de saúde. 4.1 Atuações judicial e extrajudicial do Ministério Público: Alguns estudiosos, ao discorrer sobre a atuação do parquet nas lides coletivas, discorrem de forma exaustiva sobre a resolução judicial dos conflitos, todavia, esquecem-se de se atentar para o fato de que muitos conflitos podem ser solucionados sem a necessidade de ingresso com uma demanda no Poder Judiciário. A atuação do Ministério Público de forma resolutiva, ou seja, sem a necessidade de ingresso com demanda judicial vem sendo apresentada como uma nova linha de atuação ministerial e tem sido exitosa. Conforme leciona Leonardo Barreto Moreira: Uma vez compreendido que o Ministério Público pode ter atuação classificada como demandista (quando busca o Poder Judiciário) ou resolutiva (quando resolve internamente determinado problema a partir de seus instrumentos e prerrogativas sem necessidade de provocação da prestação jurisdicional), a doutrina institucional progressista, constitucionalmente oxigenada, tem acentuado a necessidade de se estimular o desempenho desse segundo papel, quer pela morosidade infelizmente usual do Poder Judiciário na 15 atenção à tutela coletiva, quer, sobretudo, pelo caráter democrático, fortalecimento e valorização das próprias atribuições do Ministério Público quando se consegue obter bons resultados para a sociedade. 4.2 Envio de Ofícios solicitando informações e realização de audiências públicas. O envio de Ofício aos fornecedores requerendo esclarecimentos é o primeiro passo adotado pelo Ministério Público, quando da ciência de irregularidades. Tal medida, embora pareça um mero ato de requisição de informações pode ser útil e até sanar pequenas irregularidades. Além disso, através desse expediente, o Ministério Público irá obter informações originárias do próprio fornecedor, que poderão servir de instrumento de prova da eventual prática abusiva. Assim leciona Moreira: É por meio de ofício que se comunicam aos órgãos internos a abertura desses expedientes, bem como por intermédio deste instrumento que se viabiliza a instrução das investigações, incluindo a imprescindível diligência de serem requisitados documentos para exame e apreciação, entre outros atos. Com base nessas informações o Órgão Ministerial poderá designar a realização das audiências públicas, que registra-se, é um dos grandes instrumentos de aproximação do Ministério Público com a sociedade, conforme se transcreve do mesmo doutrinador: Na função de defesa do povo e da sociedade civil (ombudsman), dentro das atribuições extrajudiciais de fiscalização e tomada de providências em relação a poderes constituídos ou autoridades, inevitável que a prática e realização de reuniões e audiências públicas revelem espaços e compromissos constantes, Necessários e úteis ao bom desempenho das atribuições extrajudiciais do Ministério Público. Durante as audiências públicas será possível coletar uma maior quantidade de dados e provas necessárias à instrução dos procedimentos administrativos e apreender informações técnicas de entidades participantes da audiência. Além disso, durante a realização das audiências públicas é possível que os fornecedores se comprometam a solucionar o descumprimento das suas obrigações, 16 realizando termos de ajustamento de conduta, instrumento que a seguir será explanado. 4.3. Recomendações Administrativas: A Recomendação Administrativa, em síntese, trata-se de peça narrativa e argumentativa na qual o Ministério Público emite posição e orientação em determinado sentido, alertando e advertindo o destinatário da medida de que o descumprimento do comportamento cobrado e exigido implicará na adoção das providências cabíveis dentro das atribuições ministeriais" (2010, p. 35). Havendo prática abusiva por partedos fornecedores de plano de saúde é possível que uma Recomendação Administrativa seja suficiente para a solução do impasse. Pode-se dar um exemplo: suponha-se que os hospitais conveniados ao plano exijam dos usuários comprovante de pagamento, quando da realização de algum procedimento, negando-se a fornecer o serviço, quando o consumidor estiver em débito. Ora, conforme já se discorreu, para que o consumidor seja impedido de fruir o atendimento, é necessário que esteja em débito por mais de 60 (sessenta dias) corridos ou ao longo do ano e deverá haver uma notificação para que o serviço seja suspenso. Só após a superação dessas etapas é que será possível ao plano negar o custeio do atendimento. Nesse caso, será viável a expedição de uma recomendação, a ser afixado nos hospitais conveniados, o que deixará ciente tanto o consumidor dos seus direitos, quanto aos hospitais das suas obrigações. É bom frisar que as Recomendações Administrativas não são meras cartas de orientação, mas possuem um conteúdo cogente, uma vez que deixam expressa a obrigação do fornecedor e no caso de descumprimento, deixa patente que o fornecedor está praticando uma conduta abusiva, apesar de devidamente notificado. 17 4.4. Ação Civil Pública A Ação Civil Pública é uma medida Jurisdicional de solucionar o litígio, quando não mais for possível a resolução extrajudicial do litígio. É a medida mais conhecida, sobretudo porque é a mais relatada nos trabalhos acadêmicos. Por essa razão, não se faz necessário discorrer com profundidade sobre o tema, sob pena de se tornar repetitivo. A Ação Civil Pública está prevista na Lei 7347/85 e trata-se de uma Ação que visa proteger os direitos difusos e coletivos, tanto é assim que o cidadão individualmente não possui legitimidade para ajuizá-la, mas somente as associações e o Ministério Público. No caso de haver a ocorrência de práticas abusivas pelos fornecedores de serviços de plano de saúde, após esgotadas as tentativas extrajudiciais, aconselhável o ingresso co a ACP buscando inclusive a tutela inibitória com fixação de multa em caso de descumprimento. 18 5. CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL Para se definir o que vem a ser responsabilidade civil, antes de tudo, reputa- se importante, prestar atenção aos ensinamentos de Cavalieri Filho que afirma que “o principal objetivo da ordem jurídica, é proteger o lícito e reprimir o ilícito, ao mesmo tempo em que ela se empenha em tutelar a atividade do homem que se comporta de acordo com o Direito, reprime a conduta daquele que o contraria.” 5.1 Da Responsabilidade Civil A responsabilidade civil inicia sua evolução em um período onde os danos causados eram compensados através de retaliações ao causador, impostos unilateralmente pelos lesados, sem qualquer tipo de delimitação subjetiva ou relação de proporcionalidade entre dano e reparação, era a chamada justiça privada. Nos primórdios de sua aplicação, segundo Kfouri Neto, “inexistia um conceito de culpa, num sentido jurídico moderno, vigorava responsabilidade objetiva coincidente com a noção atual”, ou uma diferenciação no conceito de responsabilidade penal e de responsabilidade civil, portanto, aplicava-se a Lei de Talião independentemente do dano causado. Francês de 1804. Tal codificação exerceu grande influência nas codificações supervenientes, como o Código Civil Alemão e o Código Civil Brasileiro de 1916. Dentro deste novo contexto, de maior racionalização do sistema de reparação de danos, tem-se o que se denomina de teoria clássica da responsabilidade civil, ou como é mais conhecida, a regra da responsabilidade civil subjetiva, aqui consagrada e sob grande influência do direito romano, previa o artigo 159 do antigo Código Civil de 1916, que: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar dano a outrem, fica obrigado a reparar o dano”. Nosso, conhecido Novo Código Civil de 2002, ratificou a preservação da já consagrada responsabilidade civil fundada na culpa, transcrevendo praticamente o que previa o antigo diploma supracitado, artigo 186: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” “Civil – Plano de Saúde – Contrato que Restringe a Cobertura de Despesas – Mamoplastia – Cláusula Abusiva – Nulidade Decretada”. 19 É abusiva a cláusula contratual que exclui da Cobertura determinado procedimento médico necessário, pois, embora não ponha o consumidor em desvantagem extrema, restringe-lhe direitos inerentes à natureza do contrato, a ponto de tornar-se impraticável a realização de seu objeto, nos exatos termos do artigo 51, §1º, inciso II, do Código de Defesa do Consumidor. 2. Ademais, as cláusulas restritivas, que impeçam o restabelecimento da saúde em virtude de doença sofrida, atentam contra a expectativa legítima do consumidor quanto ao plano de saúde contratado”. Modalidades de Responsabilidade Civil – Noções Básicas É sabido, como anteriormente explanado, que a responsabilidade civil consiste fundamentalmente no dever jurídico de reparar o dano causado à vítima, e ainda, que a sua função é restabelecer, nos ensinamentos de Cavalieri Filho “[...] o equilíbrio jurídico-econômico anteriormente existente entre o agente e a vítima, recolocando o prejudicado no stato quo ante”. 5.2 Responsabilidade contratual Sabe-se que tanto na responsabilidade contratual quanto na extracontratual, há a violação, rompimento do dever jurídico preexistente, contudo, deve-se distinguir a sede desse dever. Para Gomes: “a responsabilidade contratual é a que provém da falta de cumprimento ou da mora no cumprimento de qualquer obrigação, ou de um dever jurídico especial. A extracontratual, por seu turno, é a que resulta da violação de um dever jurídico geral, como aqueles que correspondem aos direitos reais e aos direitos de personalidade.” Para Cavalieri Filho: “Haverá responsabilidade contratual quando o dever jurídico violado (inadimplemento ou ilícito contratual) estiver previsto no contrato. A norma convencional já define o comportamento dos contratantes e o dever específico a cuja observância ficam adstritos. E como o contrato estabelece um vínculo jurídico entre os contratantes, costuma-se também dizer que na responsabilidade contratual já há uma relação jurídica preexistente entre as partes (relação jurídica, e não dever jurídico, preexistente, porque este sempre se faz presente em qualquer espécie de responsabilidade). Haverá, por seu turno, responsabilidade extracontratual se o dever jurídico violado não estiver previsto no contrato, mas sim na lei ou na ordem jurídica.” 20 5.3 Responsabilidade contratual e extracontratual Como o próprio título diz, a responsabilidade contratual advém de um contrato firmado entre as partes convergindo para um fim comum. No entanto, para que haja responsabilidade contratual o mesmo deve ser descumprido total ou parcialmente, é o conhecido ilícito contratual ou inadimplemento do mesmo. Tem-se sedimento que a responsabilidade contratual se dá quando há infração de um dever estabelecido pela vontade das partes contratantes, em virtude disso, se fala de relação obrigacional preexistente. Nos dizeres de Savatier CAVALIERI FILHO, responsabilidade contratual consiste na “inexecução previsível e evitável, por uma parte ou seus sucessores, de obrigação nascida de contrato, prejudicial à outraparte ou seus sucessores”. A limitação de cobertura do plano de saúde é possível desde que atendidos os pressupostos legais e haja previsão clara, precisa e destacada no contrato. Entende- se por abusiva a cláusula contratual que exclui tratamento prescrito para garantir a saúde ou a vida do beneficiário, por que o plano de saúde pode estabelecer as doenças que terão cobertura, mas não o tipo de terapêutica indicada por profissional habilitado na busca da cura. Contudo, há de se esclarecer que a empresa operadora de plano de saúde não pode se utilizar da referida cláusula contratual a fim de obstar tratamento médico de urgência, ou necessário ao restabelecimento da saúde do paciente, o que afrontaria por outro lado, a própria finalidade do contrato firmado. Vale destacar que as empresas prestadoras de planos de saúde não possuem o condão de determinar qual método a ser aplicado em cada paciente, atribuição dos médicos contratados e cooperados. Da mesma sorte, não podem referidas empresas limitarem determinados tratamentos, de modo que sejam as vias necessárias à melhora do paciente. A recusa exarada pela empresa de plano de saúde é ilegal e injusta, pois a não realização do exame pode acarretar danos à saúde do consumidor, deixando de se investigar doenças, a exemplo do presente caso. Agravo regimental conhecido e não provido. Decisão inalterada. “SEGURO - contrato firmado antes da vigência da Lei n" 9.656/98, com prazo determinado - Incidência da nova sistemática, por força de sua renovação anual e automática, inexistindo comprovação de que tenha sido oportunizada ao aderente a adaptação prevista no art. 35, § I", da nova Lei - Ausência de violação ao ato jurídico 21 perfeito e à irretroatividade das leis. PLANO DE SAÚDE - SUBSTITUIÇÃO DE prótese DE QUADRIL - Nulidude da cláusula contratual excludente de cobertura para o fornecimento de próteses e órteses de qualquer natureza - Ocorrência - Existência de vedação, no art. 10, VII, da Lei 9.656/98, de exclusão do fornecimento de próteses, órteses e seus acessórios desde que ligados ao ato cirúrgico - Material ligado ao ato cirúrgico - Cláusula, ademais, que deve ser interpretada favoravelmente ao consumidor - Abusividade - Configuração - Violação do equilíbrio contratual e da boa- fé objetiva - Cláusula que coloca a consumidora em desvantagem exagerada ao se ver impedida, no momento oportuno, de receber o tratamento ortopédico de que necessita - Descumprimento do dever anexo de informação, impossibilitando à aderente de ter pleno conhecimento do teor do contrato e das exclusões de responsabilidade - Precedentes jurisprudenciais, inclusive da Câmara - Inteligência dos arts. 46,47 e 51, IV, da Lei n" 8.078/90 - Sentença mantida - Apelo a que se nega provimento” – grifos e ressaltes nossos. “PLANO DE SAUDE - Exclusão - Não excluindo o Plano de Saúde a doença, não podem ser excluídos os procedimentos necessários ao tratamento - É abusiva a pretensão de excluir procedimentos que não sejam de cobertura obrigatória imposta pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) - Recurso não provido”. Por outro lado, é de rigor pontuar que a negativa de cobertura de prótese SÓ É ADMITIDA QUANDO SE DESTINA A FINS MERAMENTE ESTÉTICOS OU NÃO TEM TÊM RELAÇÃO COM O PROCEDIMENTO CIRÚRGICO. Informada de que não seria atendida pelo plano de saúde na necessidade da implantação de uma prótese ortopédica, Q. A.T. M. moveu uma ação judicial contra a Unimed de Presidente Prudente. Após conquistar o ressarcimento em primeira instância, a usuária teve seus direitos garantidos pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), que negou recurso da empresa contra a decisão. A Unimed havia recorrido alegando existir uma cláusula contratual que desobrigava a empresa a implantar a prótese. Porém, para o TJ, ficou configurada abusividade, citando que para eficácia do procedimento cirúrgico era necessária a implantação de uma prótese total no joelho direito da usuária. Segundo o Tribunal, a cláusula somente é admissível “desde que não ligada ao ato cirúrgico”. Portanto, as despesas com reabilitação e colocação de prótese, quando o tratamento decorre lógica e naturalmente da intervenção cirúrgica realizada, deverão ser cobertas. “Assim 22 é que para a eficácia do procedimento cirúrgico realizado, era necessária a implantação de uma prótese total no joelho direito da autora, que não estaria incluída na cobertura do contrato. No entanto, se o procedimento cirúrgico realizado estava coberto pelo convênio, também a prótese estará, na medida em que é indispensável para o sucesso da cirurgia”, diz o relator Edson Luiz de Queiroz, em acórdão. Agora, a Unimed terá que realizar o pagamento das despesas, com os valores atualizados monetariamente, além de acréscimo de juros em 1%. 5.4 Responsabilidade subjetiva e objetiva: Conhece-se que a responsabilidade civil subjetiva tem como seu alicerce a culpa, como diz Cavalieri Filho “a ideia de culpa está visceralmente ligada à responsabilidade, por isso que, de regra, ninguém pode merecer censura ou juízo de reprovação sem que tenha faltado com o dever de cautela em seu agir. Daí ser a culpa, de acordo com a teoria clássica, o principal pressuposto da responsabilidade.” Conforme leciona o autor, a responsabilidade civil subjetiva fundamenta-se na culpa desde o Código Antigo e mantido no Atual Código Civil, veja que culpa é empregada em sentido amplo, latu sensu, não deixando de indicar a culpa em sentido estrito, stricto sensu, como também, o dolo. Nesse diapasão, tem-se que o ofendido só conseguirá obter a reparação de seu dano caso consiga provar a culpa do ofensor. Entretanto, tarefa árdua é para o ofendido provar a culpa do ofensor, nem sempre é possível prová-la, conforme se desenvolve a sociedade, principalmente no aspecto industrial, tecnológico, assim como advém o aumento desenfreado da população, surgem novas situações que merecem amparo jurídico, mas, contudo, não podem ser amparadas pelo conceito clássico, tradicional de culpa, rebuscada com toda a teoria subjetivista. Daí surgir a responsabilidade civil objetiva, alcançada, principalmente, pelos estudiosos do assunto na França, que, parafraseando os dizeres do professor Arnaldo Rizzardo, que em comparação à responsabilidade subjetiva, o único pressuposto a ser retirado é a culpa, não apenas pela dificuldade de ser apurada em certas situações, mas porque a atividade ou o trabalho importa em indenizar se desencadear algum dano. Depara-se, então, com a teoria do risco ou teoria do risco criado, muito 23 comum em profissões que envolvem perigo, e que tem implícito na sua execução a probabilidade de dano. 5.5 Responsabilidade civil nas relações de consumo: Face ao cumprimento do que dispõe a Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XXXII, que diz: “O Estado promoverá, na forma da lei, a Defesa do Consumidor”, é que surge em 11 de setembro de 1990 a Lei 8078, intitulada de ‘Código de Defesa do Consumidor’. Tal dispositivo provocou grande mudança na responsabilidade civil, criando um novo ramo desta disciplina, qual seja, responsabilidade civil nas relações de consumo. Tal avanço é percebido, pois quase tudo pertencente ao dia-a-dia envolve consumo. Portanto, o Código de Defesa do Consumidor passou a ter um campo de atuação mais abrangente que a própria responsabilidade subjetiva, uma vez que se funda na responsabilidade objetiva, sobretudo fundada conforme leciona Cavalieri Filho (2003, p. 40) “dever e segurança do fornecedor em relação aos produtos e serviços lançados no mercado de consumo”.24 6 RELAÇÃO DE CONSUMO Relação de consumo, conforme diz Rizzardo “a primeira ideia que se extrai da doutrina é a aquisição do bem para utilizá-lo em uso próprio, na qualidade de destinatário final”. RIZZARDO: “Pode-se inferir que toda relação de consumo: a) envolve basicamente duas partes bem definida: de um lado, o adquirente de um produto ou serviço (consumidor), e, de outro, o fornecedor ou vendedor de um produto ou serviço (produtor/fornecedor)”; b) tal relação destina-se à satisfação de uma necessidade privada do consumidor; c) “o consumidor, não dispondo, por si só, de controle sobre a produção de bens de consumo ou prestação de serviços que lhe são destinados, arrisca-se a submeter-se ao poder e condições dos produtores mesmos bens e serviços”. 6.1 Consumidor Em uma análise rápida e concisa, podemos definir como consumidor nas palavras de Filomeno (2004, p. 28) “qualquer pessoa, natural ou jurídica, que contrata, para utilização, a aquisição de mercadoria ou a prestação de serviço, independentemente do modo de manifestação da vontade, isto é, sem forma especial, salvo quando a lei expressamente a exigir”. Da mesma forma, em seu artigo 2º, o Código de Defesa do Consumidor define fornecedor como “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. 6.2 A Nova Lei e o Código de Defesa do Consumidor Entendimentos do Superior Tribunal de Justiça e também do Supremo Tribunal Federal, demonstram que o Código de Defesa do Consumidor não se aplica aos contratos firmados antes de sua vigência. No entanto, os contratos de planos e seguro-saúde possuem características distintas, pois, conforme esclarecido anteriormente são contratos de trato sucessivo, os efeitos jurídicos dos contratos dessa natureza perpetuam-se no tempo, havendo continuidade. Isso se deve ao princípio da conservação dos contratos de consumo de 25 longo prazo, ou, na terminologia apresentada por Cláudia Lima Marques "contratos cativos de consumo". Nesse passo, verifica-se que o contrato de seguro não é mero negócio jurídico com prazo indeterminado, mas sim um negócio que se renova de tempos em tempos uma vez que o prêmio corresponde à cobertura securitária que a operadora de seguros dispõe ao segurado em sua atualidade. Além disso, tais contratos devem ser amparados pelo Código de Defesa do Consumidor, ainda quando celebrados anteriormente a sua vigência (11 de março de 1991), em face da hierarquia constitucional de garantia à defesa dos interesses dos consumidores. Cláudia Lima Marques:"Ao garantir aos consumidores a sua defesa pelo Estado criou a Constituição uma antinomia necessária em relação a muitas de suas próprias normas, flexibilizando-as, impondo em última análise uma interpretação relativizada dos princípios em conflito, que não mais podem ser interpretados de forma absoluta ou estaríamos ignorando o texto constitucional." Portanto, tendo sido o contrato renovado sob a égide do Código de Defesa do Consumidor, embora o contrato tenha sido firmando antes de sua vigência, não há como afastar a incidência das disposições nele previstas. Quanto aos contratos firmados na vigência do Código de Defesa do Consumidor não pairam dúvidas sobre sua aplicação. No que tange a Lei 9.656/98, lei especial que trata dos planos e seguros privados de assistência a saúde, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal considera que a nova lei não se aplica aos contratos assinados antes de sua entrada em vigor. Tal entendimento tem como fundamento as garantias constitucionais quanto ao ato jurídico perfeito e direito adquirido. Dessa forma, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor recebe uma nova luz com a definição de abuso e cláusulas abusivas trazidas pela Lei 9.656/98, ou seja, a nova lei é usada para facilitar a aplicação e concreção das normas já previstas no Código de Defesa do Consumidor, mesmo aos contratos anteriores, se nestes estiverem as cláusulas consideradas abusivas. Entre as cláusulas consideradas abusivas encontram-se aquelas que: 26 (i) determinem aumentos de prestações nos contratos de planos e seguro de saúde, firmados anteriormente à Lei 9.656/98, por mudanças de faixa etárias sem previsão expressa definida; (ii) Imponham, em contratos de planos de saúde firmados anteriormente à Lei 9.656/98, limites ou restrições a procedimentos médicos (consultas, exames médicos, laboratoriais e internações hospitalares, UTI e similares) contrariando prescrições médicas. 27 7. DA BOA FÉ NOS CONTRATOS DE PLANO DE SAÚDE Na primeira hipótese, o Código de Defesa do Consumidor estabelece em seu art. 6º, com direito básico do consumidor, o direito a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, qualidade e preço. Portanto, deve a empresa informar o consumidor sobre o aumento do preço do plano por faixa etária quando da escolha do plano, pois o texto do contrato também é informação. A não informação e a cláusula que permite tais aumentos posteriores, bem como alterar o percentual de aumento de forma unilateral desequilibram o contrato e violam a boa-fé, nos termos do art. 51, IV, do Código de Defesa do Consumidor3. A cláusula geral de boa-fé objetiva encontra-se implícita em nosso ordenamento jurídico antes da vigência do Código de Defesa do Consumidor e do Código Civil de 2002, mas explicitadas a partir desses marcos legislativos, vem sendo entendida como um dever de conduta que impõe lealdade aos contratantes e também como um limite ao exercício abusivo de direitos. Na segunda hipótese a cláusula de boa-fé tem importância ainda maior, pois trata das cláusulas limitadoras dos direitos dos consumidores, as quais, nos termos do art. 54 do Código de Defesa do Consumidor4, devem ser redigidas com destaque permitindo sua imediata e fácil compreensão. Nos contratos anteriores a Lei 9.656/98, os quais representam ainda uma grande parcela dos contratos de “planos de saúde” adquiridos por consumidores e ainda vigentes, comumente previam limites ou restrições a procedimentos médicos (consultas, exames médicos, laboratoriais), limitando internações hospitalares, a permanência em UTI’s e similares, tais cláusulas contratuais são nulas por serem contrárias â boa-fé. As cláusulas que implicam limitações, nas condições apresentadas, pode ser considerada inválida consoante os art. 51, § 1º, inciso II, do CDC, porque restringe direitos ou obrigações inerentes à natureza do contrato ao afrontar seu próprio objeto, e por aplicação do art 51, inciso IV, do CDC, pois coloca o segurado em desvantagem exagerada em relação à seguradora. STJ, Súmula nº 469 – Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde. 28 (3) A melhor solução aqui seria a tentativa de um acordo extrajudicial, aonde não houvesse necessidade de uma demanda judicial. Porém, se acaso não houver acordo com a operadora de planos de saúde, haveria a necessidade de entrar com uma ação de abuso na cláusula contratual. Sendo que no entendimento do caso aqui apresentado, o fato de não dar cobertura de material de prótese para cirurgia do joelho contraria o próprio objeto contratado pelo consumidor pois, de um lado, existe cláusula contratual que assegura a cobertura para o procedimento cirúrgico necessitado pelo consumidor e, de outro, existe cláusula que veda a cobertura para o material que justifica tal procedimento.Uma cirurgia de colocação de prótese de quadril, por exemplo, é denominada artroplastia de quadril, assim como a de joelho (artroplastia do joelho), sendo assim, tal procedimento não tem razão de existir sem a prótese. Não existe artroplastia sem prótese. Ao negar a cobertura para o material de prótese, a operadora de saúde nega autorização para o próprio procedimento cirúrgico, cuja cobertura está assegurada junto a cobertura de todos os outros materiais. E as disposições contratuais, principalmente as impostas de forma unilateral, como ocorrem nos contratos de adesão, devem ser interpretadas sempre em favor do consumidor, conforme prevê o artigo 47 do Código de Defesa do Consumidor. A negativa de cobertura desse material também representa prática de conduta abusiva, pois exige vantagem excessiva do consumidor, nos moldes do artigo 39 da Lei n. 8.078/90. E, sendo abusiva a cláusula que exige vantagem excessiva do consumidor, restringe direitos e obrigações contratualmente assegurados e, ainda, inerentes à natureza do contrato, nula é a sua disposição, conforme dispõe o artigo 51, IV e § 1º, II, da referida lei do consumidor. Também deve ser observado que, conceder direito ao tratamento cirúrgico e vedar o acesso ao material necessário para propiciar o adequado atendimento demonstra flagrante defeito na prestação do serviço, tal como destaca o artigo 14 da Lei 8.078/90. Também é importante destacar que o Tribunal de Justiça de São Paulo sumulou o entendimento de que: “SÚMULA 93: A IMPLANTAÇÃO DE “STENT” É ATO INERENTE À CIRURGIA CARDÍACA/VASCULAR, SENDO ABUSIVA A NEGATIVA 29 DE SUA COBERTURA, AINDA QUE O CONTRATO SEJA ANTERIOR À LEI 9.656/98.” O entendimento sumulado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo foi de fundamental importância para tornar uniforme a jurisprudência no Estado de São Paulo. Mesmo diante de maciça jurisprudência, ainda existiam alguns (poucos) magistrados que Demostravam o entendimento de que, havendo previsão expressa de cobertura de tais materiais, não haveria ilegalidade ou abusividade. Com a edição da Súmula 93, as decisões judiciais no Estado de São Paulo passaram a ser uniformes, ainda que Juízes e Desembargadores entendessem a matéria de forma distinta. Sendo assim, já temos um entendimento pacífico sobre o assunto, o plano de saúde tem obrigação de cobrir o material da prótese quando dada a cobertura pela cirurgia de artroplastia, já que se há cobertura para tal procedimento, ele perderia seu objeto a partir do momento que não a cobertura para prótese. 30 8. TUTELA PROVISÓRIA E O NOVO CPC Código de Processo Civil de 1973, todas as ações judiciais que versem sobre saúde da pessoa humana desafiam as tradicionais ações de obrigação de fazer. E ínsito ao ajuizamento dessas ações de conhecimento é o pedido liminar de antecipação dos efeitos da tutela, para se evitar o perecimento do direito (à vida e/ou saúde do indivíduo enfermo). Na prática, uma vez deferida a liminar antecipatória, logo no início do processo, entregue a prestação jurisdicional principal, conformada a parte demandada com o seu conteúdo ou mantida essa decisão pelo Tribunal em 2º grau, o processo acaba virando uma verdadeira demanda zumbi, desinteressante para autor e réu, abarrotando os escaninhos da Justiça. Sob essa sistemática até hoje vigente, anos após o deferimento da tutela antecipatória, finalmente a sentença é prolatada confirmando-se integralmente a liminar, sem nenhuma surpresa para as partes. Para o autor, já reabilitado em sua saúde, o serôdio veredicto final já parece desimportante. Seja como for, à luz do CPC vigente, o cumprimento da liminar antecipatória pelo réu não importa em perda superveniente do objeto da ação. Mesmo que nada mais interesse ao autor após o cumprimento dessa decisão interlocutória. O juiz ainda será refém da necessidade de exaurir o processo de conhecimento prolatando sentença de mérito, mesmo que valendo-se de um prestativo “Ctrl+C, Ctrl+V” no seu capítulo decisório. Nos casos das demandas de saúde, mais especificamente, a Tutela Provisória de Urgência Antecedente. Sim. O Novo CPC possibilitará que o outrora pedido liminar que verse sobre a antecipação dos efeitos da tutela no bojo da ação de obrigação de fazer seja uma demanda própria e única. Sem a necessidade da veiculação de um processo de conhecimento propriamente dito. Noutras palavras, a petição inicial pode limitar-se ao solitário requerimento da tutela antecipada. Uma vez deferida, tornar-se-á estável, se, da decisão que a conceder, não for interposto o respectivo recurso, extinguindo-se o processo. A decisão que conceder a tutela não fará coisa julgada, mas a estabilidade dos respectivos efeitos só será afastada por decisão que a revir, reformar ou invalidar, 31 proferida em ação ajuizada por uma das partes, no prazo fatal de dois anos, contados da ciência da decisão que extinguiu o processo. Em verdade, a Tutela Provisória de Urgência Antecedente remonta ao instituto de direito processual francês da “référé provision”, o qual permite que o processo se limite à tutela provisória; evitando-se, assim, a indesejada eternidade dos processos judiciais. Sabe-se que a maioria esmagadora das demandas de saúde no País, principalmente aquelas propostas pelo Ministério Público e Defensoria Pública, em trâmite nas Varas da Fazenda Pública, representam grave e aflitiva violação do postulado da dignidade da pessoa humana, a sonegação do mínimo existencial pelo Estado. É verdadeiramente preocupante a negativa de acesso aos cidadãos mais carentes a um sistema público de saúde eficiente. Praticamente, Ministério Público e Defensoria Pública vêm se tornando a porta de entrada obrigatória do brasileiro para se reclamar do direito à saúde pública, universal e gratuita. A judicialização do direito à saúde virou regra. As arguições, como matéria de defesa, dos princípios da separação dos Poderes e da Reserva do Possível, pelo Poder Público, não subsistem mais na jurisprudência pátria moderna. Assim, nada mais justo do que a introdução da Tutela Provisória de Urgência Antecedente em nosso ordenamento processual civil, pondo termo ao que seria um longo processo, mesmo ciente o réu de que não teria argumentos. 32 CONCLUSÃO Diante da exposição do tema, pôde-se constatar a existência de quatro práticas abusivas que são previstas na literatura jurídica e praticadas pelas operadoras de saúde: limitação temporal nos casos de internamento, negativa de cobertura de doenças e procedimentos, doenças preexistentes e necessidade ou não de realização de exame prévio e suspensão ou rescisão contratual de forma arbitrária. Pôde-se constatar que, de início, é vedada a limitação de tempo de internamento, uma vez que a própria legislação prevê que as operadoras de plano deverão prestar os serviços sem limitação de tempo ou custos. No caso da negativa de cobertura de doenças ou procedimentos, constata-se que no que tange à cobertura de doenças, em relação aos planos contratados após a vigência da Lei 9656/98, não se pode negar a cobertura daquelas previstas na Classificação Internacional de Doenças da Organização Internacional de Saúde. Caso não esteja previsto no referido rol, poderá o usuário socorrer-se ao Poder Judiciário. Ainda em relação à cobertura de doenças, no caso de contratos firmados anteriormente à vigência da Lei, entende-se que são abusivas as cláusulas que restrinjam a cobertura de doenças. Jáno caso dos procedimentos, as operadoras devem seguir as exceções previstas em lei, que já dispõe sobre os procedimentos não cobertos, merecendo-se fazer comentário sobre o caso dos transplantes e procedimentos de alta complexidade. Nesses casos, a Lei 9656/98 delega à ANS o poder de regulamentar a cobertura desses serviços, porém aquela autarquia vem prevendo, através de resoluções quais são os transplantes que poderão ou não ser realizados. Entende-se que há uma violação ao princípio da legalidade, pois o poder regulamentar não pode criar exceções e a lei apenas conferiu à ANS o poder dever de estabelecer a regulamentação da prestação dos serviços de transplante e procedimentos de alta complexidade. Pôde-se contatar, também, que uma outra conduta praticada pelas operadoras é a negativa de fornecimento da cobertura, nos casos de doença preexistente, mesmo sem a realização de exame prévio. Demonstrou-se que o STJ tem posição antiga e 33 consolidada exigindo a realização de exame prévio, antes de se negar a cobertura, o que ao ver deste pesquisador, não pode ser adotado em todos os casos, não devendo ser exigida a realização do exame, quando haja comprovada má fé por parte do usuário. Por fim, constatou-se também que as operadoras não podem suspender ou rescindir o contrato em caso de inadimplência de forma arbitrária, devendo-se respeitar o prazo de 60 (sessenta) dias de atraso, no período de 12 (doze) meses, que pode ser consecutivo ou não, devendo haver notificação do usuário no qüinquagésimo dia .Porém, caso o usuário esteja internado, não poderá ser retirado do hospital por inadimplência, ou até mesmo fraude, em nenhuma hipótese. Analisando-se a atuação do Ministério Público em relação ás práticas abusivas, constatou-se que essa instituição poderá adotar medidas extrajudiciais (emissão de Ofícios e realização de Audiências Públicas, celebração de Termos de Ajustamento de Conduta, Recomendações Administrativas) e judiciais (ingresso com Ação Civil Pùblica) com vistas a evitar a continuidade das referidas práticas. 34 BIBLIOGRAFIA -Fehring TK. Valadie AL Knee instability after total knee arthroplasty. 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