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FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL ESCOLA DE SAÚDE CURSO DE BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA FELIPE PEREIRA DA LUZ O USO POLÍTICO DOS JOGOS ESCOLARES DO PARANÁ ENTRE 2008 A 2013 CURITIBA 2014 FELIPE PEREIRA DA LUZ O USO POLÍTICO DOS JOGOS ESCOLARES DO PARANÁ ENTRE 2008 A 2013 Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Educação Física, Escola de Saúde, Faculdades Integradas do Brasil - Unibrasil Orientador: Prof. Dra. Ana Leticia Padeski Ferreira Co-orientador: Prof. Dr. Marcelo Pastre CURITIBA 2014 TERMO DE APROVAÇÃO FELIPE PEREIRA DA LUZ O USO POLÍTICO DOS JOGOS ESCOLARES DO PARANÁ ENTRE 2008 A 2013 Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel no Curso de Graduação em Educação Física, Escola de Saúde, Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil, pela seguinte banca examinadora: Orientador: Prof. Dra. Ana Leticia Padeski Ferreira Curso de Educação Física – UniBrasil Co-orientador: Prof. Dr. Marcelo Pastre Curso de Educação Física – UniBrasil Membros: Prof. Ms. Taís Pastre Curso de Educação Física - Unibrasil Prof. Ms. Camile Silva Curso de Educação Física - Unibrasil CURITIBA, 22 de Maio de 2014. IDENTIFICAÇÃO UNIBRASIL FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL – UNIBRASIL Rua Konrad Adenauer, 442, Tarumâ Curitiba-PR PRESIDENTE Prof. Dr.Clemerson Merlin Cléve DIRETOR GERAL Prof. Dr. Sérgio Ferraz de Lima DIRETOR ACADÊMICO Prof. Me.Jairo Marçal COORDENADOR DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA Profa.Me.Taís Glauce Fernandes de Lima Pastre COORDENADORA ADJUNTA DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA Profa.Me. Camile L.S. Nagornni PROFESSOR DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO Prof. Dr. Marcelo Pastre ACADÊMICO Felipe Pereira da Luz AGRADECIMENTOS Durante toda minha caminhada, aprendi que devemos sempre agradecer por tudo que acontece em nossas vidas, pois a gratidão é uma das maneiras mais simples e diretas de entramos em harmonia com as vibrações do alto. Agradeço primeiramente a Deus pela vida, pela saúde e pela família que me concedeu, pois foram meu alicerce na construção de minha personalidade, me criando com muita dedicação e amor incondicional. São valores como respeito, humildade e honestidade que pretendo transmitir aos meus filhos tão bem assim quanto vocês o fizeram comigo. Vocês são meu exemplos... A minha esposa Juliana, que se manteve tranquila, paciente e compreensiva nas minhas obrigações acadêmicas, mesmo em algumas ausências para a realização dessa graduação, e por contribuir na tradução do resumo desse trabalho. Você é muito especial na minha vida, e sem você ela não teria graça. Você me dá sorte na vida! A todos os professores da Unibrasil, em especial aos professores da licenciatura Rodrigo Navarro, Carmela Bardin e Thiago Pimenta que me apresentaram uma outra perspectiva de Educação Física, me tornando um professor preocupado com os alunos, e capaz de compreender a importância dessa disciplina na formação humana e na construção de um mundo melhor. Não podendo esquecer também dos professores que contribuíram para minha formação técnica, enquanto bacharel em Educação Física, Sergio Andrade, Ricardo Souza e André Brauer, seus ensinamentos foram essenciais, e suas aulas ficarão eternizadas em minha memória. Muito obrigado. As coordenadoras do curso de Educação Física, Tais Pastre e Camile Silva, que não hesitaram de me ajudar nos momentos que tive dificuldades com as grades horárias e pelo apoio que me deram na continuação da graduação em bacharel. A professora Ana Leticia Ferreira que me orientou na execução desse trabalho, sempre com um olhar exigente, com ricas contribuições na qualificação do mesmo. Agradeço por todas as conversas, que enriqueceram meu olhar sociológico. Sem você nada disso seria possível. Mais uma vez, obrigado! Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons; Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons; Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda; Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis. Bertold Brecht O USO POLÍTICO DOS JOGOS ESCOLARES DO PARANÁ ENTRE 2008 A 2013 Acadêmico: Felipe Pereira da Luz Orientador: Prof. Dra. Ana Leticia Padeski Ferreira Co-orientador: Prof. Dr. Marcelo Pastre RESUMO Ao analisar o esporte como um fenômeno social podemos compreendê-lo por meio das três dimensões sociais: o esporte educação, esporte participação e esporte de rendimento (Tubino, 2001). Embora, pareça ser algo aceito pela comunidade acadêmica, essas diferentes dimensões sociais muitas vezes são confundidas entre as pessoas, no sentido de reduzir o fenômeno esportivo apenas aos moldes de esporte de alto rendimento, o que pode acontecer devido a hegemonia dessa dimensão em relação as outras, principalmente através da espetacularização da mídia. O presente trabalho é resultado de uma pesquisa descritiva realizada através de análise documental, que procurou analisar por meio dos discursos políticos presentes nos documentos oficiais do jogos escolares do estado do paraná há presença do uso desse evento como ferramenta política entre os anos de 2008 a 2013. O que ficou evidenciado em todas as análises dos discursos realizados ao longo dos anos de 2008 a 2013 é que todas as ações estiveram concentradas em promover a disseminação da prática esportiva como uma ferramenta salvadora das mazelas sociais. Além disso, foi possível perceber a má utilização da abrangência do esporte escolar, reafirmando as características do esporte de alto rendimento, assim como a responsabilização da instituição escolar na descoberta de novos talentos esportivos para alavancar o estado do Paraná no cenário esportivo nacional, tornando-se também reconhecido mundialmente, como a principal competição escolar da América Latina. A compreensão da pratica esportiva escolar deve assumir um lugar de destaque nas discussões de políticas públicas, e os professores de educação física que estão alocados em escolas devem compreender as dimensões sociais do esporte, afim de oferecer atividades que estejam compatíveis com os objetivos educacionais, minimizando dessa maneira, o equívoco causado pela apropriação do esporte performance no ambiente escolar. PALAVRA-CHAVE: Jogos Escolares do Paraná. Políticas Públicas, Dimensões sociais do esporte O USO POLÍTICO DOS JOGOS ESCOLARES DO PARANÁ ENTRE 2008 A 2013 Acadêmico: Felipe Pereira da Luz Orientador: Prof. Dra. Ana Leticia Padeski Ferreira Co-orientador: Prof. Dr. Marcelo Pastre ABSTRACT: By analyzing the sport as a social phenomenon it is indispensable that we do so to understand it through the three social dimensions: the sport education, sport participation and sport performance (Tubino, 2001). Although, it seems to be something extremely accepted by the academic community, these different social dimensions are often confused among people, in order to reduce the phenomenon of sports just to mold high performance sport,which can happen due to the hegemony of this dimension in comparison to the others, mainly by the media spectacularization. This study is the result of a descriptive survey conducted by documentary analysis, making it by analyzing political discourse of Paraná’s school games’ official documents looking at the existence of this event as a political tool between the years 2008-2013. There were evidences in all analyzes of the discourses made along the years from 2008 to 2013 that all actions were focused on promoting the spread of sports practicing as a saving tool of the social illness. Furthermore, it was possible to realize the extent of misuse of school sport, reasserting the high performance sport’s characteristics, as well as the school’s accountability in finding new athletic talents to leverage the state of Paraná in the national sports scene, making it also recognized worldwide as the leading school competition in Latin America. The understanding of the school sports practicing must take a prominent place in discussions of public policy, and physical education teachers that are allocated in schools must understand the sport’s social dimensions in order to provide activities that are consistent with the educational objectives, minimizing this way, the misunderstanding caused by the appropriation of the sport performance at school. KEYS WORDS: Paraná’s School Games. Public Policy, Social dimensions of Sport SUMÁRIO 1) INTRODUÇÃO......................................................................................... 09 1.1) Introdução............................................................................................ 09 1.2) Problematização.................................................................................. 13 1.3) Hipoteses............................................................................................ 17 1.4) Justificativa.......................................................................................... 17 1.5) Objetivo Geral...................................................................................... 20 1.6) Objetivos Especificos........................................................................... 20 2) REFERENCIAL TEÓRICO....................................................................... 21 2.1) Esporte: Procurando uma definição........................................................ 21 2.1.1) Dimensões Sociais do Esporte............................................................. 23 2.1.2) Esporte Educação................................................................................ 27 2.1.3) Esporte Participação............................................................................. 30 2.1.4) Esporte Performance............................................................................ 31 2.2) Jogos entre Estudantes do Estado do Paraná......................................... 33 2.2.1) Aspectos Históricos.............................................................................. 33 2.2.2) Aspectos Administrativos...................................................................... 36 2.2.3) Regulamentos...................................................................................... 39 3) ANALISES DOS DISCURSOS................................................................. 42 4) METODOLOGIA....................................................................................... 50 5) CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 54 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 56 9 1) INTRODUÇÃO O esporte ao longo do tempo teve uma contribuição na formação da cultura corporal historicamente produzida pelo homem. O esporte é um fenômeno que sempre chamou atenção da humanidade, apresentando-se de diferentes maneiras e, em diversos momentos históricos foi se consolidando na sociedade permeado por interesses da mesma. O esporte moderno surgiu na Inglaterra em fins do século XVIII e início do século XIX, como resultado de um processo de renovação dos jogos populares, numa sociedade que passava por importantes transformações em plena revolução industrial. Nesse sentido, todas as transformações que ocorriam na sociedade, influenciavam diretamente nas práticas de atividades esportivas, uma vez que começou a ocorrer um processo de modernização dos jogos populares, que nada mais era que uma espécie de “civilização” dessas práticas, que ocorreram no interior das escolas aristocráticas para recriar e atender os interesses da sociedade burguesa, que pretendia estabelecer uma nova identidade aos seus membros. É possível dizer que o esporte estava fortemente atrelado aos interesses do Estado, uma vez que sua relação estava vinculada ao contexto histórico, político e econômico. A exemplo da utilização política do esporte segundo SIGOLI e DE ROSE JUNIOR (2004.p.112) é a ideia de nação poderosa constituída por cidadãos fortes e saudáveis fez com que os estados totalitários utilizassem o esporte como veículo publicitário de seus regimes políticos, fato ocorrido nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, que foram usados como propaganda do Estado nazista alemão, servindo para unir os alemães em torno do sentimento ultranacionalista do nazismo, divulgando também a suposta superioridade da raça Ariana, ideais estes de Adolf Hitler. Segundo o mesmo autor, a facilidade da utilização política pelo esporte ocorre porque esse fenômeno é altamente instrumentalizado politicamente pelo poder institucionalizado, ou seja, pelo conjunto de regras de fácil compreensão como instrumento de comunicação de massa portador de uma linguagem simples, o Estado por meio dessa linguagem utiliza o elemento de tensão emocional do Esporte para veicular seus objetivos e ideologias. 10 Podemos perceber a centralidade do Estado no processo de organização do esporte em diferentes momentos históricos, em especial, em sua gênese, quando utilizaram das escolas aristocráticas para disseminação das práticas esportivas, o que parece ter sido algo essencial para seu aprimoramento, pautado nos ideias da sociedade burguesa. No entanto, nossa indagação se relaciona com as razões que pretendeu e/ou pretende o Estado propor programas de esporte na escola e, procurando responder a esta problemática, Vago e Linhales1 (2003) realizaram um estudo no sentido de analisar de que maneira a instituição esporte adentra nas escolas, apontando ambas como papel central na organização da sociedade contemporânea, pois tais instituições estão presentes na infância e juventude da maioria das pessoas, além de serem extremamente valorizadas como parte do processo civilizador2 e estarem relacionadas aos direitos sociais. (p.01) [...] parece razoável especular que o processo de expansão experimentado pelo esporte só foi possível pelo fato dos sujeitos e grupos nele envolvidos terem assumido a "forma escolar" como uma estratégia de socialização tanto na escola como fora dela. (VAGO e LINHALES apud Guy Vicent, Bernard Lahire & Daniel Thin (2001) Nesse sentido, as políticas apresentadas pelo Estado no Brasil, foi desencadeando uma cultura esportiva na escola, tendo como principal origem a Campanha Nacional de Esclarecimento Desportivo, a partir da década de 70, promovida pelo departamento de Educação Física e Desporto do Ministério da Educação, produzindo um ideário da justiça social pautado no “caráter democrático inerente à ascensão do talento esportivo que encontra condições de revelar-se..”, como destacado na Política Nacionalde Educação Física e Desporto (VAGO e LINHALES apud Brasil, DED-MEC, 1975, p. 27) que de certa forma, vêm se disseminado até os dias atuais. 1 VAGO, Tarciso Mauro. LINHALES, Meily Assbú. Esporte Escolar: O direito como Fundamento de Políticas Públicas.publicado no CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 13., 2003, Caxambu. 25 anos de história: o percurso do CBCE na educação física brasileira. Anais... Caxambu: Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, 2003. 2 ELIAS, Norbert. O processo civilizador. 2 volumes. Ed. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1992. 11 Vago e Linhales (2003) analisaram como segundo período, o governo de Fernando Henrique Cardoso que, também pautado nos interesses do esporte escolar, constituiu Câmeras Setoriais elitizadas e tratou esse direito social com políticas de assistência combinados com apelos voluntaristas. Nestes termos, e com o aval do Estado, o setor esportivo reforçou o trânsito de interesses particularistas do mercado e de corporações profissionais, especialmente da Educação Física. Nesse projeto as escolas recebiam diversos materiais, remuneravam estagiários e faziam investimentos em infraestrutura e, em troca as escolas deveriam estabelecer um núcleo esportivo. Vulnerável em sua execução por ausência de dotação orçamentária, dentre outros problemas, este Programa vinculou de forma direta e indireta o esporte escolar ao esporte de alto rendimento, merecendo uma análise cuidadosa de suas consequências no sistema de ensino. (VAGO e LINHALES, 2003. p. 05) Outros projetos esportivos foram criados e adentraram o ambiente escolar, como foi o caso do Programa Esporte Brasil, cujo objetivo era a detecção de talentos esportivos, que escolhe a escola e, utilizava como justificativa social a saúde dos estudantes. Ao analisar tais políticas voltadas ao esporte escolar, nos deparamos segundo Vago e Linhales (2003) com dois grandes eixos argumentativos que tem justificado socialmente a formulação de políticas públicas para o esporte escolar no Brasil: o primeiro diz respeito, ao pensamento que a escola é um “celeiro esportivo” e o segundo se justifica na tentativa de tornar o esporte uma “panaceia para os males sociais”, atribuindo-lhe um poder solucionador dos diversos problemas sociais, o que acaba sendo internalizado pelos indivíduos de forma acrítica, surgindo os jargões como esporte é educação, esporte livra das drogas, da violência... (p.07) Nesse sentido, a promoção de eventos competitivos esportivos entre os estudantes começa no Brasil a partir de 1969, com a criação de um evento esportivo que envolveu estudantes de escolas públicas e particulares do território nacional, que em sua primeira edição contou com a participação de 315 atletas escolares- os Jogos Escolares Brasileiros. Esse evento passou por diversas transformações em suas concepções, o que marcou uma série de modificações, classificadas em quatro fases segundo Arantes, 12 Martins e Sarmento (2012)3 sendo a primeira fase, denominada como início entre os anos 1969 e 1984, marcado pelo intercambio social e esportivo, além de possibilitar o surgimento de talentos esportivos; a segunda fase recebeu o nome de esporte educacional ocorrida entre os anos de 1985 a 1989, nesse período importantes transformações ocorreram na estruturação do programa, merecendo destaque a proibição de atletas federados, procurando se desvincular das características do esporte de alto rendimento; a terceira fase do evento começa a passar por uma crise de identidade entre os anos de 1990 a 2004, pela primeira vez o comitê olímpico brasileiro participa da organização, onde a maior preocupação estava relacionada com a descoberta de talentos esportivos; a quarta fase compreendida entre os anos de 2005 a 2010 fica estabelecido que a organização dos jogos será definitivamente responsabilidade do COI juntamente com o ministério do Esporte, e o principal objetivo continua sendo a descoberta de talentos esportivos. A exemplo desse evento, os jogos entre estudantes, começaram a fazer parte dos Jogos Oficiais do Estado Paraná a partir do momento que o Governo de Estado começou a patrociná-lo com maior ênfase a partir da década de 40, e a partir daí, esse evento começa a se tornar uma ferramenta política do governo paranaense. Partindo desse pressuposto, procuraremos através dessa pesquisa identificar no discurso dos políticos presente nos documentos oficiais dos Jogos Escolares do Estado do Paraná quais foram as mudanças que ocorreram na percepção e concepção dos Jogos Escolares entre os anos de 2008 a 2013, procurando identificar nesses discursos como o esporte praticado pelos estudantes paranaenses tem se tornado uma importante ferramenta política e ideológica no Estado do Paraná. 3 Arantes, A.; Martins, F.; Sarmento, P. Jogos Escolares Brasileiros: Reconstrução histórica Motricidade, vol. 8, núm. Supl. 2, 2012, pp. 916-924 Fundação Técnica e Científica do Desporto Vila Real, Portugal 13 1.2) PROBLEMATIZAÇÃO Inusitado diálogo... Os jogos escolares servem para a fraternidade! Para a socialização dos participantes! Para a prática salutar das atividades gimnodesportivas! Para a Educação, enfim... - Seu Diretor, a sua escola participa dos Jogos Escolares? - Claro! Somos uma instituição educacional. - E quais foram os resultados educacionais da participação do seu colégio? - Duas medalhas de ouro, cinco de prata, três terceiros lugares, e o nosso time de basquete tava massacrando o inimigo quando foi desclassificado por um juiz ladrão. -Ah!!! (BRACHT, 2000) O esporte ao longo do tempo teve uma grande contribuição na formação da cultura corporal historicamente produzida pelo homem. Contribuindo com a constituição da identidade e formação da cultura corporal, é possível dizer que o esporte influencia e sofre influências das modificações que ocorrem na sociedade. E hoje em dia, faz-se necessário uma reflexão sobre as questões intrínsecas e extrínsecas relacionadas ao esporte, principalmente no que se diz respeito a esporte de rendimento e esporte educação. O esporte educação vêm atraindo atenção de muitos pesquisadores, afim de diagnosticar a analisar a aplicabilidade de conceitos teóricos em relação a prática, como a exemplo, o professor Valter Bracht4, no seu estudo: “esporte na escola, e esporte de rendimento”, onde o autor demonstra as diferenças entre o esporte educação e o esporte de alto rendimento, orientando os professores de Educação Física da escola a refletir sobre esse conteúdo e sua real aplicabilidade no ambiente escolar. Esporte educação é aquele praticado nos sistemas de ensino e em outras formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e sua formação para o exercício da cidadania e prática do lazer. (BRASIL, decreto nº 2574, de 29 de Abril de 1998.Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 30 Abr. de 1998) 4 BRACHT, Valter. Esporte na Escola e Esporte de Rendimento. Movimento, ano VI. n.12. 2000 14 Contudo, é possível perceber que a realidade encontrada no ambiente escolar, não condiz com o referencial teórico, nem tampouco com a própria constituição, quando se diz respeito a condição que o esporte vem se apresentando no decorrer do tempo nessas instituições. O esporte veiculado pela mídia, se tornou a mais visível referência para a prática do esporte, inclusiveno âmbito escolar, sendo esse o modelo mais popular entre os professores de Educação Física. O esporte foi adotado como parte da Educação Física a partir da década de 60, principalmente na era militarista. Desde então, a Educação Física ficou subordinada ao esporte passando muitas vezes a ser confundida e mesmo entendida como somente uma prática esportiva ou o ensino dos esportes. Há, no entanto, uma diferença essencial entre o esporte rendimento, que é um trabalho no qual o seu resultado é o importante e o esporte educacional em que ele é utilizado como meio para a educação das crianças que deveria ser discutido na escola. (SANTOS, 2008, p.9) A exemplo dessa problemática, citamos os eventos competitivos realizados entre estudantes, onde seus objetivos vão de encontro aos do esporte de alto rendimento. As Olimpíadas escolares também deveriam ser adotadas numa perspectiva educacional, em que se valorizam a aprendizagem de valores e a contribuição na formação dos alunos. Entretanto, é normalmente utilizada para atender ao mercado esportivo, “encontrando” novos talentos, trabalhando com a seletividade e exclusão, ou seja, com fins completamente diversos daqueles adequados a uma instituição educacional. (SANTOS, 2008, p.9) Os jogos escolares do Paraná é o principal evento estudantil do país, com a participação de alunos de escolas públicas e privadas de todo Estado. O grande número de participantes vem ao longo do tempo sendo o principal celeiro de atletas no Brasil, como os medalhistas olímpicos Giba e Emanuel do vôlei. Além disso, vale ressaltar que os Jogos Escolares do Paraná, é patrocinado pelo Governo com maior ênfase a partir da década de 40, e utilizado como uma importante ferramenta política de alta representativa no cenário político nacional. Além do patrocínio oficial, diversas autoridades participavam das aberturas solenes e demais cerimônias de premiação. Cabe ainda o registro de que os troféus entregues aos 15 vencedores das competições, a partir de 1946, foram designados com nomes de políticos e representantes civis e militares. (MEZZADRI, 2000, p.06) Essa representatividade comprova o caráter altamente político implícito no discurso do plano de ação governamental, utilizando do esporte para adquirir status diante do país. Dessa forma, o evento realizado anualmente passa diante de diferentes interesses entre os agentes sociais inseridos nesse contexto, ressaltamos a ideia do esporte como um fenômeno polissêmico5. Como nos aponta Pierre Bourdieu (1994), todas as realizações pressupõem necessariamente uma gama de interesses em jogo, que podem ser os mais diversos (MEZZADRI, 2000 p.06) Ainda com relação ao financiamento dos Jogos Escolares pelo governo do Estado do Paraná, através de recursos da Secretária de Educação utilizamos os preceitos teóricos apresentados por Castellani Filho (1985) [...] desde o Estado Novo, o esporte escolar e comunitário justificam-se, na estrutura do sistema esportivo brasileiro, como fomentadores do esporte de alto rendimento. Desta forma, alocar recursos para o esporte educação e esporte participação – como determina a Constituição Brasileira – significa, em última instância, destinar recursos públicos para o esporte performance (CASTELLANI, 2001, p. 588, 1985). Dentro dessa perspectiva, compreendemos que a efetivação e realização desse evento ao longo dos anos esteve sempre relacionada com interesses e intenções do Governo do Estado, que muitas vezes perpassavam os objetivos propostos pelos regulamentos do evento, e que nesse sentido, devem ser analisados através dos discursos apresentados pelos gestores nos documentos oficiais, afim de recolher informações que estejam implícitas. O Esporte e a Educação Física tiveram em diversos momentos da história uma função ligada aos interesses políticos e estratégicos das instituições sociais e dos Estados (SIGOLI, DE ROSE JR,2004, p.112) 5MARCHI JUNIOR, Wanderley. VLASTUIN, Juliana. FERREIRA, Ana Leticia Padeski. Produção acadêmica sobre a sociologia do Esporte no Brasil: um olhar sobre as dissertações e teses. Anais do Seminário Nacional de Sociologia e Política. Universidade Federal do Paraná. Curitiba:2011. Entendemos esporte como um fenômeno sociocultural contemporâneo e polissêmico, ampliado em suas perspectivas e possibilidades, passível de análises em abordagens históricas, sociológicas, antropológicas, políticas, filosóficas, econômicas, etnográficas entre outras. Sendo possível, dessa maneira, ser compreendido através de diferentes abordagens. 16 Partindo desse pressuposto, apresentamos como problema de pesquisa analisar quais são as percepções e concepções referentes aos Jogos Escolares ao longo tempo por meio da análise de documentos oficiais, em especial, no discurso político apresentado no mesmo. De acordo com o dicionário Aurélio, percepção vem do latim perceptione e significa ato ou efeito de perceber. Perceber, vem do latim percipere, que quer dizer, apoderar-se de, adquirir conhecimento de, por meio dos sentidos; formar ideia de; abranger com a inteligência; entender, compreender; conhecer, distinguir, notar; ouvir, ver ao longe; divisar, enxergar Para tal efeito, não é suficiente apenas analisar os documentos oficiais, mas sim procurar estabelecer distanciamentos e proximidades entre os interesses que estão implícitos nesses discursos com objetivo de proporcionar uma leitura mais clara e objetiva do objeto em questão. O emprego da palavra “concepção” está relacionada a priori na necessidade de compreender como se estabelece o evento na sua origem, procurando verificar quais as influências que o mesmo recebe no aspecto político e social ao longo dos anos. Nossa pesquisa não se resume apenas na crítica “batida” que eventos escolares estão seguindo os mesmos modelos do esporte de alto rendimento, mas sim compreender por meio das análises como os jogos escolares são desenvolvidas, partindo dos interesses e necessidades de quem? Assim como, compreender os interesses que permeiam as relações de poder público e a escola, no sentido de participar ativamente na construção de políticas públicas que realmente estejam comprometidas com o desenvolvimento do esporte na escola de uma forma democrática e critica. 17 1.3) HIPÓTESES - O Governo do Estado do Paraná utiliza os Jogos Escolares como ferramenta política, em outras palavras, se existe intencionalidade com relação ao uso político dos Jogos Escolares do Estado do Paraná por parte do Governo de Estado; - Não há intencionalidade política com relação ao uso político dos Jogos Escolares do Estado do Paraná por parte do Governo do Estado; 1.4) JUSTIFICATIVA Os jogos escolares do Estado do Paraná acompanharam a formação de muitos jovens e adolescentes. Sempre ficávamos ansiosos para a participação nesse evento que ocorria anualmente. A expectativa permeava durante toda a preparação para jogos, no entanto, não era somente pela busca de vitórias, mas sim, para encontrar amigos de outras cidades que fazíamos a cada edição. Os jogos escolares acabavam assumindo características muito peculiares, o que o diferenciava dos Jogos da Juventude, outro evento que também fazia e faz parte dos Jogos oficiais do Estado, porque esse evento era dividido por fases regionais, o que o deixava mais longo, e quanto mais competíssemos, melhor... Podemos dizer que no ano de 2005 o evento assumia duas vertentes, a categoria B, de 11 a 14 anos, a competição existia em segundo plano, e a prioridade eram as relações que se estabeleciampor meio do evento, entretanto, na categoria A (15 a 17 anos) as prioridades iam se modificando, já de encontro para à valorização da competição, o desejo de ser o melhor do Estado, e representa-lo a nível nacional. Nesse sentido, os jogos iam se tornando um verdadeiro campo de batalha, e valia tudo pela vitória, a preparação começava a se tornar mais intensa, preparação física e tática exaustiva, treinamento diário e, inclusive, muitas vezes duas sessões por dia. Aquilo que era uma grande diversão na categoria B, começava a se tornar algo extremamente sério e responsável, profissional. Agradeço por fazer parte de uma equipe que obtinha uma infraestrutura adequada, com ginásio coberto e confortável, dispúnhamos de material sofisticado, tínhamos uma equipe técnica formada por 18 professores de Educação Física, psicólogos e fisioterapeutas, ou seja, éramos quase uma equipe de alto rendimento. Porém, não eram todos que tinham a mesma “sorte” de estar numa equipe bem estruturada, tinham algumas equipes que era perceptível as más condições de treinamento, e ficava explicito tanto visualmente, através do uniforme de jogo, aquele típico patrocinado por vereador... quanto tecnicamente, era perceptível que aqueles sujeitos não eram submetidos ao mesmo treinamento que nós obtínhamos, e isso se evidenciava através dos resultados, 25x02, 25X04, “fora o baile...” na linguagem popular. Aquele evento era capaz de medir competências e demonstrar hegemonias, tanto aos alunos atletas, quanto seus professores técnicos, o que trazia muito prestigio para a instituição escolar que representávamos, o que de educacional somente o nome levávamos, porque todo o treinamento ocorria no ambiente de formação esportiva formal e, não competia ao nosso professor de Educação Física da escola participar, nem tampouco, aos outros alunos que quisessem compartilhar desse evento, era tudo fechado, esquematizado... A classificação aos antigos Jogos Escolares Brasileiros, era para poucos, algumas escolas tinham um poder maior sobre as outras, porque tinham maiores condições financeiras de “contratar” os melhores atletas do estado, formando verdadeiras seleções, o que no fundo ia de encontro aos propósitos do Governo do Estado, para melhor representa-lo nacionalmente. O tempo de escola passou, e fui buscar minha formação em Educação Física, onde obtive contato com o conhecimento sistematicamente elaborado, e através de reflexões, adquiri um conceito sobre esporte muito diferente daquele que tinha quando estava no ensino médio. Comecei a ter um olhar diferente sobre os Jogos Escolares, a enxergar o caráter político presente no evento, e me indagar sobre o motivo que o leva a estar ligado a instituição escola. Esse evento foi marcado por continuidades e rupturas, e ainda referente a época de atleta, me recordo quando os Jogos Escolares foram cancelados, pelo governo de Jaime Lerner (1998-2002), na época todos nós ficamos irritados, mas ainda não tínhamos competência para compreender os motivos que levaram aquela decisão, no entanto, agora que passei pela formação em Educação Física, percebo que a intenção daquele governo estava realmente relacionado a aspectos 19 econômicos, tendo como justificativa já existir um evento esportivo que atendesse aquele mesmo público, os Jogos da Juventude. No entanto, em 2003, os jogos foram retomados em grande estilo, sua estrutura voltava a ser como um grande evento profissional, inclusive nas aberturas com shows de bandas famosas e pirotecnia, presença de autoridades, numa grande festa novamente com a chancela do Governo do Estado, sob uma nova denominação Jogos Colegiais do Estado do Paraná - JOCOP´s. Desde então, os jogos entre estudantes do Estado do Paraná estão consolidados no plano político, e utilizados como uma ferramenta ideológica, que expressa intrinsecamente os interesses do Estado. Pretendemos por meio dessa pesquisa, analisar através dos discursos políticos presentes nos documentos oficiais do Estado, quais são as concepções e percepções dos gestores referente aos Jogos, buscando elementos que permitam identificar o uso político do evento. A análise por meio do viés sociológico, permite que identifiquemos características que encontram-se implícitas nas relações de poder que se estabelecem entre o evento, a política e a sociedade. Nesse sentido, buscamos compreender de que maneira que as políticas públicas voltadas ao esporte escolar no Estado do Paraná se estabelecem, procurando identificar de forma crítica seus reais interesses e necessidades. 20 1.5) OBJETIVO GERAL -Analisar por meio dos discursos políticos presentes nos documentos oficiais dos Jogos Escolares do Estado do Paraná há presença do uso do esporte como ferramenta política. 1.6) OBJETIVOS ESPECIFICOS - Analisar os documentos oficiais dos Jogos Escolares do Estado do Paraná. - Identificar os fatores implícitos que levam a criação de eventos no ambiente escolar - Compreender de que maneira o Estado do Paraná utilizou Jogos Escolares como ferramenta política e ideológica entre os anos de 2008 a 2013 - Discutir de que forma vêm se desenvolvendo as políticas públicas voltadas aos Jogos Escolares no Estado do Paraná entre os anos de 2008 a 2013 - Detectar como estava o cenário político no Estado do Paraná entre os anos de 2008 a 2013 21 2) REFERENCIAL TEÓRICO 2.1) ESPORTE: PROCURANDO UMA DEFINIÇÃO O esporte é um fenômeno que sempre chamou atenção da humanidade, apresentando-se de diferentes maneiras e, em diversos momentos históricos foi se consolidando na sociedade permeado por interesses da mesma. No entanto, a busca pela definição do conceito esporte vai além da simples sistematização da atividade física, regulada por meio de regras fixas pré estabelecidas, o esporte consegue atingir uma profundidade que merece maior atenção. O esporte está presente em nossa sociedade, recebendo uma importante atribuição a ponto que acabou tornando-se um jargão quase sempre associado a ideia de promoção de saúde ou qualificação pessoal, como por exemplo: Esporte é saúde! O esporte promove a educação! No entanto, devemos analisar com cuidado essas atribuições feitas ao esporte, no sentido de aprofundar a discussão por meio do conhecimento elaborado sistematicamente, nos afastando do senso comum. Segundo GEBARA (2002) o esporte deve ser compreendido como um objeto em constituição, portanto, não é possível compreende-lo baseado em modelo de análises preconcebidos. Nesse sentido, o esporte como um fenômeno em constante movimento, não deve ser analisado apenas por uma ótica, e a partir daí, considerado um fenômeno polissêmico. Entendemos esporte como um fenômeno sociocultural contemporâneo e polissêmico, ampliado em suas perspectivas e possibilidades, passível de análises em abordagens históricas, sociológicas, antropológicas, políticas, filosóficas, econômicas, etnográficas entre outras. Sendo possível, dessa maneira, ser compreendido através de diferentes abordagens. (MARCHI JUNIOR, Wanderley. VLASTUIN, Juliana. FERREIRA, Ana Leticia Padeski. (p. 2011) Para considerar uma conceituação de esporte, segundo Barbanti (2006) devemos analisar três condições: 1- O esporte refere-se a tipos específicos de atividades; 2- Esporte depende das condições sob as quais as atividades acontecem; 3- Esporte depende da orientação subjetiva dos participantes envolvidos na atividade. 22 Algumas definições de esporte pautadas apenas pela atividade específica incluem a noção de que ele é uma atividadefísica, ou seja, que dispende de habilidades motoras e capacidades físicas que são constantemente aprimoradas através do treinamento físico. Porém, através dessa simples definição pautada na atividade meramente física, colocamos como problemática a questão de esportes que não exigem nada ou quase nenhum esforço físico, como o xadrez por exemplo, a partir daí essa delimitação dada ao conceito por meio do simplismo da atividade motora cai por terra, por isso buscar uma definição de esporte apenas pelo tipo especifico de atividade não é suficiente para defini-lo. Já com relação a segunda condição apresentada por Barbanti (2006), temos a questão que para que a atividade seja considerada esporte devemos analisar em quais condições as atividades acontecem. Segundo o mesmo autor, a participação de atividades pode acontecer em situações formais e organizadas, e informais e desestruturadas. Em outras palavras, atividades praticadas sob a situação formal, é aquela que exige um cumprimento de regras pré estabelecidas, a presença de alguma entidade regulamentadora, como por exemplo árbitros, num ambiente competitivo. Nesse sentido, o esporte é caracterizado por alguma forma de competição institucionalizada. A competição passa a ser um instrumento ou processo de avaliação ou mensuração do sucesso, diante uma série de regras e padrões aceitos previamente pelos sujeitos participantes. Os elementos da institucionalização geralmente incluem a questão da padronização das regras feito ser cumpridas através de instituições oficiais, como a FIFA por exemplo. A valorização de aspectos técnicos e organizacionais por meio do treinamento desportivo, tornando a atividade cada vez mais racionalizada e formalizada, aumentando as chances de ter sucesso nos eventos competitivos. [...] a transformação de uma atividade física competitiva em esporte, geralmente envolve a padronização e imposição de regras e o desenvolvimento formal de habilidades. Em outras palavras, a atividade se torna padronizada e regularizada. Em termos sociológicos, ela passa por um processo de institucionalização. (BARBANTI, 2006 p.56) Já com relação a terceira questão relevante para buscar uma definição de esporte, a orientação subjetiva do sujeito envolvido na atividade, diz respeito aos 23 interesses extrínsecos e intrínsecos presentes na inserção em atividades esportivas, como por exemplo, a participação esportiva em busca da representatividade na mídia (fama), a busca de rendimentos financeiros, entre outros. Portanto, o esporte compreendido pelo viés sociológico pode ser definido como uma atividade institucionalizada, cuja participação é motivada pela combinação de interesses intrínsecos e extrínsecos dos indivíduos envolvidos. De acordo com Bourdieu (1983) o termo institucionalização é um conceito sociológico que diz respeito a um conjunto de comportamentos normatizados ou padronizados. Para que uma atividade física possa ser classificada como esporte, ela deve passar por diversos fatores que o caracterizam, que pode acontecer em situações que vão do formal ao informal, do estruturado ao desestruturado O esporte é um fenômeno cultural e social que sofre e influencia a sociedade que cada vez mais se relaciona com a educação, política e economia, fazendo necessário seu estudo para compreender de que maneira podemos usufruir desse fenômeno de forma positiva. 2.1.1) DIMENSÕES SOCIAIS DO ESPORTE Segundo Tubino (2001) após a aceitação da abrangência do conceito de esporte, esse fenômeno passou a oferecer um elenco maior de aspectos socialmente relevantes, o que gerou uma série de estudos sociológicos, acompanhados da valorização do fenômeno pela sociedade através da especulação da mídia em seus diferentes aspectos, e, além disso o crescente número de praticantes do esporte ao redor do mundo, o que levou a especulação e criação de diferentes modalidades esportivas, que em cada ambiente social acaba carregando características culturais e históricas marcantes, e tornou-se um dos mais importantes fenômenos do século XX. Essa valorização do esporte pode ser expressa através dos estudos realizados por meio do viés sociológico onde destaca-se Cotta (1981) que separou o esporte em diferentes segmentos afirmando que ele é a) um meio de socialização; b)favorece pela atividade coletiva, o desenvolvimento da consciência comunitária; c) é uma atividade de prazer, ativa para os praticantes e passiva para os que assistem aos espetáculos esportivos; d) exerce uma função de coesão social, ora favorece a identificação social, ora representando simbolicamente o corpo esportivo da nação; e)desempenha um papel de compensação pelo prazer, contra o excesso de industrialização. Além de 24 Cotta (1981) Tubino classifica como essencial as contribuições realizadas pelo autor Cazorla Prieto (Cazorla, 1979), que fundamenta a relevância social do fenômeno esportivo através da dupla perspectiva esportiva, como fenômeno social universal e como instrumento de equilíbrio social; b)pelo consumismo esportivo, ou seja através do consumo de todos os produtos esportivos, desde da venda do próprio espetáculo através da mídia televisa até o consumo de produtos vinculados aos atletas e grandes equipes, como tênis, bonés, roupas, etc.; c)pelos espetáculos esportivos; d)pelos valores que o esporte leva a sociedade; e) pelo impacto social do associacionismo social; f) pela difusão do esporte através dos meios de comunicação. (TUBINO, 2001, p.17) Partindo das contribuições realizadas por esses autores, é possível perceber que o esporte enquanto fenômeno social, consegue assumir importantes função na sociedade contemporânea, a ponto de estabelecer significados distintos em diferentes momentos e situações, e que, ao mesmo tempo estão inter-relacionadas. Procurando sistematizar a compreensão do fenômeno esportivo Tubino (2001) achou conveniente desenvolver uma justificação da relevância social do esporte através de interpretações e abordagens nos aspectos sociológicos deste fenômeno (TUBINO, 2001, p.17) 1º) O associacionismo no esporte; 2º) o esporte enquanto instituição social; 3º) o envolvimento social do esporte e o aparecimento do Homo Sportivus; 4º) a interdependência do Bem-Estar Social com a relação Estado-Sociedade-Esporte; 5º) o esporte como meio de democratização; 6º) o esporte e o compromisso do homem com a Natureza; 7º) a relevância sociocultural da relação jogo-esporte; 8º) o direito à prática esportiva: fator de novas dimensões sociais para o esporte (TUBINO, 2001, p. 18) Após essa sistematização o autor procurou definir cada um desses elementos, reafirmando a importância de cada um deles na justificação da relevância social do fenômeno esportivo. O associacionismo possui uma imensurável qualificação do ponto de vista sociológico, pois expressa a pluralidade presente no fenômeno esportivo, o que expressa motivações, características e objetivos diferentes. Pereira (1974) explica que a necessidade de associação no esporte pressupõe um esforço no sentido de reunir condições materiais necessárias para que seja apresentado um sentido de democracia interna na organização esportiva (TUBINO, 2001, p. 18) 25 O processo de associacionismo do esporte, traz a ideia de associar valores e ideais implícitos na prática esportiva aos seus praticantes, ou seja, procura através de sua prática realizar uma transferência de valores e ideais implícitos no fenômeno esportivo, como por exemplo, o indivíduo que pratica esporte carrega consigo os valores como honestidade, lealdade, dedicação, entre outros inerentes a essa pratica. O esporte,para ser compreendido como uma instituição social segundo Mc Pherson, Cutis e Loy (1989) citado por Tubino (2001) deve ser organizado socialmente, por meio dos agentes sociais, promovendo identificações e resgate de valores sociais e, ao mesmo tempo, ao constituir-se num problema social e num problema humano, devendo promover valores. Nesse sentido, o esporte inserido na sociedade confronta-se com os mesmos problemas que a sociedade enfrenta e, suas soluções pressupõe a resolução coletiva. Prosseguindo com a sistematização realizada por Tubino (2001) o esporte como um dos principais fenômenos do século XX é consequência da grande participação dos indivíduos nesse fenômeno, o que levou a origem da criação do termo Homo Sportivus, seja como usuário ativo, aquele que propriamente usufrui do esporte enquanto pratica real, os jogadores, que podem ainda ser divididas de acordo com o objetivo pessoal implicado na pratica esportiva como de aprendizagem (educação), de treino, de competição (performance/rendimento), de prática regular, de recreio (participação) e de tantas outras identificadas na abrangência das dimensões sociais do esporte; e os usuários passivos, os meros expectadores e admiradores do espetáculo esportivo. Contudo, além dessas duas categorias de usuários esportivos o autor cita outro tipo: os que têm uma relação de trabalho com o esporte, como os treinadores, administradores, atletas profissionais, jornalistas, entre outros. (TUBINO, 2001, p.20) O autor segue as explicações referentes a justificação da relevância social do esporte, comentando sobre a relação estabelecida entre esporte e o Estado, no sentido de tornar-se ancora para a criação de políticas públicas que assegurem o esporte como direito social, garantindo o bem estar e qualidade de vida dos cidadãos. [...] a Conferencia Internacional de Ministros e Altos Funcionários responsáveis pela Educação Física e Desportos, promovida pela UNESCO, em 1976 (UNESCO), ao reconhecer a relevância social da cultura física e do esporte como fundamentos da educação permanente dos povos, recomendou que os Estados se responsabilizem pelas 26 estratégias político-esportivas relacionadas com a população em geral. [...] O papel do Estado no fomento do esporte, como meio de bem estar social é aceito em restrições, não porque esteja, de um modo crescente, sendo inserido na constituição dos países, mas porque os Estados parecem mais sensíveis nas suas ações políticas, refletindo as inevitáveis diversidades internas nações. Na verdade, é o Estado que possui capacidade institucional e política de tratar de forma interdisciplinar a imensa variedade de problemas sociais existentes nas suas delimitações de responsabilidade pública. (TUBINO, 2001, p. 22) O esporte como direito social assegurado através da constituição, traz ao Estado a responsabilidade de garantir aos cidadãos a prática esportiva, no entanto, o que se percebe que muitas vezes os programas criados pelo Estado, não obtém sucesso devido a conflitos nas realidades que são inseridos. No caso especifico do esporte, constata-se que muitos programas do esporte popular, ligados a ações governamentais, tem fracassado, devido as indisposições causadas pelas contradições internas dos seus conteúdos em relação as populações ou grupos a que são direcionados. (TUBINO, 2001, p. 23) Esse insucesso nas políticas públicas relacionadas ao esporte, diz respeito também a incoerência de ordem teórica com relação as dimensões do esporte, como por exemplo, a promoção do esporte participação nas bases teóricas dos programas governamentais, no entanto, na realidade prática estimula os preceitos do esporte de rendimento, tais como a seletividade, a exclusão e a busca de títulos, o que ocasiona numa incoerência da prática em relação a teoria. O esporte como meio de democratização vai de encontro a obrigatoriedade do Estado de fomentar o esporte como direito social, pois o termo democratização quer dizer assegurar a prática esportiva numa condição de igualdade de acesso a todas as pessoas, independente de raça, credo ou classe social. E, para garantir esse acesso é preciso que o Estado pense em iniciativas que atendam todos os interesses da população, principalmente através do esporte participação. Nesta perspectiva, o reconhecimento do esporte como um direito de todos foi um passo importantíssimo para a percepção das possibilidades do fenômeno esportivo como meio de democratização. É possível afirmar que as discussões sobre o uso do esporte como meio de democratização iniciaram-se quando ele foi consolidado com um direito de cada pessoa, 27 pela UNESCO, na sua celebre carta Internacional de Educação Física e Esporte, de 1978. (TUBINO, 2001, p. 26) Ainda sobre a democratização do esporte, encontramos um problema a ser superado relacionado aos custos encontrados em algumas modalidades esportivas, que não chegam na população menos favorecidas, como o caso do tênis, do squash, do paddle, hipismo ou golfe. Nesse sentido, as ações governamentais, pautados os aspectos de democratização do esporte, devem procurar levar essas modalidades a todos os cidadãos e, isso tem se observado acontecer, principalmente através das aulas de Educação Física no ambiente escolar. Segundo Tubino (2001) o direito a prática esportiva e a valorização do esporte na sociedade, fez crescer a necessidade de procurar novos conhecimentos e caminhos, de modo que o esporte agora mais ampliado e abrangente no seu conceito, pudesse atender as necessidades das três dimensões sociais: esporte educação, esporte participação e esporte performance. 2.1.2) ESPORTE EDUCAÇÃO Ao analisar o esporte como um fenômeno social podemos compreendê-lo de modo que levara compreende-lo por meio das três dimensões sociais: o esporte educação, esporte participação e esporte de rendimento. Embora, pareça ser algo aceito pela comunidade acadêmica, essas diferentes dimensões sociais muitas vezes são confundidas entre as pessoas, no sentido de reduzir o fenômeno esportivo apenas aos moldes de esporte de alto rendimento, o que pode acontecer devido a hegemonia dessa dimensão em relação as outras, principalmente através da espetacularização da mídia. Esse equívoco histórico e cultural no entendimento das dimensões sociais do esporte faz crescer a incoerência teórica em relação a prática do fenômeno esportivo no ambiente escolar por exemplo. E nesta, perspectiva equivocada, as competições escolares, que deveriam ter um sentido educativo, acabam reproduzindo em todas as suas características os princípios do esporte de rendimento. Esse mesmo equívoco, também está relacionado aos problemas enfrentados pelos Estados na democratização do Esporte comentado no tópico anterior. Para Teotonio Lima (1987) citado por Tubino (2001) uma orientação esportiva educativa terá que estar vinculada obrigatoriamente a três áreas de atuação 28 pedagógica: a de integração social, a de desenvolvimento psicomotor e das atividades físicas educativas. Na área de integração social, deverá ser assegurada uma participação autentica, oferecendo aos educandos as oportunidades de decisões nas próprias organizações das atividades, acrescido de uma possibilidade crescente de intervenção nas atividades extraescolares, visando chegar esta atuação na própria comunidade em que se situa o ambiente escolar. (TUBINO, 2001, p.35) Neste sentido, as ações educativas devem estar pautadas nas necessidades e interesses dos alunos, com o objetivo de fornecer subsídios para que a pratica esportiva seja incorporada em outros ambientes fora da escola. Partindo dessepressuposto, o conhecimento prévio sobre o esporte deve ser valorizado, e através das necessidades dos indivíduos envolvidos possa acontecer mudanças significativas no entendimento do esporte além dos padrões estabelecidos pelo esporte de alto rendimento. Na área de desenvolvimento psicomotor, deverão ser oferecidas as oportunidades de participações que atendam principalmente as necessidades de movimento, como também situações de juízo crítico, auto avaliação, tudo isto, livre de descriminações de qualquer tipo. (TUBINO, 2001, p.35) A pratica esportiva baseada no desenvolvimento psicomotor deve promover aos educandos possibilidades de resolução de problemas tanto individuais quanto coletivos, de ordem física e cognitiva. Instrumentalizar os alunos no sentido de desenvolver habilidades e competências físicas através do esporte, sem a necessidade da valorização da técnica perfeita, mas sim, da realização do movimento pelo movimento, e através dele a aquisição ou aprimoramento de competências físicas. E situações de jogo, que levam a tomada de decisões em respeito à coletividade. Nessa área de conhecimento o professor, deve ficar atentos a situações que ocorrem durante o jogo, e tornar-se mediador de conflitos que possam ocorrer, oferecendo ferramentas contundentes para a resolução dos problemas apresentados. Na área de atividades físicas educativas, a orientação deve direcionar-se para a concretização das aptidões em capacidades e na aquisição de níveis superiores nestas capacidades. (TUBINO, 2001, p.36) A ação da atividade física educativa, deve ser realizada no decorrer das práticas esportivas com o objetivo de promover a melhoria das capacidades físicas 29 relacionadas a saúde6 dos educandos, diferentemente do trabalho físico realizado no esporte de alto rendimento que condizem com o treinamento das capacidades físicas relacionadas a performance. A pratica esportiva no ambiente escolar, costuma ser justificada pela instrumentalização como a formação da cidadania. O esporte vem como um instrumento da educação, para formar pessoas que sejam capazes de compreender sua função na sociedade e, o esporte nesse sentido, consegue realizar essa tarefa por meio do jogo. Segundo a recomendação nº 01/89 (Brasil, 1989), a conceituação produzida pela professora Vera Lucia Menezes Costa, passou a considerar o desporto educacional dentro das responsabilidades do Estado, no sentido de democratizar o esporte, e enfatizar as diretrizes educacionais presentes nesse fenômeno no sentido de formar cidadãos críticos e participativos entendedores de sua função na sociedade. O desporto educacional, responsabilidade pública assegurada pelo Estado, dentro ou fora da Escola, tem como finalidade democratizar e gerar cultura através de modalidades motrizes de expressão de personalidade do indivíduo em ação, desenvolvendo este indivíduo numa estrutura de relações sociais reciprocas e com a Natureza, a sua formação corporal e as próprias potencialidades, preparando-o para o lazer e o exercício crítico da cidadania, evitando a seletividade, a segregação social e a hipercompetitividade, com vistas a uma sociedade livremente organizada, cooperativa e solidária. (TUBINO, 2001, p.38) Devido a inúmeras contribuições que o esporte educação oferece aos indivíduos no sentido de contribuir para a formação da cidadania, faz-se necessário uma apreciação mais profunda relacionada aos seus preceitos, uma vez que, há uma necessidade de reformulação da estruturação de eventos que envolvam estudantes, para que esses tornem-se mais coerentes com os objetivos apresentados pelo esporte educacional, distinguindo-o das outras dimensões sociais. 6 Segundo o ACSM (1996) os componentes que englobam a aptidão física relacionada à saúde compreendem os fatores motores (flexibilidade e força/resistência muscular localizada), funcionais (aptidão cardiorrespiratória), morfológicos (análise da composição corporal), fisiológicos e comportamentais. 30 2.1.3) ESPORTE PARTICIPAÇÃO Esta dimensão social do esporte está relacionada com os preceitos de lazer, onde a participação deve ser livre de preocupações externas e, que acima de tudo deva promover o bem estar social e o prazer lúdico de todos os participantes. De acordo com a constituição o esporte participação ou popular tem relações intimas com o lazer e o tempo livre (Brasil, 1985). De acordo com Pinho (2007) apud Sobral (2004, p.10), A origem etimológica do termo lazer está no latim licere, significando “ser permitido” ou “ser lícito. ” A palavra tem os seus correspondentes no francês loisir e no inglês leisure e, em todos os casos, evoca a noção de tempo livre – isto é, livre das obrigações sérias do trabalho ou das ocupações decorrentes de um certo estatuto social. É possível perceber a associação de palavras chaves a conceituação de lazer que geralmente está associado a tempo livre, desobrigação. Essa observação traz à tona ao espaço e tempo que o esporte participação acontece, em outras palavras, o esporte participação deve ocorrer num espaço assistemático realizado num tempo livre, buscando a liberação de tensões e o bem estar. Nesse sentido, assim como as práticas de lazer, o esporte participação deve ter fim em si mesmo, sem a necessidade a nenhum fim lucrativo, utilitário, ideológico como os deveres profissionais, domésticos ou políticos por exemplo. A pratica do esporte participação pode então, ter inúmeros objetivos dependendo de cada indivíduo, mas segundo Camargo (1992) até mesmo as atividades de lazer sofrem influencias de determinantes sociais, culturais, sociais, políticos e econômicos. Porém, no lazer há uma maior liberdade de escolhas. Baseado nisso, embora as práticas de esporte sejam influenciadas por outras esferas da vida social, ela ainda permita uma maior flexibilidade, no sentido de garantir o bem estar de todos os participantes, o que não ocorre no esporte de alto rendimento. O esporte participação tem como proposito garantir a descontração, a diversão, o desenvolvimento pessoal e as relações entre as pessoas (TUBINO, 2001, p.38) O lazer relacionado a ideia de emancipação e liberdade, inicia-se no esporte participação pela própria participação na atividade, que ocorre de forma voluntária. O indivíduo participa de atividades esportivas por livre e espontânea vontade, através da ocupação de seu tempo livre. 31 Além disso, o esporte participação ou popular é a atividade humana que está intimamente relacionada com caminhos democráticos, pois ele é capaz de fortalecer as inter-relações estabelecidas nos grupos sociais. Os sujeitos inseridos na pratica de esporte participação assumem uma postura ativa e democrática, no sentido de ampliar a compreensão sobre diferentes aspectos da vida social, pois através dos jogos tornam-se protagonistas e organizadores de suas próprias atividades. Como o próprio nome diz o esporte participação apresenta notável relevância social na questão participação, onde não existe restrições técnicas, ou a seletividade como no esporte de alto rendimento. O esporte participação é democrático e permite a todos, independentemente do grau de habilidade técnica ou física, desfrutar das sensações proporcionadas pela pratica do esporte, favorecendo o prazer de todos os participantes. 2.1.5) O ESPORTE PERFORMANCE O esporte performance ou esporte de alto rendimento vêm sendo ao longo dos anos a principal referência na conceituação do esporte na sociedade contemporânea, pois ele exerce importante função nas relações sociais, tornando-se um importantemercado, numa sociedade que valoriza o capital. De certa forma, o esporte de alto rendimento se assemelha muito ao sistema social, econômico e político, que carrega consigo a ideia de vitória sobre os adversários sobre a qualquer custo, a sobrepujança, a aquisição de capital, entre outros. Nesse sistema altamente complexo, burocrático e organizado o esporte de alto rendimento se coloca na sociedade como um mecanismo altamente lucrativo que possui regras pré estabelecidas, e supervisionadas por órgãos competentes. O esporte performance é uma dimensão social que não pode ser compreendida como democrática, uma vez que não permite a participação de todos, pelo contrário, poucas pessoas são merecedoras de estarem entre os talentos esportivos. É a dimensão social do esporte responsável pelo espetáculo esportivo, onde segundo Tubino (2001) exerce diversas influências negativas e positivas. O esporte de alto rendimento é o mais criticado pelos autores contrários ao capitalismo, que consideram o esporte de competição e suas instituições vinculados 32 a negócios financeiros multibilionários, sintomas evidentes de um capitalismo exacerbado. Embora exista inúmeros de aspectos negativos relacionados ao esporte performance, há de se considerar aspectos positivos no sentido de compreende-lo como uma atividade cultural, utilizada como ferramenta de intercâmbios internacionais, nesse sentido, o esporte torna-se uma linguagem universal. Com a criação do mercado esportivo, outro aspecto esportivo diz respeito a promoção de empregos e a especialização de mão de obra qualificada em esporte, favorece o aquecimento do mercado mundial, através da venda e promoção de diferentes produtos de diversos segmentos. Além disso o esporte de competição favorece a indústria de hotelaria e turismo, por meio da aquisição de prestação de serviços aos expectadores de espetáculos esportivos, que não medem esforços em se deslocar para acompanhar seus clubes. Percebe-se que os maiores benefícios ocasionados pelo esporte performance estão intimamente relacionados com o desenvolvimento econômico dos Estados, mas que, em alguns momentos já foram ideário olímpico, utilizado com fins ideológico políticos, e hoje é um rentável negócio. Prosseguindo com os efeitos negativos relacionados ao esporte de alto rendimento Tubino (2001) afirma alguns desses efeitos que merecem atenção: a) a reprodução compulsória do esporte performance na educação; b) as violências do esporte-performance; c) a discriminação da mulher no esporte; d) o uso ideológico político do esporte; e) a preponderância da lógica do mercantilismo no esporte. Para tal estudo daremos nos próximos tópicos atenção especial a reprodução compulsória do esporte performance na educação e o uso ideológico político do esporte, meramente por mais se aproximarem com o problema de pesquisa apresentado. 33 2.2) JOGOS ENTRE ESTUDANTES NO ESTADO DO PARANÁ 2.2.1) ASPECTOS HISTÓRICOS A história dos jogos que envolvem estudantes no Estado do Paraná é um assunto que ainda gera alguns conflitos, pois alguns autores afirmam que esse evento teve início a partir de 1953 (MEZZADRI, 2000) no entanto, outros autores como Chaves Junior (2004) por meio de suas considerações com relação ao aumento da representatividade da Educação Física no Estado do Paraná, propõe que os jogos envolvendo estudantes no Estado ocorreu no ano de 1938, sob a organização do professor José Heredita Navarro que naquela ocasião ministrava aulas no Colégio Estadual do Paraná. No entanto, a pesquisa de Martines (2007) que tratava das políticas públicas voltadas para o esporte escolar no Estado do Paraná aponta como primeira edição dos jogos o ano de 1953, que tem como marco histórico a comemoração do centenário de emancipação política do Estado. Segundo a autora, o evento contou com a participação de 52 instituições de ensino ginasiais e colegiais realizada na cidade de Curitiba. Segundo Mezzadri somente a partir de 1950 que o esporte o governo começa a inserir a prática esportiva, que até então era restringida apenas para clubes. Nesse sentido, o esporte passa a ser um importante instrumento para a formação dos alunos, e começou a se tornar prioridade do Estado. Embora exista uma discordância entre os autores relacionado a origem dos eventos esportivos entre estudantes no Estado do Paraná, podemos verificar que possa acontecer um processo de rupturas e continuidades, onde segundo Martins e Chaves Junior (2008) ocorre no âmbito que os Jogos Colegiais possam ser uma continuidade das Olímpiadas Colegiais proporcionadas pelo Colégio Estadual do Paraná desde a década de 1930 ou ainda que os Jogos Colegiais de 1953 marcam uma ruptura com as competições até então realizadas. Partindo desse pressuposto, os autores colocam em questão a possibilidade do evento realizado em 1953 ser algo novo no Estado do Paraná, ou seja, um evento totalmente reformulado no sentido de não promover a mesma integração entre os estudantes com uma proposta diferente da apresentada pela versão promovida pelo Colégio Estadual do Paraná a partir de 1930. 34 Para responder essas inquietações os autores buscaram na base de dados do centro de documentação do Museu Guido Straube, localizado no Colégio Estadual do Paraná, procurando documentos que pudessem comprovar a origem de eventos esportivos que envolvessem estudantes no Estado. E a partir dessa pesquisa, mostram incialmente a chamada Olimpíadas Colegiais, realizada no ano de 1938, que tornaram-se um importante evento entre as instituições escolares entre a década de 1940 até 1950. E os chamados Jogos Escolares, iniciado a partir de 1953. No entanto, é importante salientar que as fontes oficiais do Estado, ou seja, os dados registrados nos documentos dos órgãos competentes, como a Secretária de Educação registra como a primeira edição dos Jogos Escolares a realizada no ano de 1953. As Olimpíadas Colegiais realizada no ano de 1938, contou com a participação de algumas instituições escolares apenas da Cidade de Curitiba. Os jogos foram organizados pela Associação Ginasiana de Educação Física do Colégio Estadual do Paraná sob a responsabilidade do professor José Heredita Navarro e a colaboração de diversos clubes, para o empréstimo de suas quadras, uma vez que naquela época o Colégio Estadual do Paraná, não contava com a infraestrutura necessária para a realização do evento. O evento foi realizado nos anos seguintes nos mesmos moldes que o primeiro, e foi ganhando adeptos, com destaque a terceira edição que contou com a participação de 7 instituições escolares da cidade de Curitiba e um de Paranaguá, que levou a contingente de 268 participantes, competindo nas modalidades de futebol, voleibol, basquetebol, natação e atletismo. A cada edição realizada o evento ia atingindo maiores dimensões de participantes, e logo, fora se tornar um importante evento estudantil no Estado do Paraná, chamando a atenção de políticos e autoridades em suas solenidades. Embora a competição estivesse atingindo a cada edição um número maior de participantes e mobilizando a atenção dos governantes, nos anos de 1941 até o ano de 1945, as Olimpíadas Colegiais não foram realizadas segundo Martines e Chaves Junior (2008) devido ao decurso da Segunda Guerra Mundial. A partir de 1946 foram retomadas as ações para a retomada das Olimpíadas Colegiais ou Ginasiais como eram chamadas com a participação de diversas escolas da capital e do interior, com participação jovens e adolescentes entre 13 a 21 anos. Com a crescente valorização da prática esportiva no Estado doParaná, o governo passou a concentrar suas ações no sentido de colaborar para a organização e 35 desenvolvimento dos jogos a partir de 1946. Corrobando essa afirmação Martines e Chaves Junior (2008) destacam um trecho do regulamento do evento. Art. 2º - A Olimpíada Colegial e Ginasial, terá o patrocínio oficial do Estado, pela Secretaria de Educação e Cultura, ficando a cidade de Curitiba, Capital do Estado, designada para sede da mesma. Art. 3º - A Olimpíada Colegial e Ginasial será organizada e dirigida pelo Departamento de Educação Física do Colégio Estadual do Paraná e por uma “Comissão Organizadora” composta por professores de educação física e dois alunos devidamente credenciados por cada Estabelecimento de Ensino inscrito para a competição (RELATÓRIO E REGULAMENTO DA OLIMPÍADA COLEGIAL E GINASIAL DE 1946, s/p) Nesse cenário, as relações estabelecidas entre o Governo do Estado e os eventos esportivos entre estudantes parece se fortalecer a cada edição das Olímpiadas por meio do patrocínio e da participação de governantes e autoridades em solenidades de abertura e entrega de premiação. Inclusive, o que reforça o caráter político expresso nas Olimpíadas Colegiais foi o nome dado as premiações sempre relacionadas a nome de políticos e autoridades militares e civis da época. Porém, apesar de toda essa trajetória histórica, os dados do Governo ainda utilizam o evento realizado no ano de 1953 como referência para eventos esportivos que envolvem estudantes Estado do Paraná devido ao forte apelo político propiciado pelas comemorações do centenário de emancipação política. Desse entendimento, emerge a ideia de que as ações efetivadas em 1953 são decorrentes da intenção do governo do Paraná em afirmar uma identidade paranaense, o que incluía também a criação de uma identidade esportiva entre a juventude estudantil. (MARTINES, CHAVES NETO, 2008, p.07) A partir dessas contribuições é possível afirmar que as Olimpíadas Colegiais ou Ginasiais, cuja primeira edição ocorreu no ano de 1938, e os Jogos Colegiais do Paraná, iniciados no ano de 1953, representam a mesma competição esportiva que envolviam estudantes do Estado do Paraná. Contudo, com diferentes intenções e atribuições, que foram sendo reformuladas de acordo com os interesses do Estado de se fortalecer diante do cenário Nacional. 36 A partir de então, os Jogos Colegiais do Paraná tornaram-se um tradicional evento esportivo no cenário nacional, realizado todos os anos, com a participação de escolas públicas e privadas de todo o Estado. Segundo Mezzadri, em 1975, o evento passa novamente por uma reestruturação e passa ser chamado de Jogos Escolares e, posteriormente, Jogos Estudantis, a autora não precisa exatamente a data que ocorreu essa última mudança na nomenclatura do evento. Após décadas de Jogos Colegiais, tivemos cinco ou seis edições com o nome Jogos Escolares (advindos do período militar), e duas com o nome Jogos Estudantis. (MARTINES,2008, p. 735) O crescente aumento no número de participantes no evento fez com que alcançasse nos anos 90 o título de principal evento esportivo realizado entre estudantes no Brasil. Apesar da popularidade, os Jogos Escolares do Paraná não ocorram durante os anos de 1999 a 2002, em virtude do cancelamento ocasionado pelo governo estadual, segundo a justificativa de já pleitear um evento esportivo que envolvesse os adolescentes e jovens do Estado – os Jogos da Juventude. Os Jogos Colegiais do Paraná retornaram ao calendário esportivo paranaense no ano de 2003, sob o governo de Roberto Requião, tendo como política central a integração da comunidade paranaense através da realização do evento. 2.2.2) ASPECTOS ADMINISTRATIVOS A partir de 2003, com o início do mandato do Governador Roberto Requião os jogos foram retomados, e inclusive, utilizado como uma importante ferramenta política para o esporte escolar, rebatizado como Jogos Colegiais do Paraná – JOCOP´s, organizado, dirigido e supervisionado pelo Governo do Estado do Paraná, através da secretária de Estado da Educação e da autarquia Paraná Esporte, além da participação dos Núcleos Regionais de Educação e da coparticipação das prefeituras das cidades que recebiam as fases regionais do evento. Nesse sentido, podemos observar que a organização do evento estava centralizada por meio da destinação de verbas da Secretária de Educação (SEED) e 37 sua autarquia Paraná Esporte, que por sua vez, recebe verbas do Ministério da Educação (MEC). Visto que o Estado ainda não possuía uma secretária especializada para tratar de assuntos relacionados ao esporte. A saber, o mesmo ocorreu a nível nacional, onde durante um período compreendido entre 1937 a 1994, o Ministério da Educação (SEED/MEC) recebeu a responsabilidade pelo setor de Esportes, por meio da Secretária de Desporto do Ministério da Educação sendo o principal financiador de eventos estudantis e esportivos no pais. Posteriormente, em 1995, fora criado o Ministério do Esporte, pelo então presidente da república Fernando Henrique Cardoso, que passou a ter responsabilidade por assuntos inerentes ao esporte no Brasil. Os jogos Escolares do Paraná são financiados por recursos da Secretária de Educação, e a partir da gestão do Governador Carlos Alberto Richa, no ano de 2011 foi criada oficialmente através da lei nº 17.014 de 16 de Dezembro de 2011 a Secretária de Esporte e Turismo, que passou a ser mais uma entidade organizadora do então Jogos Colegiais do Paraná. Buscando a responsabilidade de execução e organização dos Jogos nos anos de 2008 a 2010 apresentamos a frente a Secretária de Educação, representada pelos seus funcionários, precedida da autarquia Paraná Esporte, além da contribuição dos Núcleos Regionais de Educação. Já a partir de 2011, assim como citamos anteriormente, além da Secretária de Educação, aparece como órgão gestor dos Jogos Escolares (JEP´s) a recém criada Secretária Especial de Esporte em 2011, e nos anos seguintes já pela Secretária de Estado do Esporte. Ainda sobre a responsabilidade de cada órgão, buscamos nos documentos oficiais indicativos que pudessem explorar a estruturação administrativa e logística da realização do evento. Para efeitos didáticos, optamos pela criação de um quadro para exemplificar as atribuições de cada órgão público. 38 QUADRO 1 – ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADES DOS JOGOS ESCOLARES DO PARANÁ ORGÃO ATRIBUIÇÕES SEED/PRES Administração, organização e supervisão dos Jogos Comissão Técnica SEED/PRES Coordenação Técnica (PRES); Coordenação de Modalidade; Equipes de Arbitragem (Árbitros) e IES (Acadêmicos). Assessoria de Imprensa; Coordenação Administrativa (PRES); Coordenação Alojamento (NRE); Coordenação de Alimentação (PRES/NRE); Comissão de Ética. Coordenação Técnica Assessoria Técnica; Supervisão de Modalidade; Coordenação de Modalidade; Equipes de Arbitragem e IES (Acadêmicos). Coordenação Administrativa Assessoria de Controle; Assessoria de Resultados; Assessoria de Informática; Coordenação Financeira Administração Financeira geral dos jogos Coordenação de Infraestrutura Esportiva Verificação de locais de competição e alojamento e material esportivo Coordenação de Alojamentos Assessoria de Manutenção (limpeza e segurança); Assessoria de Serviços Gerais (eletricista, encanador Coordenação de Transportes Realização de transporte de atletas e comissão técnica Coordenação de Alimentação Compra de Alimentos Fiscalização de refeitórios Gerenciamento do Cardápio Coordenação de Divulgação Assessoria de
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