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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA LABORATÓRIO DE METALURGIA FÍSICA Av. Osvaldo Aranha, 99- 60 andar - Sala 610 CEP: 90035-190 - Porto Alegre - RS - Brasil Fone: (51) 316 3565 / 316 3667 / 316 3668 FAX: (51) 316 3565 / 316 3988 e-mail: telmo@jupiter.demet.ufrgs.br www.lamef.demet.ufrgs.br LAMEF MECÂNICA DA FRATURA PPrrooff..DDrr..TTeellmmoo RRoobbeerrttoo SSttrroohhaaeecckkeerr ÍNDICE Pg. Capítulo 1- Introdução........................................................................................................................4 Capítulo 2 - Efeito de Entalhes e Trincas...........................................................................................6 2.1 - Fator de Concentração de Tensões......................................................................6 2.2 - Campo de Tensões Associado a Defeitos............................................................8 2.3 - Efeito da Espessura............................................................................................10 2.4 - Aspectos Macroscópicos de Fratura..................................................................13 2.5 – Aspectos Microscópios de Fratura....................................................................15 2.6 – Bibliografia........................................................................................................18 Capítulo 3 - Mecânica da Fratura Linear Elástica............................................................................19 3.1 - Considerações Sobre a Fractomecânica.............................................................19 3.2 - Mecânica da Fratura Linear-Elástica.................................................................19 3.3 - Aplicações da Mecânica da Fratura Linear-Elástica.........................................22 3.4 – Bibliografia.......................................................................................................25 Capítulo 4 - Mecânica da Fratura Elasto-Plástica............................................................................26 4.1 - Campo de Utilização.........................................................................................26 4.2 - Histórico............................................................................................................27 4.3 - Medidas de Abertura de Trinca.........................................................................28 4.4 - Desenvolvimento da Técnica de CTOD............................................................30 4.4.1 –Relação Entre a Abertura de Trinca e Deformação no Corpo de Prova.................................................................................................................................................30 4.4.2 – Desenvolvimento da Curva de Projeto..............................................32 4.5 - Considerações Sobre o Estágio Atual da Técnica CTOD................................33 4.5.1 – Ensaio de CTOD...............................................................................33 4.5.2 – Uso da Curva de Projeto...................................................................34 4.5.3 – Proposição de DAWES Para Trabalhar com Tensão Aplicada........35 4.5.4 – Caracterização de Defeitos...............................................................36 4.5.5 – Confiabilidade da Curva de Projeto..................................................37 4.5.5.1 – Procedimento Para Testar a Confiabilidade da Curva de Projeto..............................................................................................................................................37 4.6 – Bibliografia......................................................................................................38 Capítulo 5 - Mecânica da Fratura Aplicada à Fadiga.....................................................................39 5.1 - Aplicação da Mecânica da Fratura em Fadiga.................................................39 5.2 - Região Intermediária de Crescimento de Trinca..............................................42 5.2.1 – Mecanismos de Crescimento de Trinca na Região Intermediária.....43 5.3 - Região de Altas Taxas de Crescimento de Trinca em Fadiga..........................48 5.3.1 – Microestrutura..................................................................................48 5.3.2 – Tensão Média...................................................................................49 5.3.3 – Efeito da Espessura..........................................................................50 5.4–Comportamento em Fadiga Próximo ao Valor Limite de Propagação de Trinca..............................................................................................................................................50 5.4.1 – Obtenção Experimental do Valor Limite de Intensidade de Tensões para Propagação de Trinca...............................................................................................................51 5.4.2 – Fatores que Influenciam ∆K0...........................................................54 5.4.2.1 – Fatores Microestruturais...................................................54 5.4.2.2 – Fatores Mecânicos............................................................58 5.5 – Bibliografia.....................................................................................................64 Capítulo 6 - Fractomecânica Aplicada à Fratura Assistida pelo Ambiente...................................66 Mecânica da Fratura - 2 de 99 6.1 - Fratura Assistida pelo Ambiente.....................................................................66 pg. 6.2 - Utilização da MFLE no Estudo da Fratura Assistida Pelo Ambiente..............67 6.3 - Fratura Assistida pelo Hidrogênio....................................................................70 6.3.1 – Qual a Fronteira Entre o Fenômeno de Corrosão Sob Tensão e a Fratura Assistida Pelo Hidrogênio?..................................................................................................71 6.4 - Existência de um Valor de K Para Propagação de Trinca Assistida Pelo Ambiente (KIEAC).............................................................................................................................73 6.5 – Resultados Apresentados por Aços de Alta Resistência Mecânica Frente a Ambientes Agressivos.....................................................................................................................76 6.6 – Bibliografia......................................................................................................80 Capítulo 7 - Exemplos de Aplicação da Mecânica da Fratura........................................................82 Mecânica da Fratura - 3 de 99 CAPÍTULO 1 1 - INTRODUÇÃO O projeto convencional na engenharia baseia-se em evitar falhas por colapso plástico. A propriedade normalmente especificada em códigos de engenharia é a tensão de escoamento convencional ou, em componentes mecânicos, a faixa de dureza. Desta forma a tensão de projeto será a tensão que levaria o componente ao colapso plástico dividido por um fator de segurança. Este fator de segurança pode ser de 1,5 para vasos de pressão fabricados em aço laminado, de 4 para aplicação similar com aço fundido e variando de 5 até 10 para cabos de aço. Conforme este procedimento o fator de segurança não considera a possibilidade de fratura por um modo alternativo como a fratura frágil. Geralmente é aceito que o fator de segurançaevita a ocorrência de fraturas frágeis. Entretanto, na prática, tem-se verificado que isto nem sempre é verdadeiro. Existem situações em que falha de componentes ocorrem a partir de trincas com tensões aplicadas abaixo da tensão de projeto. Em termos de engenharia este é um tipo de fratura frágil incentivada por concentradores de tensões que agem, normalmente, no sentido de restringir a deformação plástica. Em serviço é comum a ocorrência de trincas junto a regiões de altas tensões como filetes, rasgos de chaveta, reduções bruscas de seção e outras descontinuidades. Os defeitos tipo trinca mais comuns são: - trincas de solidificação, - trincas de hidrogênio em soldas, - decoesão lamelar, - trincas nucleadas em serviço por fadiga ou corrosão sob tensão. Normalmente estes defeitos são detectados e avaliados quanto as suas dimensões por técnicas de ensaios não destrutívos. O objetivo da Mecânica da Fratura é a de determinar se um defeito tipo trinca irá ou não levar o componente a fratura catastrófica para tensões normais de serviço permitindo, ainda, determinar o grau de segurança efetivo de um componente trincado. O grande mérito da mecânica da fratura é a de possibilitar ao projetista valores quantitativos de tenacidade do material permitindo projetos que aliem segurança e viabilidade econômica. A mecânica da fratura quando aplicada à fadiga e a corrosão sob tensão permite a operação segura de componentes com defeitos prévios e/ou trincas nucleadas em serviço. É evidente que a presença de uma trinca afeta a resistência de um componente. Desta forma durante o crescimento da trinca a resistência estrutural vai sendo minada. O controle de fratura tem o objetivo de prevenir a fratura devido a defeitos e trincas frente a carregamentos em serviço. Uma forma de prevenir a fratura é fazer com que a resistência não caia abaixo de determinado limite. Isto significa que deve ser evitado que as trincas atinjam tamanhos críticos. São apresentados, assim, dois problemas a serem resolvidos: - calcular o tamanho de defeitos admissíveis (deve-se determinar como o tamanho da trinca afeta a resistência global). - calcular o tempo de operação em segurança (definição do tempo necessário para uma determinada trinca alcançar o tamanho crítico). A ferramenta matemática para possibilitar a análise de defeitos permissíveis é a mecânica da fratura. Ela fornece os conceitos e equações utilizadas para determinar como as trincas crescem e quanto podem afetar a resistência de estruturas. A mecânica da fratura divide-se em: - mecânica da fratura linear-elástica (MFLE) - mecânica da fratura elasto-plástica. (MFEP) A primeira normalmente é utilizada em situações em que a fratura ocorre ainda no regime linear-elástico. Isto pode ocorrer para ligas de altíssima resistência mecânica ou mesmo em ligas Mecânica da Fratura - 4 de 99 com resistência moderada desde que empregadas em uma espessura razoável. É a espessura que ditará se o regime é o estado plano de deformação (estado triaxial de tensões) em que a mecânica da fratura linear-elástica é aplicável ou o estado de tensão plana (biaxial de tensões) em que a mecânica da fratura elasto-plástica é aplicável. Apesar da complexidade que envolve a mecânica da fratura a mesma pode ser aplicada no controle de fratura desde situações bem simples como: - um martelo, em que deve ser escolhido um aço com tenacidade apropriada, Até situações da alta complexidade tecnológica como: - um avião, que no desenvolvimento de ligas de alta resistência mecânica envolva a análise de tolerância de defeitos (tamanho crítico de trincas), avaliação do comportamento em fadiga do material (taxa de propagação de trinca em fadiga), susceptibilidade a meios agressivos (corrosão sob tensão), testes de protótipos e, em operação, os planos de inspeção (reparo e troca de peças). Mecânica da Fratura - 5 de 99 CAPÍTULO 2 2 - EFEITO DE ENTALHES E TRINCAS. Toda abordagem da mecânica da fratura procura considerar o campo de tensões e deformações junto a defeitos em componentes. Isto por si só caracteriza uma abordagem que preenche uma lacuna existente na área de projetos. As técnicas da mecânica da fratura baseiam-se no: - comportamento linear-elástico (MFLE), parâmetro representativo do campo de tensões a frente de um defeito, - comportamento elasto-plástico (MFEP), capacidade de deformação localizada a frente de um defeito. O comportamento de materiais frente a defeitos nem sempre é facilmente previsível. 2.1 – FATOR DE CONCENTRAÇÃO DE TENSÕES A abordagem de um projeto convencional limita-se a determinar o fator de concentração de tensões (Kt) associado a alguma descontinuidade geométrica. Este valor, multiplicado pela tensão nominal, indica o nível de tensões efetivo. Com isto o projetista já teria uma referência para utilização de um fator de segurança. Segundo esta abordagem uma tensão (σa) aplicada a uma placa contendo um furo elíptico (figura 2.1) terá sua tensão aumentada nas extremidades do eixo da elipse normal à aplicação da carga por uma relação dada pela equação: σmáx/σa = 1 + 2a/b (2.1) onde: - σmáx é a tensão máxima nas extremidades do defeito. - σa é a tensão aplicada - a é o semi-eixo normal ao carregamento, - b é o semi-eixo paralelo à direção de carregamento. Figura 2.1 - Placa com furo elíptico produzindo uma concentração de tensões. Considerando-se agora um defeito circular em que a é igual a b tem-se para a equação 2.1: σmáx/σa = 3 isto é, o valor de magnificação de tensões em uma placa com um furo circular seria igual a 3. Para um defeito tendendo a planar o raio de curvatura (ρ) na extremidade da elipse é dado pela equação: ρ = b2 /a (2.2) As equações 2.1 e 2.2 podem ser combinadas de tal forma, resultando: Mecânica da Fratura - 6 de 99 σmáx = 2.σa (a/ρ)0,5 (2.3) Como na maioria dos casos a >> ρ, então: σmáx = 2.σa (a/ρ)0,5 (2.4) O termo 2.(a/ρ)0,5 seria o fator de concentração de tensões (Kt). O valor de Kt encontra-se listado (2,3) para uma infinidade de geometrias de peças/defeito. Na figura 2.2 são apresentados alguns exemplos. Por esta metodologia pode-se estimar o efeito de concentradores de tensões em componentes mecânicos como: rasgos de chaveta, reduções de seções, filetes. É destacado que, quanto maior o comprimento do defeito e menor o raio de curvatura da ponta deste, maior será a magnificação de tensões. Para um defeito muito agudo, como uma trinca de fadiga, o valor de Kt tende ao infinito. Desta forma, esta abordagem só é aplicada quando os concentradores de tensão são geométricos, não contemplando situações em que um componente apresente defeitos mais comuns, como trincas oriundas de fabricação ou nucleadas em serviço. (a) (b) (c) (d) Figura 2.2. - Valores de Kt para quatro geometrias. a,b) carregamento axial de uma barra; c) placa com furo; d) eixo com rasgo de chaveta em torção(2). Mecânica da Fratura - 7 de 99 2.2 – CAMPO DE TENSÕES ASSOCIADO A DEFEITOS Pela abordagem convencional um corpo entalhado deveria suportar um carregamento inferior quando comparado com um corpo liso. Esta diferença é dada pelo valor de Kt associado. Esta afirmação é válida para ligas de altíssima resistência mecânica, porém não é válida, necessariamente, para ligas de baixa resistência mecânica, de maior ductilidade. Em materiais com maior tenacidade, o efeito do entalhe age no sentido de restringir a deformação plástica podendo até aumentar a carga admissível. Esta restrição a deformação plástica tem como principal efeito a mudança do modo de fratura fazendo com que esta passe a ser controlada portensão e não por deformação, alterando o modo da fratura. A tendência seria a passagem de micromecanismos de fratura dúctil (por coalescência de microcavidades) para frágil (clivagem). Considere uma situação em que se tenha duas placas paralelas de mesma seção submetidas a um carregamento (figura 2.3.a). Cada uma das placas sustentará a metade da carga total; a deformação nas barras será igual causando uma elongação ∆1. Se uma barra for cortada, a outra irá suportar a carga total vindo a apresentar uma elongação de 2∆1. Considere, agora, a situação em que as duas barras fossem unidas (figura 2.3.b). Para a repetição do carregamento anterior, a distribuição de tensões seria idêntica a situação original com alongamento de ∆1. No entanto cortando-se uma seção equivalente a uma barra a seção restante também viria a suportar toda a carga aplicada, porém o elongamento seria menor do que 2∆1. A barra cortada, intrinsicamente ligada a barra remanescente, irá dificultar a deformação desta. Ocorre que na transferência de carregamento para esta seção acaba por ser gerada uma região de distribuição de tensões complexa - um estado triaxial de tensões. A figura 2.4 ilustra o efeito da redistribuição de tensões no corpo devido a uma descontinuidade. Junto ao entalhe surge uma nova componente de tensão que age contra a deformação do corpo fazendo com que o alongamento seja menor. Este fenômeno de restrição à deformação explica a "capacidade" de aumentar a resistência de uma amostra feita de um aço com boa ductilidade mediante o emprego de entalhes (4,5) A tabela 2.1 apresenta o aumento do limite de escoamento pela relação de redução em área em um aço SAE 1018 de boa ductilidade. Tabela 2.1 – Aumento da Resistência por Entalhe (5) Redução de Área por Entalhe no Corpo Razão do Limite de Escoamento da Barra Entalhada pela Barra Lisa 0 1 20 1,22 30 1,36 40 1,45 50 1,64 60 1,85 70 2,00 O fenômeno de aumento do limite de escoamento ocorre para materiais dúcteis e é explicada pela restrição à deformação plástica associada ao entalhe(5). Este comportamento não é previsto pela abordagem de projeto convencional que, pelo contrário, emprega coeficientes de segurança a partir de valores de Kt. Mecânica da Fratura - 8 de 99 (a) (b) Figura 2.3 - Modelo de barras. a) efeito do corte em uma barra isolada e b) efeito do corte de meia placa equivalente(5). Figura 2.4 - Desenho esquemático mostrando a tendência de concentração e de redistribuição de tensões devido à existência de um defeito(5). Mecânica da Fratura - 9 de 99 Um outro exemplo interessante e que ilustra a redistribuição das tensões associada a restrição da deformação é a união de duas barras de aço por solda prata. O limite de resistência da solda prata é de apenas 145 MPa. No entanto, quando a mesma é empregada para unir duas barras de aço o limite de resistência do conjunto tende a alcançar o valor limite de resistência das barras de aço, 395 MPa. Novamente a explicação do fenômeno está ligada à restrição a deformação plástica da solda prata pelas barras de aço. Quanto menor a espessura do filme de brasagem maior será a resistência do conjunto conforme ilustrado pela figura 2.5. Figura 2.5 - Resultados do limite de resistência de duas barras de aço SAE 1018 unidas por solda prata(5). 2.3 – EFEITO DA ESPESSURA A tensão σz que atua na direção da espessura de um corpo deve ser nula na superfície, por que não pode haver tensão normal a uma superfície livre, mas pode atingir um valor elevado no centro do corpo. No caso de uma chapa fina, σz não pode crescer apreciavelmente e uma condição de tensão plana irá atuar. σx , σy≠ 0 σz = 0, em tensão plana (2.5) Quando a espessura é suficientemente grande, σz pode levar a um valor correspondente a uma situação de deformação plana (εz = 0) que é a seguinte: σz = ν (σx + σy ), em deformação plana (2.6) Estas duas condições estão esquematizadas na figura 2.6 que mostra uma placa com espessura moderada e com entalhe e nela são posicionados dois cubos elementares, um no centro da placa, próximo à ponta do entalhe, e outro próximo a superfície livre(6), também junto ao entalhe. Uma conseqüência destas duas condições é a maneira como o material apresenta deformação pois o plano de máxima tensão de cisalhamento varia. Esta diferença acarreta fratura em planos de 45o com o eixo de tração quando em estado tensão plana e normal ao eixo de tração quando em estado de deformação plana. A medida em que o carregamento aumenta sobre a placa, cada um dos elementos romperá sob um nível particular de solicitação mecânica, por cisalhamento (deslizamento de um plano atômico sobre outro), ou por clivagem (separação direta de planos atômicos). Mecânica da Fratura - 10 de 99 Uma análise do critério de escoamento indica que um estado de tensões hidrostático (σ1 = σ2 = σ3 ) não pode produzir uma fratura dúctil. Desta forma enquanto que o elemento do centro tende a apresentar uma fratura frágil a região lateral do corpo virá a fraturar por cisalhamento. Figura 2.6 - Estado de tensões com relação a posição dos elementos ao longo da espessura do material(6). Devido a variação do comportamento em relação ao estado de tensões sobre o corpo de prova uma grande variação na tenacidade é produzida a medida em que se modifica a espessura do corpo. A fim de entender a forma da curva de tenacidade é conveniente examinar as três regiões destacadas na figura 2.7. *Região A. Nesta região os corpos de prova têm espessura pequena e tendem a mostrar um aumento da tenacidade com o aumento da espessura. A fratura é por cisalhamento pois há um estado plano de tensões. * Região B. Na região B o comportamento à fratura é mais complexo. A espessura do corpo de prova não é tão pequena para dominar o mecanismo de deslizamento (da região A) nem suficientemente grande para dominar o estado triaxial de tensões que levaria a uma fratura predominantemente plana. No carregamento do corpo de prova quando atinge-se a carga Pp (correspondendo a tensão σp da figura 2.7b) pode ocorrer uma fratura do tipo plana na região central do corpo. Em um corpo de prova de grande espessura a fratura se propagaria catastroficamente (região C) porque o processo ocuparia uma região significativa da seção do corpo. Porém com a espessura da faixa B, grande parte da carga é suportada pelos ligamentos laterais da seção que não permitem a instabilidade da fratura. A medida que a carga é aumentada, além de Pp, a fratura central plana se afunila (fenômeno de tunelamento) para o centro do corpo. Mecânica da Fratura - 11 de 99 Os ligamentos laterais podem ser cisalhados quando for atingido um deslocamento suficientemente grande na ponta da trinca e esta, como um todo, avança de uma forma composta: fratura do tipo plana, no centro, se afunilando e fratura tipo inclinada (fratura por lábios de cisalhamento) junto as bordas. Desta forma a espessura do corpo, para determinado limite de resistência do material, é que irá ditar o modo de fratura. A medida que aumenta a espessura passa a predominar a fratura plana em detrimento do cisalhamento das laterais do corpo. O comportamento em fratura desta região é estudado pela mecânica da fratura elasto-plástica. Por esta metodologia a escolha da espessura do corpo de prova deve ser baseada diretamente na espessura de trabalho procurando reproduzir as condições de fratura que poderiam ocorrer na prática. * Região C O comportamento à fratura de corpos de prova de grande espessura é predominantemente plana uma vez que a fratura é dominada por um estado de deformação plana. Este estado triaxial de tensões implica em um alto valor da tensão trativa máxima, σ11. Neste regime o comportamento à fraturado material é descrito, de forma precisa, pela mecânica da fratura linear elástica. Para a liga de Alumínio 7075 T6 da figura 2.7 a partir da espessura de 15 mm a abordagem da MFLE apresenta alta precisão na previsão do comportamento em fratura do material. Figura 2.7 - Variação da tenacidade com a espessura de uma liga 7075-T6 (Al, Zn, Mg) e perfis de fratura correspondentes(6). 2.4. – ASPECTOS MACROSCÓPICOS DE FRATURA A superfície de fratura de um corpo pode apresentar três regiões bastante distintas: Zona Fibrosa - corresponde a propagação estável da trinca, isto é, para cargas crescentes. Localização, zona de maior triaxialidade, no centro de um corpo sem entalhe, p.ex. Zona Radial - corresponde a propagação instável de trinca Zona Cisalhada - inclinada a 45o do eixo de tração em conseqüência do alívio de triaxialidade devido a presença de uma superfície livre. A figura 2.8. ilustra estas três regiões em um corpo ensaiado em tração. Emoldurando toda a seção do corpo aparece a zona cisalhada (a 45o), onde pode ocorrer deformação plástica pois não Mecânica da Fratura - 12 de 99 existe triaxialidade de tensões. A seguir vem a zona radial, frágil, de propagação rápida de trinca. Corpos de prova feitos come materiais de grande ductilidade ou ensaiados a temperaturas elevadas podem não apresentar a zona radial. Por fim a terceira zona (central) é a da fratura fibrosa, dúctil Por exemplo o aço, SAE 4340, quando ensaiado em temperaturas acima de 80o C, apresenta uma fratura praticamente toda dúctil. Porem em temperaturas mais baixas ou quanto mais frágil estiver o material, maior será o tamanho da zona radial. Quanto maior a ductilidade do material estudado maior a participação das regiões cisalhada e fibrosa. Figura 2.8 - Representação das zonas cisalhadas, radial e fibrosa na fratura de um corpo cilíndrico liso(6). Figura 2.9 - Mudança na participação dos aspectos de fratura com a temperatura em ensaios de corpos lisos. Quanto mais baixa a temperatura maior o limite de escoamento e menor a ductilidade do aço(5). Se em corpos circulares pode-se ter as três regiões de fratura o mesmo acontece para seções quadradas e retangulares. A zona cisalhada emoldura toda seção do corpo. Para corpos retangulares, a medida que aumenta a razão da largura pela espessura a zona fibrosa irá apresentar uma forma elíptica. A zona radial, se existir, passa a apresentar um aspecto diferente, e são normalmente são chamadas marcas de sargento. A medida que trabalha-se com uma espessura muito pequena passa a dominar um regime de tensão plana, predominando um aspecto de fratura por cisalhamento, deixando de existir a zona radial (figura 2.10). Mecânica da Fratura - 13 de 99 Figura 2.10 - Seção de fratura retangular. A zona radial apresenta aspecto de "marcas de sargento"(7). Para corpos que possuam entalhe, a morfologia da fratura é alterada e tem-se: - o deslocamento da zona fibrosa do centro do corpo para o fundo do entalhe (figura 2.11) uma vez que o entalhe além de concentrar tensões acarreta uma região de triaxialidade de tensões. Assim, em corpos cilíndricos a fratura ocorre da superfície para o centro. Não existe zona cisalhada e surge uma região de arrancamento final. A triaxilidade de tensões associada ao entalhe impede a formação da zona cisalhada. As marcas de sargento apontam para a região de início de fratura. Figura 2.11 - Efeito de entalhes. Deslocam o início da fratura para seu vértice(7). Uma aplicação prática das marcas de sargento é a de, exatamente, definir a zona de início de fratura. A figura 2.12 mostra uma superfície de fratura onde as marcas de sargento apontam para o local de início da falha. Figura 2.12 - As marcas de sargento indicam a região de início de fratura, marcada com uma flecha(8). Mecânica da Fratura - 14 de 99 2.5 – ASPECTOS MICROSCÓPICOS DE FRATURA Os micromecanismos de fratura de um carregamento monotônico são classificados em três tipos: I - coalescimento de microcavidades II - clivagem III - intergranular. I - Coalescimento de Microcavidades: Acompanhando os vários estágios em um ensaio de tração tem-se que após a máxima carga (região limite com deformação uniforme), haverá o inicio de deformação localizada com a formação de estricção em uma região qualquer da área útil do corpo de prova. Uma vez que o material apresenta boa ductilidade inicialmente haverá um descolamento das inclusões (ou partículas de segunda fase) com respeito a matriz metálica. Este descolamento dará, então, lugar a cavidades envolvendo as inclusões. O crescimento e união destas microcavidades (coalescimento de microcavidades) é que acarretará a ruptura do corpo. Na figura 2.13 é apresentada a estricção de um corpo de prova seguido pela nucleação de cavidades na seção central do mesmo. A fratura é toda ela controlada por deformação. A figura 2.14 apresenta o aspecto de uma fratura por coalescimento de microcavidades. (a) (b) Figura 2.13 - Estricção de um corpo de prova cilíndrico. O coalescimento das cavidades vai diminuindo a seção resistente do corpo. Na figura (a) o desenho esquemático do fenômeno e em (b) uma situação real – observado em corpos de prova preparados metalograficamente na seção longitudinal (8). Mecânica da Fratura - 15 de 99 Figura 2.14 - Microcavidades na seção de fratura. Microscópio eletrônico de varredura. II - Fratura por Clivagem Compreende-se por clivagem a separação de planos cristalinos, com pouca deformação, com aspecto característico, conforme pode ser visto na figura2.15. Este aspecto frágil de fratura é incentivado pelo aumento do teor de carbono, pela presença de entalhes, pelo aumento da taxa de carregamento, pelo aumento do tamanho de grão e pela diminuição da temperatura de trabalho. O aspecto é de "conchas", com facetas lisas de fratura. Figura 2.15 - Aspecto das facetas de clivagem com "rios" característicos que indicam o sentido local de propagação da fratura. III - Fratura Intergranular Ocorre a separação pura e simples ao longo dos contornos de grão (figura 2.16). Este mecanismo, totalmente frágil, é incentivado por grãos grosseiros, fragilidade de revenido, fragilidade da martensita revenida, filme de cementita em contornos de grão e ação de meios agressivos (ação de hidrogênio). Micromecanismos de fratura intergranular indicam um problema de material ou meio de trabalho. Mecânica da Fratura - 16 de 99 Figura 2.16 - Separação intergranular. MEV. 2.6 - BIBLIOGRAFIA [1] SHIGLEY, J.E. e MISCHKE, C.R., “Mechanical Engineering Design”, 5° ed., McGraw-Hill, 1989. [2] “Metals Engineering Design”, ASME Handbook, McGraw Hill, New York, 1953. [3] ROOKE, D. P. and CARTWRIGHT, D. J., “Stress Intensity Factors”, Her Majesty’s Stationery Office, Londres, 1974. [4] BROEK, D., “The Practical Use of Fracture Mechanics”, Kluwer, 1989. [5] HERTZBERG, R., “Deformation and Fracture Mechanics of Engineering Materials”, 3o ed. Wiley, New York, 1989. [6] PARKER, A. P., “The Mechanics of Fracture and Fatigue”, Spon, London, 1983. [7] CETLIN, P. R. e SILVA, P.S.S., “Análise de Fraturas”, Associação Brasileira de Metais, ABM, São Paulo. [8] Metals Handbook, “Failure Analysis and Prevention”, vol. 11, 9o ed, ASM, 1980. Mecânica da Fratura - 17 de 99 CAPITULO 3 3 - MECÂNICA DA FRATURA LINEAR-ELÁSTICA 3.1 – CONSIDERAÇÕES SOBRE A FRACTOMECÂNICA "Embora todo cuidado possa ser tomado durante a fabricação, é quase sempre inevitável que estruturas de aço soldadas venham a apresentar alguma forma de defeito, embora pequenos e, é essencial para ambos, projetista e executor - conhecerem qual a periculosidade da presençade defeitos em um dado material sob dadas condições externas de tensão e temperatura". Assim Burdekin, em um artigo publicado 1966, justificava a necessidade do desenvolvimento de técnicas que conseguissem prever o comportamento de estruturas com defeitos prévios. Os conceitos da Mecânica da Fratura provaram ser adequado para a predição das condições de falhas de estruturas e foram divididos em dois ramos: a regida pelo comportamento Linear-Elástico (MFLE) e a regida pelo comportamento Elasto-Plástico (MFEP). A Mecânica da Fratura Linear Elástica é a metodologia a ser empregada em situações onde há possibilidade de ocorrer fratura sem ser precedida de extensa deformação plástica. Esta restrição à deformação plástica pode ser decorrência das próprias propriedades do material, aços de altíssima resistência mecânica, por exemplo, ou de fatores geométricos como as dimensões da estrutura, mesmo para aços de média resistência mecânica o estado de deformação plana pode ser alcançado, se houver espessura suficiente ou se a temperatura for suficientemente baixa. A MFLE pode ser empregada com sucesso à medida em que a zona plástica for pequena em relação ao tamanho da trinca e das dimensões da estrutura que a contém. O sucesso MFLE em estabelecer um tamanho de trinca crítico, desenvolvida teoricamente e comprovada na prática, fica restrita para casos em que não há deformação plástica apreciável acompanhando a fratura. No entanto boa parte dos materiais empregados em construção mecânica apresentam plasticidade considerável quando solicitados, principalmente nas extremidades de defeitos eventualmente existentes. Para dar respaldo a estes casos é, então, empregada a Mecânica da Fratura Elasto-Plastica (MFEP). Entre os métodos de avaliação desenvolvidos na MFEP encontram- se a técnica do CTOD ("Crack Tip Opening Displacement") e a Integral J. Conforme Harrison(2) no caso de aços estruturais de baixa para média resistência mecânica pode-se pensar em termos da tradicional curva de transição dúctil-frágil com a mudança de temperatura, pois estes materiais apresentam definida esta região. Para materiais relativamente frágeis, no patamar inferior da curva de transição, ou para estruturas submetidas a tensões essencialmente elásticas, a tenacidade é expressa em termos de KIC. Já a partir da transição dúctil- frágil a tenacidade é preferencialmente expressa pelos parâmetros da Mecânica da Fratura Elasto- Plástica. 3.2 – MECÂNICA DA FRATURA LINEAR ELÁSTICA Dividindo-se os modos de carregamento possíveis em uma trinca chega-se a três formas, conforme mostra a figura 3.1. -carregamento I (abertura da ponta da trinca) -carregamento II (cisalhamento puro - deslocamento das superfícies da trinca paralelamente a si mesmas e perpendiculares à frente de propagação). -carregamento III (rasgamento - deslocamento das superfícies da trinca paralelamente a si mesmas). O campo de tensões na vizinhança da ponta de uma trinca pode ser caracterizado em termos de um fator intensidade de tensões (KIC) (figura 3.2) que, em coordenadas polares, é dado por: Mecânica da Fratura - 18 de 99 σij = _____KI_____ . f ij (∅) (3.1) (2.π.r)0,5 onde: - KI é o fator de intensidade de tensões para o modo de carregamento I (carregamento em tração, deslocamento das superfícies da trinca perpendicularmente a si mesmas), - r é a distância da ponta da trinca, - ∅ é o ângulo medido a partir do plano da trinca, - f ij é uma função adimensional de ∅, cujo módulo varia entre 0 e 1. Expressões similares são encontradas para trincas submetidas aos modos de carregamento II e III : É importante ressaltar que, dado um determinado modo de carregamento, a distribuição de tensões em torno de qualquer trinca em uma estrutura com comportamento no regime linear-elástico é semelhante, sendo completamente descrita pelo parâmetro K. Isto é, a diferença da magnitude de tensões alcançada entre componentes trincados depende apenas do parâmetro fator de intensidade de tensões K que é governado pela configuração geométrica do componente trincado e pelo nível e modo do carregamento imposto. Figura 3.1 - Modos de carregamento básicos de uma trinca. Figura 3.2 - Coordenadas para descrição do campo de tensões na ponta de uma trinca . Além disso, uma vez atendidas as condições preconizadas pela Norma ASTM E 399- 91 (3), tem-se um valor critico para o fator de intensidade de tensões (KIC) que é uma constante, uma propriedade intrínseca do material da peça trincada, para uma dada situação de temperatura, taxa de carregamento e condição microestrutural. Por ser uma propriedade intrínseca do material, o valor de KIC pode ser utilizado na análise de qualquer geometria possibilitando o cálculo do tamanho crítico de trincas no projeto de estruturas. Mecânica da Fratura - 19 de 99 Soluções de K, para um grande número de geometrias e modos de carregamento, são encontradas em manuais (como o da referência(4)). Por exemplo, para o caso de uma trinca de comprimento 2a no centro de uma placa com dimensões tendendo ao infinito submetida a um carregamento trativo σ, tem-se que: KI = σ (π.a)0,5 (3.2) Observa-se que a equação 3.1 prevê que a medida que r tende a zero as tensões tendem para o infinito. Evidentemente, em materiais reais, estas tensões serão limitadas pelo escoamento localizado que ocorre em uma região à frente da trinca, denominada de zona plástica. O tamanho da zona plástica depende do modo de carregamento e da geometria do corpo, mas uma primeira estimativa pode ser dada pela equação 3.3: rγ = __1___ __KI2__ (3.3) 2π σe2 onde: σe é a tensão de escoamento rγ é o raio da zona plástica Assim, embora a distribuição de tensões elásticas caraterizada pelo parâmetro KI seja válida apenas nas proximidades da extremidade da trinca isto é, quando r → 0, ela não é uma solução correta exatamente na extremidade do defeito na região caracterizada pela distância rγ da equação 3.3. No entanto, uma vez que o tamanho da zona plástica seja pequeno comparado ao campo governado pelo fator de intensidade de tensões KI, a zona plástica poderá ser considerada meramente como uma pequena perturbação no campo elástico controlado por KI(5). Experimentalmente, verificou-se que esta condição de "pequena" zona plástica esta assegurada quando o seu tamanho for, pelo menos, 15 vezes menor que as dimensões significativas do componente (espessura, seção remanescente e tamanho da trinca). De fato, a Norma(3) para determinação do valor de KIC determina que: a, B, b > 2,5 (KIC2) (3.4) σe2 onde: - B = espessura do corpo de prova - b = ligamento - a = tamanho da trinca Esta exigência requerida para uso da MFLE é facilmente atendida para materiais de altíssima resistência mecânica. Como exemplo, um aço do tipo ABNT 4340 necessitaria uma espessura de 3 mm ou uma amostra de carbeto de tungstênio exigiria uma espessura de apenas 0,3 mm, conforme a Tabela 3.1. Para um aço de média resistência mecânica e alta tenacidade à fratura, como o aço A533B usada em reatores nucleares, esta espessura seria de 600 mm. Por isto, torna-se óbvia a necessidade do desenvolvimento de técnicas que caracterizem o comportamento à fratura de aços de altíssima tenacidade à fratura. Mecânica da Fratura - 20 de 99 Tabela 3.1 – Espessuras Mínimas Necessárias para Obtenção de Valores da MFLE(5) Material σe (MPa) KIC (MPa.m0,5) rγ * (µm) Espessura Aproximada (mm) 4340 revenido a 200 oC 1700 60 200 3 Aço Maraging 1450 110 920 14 A 533 B 500 245 4.104 600 7075-T651 515 28 470 7 2024-T351 370 35 1420 22 Ti-6Al-4V 850 120 3170 50 Carbeto de Tungstênio 900 10 20 0,3 *rY - raio da zona plástica. 3.3 – APLICAÇÕES DA MECÂNICA DAFRATURA LINEAR-ELÁSTICA Uma vez que esteja governado por um componente um estado de deformação plana (equação 3.4) a MFLE pode ser aplicada com uma notável precisão. O valor do fator de intensidade de tensões está diretamente relacionado com a tensão aplicada e tamanho de defeito (equação 3.2). O fator de forma (γ) na função é encontrado na literatura para um grande número de combinações de configuração do componente/geometria de trinca e modos de carregamento. A figura 3.3 apresenta soluções para uma placa de grandes dimensões solicitada remotamente, com defeito central passante e com defeito lateral. A figura 3.3.c considera o efeito das dimensões na placa entalhada, na qual verifica-se a tendência de que, quanto maior o defeito maior a severidade de solicitação mecânica. Figura 3.3 - a, b) Valores do fator de forma para uma trinca passante e lateral em uma placa de grandes dimensões e c) influência da largura do componente trincado sobre o fator de forma. Para situações em que tem-se trincas superficiais ou internas também existem expressões que possibilitam a aplicação da mecânica da fratura. Na figura 3.4 é mostrado um gráfico que indica a correção a ser feita. Com relação a estes tipos de defeitos, na trinca superficial o valor de "a" passa Mecânica da Fratura - 21 de 99 a ser a profundidade do defeito. No defeito interno considera-se "a" como a metade da altura do defeito. A expressão a ser utilizada passa a ser: K = γ σ (a/Q)0,5 (3,5) Figura 3.4 - Fatores de correção a serem empregados na análise de componentes com trincas superficiais ou internas. A partir destas informações pode-se definir qual o tamanho de defeitos críticos para determinado nível de carregamento em um componente ou, a partir de um componente trincado, qual o nível de carregamento admissível. A mecânica da fratura é aplicada, ainda, para a seleção de materiais e/ou tratamentos térmicos. É esta metodologia que possibilita a otimização na escolha pois fornece dados quantitativos de tenacidade ao projetista. O exemplo a seguir ilustra esta colocação. Exemplo 3.1 - Considere que um componente na forma de uma chapa de grandes dimensões seja fabricado em um aço SAE 4340. É requerido que o tamanho critico de defeito seja maior do que 3mm, a resolução técnica de ensaios não-destrutivos disponível. A tensão de projeto estipulada é a de 50% do limite de resistência do material. Para diminuir peso é sugerido um aumento do limite de resistência de 1520 MPa para 2070 MPa. Seria viável esta alteração? Inicialmente uma análise do comportamento à fratura deste material indica que para a condição de revenido, que leva ao limite de resistência de 1520 MPa , o valor de KIC é de 66 MPa.m0,5 , enquanto que para 2070 MPa o valor de KIC cai para 33 MPa.m 0,5 . Assim, o aço na condição de limite de resistência de 1520 MPa apresentaria: KIC = σ (y.a)0,5 66 MPa.m 0,5 = 760 MPa (π.a)0,5 Consequentemente 2a = 4,8 mm enquanto que para a segunda condição 33 MPa.m0,5 = 1035 MPa (π.a)0,5 Consequentemente 2a = 0,65 mm Este tamanho de trinca é 5 vezes menor que o tamanho de defeito detectável e aproximadamente 8 vezes menor que o tamanho de defeito crítico do aço com limite de resistência de 1520 MPa. Para que pudesse operar com a mesma margem de segurança (tamanho de defeito critico de 4,8 mm) o aço temperado e revenido para a condição de maior resistência teria que ter diminuída a tensão de projeto para apenas 380 MPa, conforme cálculo apresentado a seguir: σ = 33 MPa √m /(π. 0,0024m)0,5 = 380 MPa Assim sendo, para condições de tamanho de defeitos admissíveis iguais, a tensão admissível no aço com maior limite de resistência poderia ser apenas a metade da condição original fazendo com que fosse dobrado o peso do componente. Mecânica da Fratura - 22 de 99 Tabela 3.2 - Resistência e Tenacidade à Fratura de Alguns Materiais(6) Ligas Forma Orientação Temp.do Ensaio (oC) GYs (MPa) KIC(MPa.m0,5) Ligas de Alumínio 2014-T651 Chapa L-T 21-32 435-470 23-27 " " T-L " 435-455 22-25 " " S-L 24 380 20 2014-T6 Forjado L-T " 440 31 " " T-L " 435 18-21 7075-T7351 " L-T " 400-455 31-35 " " T-L " 395-405 26-41 7475-T651 " " " 505-515 33-37 7475-T7351 " " " 395-420 39-44 7079-T651 " L-T " 525-540 29-33 " " T-L " 505-510 24-28 7178-T651 " L-T " 560 26-30 " " T-L " 540-560 22-26 " " S-L " 470 17 Aços Ligados 4330V (revenido a 275oC) Forjado L-T 21 1400 86-94 4330V (revenido a 425oC) " " " 1315 103-110 4340 (revenido a 205 oC) " " " 1580-1660 44-66 4340 (revenido a 260 oC) Chapa " " 1495-1640 50-63 4340 (revenido a 425 oC) Forjado " " 1360-1455 79-91 D6AC (revenido a 540 oC) Chapa " " 1495 102 " " -54 1570 62 9-4-20 (revenido a 550 oC) " " 21 1280-1310 132-154 18Ni(200)(460 oC/6 hr) " " " 1450 110 18Ni(250)(460 oC/6 hr) " " " 1785 88-97 18 Ni(300)(480 oC) " " " 1905 50-64 18Ni(300)(480 oC/6 hr) Forjado " " 1930 83-105 AFC77 (revenido a 425 oC) " " 24 1530 79 Ligas de Titânio Ti6Al-4V Chapa1 L-T 23 875 123 " " T-L " 820 106 " Chapa2 L-T 22 815-835 85-107 " " T-L " 825 77-116 Cerâmicas Mortar - - - - 0,13-1,3 Concreto - - - - 2-2,3 Al2O3 - - - - 3-5,3 SiC - - - - 3,4 SiN4 - - - - 4,2-5,2 Vidro Silicato cal de solda - - - - 0,7-0,8 Porcela p/elétrica - - - - 1,03-1,25 WC(2,5-3µm)-3w/o Co - - - - 10,6 WC(2,5-3µm)-9w/o Co - - - - 12,8 WC(2,5-3,3µm)-15w/o Co - - - - 16,5-18 Calcário Indiana - - - - 0,99 ZrO2 (Ca estabilizado) - - - - 7,6 ZrO2 - - - - 6,9 Al2O3/SiC (coque) - - - - 8,7 SiC/SiC fibras - - - - 25 Vidro Borosilicato/SiC fibras - - - - 18,9 Polímeros PMMA - - - - 0,8-1,75 PS - - - - 0,8-1,1 Policarbonato - - - - 2,75-3,3 Mecânica da Fratura - 23 de 99 3.4 - BIBLIOGRAFIA [1] HARRISON, J. D., “Significance of Defects in Relation to Service Perfomance”, International Institute on Welding and Met. Tech. Conf. Sydney, Australia, setembro, 1976. [2] HARRISON, J. D., “The State-of-the-art in Crack Tip Opening Displacement (CTOD) Testing and Analysis”, Welding Institute Report, 108, abril, 1980. [3] ASTM E399-91, "Plane Strain Fracture Toughness of Metallic Materials", Annual Book of ASTM Standards, Secção 3 ASTM, Philadelphia, 1991, pp.592-628. [4] ROOKE, D. P. e CARTWRIGHT, D.J. ,”Stress Intensity Factors, Her Majesty’s Stationery Office”, Londres, 1974. [5] EWALDS, H. L. and WANHILL, R.J.H., “Fracture Mechanics, Edward”, 1986. [6] HERTZBERG, R., “ Deformation and Fracture Mechanics of Engineering Materials”, 3° ed. Wiley, New York, 1989. Mecânica da Fratura - 24 de 99 CAPITULO 4 4 - MECÂNICA DA FRATURA ELASTO-PLÁTICA 4.1 – CAMPO DE UTILIZAÇÃO A Mecânica da Fratura Elasto-Plástica, possui duas correntes distintas, que procuram resolver os problemas que envolvem materiais com tenacidade elevada que apresentam deformação plástica na ponta da trinca. Estas duas maneiras de encarar o problema são: método Crack Tip Opening Displacement (CTOD) e método da Integral J. Será alvo de análise deste trabalho o método de medida da abertura da ponta da trinca (CTOD). A avaliação do comportamento à fratura apresentado pelos materiais no regime elasto-plástico é dos mais importantes uma vez que se trata do regime que normalmente acompanha a maioria das aplicações estruturais envolvendo aços de média e baixa resistência mecânica. No entanto, nem seria de se esperar que fosse possível a obtenção de um parâmetro simples que viesse a traduzir este regime de deformação não linear. Contudo, o desenvolvimento do método CTOD, com auxílio de uma curva de projeto, apresenta-se como uma ótima abordagem, sendo consagrada por uma infinidade de aplicações práticas. Esta metodologia tem o méritode levar em consideração: - tensões residuais - efeito de concentradores de tensões - tipos de defeitos (internos, superficiais) Da mesma forma que na MFLE, a abordagem do CTOD, na MFEP, permite relacionar as condições de tensões ou deformações aplicadas com um tamanho de defeito permissível no material. O método CTOD dá uma continuidade à aplicação da Mecânica da Fratura para o regime elasto-plástico, isto é, para um sistema mais complexo do que aquele regido pela elasticidade. Além de ser aplicado para avaliar a significância de defeitos, a abordagem do CTOD é também usada na seleção de materiais, na qualificação de procedimentos de soldagem, etc. É natural que, por ser uma técnica relativamente recente, apesar de ter se tornado imprescindível para um sem número de aplicações, existam ainda algumas falhas de interpretação. Pode ser citado, como exemplo, exigências de altos valores de CTOD e, além disto, se ater a rigorosos requisitos de qualificação de soldagem. Isto pode levar a casos em que defeitos tridimensionais, porosidades e inclusões de escória em soldas, por exemplo, venham a ser reparados embora possam estar longe de representarem um perigo à estrutura. Com relação a este fato, um documento britânico de caracterização de defeitos, o PD 6493(1) de 1980, alerta: o reparo de defeitos inócuos pode resultar em defeitos planares de grande periculosidade. Boulton(2) reporta que um levantamento de reparos em defeitos de solda executados em vasos de pressão apontavam 87% como sendo do tipo tridimensional; todos eles seriam permissíveis sob a filosofia de adequação para o uso ("fitness for purpose") possibilitada pela mecânica da fratura. Harrison(3) chega a ser contundente: aponta como absurda a interpretação de certos códigos que não toleram defeitos, principalmente considerando o aumento da resolução dos ensaios não destrutivos. Ele cita o caso de pequenos defeitos que passavam desapercebidos por exames de raios-X mas que são acusados por ultra-som. Desta forma, defeitos inócuos passam a ser reparados. Se estes defeitos tridimensionais realmente introduzissem riscos de fratura frágil para determinado material, então, defeitos muito pequenos viriam a ser críticos, indicando que o material não seria adequado para uma aplicação estrutural. Em um outro trabalho, Coote e colaboradores(4), analisando defeitos em tubulações, mesmo considerando as situações mais críticas, concluíram que os requisitos de qualificação de soldagem eram extremamente conservadores. Na análise de um gasoduto os autores concluíram, mediante a Mecânica da Fratura - 25 de 99 aplicação dos conceitos de adequação para o uso, que de 650 defeitos existentes, apenas 18 deveriam ser reparados, possibilitando uma economia de 2 milhões de dólares canadenses. 4.2 - HISTÓRICO Os conceitos básicos do método CTOD foram desenvolvidos, de forma independente, por Wells(5) e Cottrell(6). O objetivo era a obtenção de um critério de fratura para materiais que apresentassem uma capacidade maior de deformação plástica à ponta de um defeito. Há uma dificuldade inerente, para materiais de maior ductilidade, em se obter um parâmetro único que caracterize completamente o campo de tensões e deformações à ponta de uma trinca. Segundo os proponentes deste método, a ruptura de um componente contendo um defeito prévio, mesmo em materiais com boa capacidade de deformação localizada, dar-se-à a partir de um valor crítico de abertura de trinca (δc). Este valor crítico de abertura de trinca pode ser tratado como uma característica da região à frente da trinca para um dado material testado sob um dado conjunto de condições. Cottrell(6) empregou este conceito para explicar um aparente paradoxo. Pequenos corpos de prova extraídos de chapas de aço de navios que haviam fraturado em serviço (figura 4.1.a) com tensões nominais bem inferiores à de escoamento do material, com uma fratura predominantemente por clivagem, vieram a romper após escoamento generalizado com uma aparência completamente fibrosa. O argumento utilizado para explicar este comportamento é o seguinte: um dado valor de abertura da ponta da trinca (CTOD) é necessário ser "acomodado" por um tamanho específico de zona plástica. Assim, considerando um determinado comprimento de trinca e um valor fixo de CTOD, pode-se concluir que o que ditará se uma amostra irá fraturar antes ou depois do escoamento geral será simplesmente o tamanho da seção remanescente. Em outras palavras: se o tamanho da seção remanescente da peça trincada for pequeno o suficiente para que a zona plástica a envolva totalmente antes de ser atingido o valor de abertura crítico de trinca (δc), a fratura será dúctil. Se, ao contrário, a seção remanescente for de dimensões tais que o valor de δc seja alcançado antes, a fratura será predominantemente frágil. A figura 4.1.b mostra, claramente, este fenômeno. O corpo de prova de menor ligamento só vem a apresentar fratura após escoamento generalizado com fratura predominantemente dúctil. Já o corpo de prova com maior ligamento apresenta fratura ainda no regime elástico embora, localmente, apresente deformação plástica. Surgia, pois, um parâmetro físico que poderia prever o tipo de comportamento em fratura de um material - a capacidade de deformação localizada à ponta de uma trinca. Mecânica da Fratura - 26 de 99 Figura 4.1 -.a) Navio rompido ao meio e b) seqüência de corpos de prova com diferentes tamanhos 4.3 – MEDIDAS DE ABERTURA DE TRINCA As principais dificuldades em medir o valor crítico de abertura da trinca (δc) residem em se obter valores relativos à ponta da trinca e em se detectar o início de propagação. O desenvolvimento das técnicas é apresentado em ordem cronológica: - as primeiras tentativas para se determinar a ductilidade do material frente a concentradores de tensões envolvia a medida de deformações na raiz de entalhes através do uso de marcas de referência que, de fato, davam à abertura diretamente. A abertura da raiz do entalhe também era medida mediante o uso de grades de referência marcadas à frente do entalhe. - a primeira tentativa direta de se medir o CTOD, para uma geometria simulando um defeito, foi feita utilizando-se um “apalpador", conforme mostra a figura 4.2. Os corpos de prova eram usinados com entalhes de 0,10 a 0,15 mm de largura, entalhe este que não era estendido por fadiga ou qualquer outro processo de pré-trincamento. O apalpador era colocado diagonalmente no fundo do entalhe e montado de tal forma que, a medida que o entalhe abria, o apalpador podia girar de forma proporcional à abertura. O giro era, então, convertido em movimento linear, que era monitorado por um transdutor linear. Mecânica da Fratura - 27 de 99 Um método alternativo para se conseguir medir o CTOD em amostras pré-trincadas era o de se usar um corpo de prova duplamente entalhado. A partir de um cuidadoso pré-trincamento por fadiga era possível produzir-se pré-trincas de comprimento aproximadamente iguais em cada entalhe. O corpo de prova era então ensaiado à fratura, sendo o CTOD diretamente medido na seção metalográfica do entalhe que não se rompia. Este CTOD representava o valor justamente antes da instabilidade final. Evidentemente por ser uma medida realizada sem carregamento mecânico, ela não incluía a componente elástica da abertura de trinca. Figura 4.2 - Princípio de utilização do apalpador para medir a abertura de trinca no fundo de um entalhe. Os resultados obtidos com a técnica do corpo de prova duplamente entalhado apresentavam valores de δc substancialmente menores dos que obtidos usando-se o apalpador em entalhes usinados. Assim, o uso do dispositivo com o "apalpador" foi descartado, já que um entalhe usinado não reproduzia o efeito de um defeito com raio de curvatura tendendoa zero. A solução encontrada foi então a de utilizar um extensômetro de fratura, análogo ao usado na mecânica da fratura linear elástica, e relacionar esta medida efetuada com o CTOD, através de uma calibração adequada (figura 4.3). Ocorre que a relação da abertura externa de trinca (Vg) não apresenta uma relação linear com a abertura da trinca (δ) e, obviamente, depende dos parâmetros geométricos do corpo de prova. O primeiro fato pode ser explicado por haver um eixo aparente de rotação, que no início do carregamento tem posição variável até se estabilizar quando o corpo de prova atinge o regime plástico. De fato, um modelo bastante aceito para relacionar Vg com δ, além, é claro, de se considerar os parâmetros geométricos, considera a existência deste eixo aparente de rotação. A figura 4.3 ilustra o modelo. Através da semelhança de triângulos, chega-se à expressão: δ = Y (W-a).Vg (4.1) Y (W-a) + a +Z onde: - δ = abertura da ponta da pré-trinca - Y = fator rotacional - Vg = abertura da boca do entalhe - a = pré-trinca de fadiga - W = altura do corpo - Z = altura do suporte do extensômetro Baseado neste modelo existem variações nas fórmulas empregadas para relacionar Vg com δ, diferindo basicamente na maneira de se calcular a componente elástica da abertura de trinca e/ou do fator rotacional. O fator rotacional está associado ao fato de que, durante o carregamento do corpo de prova em flexão, o eixo de rotação irá se deslocar de um ponto inicial próximo à ponta da trinca até aproximadamente o centro da seção remanescente. A Norma Britânica BS 5762(7) considera este fator uma constante com valor igual a 0,4. Mecânica da Fratura - 28 de 99 (a) (b) Figura 4.3 - a) emprego de extensômetro de fratura para acompanhar a abertura da boca do entalhe e b) relação entre a abertura da boca do entalhe (Vg) e abertura da ponta da pré-trinca (δ). 4.4 – DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA DE CTOD 4.4.1 – RELAÇÃO ENTRE A ABERTURA DE TRINCA E DEFORMAÇÃO NO CORPO A fratura de um elemento pré-trincado dá-se na medida que for atingida uma abertura crítica de trinca. Esta constatação apontou um caminho para a análise de situações de fratura no regime elasto-plástico, visto que os critérios em que se baseia a MFLE não podem ser estendidos para este regime. Uma vez estabelecida a existência de uma singularidade no evento de fratura no regime elasto-plástico, surgiu a possibilidade de se relacionar este parâmetro com situações práticas. O que na MFLE é feito de uma forma direta porque o fator de intensidade de tensões está diretamente relacionado com a tensão aplicada e com o tamanho da trinca em um dado elemento, na MFEP exige uma metodologia bem mais complexa. Para a técnica CTOD, a solução encontrada para relacionar uma trinca permissível com a tensão aplicada foi a utilização de uma curva de projeto, de origem semi-empírica. A dificuldade de utilização do critério de abertura de trinca admitida pelo material reside no fato de que, em serviço, não é possível ficar monitorando a abertura de trinca na ponta de defeitos que porventura existam. A alternativa, empregada por Wells(8) em 1963, foi a de relacionar a abertura de trinca com a deformação imposta em serviço. Esta metodologia é extremamente prática uma vez que é perfeitamente viável estimar deformações localizadas na região de um defeito. No modelo empregado por Burdekin e Stone(9) a abertura de trinca, δ, na ponta da trinca real e dada pelo deslocamento no ponto x = + a até x = - a, da trinca de comprimento 2a, solicitada no regime linear elástico. δ = 8εy a in sec (π.a) (4.2) π 2δe onde: - εy é a deformação de escoamento. Mecânica da Fratura - 29 de 99 Alternativamente, a abertura de trinca foi expressa, de forma adimensional, por: φ = δ (4.3) 2πεy a Pode-se plotar o CTOD adimensional contra a razão da deformação imposta pela deformação de escoamento para diversas relações de comprimento de trinca por base de medida (a/y1). A figura 4.4 mostra resultados experimentais superpostos a resultados teóricos para a razão de a/y1 = 1/12. Os resultados experimentais plotados na figura 4.4 foram obtidos com uma liga de alumínio de baixa capacidade de encruamento (deve ser salientado que o modelo é baseado em um material elástico-perfeitamente plástico). Figura 4.4 - Valores de CTOD adimensional obtidos nos ensaios de corpos de prova de uma liga de alumínio(9). 4.4.2 – DESENVOLVIMENTO DA CURVA DE PROJETO O fundamento de uma curva de projeto baseia-se na relação em tensão plana entre um valor de CTOD adimensional (φ) e uma razão de deformação sobre uma base de medida 2y1 normal ao plano da trinca. Um maior número de resultados experimentais propiciou a otimização das curvas de projeto apresentadas por Wells e Burdekin e Stone(8,9) (1963 e 1966, respectivamente). Harrison, Burdekin e Young(11) propuseram em 1968 a expressão: a = C (δ/εy) (4.4) onde a constante C depende da tensão aplicada. Para uma tensão aplicada de dois terços da de escoamento tem-se: a = 0,5 (δ/εy) (4.5) que, na forma geral, pode ser dada por: φ = 0,5 (ε/εy) (4.6) É importante frisar que já foi uma preocupação dos autores de considerar o efeito de tensões residuais oriundas do processo de soldagem bem como o efeito de concentradores de tensões. Na Tabela 4.1 encontram-se listadas as fórmulas para cálculo do tamanho do defeito admissível. Tabela 4.1 - Proposta de Harrison et alii (11)para o Cálculo do Tamanho de um Defeito Permissível Tamanho de Defeito Com Alívio de Tensões Como Soldado Com Alívio de Tensões* Como Soldado amáx. 0,5 (δ/εy) 0,15 (δ/εy) 0,15 (δ/εy) 0,1 (δ/εy) * Com um fator concentrador de tensões de 3. Mecânica da Fratura - 30 de 99 No entanto, resultados adicionais mostraram que a expressão 4.4 não apresentava segurança para altas tensões aplicadas (superestima a trinca admissível). Em um trabalho posterior, Burdekin e Dawes(12) , em 1971, propuseram a seguinte expressão: φ = 4 in sec (πε) para ε/εy < 0,86 (4.7) π2 2εy φ = ε/εy - 0,25 para ε/εy < 0,86 (4.8) Em seguida, com a disponibilidade de resultados experimentais adicionais, do trabalho de Egan(13), foi constatada a falta de segurança desta proposta para baixas tensões. Isto não se constituiu em uma surpresa visto que a expressão original de Burdekin e Stone realmente não tinha embutido qualquer fator de segurança. Assim, Dawes(14) em 1974, modificou a curva de projeto, a fim de aumentar a segurança, além de aumentar a facilidade de sua utilização. φ = (ε/εy)2 para ε/εy < 0,5 (4.9) φ = (ε/εy) - 0,25 para ε/εy > 0,5 Os seguintes pontos devem ser ressaltados: i) esta curva não apresenta um ponto de inflexão pronunciado, nem seria de se esperar uma inflexão na curva tão acentuada quanto a dada pela equação 4.6, como pode ser observado na figura 4.5. Uma eventual descontinuidade em resultados experimentais, como a da figura 4.4 do trabalho de Burdekin e Stone(9), por exemplo, é explicada pela ocorrência de um "pop-in". ii) o primeiro termo da expansão da equação de Burdekin e Stone(9) seria: 1/2 (ε/εy)2 Assim, a proposta de Dawes apresenta um fator de segurança de 2 para pequenas tensões de trabalho. A figura 4.5 mostra as várias curvas de projeto superpostas. Nesta comparação nota-se que até a razão de ε/εy de 0,86, a curva de Dawes apresenta-se como a mais conservadora. Acima deste valor a Curva de Projeto de Wells apresenta um excesso de conservadorismo, sendo a expressão de Dawes a mais indicada. Deve ser salientado que a Curva de Projeto de Dawes foi a adotada pelo Documento Britânico PD 6493 de 1980(1). 4.5 – CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTÁGIOATUAL DA TÉCNICA DE CTOD 4.5.1 – ENSAIO DE CTOD O corpo de prova recomendado pela Norma Britânica BS 5762(7) é do tipo flexão em três pontos, sendo que a espessura utilizada deve ser igual a do componente em serviço. O corpo de prova é pré-fissurado em fadiga a fim de simular um defeito com a máxima acuidade possível representando o pior defeito que pode ser encontrado na prática. Um registro da carga aplicada ao corpo de prova pela abertura de trinca correspondente (monitorada por um extensômetro de fratura adequado) permite a obtenção dos dados a serem empregados na fórmula sugerida por Dawes(15,16) para o cálculo do valor de CTOD. δ = K2 (1-ν)2 + 0,4 (W-a) Vp (4.10) σyE 0,4W+0,6a+Z Mecânica da Fratura - 31 de 99 Sendo que K = P.Y B.W0,5 onde: - a = tamanho da pré-trinca - W = altura do corpo de prova - B = espessura do corpo de prova - ν = coeficiente de Poisson - Vp = componente plástica da abertura de trinca - z = altura dos suportes do extensômetro - K = valor do fator de intensidade de tensões - Y = fator de forma - B = espessura do corpo de prova Adicionalmente ao valor de CTOD de máxima carga pode ser determinado, também, o valor de CTOD de iniciação, isto é, o valor de abertura de trinca correspondente ao início de propagação da trinca. O interesse no valor de CTOD de iniciação (δi) reside no fato deste ser uma característica do material ensaiado, podendo até independer da espessura do corpo de prova, embora possa ser um valor por demais conservador para ser utilizado em projeto. Para a obtenção do valor de δi , a Norma BS-5762(7) recomenda a utilização da curva de resistência à propagação de trinca CTOD que emprega vários corpos de prova. A curva de resistência à propagação de trinca CTOD é obtida plotando-se os valores de CTOD, de ensaios com diversos níveis de abertura de trinca imposta, contra a correspondente propagação de trinca. O valor de σi é dado pela interseção da reta obtida com o eixo das ordenadas, isto é, o valor de CTOD para o qual ainda não haveria propagação de trinca. Deve ser salientado que no valor de propagação estável de trinca não está incluída a zona estirada ("strech zone"), por que esta corresponde ao processo de cegamento da trinca na fase inicial de carregamento e não a uma efetiva propagação da mesma. 4.5.2 – USO DA CURVA DE PROJETO Obtido o valor de CTOD do material seguindo os requisitos da Norma Britânica BS 5762(7) , pode-se, através da curva de projeto: i) estipular o tamanho do defeito permissível para uma determinada solicitação da estrutura em questão, ii) caracterizar a tensão admissível em uma estrutura para determinado tamanho de defeito identificado na mesma. iii) de servir como parâmetro para seleção de materiais para determinada utilização específica. Da curva de projeto, a partir da razão da tensão ou deformação imposta pela tensão ou deformação de escoamento do material, determina-se o CTOD adimensional (φ). A partir deste obtém-se o valor do tamanho da trinca passante admissível no componente analisado. Pelo caminho inverso, a partir do tamanho de um defeito, porventura existente, calcula-se o CTOD adimensional e, através da curva de projeto, obtém-se a tensão admissível. As fórmulas usadas são: φ = δ/2.π.εy.a (4.11) e as equações da Curva de Projeto de Dawes: φ= (ε/εy)0,5 para ε/εy < 0,5 (4.12) Mecânica da Fratura - 32 de 99 e φ= (ε/εy) - 0,25 para ε/εy > 0,5 Este exemplo, é claro, seria um caso simples em que não haveria efeito de tensões residuais e/ou concentradores de tensões. Inicialmente o desenvolvimento da técnica CTOD esteve voltado para defeitos passantes e, posteriormente, estendida por Dawes(16) para defeitos internos e superficiais, conforme será visto adiante. Figura 4.5- Curvas de Projeto (1,11,12,13,16). 4.5.3 – PROPOSIÇÃO DE DAWES PARA TRABALHAR COM TENSÃO APLICADA Na faixa de solicitação em que normalmente se recorre à curva de projeto teríamos que trabalhar com a razão de deformação imposta pela tensão de escoamento do material. O usual é de pensar em termos de tensões aplicadas, ou ainda, em tensões residuais ou efeito de concentradores de tensões. Desta forma, trabalhar com deformação imposta fica, portanto, menos palpável. Uma saída para este impasse foi proposta por Dawes(14) . Dawes, baseado em ampla revisão de testes em chapas largas, verificou que a relação entre φ e ε/εy é dominada por uma combinação de efeitos de encruamento e constricção plástica. E concluiu que estes efeitos eram de tal ordem que o escoamento generalizado é esperado coincidir ou até preceder o escoamento da seção do plano da trinca em todas as chapas com razão de a/W menores que 0,15 (aproximadamente). Esta razão de 0,15, para uma primeira aproximação, representaria as situações normais de tamanhos máximos de defeitos existentes na prática. O forte efeito de encruamento e constricção plástica acarreta uma independência da equação; φ = (ε/εy) - 0,25 para a razão a/y. Desta forma, a equação de Dawes seria independente da base de medida para avaliar a deformação imposta. Mecânica da Fratura - 33 de 99 Estas considerações levaram Dawes(14) a propor que a equação 4.8 poderia ser reescrita em termos de tensão, para ser aplicada em situações em que a tensão nominal de projeto é menor que a de escoamento do material e a razão efetiva do tamanho do defeito pela largura do componente (a/W) é menor do que aproximadamente 0,1 (situação em que (ε/εy) = σ/σy). Isolando o tamanho da trinca da equação 4.2 obtém-se: a = δ/2.π.εy.φ Assim, para: σ1 /σe < 0,5 a = δ.σe.E 2.π.σ21 (4.13) e para σ1 /σe < 0,5 a = δ E_ _ 2.π(σ1-0,25σe) (4.14) Na Tabela 4.2, σ1 é a tensão total (falsamente elástica) nas proximidades do defeito. Nota-se, mesmo que σ1 esteja acima da tensão de escoamento do material, a estrutura pode ainda estar comportando-se de maneira predominantemente elástica. Isto ocorre porque o escoamento da zona em questão é contido pelo material ainda em regime elástico a sua volta. Para a aplicação das equações 4.12 e 4.13, os valores de σ1 sugeridos por Dawes(14) estão apresentados na Tabela 4.2. Este seria o caso, por exemplo, de estruturas soldadas em que as tensões residuais podem até alcançar a tensão de escoamento do material e que, mesmo somadas à tensão aplicada em serviço, podem resultar em um comportamento aparentemente elástico da estrutura já que o escoamento estaria contido numa região próxima à ponta de trinca. Tabela 4.2 - Valores de Tensões Sugeridos por Dawes(14) Localização da Trinca Condição da Solda σ1 Com Alívio de Tensões σ Longe de Concentradores de Tensões Como Soldado σ + σe Com Alívio de Tensões Kt . σ Adjacente a Concentradores de Tensões Como Soldado (Kt . σ + σe ) O próprio Dawes(14) chama a atenção para as simplificações efetuadas nesta abordagem. Elas foram feitas sempre a favor da segurança, como por exemplo, considerar as tensões residuais da ordem da tensão de escoamento no material no estado de como soldado. É importante notar que esta abordagem, em termos de tensão, faria uso direto da tensão efetiva, calculando-se diretamente o tamanho do defeito admissível sem recorrer à tradicional curva de projeto. Esta abordagem tem seus méritos porque, além de lidar diretamente com a tensão aplicada permite visualizar facilmente o efeito das tensões residuais e de concentradores de tensões. 4.5.4 – CARACTERIZAÇÃO DE DEFEITOS Até o trabalho de Burdekin e Dawes(12), inclusive, não havia sido dada a devida atenção à forma dos defeitos. A análise baseava-se sempre em defeitos passantes. Não havia uma análise particularizada para defeitos superficiaise internos. Dawes(14,16), em 1974, assumindo que, para situações de escoamento confinado os parâmetros que governariam o comportamento de defeitos não passantes seriam similares àqueles sob condições da MFLE, conseguiu estender o campo de utilização da metodologia CTOD. A partir do trabalho de Dawes, pode-se caracterizar um tamanho admissível para qualquer forma de defeito pela técnica do CTOD. Mecânica da Fratura - 34 de 99 amáx = _1___ (δc) 2.π.φ εy onde a tensão aplicada está embutida no CTOD adimensional (φ), e a seria: - a metade do tamanho de um defeito passante - ou a profundidade de um defeito superficial - ou ainda a metade da altura de um defeito interno Deve ser chamada a atenção de que amáx não é um tamanho de defeito crítico mas sim de um defeito admissível, já que estaria associado a um fator de segurança em torno de dois. A seguinte expressão da MFLE foi usada por Dawes(14,16) para descrever um defeito superficial semi-elíptico em uma placa plana. KI = MtMSσ(π.a)0,5 φ (4.14) da mesma forma para um defeito passante: KI = σ (π.a)o,5 Uma atenção especial foi dada à análise da seção remanescente de trincas superficiais podendo estas até passarem a ser recategorizadas como defeitos passantes. Assim, na análise de Dawes(14,16) quando os cálculos concluíam que acontecia escoamento na seção remanescente, esta deixava de ser considerada e o defeito passava a ser tratado como passante. Deve ser salientado que esta análise de Dawes(14,16), de 1974, foi incorporada pelo Documento Britânico PD 6493(1) , de 1980. 4.5.5 – CONFIABILIDADE DA CURVA DE PROJETO A incidência de fraturas frágeis catastróficas foi reduzida substancialmente nos últimos anos chegando a ser uma ocorrência rara. Este fato tem um significado especial se lembrarmos do crescimento sem precedentes do ritmo de construções estruturais, além das condições cada vez mais severas do regime de operação, condições ambientais, etc. O aumento da segurança está diretamente relacionado com o melhor entendimento dos mecanismos de fratura. Este conhecimento propiciou a mudança da filosofia de "defeitos não permissíveis" para a de "adequação para o uso" ("fitness for purpose") reconhecendo-se, assim, o fato das limitações práticas na obtenção de maiores valores de tenacidade dentro de parâmetros econômicos. Dentro da MFEP a técnica CTOD e uma das abordagens mais utilizadas pois, através da implementação da curva de projeto de origem semi-empírica, possibilita calcular o tamanho de defeitos admissíveis para o nível de tensões a ser imposto à estrutura na prática. Existe a possibilidade, inclusive, de se considerar o efeito de tensões residuais e de concentradores de tensões. A curva de projeto permite definir um tamanho de defeito permissível e não o crítico, ficando associado a um fator de segurança em torno de dois. Uma maneira de avaliar a segurança associada à curva de projeto é através da utilização do ensaio em chapa larga (`Wide Plate Test'). Nesta técnica, chapas de grandes dimensões com defeitos são ensaiadas em tração ou flexão usando-se equipamentos de grande porte (capacidade de até 6.000 toneladas). O trabalho de Dawes e Kamath(15) é um exemplo deste procedimento. Mecânica da Fratura - 35 de 99 Um dos métodos para testar a confiabilidade da curva de projeto é de: fixando um determinado nível de tensões ou de deformação a ser imposta na chapa larga, variar o tamanho do defeito até obter a fratura. O tamanho do defeito, acima do qual houvesse a fratura, seria o defeito crítico (acrít). A comparação deste valor com aquele obtido pela técnica CTOD, através do ensaio de corpos de prova para obter o valor de CTOD crítico e do uso da curva de projeto para calcular o tamanho da trinca admissível (aadm), daria o coeficiente de segurança. O diagrama, a seguir, ilustra o procedimento. 4.5.5.1 - Procedimento para testar a confiabilidade da Curva de Projeto Ensaio em chapa larga ("wide Plate Test") Ensaio CTOD ↓ ↓ Tensão de Fratura (σ) ou CTOD crítico deformação de fratura (ε) ↓ ↓ Cálculo do tamanho do defeito admissível ↓ com a curva de projeto ↓ ↓ aCrít aadm Ô Ó S = acrít / aadm Assim, S seria o fator de segurança. Outra maneira seria a de se calcular o valor de CTOD adimensional (φ) a partir dos valores de CTOD crítico (σc), obtidos do ensaio de CTOD, e do tamanho crítico de trinca (acrít) obtido através do ensaio de chapas largas. O gráfico dos valores de CTOD adimensional (∅) contra o nível de deformação imposto na chapa larga dariam uma idéia do grau de segurança da curva de projeto. Desta maneira, todos os pontos que caíssem à direita da curva de projeto estariam atendendo a previsão da técnica CTOD. Os autores, Dawes e Kamath(14,17) verificaram que o fator de segurança fica realmente em torno de dois para vários tipos de defeitos (defeitos passantes, superficiais) e para várias condições do material (chapa como soldada, com alívio de tensões, etc). 4.6 - BIBLIOGRAFIA [1] PD-6493, "Guindance on Some Methods for the Derivation of Acceptance Levels for Defects in Fusion Welded Joints", British Standards Institution, 1980. [2] BOULTON, C. F, "Acceptance Levels of Weld Defects for Fatigue Service", Welding Research Supplement - Welding Journal, n° 1, pp. 13s-22s, 1977. [3] HARRISON, J. D., "Significance of Defects in Relation to Service Performance", International Institute on Welding and Met. Tech. Conf., Sydney, Austrália, Setembro, 1976. [4] COOTE, R. J., SHELTON, E. H. e KWOK, D. N., "Application of Fitness-for-Purpose Methods to Pipeline Girth Weld", Canadian Metallurgical Quartely, vol. 19, pp.45-58, 1980. [5] WELLS, A. A., "Unstable Crack Propagation in Metals - Cleavage and Fast Fracture", Crack Propagation Symposium Proc., Cranfield College of Aeronautics, 1, p. 210, 1961, cit. ref.15. [6] COTTRELL, A. H., "Theoretical Aspects of Radiation Damage an Brittle Fracture in Steel Pressure Vessels", Iron and Steel Institute Spec. Report, n° 69, p.281, 1961. [7] BRITISH STANDARDS INSTITUTION - BS 5762, Methods for Crack Opening Displacement (COD) Testing", 1979. [8] WELLS A. A., "Application of Fracture Mechanics at and Beyond General Yielding", British Welding Journal, n° 11, pp. 563-570, 1963. Mecânica da Fratura - 36 de 99 [9] BURDEKIN, M. F. e STONE, D. E. W., "The Crack Opening Displacement Approach to Fracture Mechanics in Yielding Materials", Journal of Strain Analysis, vol. 1, n°2, pp.145-153, 1966. [10] HARRISON, J. D., "The State-of-the-Art in Crack Tip Opening Displacement (CTOD) Testing and Analysis", Welding Institute Report, 108, Abril, 1980. [11] HARRISON, I. D., BURDEKIN, F. M. e YOUNG, J. D., "A Proposed Acceptance Standard for Weld Defects Based Upon Suitability for Service", Proc. Second. Conference of Significance of Defects in Welded Structures, Welding Institute, London, Maio, 1968. [12] BURDEKIN, F. M. e DAWES, M. G., "Practical Use of Linear Elastic and Yielding Fracture Mechanics With Particular Reference to Pressure Vessels", Proc. I. Mech. E. Conf., Maio, pp. 28- 37, 1971. [13] EGAN, G. R., Application of Yielding Fracture Mechanics to the Design of Welded Structures", London University, Ph. D Thesis, 1972, cit. ref. 15. [14] DAWES, M. G., "Fracture Control in High Yield Strength Weldments", Welding Research Supplement - Welding Journal, v. 53, p. 369s-379s, 1974. [15] Dawes, M. G. E KAMATH, M. S., "The Crack Opening Displacement (COD) Design Curve Approach to Crack Tolerance", I. Mech. Conf. Tolerance of Flaws in Pressurized Components, London, Maio, pp. 27-42, 1978. [16] DAWES, M. G., "Brittle Fracture in High Strength Weldments", Welding Research International, vol. 4., n° 4, p. 41-73, 1974.
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