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EMBRIOLOGIA GERAL

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA 
CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE – DEPARTAMENTO DE MORFOLOGIA 
Profa.Dra. Ivana Beatrice Mânica da Cruz 
 
 1 
 
 
 
 
EMBRIOLOGIA HUMANA: FUNDAMENTOS 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA 
CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE – DEPARTAMENTO DE MORFOLOGIA 
Profa.Dra. Ivana Beatrice Mânica da Cruz 
 
 2 
 
 
1. MECANISMOS, CONCEITOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A 
EMBRIOGÊNESE 
 
 
1.1 Mecanismos Biológicos do Desenvolvimento Humano 
 
O desenvolvimento de animais multicelulares, incluindo o ser humano, possui duas funções 
básicas: diferenciação e reprodução. Assim, cada espécie multicelular possui uma “programação 
ontogenética” estabelecida nos cromossomos da primeira célula que formará o embrião que contem a 
informação dos fenômenos que levarão a formação de um novo organismo. Hoje sabemos que estes 
fenômenos não são determinados se e somente se pela genética do individuo! A maior parte dos mesmos 
é coordenada pela interação entre fatores genético-ambientais. Ou seja, o ambiente interage com a 
programação ontogenética. Apesar de cada sistema corporal ter um padrão específico de 
desenvolvimento, existem processos morfogenéticos que são similares e relativamente simples que 
ocorrem, principalmente ao longo da embriogênese. Como é o material genético (DNA) que comanda a 
morfogênese antes de revisarmos os principais processos associados ao desenvolvimento vamos 
comentar alguns aspectos gerais associados a regulação dos genes. 
 
3.2 Regulação da Expressão Gênica e Desenvolvimento 
 
Você aprendeu que todas as células que possuem núcleo, contêm no seu interior cópia do 
material genético (DNA) associado a proteínas (histônicas e não-histônicas) que está estruturalmente 
organizado sob a forma de cromossomos. Assim, se possuímos 46 cromossomos isto significa dizer que 
temos 46 moléculas de DNA associadas a proteínas. Veja bem, se todas as célula possuem, 
praticamente, o mesmo material genético como estas células fazem para se diferenciar nos diversos tipos 
celulares existentes no nosso organismo (cerca de 216 tipos de células)? Como estas células conseguem 
se organizar em tecidos e em formas tridimensionais denominadas órgãos que possuem estruturas e 
funções específicas? Esta diversidade morfológica vai ocorrer uma vez que nem todas as células do 
organismo possuem os mesmos genes ativos expressando suas proteínas (ou seja, produzindo 
moléculas de mRNA (RNA mensageiro) que são usadas para sintetizar proteínas no reticulo 
endoplasmático rugoso). Sendo assim, a regulação da expressão gênica é o processo chave para o 
desenvolvimento do organismo. 
 
Com base nesta premissa podemos fazer algumas afirmativas gerais associadas ao fenômeno 
da regulação gênica: 
 
(1) Muitos processos biológicos são comuns a todas as células e, portanto a síntese de proteínas 
é similar em todas as células. 
(2) Algumas proteínas são abundantes somente em tipos especializados de células não sendo 
detectadas em outras células. Por exemplo, a hemoglobina só é produzida pelos eritroblastos 
e, portanto só é expressa nos glóbulos vermelhos. 
(3) Estudos sobre a expressão gênica dos eucariotos sugerem que em uma célula humana típica 
em qualquer momento do seu ciclo celular ela expressa aproximadamente de 10 a 20 mil 
genes dos seus 30 mil genes. Quando comparamos a expressão de RNAs entre duas células 
diferentes podemos observar esta variação na expressão gênica. 
(4) O processo de controle da expressão gênica não ocorre somente através do controle da 
transcrição do RNA. Existem controles chamados “pós-transcricionais”, ou seja, que irão 
regular se ocorrerá ou não a síntese de uma proteína (regulando a taxa da degradação do 
mRNA que é uma molécula altamente sensível a enzimas chamadas RNAses ou mesmo 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA 
CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE – DEPARTAMENTO DE MORFOLOGIA 
Profa.Dra. Ivana Beatrice Mânica da Cruz 
 
 3 
regulando a formação das estruturas terciárias e quaternária das proteínas que as tornam 
funcionais). 
(5) A regulação da expressão dos genes pode ser alterada como resposta a influencia do 
ambiente. Ou seja, uma célula pode estar programada para expressar determinado conjunto 
de genes e esta expressão serem alterada pelo efeito de algum fator ambiental, como por 
exemplo, a desnutrição (de macro ou micronutrientes), a desidratação, por temperaturas 
extremas (muito altas ou muito baixas). Alterações genéticas (tanto no DNA quanto nos 
cromossomos) podem levar as mudanças na expressão dos genes. No caso da embriogênese 
a alteração na expressão dos genes é muito dramática porque podem ocasionar as 
chamadas mal-formações (tanto de origem ambiental quanto de origem genética) que serão 
estudadas posteriormente. 
 
1.3 Principais tipos de Regulação da Expressão Gênica 
 
A Figura 1.1 apresenta um esquema geral dos principais tipos de regulação da expressão dos 
genes dos eucariotos que são abaixo brevemente comentados. A Figura 1.2 apresenta um esquema 
geral do gene eucariótico e as principais etapas da produção do RNA (transcrição) até a síntese de 
proteínas. 
 
Controle transcricional: quando a regulação da expressão de um determinado gene é feito via controle 
da quantidade de moléculas de RNA produzidas. O controle transcricional pode ser temporário ou 
mesmo relativamente permanente. Geralmente hormônios, fatores de transcrição, substâncias parácrinas 
ou mesmo a localização física da célula em um dado local do corpo ou a ação de um determinado fator 
ambiental agem na regulação da transcrição de um dado gene. Estes fatores podem interromper a 
expressão do gene (ou seja, a transcrição do RNA é interrompida) ou também podem induzir ou mesmo 
acelerar ou desacelerar a sua expressão. Uma vez que o fator regulatório não esteja mais presente, a 
célula volta ao estado original de expressão daquele gene. Ou seja, a regulação transcricional é 
temporária. Um gene importante para o desenvolvimento inicial do embrião humano é o oct-4. Este 
gene é um fator de transcrição que se une a uma sequência específica de pares de base no DNA 
(ATTTGCAT) que está presente em muitos outros genes. Este gene fica ativo no inicio da embriogênese 
quando as células embrionárias ainda estão em um estado bastante indiferenciado. O gene oct-4 é o 
primeiro gene cuja expressão é necessária para a determinação da linhagem de células que formarão o 
embrião que é diferente da linhagem que formará a placenta. O gene oct-4 também se mantem ativo em 
células não bastante indiferenciadas. Assim, na medida em que as linhagens celulares vão sendo 
desenvolvidas o gene oct-4 vai diminuindo ou mesmo cessando sua atividade nestas células. se 
expressa em todas as células embrionárias iniciais (chamadas de blastômeros). Uma vez que quando o 
zigoto ativa a sua programação genética ele precisa já da proteína OCT-4 os mRNAs iniciais deste gene 
já estão presentes no óvulo (são oriundos da mãe). 
 
Controle Pós-transcricional: além do controle da quantidade de transcritos produzida por um gene 
existem outros tipos de regulação da expressão do gene que ocorrem após a transcrição do RNA deste 
gene. Estes controles pós-transcricionais podem ser agrupados nas seguintes categorias: (1) controle do 
processamento do mRNA (mecanismo de splicing). O mRNA formado a partir do DNA é conhecido 
inicialmente como RNA heterogêneo uma vez que tem sequencias que serão extirpadas no momento em 
que o transcrito passar do núcleo para o citoplasma pelo mecanismo de splicing. Assim, pode ocorrer a 
produção de um transcrito de RNA heterogêneo e o mesmo não sair do núcleo formando o mRNA 
maduro; (2) pela seleção dos RNAs que serão traduzidos no reticulo endoplasmático rugoso em 
proteínas; (3) pela desestabilização seletiva de determinadas moléculas de mRNAs através da 
degradação por enzimas RNAses;(5) pelo controle da atividade das proteínas através da ativação, 
desativação, degradação ou compartimentalização seletiva logo após a sua síntese. 
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Figura 1.1 Esquema geral mostrando os principais tipos de regulação dos genes eucariotos que estão 
associadas à embriogênese. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1.2 Estrutura geral do gene eucariótico. Existe no inicio uma seqüência de bases nitrogenadas 
que não irá ser molde para a molécula de RNA que é conhecida como região promotora. É nesta região 
promotora que moléculas regulatórias como hormônios, fatores de transcrição, grupos metila, etc. se 
ligam e regulam a transcrição dos genes. Logo a seguir existe um códon de iniciação que marca o local a 
partir do qual o transcrito será produzido. Ao longo da seqüência de bases nitrogenadas que ocorre após 
o códon de iniciação existem segmentos que darão origem ao mRNA maduro (transcrito) que são 
denominados exons e segmentos que serão retirados da molécula de RNA (RNA heterogêneo) antes da 
 
 
DNA
Controle
Transcricional
Permanente e
Temporário
Transcrito
Primário
Controle do
Processamento
(Splicing)
Núcleo Citoplasma
mRNA
Controle do
transporte
Controle da
degradação
mRNA
Inativo/ativo
mRNA
Controle
da tradução
PROTEÍNA
Controle
da atividade
da proteína
Proteína
Ativa/Inativa
1
2
3
4
5
6
Regulação Gênica de Eucariotos
DNA
Controle
Transcricional
Permanente e
Temporário
Transcrito
Primário
Controle do
Processamento
(Splicing)
Núcleo Citoplasma
mRNA
Controle do
transporte
Controle da
degradação
mRNA
Inativo/ativo
mRNA
Controle
da tradução
PROTEÍNA
Controle
da atividade
da proteína
Proteína
Ativa/Inativa
1
2
3
4
5
6
Regulação Gênica de Eucariotos
Região
Promotora
Códon
Iniciação
Códon
Finalização
Exon 1 Intron 1 Exon 2 Intron 2 Exon 3Região
Promotora
Códon
Iniciação
Códon
Finalização
Exon 1 Intron 1 Exon 2 Intron 2 Exon 3
htRNA
Transcrição
Splicing
(Processamento)
mRNA maduro
Proteína
Tradução
NÚCLEO
CITOPLASMA
Região
Promotora
Códon
Iniciação
Códon
Finalização
Exon 1 Intron 1 Exon 2 Intron 2 Exon 3Região
Promotora
Códon
Iniciação
Códon
Finalização
Exon 1 Intron 1 Exon 2 Intron 2 Exon 3
htRNA
Transcrição
Splicing
(Processamento)
mRNA maduro
Proteína
Tradução
NÚCLEO
CITOPLASMA
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1.4 Silenciamento de genes 
 
Muitos genes só devem funcionar em períodos determinados do desenvolvimento e em outros 
devem ser desligados, ou seja, “silenciados”! A inativação dos genes ocorre através de processos 
bioquímicos que serão posteriormente comentados. A seguir serão descritos alguns padrões de 
silenciamento de genes relacionados a embriogênese. 
 
 Inativação do cromossomo X: uma vez que as fêmeas dos mamíferos, incluindo as mulheres 
apresentam dois cromossomos X logo no inicio da embriogênese um dos cromossomos X é inativado. 
Deste modo, os genes deste cromossomo são silenciados e apenas um cromossomo X se mantem 
funcional na célula. O que pode ocorrer é que o cromossomo X herdado da mãe permaneça ativo em 
uma dada linhagem celular enquanto que o cromossomo X herdado do pai é o que permanece ativo em 
outra linhagem celular. Assim, apesar as mulheres são funcionalmente hemizigóticas para o cromossomo 
X porque mesmo possuindo este cromossomo duplicado um deles não funcionará. A inativação do 
cromossomo X ocorre na fase inicial do desenvolvimento quando o embrião ainda tem menos de 100 
células. Como esta inativação ocorre? Quando as células entram em mitose a cromatina se condensa 
fortemente formando os cromossomos que são estruturalmente compostos por DNA e proteínas. No 
momento em que a mitose é finalizada ao invés dos dois cromossomos X se descondensarem para 
permitir que seus genes fiquem ativos apenas um cromossomo sexual sofre este processo. O outro 
permanece condensado podendo ser observado nas células que estão na interfase via microscopia ótica 
como uma área condensada fortemente corada denominada corpúsculo de Baar ou cromatina sexual. 
Entretanto, a inativação do cromossomo X não é total. Aproximadamente 25% dos genes do 
cromossomo X (~ 16 genes) que está condensado escapam a inativação e continuam se expressando. A 
maioria destes genes está localizada no braço curto do cromossomo X. Doze genes que permanecem 
ativos são homólogos a genes presentes no cromossomo Y. Outros genes têm inativação variável, às 
vezes estão inativos em alguns indivíduos e outras vezes estão ativos. O processo que leva a inativação 
do cromossomo X está relacionado ao gene XIST localizado no cromossomo X. O produto do gene XIST 
codifica um RNA maduro que é encontrado somente no cromossomo X inativado (no ativo não 
encontramos a proteína X). O gene XIST, portanto determina o padrão de inativação e inicia o 
silenciamento dos genes do cromossomo X. Entretanto, para que o processo seja mantido os genes 
precisarão sofrer outros processos bioquímicos como é o caso da metilação que será posteriormente 
comentada. No processo de formação dos gametas femininos (oogênese) será preciso que o 
cromossomo X inativo seja novamente reativado. O processo de reativação do cromossomo X ocorre 
pela ação da enzima 5-azacitina que irá inibir o processo de metilação. Também ocorrerá diminuição da 
expressão do gene XIST. 
 
Metilação gênica: muitos genes que também estão presentes nos cromossomos autossômicos que 
funcionam em determinados momentos da vida não podem funcionar em outros sob pena de alterarem as 
funções corporais. Para tanto, estes genes precisam ser desligados. Padrões chamados de metilação e 
acetilação constituem bons exemplos deste tipo de regulação gênica. Em termos moleculares a 
metilação consiste em uma modificação na molécula do DNA pela sua ligação com um composto químico 
metila (grupamento CH3). O grupo metila liga-se especificamente a base nitrogenada citosina que 
geralmente precede uma guanina (grupos CpG). Esta ligação é mediada por enzimas denominadas DNA 
metiltransferases. Regiões promotoras são ricas em dinucleotídeos CG e uma vez que ocorre a ligação 
com o grupo metila o gene não responde mais a estímulos internos e externos e, portanto, não transcreve 
mais moléculas de RNA. Assim, dizemos que ele foi desligado. Os genes metilados podem ser 
desmetilados pela ação das enzimas desmetilases. Pode também ocorrer desmetilação passiva no qual 
acontece sem ação enzimática. A metilação do DNA ocorre quase que exclusivamente em CpG de 
células que já estão diferenciadas. A metilação do DNA controla várias funções do genoma que são 
essenciais na embriogênese normal. A Figura 1.3 mostra um esquema que indica que os padrões de 
metilação são bastante altos na vida adulta. Entretanto, logo após a formação a fecudação quando o 
genoma do zigoto é ativado as taxas de metilação caem na medida em que as células se dividem porque 
os genes que estavam desligados precisam ser expressos a fim de garantir o rápido crescimento do 
embrião bem como a sua implantação no útero materno. Entretanto, logo depois, quando as células 
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embrionárias aindanão começaram a se diferenciar as taxas de metilação do genoma voltam a aumentar 
indicando “desligamento de novo dos genes”. 
 
 
 
 
 
Figura 1.3 Padrão de metilação do genoma ao longo do desenvolvimento humano. Como pode ser visto 
logo após a fecundação os genes desligados voltam a serem ativados via desmetilação. Ainda quando o 
embrião não passa de um pequeno aglomerado de células (fase de blástula) os padrões de metilação 
voltam a aumentar. Portanto, existem genes que funcionam só no período muito inicial da embriogênese. 
 
 Entretanto, a ligação da metila com a citosina torna este local do DNA mais suscetível a 
mutações. Caso a citosina seja, por exemplo, substituída por uma timina a célula que herdar este DNA 
não irá metilar esta região. A consequência é que este gene pode voltar a ser ativado. Este processo está 
correlacionado a doenças com destaque ao câncer. Muitos tipos de câncer estão associados ao que 
chamamos de hipometilação do DNA. Atualmente uma quantidade robusta de estudos tem 
demonstrado a importância clinica na alteração destes padrões de metilação tanto para o 
desenvolvimento embrionário que podem levar, não só a mal-formações, mas também ao aumento de 
riscos de doenças na idade adulta ou na velhice do individuo afetado. A associação entre metilação, 
nutrição, desenvolvimento embrionário e doenças neuropsiquiátricas, câncer e cardiovasculares 
no adulto e idoso serão posteriormente comentadas. 
 
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Figura 1.4 Esquema geral (modificado de Aguilera e colaboradores, 2010) que sugere influência 
ambiental materna nos padrões de metilação relacionados a doenças prevalentes em idosos. 
 
 
 
A ação de moléculas sobre o DNA como é o caso da metilação é conhecida como epigenética. 
O termo epigenética surgiu na metade do século XX após estudos que correlacionaram às bases 
genéticas e embriológicas. Atualmente a epigenética é definida como o estudo das modificações do DNA 
e das histonas que são herdáveis e não alteram a sequência de bases do DNA. Além da metilação, o 
material genético pode sofrer outros processos epigenéticos como a acetilação e a fosforilação. Padrões 
de metilação são fortemente influenciados pelo ambiente já que os grupos metilas são obtidos, 
principalmente a partir de alimentos ricos em folato como é o caso dos vegetais verdes escuros (brócolis, 
couve, rúcula, espinafre, etc.). Estados desnutricionais podem alterar os padrões de metilação 
embrionária que aumentam a suscetibilidade dos indivíduos a doenças crônicas como as 
cardiovasculares (principalmente por elevar o risco de obesidade e hipertensão ainda na adolescência) e 
problemas comportamentais e psiquiátricos como a esquizofrenia. A associação entre estado nutricional 
do feto ao nascer (avaliada pelo peso corporal e o peso da placenta) com maior risco de doenças 
crônicas foi estabelecida pelo pesquisador Dr. Barker, pesquisador inglês em 1989. Esta associação foi 
posteriormente descrita em estudos realizados em outros países. Alguns acharam resultados similares e 
outros não. Portanto, para alguns a teoria de Barker é controversa já que existem diversos fatores que 
podem influenciar o peso corporal do feto. Mas em geral as pesquisas experimentais e epidemiológicas 
apoiam tal ideia que ficou conhecida como “hipótese de Barker”, “imprinting fetal” ou mesmo 
“síndrome metabólica fetal”. A base biológica que explicaria esta maior suscetibilidade a doenças no 
feto que tem menos de 2.400 kg ao nascer estaria apoiada em alterações no padrão de metilação 
embrionária e também na ocorrência de um menor número de células do sistema cardiovascular na 
criança de baixo peso. A Figura 1.4 mostra um esquema modificado da revisão feita pelos pesquisadores 
espanhóis Aguilera e colaboradores (2010). O esquema foi organizado a partir de um grande número de 
evidências experimentais e epidemiológicas que indica que os padrões de metilação podem ser alterados 
por fatores ambientais aumentando assim a desaceleração do envelhecimento ou, o risco de doenças 
crônicas e a aceleração do envelhecimento biológico. 
 
 
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Figura 1.4 Esquema geral da Hipótese de Barker mostrando o efeito da desnutrição no metabolismo fetal 
que aumenta a suscetibilidade de doenças cardiometabólicas e cardiovasculares no adulto e idoso. 
 
Imprinting genômico: antigamente pensávamos que a herança genética mendeliana funcionava para a 
totalidade dos nossos genes com padrões de dominância, recessividade e codominância que são bem 
estabelecidos. Entretanto, em alguns casos se observa que apenas um dos alelos de um dado gene (ou o 
alelo materno ou o alelo paterno) irá ser normalmente expresso. Ou seja, o alelo herdado de um dos 
progenitores irá se comportar de forma distinta do alelo herdado pelo outro progenitor. Esse fenômeno 
denomina-se imprinting genômico. O imprinting poderá ser responsável pelo fato de algumas doenças 
ocorrerem quando o gene responsável é herdado da mãe e outras quando o alelo é herdado do pai. Este 
fenômeno foi descoberto no inicio dos anos 80 a partir de resultados obtidos em experimentos com rato. 
Na década de 90 foram descobertos os primeiros genes imprintados e hoje já foram identificados mais de 
20 genes humanos que sofrem imprinting genômico. Os pesquisadores estimam que deva existir entre 
100 a 500 genes “imprintados”. Um exemplo de gene imprintado é o fator de crescimento similar a 
insulina (IGF-2) localizado no cromossomo 11. Este gene está imprimintado no cromossomo de origem 
materna e deste modo é ativo apenas no cromossomo paterno. Ou seja, herdamos o gene tanto da mãe 
quanto do pai, mas apenas o gene presente no cromossomo herdado pelo pai estará ativo. Caso, ocorra 
algum problema genético com o alelo do pai, isto poderá desencadear em alterações no individuo. Em 
camundongos, quando o gene IGF-2 é herdado do pai o tamanho corporal dos animais é normal. 
Entretanto, se ele herdar o alelo da mãe os camundongos terão fenótipo anão. Sabe-se que os genes 
imprintados estão geralmente relacionados ao crescimento embrionário e também ao desenvolvimento 
comportamental. Portanto, o imprinting está associado a algumas síndromes como a síndrome de Prader-
Willi e a Síndrome de Algelman. A síndrome de Prader-Willi ocorre pela perda da função de genes 
localizados no cromossomo 15 e se caracteriza por obesidade, mãos e pés pequenos, baixa estatura, 
hipogonadismo e retardo mental. Em mais ou menos 70% dos casos ocorre deleção da região 15q11-q13 
do cromossomo paterno. Nesta situação o gene que deveria ser expresso pelo pai, pois o alelo materno 
está inativo pelo imprinting não existe. Como não existe, o individuo fica ser a produção dos genes que 
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existe nesta região e por isto desenvolve as características da síndrome. Geralmente a inativação do 
alelo ou materno ou paterno (conforme o gene) se dará via metilação ainda na gametogênese. Outro 
exemplo de imprinting genomico é da condição chamada mola hidatiforme. Esta se caracteriza pelo 
desenvolvimento excessivo dos tecidos que irão originar a placenta do embrião. Isto pode ocorrer como 
resultado da fecundação do óvulo por dois espermatozoides ou pela duplicação do prónucleo masculino 
em um óvulo que tenha perdido o prónucleo feminino (óvulo vazio) 
 
1.4 Conceitos Fundamentais Associados à Embriogênese 
 
Ao estudarmos embriologia existem alguns conceitos que precisam ser considerados incluindo os 
descritos a seguir: 
 
Determinação:na denomina-se determinação o estado que uma célula ou um grupo de células adquire 
no seu desenvolvimento cito-morfogenético. Portanto, a determinação ocorre antes que as modificações 
morfo-funcionais sejam visíveis. Geralmente este estado de determinação é irreversível. 
 
Modulação: processos pelo qual as células adquirem características que podem ser revertidas e que 
podem até mesmo desaparecer depois de um tempo. Estes processos dependem de fatores regulatórios 
e é genericamente conhecido como modulação. 
 
Morfógenos: tanto na determinação quanto na modulação as moléculas que induzem modificações nas 
células são conhecidas como morfógenos. 
 
Potencialidade evolutiva: uma célula pode dar origem a mais que um tipo diferente de células. Este 
processo é denominado potencialidade evolutiva celular. Quanto maior o número diferente de células que 
uma dada célula possui maior a sua potencialidade evolutiva. Aquelas células embrionárias iniciais que 
tem capacidade de dar origem a todas as células do corpo do embrião são conhecidas como células 
totipotentes. Todas as células que dão origem a um maior ou menor número de células diferentes são 
conhecidas como células-troncos. O embrião possui uma grande quantidade de células-tronco (células 
embrionárias). Entretanto indivíduos adultos também possuem células-troncos com propriedades 
regenerativas. Este é o caso das células-tronco que regeram constantemente nossos epitélios, nossos 
ossos, pelos, etc. 
 
Indução: os órgãos são estruturas tridimensionais, complexas, compostas por diversos tipos de tecidos. 
A organização precisa de um órgão, é portanto fundamental para a manutenção das suas funções. A 
coordenação na constucao dos órgãos é regulada por grupos de células que interagem entre si. Esta 
interação próxima é denominada indução. Portanto, existem células ou tecidos indutores e células ou 
tecidos induzidos. A capacidade de células ou tecidos responderem a um sinal indutivo específico é 
denominada competição. Na formação dos órgãos ocorre uma cascata de indução em que ocorrem 
muitas interações celulares que se induzem de modo recíproco. 
 
 
1.5 Processos Fundamentais na Morfogênese 
 
 
A embriogênese ocorre através de fenômenos complexos e interativos relacionados principalmente a 
cinco processos biológicos: divisão celular (mitoses), interações bioquímicas (relacionada à regulação 
dos genes que possibilita as células se diferenciarem e realizarem funções específicas), movimento 
celular que permite com que linhagens celulares se movam no organismo que está em formação, 
adesão celular, processo que fixa as linhagens celulares em determinados locais do embrião a fim de 
formar órgãos e sistemas estáveis e funcionais e mecanismos de morte celular programada (apoptose) 
que irá ser um processo chave na escultura dos órgãos que estão sendo formados. O detalhamento 
destes processos foi descrito no capitulo 1 que versou sobre as bases da biologia celular e do 
desenvolvimento. 
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1.6 Formação dos Tecidos, Órgãos e Sistemas Corporais 
 
A formação dos tecidos, órgãos e sistemas corporais é um evento complexo e altamente 
organizado. Como os estudos têm permitido identificar os principais passos desta formação é possível 
organizar os principais eventos e etapas nos chamados “mapas de destino celular”. No caso, cada 
espécie possui o seu mapa. Aqui estudaremos especificamente o mapa do destino celular do ser 
humano. 
O mapa do destino celular sempre começa no momento da fecundação e da produção das 
primeiras células embrionárias e vai em direção da formação dos tecidos, órgãos e sistemas corporais. 
Assim, no mapa celular uma célula embrionária primitiva é uma célula totipotente (tem potencial para 
diferenciar-se em qualquer tipo de célula) e à medida que o desenvolvimento a avança torna-se 
pluripotente (pode diferenciar-se em um grupo de tecidos específicos, por exemplo, uma célula 
mesenquial pode diferenciar-se em músculo, em osso, em cartilagem etc. e finalmente torna-se uma 
célula determinada ou específica (uma célula com um padrão morfo-funcional específico como, por 
exemplo, um hepatócito, uma célula epitelial, uma célula muscular, etc). A partir de pesquisas que 
acompanham a transformação de linhagens celulares totipotentes em determinadas, puderam ser 
construídos os mapas do destino celular. O mapa do destino celular de um organismo geralmente parte 
de uma estrutura inicial (o ovo ou as estruturas inicias do embrião) e informa o que cada parte irá ser no 
organismo formado. 
A Figura 1.3 apresenta a primeira etapa do mapa do destino celular do ser humano que consiste 
na formação dos principais tipos de tecidos corporais. A partir da formação dos tecidos corporais os 
órgãos, que são estruturas tridimensionais, são formados, bem como, os sistemas corporais 
representados por vários órgãos que trabalham para a execução de determinadas funções. 
Aqui é muito importante salientar que todos os órgãos são formados em maior ou menor grau por 
quatro tipos de tecidos e/ou células: tecido conjuntivo, tecido epitelial, tecido nervoso e tecido muscular 
além de outros tecidos específicos. 
 Porque estes tecidos são importantes? Porque o tecido epitelial geralmente vai participar da 
delimitação física do órgão, recobrindo-o e também através das glândulas a ele associada. O tecido 
nervoso é de fundamental importância porque integra a informação que provem deste órgão para o resto 
do organismo e do organismo para o órgão. O tecido conjuntivo geralmente compõe as células que 
preenchem o órgão junto com células especializadas deste órgão. Adicionalmente o tecido conjuntivo 
pode delimitar órgãos realizando a função de nutrição e suporte. O tecido muscular vai contribuir 
regulando a mobilidade do órgão entre outras funções. Muitos profissionais consideram que existem cinco 
tecidos fundamentais uma vez que incluem o sangue como um tecido fundamental para o funcionamento 
e manutenção dos órgãos corporais. Entretanto, o tanto o tecido muscular quanto o tecido sangüíneo são 
considerados tecidos conjuntivos especializados. 
 
 
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Figura 1.3 Mapa do destino celular do ser humano. Nesta primeira etapa é mostrada a origem dos 
principais tipos de tecidos do organismo. No caso, a endoderme também origina tecido similar ao tecido 
epitelial que, entretanto recobrirá a parte interna do trato digestivo e tecidos envolvidos na formação de 
glândulas do sistema digestório. 
 
 
Zigoto (ovo fertilizado pelo espermatozóide)
Placentas e
Anexos
Embrionários
Massa Celular InternaTrofoblasto
03 Camadas Embrionárias
Ectoderme
Tecido Nervoso
Tecido Epitelial
Mesoderme
Tecidos Conjuntivo
Cartilaginoso Ósseo Muscular Sangue
Endoderme
Conjuntivo
MAPA DO DESTINO CELULAR - I. Formação dos Tecidos
Zigoto (ovo fertilizado pelo espermatozóide)
Placentas e
Anexos
Embrionários
Massa Celular InternaTrofoblasto
03 Camadas Embrionárias
Ectoderme
Tecido Nervoso
Tecido Epitelial
Mesoderme
Tecidos Conjuntivo
Cartilaginoso Ósseo Muscular Sangue
Endoderme
Conjuntivo
MAPA DO DESTINO CELULAR - I. Formação dos Tecidos
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2. SISTEMAS REPRODUTIVOS, CICLOS REPRODUTIVOS E GAMETOGÊNESE 
 
 
A primeira etapa do ciclo biológico é a formação dos gametas que irão produzir um novo embrião via 
fecundação e embriogênese.Para estudarmos estes processos (gametogênese, fecundação e 
embriogênese) é necessário revisarmos aspectos anatômicos e funcionais dos órgãos que compõe o 
sistema reprodutivo feminino e masculino. 
 
 
2.2 Sistema Reprodutivo Feminino 
 
As principais estruturas do sistema reprodutivo feminino que estão envolvidas com a fecundação 
e desenvolvimento embrionário são: os ovários, tubas uterinas, útero e vagina. A Figura 2.1 apresenta um 
esquema geral do sistema reprodutivo destacando aspectos histológicos. 
 
A vagina é um órgão muscular que praticamente não possui inervações sensoriais nas suas 
paredes. Dizemos que é uma cavidade virtual uma vez que seu tamanho se adapta a cópula e ao 
nascimento da criança. Seus aspectos fisiológicos são muito importantes para a dinâmica da fecundação 
como será posteriormente comentado. 
 O útero é o órgão no qual o óvulo fertilizado se implanta e se desenvolve durante a gravidez. É 
histologicamente composto por três camadas teciduais. Um tecido conjuntivo fino no seu exterior que 
delimita o órgão. O miométrio que é uma camada muscular lisa espessa importante principalmente para 
as contrações que ocorrem na hora do parto. O endométrio que é a camada mais interna constituída por 
um epitélio com glândulas e um tecido conjuntivo subjacente. As glândulas mergulham seus túbulos no 
tecido conjuntivo onde liberam seus produtos. A espessura e as características fisiológicas do endométrio 
são variáveis ao longo do ciclo menstrual. A descamação do endométrio que leva a ruptura de capilares 
sangüíneos deste tecido é conhecida como menstruação. 
Ligadas ao útero se encontram as tubas uterinas. Estas estruturas medem de 20 a 25 cm e têm 
um diâmetro semelhante ao de um canudinho de bebidas. Histologicamente as tubas são formadas por 
duas camadas de tecido muscular liso, sendo uma longitudinal e a outra transversal. Um tecido epitelial 
ciliado recobre a parte interna das tubas. Esta disposição é importante para os movimentos contráteis e 
ciliares que empurram o muco e o embrião em direção ao útero. Patologias que levam a imobilidade ciliar 
estão associadas à infertilidade feminina. A abertura final e dilatada das tubas denomina-se fímbrias. As 
fimbrias que possuem um aspecto de franjas estão fixadas próximas ao ovário por um tecido conjuntivo. 
Esta proximidade garante que o óvulo liberado pelo ovário será sugado para o interior da tuba. 
 Os ovários são os órgãos responsáveis pela formação dos gametas e produção de 
hormônios relacionados a manutenção das características sexuais secundárias da mulher. 
Histologicamente os ovários estão divididos na parte medular (mais interna) e cortical. Na medula 
ovariana encontra-se uma grande concentração de capilares sanguíneos enquanto na parte cortical 
encontram-se as células que darão origem aos gametas femininos e as células do estroma que produzem 
hormônios. Histologicamente o ovário é revestido por um epitélio cúbico simples apoiado em um tecido 
conjuntivo denso (túnica albugínea). O estroma também é um tipo de tecido conjuntivo. A Figura 2.2 
apresenta um esquema geral dos tipos de células e período do desenvolvimento das mesmas que é 
observado no ovário. 
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Figura 2.1 Sistema reprodutivo feminino. 
 
 
 
 
 
 
Figura 2.2 Aspectos histológicos das células corticais do ovário. 
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2.3 Sistema Reprodutivo Masculino 
 
 O sistema reprodutor masculino é caracterizado por um conjunto de túbulos com padrões histo-
fisiológicos diferenciados que possuem diferentes funções e glândulas. A Figura 2.3 apresenta um 
esquema geral deste sistema. A genitália externa é formada pelo pênis e o escroto que contém os 
testículos. 
 Os testículos são envolvidos por uma camada grossa de tecido conjuntivo denso (túnica 
albugínea) que emite prolongamentos para o interior do órgão formando septos. Estes septos dividem o 
testículo em lóbulos. Em cada lóbulo existem de 1 a 4 túbulos seminíferos que estão imersos em um 
tecido conjuntivo frouxo que possui grande quantidade de vasos sanguíneos, inervações, sistema linfático 
e células especiais denominadas células intersticiais ou de Leydig. Estas células secretam os 
hormônios esteróides masculinos. 
Os túbulos seminíferos são as estruturas responsáveis pela produção dos espermatozóides 
(gametas masculinos). Estes túbulos são compostos por dois tipos celulares. As células germinativas em 
diferentes estágios do desenvolvimento e as células de Sertoli. As células de Sertoli são ligadas umas 
as outras por junções de oclusão que cria uma barreira entre o sangue e o testículo e assim o movimento 
de moléculas grandes entre estes compartimentos. Estas estruturas funcionam como um mecanismo de 
defesa contra a invasão de microorganismos nos testículos. Além disto, estas células auxiliam na 
nutrição, suporte das células germinativas e na regulação do desenvolvimento dos espermatozóides. 
Produzem e secretam hormônios como a inibina e a ativina, fatores de crescimento e proteínas 
ligantes a andrógenos. 
As células germinativas (espermatócitos primários, secundários, espermátides, etc.) estão 
dispostas na parede do túbulo seminífero de tal modo que as células mais jovens estão próximas a 
parede do túbulo e as espermátides e espermatozóides ao lúmen do túbulo. Esta estrutura permite que 
os espermatozóides produzidos sejam liberados na luz do túbulo e transportados para uma rede testicular 
conhecida como túbulos retos. Destes túbulos os espermatozóides que ainda não possuem capacidade 
de se movimentar sozinhos são empurrados pelo muco em direção ao epidídimo. 
O epidídimo é um túbulo único altamente enrolado formado por um epitélio colunar pseudo-
estratificado cujas células possuem estéreo-cilios. Sua principal função é o armazenamento dos 
espermatozóides onde estes gametas também completam a sua maturação cerca de 12 dias após sua 
chegada nesta estrutura. O epidídimo desemboca em um outro túbulo denominado túbulo deferente que 
faz a ligação do testículo com as estruturas do sistema reprodutivo masculino que estão no interior da 
cavidade abdominal e que se liga a uretra por onde é liberado o esperma. 
O esperma ou sêmen é um composto que contém espermatozóide e produtos de glândulas que 
fazem parte do sistema reprodutivo do homem. Associadas aos ductos deferentes que partem cada um 
de um testículo encontramos as vesículas seminais. As vesículas seminais são responsáveis pela 
produção de 70% do volume do ejaculado. O inicio do canal uretral é envolvido por uma glândula 
conhecida como próstata. A próstata na realidade é um conjunto de 30-50 glândulas formadas por 
epitélio cubóide ou colunar pseudo-estratificado. O seu produto glandular tem como principal função 
elevar o pH vaginal o que leva ao aumento da motilidade dos espermatozóides. Geralmente a vagina 
possui um muco que determina um pH mais acidificado com o objetivo de criar uma barreira química 
contra a invasão de microorganismos. Entretanto, esta acidez também prejudicaria a sobrevivência e 
função dos espermatozóides por este motivo o pH vaginal deve ser neutralizado. 
 
 
 
 
 
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Figura 2.3 Sistema Reprodutivo Masculino. 
 
 
No inicio da uretra que penetra no pênis encontramos as glândulas bulborretais (glândula de 
Cowper). Estas glândulas têm como função a secreção de um muco lubrificante. Histologicamente as 
glândulas bulborretais são revestidas por epitélio cúbico simples.As vesículas seminais e a próstata também produzem enzimas que liquefazem a condensação 
do sêmen na vagina. Em geral todas as glândulas participam na nutrição dos espermatozóides 
produzindo compostos como a frutose e a vitamina C (vesículas seminais) o ácido cítrico (próstata). Um 
componente importante no sêmen é o zinco. Ainda que a sua função seja desconhecida níveis baixos de 
zinco estão associados a infertilidade masculina. 
 
2.4 Formação dos gametas: a meiose 
 
A reprodução sexual foi um elemento fundamental para a geração da diversidade orgânica que 
podemos observar no planeta. Se pensarmos de modo global, tal fenômeno é relativamente simples: a 
reprodução sexual nada mais é que combinação de duas células oriundas, na grande maioria das vezes, 
de dois indivíduos de uma mesma espécie. Dado que, não é qualquer tipo de célula que consegue 
“combinar-se com outra”, chamamos estas células com “potencial combinatório” de gametas. 
 A produção de gametas é altamente complexa. Isto por que, este fenômeno envolve uma série 
de mecanismos bioquímicos e morfo-citológicos, que uma vez desencadeados permitem a “construção de 
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uma estrutura celular diferenciada, que irá conter apenas metade do número cromossômico de uma dada 
espécie. Dizemos então que cada gameta é haplóide (n). No sexo feminino o gameta é genericamente 
chamado “óvulo ou ovo”. No caso, cabe dizer que a denominação é estritamente dependente da língua 
que estamos falando. Na língua Inglesa o estágio de óvulo e ovo é denominado igualmente: egg 
dependendo se o gameta fundiu-se ou não com o gameta masculino, enquanto na Língua Portuguesa, a 
célula gamética no estágio que antecede a fusão é denominada de “óvulo”, e no estágio após a fusão 
com o gameta masculino, tal célula é denominada “ovo ou zigoto”. 
 O primeiro evento que leva a formação gamética (ou seja, a situação de haploidia), sem dúvida, 
é a ocorrência de uma divisão celular diferenciada, genericamente denominada meiose. 
 Na realidade, a meiose possui três grandes funções que estão diretamente associadas à 
reprodução sexual e a diversidade gerada por tal fenômeno: 
 
1) reduz o número de cromossomos das células gaméticas, o que permitirá que a mesma se funda com 
outro gameta, formando uma célula totipotente, capaz de originar um novo organismo tridimensional 
a partir de uma única célula (do ovo); 
 
2) O produto final da meiose sempre será quatro células haplóides (n), ainda que no sexo feminino 
apenas uma seja funcional (óvulo), enquanto no sexo masculino as quatro são funcionais 
(espermatozóides); 
 
3) Durante a meiose, podem ocorrer eventos genéticos que levam a troca de segmentos dos 
cromossomos homólogos, aumentando com isto a variabilidade dos organismos, portanto a terceira e 
importante função da meiose é gerar diversidade genética através da recombinação (eventos 
denominados de permuta ou crossing-over). Estes eventos de recombinação podem ser visualizados 
em nível de microscopia ótica, por que produzem ligações entre cromossomos homólogos em 
regiões específicas. Tais ligações são denominadas de “quiasma (singular) ou quiasmata (plural)”. 
 
4) A divisão celular meiótica, ao contrário da mitose, envolve a ocorrência de duas divisões celulares 
seqüenciais, que são denominadas de meiose I e meiose II. A Figura 2.4 mostra de modo 
esquemático as principais etapas da meiose. 
 
2.5 Gametogênese 
 
O desenvolvimento de um organismo multicelular é usualmente iniciado com a fecundação 
(fertilização) do óvulo pelo espermatozóide. O espermatozóide e o óvulo possuem diferentes papeis para 
que um novo organismo possa ser gerado. O espermatozóide deve “procurar” o óvulo para poder se 
fundir com ele e “entregar” a sua parte do conteúdo genético. Esta parte irá então juntar-se a outra 
metade do óvulo. Por outro lado, o óvulo terá que Ter a capacidade de “responder ao espermatozóide” 
quando o mesmo o contatar, ignorando o contato de espermatozóides que não seja da sua espécie. 
Como espermatozóide e óvulo possuem metade do número de cromossomos de uma dada espécie, 
dizemos que os mesmos são células haplóides (n). Com a fertilização a célula formada retorna ao 
estado diplóide (2n). 
 
Os gametas são derivados de células germinativas primordiais. Estas células são produzidas pelas 
gônadas masculina e feminina, testículos e ovários, respectivamente. A formação de uma linhagem 
germinativa depende da presença do chamado germoplasma. O germoplasma é um componente 
citoplasmático diferente que torna as células gaméticas diferentes das células somáticas. 
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 Quando a linhagem primordial de células germinativas é estabelecida na gônada, as células-
tronco desta linhagem dividem-se por mitose para produzir os gametas requeridos para que o organismo 
se reproduza. Nas gônadas tais linhagens podem estar associadas a outros tipos celulares que auxiliam 
na nutrição, suporte e proteção das células germinativas. Em geral, as células que dão suporte as células 
das gônadas são denominadas células foliculares. Podemos reconhecer três fases gerais no processo 
de formação gamética que serão estudadas com maior profundidade posteriormente: 
 
1ª) Fase proliferativa: durante esta fase as células germinativas são denominadas gônias 
(espermatogônia no sexo masculino e oogônia no feminino). Estas células agem como um “tronco celular” 
que se divide por mitose e garante matéria-prima para a formação gamética. A divisão das células da 
gônia pode ser incompleta. Se isto ocorre, as células-filhas permanecem comunicadas umas com as 
outras, por pontes intercelulares. Divisões incompletas sucessivas legam a formação de um grande 
conjunto de células interconectadas. Esta comunicação intercelular pode servir para sincronizar o 
desenvolvimento das células associadas. 
 
2ª) Fase de produção dos gametas (gametogênese propriamente dita): Quando o organismo atinge 
a maturidade ele adquire a habilidade de tornar os seus gametas funcionais através da meiose. O produto 
final desta fase será a formação do gameta masculino e feminino. As fases de produção gamética, bem 
como a sua associação como processo meiótico pode ser visualizada na Figura 2.5. 
 
3ª) Fase de diferenciação gamética: o gameta depois de formado pode passar por processos 
morfo-funcionais que o tornam apto a fecundar. Esta fase acontece de modo típico na produção do 
gameta masculino. Isto porque a célula gamética formada terá que se transformar em um espermatozóide 
funcional. Denominamos este processo de espermiogênese. 
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Figura 2.4 Esquema geral da meiose. 
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Figura 2.5 Principais etapas da gametogênese masculina e feminina. 
 
 
 
 
 
 
 
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2.6 Espermatogênese 
 
 No homem, a meiose precede a diferenciação da célula sexual. Dentro dos testículos células 
precursoras dos gametas irão se dividir por mitose. Tais células são as espermatogônias. Nos 
vertebrados as espermatogônias são encontradas ao redor da região que dápara a luz de cada túbulo 
seminífero. Uma espermatogônia cresce e sofre a primeira divisão meiótica transformando-se em 
espermatócito primário. Esta célula apesar de ser considerada 2n possui seu conjunto cromossômico 
inteiro duplicado 9 (duplicação das cromátides). Assim, se for um gameta da espécie humana ele 
possui neste momento 92 cromossomos. Entretanto, cada dois conjuntos de 46 cromossômicos estão 
unidos por um mesmo centrômero. Por este motivo, é considerado por muitos autores como uma célula 
2n. 
 A divisão meiótica continua formando espermatócitos secundários. Cada um dos quais 
também é 2n. A partir do espermatócito secundário a segunda divisão meiótica completa-se. Dos dois 
espermatócitos secundários formados, cada um dá origem a duas espermátides com metade do número 
de cromossomos (n). No final do processo cada espermatogônia diplóide acaba gerando quatro 
espermátides haplóides. 
 A formação de quatro células haplóides a partir de uma única gônia é importante, porque em 
geral, machos precisam produzir milhões de espermatozóides simultaneamente para ter potencial de 
fecundar um óvulo. Muitas espermatogônias podem estar unidas por pontes intercelulares. Quando 
ocorre a formação das espermátides, estas pontes são perdidas e junto com ela uma parte do conteúdo 
citoplasmático que não será necessária para a formação do espermatozóide. 
 
2.6.1 Espermiogênese 
 
 A primeira vez que um espermatozóide foi observado e descrito foi no ano de 1678 por Anton 
van Leeuwenhoek, um microscopista holândes. Em um primeiro momento, ele pensou que aquela 
estrutura móvel era uma espécie de parasita que vivia nos testículos dos machos, e portanto, nada 
tinham haver com a reprodução. Desta concepção que surgiu o nome “espermatozóide ou 
espermatozoa”, ou seja animais que vivem no esperma. Foi somente em 1824 que Prevost e Dumas 
descobriram que os espermatozóides ao contrário de serem parasitas eram as células que 
potencialmente fecundavam o óvulo (células reprodutivas). 
Em 1840, von Kollinker descreveu pela primeira vez a formação dos espermatozóides a partir 
das células testiculares. Apesar da sua grande descoberta, Kollinger ainda pensava que o 
espermatozóide tinha função somente de “excitar o desenvolvimento embrionário do óvulo” sem que 
houvesse contato entre os dois gametas. Propôs então que o espermatozóide funcionaria como um 
magneto. Somente em 1876 se comprovou experimentalmente que o espermatozóide fundia-se com o 
óvulo para formar um novo ser. Vejamos como uma espermátide transforma-se nesta célula capaz de 
fundir-se com outra e orientar o desenvolvimento de um organismo. 
Todas as estruturas presentes em um espermatozóide maduro são provenientes da 
transformação de organelas citoplasmáticas presentes no espermatócito. Cada uma destas estruturas 
terá uma função bem definida a fim de que o gameta possa ter capacidade de fecundar. 
Para estudarmos a espermiogênese, acompanhe a Figura 2.6 que descreve as principais partes 
do espermatozóide e suas respectivas funções. A Figura foi estruturada a partir do esquema apresentado 
em Gilbert (1994). 
Cada espermatózoide é formado por quatro regiões morfologicas definidas: cabeça, pescoço, 
peça intermediária e flagelo. Na cabeça existe o núcleo onde fica o material genético haplóide. Na 
região frontal do núcleo observa-se uma outra estrutura denominada acrossomo ou vesícula 
acrossômica. Esta estrutura é originada a partir do complexo de Golgi. Ela possui uma forma parecida 
a de um saco que contém enzimas capazes de digerir açucares e proteínas complexas que estão 
presentes nos envoltórios do óvulo. Segundo autores como Gilbert (1994) podemos considerar o 
acrossomo como um lissosomo modificado. Em muitas espécies que vivem em ambiente marinho, as 
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enzimas presentes no acrossomo podem também servir para o reconhecimento entre os gametas da 
mesma espécie. 
O pescoço faz a ligação entre a cabeça e a peça intermediária. Nesta encontra-se uma grande 
quantidade de mitocôndrias dispostas ao redor da região inicial do flagelo. A função das mesmas é 
fornecer energia sob a forma de ATP para que o gameta possa se locomover em direção ao óvulo. 
Denominamos o conjunto destas mitocôndrias presentes na peça intermediária, de bateria mitocondrial. 
Existe uma grande diversidade de espermatozóides na natureza. Entretanto, naqueles grupos 
animais mais complexos, este costuma ser dotado de uma estrutura propulsora formada por um flagelo. 
O flagelo como estrutura locomotora origina-se a partir do centríolo que permite o formação de 
microtúbulos. Os microtúbulos formam a parte motora do flagelo que é denominada axonema. Também 
no flagelo encontramos uma proteína denominada dineína. A dineína tem como função a hidrólise da 
adenosina trifosfato (ATP) produzida pelas mitocôndrias. Ela transforma a energia química do ATP em 
energia mecânica que impulsiona o espermatozóide. Na espécie humana, existem alguns homens que 
possuem uma deficiência genética denominada Síndrome Tríade de Kartagener. Estes indivíduos não 
sintetizam dineína e seus espermatozóides não conseguem se locomover. Portanto, estes indivíduos são 
estéreis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2.6 Padrão cito-morfológico do espermatozóide e principais aspectos da espermiogênese 
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2.7 Oogênese 
 
 De modo geral a oogênese é um pouco mais complicada do que a espermatogênese. Isto 
porque na natureza o óvulo ou ovo produzido apresenta variações importantes e que interferem no 
desenvolvimento inicial do embrião. Portanto, para estudarmos os mecanismos de oogênese teremos 
primeiro que considerar os tipos de ovos que existem no Reino Animal. 
 
2.7.1 Características gerais do gameta feminino 
 
 Os óvulos são classificados em função da quantidade de substâncias nutritiva que eles 
armazenam. Denominamos o conteúdo nutricional presente no óvulo de vitelo. Existem quatro tipos 
básicos de óvulos segundo a quantidade e distribuição de vitelo dentro dele. O tipo de ovo irá 
determinar principalmente como irá acontecer as primeiras divisões celulares do organismo (clivagem) 
entre outras coisas. No caso, o ser humano possui um ovo do tipo oligolécito que tem pouca quantidade 
de citoplasma. 
De uma forma geral a oogênese mais complexa ocorre em mamíferos, incluindo o homem. A 
seguir comentaremos os principais aspectos relacionados com a oogênese. 
 A oogônia prolifera-se também por divisão mitótica no ovário assim como ocorre com a 
espermatogônia. Elas também entram em um período de crescimento tornando-se oócitos primários 
(que sofrem a primeira divisão meiótica). No ser humano (nos mamíferos em geral) a formação dos 
oócitos primários é restrita a vida embrionária da mulher. Deste modo, todos os óvulos produzidos 
pela mulher ou outras fêmeas de mamíferos derivam de oócitos primários que se desenvolveram quando 
as mesmas eram embriões, e, portanto já se encontravam nos seus ovários quando as mesmas 
nasceram. 
 O oócito primário completa a primeira divisão meiótica e torna-se um oócito secundário, 
liberando o primeiro corpúsculo polar. O primeiro corpusculo polar como tem pouco citoplasma, 
degenera e morre. Potencialmente, quando o oócito secundário termina a divisão meiótica torna-se um 
óvulo maduro, liberando o segundo corpúsculo polar. Como o segundo corpúsculo polar também morre o 
número de óvulos produzidos a partir de uma oogônia é um! “Dizemos que potencialmente o oócito 
secundário dá origem ao óvulo porque na realidade no processo denominado “ovulação”a estrutura 
expulsa do ovário não é um óvulo maduro, mas ainda é um oócito secundário. Portanto, mulheres só 
ovulam, caso sejam fecundadas. É bom lembrar que o ovócito secundário já é considerado uma 
célula haplóide mas contem ainda os cromossomos (material genético) duplicados (tétrades). 
Nos seres humanos (em cordados, especialmente em mamíferos) o ocócito primário é envolto 
por células ovarianas denominadas “células foliculares”. As células foliculares e o oócito produzem 
microvilosiddades semelhantes a dedos que se interdigitam. O espaço ocupado pelas microvilosidades 
formada pelas células foliculares e pelo oócito é denominado zona radiata. Estas células terão a função 
de nutrir o ovócito quando o mesmo for ovulado (ou seja, quando ele deixa o ovário). 
Ao longo da oogênese no ovário, com o passar do tempo os espaços entre as células foliculares 
começam a se encher de líquido formando uma cavidade denominada Antro. As células foliculares 
formam um estrato epitelial estratificado denominado estrato granuloso. Ao redor do estrato granuloso 
existe uma camada e tecido conectivo conhecido como teca. A expulsão do ovócito secundário 
(ovulação) ocorre quando o antro rompe e atira longe o oócito que é sugado pelas tubas uterinas 
(trompas de Fallopio). A camada de células foliculares que permanece ao redor do ovócito é denominada 
de corona radiata. O local do folículo rompido que fica vazio após a expulsão do ovócito torna-se uma 
estrutura denominada corpo lúteo. Caso não haja fecundação, esta estrutura degenera. 
 
2.7.2 Envoltórios e citoplasma do óvulo 
 
Envolvendo o citoplasma do óvulo existe a membrana plasmática. Esta membrana regula o 
fluxo de determinados íons durante a fecundação e tem a capacidade de se fundir com a membrana do 
espermatozóide da espécie durante a fecundação. Envolvendo a membrana plasmática no lado de fora 
do óvulo, existe o envoltório vitelínico. Este é formado por glicoproteínas e é essencial para o 
reconhecimento do espermatozóide da espécie, principalmente em animais de fecundação externa. Em 
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mamíferos, que são animais basicamente de fecundação interna, o envoltório vitelínico é mais fino e 
denominado zona pelúcida. Esta camada acelular é de grande relevância para a reprodução já que 
possui diversas funções entre as quais podemos citar: (1) atua como barreira que em geral, permite que 
apenas espermatozoides da mesma espécie a atravessem; (2) inicia a reação que irá desencadear a 
fecundação propriamente dita do espermatozoide com o óvulo (reação acrossômica); (3) após a 
fecundação sofre modificações bioquímicas que impedem a entrada de outros espermatozoides para 
dentro do óvulo; (4) durante as primeiras etapas da embriogênese funciona como um filtro poroso que 
pemite a entrada de algumas substâncias provenientes das tubas uterinas e impede a entrada de outras 
substâncias;(5) serve como barreira imunológica entre os tecidos da maternos e embrionários impedindo 
que a mãe reconheça o filho como um corpo estranho e o destrua; (6) impede que as células 
embrionárias inicias que estão sendo produzidas se dissociem e se espalhem; (7) facilita a diferenciação 
das primeiras camadas celulares que formarão o embrião. Rodeando esta zona encontra-se as células do 
cúmulos ou corona radiata formada por células foliculares ovarianas. 
A região do citoplasma mais próxima a membrana plasmática é denominada cortéx. Durante a 
fecundação estas moléculas irão formar microfilamentos necessários para o início da divisão celular. 
Existe também nesta região grânulos corticais que contém enzimas digestivas, mucopolissacarídeos e 
proteína hialina. Estas substâncias costumam impedir a poliespermia que será abordada no próximo 
capítulo que trata sobre fecundação. Os grânulos corticaias são estruturas membranosas formadas pelo 
aparelho de Golgi. Em camundongos existem cerca de 4 mil grânulos corticais enquanto no ouriço existe 
15 mil grânulos corticais. 
 
2.7.3 Controle hormonal da ovulação 
 
Em muitas espécies, incluindo o ser humano, a ovulação está associada a um controle hormonal 
que pode responder a variações ambientais como temperatura, umidade, estado nutricional etc. Este 
controle é importante por que para muitas espécies que vivem em ambientes cuja a variação de fatores 
abióticos e bióticos é instável, ele servirá para sinalizar se a mesma deve ou não se reproduzir existindo 
maior ou menor chance dos embriões gerados chegarem a maturidade. Neste livro estudaremos com 
maior profundidade a regulação hormonal da ovulação na mulher, nos capítulos que tratarem sobre 
desenvolvimento embrionário humano. Muito provavelmente em livros textos e disciplinas que versam 
sobre zoologia e ecologia, você irá encontrar vários exemplos de regulação diferenciada da reprodução 
segundo as condições ambientais. 
A seguir comentaremos os principais aspectos relacionados com a oogênese. 
 A oogônia prolifera-se também por divisão mitótica no ovário assim como ocorre com a 
espermatogônia. Elas também entram em um período de crescimento tornando-se oócitos primários 
(que sofrem a primeira divisão meiótica). No ser humano (nos mamíferos em geral) a formação dos 
oócitos primários é restrita a vida embrionária da mulher. Deste modo, todos os óvulos produzidos 
pela mulher ou outras fêmeas de mamíferos derivam de oócitos primários que se desenvolveram quando 
as mesmas eram embriões, e portanto já encontravam-se nos seus ovários quando as mesmas 
nasceram. 
 O oócito primário completa a primeira divisão meiótica e torna-se um oócito secundário, 
liberando o primeiro corpúsculo polar. O primeiro corpusculo polar como tem pouco citoplasma, 
degenera e morre. Potencialmente, quando o oócito secundário termina a divisão meiótica torna-
se um óvulo maduro, liberando o segundo corpúsculo polar. Como o segundo corpúsculo polar também 
morre o número de óvulos produzidos a partir de uma oogônia é um! “Dizemos que potencialmente o 
oócito secundário dá origem ao óvulo porque na realidade no processo denominado “ovulação” a 
estrutura expulsa do ovário não é um óvulo maduro, mas ainda é um oócito secundário. Portanto, 
mulheres só ovulam, caso sejam fecundadas. 
Nos seres humanos (em cordados, especialmente em mamíferos) o ocócito primário é envolto 
por células ovarianas denominadas “células foliculares”. As células foliculares e o oócito produzem 
microvilosiddades semelhantes a dedos que se interdigitam. O espaço ocupado pelas microvilosidades 
formada pelas células foliculares e pelo oócito é denominado zona radiata. Estas células terão a função 
de nutrir o ovócito quando o mesmo for ovulado (ou seja quando ele deixa o ovário). 
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Ao longo da oogênese no ovário, com o passar do tempo os espaços entre as células foliculares 
começam a se encher de líquido formando uma cavidade denominada Antro. As células foliculares 
formam um estrato epitelial estratificado denomidado estrato granuloso. Ao redor do estrato granuloso 
existe uma camada e tecido conectivo conhecido como teca. A expulsão do ovócito secundário 
(ovulação) ocorre quando o antro rompe e atira longe o oócito que é sugado pelas tubas uterinas 
(trompas de Fallopio). A camada de células foliculares que permanece ao redor do ovócito é denominada 
de corona radiata. O local do folículo rompido que fica vazio após a expulsão do ovócito torna-se uma 
estrutura denominada corpo lúteo. Caso não haja fecundação, esta estrutura degenera. 
 
2.7.4 Envoltórios e citoplasma do óvulo 
O citoplasma do óvulo é envolvido pela membrana plasmática assim como ocorre em todas as 
células corporais. Alémda estrutura e propriedades comuns a todas as membranas plasmáticas a 
membrana do óvulo regula o fluxo de determinados íons durante a fecundação e tem a capacidade de 
se fundir com a membrana do espermatozóide da espécie durante a fecundação. Envolvendo a 
membrana plasmática no lado de fora do óvulo, existe o envoltório vitelínico. Este é formado por 
glicoproteínas e é essencial para o reconhecimento do espermatozóide da espécie, sendo denominado 
zona pelúcida. Rodeando esta zona encontram-se as células que formam a corona radiata. 
Durante a fecundação estas moléculas irão formar microfilamentos necessários para o início da 
divisão celular. Existem também nesta região grânulos corticais que contém enzimas digestivas, 
mucopolissacarídeos e proteína hialina. Estas substâncias costumam impedir a poliespermia. 
 
2.7.5 Ciclos femininos e controle hormonal 
 
Um esquema geral dos dois ciclos femininos: ovariano e uterino é apresentado na Figura 2.7 
 
2.7.5.1 Ciclo ovariano 
 
A ovulação está associada a um controle hormonal que pode responder a variações ambientais 
como temperatura, umidade, estado nutricional, etc. A mulher possui dois ciclos concomitantes: o ciclo 
uterino e o ovariano. Os dois ciclos estão sob controle dos seguintes hormônios: 
- Hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) que é produzido pelo hipotálamo 
- Hormônio luteinizante (FH) e folículo estimulante (FSH) produzidos pela adenohipófise. 
- Estrogênio, progesterona e inibina que são produzidos pelo ovário. 
Os ciclos duram aproximadamente 28 dias e se padronizou o seu inicio a partir do primeiro dia 
de menstruação da mulher. Os ciclos estão divididos em fases. 
 
 
No ciclo ovariano as principais fases são: 
 
(1) Fase folicular – ocorre crescimento dos folículos secundários. Nesta fase ocorre 
aumento gradativo de estrogênio com um pico hormonal que antecede a fase da 
ovulação. 
(2) Fase da ovulação – ocorre a liberação do ovocito secundário a partir do ovário. Nesta 
fase ocorre um aumento intenso dos hormônios LH e FSH bem como da inibina. 
 
(3) Fase lútea – as células foliculares do ovócito liberado que permaneceram no ovário 
começam a secretar hormônios. Uma vez que elas aumentam de tamanho e passam a 
conter grande quantidade de gordura passam a ser conhecidas como corpo lúteo. Caso 
não haja fecundação,como anteriormente comentado, o corpo lúteo degenera 
aproximadamente 28 dias após o inicio do ciclo. O local onde estava o corpo lúteo é 
observável e conhecido como corpo albicans (corpo branco). Os níveis de 
progesterona aumentam muito nesta fase. Este hormônio tem um papel importante no 
preparo do organismo feminino para o desenvolvimento embrionário. 
 
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2.7.5.2 O ciclo menstrual ou uterino 
 
O ciclo uterino também possui três fases. A primeira é a fase menstrual (menstruação) 
caracterizada pela descamação do endométrio com perda de sangue. Esta fase dura 
aproximadamente 3-5 dias e finaliza em torno do sétimo dia. A seguir inicia a fase proliferativa onde 
o endométrio volta a crescer Em torno do 14º dia (coincidente a ovulação) o endométrio está histo-
fisiologicamente pronto para receber o embrião caso houver fecundação. A terceira fase é 
denominada fase secretora em que as glândulas endometriais, sob a influência da progesterona, 
continuam aumentando o seu enrolamento e continuam o seu preparo para a gestação. As células 
endometriais depositam lipídios e glicogênio no seu citoplasma. Estes depósitos vão fornecer 
nutrientes para o desenvolvimento embrionário inicial caso haja fecundação. A progesterona também 
torna o muco produzido pelo colo uterino, mais espesso para que não entrem microrganismos e 
espermatozóides no interior do útero protegendo assim o embrião em formação. A progesterona 
possui um efeito termogênico que aumenta a temperatura corporal da mulher na hora de acordar de 
34ºC para 36ºC. Esta informação é comumente utilizada para se descobrir se a mulher está tendo 
ciclos ovulatórios ou anovulatórios. 
 
 
 
 
 
 Figura 2.7 Esquema geral dos dois ciclos femininos (ovariano e uterino). Estes ciclos são 
hormonalmente regulados. 
 
 
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3. FECUNDAÇÃO E PRIMEIRA SEMANA DO 
DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO 
 
3.1 Fecundação 
 
A embriogênese inicia a partir do momento da fecundação do óvulo pelo espermatozóide. A 
fecundação também é um evento complexo e ainda muito estudado. A partir as evidências científicas 
levantadas, os seguintes eventos podem ser observados na grande maioria dos mamíferos e no ser 
humano (Figura 3.1). 
1) Capacitação 
2) Reação acrossômica 
3) Fusão com a membrana plasmática 
4) Reação de zona (acontecimentos pós-fusão da membrana) 
5) Finalização da meiose 
6) Fusão dos prónúcleos masculino e feminino 
 
A seguir passaremos a comentar aspectos relacionados a cada um destes eventos: 
 
3.1.1 Capacitação 
 
Ao contrário do que possa ser pensado, o trato reprodutivo da fêmea, em especial a vagina, tem um 
papel muito dinâmico no processo de fecundação. Isto porque os espermatozóides quando são recém-
ejaculados dentro deste órgão, ainda não são capazes de fecundar o óvulo (ovócito). Para que eles se 
tornem potencialmente espermatozóides fecundadores, eles irão ter que passar por um processo 
denominado de capacitação. Como foi visto no sistema reprodutivo masculino, os espematozóides são 
banhados por substâncias nutritivas e protetoras (anti-corpos) produzidas por glândulas acessórias. 
Muitas destas substâncias formam um complexo de glicoproteínas que envolve os espermatozóides e 
impede-o de fecundar. O fenômeno de capacitação é o da “degradação destas moléculas” tornando-o 
espermatozóide apto à fecundar. Os mecanismos moleculares deste processo ainda não são bem 
conhecidos. Entretanto, podemos mimetizar a capacitação in vitro, utilizando solução salina. No ser 
humano, o fenômeno de capacitação ocorre em 6-7 horas após o espermatozóide estar no trato feminino. 
Durante o período de capacitação o espermatozóide está movendo-se em direção as tubas uterinas 
atraído pelo óvulo. Além dos movimentos flagelares, os espermatozóides são auxiliados por ondas de 
contração muscular da vagina, causadas em parte pela excitação sexual e pela estimulação a 
movimentação feita por prostaglandinas, uma substância que está presente no esperma. 
 
 
3.1.2 Reação acrossômica 
 
A ação de milhões de espermatozóides (capacitados) juntos circundando a corona radiata, 
acaba facilitando a passagem dos gametas através desta primeira camada de célula que envolve o ovócito. 
É importante salientar que se os espermatozóides não estiverem capacitados eles ficam presos na matriz 
da corona radiata, além do que a “ação conjunta” dos espermatozóides neste processo é fundamental. 
Portanto, ao contrário do que possa ser pensado, o espermatozóide não tem um comportamento 
“competitivo” em relação a outro espermatozóide, mas sim um “comportamento cooperativo”. Caso 
houvesse uma competição para ver que iria fecundar antes o óvulo, certamente as espécies teriam evoluído 
para a produção de um ou poucos “super-espermatozóides”. Não é o caso, sabe-se que, a baixa 
concentração de espermatozóides no sêmen, ao contrário de favorecer, prejudica e pode inclusive levar a 
infertilidade masculina. Uma das enzimas envolvidas na reação acrossômica é a é a hialuronidase que 
auxilia a desencadear o processo. Esta enzima é uma lisina liberada pelo acrossomo que dissolve 
mucopolissacarídeos e o ácido hialuronico presentes na corona radiata. Assim que um espermatozóide liga-
se a zona pelúcida (que é similar ao envoltóriovitelínico em espécies de fecundação externa), ocorre a 
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reação acrossômica. A reação acrossômica pode ser dividida segundo Gilbert (1994) em duas fases: 1ª 
Fase - Ligação primária do espermatozóide à zona pelúcida: a reação acrossômica ocorre quando, 
estimulado pela zona pelúcida, a região anterior da cabeça do espermatozóide funde-se ao 
acrossomo, e as enzimas localizadas nesta estrutura são liberadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3.1 Principais fases da fecundação. 
 
3.1.3 Fusão da membrana plasmática do espermatozóide com a do óvulo 
Após a reação acrossômica, ocorre a fusão da membrana plasmática dos dois gametas. A fusão é um 
processo dinâmico mediado por proteínas fusogênicas presentes no espermatozóide. 
 
A divisão celular acontecerá, entretanto o tamanho das células formadas serão menores do que a primeira 
célula. Deste modo o embrião em formação permanece com o mesmo tamanho original durante a clivagem. 
 
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Quando o embrião contém cerca de 8-16 células ele é denominado mórula por possuir uma estrutura 
semelhante a uma amora. Logo após este período ocorre o fenômeno da compactação. A compactação 
ocorre porque os blastômeros mais externos se aderem uns ao outros através de junções comunicantes 
entre as células que aumenta a sua interação para que ocorram trocas de compostos bioquímicos 
relacionados a diferenciação. 
 
3.1.4 Reação de zona 
 
Logo após a fusão das duas membranas, um processo citoplasmático é desencadeado como modo de 
impedir a poliespermia Em mamíferos, a reação de zona não produz uma membrana de fecundação, mas o 
efeito é o mesmo. No caso de mamíferos, incluindo o ser humano, o bloqueio a poliespermia é rápido e 
ocorre do seguinte modo: a membrana sofre despolarização e grânulos corticais presentes no córtex do 
óvulo são ejetados para o espaço previtelínico (espaço entre a membrana plasmática e a zona pelúcida). 
Este processo (reação de zona), acaba inativando os receptores espermáticos presentes na zona 
pelúcida, impedindo a entrada de outros espermatozóides. Têm sido proposto que esta inativação 
ocorre porque os grânulos corticais contém uma enzima que “corta um açúcar presente na região terminal 
da proteína ZP3 impedindo que a mesma ligue-se a outros espermatozóides. 
 
3.1.5 Ativação do óvulo e finalização da meiose 
 
A despolarização da membrana envolve liberação de íons de Ca 2+ armazenados em organelas como o 
retículo endoplasmático que estão presentes dentro do citoplasma do óvulo. A liberação destes íons ativa o 
metabolismo do óvulo. O pH do citoplasma aumenta, o consumo de oxigênio também e a síntese de 
proteínas também aumenta e a segunda divisão meiótica é finalizada, havendo liberação do segundo 
corpúsculo polar.. A fusão total do espermatozóide com o óvulo não ocorre até que todos os componentes 
do espermatozóide, exceto sua membrana plasmática não penetre dentro do óvulo. Em mamíferos todo 
este processo ocorre em cerca de 12 horas. Após a fecundação e ativação do zigoto uma série de eventos 
será desencadeada a fim de transformar uma única célula em um corpo tridimensional com cerca de 216 
tipos de células que compõe tecidos, órgãos e sistemas. Os principais eventos relacionados à embriologia 
são comentados a seguir: 
 
 
3.2 Principais eventos da 1ª Semana de Desenvolvimento Embrionária 
 
Este período é também chamado de período da CLIVAGEM. Isto porque irá acontecer uma intensa 
divisão mitótica. Entretanto, em comparação com outras espécies de animais a clivagem nos seres 
humanos é relativamente lenta. Esta fase do desenvolvimento embrionário ocorrerá enquanto o embrião 
se move da tuba em direção ao útero materno. 
 
 
5.2.1 Principais características da clivagem e formação do blastocisto 
 
Acompanhe o texto através das Figuras 3.2 e 3.3 que apresentam de modo sintético as principais 
transformações que ocorrem nesta fase. 
 
 As células que são formadas a partir da mitose são denominadas blastômeros. No embrião humano os 
blastômeros não têm o mesmo tamanho (existem blastômeros maiores e outros menores) isto porque a 
quantidade de citoplasma não é dividida igualmente. Alguns blastômeros se dividem longitudinalmente e 
outros transversalmente. Com base nestas características a clivagem de mamíferos e do ser humano é 
denominada clivagem holoblástica rotacional. 
 
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Formação do blastocisto: aproximadamente quatro dias após a fecundação blastômeros começam a 
secretar líquido formando uma cavidade interna no embrião conhecido como blastocele. Se não tiver 
acontecido a compactação não ocorrerá a formação da blastocele e portanto o embrião se tornará 
inviável. O embrião neste estágio é denominado blastocisto. Neste estágio reconhecemos dois tipos 
células: o trofoblasto – células externas que circundam e delimitam o embrião; e a massa celular interna- 
agrupamento de células que fica concentrado em uma das extremidades do blastocisto. A extremidade 
que contém estas células passa a ser conhecida como pólo animal e a que contém a blastocele é 
denominada de pólo vegetal. 
 
 Destino das duas camadas celulares (formação do disco bilaminar): o trofoblasto irá participar da 
formação de estruturas anexas ao embrião que são vitais para a sua sobrevivência como a placenta e o 
saco coriônico onde o embrião permanecerá ao longo do seu desenvolvimento. A massa celular interna 
irá dar origem às estruturas embrionárias (embrião propriamente dito) e também a estruturas anexas 
importantes no desenvolvimento. A formação do disco bilaminar (blastocisto) representa o primeiro 
processo de citodiferenciação do embrião. Experimentos têm demonstrado que a posição dos 
blastômeros é fundamental na formação do trofoblasto e massa celular interna. Ou seja, quando uma 
célula mais externa é colocada na parte mais interna e vice-versa a célula que formaria trofoblasto acaba 
formando a massa celular interna sendo o contrário também verdadeiro. 
 Durante todo o período da ovulação, fecundação e clivagem que ocorre ao longo do transporte do 
embrião da tuba uterina em direção ao útero à zona pelúcida será mantida. Esta estrutura só será 
degradada por ocasião da chegada do embrião ao útero da mãe. 
 
3.2.2 Implantação do Embrião no Endométrio Uterino 
 
Outro evento de máxima importância que ocorrerá no final da primeira semana (6-7 dias após a 
fecundação) é o início da implantação do embrião no útero materno. Um comentário interessante de ser 
feito é que a Organização Mundial de Saúde considera que a gravidez propriamente dita começa a partir 
do momento que a implantação é finalizada. - A dissolução da zona pelúcida indica que o embrião está 
apto a se implantar no útero materno. 
 
As principais características da implantação serão comentadas a seguir: 
- Estágio 1: Fase de adesão: para que a implantação ocorra o endométrio precisa estar devidamente 
preparado e receptivo. A receptividade endometrial a implantação é modulada pela ação de hormônios 
estradiol (uma forma ativa do estrogênio) e a progesterona. Existem também outras substâncias que 
serão vitais para o processo de implantação como a interleucina 1 beta (IL-1), fator de ativação de 
plaquetas (PAF), fator de crescimento insulínico (IGF), fator de necrose tumoral  (TNF). Estes fatores 
participam de um processo denominado “sinalização celular” que é a comunicação

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