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( 6 ) Administração do Capital de Giro e a Gestão das Disponibilidades Renata Ferreira A administração financeira de curto prazo é uma das atividades mais intensas do administrador e está voltada essencialmente para os elementos circulantes do balanço patrimonial, ou seja, seu objetivo é gerir cada um dos ele- mentos do ativo circulante (caixa, títulos negociáveis, dupli- catas a receber, estoques) e passivo circulante (fornecedores, títulos a pagar, empréstimo de curto prazo) a fim de alcançar um equilíbrio entre lucratividade e risco que contribua posi- tivamente para o valor da empresa. Esses elementos exigem atenção do gestor, pois produ- zem a capacidade de sustentação e crescimento da empresa, afetando diretamente no resultado futuro. Por exemplo, elevados investimentos em ativos circu- lantes reduzem a lucratividade da empresa, enquanto um 182 G es tã o fin an ce ir a investimento muito baixo afeta negativamente a liquidez da empresa, aumentando o risco de não poder honrar suas obrigações nos prazos estipulados. Vale destacar que não existe um nível ótimo de ativos e passivos circulantes, o nível depende de cada empresa e do setor em que atua. A administração dos elementos circulantes é chamada também de administração do capital de giro e envolve basica- mente as decisões de compra e venda tomadas pela empresa, assim, como suas mais diversas atividades operacionais e financeiras. Segundo Assaf Neto (2010), a gestão do capital de giro deve assegurar a uma empresa uma adequada consecu- ção de sua política de estocagem, compra de materiais, produ- ção, venda de produtos e mercadorias e prazo de recebimento. Esta unidade está dividida em duas partes. Na pri- meira, estudaremos as características básicas da administra- ção do capital de giro, através dos conceitos de capital de giro e capital circulante líquido, sua relação com a liquidez e a rentabilidade da empresa e o gerenciamento do capital cir- culante. Na segunda, abordaremos a problemática da gestão das disponibilidades e as estratégias que podem ser usadas para seu melhor controle. Conceitos Importantes É importante, dentro do estudo da administração financeira de curto prazo, distinguir o capital de giro no sen- tido bruto, do capital de giro líquido. Capital de giro ou Capital Circulante Capital de giro corresponde ao Ativo Circulante de uma empresa, ou seja, representa o valor total dos recursos demandados pela empresa para financiar seu ciclo operacio- nal, desde as necessidades de aquisição de matérias-primas até a venda e o recebimento dos produtos elaborados. A dm in ist ra çã o do C ap ita l d e G iro e a G es tã o da s D isp on ib ili da de s 183 O Capital de giro apresenta as seguintes características: • Volatilidade: Curta Duração e constante mutação de seus elementos; • Baixa Rentabilidade: Os itens circulantes apresen- tam baixa rentabilidade se comparados aos demais itens do ativo, exceto para as empresas em que a gestão do capital de giro é a essência do negócio; e • Divisibilidade: Os itens circulantes apresentam maior divisibilidade que os itens permanentes. Isso permite que o aporte de recursos nos itens circulantes ocorra em níveis variados e relativamente baixos. O capital de giro apresenta um ciclo que inicia com a compra de matérias-primas que vão para o estoque. Essas matérias-primas são transformadas através do processo de produção em produtos acabados, alimentando o estoque de mercadorias. Com as vendas, o estoque é diminuído, e através das vendas os recursos são alocados ou nas disponibilidades (caixa e bancos), no caso de recebimento à vista, ou no contas a receber (no caso de recebimento a prazo). Com os recursos disponíveis, a empresa pode investir novamente em estoques e o ciclo recomeça. Assim, são recu- perados financeiramente os investimentos nos meios de pro- dução e em outros ativos imobilizados. Capital de Giro Líquido ou Capital Circulante Líquido (CCL) O Capital Circulante Líquido corresponde ao valor das aplicações processadas no ativo circulante deduzidas das dívidas a curto prazo, ou seja, é a diferença entre o Ativo Circulante e o Passivo Circulante. 184 G es tã o fin an ce ir a Outra forma de interpretação é a de que o CCL repre- senta a parcela dos recursos permanentes (ou de longo prazo) que financia parte do Ativo Circulante. Em outras palavras, representa a parcela do financia- mento total de longo prazo (seja por recursos próprios ou de terceiros) que excede as aplicações também de longo prazo (Ativos não circulantes). Ativo circulante Passivo circulante Capital circulante líquido- = Proporção do in- vestimento total da empresa que circula na conclusão normal das operações da empresa Financiamento de curto prazo (dívidas que vem no máximo em um ano) Se Ac > PC temos CCL positivo e, Se AC < PC temos CCL negativo Capital próprio = Patrimônio líquido Financiamento de longo prazo Investimento de longo prazo Realizável a longo prazo Capital de terceiros = Exigível a longo prazo Ativo permanente menos Capital Circulante Líquido CCL = (PL + ELP) - (RLP + AP) A dm in ist ra çã o do C ap ita l d e G iro e a G es tã o da s D isp on ib ili da de s 185 ccL x Liquidez O CCL é um indicativo de liquidez, visto que representa uma medida estática da folga financeira que a empresa apresenta para liquidar seus compromissos de curto prazo. Quanto maior o CCL, maior a diferença entre o Ativo Circulante e o Passivo Circulante, resultando em um menor risco de insolvência da empresa. Porém, é importante acompanhar a composição do ativo circulante, pois se, por exemplo, grande parte dos recursos circulan- tes estiver alocada em estoques, a folga financeira pode ser ilusória, dada a demora de realização de todo o estoque. Poderia acontecer a necessidade de contrair emprésti- mos bancários para efetuar o pagamento das contas a pagar, visto que a empresa não tem os recursos imediatos. Um CCL negativo revela que os recursos passivos permanentes da empresa (financiamento de longo prazo) não são suficientes para cobrir todas as suas necessidades de investimento de longo prazo, devendo, nessa situação, utilizar recursos de curto prazo (passivo circulante). Isso significa um aperto na liquidez e um aumento no risco da empresa. Já um CCL baixo não indica necessariamente pro- blemas de liquidez. Por exemplo, um supermercado com- pra a prazo de seus fornecedores e como possuem um rápido giro de estoque, vende as mercadorias em um prazo inferior. Os recursos recebidos podem ser aplicados no mer- cado financeiro, recebendo ainda a rentabilidade da opera- ção, ou ainda, usados para investimentos na expansão dos negócios. Isso diminuiria o ativo circulante, indicando um CCL baixo, mas não representa problemas na saúde finan- ceira da empresa. 186 G es tã o fin an ce ir a ccL x Rentabilidade Um CCL elevado prejudica a rentabilidade da empresa. Nesse contexto, a rentabilidade representa a relação entre as receitas e custos gerados pela utilização dos ativos, sejam eles circulantes ou permanentes, em atividades produtivas (GITMAN, 2010). O CCL pode aumentar quando: • Aumenta o Ativo Circulante em relação aos Ativos Totais. Quando isso ocorre, a rentabilidade diminui. Isso, porque os ativos circulantes são menos rentáveis que os ativos permanentes. Sem os ativos permanentes, a empresa não pode fabricar o seu pro- duto e por isso, agregam mais valor ao produto do que os ativos circulantes.Assim, um excesso de ativos cir- culantes pode indicar ineficiência no uso dos recursos financeiros. • Diminui o Passivo Circulante em relação aos Ativos Totais. Quando isso ocorre a rentabilidade diminui. A redução do passivo circulante representa um aumento no financiamento com recursos próprios ou de tercei- ros de longo prazo, que são fontes de financiamento com custos elevados, ainda mais se considerarmos que uma parte do passivo circulante (fornecedores, contas a pagar etc.) são dívidas pelas quais não se pagam juros. Então seria interessante ter apenas dívidas de curto prazo? Não. É preciso levar em consideração que o endivida- mento de curto prazo, mesmo que seja menos oneroso do que as demais fontes, se contraído em excesso aumenta o risco de insolvência técnica da empresa, pois como tais dívidas apre- sentam um vencimento curto, a empresa pode não conseguir recursos a tempo para liquidar esses compromissos. A dm in ist ra çã o do C ap ita l d e G iro e a G es tã o da s D isp on ib ili da de s 187 Além disso, a análise potencial de crédito da empresa, realizada pelos seus fornecedores e por instituições finan- ceiras, constitui um mecanismo delimitador da expansão do Passivo Circulante. É preciso buscar uma estrutura de capital que não prejudique demasiadamente a rentabilidade da empresa. A Administração do capital de giro pode ajudar, visto que seu objetivo é gerir os ativos e passivos circulantes de tal forma que seja mantido um nível adequado de capital circulante líquido. Capital de Giro Próprio (CGP) O Capital de Giro Próprio (CGP) representa o volume de recursos próprios que a empresa tem aplicado em seu Ativo Circulante. É obtido pela seguinte equação: Sendo: PL = Patrimônio Líquido AP = Ativo Permanente RLP = Realizável a Longo Prazo Uma maneira simplificada muito adotada pelo mercado financeiro é calcular o capital de giro próprio pela simples diferença entre o Patrimônio Líquido e o Ativo Permanente, revelando, assim, o volume de recursos próprios que está financiando o ativo circulante e o realizável a longo prazo. Assaf Neto (2010) coloca que “segundo médias divul- gadas pelos analistas de mercado, o valor mínimo ideal dessa medida é zero, ou deve atingir, pelo menos 5% das receitas auferidas pela empresa”. CGP = Patrimônio líquido - ativo não circulante CGP = PL - AP - RLP 188 G es tã o fin an ce ir a Políticas de Gerenciamento do Capital de Giro As políticas de gerenciamento do capital de giro obje- tivam definir: • O volume de investimentos necessários em capital de giro; • A distribuição desses investimentos em caixa, valo- res a receber e estoques; e • E como serão financiados esses investimentos. Necessidade de Investimento em Capital de Giro (NIG) A necessidade de investimento em capital de giro reflete o volume de recursos demandado pelo ciclo operacio- nal da empresa, determinado em função de suas políticas de compras, vendas e estocagem. Segundo Assaf Neto (2010), o investimento em giro a ser mantido deve “equiparar-se, no mínimo, ao montante do ativo circulante caracterizado como permanente (ou cha- mado de necessidade mínima) e, esses recursos, visando à manutenção do equilíbrio financeiro da empresa, devem ser Vamos Recordar? Ciclo operacional compreende o período de tempo que vai desde o momento em que a empresa recebe em suas insta- lações os produtos ou matérias-primas, até o momento em que recebe o dinheiro pela venda do produto acabado. O Ciclo operacional é dado pela soma do prazo médio de estocagem e o prazo médio de cobrança. Ciclo Financeiro ou Ciclo de Caixa compreende o período de tempo em que os recursos da empresa foram utilizados para o pagamento dos bens e matérias-primas até o rece- bimento pela venda do produto acabado resultante. O Ciclo de Caixa é dado pela diferença entre o ciclo ope- racional e o prazo médio de pagamento dos fornecedores. (LEMES JR. et al, 2010) A dm in ist ra çã o do C ap ita l d e G iro e a G es tã o da s D isp on ib ili da de s 189 lastreados por fundos de longo prazo”. Por que a busca por fundos de longo prazo? Porque se as necessidades mínimas forem financiadas com recursos de curto prazo, a empresa, para manter sua posição de liquidez, assume maior depen- dência pela renovação dos passivos, elevando seu risco financeiro. E por que os investimentos em giro devem suprir pelo menos as necessidades permanentes (ou mínimas)? Porque os investimentos em capital de giro visam a sustentação da atividade operacional da empresa, não geram diretamente unidades físicas de produto e por isso apresen- tam uma menor rentabilidade. Além disso, o capital de giro é constituído, em grande parte, por ativos monetários, que por sua vez, sofrem os efei- tos da inflação. Ou seja, os investimentos em disponibilidades e créditos realizáveis em curto prazo produzem, no mínimo, perdas por redução da capacidade de compra à empresa em função do tempo em que os recursos ficam expostos à infla- ção. A partir daí, o mais rentável para empresa é manter em seus ativos circulantes os valores mínimos ou exatamente iguais às suas necessidades operacionais. Com base nestes conceitos, as políticas mais adequa- das visam encurtar o ciclo de caixa. Quanto maior o Ciclo de Caixa, maior a necessidade de recursos para financiamento dos valores aplicados em estoque e valores a receber, ou seja, maior a necessidade de capital de giro. Lemes Jr. et al (2010) ressaltam que políticas que envol- vem ciclos de caixa reduzidos tornam mais complexa a ges- tão financeira e operacional, exigindo trabalho com recursos escassos de caixa e impondo limitações nas políticas de crédito e de estoques, o que pode dificultar a realização das vendas. Assaf Neto (2010) destaca que, manter valores míni- mos de capital de giro, apesar de mais rentável, “pode levar 190 G es tã o fin an ce ir a a empresa a um aperto em sua liquidez, no caso de eventuais atrasos nos recebimentos, ou a sacrificar seu processo nor- mal de produção e venda, na eventualidade de falta de esto- ques”. Brigham e Ehrhardt (2006) colocam que, apesar de mais adequadas, estas políticas são chamadas de agressivas, por resultarem em progressivas reduções nos investimentos circulantes, aumentando o risco da empresa. Inversamente, ou seja, a adoção de uma política de gestão de capital de giro mais flexível leva a empresa a aplicar mais recursos em disponibilidades (como forma de se proteger contra desembolsos imprevistos), em valo- res a receber (adoção de uma política de crédito e cobrança mais frouxa para estimular as vendas, resultando em maiores prazos de vendas) e, em estoques (para diminuir o risco de atrasos no processo produtivo ou a perda de vendas inesperadas). Essas políticas, denominadas conservadoras, redu- zem o risco da empresa, mas em paralelo, proporcionam uma redução na rentabilidade. Cabe destacar que um dos objeti- vos da administração financeira de curto prazo é orientar o gestor nas decisões sobre o dilema risco-retorno. O exemplo a seguir mostra o efeito destas políticas: Considere uma empresa com R$ 2.000.000 de ativo não circulante. Suas decisões de curto prazo são quanto ao volume de recursos em capital de giro. Trabalharemos três níveis de capital de giro: baixo, médio e alto. Independente do cenário, o passivo circulante financiará 30% do ativo total, o exigível a longo prazo 20% do total e o patrimônio líquido 50%. Para apuração do resultado consideraremos um lucro operacional bruto de R$ 600.000. O custo de crédito de curto prazoé de 25% ao ano e o de longo prazo 15%. A dm in ist ra çã o do C ap ita l d e G iro e a G es tã o da s D isp on ib ili da de s 191 Demonstração do resultado do exercício Baixo Médio Alto Lucro operacional bruto 600.000 600.000 600.000 (-) despesas financeiras Passivo circulante (25%) 1.050.000 x 25% = 262.500 1.200.000 x 25% = 300.000 1.350.000 x 25% = 337.500 Exigível a longo prazo (15%) 700.000 x 15% = 105.000 800.000 x 15% = 120.000 900.000 x 15% = 135.000 Lucro antes do imposto de Renda (LAIR) 232.500 180.000 127.500 (-) Imposto de Renda (40%) 93.000 72.000 51.000 Lucro líquido 139.500 108.000 76.500 Rentabilidade: ROE (lucro líquido/pat- rimônio líquido) 7,97% 5,40% 3,40% Balanço patrimonial Baixo Médio Alto Ativo circulante 1.500.000,00 2.000.000,00 2.500.000,00 Ativo não circu- lante 2.000.000,00 2.000.000,00 2.000.000,00 Total do ativo 3.500.000,00 4.000.000,00 4.500.000,00 Passivo circulante (30%) 1.050.000,00 1.200.000,00 1.350.000,00 Exigível a longo prazo (20%) 700.000,00 800.000,00 900.000,00 Patrimônio líquido (50% 1.750.000,00 2.000.000,00 2.250.000,00 Total 3.500.000,00 4.000.000,00 4.500.000,00 192 G es tã o fin an ce ir a Este exemplo ressalta o dilema risco-retorno. Observe que quanto maior a participação do capital de giro sobre o ativo total, menor é a rentabilidade da empresa. Porém, se a empresa adota uma postura de maior risco, com menores aplicações no capital de giro, consegue auferir maior retorno. Assim, respeitando as características da empresa, do negócio e do setor, a definição do volume adequado de capi- tal de giro deve maximizar seu retorno e minimizar o risco. Distribuição dos Investimentos em Capital de Giro Esta política diz respeito à distribuição dos investi- mentos em caixa, estoques e contas a receber. Leva em conta a definição do volume de investimentos em Capital Circulante, o setor de atividade em que a empresa atua e as condições de mercado em que a empresa opera. Existem setores, como por exemplo, o comércio, em que o investimento em estoques é elevado; já empresas do setor de ser- viços tendem a concentrar menores investimentos em estoques. No tocante aos investimentos em contas a receber, existem seto- res que as receitas são obtidas essencialmente por vendas a cré- dito, gerando elevados investimentos em contas a receber. Cabe ao gestor financeiro encontrar a distribuição ideal para as condições da empresa, respeitando o setor de ativi- dade em que atua. Segundo Lemes Jr. et al (2010) sob a ótica financeira, “a decisão pode tomar como base o custo finan- ceiro de cada uma das fontes de recursos que financia o mon- tante aplicado em caixa, em valores a receber e em estoques”. Já sob a ótica do planejamento estratégico da empresa, “é preciso considerar o volume de vendas pretendido e quais as condições de preço (preço praticado e condições de paga- mento) que levam a esse volume de vendas”. A dm in ist ra çã o do C ap ita l d e G iro e a G es tã o da s D isp on ib ili da de s 193 Financiamento do Capital de Giro Se a produção e as vendas ocorressem uniformemente ao longo do ano, a gestão do capital de giro seria fácil, porque haveria fluxos regulares de entradas e saídas de caixa (BRAGA, 1995). Porém, muitas empresas estão sujeitas a fatores sazonais que afetam suas atividades, provocando oscilações no ativo cir- culante. Por exemplo, as empresas precisam se preparar para as vendas de final de ano aumentando seus estoques. Por outro lado, sempre existirá um nível mínimo de estoques, valores a receber e disponibilidades, independente de fatores sazonais. O ideal é que a parcela fixa dos ativos circulantes seja financiada com recursos próprios e de longo prazo, deixando a parcela flutuante (sazonal) para os recursos de terceiros de curto prazo. Em situações de empréstimo, o custo de crédito de longo prazo é mais caro que o de curto prazo, em decor- rência do risco envolvido na duração da operação e do risco que o credor assume em não obter um retorno condizente com os padrões de juros da época (ASSAF NETO, 2010). Como forma de minimizar o risco, é comum que ope- rações de longo prazo tenham taxas pós-fixadas e que as instituições financeiras adotem critérios mais rigorosos de concessão destes créditos. Cabe ressaltar que em algumas economias, (princi- palmente emergentes) os juros a curto prazo podem assumir níveis superiores do que os juros de longo prazo como reflexo do cenário político-econômico (instabilidade econômica, cré- ditos de longo prazo subsidiados, insuficiência de recursos a longo prazo o que gerou excesso de demanda por recursos de curto prazo, entre outras). As decisões de financiamento do capital de giro também interferem no dilema risco-retorno. Veja o exemplo a seguir: 194 G es tã o fin an ce ir a Considere uma empresa que possui R$ 400.000 de ati- vos permanentes. O Ativo Circulante varia mensalmente em virtude das vendas e estoques. A empresa precisa decidir como financiará seus ativos e para tanto, poderá adotar três estratégias: Agressiva, con- servadora e intermediária. A necessidade de recursos permanentes é igual ao ativo permanente mais a parcela fixa dos ativos circulantes correspondente ao menor valor mensal (relativo ao mês de abril). A decisão gira em torno do financiamento dos valores sazonais. Mês Ativos Perman. (A) Ativos Circul. (B) Ativos Totais (C) Nec. de recursos Perm. (D) Sazonais (E=C-D) Jan 400.000 100.000 500.000 440.000 60.000 Fev 400.000 90.000 490.000 440.000 50.000 Mar 400.000 50.000 450.000 440.000 10.000 Abr 400.000 40.000 440.000 440.000 0 Mai 400.000 50.000 450.000 440.000 10.000 Jun 400.000 80.000 480.000 440.000 40.000 Jul 400.000 110.000 510.000 440.000 70.000 Ago 400.000 130.000 530.000 440.000 90.000 Set 400.000 140.000 540.000 440.000 100.000 Out 400.000 130.000 530.000 440.000 90.000 Nov 400.000 120.000 520.000 440.000 80.000 Dez 400.000 100.000 500.000 440.000 60.000 Média Mensal 400.000 950.000 495.000 440.000 55.000 A dm in ist ra çã o do C ap ita l d e G iro e a G es tã o da s D isp on ib ili da de s 195 Representando graficamente temos: A empresa pode adotar as seguintes posições: • Agressiva: Financiar as necessidades sazonais inte- gralmente com passivos circulantes (recursos de curto prazo). Neste caso, a empresa estaria minimizando o Capital Circulante Líquido (CCL), o que seria bom para sua rentabilidade, mas seria perigoso para sua liqui- dez. Necessidades permanentes seriam: R$ 400.000 dos ativos permanentes + R$ 40.000 dos ativos circulantes permanentes. CCL = R$ 40.000. • Conservadora: Financiar a totalidade dos recur- sos (permanentes e sazonais) com recursos permanen- tes (próprios e de longo prazo). Isso proporciona uma liquidez elevada, mas prejudicaria a rentabilidade, uma vez que haveria recursos ociosos durante certos meses do ano. A empresa mantém recursos permanen- tes no valor correspondente ao pico das necessidades totais (R$ 540.000 de setembro). Não são usados recur- sos temporários (de curto prazo). CCL = R$ 140.000. • Intermediária: média dos recursos da alternativa agressiva e conservadora. Os recursos permanen- tes serão suficientes para financiar as necessidades permanentes mais uma parte das necessidades sazo- nais. As necessidades totais oscilam entre R$ 440.000 (de abril) e R$ 540.000 (de setembro). Consideraremos 196 G estã o fin an ce ir a que os recursos permanentes sejam a média dos dois extremos: R$ 490.000. Nesta alternativa teríamos sobra de recursos em alguns meses e deficiência em outros. Essa deficiência média seria de R$ 11.667 (soma das fal- tas de recursos de cada mês dividido por 12. Março = 40.000, abril = 50.000, maio = 40.000, junho = 10.000, total = 140.000/12 = 11.667). CCL seria R$ 90.000 (R$ 490.000 menos R$ 400.000). Assim, Agora que as políticas possíveis estão definidas, vamos calcular os custos financeiros. Considerando as taxas de juros de 25% ao ano para os recursos permanentes e a taxa de 15% para os recursos de curto prazo (ou recursos temporários), temos: Agressiva Intermediária Conserva-dora F. Recursos permanentes 440.000 490.000 540.000 G. Custo dos recursos permanentes (2%) 110.000 122.500 135.000 H. Recurosos temporários 55.000 (E) 11.667 0 I. Custo dos recursos temporários (15%) 8.250 1750 0 J. Recurosos totais 495.000 501.667 540.000 K. Custo financeiro total 118.250 124.250 135.000 L. Ativos totais médios (C) 495.000 495.000 495.000 M. Sobras (M = J - L) 0 6.667 45.000 N. CCL 40.000 90.000 140.000 A dm in ist ra çã o do C ap ita l d e G iro e a G es tã o da s D isp on ib ili da de s 197 O exemplo nos mostra que: • Quanto maior o CCL (linha N), maior será o custo financeiro (linha K); • As sobras de recursos (linha M) poderiam ser apli- cadas no mercado financeiro, porém a taxas inferio- res às pagas para captação de recursos, o que implica em um ônus para a empresa. Assim, sob este aspecto, é conveniente operar com a menor sobra de recursos possível (menor CCL); • Na alternativa conservadora, a empresa não uti- liza todo o seu potencial de crédito (já que não utiliza recursos de curto prazo), o que prejudica a rentabili- dade das operações, visto que os recursos permanen- tes são mais onerosos; • Na alternativa agressiva, o risco pela natural falta de certeza no conhecimento do comportamento futuro de seus custos, visto que empréstimos de curto prazo absorvem com maior frequência as oscilações nas taxas de juros; além disso, cria uma dependência maior das disponibilidades de crédito no mercado. Eventuais dificuldades de captação destes recursos podem aba- lar a liquidez e afetar negativamente a relação com os credores; e • No dilema risco-retorno, o mais comum é que as empresas optem por alternativas • intermediárias, equilibrando aspectos de liquidez, risco e rentabilidade. Administração das Disponibilidades O termo disponibilidades (ou caixa) refere-se aos ati- vos de liquidez imediata, ou seja, recursos monetários manti- dos em tesouraria ou depositados em conta corrente bancária, 198 G es tã o fin an ce ir a que em sua maior parte estão livres para serem usados a qual- quer momento. Além destes valores, são somados os recursos que estão aplicados no mercado financeiro (em operações de cur- tíssimo e curto prazos), também denominados de Títulos Negociáveis, pois são considerados como “quase-caixa” pelas suas características de grande liquidez e risco reduzido. A gestão do caixa ou o cash management é a “atividade de tesouraria da empresa que acompanha os reflexos das políticas de investimentos, de vendas, de crédito, de compras e de estoques” (LEMES JR. et al, 2010). Quanto maiores forem os saldos de caixa, mais prontamente a empresa poderá hon- rar seus compromissos, além disso, sobras de caixa podem ser aplicadas no mercado financeiro, rendendo algum juro, ou ainda garantir a obtenção de descontos para aquisição de bens e matérias-primas, por exemplo. Em momentos de escassez de caixa é preciso negociar novos prazos com fornecedores, captar empréstimos de curto prazo ou ainda reduzir os prazos de venda a crédito. A admi- nistração dos saldos de caixa é um dos principais objetivos da gestão financeira, visando garantir a liquidez da empresa. Daí a importância do planejamento financeiro, pois é imprescindível conhecer antecipadamente qual será o montante de recursos que irá faltar ou sobrar nos períodos seguintes. Vale recordar que a incerteza na projeção de caixa reside, essencialmente, no comportamento das entradas resultantes das vendas à vista, da cobrança de duplicatas etc. E por que as empresas mantêm certo nível de caixa? (elas poderiam aplicar as sobras) Keynes identificou três motivos que levam as empre- sas (e as pessoas) a manterem certo nível de caixa. São eles: A dm in ist ra çã o do C ap ita l d e G iro e a G es tã o da s D isp on ib ili da de s 199 • Transação: as empresas precisam manter recur- sos em caixa para suprir as saídas, ou seja, para efe- tuar pagamentos oriundos de suas operações normais (como pagamento de fornecedores, funcionários, con- tas etc.). É a falta de sincronização entre o momento das entradas e das saídas de caixa que determina a demanda por caixa pelas empresas. • Precaução: os recursos de caixa são destinados a atender pagamentos inesperados ou extraordinários, ou seja, não previstos no planejamento. Quanto maior o saldo de caixa, maior será a margem de segurança de atuação da empresa. • Especulação: os recursos de caixa estão voltados para o aproveitamento de possibilidades de ganho que o mercado venha oferecer, como bons descontos, pagamentos antecipados etc. Uma situação frequente é armazenar caixa para tirar proveito de certas aplica- ções financeiras cujos rendimentos são atraentes para as empresas. Saldo mínimo de caixa A definição de saldos mínimos de caixa deve ser coe- rente com a política de aumentar o valor da empresa. Por isso, o objetivo de manter saldos mínimos é o de “permitir que a empresa possa corretamente saldar seus compromissos programados e manter ainda uma reserva de segurança de forma a cobrir suas necessidades de pagamentos imprevis- tos” (ASSAF NETO, 2010). A determinação de um nível ideal de recursos a ser mantido em caixa é uma tarefa complexa. Existem alguns modelos matemáticos para determinação deste saldo, os mais relevantes são: 200 G es tã o fin an ce ir a Modelo de Baumol ou Modelo do lote econômico Este modelo, desenvolvido por William Baumol em 1952, baseia-se no critério do lote econômico muito utilizado na administração de estoques, servindo de base conceitual para a administração de caixa em condições de certeza (consi- dera que as entradas e saídas de caixa são fixas e previsíveis). Considera os custos de manutenção dos saldos de caixa, ou seja, o custo de oportunidade determinado pelos juros que a empresa deixa de receber ao não aplicar estes recursos em títulos negociáveis, e o custo de obtenção do dinheiro pela conversão de títulos negociáveis em caixa. Assim, o nível ótimo de caixa seria aquele que mini- miza os custos totais é obtido pela fórmula: Você Sabia? John Maynard Keynes (1883-1946) é considerado o pai da macroeconomia moderna e o economista mais influente do Século XX. Na década de 1930, Keynes iniciou uma revolução no pensamento econômico, se opondo às ideias clássicas que defendiam que os mercados livres ofere- ceriam automaticamente empregos aos trabalhadores contanto que eles fossem flexíveis em suas demandas salariais. Keynes defendeu uma política econômica inter- vencionista, através da qual os governos usariam medidas fiscais e monetárias para mitigar os efeitos adversos dos ciclos econômicos (recessão, depressão e prosperidade). Após a Segunda Guerra Mundial, as ideias econômicas de Keynes foram adotadas pela grande maioria dos países capitalistas. Recentemente, a teoria keynesianafoi a base para os planos do presidente americano Barack Obama, do primeiro-ministro britânico Gordon Brown e de outros líderes mundiais para aliviar os efeitos da recessão causa- dos pela crise de 2008. C* = 2 x b x T i√ A dm in ist ra çã o do C ap ita l d e G iro e a G es tã o da s D isp on ib ili da de s 201 Sendo: C* = Valor Econômico de Conversão (VEC). b = custo de conversão = número de conversões x custo por conversão = identificado nas transações de compra ou venda com títulos negociáveis (exemplo: custo de transação, controle, registro, custódia etc.). T = caixa do período = valor total de caixa que se prevê utilizar em determinado período. i = custo de oportunidade = representa o retorno que se deixa de obter pela não manutenção dos recursos apli- cados em títulos negociáveis. Exemplo: Considere que a necessidade de caixa de uma empresa, visando o pagamento ao longo do próximo mês, atinja R$ 200.000. O custo por transação é estimado em R$ 30 e a taxa de juros de títulos negociáveis é de 1,2% ao mês. Assim: a) Volume de transações ótimo: Conforme o modelo, quando o caixa está zerado, a empresa vende R$ 31.622,78 de aplicações em títulos negoci- áveis e repõe o caixa. Como é pressuposto que a demanda de caixa é uniforme ao longo dos períodos, essa conversão deve ocorrer 6,32 vezes no mês (200.000/31.622,78). Este modelo apresenta limitações, principalmente ao admitir condições de certeza na administração de caixa. Sabemos que o fluxo de caixa não é totalmente previsível, especialmente pela incerteza nas entradas de caixa, por isso, na prática, um ges- tor mantém um saldo mínimo de segurança de caixa. C* = 2 x b x T = 2 x 30 x 200.000 = R$ 31.622,78 i 0,012√ √ 202 G es tã o fin an ce ir a O modelo, apesar de suas premissas e certeza e críticas, “explora importantes princípios teóricos básicos da adminis- tração de caixa, servindo mais como um parâmetro útil para a compreensão do comportamento e avaliação do saldo de caixa” (ASSAF NETO, 2010). Modelo de Miller-Orr O Modelo de Miller-Orr, desenvolvido em 1966, é o mais adequado aos ambientes de maior dificuldade de proje- ção dos fluxos de caixa, dada sua característica probabilística. Para os autores, as variações nos valores de caixa de um período para outro são aleatórias, e descrevem, quando as ações são repetidas, uma distribuição normal (ASSAF NETO, 2010). Miller e Orr, ao contrário de Baumol, admitem que o saldo de caixa pode elevar-se ou sofrer reduções em função de transações desconhecidas com antecedência. Com isso, são estabelecidos um limite superior para o saldo de caixa e um Ponto de Retorno que representa o nível de retorno defi- nido para o saldo de caixa, que pode variar entre zero e o limite superior (LEMES JR. et al, 2010). Ou seja, quando o saldo monetário de caixa atingir determinado volume (limite superior), os recursos são trans- feridos para títulos negociáveis de um valor igual ao limite superior menos o valor do Ponto de Retorno. Quando o saldo de caixa atinge o limite inferior (geral- mente este limite é zero, mas pode ser qualquer outro nível desejável), os títulos negociáveis são convertidos em caixa, no montante do Ponto de Retorno. Assim: Conversão de caixa em título negociáveis = limite superior - ponto de retorno Conversão de títulos negociáveis em caixa = ponto de retorno - saldo zero de caixa (ou limite inferior) A dm in ist ra çã o do C ap ita l d e G iro e a G es tã o da s D isp on ib ili da de s 203 O Ponto de Retorno é calculado pela fórmula: Sendo: PR = Ponto de Retorno b = Custo de conversão = custo fixo das transações em títulos negociáveis Var = Variação dos fluxos líquidos de caixa diários i = Custo de oportunidade = taxa de juros diária de títulos negociáveis Exemplo: Considere que o caixa do mês de uma empresa seja de R$ 500.000, a variação diária de caixa atinja R$ 40.000, o custo de conversão seja R$ 300 e a taxa de juros de títulos negociá- veis é de 16% ao ano (ou 0,041% ao dia). Assim: Conforme o modelo, os saldos de caixa da empresa devem variar entre zero e R$ 3.898,89. Quando atingir este valor do limite superior, R$ 2.599,26 devem ser convertidos em títulos negociáveis (R$ 3898,89 – R$ 1.299,63). Quando o saldo de caixa cair a zero, a empresa solicita à sua corretora/ banco a venda de R$ 1.299,63 dos papéis de curto prazo e os transforma em caixa. O modelo parte do pressuposto que as decisões de compra e venda dos títulos negociáveis são tomadas quando o saldo de caixa atinge os limites estabelecidos. Enquanto o saldo se mantiver entre os limites, nenhuma decisão é tomada, o saldo pode oscilar normalmente. O limite superior é igual a três vezes o Ponto de Retorno PR* = 3 x b x Var 4 x i√ 3 PR* = 3 x b x Var = 3 x 300 x 40.000 = R$ 1.299,63 4 x i 4 x 0,0041√ 3 √ 3 204 G es tã o fin an ce ir a Estes dois modelos de administração de caixa diferen- ciam-se basicamente pelas expectativas quanto ao saldo de caixa. O modelo de Baumol pressupõe condições de certeza nos fluxos de caixa, sendo mais aplicável quando o planeja- mento financeiro é de curto prazo, já que a capacidade de previsão do gestor é maior. Já o modelo Miller-Orr pressupõe uma natureza alea- tória às transações de caixa, permitindo variações nos saldos, e, portanto, é mais aplicável em situações de incerteza e/ou para planejamento de um horizonte temporal maior. Estratégias para reduzir saldos mínimos de caixa Muitas empresas, por trabalharem com Capital de Giro insuficiente, nem se preocupam com a determinação de sal- dos mínimos de caixa, ou seja, o caixa é todo utilizado nas ati- vidades operacionais da empresa. Porém, na determinação de saldos mínimos, é impor- tante considerar alguns fatores e estratégias, visto que a busca pela redução dos saldos mínimos de caixa deve ocorrer sem isso afete os negócios da empresa. Algumas estratégias que podem ser adotadas são: Acelerar o Recebimento de Duplicatas A concessão de crédito é ferramenta propulsora das vendas. Porém, a venda a crédito exige recursos financei- ros para financiá-lo. Para acelerar o recebimento de valores a receber podem ser adotadas ações como, por exemplo, encur- tamento dos prazos de pagamento, oferecimento de descon- tos, normas rígidas de cobrança, parcerias com instituições financeiras para o financiamento do crédito concedido. Além disso, existem ações para minimizar o tempo entre o pagamento efetuado pelo cliente e a efetiva disponibi- lização dos recursos financeiros para a utilização do gestor de caixa (cobrança via rede bancária, por exemplo). A dm in ist ra çã o do C ap ita l d e G iro e a G es tã o da s D isp on ib ili da de s 205 Retardar o Pagamento de Fornecedores Sem comprometer o conceito creditício que a empresa possui junto aos seus fornecedores, é possível negociar retar- dar os pagamentos por meio da negociação de prazos. O momento mais propício para se conseguir maiores prazos é no ato da compra, pois há mais interesse por parte do vende- dor em abrir concessões na negociação. Cabe ressaltar que, deixar de efetuar os pagamentos em dia, pode ajudar na formação de saldos de caixa, mas pre- judica o conceito de crédito da empresa, além de demonstrar incompetência na gestão dos negócios. Reduzir o Ciclode Produção Estoques de produtos em fabricação são grandes con- sumidores de recursos financeiros. Buscar o uso racional dos recursos e o aumento da produtividade e qualidade na pro- dução, além de reduzir o ciclo de produção, colabora para a gestão mais eficiente do caixa. Elevar o Giro dos Estoques É preciso aplicar técnicas de gestão de estoques que evitem trazer prejuízos para a produção (evitar a falta de materiais) ou se traduzam em empecilhos para a venda (falta de mercadorias). É possível aumentar o giro dos estoques de matérias-pri- mas com programas de produção coordenados com previsões confiáveis de vendas. A coordenação entre produção, vendas e gerenciamento de estoques se faz necessária também para redu- zir a permanência dos estoques de produtos acabados dentro da empresa, colaborando para a redução do ciclo de caixa. Bom Relacionamento Bancário A manutenção de um bom relacionamento bancá- rio constituiu um aspecto primordial na administração das 206 G es tã o fin an ce ir a disponibilidades. O acompanhamento da movimentação da conta corrente bancária, online e em tempo real, também possibilita o uso das disponibilidades de forma mais eficaz. O gestor financeiro necessita negociar tarifas de cobrança e prazos de disponibilização dos recursos provenientes dos recebimentos efetuados, além de negociar taxas e prazos para possíveis empréstimos e financiamentos. Muitas empresas ainda recebem e fazem pagamentos em cheques, é preciso planejar o uso destes recursos, dado o período de compensação. Estes valores em trânsito, também conhecidos como float, permitem à empresa liberar novos cheques apesar de seus controles indicarem insuficiência de saldo para cobertura dos mesmos. Segundo Braga (1995), é através destes “malabarismos” que o gestor tenta otimizar o uso das disponibilidades. Também é importante manter um número reduzido de contas bancarias (se possível), o que facilita o controle, per- mite operar intensamente com cada banco, podendo desta forma contar com o imediato apoio financeiro quando hou- ver necessidade. É HORA DE FIXAR Considere uma empresa com R$ 1.000.000 de ativo não circulante e R$ 500.000 de ativo circulante. Atualmente, o passivo circulante financia 35% do ativo total, o exigível a longo prazo 25% do total e o patrimônio líquido 40%. O lucro operacional bruto é de R$ 300.000. O custo de cré- dito de curto prazo é de 26% ao ano e o de longo prazo 40% ao ano. a) Calcule o Capital Circulante Líquido (CCL) e a renta- bilidade da empresa (ROE). b) Considere que a empresa pretende aumentar o seu capital de giro em 20%, o ativo permanente se mantém. A dm in ist ra çã o do C ap ita l d e G iro e a G es tã o da s D isp on ib ili da de s 207 Para tanto, a empresa conseguiu negociar uma linha de longo prazo no mercado financeiro, alterando a propor- ção de financiamento para: passivo circulante financia 30% do total, recursos de longo prazo financiam 30% e o patrimô- nio líquido 40%. Calcule o novo CCL. Qual o impacto sobre a rentabilidade da empresa? Analise o resultado. Obs.: considere um Imposto de Renda + CSLL de 34%. Resolução a) Montando o Balanço Patrimonial e DRE: Capital circulante líquido = Ativo Circulante menos Passivo Circulante CCL = 500.000 – 525.000 = (25.000) b) Apurando o novo Balanço Patrimonial e DRE: Ativo Passivo Ativo circulante 500.00 Passivo circulante 525.000 Ativo não circulante 1.000.000 Exigível longo prazo 375.000 Patrimônio líquido 600.00 Total 1.500.00 Total 1.500.000 Demonstração de Resultado Lucro operacional bruto 400.000 (-) despesas financeiras Passivo circulante 525.000 x 26% = (136.500) Exigível a longo prazo 375.000 x 40% = (150.000) Lucro antes do IR 113.500 (-) Imposto de Renda (34%) (38.590) Lucro líquido 74.910 Rentabilidade (ROE) = Lucro/PL 12.48% 208 G es tã o fin an ce ir a Capital Circulante Líquido = Ativo Circulante menos Passivo Circulante CCL = 600.000 – 480.000 = 120.000 A decisão de aumentar o ativo circulante e de aumen- tar a participação dos recursos de terceiros de longo prazo da empresa geraram os seguintes impactos: • redução do endividamento de curto prazo; • aumento da liquidez da empresa – aumento do CCL e, consequentemente, redução do risco; • aumento das despesas financeiras, visto que neste caso os recursos de longo prazo são mais onerosos; e • redução na rentabilidade em 31,25% (passando de 12,48% para 8,58%). Ativo Passivo Ativo circulante 600.00 Passivo circulante 480.000 Ativo não circulante 1.000.000 Exigível longo prazo 480.000 Patrimônio líquido 640.00 Total 1.600.00 Total 1.600.000 Demonstração de Resultado Lucro operacional bruto 400.000 (-) despesas financeiras Passivo circulante 480.000 x 26% = (124.800) Exigível a longo prazo 480.000 x 40% = (192.000) Lucro antes do IR 83.200 (-) Imposto de Renda (34%) (28.288) Lucro líquido 54.912 Rentabilidade (ROE) = Lucro/PL 8.58% A dm in ist ra çã o do C ap ita l d e G iro e a G es tã o da s D isp on ib ili da de s 209 R ef eR ênci as ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. BRAGA, R. Fundamentos e Técnicas de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 1995. BRIGHAM, E. F.; EHRHARDT, M. C. Administração Finan- ceira – Teoria e Prática. 10. ed. São Paulo: Thomson, 2006. GITMAN, L. Princípios de Administração Financeira. 12. ed. São Paulo: Addison Wesley Brasil, 2010. LEMES JR., A. B. et al. Administração Financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. 3. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2010. ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J. F. Administra- ção Financeira – corporate finance. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. ( 1 ) Introdução à Gestão Financeira e Fundamentos do Cálculo Financeiro ( 2 ) Cálculo Financeiro em Contexto Inflacionário ( 3 ) Análise das Demonstrações Financeiras ( 4 ) Ponto de Equilíbrio e Alavancagem ( 5 ) Planejamento Financeiro e Orçamento de Caixa ( 6 ) Administração do Capital de Giro e a Gestão das Disponibilidades ( 7 ) Administração das Contas a Receber e dos Estoques ( 8 ) Administração do Passivo Circulante
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