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UNIVERSIDADE CEUMA DIREITO Carlos Rodney Cavalcante da Silva - CPD 81086 Marcos Henrique Gomes Pessoa Merim - 82136 Marthony Lacerda dos Santos - CPD 75104 Mª Rosa Pires Aguiar - CPD 79468 Patrick Silva Ramos - CPD 82195 Raideglane Ferreira de Carvalho - CPD 82670 Thiago Pontes Lira - CPD 79727 DIREITO NO REGIME MILITAR SÃO LUÍS – MA 2017 RESUMO Em 1964 um movimento liderado pelas forças armadas e no seu inicio com o apoio de parte da sociedade civil brasileira, resultou em um duro golpe contra a democracia política do Brasil. A ditadura militar se deu por meio de um golpe de estado com a deposição do presidente João Goulart, de inicio para a legalidade de tal movimento o regime pregava como objetivo o de rebuscar a democracia e limpar o Brasil da corrupção e até mesmo de ideias comunistas. Efetivado a intervenção e conquistado o estado brasileiro em abril de 1964, a preocupação da frente militar que depôs o presidente, passou a ser a formação de um novo governo que agia por meio dos atos institucionais (AI), foram editados mais de doze atos institucionais pelos presidentes da República durante o regime militar, entre os principais podemos destacar o AI-1, AI-2, AI-4 e AI-5. Todos esses atos tinham por principal objetivo centralizar o poder no executivo e foram responsáveis por uma desordem jurídico- constitucional gerando uma violação a direito e garantias fundamentais individuais e coletivas do estado democrático de direito. PALAVRAS-CHAVE: Ditadura Militar. Ato Institucional. Forças Armadas. 1 1. INTRODUÇÃO Em 1964 um movimento liderado pelas forças armadas e no seu inicio com o apoio de parte da sociedade civil brasileira, resultou em um duro golpe contra a democracia política do Brasil. A ditadura militar se deu por meio de um golpe de estado com a deposição do presidente João Goulart, de inicio para a legalidade de tal movimento o regime pregava como objetivo o de rebuscar a democracia e limpar o Brasil da corrupção e até mesmo de ideias comunistas. As principais ações do regime militar se davam por meio dos atos institucionais (AI), defendidos por alguns ideólogos da ditadura como lei constitucional temporária, foram mais de doze atos institucionais decretados durante a duração deste regime. Praticamente todas as ações praticadas pelo regime militar por meio dos atos institucionais não estavam sujeitos à apreciação por parte do poder judiciário. O judiciário teve profundas alterações durante o governo militar, que vão desde a nomeação de ministros para a suprema corte do país alinhados ideologicamente com a ditadura, até a retirada de determinada capacidade de este poder exercer funções de fundamental importância para a garantia de um estado democrático de direito (FAUSTO, 1995). O AI-1 foi o primeiro ato baixado pelos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, em abril de 1964, mantendo o Congresso Nacional e suas medidas eram basicamente reforçar o Poder Executivo, não sendo tão repressivo quanto à restrição das garantias dos direitos fundamentais individuais e coletivos, nesse momento o habeas corpus e a liberdade de imprensa tinham sua aplicação. Com o avançar do regime militar um novo ato institucional foi decretado pelo presidente Castelo Branco, o AI-2 em outubro de 1965, sua medida mais marcante foi à abolição dos partidos políticos, que segundo os militares o multipartidarismo era tido como um dos motivos da crise política que se passava o Brasil neste momento da sua história (JUNIOR, 2013). Em outubro de 1966, um quarto ato era convocado, com o intuito de se elaborar e aprovar uma nova Constituição que ampliaria ainda mais o poder do Executivo. A constituição de 1967 teve curta duração, mas suprimiu direitos fundamentais de um estado democrático. É de se observar a presença de dois ciclos, um primeiro que deixa como marca a legalidade do golpe com a ideia da ordem e um segundo ciclo com modificações no intuito de institucionalização do regime. Mas um terceiro ciclo marcado pela repressão violenta veio a se instalar no país, este é caracterizado pelo AI-5 baixado em dezembro de 1968, amparado pela doutrina de segurança nacional, se intensificou a violência através de perseguições e práticas de torturas contra quem se opusesse a ditadura militar. No ano de 1977, apesar de o governo militar anunciar uma gradual abertura ainda se percebe uma forte atuação do regime, 2 agindo com o seu poder de reforma da constituição, baixando quatorze emendas a constituição e seis decretos, determinando, por exemplo, a criação de senadores biônicos, a prorrogação do mandato do presidente para seis anos, entre outras medidas. Em 1979, assume a presidência da república o general João Batista Figueiredo que sanciona a lei da Anistia e viabiliza a volta de inúmeros exilados ao Brasil, dando a indicar um sinal de transição do regime ditatorial para a um Estado democrático de direito que só se viabilizou no ano de 1988 com a promulgação de uma nova constituição, conhecida como constituição cidadã que veio a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a igualdade e a justiça (CHUEIRI & CÂMARA, 2015). O presente trabalho tem por objetivo discorrer acerca do direito no regime militar abordando seu contexto histórico, atos institucionais e a constituição de 1967. 2. DESENVOLVIMENTO O processo histórico que marcou a trajetória republicana brasileira nos anos de 1961 a 1964 é objeto de diversas interpretações, haja vista a grande importância que este período teve para a história do Brasil. O contexto político-social do país neste período é marcado pelas seguintes características: uma intensa crise econômico-financeira; crises político- institucionais; crise do sistema partidário e um acirramento da luta ideológica de classes por uma disputa de interesses entre classes populares de operários e trabalhadores do campo e setores militares e empresariais (TOLEDO, 2004). Diversas são as interpretações com relação aos fatos que motivaram a deposição do presidente João Goulart no ano de 1964. Alguns estudiosos relacionam essa deposição a problemas da realidade nacional, como o subdesenvolvimento e o atraso da industrialização do Brasil. Já outros autores, principalmente sociólogos entendem que a principal motivação foi um forte descontentamento de setores conservadores da política brasileira contra a crescente organização da sociedade civil, com o objetivo de evitar profundas modificações na estrutura econômica e política do Brasil (DELGADO, 2010). Efetivado a intervenção e conquistado o estado brasileiro em abril de 1964, a preocupação da frente militar que depôs o presidente João Goulart, passou a ser a formação de um novo governo. O que se tem durante esse período é uma desordem jurídico-constitucional, ou seja, um desmanche constitucional feito pelos militares e com apoio de políticos e parlamentares que aderiram ao golpe (VASCONCELOS, 2013). A constituição de 1946, vigente na época do golpe passa a ter sua importância reduzida, ganhando importância os chamados atos institucionais (AI), redigidos pelos militares e seus apoiadores. Foram editados 3 mais de doze atos institucionais pelos presidentes da República durante o regime militar, Castello Branco que foi o primeiro presidente após o golpe decretou o AI-2 ao AI-4 e Costa e Silva o AI-5 ao AI-11. O primeiro ato institucional AI-1, continha onze artigos que limitavam os poderes do Legislativo e do Judiciário e ampliava os poderes do Executivo, surgiu como meio de legitimação da intervenção militar, o artigo 7° deste ato institucional, suspendeu asgarantias constitucionais da vitaliciedade e da estabilidade, admitindo mediante investigação sumária a demissão ou suspensão dos servidores públicos, sendo vedada a apreciação dos fatos que os motivaram. O AI-2 teve por função primordial institucionalizar o novo regime, através de modificações feitas, inclusive no poder Judiciário, transferiu para a justiça militar a competência para julgamento dos crimes contra a segurança nacional, aumentou o número de ministro do STF de 11 para 16 com a intenção de que a maioria do tribunal estivesse alinhada aos interesses do regime, determinou o fim de eleições diretas para Presidente e Vice- presidente da República, extinguiu partidos políticos e admitiu a cassação e a suspensão de direitos políticos. O AI-4 fixou uma data limite para a votação de um novo texto constitucional no ano de 1967, que entrou em vigor com a posse do novo presidente, o marechal Costa e Silva. Esta constituição suprimiu direitos fundamentais como a liberdade de expressão e pensamento, de publicidade, de reunião e limitou o acesso ao poder judiciário. Estabeleceu o foro militar para civis em caso de crimes contra a segurança do país ou contra as instituições militares, criou a pena de suspensão de direitos políticos para aquele que abusasse de tais direitos, para atentar contra a ordem democrática do país. Manteve todas as punições, exclusões e marginalizações políticas decretadas sob a égide dos atos institucionais (CHUEIRI & CÂMARA, 2015; GROFF, 2008). Na prática esta constituição teve pouco tempo de aplicação, pois logo foi editado o AI-5 em 1968, neste momento se instalou a certeza de uma ditadura centralizada na figura do Presidente com vastos poderes, foi o golpe mais cruel e violento do regime militar no tocante as restrições às liberdades e as garantias individuais e coletivas. Este ato institucional repetiu todos os poderes discricionários conferidos ao presidente da República; no seu artigo 10° suspendeu o habeas corpus, nos casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular; concedeu total arbítrio ao presidente da República para decretação de estado de sítio e sob o regime do AI-5 a tortura e os assassinatos políticos foram largamente praticados no país. Ainda no ano de 1969, foi editado o Decreto- lei n° 898 que ampliava os crimes contra a segurança nacional e previa para alguns desses crimes, em grau mínimo, a pena de prisão perpétua e, em grau máximo, a pena de morte. O ato institucional n° 10 de maio de 1969, além de ampliar o rol de penas aos presos políticos, 4 continha violação ao princípio do ne bis idem no seu artigo 1° § 2. Já o ato institucional n° 13, criou a pena de banimento do brasileiro que se tornasse inconveniente, nocivo ou perigoso à segurança nacional é de se observar que princípios constitucionais penais eram violados pelo regime militar (JUNIOR, 2013). Praticamente todas as ações praticadas pelo governo por meio dos atos institucionais não estavam sujeitos à apreciação pelo poder judiciário, sendo impedido de exercer suas funções de equilibrar os poderes. Juridicamente os atos institucionais valiam mais do que a Constituição, podiam tratar de qualquer matéria e não sofriam qualquer controle, havendo uma desagregação constitucional seguida de violações a direito e garantias fundamentais individuais e coletivos. No ano de 1985 depois de vinte e um anos do regime militar se tem a transição do regime ditatorial para um regime democrático. Está transição lenta se inicia no ano de 1978, com a revogação dos atos institucionais e no ano de 1979 o Presidente Figueiredo sanciona a lei da Anistia que viabiliza a volta de inúmeros exilados ao Brasil. Em outubro de 1988 foi promulgado um novo texto constitucional, com o intuito de instituir um Estado democrático destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a igualdade e a justiça. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do contexto é de se observar que a ditadura militar no seu início tentou passar à sociedade civil a ideia de que este era um movimento necessário para se restabelecer a ordem do país que neste momento da história viva um conturbado contexto político-social. Contudo tal característica não foi observada com o avançar do regime no domínio do Brasil, o que se verificou foi uma ampliação do poder executivo acompanhado de limitação dos poderes legislativo e judiciário, gerando uma fragilização do sistema de freios e contrapesos importante para a manutenção do equilíbrio entre os poderes do Estado. O resultado foi uma desordem jurídico-constitucional, acompanhada de uma supressão a direito e garantias individuais e coletivas. REFERENCIAS CHUEIRI, V. K & CÂMARA, H. F. (Des)ordem Constitucional: Engrenagem da Máquina Ditatorial no Brasil Pós-64. Lua Nova, V. 95, P. 259-288, 2015. 5 DELGADO, L. A. N. O Governo João Goulart e o Golpe de 1964: Memória, História e Historiografia. Revista Tempo, V. 28, P. 123-144, 2010. FAUSTO, BORIS. História do Brasil. 2 ed. São Paulo, 1995. GROFF, P. V. Direitos Fundamentais nas Constituições Brasileiras. Revista de Informação Legislativa, V. 45, N. 178, Brasília, 2008. JUNIOR, A. B. Constitucionalismo Sob a Ditadura Militar de 64 a 85. Revista de Informação Legislativa, V. 50, N. 197, Brasília, 2013. TOLEDO, C. N. 1964: O Golpe Contra as Reformas e a Democracia. Revista Brasileira de História, V. 24, N. 47, P. 13-28, 2004. VASCONCELO, C. B. Os Militares e a Legitimidade do Regime Ditatorial (1964-1968) a Preservação do Legislativo. Varia Historia, V. 29, P. 333-358, 2013.
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