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05555 IOB Hermenêutica Jurídica

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Hermenêutica Jurídica
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O Instituto IOB nasce a partir da experiência 
de mais de 40 anos da IOB no desenvolvimento 
de conteúdos, serviços de consultoria e cursos de 
excelência.
Através do Instituto IOB é possível acesso 
à diversos cursos por meio de ambientes 
de aprendizado estruturados por diferentes 
tecnologias.
As obras que compõem os cursos preparatórios 
do Instituto foram desenvolvidas com o objetivo 
de sintetizar os principais pontos destacados nas 
videoaulas. 
institutoiob.com.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação 
(CIP)
...
Hermenêutica Jurídica / [Obra organizada pelo 
Instituto IOB] – São Paulo: Editora IOB, 2011.
Bibliografia.
ISBN 978-85-8079-030-6...
Informamos que é de interira 
responsabilidade do autor a emissão 
dos conceitos.
Nenhuma parte desta publicação 
poderá ser reproduzida por qualquer 
meio ou forma sem a prévia 
autorização do Instituto IOB.
A violação dos direitos autorais é 
crime estabelecido na Lei n• 9610/98 e 
punido pelo art. 184 do Código Penal.
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Sumário
Capítulo 1 — A Interpretação do Direito, 5
1. Introdução Etimológica, 5
2. A Finalidade da Interpretação, 6
3. A Interpretação do Direito e a Hermenêutica Jurídica, 7
4. Interpretação, Aplicação e Integração no Direito: Processos Mutuamente 
 Implicados, 9
5. O Silogismo Jurídico e as Funções da Atividade Jurisdicional, 10
5.1 Silogismo Jurídico?, 11
5.2 As Funções da Atividade Jurisdicional na Formação do Silogismo 
 Jurídico, 13
6. Tipos de Interpretação Segundo a Figura do Intérprete, 14
7. Os Métodos Clássicos de Interpretação (ou da Hermenêutica Tradicional), 15
7.1 Método Exegético, Literal ou Gramatical, 16
7.2 Método Lógico, 20
7.3 Método Sistemático, 21
7.4 Método Teleológico, 23
7.5 Método Histórico-evolutivo (Histórico + Sociológico), 24
 
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Capítulo 2 — A Superação dos Métodos de Interpretação Mediante Puro 
 Raciocínio Lógico-Dedutivo, 27
1. Distinções entre Hermenêutica Jurídica, Hermenêutica Científi ca (ou 
 Geral, ou Teoria da Interpretação) e Hermenêutica Filosófi ca (ou 
 Ontologia Fundamental), 27
2. A Reviravolta Hermenêutica, 29
3. Velha Hermenêutica e Nova Hermenêutica, 32
Capítulo 3 — O Método de Interpretação Pela Lógica do Razoável, 34
Referências, 38
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Capítulo 1
A Interpretação do Direito 
1. Introdução Etimológica 
A palavra hermenêutica deriva do adjetivo grego hermeneutike, também rela-
tivo ao verbo hermenêuein. “Signifi ca declarar, anunciar, interpretar ou escla-
recer e, por último, traduzir. Apresenta, pois, uma multiplicidade de acepções, 
as quais, entretanto, coincidem em signifi car que alguma coisa é ‘tornada 
compreensível’ ou ‘levada à compreensão’.” (Coreth, 1973 p. 1). O deus grego 
mensageiro-alado Hermes era um mediador entre a linguagem divina e a hu-
mana, esclarecendo, revelando aos humanos o sentido das proposições divinas. 
Portanto, a palavra hermenêutica provavelmente estaria ligada à atividade de 
Hermes, que tinha a missão de transmutação, “no sentido de transformar tudo 
aquilo que ultrapassa a compreensão humana, em algo que essa inteligência 
consiga compreender.” (Palmer, 1997, p. 24).
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Já em Roma encontramos a palavra interpretatio, equivalente à hermenêutica 
no grego, e a referência religiosa também é aqui suscitada. Especula-se que a ativi-
dade do áugure, espécie de intérprete que tinha por missão revelar a vontade dos 
deuses aos homens, especialmente do governo romano, tenha sido referência para a 
palavra interpretação. Os augures tinham por função 
aconselhar os governantes, civis ou militares, com base na ciência dos 
presságios: a significação do vôo dos pássaros, da disposição das vísceras de 
um animal, ou do apetite das galinhas sagradas, por exemplo. Graças a esse 
poder religioso, os áugures acabavam decidindo a realização de assembléias, 
ou julgavam a validade das mais variadas decisões dos agentes públicos. Sua 
influência era tão grande que uma das primeiras decisões de Augusto, ao se 
tornar imperador, foi a de se declarar príncipe e mestre do colégio augural. 
(Comparato, 2006, p. 53) 
Suspeita-se que a leitura feita pelas vísceras, encontrando sentidos entre elas, 
teria dado origem à palavra interpretação, pois que vislumbrados inter partes, e daí 
interpretatio, como a atividade de clarificação, esclarecimento a partir dessa leitura 
feita entre as partes internas do animal. 
2. A Finalidade da Interpretação
A finalidade da interpretação é a compreensão, ou seja, a apreensão de algo já cons-
truído por outra mente (a do autor da obra) com a qual o intérprete estabelece contato 
por intermédio de suas exteriorizações em bases simbólicas (linguagem), respeitando 
os limites estabelecidos pelo autor no momento da criação. A interpretação tem, por-
tanto, um objetivo: a compreensão, que é o ato através do qual nos apropriamos do 
conteúdo transmitido por outra pessoa, e que nos é passado através da linguagem. 
Começamos nossa atividade interpretativa sempre que se nos deparam formas 
perceptíveis, através das quais uma outra mente, que se objetivou nelas, se dirige a 
nossa compreensão; o objetivo da interpretação é compreender o significado dessas 
formas (textos, expressões faciais...etc.), descobrir a mensagem que nos querem 
transmitir. (Bleicher, 1992, p. 48)
A interpretação jurídica, como uma dogmática hermenêutica, esclare-
ce Ferraz Júnior (2003: 256), tem uma tarefa a mais: “a determinação do 
sentido das normas, o correto entendimento do significado de seus textos 
e intenções, tendo em vista a decidibilidade de conflitos”, isto é, trata-se de 
uma dogmática da interpretação que visa a uma norma concreta hábil a 
solucionar questões trazidas ao Direito.
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3. A Interpretação do Direito e 
a Hermenêutica Jurídica
Interpretar é tarefa essencial do jurista, e para auxiliar tarefa tão laboriosa é que 
surge no cenário das disciplinas teóricas do Direito a Hermenêutica Jurídica, ciência 
metodológica que visa a fixar
ideias e critérios gerais quanto possível definidos, isto é, uma doutrina que 
oriente nesta atividade, dizendo-lhe qual seja, no seu substrato, o sentido 
legal prevalente – aquele com que deve aplicar-se a lei –, apontando-lhe os 
elementos a que para a sua determinação se haverá de recorrer, e discrimi-
nando-lhe, por último, o valor relativo de tais elementos. (Andrade, 1987, 
p. 9-10).
Nesse sentido é que se diz que a Hermenêutica é uma ciência metodológica, 
como um caminho mais adequado possível para uma melhor apreensão de sentido 
dos textos normativos. A palavra método vem do grego methodos, met’ hodos, que 
significa “o caminho a ser seguido para chegar a determinado fim”. Desse modo, a 
Hermenêutica Jurídica tem por fim encontrar padrões de justificação racional para 
interpretações coadunadas com textos e contextos postos em relação, papel a ser 
desempenhado pelo intérprete da lei. É o caminho de ingresso no interior do signi-
ficado da lei por um terceiro intermediário que aproxime, compreenda e concilie as 
partes, pondo fim ao conflito de modo justo. Não olvidemos que as compreensões 
dos textos jurídicos aplicadas em decisões fazem coisa julgada. Veja a seriedade e 
importância da fundamentação sobre o melhor sentido a ser extraído de textos legais.
A interpretação jurídica tem por tarefa descobrir o sentido (conteúdo) e alcance 
das leis, explorando todasas possibilidades de compreensão dos textos nelas veicula-
dos. Daí a necessidade de uma Hermenêutica destinada aos textos jurídicos. Como 
explica Karl Engisch, 
a tarefa da interpretação é fornecer ao jurista o conteúdo e o alcance 
(extensão) dos conceitos jurídicos. A indicação do conteúdo é feita por meio 
duma definição, ou seja, pela indicação das conotações conceituais (espaço 
fechado é um espaço que...). A indicação do alcance (extensão) é feita pela 
apresentação de grupos de casos e casos individuais que são de subordinar, 
quer dizer, subsumir, ao conceito jurídico. (1972, p. 251)
 Os romanos atribuíam à lei três elementos constitutivos: seu corpus; sua mens; sua 
ratio. O corpo é a letra da lei, o veículo simbólico de seu conteúdo, seu significante. 
Significar significa “apontar para algo diverso de si mesmo”. A linguagem significa 
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conceitos relativos à realidade, ou seja, aponta para algo que não é o símbolo em si. 
Desse modo, a palavra maçã aponta para um objeto real, um fruto com tais e tais 
características (cor, forma, consistência, cheiro, sabor etc). 
A mens é o espírito da lei, ou seja, seu sentido. A propósito, exemplar a passa 
bíblica da Segunda Epístola do Apóstolo Paulo aos Corintos, 3:6: “O qual (Deus) 
nos fez também capazes de ser ministros dum novo testamento não da letra, mas do 
espírito; porque a letra mata, e o espírito vivifica.” Similar afirmação encontramos na 
Filosofia Clássica: summum ius summa iniuria, isto é, o direito levado às suas últimas 
consequências, o excessivo apego a suas fórmulas, só traz injustiça. O texto jurídico 
há de ser adaptado (epieikéia: adaptação, equidade), “temperado” pelo aplicador 
face às condições concretas de subsunção. 
E a ratio é a finalidade, o telos da lei. Por ela invocamos quando fazemos 
perguntas do tipo: para que essa lei, qual o seu propósito, a que ela visa, o que pre-
tende alterar na realidade, a que se destina? As formulas legais são sintéticas e não 
autoexplicativas. As razões de ser da lei hão de ser explicitadas e perscrutadas pelo 
intérprete, pelo aplicador, pela Ciência do Direito, enfim.
O sentido da lei pode se ampliar para além de sua letra, pois o intérprete pode 
legitimamente fixar um significado mais preciso, unívoco, para determinada propo-
sição, ou, ao contrário, diante de um símbolo ambíguo, pode ele estender a possibili-
dade de significados. Dependendo do quanto o espírito ou sentido se elastece, é que 
dizemos que a interpretação foi de resultado declarativo, ou restritivo, ou extensivo. 
Trata-se de um equívoco referir-se a interpretação declarativa, restritiva ou extensiva 
como métodos de interpretação. Não se trata de métodos, e sim de resultados.
Resultado é o que se obtém como rol mais amplo ou mais restrito de significa-
ções a partir do que o corpo do texto comporta, ou seja, a maior ou menor significa-
ção, maior ou menor compreensão, a partir de uma base simbólica que comporta 
mais ou menos significados no contexto sob análise. Compreensão aqui significa as 
possibilidades significativas que possam “estar mais ou menos compreendidas pelo 
símbolo”, se mais ou menos significados podem ser veiculados naquele (abarcados 
pelo) significante em questão. 
Para fixar melhor (ou ao menos mais razoavelmente) o sentido do texto, pode 
o intérprete socorrer-se da indagação sobre a razão de ser da lei (sua ratio), sua 
finalidade, procedimento conhecido como método de interpretação teleológico, 
excelente termômetro para medirmos os sentidos possíveis de um texto normativo, e 
fixar limites incompatíveis com sua finalidade. Quando o intérprete está diante de 
um prazo processual, a tarefa hermenêutica é menos laboriosa que quando se há de 
definir, por exemplo, a expressão grave violação de direitos humanos para justificar 
o incidental de deslocamento de competência da Justiça Estadual para a Federal, 
conforme exigido pelo art. 109, § 5º da CF/88. O que vem a ser grave violação? A 
questão dos prazos processuais se resolve muito singelamente com a contagem de 
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dias e ou horas conforme as prescrições processuais. Basta acessar um calendário 
para subsumir a circunstância ao preceito; o complicador fica por conta dos dias 
úteis, feriados forenses, contagem inicial e final etc., os quais a jurisprudência tenta 
pacificar em julgados recorrentes.
4. Interpretação, Aplicação e Integração no 
Direito: Processos Mutuamente Implicados
Interpretar é a busca do sentido, tornar compreensível. Como a lei pode apre-
sentar vários sentidos, há que se escolher um deles, pois só com um deles ela pode 
ser aplicada. 
Saber qual deva ser, no seu tipo abstrato, o sentido decisivo para o efeito da 
aplicação da lei, qual seja – dum modo geral – o ponto de vista em que o 
intérprete deve colocar-se para determinar o sentido legal prevalecente, eis 
aqui o primeiro e capital problema que a doutrina da interpretação das leis 
terá de resolver. (Andrade) 
Applicare em seu sentido original aponta para a ideia de “enroscar”, “juntar”. 
No jargão jurídico, aplicar é colocar a norma em contato com um referente objetivo, 
que são os fatos e atos (Ferraz Júnior, 2003, p. 485). 
Segundo Salgado (2006, p. 194), hermenêutica jurídica e aplicação são insepa-
ráveis, mas não se confundem. 
A interpretação é momento intelectivo do processo de aplicação, pelo qual 
se arma a conclusão da argumentação jurídica. A aplicação avança mais; 
inclui o momento volitivo, a decisão. (...) De qualquer modo, a decisão, 
embora esteja na esfera volitiva, é, como, decisão jurídica, sempre funda-
mentada (...).
Resumindo, a aplicação consiste na subsunção de fatos às disposições norma-
tivas por meio de uma atividade complexa que correlaciona aspectos normativos, 
fáticos e valorativos (coordenação axiológica de fato à norma), de que resulta a qua-
lificação jurídica da conduta. Não problematizemos por hora o sentido da palavra 
subsunção, hoje bastante desprestigiada, e eu diria “mal compreendida” até, entre as 
teses sobre a nova hermenêutica jurídica. Voltaremos ao tema. 
A denominada integração do Direito é o processo lógico e axiológico de preen-
chimento de lacunas. Manuel Domingues de Andrade (1987, p. 10) explica que é 
possível falar-se em teoria da interpretação em sentido amplo e em sentido estrito. 
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Neste último, não está incluída a discussão sobre o problema das lacunas no Direito, 
objeto de uma doutrina da integração das leis. Já num sentido mais amplo, e tam-
bém muito usado, a teoria da interpretação abarca a doutrina das lacunas, que “se 
propõe a investigar e formular princípios acerca de qual deva ser a disciplina jurídica 
das relações que a lei não prevê e regula, pelo menos directamente”. Nesse contexto 
discute-se o problema da completude do sistema jurídico e de suas falácias norma-
tivas, as lacunas. 
Lacuna, como definição proposta por Karl Engisch, citada por Ferraz Júnior 
(2003: 219), é uma incompletude insatisfatória dentro da totalidade jurídica. 
Incompleto é o inacabado, “o que não foi acabado de ser feito dentro de um limite”. 
A incompletude jurídica é ainda insatisfatória, isto é, é algo “não suficientemente 
feito”. Nem tudo que é inacabado é insuficiente, como as obras de arte abertas; mas 
no caso da lacuna a insuficiência não devia acontecer, ela não é aceita. 
Mister distinguir lacunas do que os alemães denominam beredtes Schweigen 
(silêncio eloquente) da lei: ao contrário da incompletude insatisfatória, o silêncio 
eloquente significa que a hipótese prevista em lei é a única contemplada, nãose 
admitindo, portanto, a analogia para construir regramento similar. O resultado do 
processo será uma interpretação a contrario sensu, e não a extensão do sentido do 
texto para um alcance maior de seu comando.
A ordem jurídica pretende-se ao menos completável. Ainda que seja deflagrada 
a lacuna, esta há de ser colmatada, preenchida segundo critérios normativo-jurídi-
cos e doutrinários como autointegração e heterointegração. A abordagem desse tema 
situa-se na Teoria das Fontes do Direito, e será retomado no curso de Teoria Geral 
do Direito e da Política.
5. O Silogismo Jurídico e as Funções 
da Atividade Jurisdicional
Francesco Ferrara (1987: 110-113), partindo da ideia de que o juiz é a viva 
vox iuris, elenca quais são as três funções por ele desempenhadas no processo de 
interpretação e aplicação das leis. O autor não menciona expressamente que tais 
funções se desenrolam segundo uma estrutura triádica e silogística, mas admite que 
o desencadeamento do ato decisional se dá de maneira silogística: 
Tem-se dito que o julgamento é um silogismo em que a premissa maior 
está na lei, a menor na espécie de fato e o corolário na sentença. E isso é 
verdade, embora se não deva acreditar que a atividade judicial se reduz a 
uma simples operação lógica, porque na aplicação do direito entram ainda 
fatores psíquicos e apreciações de interesses, especialmente no determinar 
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o sentido da lei, e o juiz nunca deixa de ser uma personalidade que pensa 
e tem consciência e vontade, para se degradar num autômato de decisões. 
(Ferrara, p. 112)
Não enfrentaremos nesse ponto as divergências sobre a natureza silogística (ou 
não) de procedimentos de interpretação e aplicação do direito; bem como em quais 
sentidos a expressão silogismo jurídico pode ser empregada. Ressaltamos apenas que 
a estrutura silogística de encadeamento do raciocínio não é em si um limitador da 
atuação do intérprete/julgador no trato com os textos legais. O modo como o intér-
prete atua na estrutura silogística é que pode ser mais ou menos livre na formulação 
dos juízos que integram tal estrutura: se segundo as concepções da lógica formal ou 
da lógica do razoável, que veremos adiante. Aqui se situa a querela entre os juristas 
sobre o silogismo de operações lógicas (dito dogmático, racional stricto sensu, pró-
prio da lógica formal ou de inferência) e silogismo de operações extralógicas (da 
lógica do razoável ou de estimativa, que leva em consideração fatores psicológicos, 
axiológicos etc.) (Legaz; Lacambra, 1980, p. 566). 
Ressaltemos, por fim, que tomamos por empréstimo parcialmente a estrutura 
apresentada por Ferrara por considerarmos mais elucidador que simplesmente 
passarmos ao trato dos métodos de interpretação sem situá-los num contexto onde 
cumprem o papel de determinação de sentido de uma norma concreta apta a solu-
cionar conflito. E a referência à atividade ou funções do juiz fixa o entendimento 
de que o juiz tem poder decisional final nos processos de interpretação jurídica, o 
que é bastante significativo na práxis do direito. O que não quer dizer, sob qual-
quer hipótese, que estamos aqui a afirmar que as atividades de interpretação se 
restringem à atuação oficial do Poder Judiciário, e muito menos que interpretação 
necessariamente conduza a aplicação. Trata-se mais de um ponto de partida didá-
tico, sob pena de não se conseguir esgotar a matéria (que é extremamente ampla, 
complexa e fecunda) segundo os recortes propostos neste texto propedêutico.
5.1 Silogismo Jurídico?
Silogismo é a operação lógica que consiste em inferir consequências corretas de 
premissas lançadas. Segundo a doutrina clássica do Direito, o silogismo jurídico se 
desenvolve triadicamente nos moldes propostos pela lógica formal: premissa maior; 
premissa menor; conclusão. Assim, a premissa maior é constituída pela normal geral 
e abstrata; a menor pelo juízo que declara realizado o suposto fático da premissa 
maior; e a conclusão se dá pela imputação das consequências jurídicas aos sujeitos 
implicados no caso (Maynez, 1956, p. 321). Veja que a premissa maior está lançada 
na forma de lei. Mas essa lei, norma aplicável (potencial e abstratamente) deve ser 
efetivamente aplicada em função do caso concreto, ou seja, em função da premissa 
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menor, que é o fato. A conclusão silogística é a aplicação da norma particular for-
mulada em razão de e para o caso concreto. Não há de se aplicar a norma do roubo 
ao furto, justamente porque a situação de fato permite a distinção entre um e outro 
tipo penal. E essa distinção, com as consequências jurídicas dela decorrentes, não 
ocorre por simples inferência das normas respectivas, ainda que dependamos delas 
para que nos orientem no mundo dos fatos (Legaz; Lacambra, p. 567).
A distinção fundamental apontada pela Filosofia e pela Ciência da Lógica entre 
silogismo teórico e silogismo prático (aqui incluído o jurídico) é que o raciocínio 
teórico parte de uma premissa ontológica e não deontológica, isto é, de um enun-
ciado que afirma, descreve, hipotética ou apoditicamente, uma ideia a partir da qual, 
por dedução ou inferência, chega-se a uma conclusão que afirma algo e não que 
regula algo. O silogismo prático, ao contrário, parte de um comando geral para 
o agir e conclui-se com um comando específico para o agir. Sua premissa maior 
expressa um dever ser. O silogismo prático visa a uma máxima comportamental, 
uma regra para o agir, seja ela de ordem moral, ética, religiosa ou jurídica, o que 
vai depender do tipo de norma tomada por premissa. Diz-se que o procedimento 
próprio do silogismo jurídico não é a dedução, mas a subsunção. Subsumir significa 
“tomar o lugar de”; vem do latim subsumere (tomar sob); no caso do silogismo jurí-
dico, trata-se do raciocínio que consiste em revelar que um fato reproduz a hipótese 
normativa prevista, indicando a ocorrência concreta da previsão in abstracto.
 » Um exemplo de silogismo teórico: Se A é igual a B, e B é igual a C; A é igual 
a C. 
 
A conclusão é uma afirmação.
 » Um exemplo de silogismo prático-jurídico: subtrair para si ou para outrem 
coisa alheia móvel: pena X (sendo descrita a conduta ilícita, fica pressuposto o 
dever de respeitar o patrimônio alheio); Fulano subtraiu nos termos previstos; 
logo, Fulano deve receber a pena X. 
A conclusão é um comando: veja que aqui temos um fato possível descrito com 
consequência jurídica a ele atribuída, imputada. Ferraz Júnior (2003, p. 278) escla-
rece que no processo interpretativo temos de um lado uma prescrição e de outro a 
realidade; o texto normativo é uma 
língua, que deve ser interpretada (...); e a realidade nada mais é do que 
um sistema articulado de símbolos num contexto existencial”. Mas, essa 
realidade-língua, “para o jurista, aparece como que de fato acontece. No 
entanto,” ‘fato’ não é algo concreto, sensível, mas um elemento linguístico 
capaz de organizar uma situação existencial como realidade.
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5.2 As Funções da Atividade Jurisdicional 
na Formação do Silogismo Jurídico
 » Premissa maior: determinação da norma aplicável a um caso concreto apre-
sentado, atividade que também consiste em tríplice investigação, quais sejam: 
a) a verificação de existência da norma; b) a fixação de seu sentido e alcance; 
c) e a decisão hipotética sobre sua possível aplicação ao caso sub judice (apli-
cabilidade). O princípio que rege essa função é o iura novit curia (a corte 
conhece o direito), de tal modo que o juiz não pode se eximir de fornecer a 
prestação jurisdicional, menos ainda sob o argumentode desconhecimento 
de lei aplicável.
 » Premissa menor: averiguação do fato, que fica a cargo das partes, mas condu-
zida pelo julgador, e submetendo-se ao princípio geral do allegata et probata 
para a formação do seu convencimento, que deverá ser motivado. Não entra-
remos no mérito das disposições dogmáticas atuais sobre a inversão do ônus 
da prova. 
 » Conclusão: pronunciamento do resultado jurídico decorrente do processo de 
subsunção da circunstância fática às normas jurídicas. Está a norma concreta 
veiculada na parte dispositiva da sentença.
 
A primeira atividade da tríplice investigação referida por Ferrara, e que tomamos 
como premissa maior, é detectar se no sistema jurídico existe norma válida e vigente 
aplicável. Sobre os detalhamentos dessa tarefa, indico a leitura da obra de Francesco 
Ferrara aqui referida, páginas 115 a 125. Os métodos de interpretação do Direito, 
ao menos na perspectiva clássica, se destinam à atividade de fixação de sentido e 
alcance da norma jurídica aplicável ao caso. O último passo é a decisão sobre a apli-
cação da regra concreta construída ao caso analisado. Aqui propriamente falamos 
em aplicação, que é a conclusão do silogismo acima descrito. Já ao final do processo 
de determinação da norma aplicável (indicado acima pela letra c), já se tem um pri-
meiro ato decisional potencial. Isso significa: o juiz já conclui que aquela norma por 
ele concretamente formulada, com tal ou qual sentido, está apta a solver a questão. 
Na fundamentação da sentença já se vislumbra essa decisão ainda potencial, mas é 
no dispositivo da sentença que, enfim, a norma é aplicada, ou seja, ali se encontra 
a norma concreta que põe termo à querela jurídica. Tendo estruturado o raciocínio 
jurídico aqui tomado apenas como referência didática, passemos aos tipos e métodos 
tradicionais da interpretação do Direito. 
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6. Tipos de Interpretação Segundo 
a Figura do Intérprete
A interpretação jurídica não é atividade exclusiva do juiz, não obstante ser dele 
a decisão (aplicação) com força de coisa julgada, segundo o princípio da inafasta-
bilidade do controle jurisdicional, inserto no art. 5º, inc. XXXV, da Constituição 
Federal de 1988. Classifica-se a interpretação jurídica segundo a figura do intérprete 
da qual ela emana: autêntica, judicial, doutrinária. Nos textos de Direito Público, 
em especial da hermenêutica constitucional, menciona-se ainda interpretação 
administrativa, a ser desenvolvida pelo Poder Executivo. 
 » Interpretação Autêntica: o legislador estabelece qual deva ser a interpretação 
dada a determinada lei por uma segunda lei que tem por função veicular essa 
norma secundária interpretativa, que tem alcance geral, erga omnes. (Maynez, 
1956: 329);
 » Interpretação Judicial ou Jurisdicional: a função jurisdicional, o exercício da 
dicção do direito (juris dictio) impõe ao juiz a interpretação do Direito para a 
aplicação da norma individualizada ao caso concreto (inter partes). (Maynez). 
Não podemos deixar de mencionar as ressalvas a serem feitas nesse quesito 
em duas circunstâncias jurídicas de suma importância hoje. Referimo-nos 
aos efeitos erga omnes típicos de atos decisionais jurisdicionais em sede de 
controle concentrado de constitucionalidade das leis, que trás tutela e funda-
mentos hermenêuticos próprios da Nova Hermenêutica Constitucional, em 
especial do Princípio da Supremacia da Constituição. Outra ressalva é para 
aos casos de tutelas metaindividuais, grande revolução nos sistemas jurídicos 
contemporâneos, por pretender que a prestação jurisdicional atinja direitos 
de forma molecular e não atomizada, o que interfere nos limites subjetivos da 
coisa julgada (art. 472, CPC).
 » Interpretação Doutrinária: é a interpretação dada por um advogado, ou par-
ticular, ou jurista de modo geral, que, ao interpretar disposições legislativas, 
correta ou incorretamente, tem sempre um valor doutrinário, de sugestão de 
sentido possível, em nada obrigando. Só as duas outras têm caráter oficial e 
público (Maynez, p. 330).
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7. Os Métodos Clássicos de Interpretação 
(ou da Hermenêutica Tradicional)
Tércio Sampaio Ferraz Júnior afirma que métodos de interpretação são, na 
verdade, regras técnicas para a obtenção de um resultado, qual seja, a solução de 
problemas que podem inviabilizar a decidibilidade de conflitos no Direito (Ferraz 
Júnior, p. 286). E o Direito não pode se eximir dessa função social. Nesse ponto pen-
samos serem importantes algumas advertências: em primeiro lugar, uma questão 
suscitada particularmente pela Hermenêutica Filosófica é se tais métodos resolvem 
efetivamente os problemas surgidos no trato do intérprete com textos jurídicos. Por 
exemplo: um texto de literatura pode conter lacunas e isso não implica num drama 
decisional. Na obra Dom Casmurro de Machado de Assis não é possível descobrir 
a verdade sobre as narrações ciumentas de Bento Santiago, marido de Capitu, que 
lhe imputa a traição com o amigo. Trata-se de uma obra aberta, em que Machado, 
ironicamente provocativo, deixa a cargo do leitor a conclusão, a tomada de decisão 
sobre a ocorrência ou não da traição. O texto não traz um desfecho convincente 
desabonador ou não da conduta de Capitu. 
A obra aberta não é um problema para a Hermenêutica, mas a obra jurídica 
incompleta (norma jurídica lacunosa) é um problema sério a ser enfrentado pela 
Hermenêutica Jurídica, a começar por uma exigência preliminar: o intérprete deve 
se posicionar, antes de tudo, pela deflagração da existência de lacuna, ou simples-
mente pela constatação de que uma tal matéria não é objeto de regulação jurídica, 
caso em que o juiz não reconhece causa de pedir, indeferindo, portanto, o pedido. 
A interpretação jurídica, enquanto proceder que visa a uma norma para solução 
de conflito, é em essência a emissão de um ato de vontade da autoridade que tem 
competência para executar a lei. Nesse sentido, Kelsen faz severa crítica à pretensa 
cientificidade da disciplina Hermenêutica Jurídica: esta não se presta a um fim cien-
tífico, rigoroso, não sendo, portanto uma ciência. Isso porque, se o seu objeto são 
conteúdos normativos, que trazem significações variadas, fica a cargo da ciência 
jurídica apenas descrever tais possibilidades de significação; apenas mostrar quais 
significações possíveis que símbolos postos em textos de leis podem veicular, jamais 
fixar qual a melhor significação. “Querer por artifícios metodológicos, ir além da 
demonstração, tentar descobrir uma univocidade que não existe, é falsear o resul-
tado e ultrapassar as fronteiras da ciência”. (Ferraz Júnior, p. 263). Daí em diante o 
que o intérprete faz é tentar persuadir de que tal é a melhor saída, nada mais sendo 
que uma escolha, a emissão de um juízo próprio de valor, ou até de oportunidade 
e conveniência, que a autoridade competente para decidir acatará ou não. Não se 
trata aqui de conclusão rigorosa calcada em pressupostos científicos. O ato de julgar, 
diz Kelsen, não é um “eu sei’, e sim um “eu quero”, pois se emite um ato de vontade 
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para definir um sentido como o único considerado. A palavra definir vem do latim 
finis, que significa “estabelecer limites”; e nisso consiste a interpretação de uma 
autoridade que julga: sua finalidade não é intelectual – ato de conhecimento-, e sim 
decisional – ato de vontade (Ferraz Júnior, p. 262). 
No entanto, Ferraz Júnior contrapõe uma pergunta a essa questão posta por 
kelsen, cuja tentativa de resposta ele denomina o desafio kelseniano:
Não teria, pois, nenhum valor racional procurarum fundamento teórico 
para a atividade metódica da doutrina, quando esta busca e atinge o sentido 
unívoco das palavras da lei? Seria um contra-senso falar em verdade herme-
nêutica? (Ferraz Júnior)
Uma segunda advertência vem de Eduardo Garcia Maynez, que nos conforta 
com a seguinte afirmação sobre os chamados métodos de interpretação no Direito: 
Os métodos hermenêuticos são numerosíssimos. As diferenças entre eles 
derivam fundamentalmente da concepção que seus defensores têm acerca 
do que se deve entender por sentido dos textos, bem como das doutrinas que 
professam sobre o direito em geral. (...) As diversas escolas de interpretação 
partem de concepções completamente distintas acerca da ordem jurídica e 
do sentido do trabalho interpretativo. Não se estranha, pois, que os méto-
dos propostos sejam tantos e tão diversos.” (Tradução livre). (Maynez, 1956, 
p. 331).
7.1 Método Exegético, Literal ou Gramatical 
A palavra exegese significa “explicação, comentário ou interpretação dos textos 
especialmente bíblicos”. Segundo a ideia principal da Escola da Exegese na França 
do século XIX, não há que se falar em interpretação do direito, mas tão somente de 
interpretação das leis. A tarefa do intérprete consiste em levar até o limite o desen-
volvimento da interpretação das fórmulas legais, e a investigação por todos os meios 
da vontade do legislador (voluntas legislatoris) e não mencionar uma vontade autô-
noma da lei (voluntas legis). Dessa investigação, restavam ”excluídos os costumes, 
a equidade, os princípios imanentes de um direito superior e ideal”. (Gèny, 1925, 
p. 26). Essa escola do pensamento hermenêutico tinha por primado a utilização do 
chamado método gramatical.
A interpretação gramatical consiste em ocupar-se em primeiro lugar das ques-
tões léxicas da norma, isto é, do conjunto de palavras de um idioma, através dos 
quais evidentemente as leis são manifestas em forma escrita. Mas o uso corriqueiro 
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da língua já nos mostra que a fixação correta do sentido das palavras nem sempre 
garante uma precisa compreensão do enunciado da oração. Por exemplo, na frase 
“ser feliz sempre é impossível” temos uma ambiguidade insolucionável pela mera lei-
tura das palavras em conexão. Essa afirmação pode significar que: “é impossível ser 
feliz sempre”; ou que “é sempre impossível ser feliz”. A posição do adjunto adverbial 
de modo sempre é que gera a dubiedade de sentidos. A solução possível é colocar o 
adjunto adverbial de tempo sempre entre vírgulas, fixando, assim, um dos sentidos. 
Mas e se o autor da frase pretendesse afirmar o contrário? Eis um problema sobre os 
limites da interpretação: o intérprete não pode substituir o autor na formulação do 
texto, que a Hermenêutica justifica na forma de uma dialética dos cânones da auto-
nomia do objeto e da atualidade do entender: este é atual, o momento do intérprete, 
mas a autonomia do trabalho do autor há que ser respeitada: interpretar não é criar. 
O exemplo parece muito simplório, mas é esse tipo de problema que enfrentamos 
cotidianamente na aplicação das leis, e o juiz não pode simplesmente acrescer no 
texto formal da lei o que lhe parecer corretivo do seu sentido. 
Palavras são plurissignificativas, razão pela qual podem sofrer maior ou menor 
dispersão semântica. Isso é um problema do uso da língua enquanto tal, e não da 
linguagem jurídica especificamente. Quanto mais rigorosamente seja fixado o sen-
tido técnico de um termo dentro de estatutos científicos que visam à precisão con-
ceitual, menos dispersão ocorre: palavras usadas tecnicamente são menos passíveis 
de ambiguidades e vaguezas que as palavras da língua natural, de uso corrente. Nada 
obstante, o Direito enfrenta um drama ao dispor da linguagem comum para a elabo-
ração de seus textos: é que não é possível ao Direito o rigor conceitual alcançado em 
outras áreas de saberes, tais como a Biologia e a Matemática. Isso porque as normas 
jurídicas de modo geral devem veicular termos acessíveis todos os seus destinatários. 
Ainda que os ramos do Direito tentem precisar seus termos em conceitos mais 
ou menos rígidos, tais conceitos são conectados e definidos com recurso ao léxico 
comum, de modo que sentidos diversos podem surgir, em razão dessa dificuldade 
de se obter um jargão rigorosamente técnico. Quando nos deparamos, por exemplo, 
com uma declaração do tipo “Todos são iguais perante a lei”, encontramos grande 
dificuldade em definir o que seja igualdade, e o pior, o que seja a própria palavra 
lei, que, mesmo sendo conceito basilar da área jurídica, padece de forte dispersão 
semântica, ao ponto de nos referirmos a Lei Maior, lei em sentido formal, lei em 
sentido material, lei primária etc. Ou seja, acompanham o substantivo uma série 
de adjetivações necessárias para precisar o que pode ser ou não lei: a palavra em si 
perde rigor significativo. 
Não olvidemos disposições legais como a contida no art. 3º da Lei de Introdução 
ao Código Civil: “Ninguém se escusa de cumprir a lei alegando que não a conhece”. 
Ou ainda o que dispõe a Lei Complementar 95/98 (que trata da redação e elabo-
ração das leis no país) sobre a clareza das disposições normativas. Segundo a regra 
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contida no art. 11, I, a da lei: para a obtenção de clareza no texto normativo há que 
se fazer uso de “palavras e as expressões em seu sentido comum, salvo quando a 
norma versar sobre assunto técnico, hipótese em que se empregará a nomenclatura 
própria da área em que se esteja legislando”.
Destacamos a expressão sentido comum para frisar a situação dramática da 
linguagem jurídica, que, não obstante ser operada por especialistas, bacharéis em 
Direito, não pode alcançar rigor técnico justamente por se destinar a qualquer pessoa, 
sujeito de direitos. Sob o ponto de vista axiológico, de uma legislação democrática, 
a exigência é legítima e querida; sob o ponto de vista epistemológico, de obtenção 
de clareza e precisão conceitual, dificulta-se em muito a tarefa hermenêutica, pois é 
sabida a ausência de univocidade significativa da linguagem comum. Eis a manifes-
tação de Karl Engisch, citando Binding, a propósito: 
Nada há de mais falso do que a afirmação tantas vezes repetida; quando o 
significado de uma expressão da lei for obscuro, deve ligar-se-lhe o senti-
do que ela tem na linguagem corrente... O conceito jurídico necessita de 
segurança no seu conteúdo e exactidão nos seus limites’. O Direito ‘fala a 
sua própria língua’. Por isso, o que importa sempre é o ‘sentido técnico-
-jurídico’, o qual possui contornos mais rigorosos que o conceito da lingua-
gem corrente.
Entretanto, diz Engisch, a linguagem jurídica não é de forma alguma tão rigo-
rosa como supõe Binding. “Muitas vezes o legislador liga a uma mesma palavra, na 
mesma lei e em lei diversas, um sentido diferente”, restando inevitável tal inconsis-
tência conceitual, haja vista a “inserção dos conceitos em contextos sistemáticos e 
teleológicos diferentes. A pura ‘interpretação verbal’ é afastada pela interpretação 
sistemática e teleológica.” (Engisch). 
A título de exemplo, vejamos o uso do verbo molestar em duas leis do direito 
pátrio, sentidos e alcances diversos. No art. 65 do Decreto-Lei n. 3.688/41 (Lei das 
Contravenções Penais) consta: “Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, 
por acinte ou por motivo reprovável” (hoje conhecido mundialmente por stalking). 
No art. 1º da Lei nº 7.643, de 18 de dezembro de 1987 lê-se que molestar de forma 
intencional toda espécie de cetáceo em águas jurisdicionais brasileiras é crime. O 
que vem a ser molestar um cetáceo? E uma mulher? A questão que não pode aqui ser 
olvidada é: no direito brasileiro, molestarum ser humano, impondo-lhe incômodos 
ou restrições de ordem física, mental, moral, e psíquica é contravenção penal puní-
vel com prisão simples (de 15 dias a dois meses etc). Já o molestamento de cetáceos 
é considerado crime, punido com reclusão de 2 a 5 anos. Certamente que molestar 
o animal referido é estimado, valorado como uma conduta mais reprovável que o 
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molestamento de alguém. E não resta dúvida de que argumentos de cunho ambien-
talista serão apresentados para justificar essa aparente discrepância...
O significado das palavras, a sua disposição no texto, e as conexões entre elas 
são relevantes para a obtenção do sentido correto das normas, e as regras do uso 
correto da língua (ou a ausência de rigor nesse uso) podem levar o legislador a 
cometer equívocos e gerar indecisões e dúvidas (Ferraz Júnior, p. 287). Ainda que 
a linguagem esteja bem elaborada, com clareza e precisão, não se afasta a atividade 
de interpretá-la. Isso porque toda interpretação jurídica implica na construção de 
uma paráfrase, quer dizer, numa reelaboração do texto jurídico, conservando-se suas 
ideias originais, com palavras diversas sem a alteração de seu sentido. Nenhuma 
norma é tão clara que não seja interpretada. Nesse sentido a crítica ao brocardo in 
claris cessat interpretatio (a lei clara não precisa ser interpretada), já posta em ques-
tão por Ulpiano no Digesto, quando anunciou máxima em sentido inverso: Quam 
vis sit manifestissimum edictum proetoris, attamen non est negligenda interpretatio 
ejus (embora claríssimo o edito do pretor, contudo não se deve descurar da interpre-
tação respectiva) (Maximiliano, 2004, p. 27). 
Luis Roberto Barroso (2000, p. 100) assevera que a máxima in claris cessat inter-
pretatio há de ser entendida somente no “sentido de reconhecimento de que a zona 
de clareza existente na lei enfraquece a atividade do intérprete, mas não o condena 
a uma acrítica interpretação literal”. E ainda ressalta a falácia argumentativa gerada 
por uma interpretação literal in fraudem legis.
A interpretatio in fraudem legis consiste no excessivo apego à literalidade de um 
texto, dando-se primazia a um primeiro sentido das palavras (ou ao sentido mais 
usual), olvidando a sua razão de ser ou a possibilidade de expansão de seu sentido 
para uma aplicação mais razoável, justa, enfim. A fraude consiste em observar o 
sentido literal da norma, violando seu espírito. E cita um julgado do ex-Ministro 
Luiz Gallotti do STF, que num recurso extraordinário teria citado um interessante 
exemplo encontrado na literatura sobre o quanto a interpretação literal pode ser 
perniciosa: 
De todas, a interpretação literal é a pior. Foi por ela que Clélia, na Chartreuse 
de Parme, de Stendhal, havendo feito um voto a Nossa Senhora de que não 
mais veria seu amante Fabrício, passou a recebê-lo na mais absoluta escuri-
dão supondo que assim estaria cumprindo o compromisso. (Barroso, p. 120)
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E ainda citando o Ministro Antônio Neder, continua: 
Sabe-se que a interpretação gramatical não basta para demonstrar o sentido 
que se contém na norma, mas ela é necessária para, demonstrando o senti-
do das palavras com que foi escrita a norma, auxiliar a revelação do direito 
por meio da interpretação lógica, que a sucede, para com esta, se processar 
a interpretação sistemática. (Barroso, p. 119). 
Conclusiva a palavra de Tércio Sampaio Ferraz Júnior:
No fundo, a chamada interpretação gramatical tem na análise léxica apenas 
um instrumento para mostrar e demonstrar o problema, não para resolvê-lo. 
A letra da norma, assim, é apenas o ponto de partida da atividade herme-
nêutica. Como interpretar juridicamente é produzir uma paráfrase, a inter-
pretação gramatical obriga o jurista a tomar consciência da letra lei e estar 
atento às equivocidades proporcionadas pelo uso das línguas naturais e suas 
imperfeitas regras de conexão léxica. 
7.2 Método Lógico 
O problema lógico se instala quando num mesmo diploma legal emprega-se o 
mesmo termo em normas distintas e consequências também distintas. É o que ocorre, 
por exemplo, com o emprego da expressão competência privativa nos dispositivos da 
Constituição de 1988: ora privativo significa “delegável”; ora significa “exclusivo”, 
logo, indelegável. A estrutura textual na qual está inserida a expressão é que vai 
possibilitar solver a ambiguidade.
Pelo método lógico não se examinam mais as palavras do texto normativo, mas 
as proposições por elas enunciadas, de modo a se ter em foco 
o pensamento exato do preceito, mediante a análise de seu todo, segundo 
o sentido lógico da oração que o manifesta; discriminam-se os termos na 
oração e a sua ordem direta ou indireta; verifica-se se o texto contém uma 
oração autônoma ou subordinada; se a oração examinada depende de outra, 
como o acessório do principal, o parágrafo do artigo, a exceção da regra, o 
particular do geral. (Ráo, 2005, p. 516-517)
Uma discussão interessante é a que surge sobre a responsabilidade criminal de 
pessoas jurídicas na prática de crimes ambientais. O art. 225, § 3º da CF/88 prevê 
que “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os 
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infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, indepen-
dentemente da obrigação de reparar os danos causados”. Aqui surge a dúvida se 
a distribuição respectivamente de “condutas/pessoas físicas/sanções penais” e “ati-
vidade/pessoas jurídicas/sanções administrativas” tem por objetivo a discriminação 
das sanções adequadas a pessoas físicas e jurídicas. Sob o ponto de vista lógico, não 
estamos autorizados a dizer que a proposição em questão distribui as palavras de 
modo a conectá-las em pares conforme a natureza da pessoa e consequente sanção 
compatível com cada uma delas. Para encontrar uma saída possível, que nega impu-
tação à pessoa jurídica, há intérpretes que se socorrem do comando do art. 173, § 5º 
da própria CF/88: 
A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa 
jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições 
compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômi-
ca e financeira e contra a economia popular.
Recorrendo-se a esse comando, pode-se conjecturar o entendimento de que a 
Constituição leva em consideração a natureza da pessoa jurídica para fins de puni-
ção compatível com ela. Ainda que a previsão esteja situada no contexto de proteção 
da ordem econômica especificamente, trata-se de uma questão de índole conceitual, 
isto é, sobre a compatibilidade de sanções tais ou quais com a natureza jurídica da 
pessoa que sofre a punição. Segundo a hermenêutica constitucional esse proceder 
efetiva o princípio da unidade axiológica da constituição. Mas com esse exemplo 
queremos ressaltar que o método lógico acaba por convocar o sistemático, pois o 
problema da literalidade que não se resolve pela lógica intrínseca de determinada 
proposição será remetido a uma outra proposição do sistema ao qual possa ser aquela 
referida e, fixar-se, enfim, o sentido mais razoável possível.
7.3 Método Sistemático 
Deflagradas perplexidades no uso da interpretação gramatical, a Hermenêutica 
jurídica aponta outros critérios que possam socorrer o intérprete na busca pelo signi-
ficado mais plausível do texto legal. 
A conexidade (coerência) lógico-sistemática não se refere só ao significado 
dos conceitos jurídicos em cada concreto contexto de ideias (...), e também 
se não reporta apenas à colocação ou situação meramente extrínseca deuma regra jurídica no texto da lei, situação essa que, sem dúvida, bastan-
te frequentemente fornece pontos de apoio para a interpretação. (...) Ela 
(aquela conexidade) refere-se antes, em último termo, à plenitude do pen-
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samento jurídico latente na regra jurídica individual, com a sua multiplici-
dade de referências a outras partes constitutivas do sistema jurídico global. 
(Engisch, p. 114)
Por outro lado, a consideração sistemática não vale apenas para se escolher 
uma das interpretações igualmente justificadas em face do elemento racio-
nal, senão que pode levar à primazia duma interpretação menos ‘razoável’, 
‘salutar’ ou ‘benéfica’, quando assim se evita uma dissonância grave no sis-
tema legislativo, quer dizer um contraste chocante com outras disposições 
legais. (Andrade, p. 30-31)
Aqui a discussão sobre a coerência do sistema jurídico, que se desestabiliza com 
a ocorrência de antinomias, a serem solucionadas segundo critérios que o próprio 
sistema jurídico ou a Ciência do Direito apresentam.
O método sistemático se diferencia do estritamente lógico por introduzir 
no exame dos textos elementos estranhos, pois realiza o confronto de um 
texto com outro texto da mesma lei (exame de contexto da lei), ou com os 
textos de outros sistemas jurídicos positivos (direito comparado), desde que 
todos versem sobre o mesmo instituto, ou a mesma relação. (Ráo, p. 517)
Vários autores, entre eles Vicente Ráo, consideram que o método sistemático 
é um tipo de processo lógico, ou seja, parte do método lógico. O autor em questão 
não usa a expressão método para se referir a tais modalidades de interpretação, mas 
sim a expressão processo (processo gramatical ou filológico, processo lógico e suas 
espécies, processo histórico, processo sociológico). Lembremo-nos da advertência 
dada por Maynez sobre a variedade de métodos apresentados (e também do uso do 
jargão para denominá-las!) pelas doutrinas jurídicas sobre a interpretação. 
A nova leitura sobre a tipicidade penal de Eugênio Zaffaroni, inclusiva do con-
ceito de tipicidade conglobante como correção da clássica tipicidade legal, é resul-
tado da assunção pelo penalista da imprescindibilidade do método sistemático na 
interpretação conjugada dos tipos penais, elaborando-se assim um conceito mais 
consistente e preciso de tipicidade. Esta só pode estar bem conformada pela 
averiguação da proibição através da indagação do alcance proibitivo da 
norma, não considerada isoladamente, e sim conglobada na ordem norma-
tiva. A tipicidade conglobante é um corretivo da tipicidade legal, posto que 
pode excluir do âmbito do típico aquelas condutas que apenas aparente-
mente estão proibidas (...).(Zaffaroni; Pierangeli, 2002, p. 459).
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As consequências jurídicas são diversas se se considera apenas a tipicidade legal 
ou se também se tem em vista o tipo conglobante. Veja que não se trata de precio-
sismo conceitual de um penalista, mas acima de tudo de uma análise mais acurada 
de circunstâncias normativas que pode trazer como consequência a incriminação 
ou não de uma conduta. E ele acaba por assumir a construção dessa tipicidade mais 
completa por meio do método sistemático quando declara: “As normas jurídicas não 
‘vivem’ isoladas, mas num entrelaçamento em que umas limitam as outras, e não 
podem ignorar-se mutuamente.” (Zaffaroni, p. 458).
Outro exemplo expressivo é a aplicação da intervenção de terceiros na forma 
de denunciação da lida, tal como prevista no art. 70, caput, do Código de Processo 
Civil, que a declara obrigatória. No entanto, pelo método sistemático, chega-se à 
conclusão de que ela só o é para o caso de evicção, e mesmo assim nos estritos limi-
tes do da norma processual heterotópica inscrita no art. 456 do Código Civil. Se a 
palavra obrigatória for dirigida a todos os incisos do art. 70, resta inviabilizada a ação 
de regresso prevista no próprio CPC, além de gerar um obstáculo ao exercício pleno 
do direito de ação garantido constitucionalmente. Queremos aqui afirmar que, ape-
sar de o legislador ter escrito obrigatório, no momento da interpretação e aplicação 
do dispositivo, este termo passou a comportar também o significado de “permitido”, 
submetido o dispositivo à análise de outros pontos do ordenamento (método siste-
mático) e ainda indagando-se sobre sua razão de ser (método teleológico). 
7.4 Método Teleológico
Afirma-se geralmente que o método teleológico encontra-se inscrito no 
comando do art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil: “Na aplicação da lei, o 
juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.” O 
comando exige do aplicador que encontre na legislação sempre um fim, que jamais 
poderá ser antissocial, pois a realização da sociabilidade humana é tarefa do direito. 
E o bem comum não é um fim próprio do direito, mas da própria vida social. (Ferraz 
Júnior, p. 293). 
O conceito de fim é tão elástico que pode veicular conteúdos tão concretos, 
como preservar o meio ambiente, quanto ideais muito abstratos, como a garantia da 
dignidade da pessoa humana. Há fins mais e menos tangíveis e seria ingenuidade 
supor que o Direito alcance todos os fins pela ordem jurídica postulados. Veja os 
direitos sociais previstos como normas programáticas ainda carentes de densificação 
infraconstitucional: o fim é um projeto ainda não realizado plenamente nesses casos. 
Fins são pontos de vistas ideais e é a luz deles que se justificam a coerção do Estado 
sobre nossas vidas, a força da coisa julgada, a anistia de crimes políticos, a autoridade 
da polícia etc. (Engisch, p. 116). Ou seja, todas as ações jurídicas, mais ou menos 
restritivas, têm mais que a função de solucionar conflitos. Almeja algo maior e que 
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justifica todas as intervenções da ordem jurídica, que lhe dá fundamento, razão de ser, 
e que é propriamente o fim maior de todo o direito: a realização concreta da justiça.
A Jurisprudência dos Interesses teria tomado a interpretação teleológica como 
uma “solução metódica dos conflitos de interesses através de critérios, valorações e op-
ções legais.” (Engisch, p. 116). De todo modo, o pressuposto fundamental do método 
teleológico é de que sempre será possível atribuir um propósito à norma. É o método 
mais flexível entre todos vistos, pois como diz Ferraz Júnior (2003, p. 294), ele 
ativa a participação do intérprete na configuração do sentido; [de tal modo] 
que não importa a norma, ela há de ter, para o hermeneuta, sempre um 
objetivo que serve para controlar até as consequências da previsão legal (a 
lei sempre visa aos fins sociais do direito e às exigências do bem comum, 
ainda que, de fato, possa parecer que eles não estejam sendo atendidos).
O brocardo latino que rege a interpretação teleológica é ubi eadem ratio, ibi 
eadem legis dispositio (onde existe a mesma razão fundamental, prevalece a mesma 
regra de direito). Engisch defende a ideia de que:
A interpretação teleológica e a interpretação histórica entrelaçam-se uma na 
outra, especialmente quando é posto a descoberto o fim que o legislador teve 
em mente. Para além disso, a correcta compreensão dos preceitos esforça-se 
por descobrir os planos de fundo histórico-culturais e o significado da tradição.
Passemos, pois, ao método histórico.
7.5 Método Histórico-evolutivo (Histórico + Sociológico)
O método histórico é aquele que investiga as condições presentes no momento 
de surgimento da norma (occasio legis), objetivando-se encontrar uma voluntas 
legislatoris. 
Emilio Betti (1971, p. 239) argumenta que a busca pelavontade do legislador 
é um dogma que concebe a lei como uma manifestação de vontade cristalizada e 
esgotada em si mesma. 
Uma irrefletida concepção antropormófica radicada na inérvia mental e 
contrária à autocrítica induz os juristas a imaginarem a lei segundo um 
pré-juízo psicológico, como que surgida de uma personalidade à semelhan-
ça de um homem real que decide e manda, e por consequência os induz 
a imaginarem a mesma norma como um ‘mandato’ ou um ‘imperativo’. 
(Tradução livre). 
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Trata-se de uma ficção argumentativa, pois não existe uma vontade real do legis-
lador que possa ser encontrada num tempo passado. Esse “legislador” é uma figura 
fictícia, um artifício retórico para simplesmente postular-se no presente o que aquele 
legislador (que sequer existe) regularia. A inconsistência se dá em dois sentidos: pri-
meiro por não existir alguém a se consultar. A votação e aprovação de uma lei é um 
procedimento complexo, com opiniões divergentes, revisões de projetos, abstenções, 
vetos etc. Não existe um indivíduo que possa ser consultado sobre qual seria sua von-
tade. E em segundo lugar, ainda que ele existisse, seria convocado a fixar o sentido 
da norma antiga segundo as novas condições trazidas à discussão; logo, a norma ela-
borada por ele no momento atual seria outra. Socorrer-se de um legislador fictício é 
conjecturar uma solução a partir do que o próprio intérprete que o invoca elabora, 
desejando que o tal legislador assim o faria. Sob o ponto de vista do argumento de 
autoridade é um bom artifício não assumir o que se extrai do texto da lei, mas o que 
realmente esta significava desde a origem...
Ferraz Júnior (2003, p. 290) aponta três tipos de conceitos veiculados em nor-
mas jurídicas e que não têm sentido definido, fechado. Fala-se em conceitos inde-
terminados (ex.: repouso noturno), e conceitos valorativos (ex.: conduta ilibada). No 
momento da interpretação, os primeiros demandam determinação do seu campo de 
atuação (referência objetiva); e os valorativos exigem precisão dos valores neles vei-
culados a partir de referências ao meio social. Há ainda os conceitos discricionários 
“que manifestam uma imprecisão que nunca se fecha genericamente, mas que se 
renova em cada uso concreto”, e que admitem uma escala valorativa correlacional, 
como a definição de risco leve ou grave, e que o intérprete determinará segundo 
uma gradação sujeita a sua opção. (Ferraz Júnior, p. 290). 
Os métodos utilizados para resolver os problemas surgidos por tais conceitos são 
o histórico, o sociológico, o axiológico, bem como o teleológico. Pelo método his-
tórico levantam-se normas que antecederam a atual (precedentes normativos) para 
que comparativamente possa se compreender as circunstâncias que inspiraram a 
elaboração da norma antiga e verificar o que mudou ou o que foi mantido na nova 
tutela. As publicações do Código Civil de 2002 trazem juntamente com o texto atual 
o texto do anterior (de 1916). Procedendo pelo método histórico, buscamos também 
os trabalhos preparatórios. Estes podem estar registrados nos anais do parlamento, 
como os debates parlamentares, a apresentação de anteprojetos, os esboços justi-
ficados de projetos de lei, as razões de veto, os pareceres técnicos de comissões etc.
Um exemplo do excesso empregado no método histórico é o famoso caso 
Olmstead v. United States, de 1928, em que a Suprema Corte dos Estados Unidos 
entendeu que a interceptação telefônica não violava a Emenda IV, que trazia os 
casos de obtenção de provas por meio ilícito, simplesmente porque quando tal 
emenda foi redigida, em 1791, não existia telefone.
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Daí ser imprescindível o método sociológico, que consiste no levantamento das 
condições atuais que “devem levar o intérprete a verifi car as funções do comporta-
mento e das instituições sociais no contexto existencial em que ocorrem.” (Ferraz 
Júnior, p. 291). O dispositivo contido no art. 242 do Código Penal “dar parto alheio 
como próprio” poderia implicar na prisão de uma mãe que registra o fi lho nascido 
de uma “barriga de aluguel”. Afi nal, quem pariu não foi a mãe que registra o fi lho. 
Parto nesse caso não pode ser entendido historicamente, visto que na década de 40, 
a única forma de se tornar mãe (não adotiva) era pelo parto de uma criança. Os 
avanços cintífi cos, no entanto, possibilitam que no contexto atual, seja possível a 
maternidade sem o ato de parir. 
Como não é possível separar os momentos de confecção da norma do seu mo-
mento de aplicação, pois que se interpenetram, prefere-se falar numa interpretação 
histórico-evolutiva, haja vista que é sempre “preciso ver as condições específi cas do 
tempo em que a norma incide, mas não podemos desconhecer as condições em 
que ocorreu sua gênese.” (Ferraz Júnior, p. 290-291). Daí a importância da História 
do Direito, do histórico dos institutos jurídicos em geral, e em especial o estudo do 
Direto Romano nos sistemas de tradição continental. O caso Olmstead citado é 
uma omissão fl agrante do emprego do método histórico-evolutivo (Barroso, p. 127), 
pois fi xa o sentido da norma na suposta voluntas legislatoris não adaptando o texto 
ao contexto vigente, e negando, pois, a existência de uma voluntas legis construída 
(ou reelaborada) com vistas ao momento da demanda que provoca a aplicação do 
direito.
Questiona-se se há uma hierarquia no emprego dos métodos clássicos de inter-
pretação. Engisch entende que Savigny quis apenas ser hábil ao afi rmar não haver 
hierarquia entre os métodos de interpretação, que são, segundo este autor, “elemen-
tos” de um único e mesmo processo de interpretação (e não interpretações distintas). 
Engisch observa que na prática hermenêutica cada método pode conduzir a um 
resultado diferente. E questiona se o arbítrio do intérprete é que na verdade elege 
qual o melhor método, segundo o que ele aprecia como o mais satisfatório resultado 
alcançado. (Engisch, p. 118). E citando Scheuerle: 
‘A função mediadora da interpretação manifesta-se no facto de a aplicação 
prática do Direito se servir discricionariamente de todos os métodos que a 
teoria interpretativa conhece’ (...), considera como legítimo um processo 
que bastante frequentemente se pode notar na prática dos tribunais, a saber, 
a escolha, de caso para caso daquele método de interpretação que conduza 
a resultados satisfatórios. (Engisch, p. 119). 
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1. Distinções entre Hermenêutica Jurídica, 
Hermenêutica Científi ca (ou Geral, ou 
Teoria da Interpretação) e Hermenêutica 
Filosófi ca (ou Ontologia Fundamental)
Hans-Georg Gadamer (1900-2002) noticia que nas refl exões fi losófi cas 
clássicas a hermenêutica era considerada disciplina auxiliar que traria um 
conjunto de regras que teriam por objeto o trato com textos. Assim o eram 
a hermenêutica bíblica e a hermenêutica jurídica. O problema fundamental 
da fi losofi a contemporânea passa a ser a busca por justifi cativa das ciências 
históricas, tal como Kant tinha feito para as ciências naturais e lógico-dedutivas 
(Gadamer, 1996, p. 599). 
Capítulo 2
A Superação dos Métodos de Interpretação 
Mediante Puro Raciocínio Lógico-Dedutivo
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Surge, então, no cenário filosófico do século XIX a chamada Hermenêutica 
Geral (ou Científica), como tentativa de resposta à questão dos fundamentos das 
ciências históricas, quer dizer, sobre quais pressupostos sustentavam-se seu rigor. 
A Hermenêutica passa a ocupar lugar entre as ciências da enciclopédia ocidental, 
tendo por objeto as manifestaçõesda cultura na forma de historicidade, e por obje-
tivo revelar a justificação teórico-metodológica das ciências que têm por objeto a cul-
tura e não a natureza. Assim, ela é arquitetada por Ernst Schleiermacher e Wilhelm 
Dilthey como uma epistemologia da história. Ela é a própria ciência metodológica 
de todas as ciências históricas (uma metaciência, portanto), e não uma disciplina 
isolada que trata das regras da compreensão correta de textos de certas áreas do saber 
(como já o era a hermenêutica jurídica). 
A esse evento de construção de uma metaciência desvinculada das metodolo-
gias parciais de cada ciência histórica e voltada para todas elas como pano de fundo 
metodológico denominou-se processo de desregionalização da hermenêutica. E aí 
Hermenêutica (grafada com letra maiúscula) passa a ser considerada uma ciência 
metodológica autônoma em seus estatutos teóricos, válida para a compreensão 
segura de todas as ciências que têm por objeto não a natureza (analisada segundo os 
métodos de verificação e dissecação, explicativos, descritivos, próprios das ciências 
naturais), mas destinada às ciências da cultura (ditas ciências do espírito humano: 
filologia, história, teologia, direito etc). A finalidade destas últimas não é a explica-
ção da natureza, para dominá-la, mas a compreensão, o com-partilhamento simbó-
lico, a fixação de sentido das obras produzidas pela cultura. 
Já no século XX, temos uma concepção hermenêutica radical, anunciada como 
uma Hermenêutica Filosófica ou uma Ontologia Fundamental da existência hu-
mana. O pensador expoente dessa nova forma de se compreender hermenêutica 
é o filósofo alemão Martin Heidegger, bem como seu discípulo Hans Gadamer. 
Para eles não é possível cientificizar a liberdade de compreensão, como supõe a 
Hermenêutica (enquanto ciência geral): viver já é compreender-se no mundo atra-
vés da linguagem. É falsa a ideia de que seja possível cindir sujeito e objeto no pro-
cesso de conhecimento, de modo a provocar-se um afastamento seguro do cientista 
em busca da verdade, tal como propõe a metodologia cartesiana aplicada às ciências 
naturais. A tese fundamental sustentada é a que 
o cientista social, ou intérprete, e o objeto (a ser interpretado) estão ligados 
por um contexto de tradição – o que implica a existência prévia de uma 
compreensão do seu objeto quando o aborda, sendo, por isso, incapaz de 
começar com espírito neutro ( Bleicher, p. 15).
A natureza é dissecada, catalogada, contrastada, categorizada, dominada: ela 
não se diz de si. No plano da cultura o processo de fixação de significados não é 
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passivo: eis que surge um autor, que já elaborou sua obra e o intérprete pretende 
com ele estabelecer sentidos possíveis dessa sua manifestação. No entanto, ambos, 
autor e intérprete, texto produzido (objeto) e intérprete (sujeito) estão envolvidos 
num contexto histórico que permeia suas experiências e manifestações, segundo um 
devir incontrolável. Somos os próprios atores do objeto investigado. 
Gadamer conclui (em sua obra Verdade e Método) que no fundo ou se busca um 
método para alcançar a verdade; ou se vive essa verdade mesma, em seu acontecer 
exuberante, não “maculada” pelo método e por ele inapreensível. O método apri-
siona o espírito, pois inculca no intérprete a falsa convicção de que ele possa se colo-
car como alheio a um texto jurídico, por exemplo, e dissecá-lo como a um cadáver. 
A grande falácia da hermenêutica jurídica é supor que o juiz seja como um 
autômato de métodos por ela ofertados para a melhor fixação de sentido de textos 
legais, para que deles extraia a melhor compreensão e a mais justa decisão. Antes 
de se deixar conduzir por métodos, o juiz já está compreendendo o texto da lei, 
lançou-se nele antes de pensar em qualquer metodologia que pudesse conduzir essa 
“entrada” no texto. Ora, o texto jurídico foi produzido por pares, semelhantes que 
compartilham o mesmo contexto, o mesmo momento histórico, o mesmo universo 
simbólico, possibilitados pelo caldo cultural no qual se encontram todos, ao mesmo 
tempo, imersos. 
Não há afastamento possível para se decidir um caso jurídico acepticamente 
sob ares de neutralidade. E mais: o juiz é formado numa tradição comum da qual 
não consegue se desprender; se desvincular, para se tornar um personagem togado 
imune a pré-compreensões, a convicções incrustadas em seu espírito. Ele é antes 
de tudo, conforme frisa Heidegger, um Dasein, quer dizer, um “ser aí”, lançado no 
mundo no qual só existe pela linguagem. Não há método que possam conduzir sua 
percepção de mundo, sua percepção do Direito. Derradeiramente, a frase triunfal 
de Gadamer: aquele que se julga livre de pré-conceitos é o que mais está impreg-
nado deles. 
2. A Reviravolta Hermenêutica
Segundo Lênio Streck
é preciso denunciar que o processo interpretativo dominante no âmbito 
do pensamento dogmático do Direito está assentado em um paradigma 
metafísico-objetivante, no interior do qual o processo interpretativo depen-
de sempre de um sujeito, que vai se relacionar com os textos jurídico-nor-
mativos e os fatos sociais, como se estes fizessem parte de um mundo exterior, 
e o jurista/intérprete deles pudesse livre e conscientemente dispor...
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Na contramão dessa convicção, inspirando-se na hermenêutica como ontologia 
fundamental de Martin Heidegger, há que se aceitar que 
o intérprete do Direito não contempla o objeto (o Direito, os textos jurídicos, 
o fenômeno social, etc), para, assim, (re) construí-lo. É ilusão pensar (...) que 
é a nossa descrição, enquanto atividade subjetiva, que faz figurar as coisas, 
para depois projetá-las. (...) O intérprete é alguém já inserido – desde sem-
pre – na linguagem, da qual o objeto inexoravelmente faz parte. (Streck, 
p. 259). 
Não há que se falar mais num “sujeito (intérprete) isolado, contemplando o 
mundo e definindo-o segundo o seu cogito. Há, sim, uma comunidade de sujeitos 
em interação.” (Streck, p. 260). 
Para Gadamer, a Hermenêutica Jurídica é um modelo hermenêutico fecundo, 
pois nela encontramos a aplicação do direito, sendo essa aplicação a mediação 
histórica entre o passado e o presente a ser compreendido. Quando o juiz se sabe 
legitimado, por função judicial, para a complementação do direito diante do sentido 
original do texto legal, o que faz é o que de todos os modos tem lugar em qualquer 
forma de compreensão, um exercício da consciência da história efetual, tarefa da 
Hermenêutica (Gadamer, 1994, p. 414). A jurisdictio, ou o ato de dizer de quem 
é o direito, deve apresentar suas razões, ainda que tais razões não derivem direta-
mente do texto legal. Há que se buscar a racionalidade da decisão, o que levou a 
jurisprudência dos conceitos de maneira geral a considerar a voluntas legislatoris, 
o que equivalia a dizer que o juiz, ao decidir, deveria pensar como se legislador 
fosse, como se estivesse elegendo padrões comportamentais para toda a sociedade. 
Esta, em verdade, uma expressão reelaborada, em termos jurídicos, do imperativo 
categórico kantiano do legislador universal que ordena. O se exige é que o julgado 
apresente suas razões (art. 93, IX, CF/88), e as razões da lei são diversas das razões 
da sentença. 
Os momentos de justificação e aplicação de normas apresentam procedimentos 
eticamente diferenciados, e igualmente fundamentais tanto na condução da efeti-
vidade da vida moral, quanto da jurídica, como apontado por Klaus Gunther (2000, 
p. 85-100). Para o autor, a concepção de coerência normativa deve ser repensada 
como uma nova proposta de compreensão do discurso de aplicação das normas 
(plano da eficácia), que não se confunde com o discurso de sua justificação,verifi-
cada no momento da elaboração (plano da validade), tanto para as normas morais 
quanto para as jurídicas. Essa observação de Guinther tem inegável importância 
para a hermenêutica jurídica. 
Importa fazermos a diferenciação entre a lei no plano de sua justificação uni-
versal e de sua aplicação particular. Com essa distinção, o autor promove uma nova 
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compreensão do que vem a ser coerência normativa que não se sustenta do mesmo 
modo nos dois momentos (de justificação e aplicação). Para ele, a coerência do pri-
meiro momento tem necessariamente, e complementarmente, de ser reelaborada 
no segundo, indicando, que no plano jurídico o ponto de partida da realização de 
um direito é, sim, a declaração legal, mas ela é tão somente um ponto de partida. 
Isso indica que declarações de direitos postas em relação podem impossibilitar a 
coerência normativa, o que não se verifica a priori no plano da postulação univer-
sal de todos os direitos de per se. Tal ocorre principalmente porque os julgamen-
tos éticos são necessariamente formulados dentro de um tempo escasso e por um 
conhecimento sempre limitado sobre as questões morais, como sobre quaisquer 
outras que se dão à inteligência humana. Assim, o que foi num primeiro momento 
posto como norma válida para todos, o foi dentro de limites de conhecimento e de 
tempo.
No momento da aplicação surgem incoerências em virtude de circunstâncias 
diferenciadas, condicionadas a outras variáveis cognitivas e temporais, com maior 
conhecimento das possibilidades normativas e num tempo maior, mais detido às 
relações imediatas e particularizadas entre as fórmulas normativas gerais, e que 
levam ao surgimento de incoerências na aplicação, a serem superadas numa nova 
modalidade de justificação, que nasce punctualmente das relações estabelecidas 
particularmente entre máximas comportamentais prévia e universalmente estabe-
lecidas e justificadas.
A aplicação do direito há que se justa. E no plano da aplicação resgatamos o 
clássico conceito de aequitas, equidade, expressão de denso valor jurídico, mal 
entendida e pouco referida no direito influenciado pelas formulações silogísticas da 
jurisprudência dos conceitos e do positivismo em geral. 
A ideia de equidade encontra-se no pensamento de Aristóteles. Na Ética a 
Nicômaco o filósofo apresenta duas versões de equidade: a corretiva da lei, quando 
esta é deficiente em razão de sua natural universalidade; e a atualizada pelo homem 
equitativo, que ao exercer um seu direito (subjetivo), não deve ater-se de forma 
intransigente a ele, mas “tomar menos do que lhe caberia, embora tenha a lei do seu 
lado”. O equitativo é justo, 
porém não o legalmente justo, e sim uma correção da justiça legal. A razão 
disto é que toda lei é universal, mas não é possível fazer uma afirmação 
universal que seja correta em relação a certos casos particulares. Nos casos, 
portanto, em que é necessário falar de modo universal, mas não é possível 
fazê-lo corretamente, a lei leva em consideração o caso mais frequente, em-
bora não ignore a possibilidade de erro em consequência dessa circunstân-
cia. E nem por isso esse procedimento deixa de ser correto, pois o erro não 
está na lei nem no legislador, e sim na natureza do caso particular, já que os 
assuntos práticos são, por natureza, dessa espécie. (Aristóteles, 2002, p. 125).
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Equidade, então, será sempre uma justiça corretiva, ocorrente sempre no mo-
mento da aplicação da justiça universal, que é expressa na lei. Ela é um tipo de 
justiça superior a outro, que é a justiça legal de caráter absoluto (universal). Ambas, 
no entanto, compõem a ideia de justiça absoluta, que engloba lei e equidade. 
Ocorre que a equidade como corretivo para inclusão de circunstância impre-
vista é uma imposição (jurídica mesmo, à medida que complementa o justo legal) 
à autoridade que aplica o direito, uma correção jurídica do próprio valor jurídico. 
Esta última ressurge contemporaneamente sob a reformulação do princípio da pro-
porcionalidade, que é concebido principalmente pela nova hermenêutica como um 
vetor na aplicação de direitos e penalidades, visando à realização de uma justiça 
razoável. Aliás, a própria ideia de justiça aristotélica é tomada como a virtude da 
mediania, um caminho para se alcançar a proporção, o razoável. Voltaremos a essa 
candente discussão sobre a grande virada na teoria da interpretação, que passa a 
ser pensada segundo padrões de razoabilidade e não da racionalidade silogística, 
desfraldada na obra de Recaséns Siches.
3. Velha Hermenêutica e Nova Hermenêutica
Todo o trabalho da Hermenêutica Científica foi no sentido de anular o intér-
prete no processo de compreensão, visando a um resultado objetivo do entender. 
Daí estabelecer as condições da interpretação objetiva com o propósito de atingir 
uma autoanulação do intérprete, tal como a de um físico demonstrando as leis que 
regem o movimento dos corpos. A Hermenêutica Jurídica clássica não pretendeu 
algo diverso. 
Após as críticas da Hermenêutica Filosófica, não era mais possível aos teóricos 
do seguirem convictos a senda metodológica rigorosa da Hermenêutica Jurídica 
clássica. Começou-se, então, a cogitar a existência de uma velha e uma nova 
Hermenêutica Jurídica. Complementarmente à já estruturada Hermenêutica 
tradicional, surge uma nova Hermenêutica constitucional, com características 
peculiares construídas a partir das dilacerações deixadas pela Ontologia existencial. 
Assim, emprega-se a expressão nova Hermenêutica para designar uma nova forma 
de atuação do intérprete, com possibilidades de interpretação mais abertas e menos 
técnicas, assumindo a importância das normas do tipo princípio, e objetivando a efe-
tivação de valores como fim que se sobrepõe à antiga técnica de subsunção imediata 
e pouco refletida de fatos a normas (nesse sentido, ver Magalhães Filho, 2002, p. 11).
Os métodos clássicos de interpretação continuam a ser amplamente manejados 
pelos tribunais, inclusive pelas Cortes Constitucionais para uma compreensão mais 
consistente da constituição. Não obstante, a Hermenêutica constitucional aponta 
princípios que possibilitam maior conexão entre as normas de todo o ordenamento 
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unificado pela constituição, sendo esse sistema compreendido como um complexo 
deontológico, sim, mas sustentado por princípios e valores que legitimam suas im-
posições. Podemos mencionar o princípio da interpretação conforme a constituição, 
o da unidade axiológica da constituição, o da máxima efetividade das normas cons-
titucionais, o princípio da proporcionalidade, entre outros.
Dizemos velha hermenêutica apenas para nos referirmos aos processos 
clássicos da definição do sentido das leis, sem qualquer demérito a nenhum 
dos métodos tradicionais (gramatical, teleológico, sistemático, etc). (...) O 
Direito pós-positivista, ou, em outros termos, a construção do Direito como 
superação do modelo denominado positivista-legalista, no qual a interpre-
tação é pautada unicamente no processo de subsunção de um fato a uma 
norma, busca caminhos para a hermenêutica jurídica. Caminhos a serem 
revelados, sobretudo, a partir da concretização efetiva dos princípios consti-
tucionais, na perspectiva da realização dos direitos fundamentais, de fundo 
teleológico (segundo a finalidade), axiológico (segundo valores juridicamen-
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te reconhecidos), portanto. (Pacelli, 2005, p. 20)
A Lógica é a ciência das leis do raciocínio correto. Os princípios basilares da 
Lógica

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