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Psicologia Jurídica: Objetivos e Métodos

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1
PSICOLOGIA JURÍDICA
PSICOLOGIA JURÍDICA
Graduação
PSICOLOGIA JURÍDICA
49
U
N
ID
A
D
E 
4
PSICOLOGIA JURÍDICA
Nesta unidade, iremos estudar a psicologia jurídica segundo seus objetivos
e métodos. Além disso, iremos contextualizá-la no campo da doença mental
e Direito Penal. Perceberemos ao longo da unidade como a realidade brasileira
ainda não se apresenta definida quando a real condição do alienado mental
ao praticar atos criminosos e seu aspecto de entendimento ao momento do
ato. Analisaremos ainda, o histórico da observância da doença mental e como
cada especialista na área que atua faz-se demonstrar a sua compreensão
sob o assunto através dos laudos e perícias psicológicas em Direito Civil e
Penal.
OBJETIVOS DA UNIDADE:
Definir o campo de atuação da psicologia jurídica; esclarecer que a perícia
não se reduz a mero meio de prova, pois tem como função instruir e subsidiar
tecnicamente as teses das partes e sentenças dos juízes.
PLANO DA DISCIPLINA:
• Objetivo.
• Métodos (Investigação em Psicologia Jurídica).
• Doença mental e Direito.
• Responsabilidade penal.
• A Dinâmica psicosocial das decisões judiciais.
• Laudo e perícia psicológica em Direito Penal e Civil.
• Tipos de avaliações periciais.
• Doença mental, perturbação da saúde mental e Direito.
Bons estudos!
UNIDADE 4 - PSICOLOGIA JURÍDICA
50
PSICOLOGIA JURÍDICA: OBJETIVO
Das idéias trazidas até aqui, vale relembrar que a Psicologia Jurídica, numa
compreensão transdisciplinar do homem e de sua conflitualidade, pode ajudar
o direito a cumprir sua imensa responsabilidade com a justiça. E ainda tem
como objetivos:
a) ser capaz de apontar ao mundo jurídico conhecimentos com
intuito de auxiliar o legislativo na elaboração de leis mais
adequadas à sociedade;
b) contribuir na tarefa de assessoramento judicial, colaborando na
organização do sistema de administração da justiça e;
c) tratar dos fundamentos psicológicos da justiça e do direito.
MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA JURÍDICA
Muñoz Sabaté (1980) estabelece três grandes caminhos para o método
psicojurídico, são eles:
A psicologia do direito, cujo objetivo seria explicar a essência do fenômeno
jurídico, isto é, a fundamentação psicológica do direito uma vez que todo o
direito está repleto de conteúdos psicológicos. Essa tarefa de investigação
psicológica do direito recebeu a denominação de psicologismo jurídico,
representada basicamente pela escola do realismo americano e escandinavo
e apresenta-se como uma formulação eminentemente teórica até o momento
não sufucientemente investigada.
A psicologia no direito, que estudaria a estrutura das normas jurídicas
enquanto estímulos vetores das condutas humanas. As normas jurídicas
destinam-se a produzir ou evitar determinadas condutas e, nesse sentido,
carregam inúmeros conceitos de natureza psicológica. Nesse aspecto, a
psicologia no direito é uma disciplina aplicada e prática.
A psicologia para o direito, esta sim a psicologia jurídica como ciência
auxiliar do direito, tal como a medicina legal, a engenharia legal, a economia,
a contabilidade, a antropologia, a sociologia e a filosofia, entre outras. É a
psicologia convocada a iluminar os fins do direito.
DOENÇA MENTAL E DIREITO
O Direito Penal, enquanto ciência, faz-se necessário acompanhar a
evolução dos tempos, as mudanças da vida social a fim de que essa capacidade
de tutelar os interesses não se perca diante do passar dos anos. Um dos
maiores frutos da escola positiva foi a criação da Criminologia, que procurou
definir um conceito naturalístico do crime, conceituando-o como
“comportamento desviante”, procurando ver em seu autor uma realidade
sociobiopsicológica, nascendo o entendimento de ser a pena medida de
prevenção a novas ações criminosas, devendo ser ajustada às características
do criminoso, a fim de integrá-lo ao convívio social.
PSICOLOGIA JURÍDICA
51
A consciência e a vontade foram então consideradas as funções psíquicas
básicas que determinam a conduta da pessoa e seus atos. Isto por que,
devido a elas o comportamento é dirigido de certo modo, podendo haver a
repressão dos impulsos ou, ao contrário, sua ativação ou a sua conversão
em ações voluntárias, conforme vimos na teoria da psicanálise durante nosso
estudo da unidade II. Assim, a responsabilidade supõe no agente, duas
condições: a liberdade e a consciência da obrigação. Isto porque a loucura
quando leva ao crime, uma das causas mais comuns é a perda da lucidez
entre nós e as perspectivas que podemos ter no enfrentamento.
Você deve estar se questionando: como proceder quando os indivíduos
em questão possuem desvios de ordem psíquica que os transformam, por vezes,
em verdadeiras máquinas de matar, de violentar ou de produzir barbaridades
inimagináveis? A reclusão pura e simples num presídio qualquer seria capaz de
curar o doente mental do mal que o domina, dando à comunidade a segurança
de que aquele internado ao ser posto em liberdade não irá praticar outras
atrocidades? (Participe do fórum de discussão)
O Direito Penal, diante desses questionamentos, busca auxílio em outras
ciências na tentativa de melhor compreender as ações criminosas e o perfil
dos delinqüentes. É certo que em casos onde a ofensa é produzida por um
comportamento desviante, a complexidade que já existia na tarefa de se
estipular a pena ser aplicada ao autor do crime, torna-se ainda maior diante
da confusa personalidade de um alienado mental. A Psicopatologia Judiciária,
portanto, busca abordar os aspectos psicológicos das perturbações mentais
do ponto de vista da aplicação da justiça.
RESPONSABILIDADE PENAL
A imputabilidade, segundo Marcello Jardim Linhares (1978), é um atributo
da pessoa, um modo de agir relativamente a um fato que a lei define como
crime. A responsabilidade penal só existe quando o agente for imputável,
ou seja, quando reúne a capacidade de entendimento e a capacidade de
querer a realização do ato ilícito.
Por capacidade de entendimento se considera a faculdade intelectiva, a
possibilidade de conhecer, de compreender, de discernir os motivos da própria
conduta. Significa a possibilidade de o agente saber quando transgride uma
norma, quando descumpre um dever e que, por isso, estando agindo
antijuridicamente, pode receber uma sanção (LINHARES, 1978).
Como você perceberá, não variam muito os conceitos doutrinários do
direito e da psiquiatria sobre a responsabilidade criminal. Para o direito, a
doutrina majoritária entende ser responsável em direito penal aquele que
pode responder pela infração que cometeu; o delinqüente não pode ser
declarado responsável se não reunir dois elementos: a imputabilidade e a
culpabilidade. Já para a psiquiatria:
O princípio da repressão penal pressupõe o domínio de certa liberdade
em todo o comportamento individual. Com suas obrigações e
proibições, a lei pretende limitar a escolha pelo sujeito entre as relações
UNIDADE 4 - PSICOLOGIA JURÍDICA
52
possíveis a uma dada situação. Ainda não julga os atos apenas pelos
seus efeitos, senão também pelas intenções que os dirigem; de tal
forma, um homicídio pode ser intencional e outras vezes não (Id. Ib.;
p. 23).
No caso de distúrbio mental, pode-se dizer que a responsabilidade penal
não existe, uma vez que a mesma exige condições mínimas de saúde e de
maturidade mental. Doença ou distúrbio mental é qualquer estado patológico
da mente clinicamente diagnosticável, seja de ordem psíquica, seja
conseqüente de uma moléstia física ou permanente.
A prática e o saber psiquiátricos constroem-se, dessa forma, em estreita
relação com o campo da justiça criminal, questionando os pressupostos da
doutrina clássica do direito penal, tais como: responsabilidade e livre-arbítrio(Castel, 1978; Harris, 1993; Foucault, 1991).
A DINÂMICA PSICOSOCIAL DAS DECISÕES JUDICIAIS
Uma série de projetos foi realizada para modificar o código até então
vigente e adequá-lo aos avanços da ciência penal: o código brasileiro deveria
acompanhar os avanços da criminologia (Schwarcz, 1995; Salla, 1999).
Vejamos então como se caracteriza, no Brasil, o procedimento adotado
com os doentes mentais delinqüentes.
A doença mental no código de 1940 é causa excludente de culpabilidade
e, por isso, os doentes mentais criminosos são absolvidos. Uma vez que são
absolvidos e carentes de culpabilidade não devem ser punidos, mas tratados.
Dessa forma, aplica-se a tais louco-criminosos a medida de segurança com
internação em manicômio judiciário, a qual se funda em sua periculosidade
presumida por lei (artigo 78, I). Um ponto a ser considerado com relação à
medida de segurança, no código de 1940, é seu caráter indeterminado, sendo
fixo apenas o tempo mínimo. Este, em que pese a sua determinação com
base na periculosidade, guarda estreita relação com o crime cometido. Nesse
sentido, a internação no Manicômio Judiciário tem seus termos definidos no
artigo 91:
Art. 91. O agente isento de pena, nos termos do artigo 22, é internado
em manicômio judiciário.
§ 1. A duração da internação é, no mínimo:
I — de seis anos, se a lei comina ao crime pena de reclusão não
inferior, no mínimo, a 12 anos;
II — de três anos, se a lei comina ao crime pena de reclusão não
inferior, no mínimo, a oito anos;
III — de dois anos, se a pena privativa de liberdade, cominada ao
crime, é, no mínimo, de um ano;
IV — de um ano nos outros casos.
PSICOLOGIA JURÍDICA
53
§ 2. Na hipótese do nº IV, o juiz pode submeter o indivíduo apenas a
liberdade vigiada.
§ 4. Cessa a internação por despacho do juiz, após perícia médica,
ouvidos o Ministério Público e o diretor do estabelecimento.
§ 5. Durante um ano depois de cessada a internação, o indivíduo fica
submetido à liberdade vigiada, devendo ser de novo internado se seu
procedimento revela que persiste a periculosidade. Em caso contrário,
encontra-se extinta a medida de segurança.
Alguns pontos mostram-se interessantes, no que se refere aos termos
definidos anteriormente. Como dizem Hungria e Fragoso (1978, p. 189-190),
“o tempo mínimo fixado visa “proteger” o juiz de “influências espúrias” de
“laudos superficiais ou conclusões prematuras””. Hungria e Fragoso põem
em evidência a permanência do conflito entre juristas e psiquiatras, os quais
“estão sempre inclinados a conjecturas otimistas sobre a cessação de
periculosidade dos pacientes”.
Laudo e perícia psicológica em Direito Civil e Penal
A perícia psiquiátrica é um documento de caráter clínico-psiquiátrico,
solicitado pela justiça com objetivo de atestar a condição mental de uma
pessoa e assessorar tecnicamente a justiça em duas situações básicas: na
avaliação da interdição civil por razões mentais e na avaliação de
inimputabilidade. No primeiro caso, avaliando a capacidade civil, a perícia
psiquiátrica se dará no Direito Civil e na questão da imputabilidade, no Direito
Criminal.
Estão previstos em lei alguns impedimentos formais para a nomeação
ou aceitação do perito; seriam no caso dele atuar nos processos onde:
a) for parte;
b) houver prestado depoimento como testemunha;
c) for cônjuge, parente em linha reta em qualquer grau ou parente
em linha colateral até segundo grau (irmão ou cunhado) do
advogado da parte;
d) for cônjuge, parente em linha reta em qualquer grau ou parente
em linha colateral até terceiro grau (tio e sobrinho) da parte;
e) for membro da administração de pessoa jurídica que é parte no
feito.
Além desses impedimentos formais, a legislação prevê que perícia será
considerada suspeita quando o perito for:
a) amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes;
b) credor ou devedor de qualquer das partes, ou isso ocorrer com
seu cônjuge, bem como aos parentes em linha reta em qualquer
grau ou em linha colateral até terceiro grau (tio e sobrinho);
c) herdeiro, donatário ou empregador de qualquer das partes;
UNIDADE 4 - PSICOLOGIA JURÍDICA
54
d) presenteado de qualquer das partes ou as houver aconselhado
em relação à causa ou ainda as auxiliado financeiramente com
as despesas do processo;
e) interessado no julgamento do feito em favor de uma das partes.
A avaliação do estado mental da pessoa a ser periciada deve ser relatada
de forma precisa e inteligível. O objetivo dessa avaliação é informar à justiça
o que a medicina constata sobre a função mental da pessoa em apreço.
Apesar do desejável cuidado científico e técnico, não se trata de uma tese
ou dissertação de mestrado, mas de uma informação precisa com propósitos
de ser, sobretudo, inteligível.
Em resumo, os objetivos básicos da Perícia Psiquiátrica não podem se
distanciar do seguinte:
1 - Estabelecer o Diagnóstico Médico.
2 - Estabelecer o Estado Mental no momento da ação.
3 - Estabelecer o Prognóstico Social, isto é, indicar, do ponto de
vista psiquiátrico, a irreversibilidade ou não do quadro, a
incapacidade definitiva ou temporária, a eventual periculosidade
do paciente.
Tipos de avaliações periciais
Os Exames Periciais Psiquiátricos podem ser divididos em 3 tipos básicos:
no direito civil, no direito criminal (ou penal) e no direito do trabalho. Tendo
como norte os objetivos desta unidade, abordaremos a seguir o primeiro e
o segundo tipos.
A PERÍCIA EM DIREITO CIVIL
Um dos principais objetivos da Psicologia Jurídica na área do Direito Civil
é a avaliação da Capacidade Civil. Quando o perito é designado em processos
de interdição, de incapacidade, de prodigalidade, capacidade de doação,
anulação de casamento, etc., estamos falando em perícia psiquiátrica em
Direito Civil.
De um modo geral, no Direito Civil a perícia psiquiátrica terá utilidade nos
casos de:
1 - Ações de Interdição. No direito civil a perícia psiquiátrica tem como um
dos principais objetivos avaliar a capacidade da pessoa se autodeterminar
(reger seus próprios atos) e administrar seus bens. Essas perícias se baseiam
na avaliação da Capacidade Civil e são requeridas pelo juiz nas ações de
interdição de direito civil, como ocorre, principalmente, em deficientes mentais
e pessoas demenciadas.
2 - Ações de anulações de atos jurídicos em pessoas que tenham,
porventura, tomado alguma atitude civil (compra, venda, casamento, divórcio,
entre outros) enquanto não gozava da plenitude de seu juízo crítico. Nesses
casos, avaliam-se as condições de consciência da pessoa. Seria uma espécie
de avaliação da Capacidade Civil temporária.
PSICOLOGIA JURÍDICA
55
3 - Avaliação da capacidade de testar. Como no caso anterior, a perícia
psiquiátrica aqui é solicitada nas ações de anulações de testamentos. Isso
ocorre em casos onde, supostamente, a pessoa tenha tomado alguma
atitude testamentária sem que gozasse plenamente de reger plenamente
seus atos.
4 - Anulações de casamentos e separações judiciais litigiosas. Mais ou
menos com os mesmos objetivos dos casos anteriores.
5 - Ações de modificação de guarda de filhos, normalmente quando o
cônjuge tutor demonstra insuficiência psíquica para manter a guarda do(s)
filho(s).
6 - Avaliação de transtornos mentais em ações de indenização e ações
securitárias. Esses exames estão, normalmente, relacionados à medicina
ocupacional, nas ações de anulações de atos jurídicos em pessoas que
tenham, porventura, tomado alguma atitude civil (compra, venda, casamento,
divórcio, etc.) enquanto não gozava da plenitude de seu juízo crítico.
 
A CAPACIDADE CIVIL
Segundo do Código Civil Brasileiro (art.12), “toda pessoa é capaz de direitos
e deveres na ordem civil” e, para tal, entende-sea capacidade de direito
como sendo a aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações.
Juridicamente a capacidade é entendida como o requisito necessário para o
sujeito agir por si, avaliando corretamente a realidade e distinguindo o lícito
do ilícito, o desejável do prejudicial, o adequado do inadequado e assim por
diante.
Ao contrário, a incapacidade civil é a restrição legal ou judicial ao exercício
da vida civil, incapacidade de avaliar plenamente a realidade e de distinguindo
o lícito do ilícito. E como tantas outras situações na psiquiatria ou nas
avaliações humanas, também a questão da capacidade-incapacidade não
se resume em uma posição exclusivamente binária (capaz ou incapaz). A
incapacidade poderá ser absoluta ou relativa (arts. 32 e 42 do Código Civil),
de tal forma que as pessoas consideradas absolutamente incapazes, não
poderão exercer direta ou pessoalmente seus direitos, devendo ser
representados pelos pais, tutores ou curadores.
A PERÍCIA EM DIREITO CRIMINAL
Para as perícias criminais, segundo o Código de Processo Penal (CPP), o
encargo pericial também é obrigatório e exige-se o trabalho de dois peritos
oficiais concomitantemente.
Em síntese, a perícia psiquiátrica em Direito Criminal (ou Penal) objetiva,
principalmente, o seguinte:
1 - Verificação da capacidade de imputação nos incidentes de insanidade
mental. Nesse caso está em jogo a imputabilidade normalmente atrelada à
capacidade da pessoa discernir o que faz, ter noção do caráter ilícito e de se
autodeterminar.
UNIDADE 4 - PSICOLOGIA JURÍDICA
56
2 - Verificação da capacidade de imputação nos incidentes de
farmacodependência. Trata-se da difícil avaliação da imputabilidade ou semi-
imputabilidade que se aplicam aos dependentes químicos e alcoólatras.
3 - Exames de cessação de periculosidade nos sentenciados à medida
de segurança. Quando as pessoas internadas em casas de custódia
(manicômio judiciário) ou em tratamento ambulatorial compulsório são
avaliadas para, mediante laudo, terem cessado a periculosidade que
determinou a medida de segurança.
4 - Avaliação de transtornos mentais em casos de lesão corporal e crimes
sexuais. 
5 DOENÇA MENTAL, PERTURBAÇÃO DA SAÚDE MENTAL E DIREITO
Segundo Hungria e Fragoso (1978, p. 59), a personalidade do sujeito
representa probabilidades de conduta, havendo sempre espaço para a
liberdade e autodeterminação, mediadas pela vontade. Quando se orienta
no sentido da criminalidade, encontramos a chamada periculosidade como
expressão da personalidade. Como o nosso código de 1940 presumia em lei
a periculosidade dos doentes mentais, a personalidade deles não precisava
ser avaliada no processo penal, o que objetivamente retira dos doentes
mentais o “espaço de liberdade” de suas condutas: tem, a princípio,
periculosidade máxima, quase como um cálculo preciso e invariavelmente
certo.
Ou seja, quando a periculosidade é presumida por lei, dispensa-se a
prática do fato previsto como crime para aplicação da medida de segurança,
sendo suficiente a ocorrência de um “quase-crime”. O crime impossível e a
tentativa inadequada, embora não sejam fatos criminosos, poderiam ser
considerados indícios de periculosidade.
Um outro ponto a ser considerado aqui, e que se refere ao juízo de
periculosidade, é a relação entre personalidade, tipo e motivação do crime:
o indivíduo é considerado mais perigoso, quanto mais o crime (tipo e motivo)
corresponda à sua personalidade.
E o que ocorre no caso do doente mental? A partir da discussão sobre a
monomania no século XIX, os psiquiatras foram chamados a atuar nos
tribunais, justamente nos casos de crimes ilógicos, irracionais, inesperados,
acidentais e sem motivo. Isso, para Foucault (1991), colocava os juízes diante
de um grande problema, o qual deve ser compreendido dentro das
modificações que vinha sofrendo o direito penal. Segundo Foucault, a questão
que se impõe aos tribunais na atualidade refere-se ao sujeito delinqüente,
e não mais ao crime como fato concreto. Essa questão começou a se impor
aos juízes no século XIX com a intervenção da psiquiatria nos tribunais em
torno dos crimes sem razão, “os crimes que não são precedidos,
acompanhados ou seguidos de nenhum dos sintomas tradicionalmente
reconhecidos e visíveis da loucura”. Além disso, eram crimes graves, ocorridos
na esfera doméstica e, o mais importante, eram crimes sem motivo. A
motivação para o ato delinqüente ganha, a partir de então, um lugar de
destaque na atividade de julgar. Em fins do século XVIII e início do século
PSICOLOGIA JURÍDICA
57
XIX, ocorreu um deslocamento no campo jurídico-penal, passando a ser o
criminoso o objeto da punição. Dessa forma, o crime se articula à
personalidade do sujeito delinqüente e desta articulação depende o sucesso
do sistema punitivo; nela se baseia sua lógica. O castigo, em sua forma
privativa de liberdade, que tem por fim último recuperar os delinqüentes,
volta-se contra seus motivos, vontade, tendências e instintos.
Eis que surge no direito penal brasileiro o novo objeto da punição, o
“homem que se vai julgar”. Nos casos de loucura, esse homem é, de antemão,
conhecido; não é necessário ao juiz vasculhar seu passado, desvendar suas
relações, decifrar suas condutas para aplicar-lhe a sanção penal. A doença
já o mostra em sua personalidade criminal, em sua máxima periculosidade
e, para reconhecê-la, a psiquiatria é chamada através da perícia ou exame
de sanidade mental.
As duas figuras jurídicas fundamentais que costumam requerer
assessoria de uma perícia psiquiátrica, a interdição civil por razões mentais
e a avaliação de inimputabilidade, são baseadas no fato de que determinados
transtornos mentais produzirem prejuízo da capacidade de discernimento,
de controlar impulsos e da capacidade de decidir com plena liberdade.
Os diagnósticos e estados mentais que aparecem mais freqüentemente
diante do perito em Psiquiatria Jurídica são:
Neuroses: notadamente a obsessiva-compulsiva e histérica.
Psicoses: esquizofrenias, parafrenias, orgânicas e senis.
Retardos mentais (oligofrênia).
Transtornos de personalidade ou psicopatias.
Dependentes químicos e suas complicações.
Epilepsias e suas complicações.
Transtornos dos impulsos (compulsões, piromania, jogo).
Parafilias ou desvios sexuais.
Em se constatando alguma doença ou alteração mental, a atitude pericial
mais importante é saber se esta alteração já existia por ocasião do ato que
determinou a perícia ou aconteceu depois, quer dizer, é importante saber se
a alteração ou doença é superveniente ou não ao fato que determinou a
perícia.
Entretanto, apesar da possibilidade do perito psiquiátrico estabelecer
um diagnóstico atual, esse fato nem sempre é suficiente para a justiça.
Freqüentemente o perito deverá também estabelecer, da melhor forma
possível, a condição psíquica da pessoa examinada por ocasião do ato
delituoso, ou seja, deverá proceder a uma avaliação retrospectiva (do
passado).
Este tipo de perícia criminal normalmente visa avaliar a responsabilidade
penal do examinado, ou seja, avaliar se essa pessoa apresentava algum
transtorno mental no momento do crime e se tal transtorno comprometeu a
A superveniência de doença
mental (SDM) é quando, depois
do ato delituoso, a pessoa pas-
sa a apresentar sinais e sinto-
mas de algum transtorno men-
tal. Quando a doença mental é
constatada antes do ato
delituoso ou durante a
tramitação do processo, este
será suspenso. A lei brasileira
privilegia a saúde da pessoa
acusada e a suspensão do pro-
cesso pleiteia sua recuperação.
Quando a doença mental é
constatada após condenação,
haverá a interrupção do cum-
primento da pena, a qual pode-
rá se transformar em medida de
segurança.UNIDADE 4 - PSICOLOGIA JURÍDICA
58
capacidade de entender o caráter e a natureza de seu ato, bem como se
comprometeu também a capacidade de se determinar de acordo com esse
entendimento. Na realidade o perito oferecerá à justiça subsídios para avaliar
se o réu é imputável, semi-imputável ou inimputável.
Outro objetivo de algumas perícias psiquiátricas é a avaliação
prognóstica ou, mais didaticamente, a avaliação das perspectivas sociais
do examinado. A partir das condições mentais atuais, à luz dos
acontecimentos passados e, também, baseado no curso e evolução
conhecidos pela psicopatologia, o perito psiquiátrico deverá estabelecer o
prognóstico do examinado. A questão da periculosidade passa por esse
tipo de avaliação.
As perícias de avaliação prognóstica têm realçado valor em algumas
situações especiais, como por exemplo;
a. quando se questiona a cessação da periculosidade em internos
reclusos por medida de segurança;
 b. por ocasião do livramento condicional, indultos de Natal (e
outros) em prisioneiros que cumprem pena e;
 c. quando se questiona a capacidade para o pátrio (nacional)
poder ou tutela de filhos em casos de maus tratos à crianças.
Normalmente, essas perícias não são exclusivamente psiquiátricas, mas,
sobretudo, avalizadas também por profissionais de outras áreas, como, por
exemplo, assistentes sociais, psicólogos, etc.
Desta forma, para uma pessoa portadora de Transtorno Mental que
comete algo ilícito, depois de constatada a condição mórbida de sua sanidade
psíquica por perícia psiquiátrica, não será possível atribuir-lhe a culpabilidade.
Assim sendo, diante de uma situação indicativa de possível Transtorno Mental,
compete exclusivamente à autoridade judicial a solicitação da perícia.
Nessas circunstâncias, reconhece-se que essa pessoa não possui a
capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com este entendimento, conseqüentemente, não pode ser rotulado
como criminoso.
O Código Penal vigente é ainda o de 1940, ao qual foram feitas algumas
alterações através da Lei de Execuções Penais 7.209/84. É importante
ressaltar que está em tramitação uma nova reforma do código penal, em
sua parte geral. No entanto, ainda permanece a mesma diretriz no que se
refere à atuação frente ao doente mental delinqüente. Não vamos aqui
reproduzir o que se manteve, ou seja, a inimputabilidade e irresponsabilidade
do doente mental e a semi-responsabilidade dos que apresentam
“perturbação da saúde mental” se encontram nos mesmos termos, agora
no artigo 26. Algumas modificações, no entanto, foram feitas com relação às
medidas de segurança:
Art. 96. As medidas de segurança são:
I — Internação em hospital de custódia e tratamento ou, à falta,
em outro estabelecimento adequado.
PSICOLOGIA JURÍDICA
59
II — Sujeição a tratamento ambulatorial.
Art. 97. Se o agente for inimputável, o juiz determinará a sua
internação. Se, todavia o fato previsto como crime for punível
com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento
ambulatorial.
§1. A internação, ou o tratamento ambulatorial, será por tempo
indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada,
mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo
mínimo fixado deverá ser de um a três anos.
§2. A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado
e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se
o determinar o juiz da execução.
§3. A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional
devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente,
antes do decurso de um ano, pratica fato indicativo de sua
periculosidade.
§4. Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz
determinar a internação do agente, se essa providência for
necessária para fins curativos.
A medida de segurança se apresenta, agora, sob a forma de internamento
em hospital de custódia e tratamento ou similar e o tratamento ambulatorial.
Além disso, o prazo mínimo de duração deve ser determinado pelo juiz, no
limite mais estreito de um a três anos, mantendo-se, no entanto, o seu
caráter indeterminado e a liberdade condicional que a segue. Os limites
continuam elásticos, a lógica mantém-se: o doente mental delinqüente é
englobado por uma estratégia que se centra na periculosidade — futuro,
risco, probabilidade — a qual cabe uma sanção indeterminada.
IMPORTANTE: A PRODIGALIDADE
Prodigalidade é um termo referido pela justiça, mas sem nenhuma 
representação nas classificações atuais da psiquiatria (DSM.IV e CID.10),
embora um especialista em psiquiatria seja capaz identificar seu significado
jurídico em alguns quadros psicopatológicos.
Segundo Taborda (2004), no período pré-codificação, as Ordenações
Filipinas definiam o pródigo como ‘aquele que, desordenadamente, gasta,
destrói a sua fazenda, reduzindo-se à miséria por sua culpa’. Pródigo é o
que pratica a prodigalidade ou, no dizer do Conselheiro Lafayette, ‘quem
consome e estraga seu patrimônio com gastos improdutivos sem um fim
útil’.
O conceito de prodigalidade é jurídico e não-psiquiátrico, embora
transtornos mentais possam ser responsáveis pelo comportamento pródigo,
o qual será, então, um sintoma.
Pela descrição do que pretende a justiça com o termo “prodigalidade”, a
psicopatologia satisfaz esse conceito, principalmente, com a sintomatologia
dos estados eufóricos, próprios dos Episódios de Mania do Transtorno Bipolar
UNIDADE 4 - PSICOLOGIA JURÍDICA
60
do Humor, portanto, concordando com Taborda, a prodigalidade seria sim
um sintoma psíquico e não uma doença em si.
Ainda na esfera dos sintomas, algumas patologias relacionadas ao
controle dos impulsos ou relacionadas ao comportamento compulsivo
poderiam se enquadrar naquilo que a justiça pretende com a expressão
“prodigalidade”. Nesses casos, estariam as compulsões para o jogo, para
as dependências químicas, para as compras e similares.
Com o intuito de preservar a integridade e o patrimônio familiar,
geralmente dilapidado pelas pessoas que se encaixam na descrição de
“pródigos”, nossa legislação atual continua a aplicar o Decreto de 1934, ou
seja, manter o dispositivo necessário para interditar parcialmente as pessoas
portadoras desse sintoma.
A perícia psiquiátrica que se pretende nesses casos, é auxiliar o juiz
sobre a necessidade de curatela dos pródigos ou sobre alguma espécie de
restrição na administração de seus bens.
A partir da análise desta unidade, podemos perceber que o doente
mental, no Brasil, tem o seu estatuto jurídico marcado pela ambigüidade: a
sua doença é o móvel de seu ato, excluindo, por isso, a culpabilidade e a
responsabilidade. Na “estratégia da periculosidade”, a punição justifica-se
como tratamento, e a prevenção fundamenta-se em um ato passado. Para
concluir, mais um ponto merece ser comentado com relação ao dispositivo
jurídico da loucura-perigo no Brasil. Vimos que aos doentes mentais são
reservadas as medidas de segurança que se fundamentam na periculosidade,
ou seja, em probabilidade, suposição, hábito. “A justiça penal tem de
contentar-se, aqui, com indícios, com sinais, ou sintomas, ou cálculos
aproximativos para averiguar o conjunto de probabilidades, que é, afinal de
contas, a personalidade individual” (Hungria e Fragoso, 1978, p. 85). A
periculosidade é um risco e, por isso, uma incerteza que se expressará,
talvez, num futuro também incerto. Frágil mostra-se para nós o fundamento
da medida de segurança. No entanto, e aqui encontramos mais um ponto
característico da política penal da loucura, tantas incertezas não se mostram
problemáticas, uma vez que a medida de segurança não é uma pena. Para
que ela seja aplicada, é suficiente a “razoável suspeita” ou a “fundada
suposição” e, em se tratando de perigosos, não se aplica o clássico critério
de solução da justiça in dubio pro reo, mas sim o in dubio pro republica.É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia
no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija
as respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Prosseguiremos nossos estudos na unidade V quando trataremos da
Psicologia jurídica aplicada no judiciário.
1
PSICOLOGIA JURÍDICA
PSICOLOGIA JURÍDICA
Graduação
EXERCÍCIOS
19
PSICOLOGIA JURÍDICA
U
N
ID
A
D
E 
4 PSICOLOGIA JURIDICA
1. A Psicologia Jurídica tem como objetivo contribuir na tarefa de:
a) fundamentar sociologicamente a Justiça e o Direito.
b) acompanhar a evolução histórica da vida social.
c) assessoramento judicial.
d) normatizar os comportamentos sociais.
e) organizar os fundamentos médicos legais da justiça e do direito.
2. A criminologia define crime como:
a) comportamento desviante.
b) comportamento condicionado.
c) comportamento social.
d) abstração.
e) comportamento adaptativo.
3. O Direito Penal tem uma visão do crime como uma realidade:
a) cronológica.
b) social.
c) patológica.
d) sociobiopsicológica.
e) afetiva.
4. A avaliação da capacidade civil é um dos principais objetivos da Psicologia
Jurídica em que área?
a) Direito civil.
b) Direito ambiental.
c) Direito tributário.
d) Direito criminal.
e) Direito militar.
20
UNIDADE 4 - PSICOLOGIA JURÍDICA
5. A responsabilidade penal só existe quando o agente for imputável. Nos exemplos abaixo, podemos
caracterizar um ato não-imputável:
a) um indivíduo capaz de discernir os motivos da própria conduta.
b) quando o menor comete um ato ilícito.
c) um indivíduo que tenha responsabilidade sobre seu crime.
d) o sujeito que tem intenção de cometer um ato ilícito.
e) quando o sujeito é capaz de compreender as razões que o levaram ao crime.
6. Por capacidade de entendimento, consideramos:
I - faculdade intelectiva, a possibilidade de conhecer, compreender, de discernir os motivos da própria
conduta;
II - consciência da transgressão de uma norma;
III - a restrição legal ou judicial ao exercício da vida.
A única opção correta é:
a) somente a I.
b) somente a II.
c) a I e a II.
d) as opções I e III estão incorretas.
e) somente a opção III.
7. Por doença mental entendemos:
I - ser qualquer estado patológico da mente, clinicamente diagnosticável, seja de ordem psíquica ou de
ordem física;
II - estado patológico somente de ordem física;
III - estado de sanidade mental.
A única opção correta é:
a) I
b) II
c) III
d) II e III
e) I e III
8. Estão previstos em lei alguns impedimentos formais para nomeação ou aceitação do perito e, além
destes impedimentos formais, a legislação prevê que o perito também é considerado suspeito quando
este for:
I - amigo íntimo ou inimigo capital de uma das partes;
II - credor ou devedor de qualquer das partes;
III - for membro de administração jurídica.
21
PSICOLOGIA JURÍDICA
A única opção correta é:
a) I e III.
b) I.
c) I e II.
d) III.
e) II e III.
9. O doente mental, no código de 1940, fica excluído de culpabilidade e, por tal doença, é absolvido.
Qual é a medida judiciária proposta após a apresentação do laudo psiquiátrico de um louco criminoso?
10. O que se entende por “Avaliação prognóstica”?
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PSICOLOGIA JURÍDICA
PSICOLOGIA JURÍDICA
Graduação
PSICOLOGIA JURÍDICA
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U
N
ID
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5
PSICOLOGIA JURÍDICA APLICADA
NO JUDICIÁRIO
Esta unidade objetiva discutir, a partir das formas pelas quais se constituiu
a categoria infância no Brasil, a atual configuração das políticas públicas
voltadas para essa área, especialmente no que se refere às práticas da
Psicologia Jurídica. A infância sendo considerada como uma construção social,
isto é, como uma noção datada geográfica e historicamente. Apontaremos
como a Psicologia Jurídica se faz presente nos processos de guarda,
circunscrevendo etapas evolutivas em relação à infância. Para finalizar,
abordaremos o Juizado de Menores, já reordenadas a partir do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), especificamente através do programa de
Justiça Terapêutica.
OBJETIVOS DA UNIDADE:
Descrever as práticas psicológicas e políticas públicas para a infância,
mais especificamente o projeto da Justiça Terapêutica enquanto novo campo
de atuação, além de discutir os processos de guarda no Juizado Civil.
PLANO DA DISCIPLINA:
• Juizado Cível: processos de guarda.
• Novos campos de atuação: Justiça Terapêutica 
Bons estudos!
UNIDADE 5 - PSICOLOGIA JURÍDICA APLICADA NO JUDICIÁRIO
62
JUIZADO CIVIL: PROCESSOS DE GUARDA
Entender a infância como uma noção datada geográfica e historicamente
e não uma etapa natural da vida, implica em trazer para o debate questões
relativas à família, aos vínculos mães/pais/filhos/filhas, à escola, à
maternidade/paternidade e às formas de criação de filhos. Portanto, ao falar
em infância não remetemos a uma abstração, mas a uma construção
discursiva que institui determinadas posições, não só das crianças, mas
também da família, dos pais, das mães, entre outros, instituindo
determinados modos de ser e viver a infância.
A partir desta consideração inicial, voltamo-nos para as políticas sociais
públicas direcionadas à área da infância no Brasil, compreendendo que sua
implementação, ao mesmo tempo em que se relaciona com o conhecimento
que é produzido sobre a infância por uma determinada construção histórica,
também produz essa infância a que se propõe conhecer. Dito de outro modo,
as políticas públicas vêm constituir determinadas formas de ser criança e de
se relacionar com as mesmas.
Atualmente, a preocupação com o sujeito infantil, passa a se instituir
cada vez mais como um problema econômico e político, alvo de inquietações
de ações médicas, morais e pedagógicas.
Associada à intervenção da Medicina, o campo do Direito também se
voltou para a infância, visto que o grande número de crianças que
perambulavam pelas ruas passou a ser compreendido como causa do
aumento da criminalidade. Conforme Frota apud (CARVALHO, 2002), o
primeiro código de menores brasileiro data de 1927, sendo destinado aos
menores de 18 anos classificados como em situação irregular. Este código
delegava aos estados a responsabilidade pela execução do atendimento
de crianças e adolescentes, caracterizando-se por uma intervenção ativa
dos mesmos no controle da população carente.
A infância tornou-se objeto dos juristas, sendo que neste período o
termo ‘menor’ foi incorporado ao vocabulário corrente (Rizzini & Pilotti, 1995).
Para Rizzini e Pilotti, não houve nenhum tipo de problematização no que se
refere à categoria ‘menor’, a qual incluía as seguintes classificações:
abandonado, delinqüente, desviado e viciado.
Também a psicologia e a pedagogia se organizaram com o propósito de
estabelecer uma nova educação que possibilitasse a produção de um novo
cidadão e o assentamento de uma nova raça: sadia e ativa. Desta maneira,
na década de 1920 disseminaram-se as campanhas e reformas sob a
denominação de “Movimento da Escola Nova”. É importante salientar que a
Escola Nova valorizava o discurso científico, especialmente os advindos dos
estudos da Psicologia, com o objetivo de melhor conhecer aquela a quem se
pretendia ensinar: a criança. Podemos dizer que a psicologia, no Brasil, se
insere na área da educação entre 1931 e 1934, tomando as crianças como
objeto psico-médico-biológico, passíveis de serem medidas, testadas,
ordenadas e denominadas normais e anormais. Desta forma, a psicologia,
ancorada em estudos experimentais e de observação de crianças,vinha
reforçar as noções de variabilidade entre os indivíduos e de capacidades
PSICOLOGIA JURÍDICA
63
individuais diferenciadas. A Psicologia apresentava-se, portanto, como capaz
de delimitar as causas dos desvios de conduta, através do uso de testes e
da análise da personalidade infantil, possibilitando ações preventivas e de
correção das mesmas. Citamos como exemplo desta prática o Laboratório
de Biologia Infantil, órgão anexo ao Juizado de Menores, o qual foi proposto
em 1935 e passou a funcionar no ano seguinte.
Contudo, não são muitos os que conhecem a atividade dos psicólogos
que atuam nas Varas de Família do judiciário. A impressão das pessoas em
geral é que a decisão da guarda, visita dos filhos e pensão alimentícia em
casos de separação do casal compete exclusivamente ao juiz da causa, quem,
por sua vez, se fundamenta em aspectos legais e morais. Há cerca de 20
anos, a Psicologia passou a ser um fator importante nas decisões em direito
de família, o que abriu um importante diálogo com a letra fria da lei e as
implicações simplesmente morais, conferindo às decisões judiciais um maior
senso de justiça e preocupação social.
O Código Civil em vigor, por exemplo, consagra que não há preferência
em relação à mãe. Até 2002, em caso de separação, a criança ficava
preferencialmente sob a guarda da mãe. Isso caiu. Já há uma certa tendência
da sociedade de questionar a guarda só pelo fato de ser mãe. Logo, o trabalho
da Psicologia para a justiça passa a ser o de verificar se realmente o cuidador
ou a cuidadora da criança é efetivamente a pessoa que deve ficar com a
guarda, pois é ele ou ela, independente do gênero, quem provê as
necessidades da criança. Pela letra fria da lei não haveria suporte legal para
se atribuir automaticamente a guarda à mãe.
É importante destacar que a atuação do psicólogo dentro de uma vara
ou tribunal de justiça ligado aos problemas de família (separação, guarda e
visita) se deve pela presença de crianças, pela dificuldade de questioná-las
diretamente, pela dificuldade de saber o que realmente se passa com elas e
isto pressupõe a necessidade de alguém que tenha um estudo específico
em relação ao desenvolvimento infantil, processos psicológicos,
psicodinamismo de família. Daí, se recorrer ao psicólogo. O juiz não foi
preparado para entender de crianças, no entanto é chamado para tomar
uma decisão que vai condicionar a vida dessas pessoas: o pai, a mãe e a
criança. Os casos em que os psicólogos acabam atuando são aqueles em
que houve a separação litigiosa, que já vem contaminada por conflitos
preexistentes e que na hora da separação não vai ser diferente. Dentre as
questões que o casal pode não concordar seria, por exemplo, com quem a
criança moraria. Isso seria o extremo. Em outras questões, um pode não
concordar com natação e preferir judô, pode não concordar com dança, preferir
piano, o pai pode querer um tratamento homeopático para a criança, mas a
mãe insiste no tratamento alopático. Todas as questões vão desembocar
em como esse casal parental, responsável pela criança, vai conseguir
administrar essas opções, que são opções de vida, valores, formas de se
pensar, formas de projetar uma vida. Se o casal já se separou é porque
havia diferenças na percepção desses valores. Obviamente essas diferenças
vão voltar à tona em relação à educação da criança.
UNIDADE 5 - PSICOLOGIA JURÍDICA APLICADA NO JUDICIÁRIO
64
É um pouco senso comum a idéia de que as crianças vão ser utilizadas
como parte do instrumental de ataque por parte principalmente da mãe,
que é a detentora usual da guarda, e tradicionalmente a idéia de que o pai
vai retaliar não pagando a pensão. Essa concepção é meio simplista porque
a questão é muito mais complexa. Em todas as famílias, mesmo as famílias
coesas, existem as dificuldades dos adultos e das crianças. Por questões
de personalidade, por exemplo, o pai pode ser mais expansivo, se dá melhor
no trato pessoal, é mais relacionado no prédio ou na vizinhança, enquanto
a mulher é mais recatada, introvertida. As características são utilizadas como
defeitos levados para serem equacionados na justiça, no sentido de que
como essa mulher que tem um trato social mais difícil não estaria exercendo
a sua influência educativa sobre as crianças de maneira benéfica. Tudo isso
pode ser usado na justiça como forma de questionar se a mãe seria adequada
ou se o pai melhor para cuidar da criança. O pai, por achar que é mais bem
relacionado, conhecer mais pessoas e que em função de seu bom
relacionamento vai conseguir colocar o filho em melhores condições sociais,
vai querer o filho mais próximo de si a fim de exercer essa influência.
Do ponto de vista psicológico são opções válidas, são pontos de vista
diferentes e a criança cresce identificando-se com cada uma dessas figuras
no sentido de se achar e poder agir de forma mais parecida com um ou com
o outro e daí discriminando as diferenças em si. É meio simplista pensar que
possa haver utilização. Uma mãe que tem certa dificuldade ou não tem tanto
gosto pelo social pode tranqüilamente na sua convivência diária, ficando ela
com a guarda, conviver com essa criança, um menino, por exemplo, identificado
com as características do pai, e que começa a parecer com o mesmo ao criar
uma teia social, com a habilidade do pai, e que essa mãe usufrua disso
dentro da sua casa. Por outro lado, esse pai separado pode recompor a sua
vida afetiva e escolher outra companheira também mais introvertida, mais
quieta, parecida até com a sua primeira esposa, mas que combine mais com
o seu temperamento, uma vez que ele é o extrovertido do casal. É uma
dinâmica que vai acontecendo e é muito difícil dizer que existem padrões
específicos.
Neste momento precisamos esclarecer-lhe que não é o psicólogo judiciário
que vai determinar a guarda ou o esquema de visitas. O trabalho da
Psicologia para o direito é fornecer instrumentos a fim de que o magistrado
possa melhor dirimir esses conflitos que são da área privada e emergem
para a área pública em função dessas discordâncias. É importante afirmar a
idéia de que não é o psicólogo que decide, não é sua função ocupar o lugar
do magistrado. Ocorre que o magistrado pela própria formação não tem
condições plenas de entender os intercâmbios familiares que acontecem.
Assim sendo, chama o psicólogo a fim de colher subsídios. Pensamos que os
psicólogos não devem ultrapassar essa linha do subsídio e se arrogarem o
direito de decidir quem seria a melhor mãe ou o melhor pai. Mesmo porque
dentro da Psicologia não existe ainda o constructo do que seria o melhor
pai ou a melhor mãe, uma vez que isso muda histórica e socialmente conforme
a cultura de cada região ou país. O julgamento será subjetivo e estará
sempre ligado a questões morais e legais. Do ponto de vista moral e legal,
PSICOLOGIA JURÍDICA
65
a Psicologia não tem muito que dizer. A função neste contexto é a de ajudar
o magistrado a perceber que, dependendo da fase de desenvolvimento, a
criança pode se manifestar de um jeito ou outro na questão da separação.
Por exemplo, o psicólogo pode enfatizar que uma criança de colo precisa
do contato mais próximo com a mãe. Isso é inegável e muitos teóricos da
Psicologia e da psicanálise o demonstraram, inclusive contribuíram para a
idéia de que a díade mãe-criança é muito importante para o próprio
desenvolvimento da criança e que se houvesse uma ruptura, uma separação
precoce poderia prejudicar o desenvolvimento. Ocorre que a díade não quer
dizer necessariamente mãe, é mais exatamente o cuidador, tradicionalmente
na nossa cultura, em função da distribuição das responsabilidades, o papel
foi exercido historicamente pela mulher.
Atualmente, porém, muitos homens buscam na justiça a possibilidadede
poder ter um contato com a criança desde a mais tenra idade, sem cair
naquela idéia de que o pai só começa a exercer a paternidade quando leva
seu filho a um campo de futebol. Até lá é problema da mãe. Isso é ainda
muito comum. Na outra ponta do trabalho psicológico, quando o psicólogo
chama os pais para conversar, é muito comum que venha a mãe,
desacompanhada do marido. Prevalece o costume, em geral, compartilhado
tanto pela mulher como pelo marido de que coisa de educação, de médico e
vacina, é coisa da mãe. A conversa com o psicólogo, a consulta com o pediatra
é a mãe que leva. O pai está ocupado, está trabalhando. No entanto, a
presença do pai é cada vez maior demonstrado pelo aumento dos conflitos
para saber quem tem competência para cuidar de criança. O pai não quer
ser apenas aquele que aparece na festinha de aniversário ou a do dia dos
pais. Como podemos perceber, neste sentido, mais uma vez, a psicologia
apresentava-se como a psicologia para o direito.
NOVOS CAMPOS DE ATUAÇÃO: JUSTIÇA TERAPÊUTICA 
O Poder Judiciário brasileiro depara-se, nos últimos tempos, com o desafio
da concretização dos direitos de cidadania. Para tamanho desafio, não há
fórmula pronta. É preciso estar sempre disposto para essa luta. Tão
importante quanto não esmorecer ante a adversidade do volume de serviço
crescente, é se recusar a entregar uma jurisdição de papel, alienada, sem a
necessária e profunda reflexão sobre os valores em litígio, em que as partes
sejam vistas somente como números. É preciso que os juízes tenham o
propósito de realizar uma jurisdição que proporcione pacificação social. É
fundamental reconhecer que a maior parte dos brasileiros ainda não tem
acesso à Justiça e que é preciso reverter esse débito de cidadania.
A prestação jurisdicional deve ser exercida como instrumento de pacificação
social e afirmação da cidadania, o que é facilmente verificado quando da
ocorrência de sua aplicação célere e justa, consubstanciando-se, dessa forma,
como um poderoso instrumento a serviço da população. Como se observa,
esta sim é a razão primordial da existência do Poder Judiciário.
UNIDADE 5 - PSICOLOGIA JURÍDICA APLICADA NO JUDICIÁRIO
66
Deve a Justiça, observando os princípios e regras constitucionais e legais,
caminhar rente à sociedade, pois a vida cotidiana é a verdadeira escola da
cidadania. Não existe o cidadão pronto e acabado. O que existe é a cidadania
em construção. Aprende-se a ser cidadão através da prática da cidadania. É
no concreto, nas relações sociais diárias que a cidadania revelará sua
plenitude ou limitação.
É preciso que o juiz seja também um educador. Vale lembrar a lição de
Paulo Freire (1996, p.52) “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar
as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. A transferência
dos ensinamentos de Paulo Freire, originalmente destinados à formação de
uma consciência crítica e democrática no meio educacional, tem adequação,
também, à atividade judicante. Com efeito, “a prestação da tutela jurisdicional
não pode ser enxergada apenas como a desincumbência, por um dos
componentes do Estado-tripartite, de uma tarefa que lhe é ínsita. É muito
mais do que isso. Além de perseguir a pacificação social, ao instante em que
diz a quem pertence o direito, tem a atividade jurisdicional um plus deveras
salutar: a pedagogia de mostrar aos jurisdicionados como deve ser a conduta
destes nas suas relações interpessoais e interinstitucionais.”
A Lei nº 9.099/95 tem como principal característica a humanização
democrática das relações entre Poder Público e particular, à medida que
concede à vítima e ao agente o poder de deliberação na solução de seus
conflitos, sem a imposição de fórmulas legais rígidas e pré-concebidas, de
aplicação genérica, as quais presumem, de forma difusa, a igualdade de
todas as situações fáticas, desconsiderando o caso concreto e a
individualidade dos cidadãos.
Graças à flexibilidade da Lei no 9.099/95, é possível a sua aplicação de
uma forma socioeducativa e pedagógica, inclusive permitindo o
desenvolvimento de projetos e parcerias que levem ao envolvimento da
comunidade para a solução eficaz dos litígios. Nesse sentido, a prestação
gratuita de serviços à comunidade e o encaminhamento dos adolescentes
infratores para acompanhamento psicossocial, bem como a utilização de
acompanhamento para tratamento especializado nos casos de alcoolismo e
de envolvimento com drogas, têm se mostrado altamente eficazes para a
consecução desse objetivo.
Assim, estamos passando por uma revolução na forma de fazer Justiça,
caminhando, com a reengenharia do processo, para uma modificação
estrutural e funcional do Judiciário em si. Procura-se remodelar o seu perfil
no sentido de adequá-lo ao da Justiça que se espera na nova era pós-
industrial, que vem sendo constituída principalmente nas três últimas
décadas.
O crescente interesse nos projetos sociais revela a necessidade de se
construírem sinergias público-privadas, que potencializem os benefícios
coletivos, que renovem a capacidade de criação de significados, horizontes
e motivações na dinâmica das relações sociais. Os profissionais das diversas
áreas de responsabilidade social estão sensíveis a essas questões e hoje
demandam posicionamentos éticos que permitam efetivar investimentos
PSICOLOGIA JURÍDICA
67
alinhados com as reais demandas das comunidades, visando mais benefícios
em saúde, educação, justiça e cidadania para todos.
Ante a nova linha de atuação do Governo Presidencial da República
Federativa do Brasil, a partir de 2003, pela reavaliação da política antidrogas
implementada no país, pretende-se a redução de danos físicos e sociais,
individuais e coletivos que causam o uso de drogas em toda a sociedade.
Sabe-se ainda que, os operadores do Direito e profissionais da saúde,
bem como outros segmentos da sociedade não divergem quanto ao
entendimento que somente a pena de restrição de liberdade, ou seja, o
simples encarceramento do usuário de drogas – infrator não é efetivo nem
para ajudá-lo a deixar de usar drogas e nem para ajudá-lo na recuperação
de sua conduta ilícita. Em outras palavras, a simples aplicação e execução
das penas previstas em lei, apenas aumentam a probabilidade de se
exacerbar o dano social ao infrator usuário, ao abusador ou dependente de
drogas.
Além disso, sabe-se que a maioria dos usuários, abusadores e
dependentes de drogas não são, a priori, criminosos. Porém, é sabido também
que, em função das peculiaridades que envolvem o uso, o abuso e a
dependência de drogas, a maioria deles, tem dificuldade em reverter este
quadro e, especialmente os dependentes, acabam perdendo a liberdade de
escolha entre usar ou não usar as substâncias das quais se tornaram
dependentes e que, por isso, podem acabar se envolvendo em infrações.
Embora nem todos os usuários de substâncias psicoativas se tornem
dependentes, o fato é que, de maneira geral, pode-se afirmar que uma
pessoa sob o efeito de uma substância psicoativa sofre uma modificação do
seu funcionamento cerebral o que, na maioria das vezes, implica em uma
alteração do seu comportamento quando comparado a outros momentos
nos quais não tenha havido a utilização da substância.
Se, para alguns usuários, a alteração no comportamento possa não
implicar em problemas maiores para si mesmo, para outros ou para a
sociedade, o mesmo não é fato para muitos outros usuários. Condutas, tais
como, agressividade, violência familiar e interpessoal, acidentes de trabalho,
acidentes de trânsito, relações sexuais sem proteção (que aumentam a
probabilidade de gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis
e AIDS) e outras condutas consideradas infrações legais, em geral, são
conseqüências de alteraçãono comportamento de usuários sob o efeito
destas substâncias.
No Brasil, a criação do Juizado Informal de Pequenas Causas constituiu
conforto, alento e segurança para as pessoas humildes que tinham no
Judiciário o ancoradouro apto a garantir a solução dos problemas do dia-a-
dia. Com o seu aperfeiçoamento, através da Lei no 9.099/95, chegou-se a
uma significativa e silenciosa revolução de mentalidade e perspectiva concreta
no caminho de uma Justiça eficiente e cidadã.
A maior das transformações na instrumentalização do processo sob o
rito da Lei no 9.099/95 está por alcançar sua plenitude, com a mudança no
UNIDADE 5 - PSICOLOGIA JURÍDICA APLICADA NO JUDICIÁRIO
68
pensamento dos operadores do Direito, pela grande importância social do
alcance da referida lei.
O Juizado Especial inovou o sistema processual brasileiro abrindo espaço
para a crença e a consolidação de parcerias com o intuito do desenvolvimento
de projetos que, efetivamente, envolvam a sociedade civil na resolução dos
conflitos, dando-lhes uma solução não só jurídica, mas também social,
chegando, na medida do possível, ao âmago dos problemas. Tais projetos e
parcerias firmam-se a cada dia e vêm demonstrando o quanto é
representativo e significativo informar e preparar a população, pois, estando
consciente de seus direitos, o cidadão poderá evitar prováveis contendas
judiciais, bem como tornar-se capaz de resolver seus próprios conflitos com
autonomia, emancipação e solidariedade.
Neste sentido, é oportuno destacar que entre os projetos e parcerias
bem-sucedidas encontra-se o Projeto de Justiça Terapêutica que auxilia de
forma inequívoca a maior humanização da Justiça Penal.
O projeto nasceu ao ser constatado que, oportunizado o diálogo entre
a Defensoria Pública e a Promotoria, que atua na Vara da Infância e da
Juventude para todos os casos de situação de risco de crianças e
adolescentes (Art. 98 do ECA), com vistas a tratar o interesse do menor e
não o do requerente ou responsável sendo possível a obtenção de altíssimo
nível de transações satisfatórias, com a construção de espaço de cidadania.
O que se observa é que a promoção do diálogo entre as duas partes jurídicas
pode ser feita com melhor resultado por meio da mediação e manutenção
do código de valores comuns entre as partes.
O principal objetivo desse projeto é a promoção de uma Justiça
preventiva, visando melhorar o atendimento jurisdicional ao cidadão menor
infrator, atuando a partir dos conhecimentos adquiridos sobre as
necessidades desse menor proveniente de uma classe econômica baixa,
por vezes excluídas da sociedade. Sendo a equipe multidisciplinar do
Programa Justiça Terapêutica um importante elo mediador.
Considerando esses aspectos, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul passou a refletir sobre a possibilidade de esse mediador vir a atuar no
âmbito comunitário mais carente da sociedade civil brasileira. Evidentemente,
essa atuação não exclui a apreciação dos Juizados que remanescem
exercendo a função primordial de prestação jurisdicional na solução dos
litígios que resistirem a essa nova abordagem do exercício da Cidadania e
da Justiça. Assim, desse contexto vislumbra-se um novo trilhar para a
concretização dos direitos de cidadania, numa “Justiça ao alcance de todos”,
levando propostas de diálogo entre as searas jurídicas pertinentes que
acabam por possuírem interesses convergentes no que tange ao menor
infrator, a princípio, sempre excluído do sistema.
E, fundamentalmente, o Programa de Justiça Terapêutica é um exemplo
que nasceu da ousadia de mentes que trabalham por um mundo melhor e
têm buscado diferentes formas de promover a cidadania e levar as pessoas
a exercitar seus direitos.
PSICOLOGIA JURÍDICA
69
A participação de advogados, bacharéis em Direito, Juízes, Promotores e
demais profissionais multidisciplinares, tais como: psicólogos, assistentes
sociais e educadores podem contribuir para a formação de uma nova cultura
de efetivação de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos.
Essa participação tornará factível um dos valores primordiais perseguidos
pelos Juizados Especiais: a solução conciliada dos conflitos, tema que
abordaremos na próxima unidade.
Embora a condução do processo jurídico com eficiência e celeridade seja
fundamental, dada a natureza da relação violenta, é importante que as
famílias do menor infrator também sejam orientadas no sentido de repensarem
a forma como se relacionam e como contribuem para a perpetuação da
violência nas suas relações interpessoais. Assim, uma ação que pretenda
erradicar a violência deve proporcionar um espaço reflexivo para que os
diversos indivíduos envolvidos nas relações violentas possam mudar sua
forma de ação e seus valores.
O Programa de Justiça terapêutica tem organizado sua metodologia a
partir dos conhecimentos advindos da psicologia, do serviço social, da
antropologia, das ciências sociais, tendo como referencial teórico a abordagem
sistêmica e a teoria de resolução de conflitos. Estas abordagens embasam
práticas como a mediação e a terapia breve, metodologias que, por sua
característica célere, coadunam-se com a proposta dos Juizados Especiais.
O tratamento dos usuários visa evitar reincidivas dos mesmos,
ocasionadas pelo estado de dependência fisiológica e/ou psicológica em que
muitos se encontram quando do início do andamento do programa. Esta é
uma concepção avançada de Justiça por buscar compreender o autor da
infração numa realidade mais complexa, bem como trazer para o exercício da
Justiça o conhecimento da área de saúde de que a dependência de
substâncias químicas é uma doença e não apenas um ato criminoso.
Entende-se que um trabalho nessa área deve passar por uma visão
transdisciplinar, pois os fenômenos humanos devem ser compreendidos numa
perspectiva globalizada.
Segundo o professor Ubiratan D’Ambrósio (1996, p.44-50),
A transdisciplinariedade procura superar a organização disciplinar
encarando sempre fatos e fenômenos como um todo. Naturalmente,
não se nega a importância do tratamento disciplinar, multidisciplinar e
interdisciplinar para se conhecer detalhes dos fenômenos. Mas a análise
disciplinar, inclusive a multi e a interdisciplinar, será sempre subordinada
ao fato e ao fenômeno como um todo, com todas as suas implicações
e inter-relações, em nenhum instante perdendo-se a percepção e a
reflexão da totalidade. As propostas da visão holística, da complexidade,
da sinergia e, em geral, a busca de novos paradigmas de
comportamento e conhecimento são típicas da busca transdisciplinar
do conhecimento.
Sendo aplicada de maneira séria e adequada, o Programa de Justiça
Terapêutica propulsionará uma mudança de paradigmas, dos parâmetros
UNIDADE 5 - PSICOLOGIA JURÍDICA APLICADA NO JUDICIÁRIO
70
humanos, éticos e constitucionais. Atingido de maneira avassaladora os
operadores do direito, os membros do Ministério Público, e os integrantes
do Poder Judiciário. O Promotor de Justiça e o Defensor passam a ter uma
postura cooperativa, visando à pessoa do atendido, com anuência judicial.
Ocorre uma inovadora situação de trabalho integrado entre os operadores
do direito e os profissionais da saúde. É uma proposta inovadora e
revolucionária e a sua consagração se dá pelas vias do acesso a um
tratamento sério, com equipe multidisciplinar que propõe aos que, no
momento de experimentação, adentram em um mundo de solo de medo,
pisando em falso, de paredes de ilusão e firmamento de solidão e no decorrer
embriagado e tragado por esta realidade rompe com qualquer limite, tabu,
conceito, comprometendo sua integridade física, psicológica e social.
A Justiça Terapêutica não tem como curar, o seu compromisso é de
possibilitar ao infrator-usuário de drogas a compreensãode que possui dois
problemas: um legal, por ter cometido uma infração e outro de saúde,
relacionado com o seu uso de drogas. E o mais importante: o Programa
possibilita a resolução de ambos. Não há um ônus adicional para o Estado,
pois diminui o número de pessoas encaminhadas ao sistema carcerário, em
seguida, porque usa como referência a rede pública de saúde.
Quando evita a prisão, proporciona ao infrator a possibilidade de receber
atendimento profissional adequado, possibilitando a quebra da união droga-
crime, reduzindo a chance de repetição do comportamento infracional e
recorrente do uso de drogas, resulta na diminuição do ônus social e financeiro,
e quando do arquivamento do processo, evita o etiquetamento e a não-
ressocialização.
Enfim, uma das maiores motivações dessa integralização multidisciplinar
e o então marco zero, é que permita a transformação do sonho criminoso
no fator gerador de transformação e regeneração de forma constitucional
preceituando os direitos fundamentais, tendo sempre como meta a justiça
(jurisdicional, social e sistemática) e a ética.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia
no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija
as respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Na unidade VI, nossa última, trataremos das formas alternativas de
aplicação da Psicologia jurídica.
1
PSICOLOGIA JURÍDICA
PSICOLOGIA JURÍDICA
Graduação
EXERCÍCIOS
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PSICOLOGIA JURÍDICA
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5 PSICOLOGIA JURÍDICA APLICADA
NO JUDICIÁRIO
1. O Código Civil em vigor estabelece que, em casos de separação do casal
e após uma avaliação do psicólogo jurídico, a guarda da(s) criança(s) deve
ficar preferencialmente:
a) com a mãe.
b) com quem tem o maior salário.
c) com o pai.
d) com que realmente provê as necessidades da(s) criança(s).
e) a cada semana com um genitor.
2. Analise as afirmativas abaixo conforme falsa (F) ou verdadeira (V).
I - O psicólogo judiciário é quem vai determinar a guarda dos filhos.
II - A decisão da guarda, visita aos filhos e pensão alimentícia, em casos
de separação do casal, compete ao Juiz.
III - O Código Civil em vigor consagra que a preferência pela guarda da
criança é, preferencialmente, da mãe.
Marque a alternativa que corresponde à seqüência correta.
a) F, V, F
b) V, F, F
c) F, F, V
d) V, F, V
e) V, V, V
3. É objetivo do Projeto Justiça Terapêutica:
a) promover maior conhecimento sobre as necessidades do menor infrator.
b) promover uma justiça punitiva.
c) promover uma justiça preventiva.
d) promover uma justiça social.
e) promover uma justiça repressiva.
4. “O trabalho da Psicologia para o Direito é ___________________________
para o que magistrado possa melhor dirimir os conflitos que passam da área
privada para a pública, em função de conflitos emergentes”.
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UNIDADE 5 - PSICOLOGIA JURÍDICA APLICADA NO JUDICIÁRIO
Marque a alternativa que torne verdadeira a afirmativa acima.
a) a sua opinião particular
b) fornecer subsídios
c) guardar a lei
d) decidir quem tem razão
e) ter uma postura repressiva
5. O campo do Direito, associado ao da Medicina, voltou-se para infância, devido ao fato de que o
grande número de crianças que perambulam pelas ruas é visto como responsável
___________________________________ .
Marque a alternativa correta.
a) pela proliferação de pedintes
b) pela disseminação do HIV
c) pelo analfabetismo
d) pelo aumento da criminalidade
e) pela juventude liberal
6. O Programa de Justiça Terapêutica tem como referencial teórico:
a) psicologia e a biologia.
b) abordagem funcionalista.
c) antropologia e biologia.
d) teoria centrada na pessoa.
e) a abordagem sistêmica e a resolução de conflitos.
7. A partir das três últimas décadas, novas leis foram implementadas, fazendo com que a justiça fosse
aplicada de uma forma socioeducativa e pedagógica, partindo de projetos e parcerias, envolvendo a
comunidade para a solução eficaz dos seus conflitos. Daí, se inclui a prestação gratuita de serviços à
comunidade e o encaminhamento de adolescentes infratores ou dependentes de drogas para um
acompanhamento ______________________________ .
Marque a alternativa correta.
a) legal
b) religioso
c) psicossocial
d) médico
e) social
8. Nem todos os usuários de drogas se tornam dependentes, porém o fato é que sob tal efeito,
geralmente, eles sofrem ______________________________ , tais como: agressividade, violência
familiar, provocam acidentes de trânsito, praticam relações sexuais sem proteção e outras condutas,
consideradas infrações legais, que são conseqüências do efeito destas substâncias.
Marque a alternativa correta.
a) discriminação
b) modificações no seu comportamento
c) acusações
d) maus tratos
e) Nenhuma das opções acima.
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PSICOLOGIA JURÍDICA
9. “A decisão da guarda, visita e pensão alimentícia, em casos de separação do casal, compete
exclusivamente ao Juiz da causa, que se fundamenta em aspectos legais e morais, não havendo, até a
presente data, nenhuma alteração nesta forma de julgar.” Esta afirmativa está correta? Justifique a sua
resposta.
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__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
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__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
10. Após a leitura desta unidade, pode-se concluir que é o Psicólogo Judiciário quem vai determinar a
guarda ou esquema de visitas.
Esta afirmativa é falsa ou verdadeira? Justifique a sua resposta.
__________________________________________________________________________________
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FORMAS ALTERNATIVAS DE APLICAÇÃO
DA PSICOLOGIA JURÍDICA
É com grande satisfação que convidamos você, caro aluno, a iniciar os
estudos da nossa última unidade, quando trataremos das formas
extrajudiciais de solução de conflitos, atuais alicerces da Psicologia Jurídica
contemporânea.
OBJETIVOS DA UNIDADE:
Identificar a relevância das formas extrajudiciais para a solução de
controvérsias para a formação do operador de Direito contemporâneo no
contexto psicojurídico.
PLANO DA DISCIPLINA:
• Mediação.
• Conciliação.
• Arbitragem.
Bons estudos e Sucesso!
UNIDADE 6 - FORMAS ALTERNATIVAS DE APLICAÇÃO DA PSICOLOGIA JURÍDICA
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FORMAS ALTERNATIVAS DE APLICAÇÃO DA PSICOLOGIA JURÍDICA
Nós sabemos da urgente necessidade de criação de meios alternativos
para prevenir e solucionar os conflitos sociais. Obviamente que isto implica
na desmonopolização judiciária, porém com cautela. Em outras palavras, o
que estamos querendo mostrar é que estescaminhos alternativos não devem
pretender substituir o Poder Judiciário, mas sim cooperar na solução de
conflitos de menor complexidade. Assim, entendemos ser necessária a
democratização dos instrumentos de solução dos conflitos hoje centrados
no judiciário.
Segundo Cunha (2001), a estatização dos mecanismos de solução de
conflitos sempre foi nota predominante, caracterizada pela centralização e
monopólio desses mecanismos nas mãos do poder público. Foi outorgado
ao judiciário a responsabilidade pela solução dos conflitos sociais sem que
se reservasse qualquer espaço significativo para a adoção de mecanismos
alternativos que pudessem concorrer com o modelo estatal.
Mas nós sabemos que mecanismos extrajudiciais de prevenção e solução
das controvérsias devem ser pesquisados, analisados, modernizados e
adaptados ao contexto social, tais como, a conciliação, a mediação, a
negociação coletiva e a arbitragem. A desmonopolização da jurisdição estatal
deve ser reconhecida e admitida, conforme apoia Cunha (2001), para a
superação do colapso em que se encontra o judiciário brasileiro, a partir do
desfazimento de preconceitos e tabus quanto ao concurso da sociedade ou
grupos sociais na solução dos conflitos. Não podemos deixar de citar Andrighi
(1996), que assevera a importância de pensarmos na conciliação com vistas
a evitar o processo e, para tanto, sugere a utilização de formas alternativas
de solução dos conflitos como a mediação, a negociação, a arbitragem e até
mesmo o juiz de aluguel, cuja aceitação e freqüência de uso ainda encontram
muita resistência em nosso meio, devendo-se tal hesitação à nossa formação
romanística que reconhece como única forma de solução dos problemas
jurídicos a submissão destes a um juiz investido das funções jurisdicionais.
Devemos ainda considerar o fato de que as técnicas extrajudiciais para
a solução dos conflitos têm sido manejadas em outros países com
comprovada eficiência, evitando o assoberbamento do Poder Judiciário. Como
aponta Cintra (2006, p.25-26):
[...] abrem-se os olhos agora, todavia, para todas as modalidades
de soluções não jurisdicionais dos conflitos, tratadas como meios
alternativos de pacificação social. Vai ganhando corpo a consciência
de que, se o que importa é pacificar, torna-se irrelevante que a
pacificação venha pro obra do Estado ou por outros meios, desde que
eficientes. Por outro lado, cresce também a percepção de que o Estado
tem falhado muito na sua missão pacificadora, que ele tenta realizar
mediante o exercício da jurisdição e através das formas do processo
civil, penal ou trabalhista.
A sociedade atual tem em seu histórico uma cultura litigiosa e isso não
pelo número de conflitos que apresenta, mas pela tendência a resolvê-los
de forma adversarial. Porém, vivemos uma transição de paradigmas, e a
PSICOLOGIA JURÍDICA
73
contrapartida que se apresenta, nestes tempos de crise dos sistemas
judiciários de regulamentação de conflitos, é percebida pelo crescimento em
importância dos instrumentos consensuais e extrajudiciários. E, ainda
segundo o pensamento de Morais (1999), o modelo conflitual caracteriza-se
pela oposição de interesses entre indivíduos iguais em direitos e a atuação
de um terceiro encarregado de “dizer” (declarar) a quem pertence o direito.
É o modelo tradicional triádico de jurisdição. O Estado na qualidade de ente
autônomo e externo, neutro e imparcial, impõe a decisão.
O modelo consensual frente à oposição de interesses entre as partes
permite o debate direto entre elas. Aponta, assim, para uma desjudiciarização
do conflito, que permanece como instância de apelo.
Morais (1999) sugere o termo jurisconstrução para diferenciar de
jurisdição, no sentido de “construir o Direito”, ou a solução do conflito. Para
ele, é um repensar os modos de tratamento dos conflitos, com o objetivo de
implementar mecanismos de pacificação social mais eficiente, que não
desvirtuem os ideais de verdade e justiça social do processo, proporcionem
a desobstrução da justiça e assegurem as garantias sociais conquistadas.
Podemos propor, então, a análise das técnicas de solução que,
teoricamente, podem ser reunidas em três tipos fundamentais: a autodefesa,
a autocomposição, e a heterocomposição.
A autodefesa consiste na solução direta entre litigantes pela imposição
de um sobre o outro. O vocábulo “autodefesa” indica o ato pelo qual alguém
faz a defesa própria, por si mesmo. Supõe uma defesa pessoal. Segundo
Mascaro (1997), é a forma mais primitiva de solução dos conflitos; o que a
distingue é a ausência de um juiz distinto das partes e a imposição da decisão
por uma das partes à outra. Para Morais (1999), em face da ausência do
Estado, os conflitos ocorridos entre as pessoas eram resolvidos
instintivamente, ou seja, a parte interessada em satisfazer seu direito
buscava sua satisfação por meio do uso da força, impondo sua vontade ao
outro. Era a chamada autodefesa ou, mais costumeiramente, autotutela.
Neste instituto, o que realmente pesa é a força propriamente dita, o poder
de coação, que acaba por relegar a segundo plano qualquer parâmetro de
justiça. A autodefesa pode ser autorizada pelo legislador, acabam deixando
UNIDADE 6 - FORMAS ALTERNATIVAS DE APLICAÇÃO DA PSICOLOGIA JURÍDICA
74
notórias as deficiências dessa técnica, visto que a solução que provém de
uma das partes interessadas é unilateral e imposta, portanto, evoca a
violência, e a sua generalização importa a quebra da ordem e a vitória do
mais forte e não do titular do direito.
Na ordem trabalhista, por exemplo, são manifestações autodefensivas
a greve e o locaute como as principais. Cabe, porém, para os presentes
fins, uma breve referência a eles. A greve, segundo Nascimento (1997), é a
paralisação das atividades para pressionar o empregador a conceder
melhoria de condições de trabalho. Os trabalhadores recusam-se a prestar
a sua colaboração ao patrão, como forma de imposição para levá-lo a aceitar
as reivindicações. O empregador, para evitar as conseqüências prejudiciais
de ordem econômica, cede diante dos trabalhadores, coagido pelas
circunstâncias. Nos sistemas jurídicos são três as posições adotadas quanto
à greve. Há países que a proíbem, como os do leste europeu, onde a greve
é considerada crime contra a economia. Outros simplesmente a consideram
um fato social não passível de regulamentação jurídica, como a República
Federal da Alemanha. Finalmente, outros países a consideram um direito,
como limitações, maiores ou menores, ou ainda, com uma legislação de
respaldo. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 declara a greve um direito
com algumas restrições quanto aos serviços inadiávies, porque nestes a
greve não pode paralisar as atividades, em decorrência da lei de greve (nº
7783, de 1989); o artigo 12 declara que os trabalhadores, nos casos de
necessidades inadiáveis da comunidade, ficam obrigados a garantir a
prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento destas.
As técnicas autocompositivas também consistem na solução direta das
partes, mas não pela imposição e sim pelo acordo. De acordo com Nascimento
(1999), a autocomposição é a técnica segundo a qual o conflito é solucionado
por ato das próprias partes, sem emprego de violência, mediante ajuste de
vontades. Nesta técnica, um dos litigantes ou ambos consentem no sacrifício
do próprio interesse, daí a sua classificação em unilateral ou bilateral. A
renúncia é um exemplo da primeira e a transação da segunda. É uma técnica
superior à autodefesa, porque resulta da harmonização a que chegam os
próprios interessados, mas deve-se observar para a desigual resistência
econômica dos litigantes não leve à capitulação de um deles, caso em que a
espontaneidade da solução consentida é meramente aparente.
Conforme já salientado, a autocomposição é a forma

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