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“PEC 241/55 e Reforma da Previdência Emenda Constitucional nº 287 (PEC 287) : instrumentos para o aprofundamento do novo (velho) modelo de desenvolvimento liberal periférico no Brasil” Uallace Moreira Lima Professor Adjunto da Faculdade de Economia da UFBA → A Crise Fiscal da Economia Brasileira 1. Qual a origem da crise fiscal da economia brasileira para o Mainstream Economics? a) Aumento dos gastos correntes e de investimentos do Estado. 2. Impacto dessa situação: a) Crise fiscal com o aumento dos gastos de forma desordenada. b) Crise fiscal com o crescimento da dívida pública. c) Impacto inflacionário. d) Desestimula o investimento privado ao afetar as expectativas dos agentes econômicos. e) O governo é como uma família e não pode gastar mais do que arrecada. 3. Solução do Maistream Economics: a) Cortar gastos públicos correntes e do investimento. b) Proposta da PEC 241 – apresentada como uma questão de interesse nacional de “vida ou morte”. c) Reforma da Previdência. “PEC 241/55 - Emenda Constitucional 95- Novo Regime Fiscal” → A PEC 241/55 1. Define um limite para os gastos do governo federal, que durante 20 anos só será corrigido pela inflação do ano anterior – se aprovada em 2016, a medida valerá até 2036. 2. Qualquer mudança nas regras da PEC só poderá ser feita a partir do décimo ano, e será limitada à alteração do índice de correção anual. 3. Para a saúde e educação, a PEC só terá validade a partir de 2018. 4. A proposta retira dos próximos governantes parte da autonomia sobre o orçamento: a) PEC 241/55 não permitirá o crescimento das despesas totais do governo acima da inflação, mesmo se a economia estiver bem. b) E só será possível aumentar os investimentos em uma área desde que sejam feitos cortes em outras. 5. A Holanda foi usada como exemplo por Darcísio Perondi (PMDB-RS) na Câmara dos Deputados: a) "Vale a pena destacar casos positivos da fixação de teto de gastos. Todos os países que adotaram essa sistemática recuperaram sua economia. A Holanda, por exemplo, adotou limites em 1994, conseguiu reduzir a relação dívida/PIB de 77,7% para 46,8% e enxugou as despesas com juros de 10,7% para 4,8% do PIB. Ao mesmo tempo o desemprego caiu de 6,8% para 3,2%." – Trecho do relatório da PEC 241 na Câmara, de autoria do deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS). → O outro lado da história da crise fiscal e a PEC 241/55 1. Problemáticas Macroeconômicos negadas pelos defensores da PEC 241/55: A) Baixo Crescimento Econômico. b) Redução de Receitas. c) Desonerações Fiscais. d) Crescimento das Despesas Primárias. e) Aumento das Taxas de Juros e Crescimento do Pagamento de Juros Nominais. g)Aumento da Dívida Pública. Fonte: IPEADATA e BCBC Gráfico - Receita Líquida e Despesa Total (%PIB) - Brasil – Anual Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional/Elaboração Própria Gráfico – Despesas com Benefícios Previdenciários, pagamento de Juros Nominais, Pessoal e Encargos Sociais (%PIB) - Brasil – Anual Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional/Elaboração Própria Fonte: IPEADATA Fonte: IPEADATA Fonte: IPEADATA Fonte: auditoriacidada.org.br 2. O real interesse da PEC 241/55: a)Garantir a transferência de recursos para o setor financeiro. b) Atender aos interesses do mercado. 3. Erro em comparar governo com famílias: a) Agregados e impactos dos gastos no PIB. b) Poder de auto endividamento. 4. Os erros em comparar a PEC 241/55 com outros países: a) A Holanda adota um limite de gastos desde 1994. O teto vale para um período de quatro anos e inclui quase todas as despesas, como saúde, seguridade social e o pagamento de juros da dívida pública. b) O modelo holandês impõe um limite também ao pagamento de juros da dívida pública. Isso deixou de acontecer entre 2007 e 2010, quando esse tipo de despesa foi excluída do teto. c) A crise econômica de 2008 levou ainda à exclusão, no teto, de certos benefícios e programas de assistência social e desemprego, entre 2009 e 2010. Mudanças como essas, para reagir a pressões econômicas internas e externas, não serão possíveis durante a vigência da PEC 241, caso ela seja aprovada sem alterações. d) Em 1997, a Suécia criou um rígido sistema de teto de gastos, que não permite alterações nos limites estabelecidos, mas válidos por três anos – não por 20, como quer Temer. e) Na Finlândia, após mais de uma década tentando implementar um limite anual de gastos, o país estabeleceu um teto válido por quatro anos, em 2003. O governo seguinte manteve o regime, introduzindo alterações para torná-lo mais flexível. As limitações para o crescimento das despesas atingem hoje cerca de 75% das despesas federais finlandesas. f) No Japão, as metas de gastos estabelecidas em 2006 deveriam ser seguidas por cinco anos, mas foram abandonadas em 2009, devido à crise econômica. Desde 2011, o país passou a proibir qualquer aumento nos gastos federais de um ano para o outro, com exceção daqueles relacionados ao pagamento da dívida pública – que preocupa por já ter ultrapassou duas vezes o valor do PIB. g) A União Europeia adota uma regra com metas específicas por país, mas que, em geral, limita o aumento das despesas ao mesmo porcentual previsto para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em médio prazo. Além de excluir dos limites os gastos com benefícios para desempregados, a regra permite um aumento mais veloz das despesas, desde que amparado por um crescimento de receitas. h) A PEC 241/55 não repete o regime adotado por nenhuma outra nação, tendo como principais diferenças o longo prazo (20 anos), a correção do teto de gastos apenas pela inflação e a inclusão da norma na Constituição. →Algumas alternativas para a crise fiscal a) Elevação de impostos sobre os que hoje quase não pagam - os mais ricos têm mais de 60% de seus rendimentos isentos de tributação segundo dados da Receita Federal. b) O fim das desonerações fiscais que até hoje vigoram e a garantia de espaço para investimentos públicos em infraestrutura para dinamizar uma retomada do crescimento. c) Com o crescimento maior, a arrecadação volta a subir. d) Reduzir a taxa básica de juros. “A Reforma da Previdência - Emenda Constitucional nº 287 (PEC 287) ” → A Proposta de Emenda Constitucional nº 287 (PEC 287) - Reforma da Previdência 1. Altera diversas regras referentes aos benefícios da Previdência e da Assistência Social: a) Regime Geral da Previdência Social (RGPS), que protege os trabalhadores da iniciativa privada e os servidores públicos que não contam com regimes próprios. b) Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS), voltados a atender as necessidades dos servidores públicos. c) Altera regras da Assistência Social, reduzindo a abrangência e a capacidade de proteção social. → A PEC 287 propõe: 1. Extinguir a aposentadoria por tempo de contribuição; 2. Estabelecer uma idade mínima única para aposentadoria (aos 65 anos) para praticamente todo o conjunto dos trabalhadores (urbanos e rurais; do setor público e do privado; professores; homens e mulheres); 3. Mudar o cálculo e reduzir o valor dos benefícios previdenciários em geral; 4. Proibir acúmulo de benefícios, como pensões e aposentadorias; 5. Desvincular benefícios assistenciais e pensões do salário mínimo. → Regras para aposentadoria 1. A PEC 287, como regra geral, estabelece que a concessão da aposentadoria passa a requerer do segurado pelo menos 65 anos de idade e o mínimo de 25 anos de contribuição mensal: b) Na prática, fica extinta a aposentadoria por tempo de contribuição. c) Hoje o homem se aposenta com 35 anos de contribuição e a mulher com 30 anos de contribuição. d) Pelas regras atuais do RGPS, para se ter acesso à aposentadoria por idade, é necessário que a pessoa tenha completado 65 anos(no caso dos homens) ou 60 anos (mulher) e tenha feito no mínimo o equivalente a 15 anos de contribuição. e) Já conforme as regras vigentes dos RPPS, as aposentadorias por idade se dão a partir dos mesmos limites etários do RGPS, com as condições adicionais de tempo no serviço público (10 anos) e tempo no cargo (5 anos), mas sem exigência de tempo mínimo de contribuição. f) No caso de trabalhadoras rurais, a idade de aposentadoria se eleva dos atuais 55 anos para os 65. 3. Portanto, a adoção de limites mínimos únicos de idade e de tempo de contribuição suprime a diferença de cinco anos entre homens e mulheres nos critérios de idade e de tempo de contribuição requeridos para a aposentadoria, bem como a idade e o tempo reduzidos para trabalhadores rurais e professores da educação básica. 4. Os últimos dados disponíveis mostram que, dos 74,5 milhões de contribuintes do RGPS, 54,4 milhões, aproximadamente, estariam abaixo da idade de aplicação da regra de transição da PEC - 50 anos, para homens; e 45, para mulheres - (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2014): a) Isso significa que, aprovada a PEC, cerca de 76% dos atuais contribuintes só poderão se aposentar aos 65 anos de idade, tendo também que acumular no mínimo 25 anos de contribuição. 5. A proposição de elevação do tempo mínimo de contribuição para concessão de aposentadoria de 15 para 25 anos significa forte enrijecimento da regra de acesso ao benefício. Acumular 25 anos de contribuições mensais ininterruptas não é trivial no mercado de trabalho brasileiro: a) Elevada rotatividade; informalidade e ilegalidade nas contratações; períodos em desemprego e as frequentes transições entre atividade e inatividade econômica. Isso pode ser constatado pelo fato de que, mesmo na chamada clientela urbana do RGPS e sob as regras atuais, mais brandas, aproximadamente 39% das aposentadorias são concedidas por idade e não por tempo de contribuição (MINISTÉRIO DO TRABALHO E PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2016). 6. A idade mínima progressiva: a) A PEC não se limita a fixar a idade mínima de aposentadoria em 65 anos para todos, mas prevê a elevação automática desse requisito mínimo: b) Essa elevação seguiria o aumento da “expectativa de sobrevida” dos brasileiros aos 65 anos de idade, a qual é estimada anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cada vez que esse indicador aumentar em um ano inteiro, também a idade mínima de aposentadoria seria elevada em uma unidade. 7. As regras de transição: a) Aos homens com idade igual ou superior a 50 anos e às mulheres com 45 anos ou mais de idade, na data da eventual promulgação da Emenda Constitucional, não se aplicará a regra geral acima descrita e, sim, uma regra de transição. b) Por essa regra, para obter o benefício de aposentadoria, tais trabalhadores precisarão cumprir um “pedágio” de 50% a mais no tempo que falta para completar o mínimo de contribuições em vigor no momento anterior à promulgação da Emenda. 8. Forma de cálculo do valor inicial da aposentadoria: a) Atualmente, as regras gerais de cálculo para o valor da aposentadoria são as mesmas para os segurados do RGPS e dos RPPS que ingressaram no sistema depois da instituição do respectivo fundo de Previdência complementar, para os quais já está em vigência o teto dos benefícios do RGPS. b) Basicamente, o cálculo toma os 80% maiores salários de contribuição e, tirando-se a média, chega-se ao chamado salário de benefício; sobre esse salário é calculado o valor da aposentadoria e outros benefícios previdenciários. c) No caso do RGPS, o valor da aposentadoria por tempo de contribuição é calculado de duas formas diferentes. Na aposentadoria por tempo de contribuição, desde que satisfeita a condição de pelo menos 30 anos de contribuição (se mulher) ou 35 anos (se homem), toma-se o salário de benefício e aplica-se ou o fator previdenciário ou a fórmula 85/95. O fator previdenciário gera um desconto ou acréscimo no valor do benefício, a depender da idade da aposentadoria e do tempo de contribuição. d) O segurado da Previdência pode optar por uma dessas duas alternativas visando obter o maior valor da aposentadoria. e) A PEC 287 propõe que o valor do benefício de aposentadoria passe a ser equivalente a 51% do salário de benefício mais um ponto percentual a cada ano de contribuição, limitado a 100% do salário de benefício e ao teto do RGPS. f) Para uma aposentadoria integral, o trabalhador precisaria contribuir por 49 anos de forma ininterrupta. g) Tudo indica que o raciocínio utilizado foi: subtrair a idade legal de início de trabalho no Brasil (16 anos) da idade mínima de aposentadoria proposta (65 anos) e fazer com que o resultado dessa diferença (49 anos) corresponda à aposentadoria integral. 9. Aposentadoria rural e contribuições dos agricultores familiares a) Da mesma forma que os trabalhadores urbanos, os assalariados rurais e os segurados especiais produtores da agricultura familiar, na proposta da PEC, terão que atingir a idade de 65 anos para se aposentar. b) Com isso, desaparece a aposentadoria com idade antecipada em cinco anos para os trabalhadores rurais e a distinção de sexo, também de cinco anos. No caso da agricultora familiar, a idade mínima para aposentadoria seria elevada de 55 para 65. Além disso, há o aumento de 15 para 25 anos no tempo de contribuição ou de atividade agrícola. → Controvérsias em torno da reforma da previdência 1. A Contabilidade e a Constituição de 1988: a) O cálculo do déficit previdenciário não está correto, porque não se baseia nos preceitos da Constituição Federal de 1988, que estabelece o arcabouço jurídico do sistema de Seguridade Social. b) O cálculo do resultado previdenciário leva em consideração apenas a receita de contribuição ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) que incide sobre a folha de pagamento, diminuindo dessa receita o valor dos benefícios pagos aos trabalhadores: b) O resultado gera um déficit. 2. Há outras fontes de receita da Previdência que não são computadas nesse cálculo: a) Como a Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) e a receita de concursos de prognósticos. b) Isso está expressamente garantido no artigo 195 da Constituição e acintosamente não é levado em consideração 3. Se calcular conforme exige o artigo 195 , conforme GENTIL (2006): - 2014: a) A previdência teve uma receita de R$ 658.410 bilhões contra despesas de R$ 622.895 bilhões. b) Um superávit de R$ 35,5 bilhões. c) O governo abriu mão de R$136,4 bilhões só em desonerações previdenciárias. d) Um volume de dinheiro que equivaleu a 2,6% do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, de toda a riqueza gerada pelo país em 2014. - 2015: a) A previdência obteve uma receita bruta de R$ 675,1 bilhões, e gastou R$ 658,9 bilhões. b) Gerou um superávit de R$ 16,1 bilhões. c) Os dados preliminares apontam que, em 2015, as desonerações aprovadas pelo governo retiraram da previdência algo em torno de R$ 157.647 bilhões. d) ou 2,75% do PIB. Para este ano, a estimativa é que a perda seja da ordem de R$ 142.965 milhões, ou 2,29% do PIB. 4. A questão das sonegações: a) A reforma da Previdência Social ignora os R$ 426 bilhões que não são repassados pelas empresas ao INSS. b) O valor da dívida equivale a três vezes o chamado déficit da Previdência em 2016. c) Apesar da maior parte das empresas devedoras estarem na ativa, no topo da lista há também grandes companhias falidas há anos, como as aéreas Varig e Vasp. Por isso, nem toda a dívida pode ser recuperada. É provável que quase 60% do valor devido nunca chegue aos cofres do INSS – ou porque são de empresas falidas, em processo de falência, tradicionais sonegadoras ou laranjas.Fonte: Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) Fonte: Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) 5. Crise econômica e Previdência: a) Aumenta as despesas com a previdência. b) Reduz a arrecadação da previdência. Tabela - Resultado da Seguridade Social - Receitas e Despesas - 2005 a 2015 (% PIB) Resultado da Previdência Social Urbana e Rural em milhões (R$) - Brasil – Anual Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional/Elaboração Própria → A Previdência Rural 1. Previdência Urbana x Rural. 2. Regras diferentes para populações diferentes. 3. A Previdência Rural como Política Social. “(...) Apesar do baixo índice de Gini das famílias que recebem aposentadorias e pensões, esse é o segundo componente da renda que mais contribui para a desigualdade total. Nota-se, ainda, que a proporção de famílias abaixo da linha da pobreza aumentaria para 50%, se não existissem aposentados nas famílias rurais do Nordeste.” SILVA, Jorge Luiz Mariano, LOPES, Tatiana de Santana. Efeitos da Previdência Social Sobre a Desigualdade e a Pobreza Rural no Nordeste: Uma Análise da Decomposição do Índice de Gini. Revista Econômica do Nordeste – Vol. 40 nº 01. Jan-Mar. 2009. 6. A expectativa de vida e suas diferenças regionais: a) Diferenças em decorrência da trajetória de desenvolvimento econômico brasileiro. Expectativa de vida ao nascer Brasil – 2015 Fonte: IBGE → Impactos para a Constituição de 1988 1. Conhecida como “Constituição Cidadã”, que nasceu para traduzir uma espécie de novo pacto institucional para a democracia. 2. A democracia prometida institucionalmente pela Constituição de 1988 não diz respeito apenas ao regime de governo, aos direitos de participação política, mas também a direitos de inclusão social. 3. Estado welfarista tem objetivos declarados de transformação social, redução de desigualdades de renda e de oportunidades, e também de desigualdades regionais. 4. Com a PEC 241/55 e a Reforma da Previdência, tudo isso é descontruído institucionalmente. → Conclusão 1. As reformas devem ser vistas em uma estratégia de modelo de desenvolvimento econômico: a) Reforma da Previdência, Reforma Trabalhista e Novo Regime Fiscal (PEC). b) Características do modelo de desenvolvimento liberal periférico - as reformas aprofundam esse modelo na economia brasileira. c) Resultados desse modelo para a economia brasileira - experiência dos anos 1990 e 2000.
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