Buscar

artigo GT1. Mineração e Recursos Hídricos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

�PAGE �11�
DESASTRE AMBIENTAL DA BARRAGEM DO FUNDÃO EM MARIANA:
Necessidade de um Novo Marco Regulatório
ENVIRONMENTAL DISASTER OF THE FUNDÃO DE MARIANA DAM:
Need for a New Regulatory Framework
Glaucia Tavares�
Resumo
O artigo representa um desafio em seu processo investigatório, pois propõe um estudo do rompimento da barragem de rejeitos de minério de ferro do Fundão, ocorrido em Mariana, em novembro de 2015, que liberou milhões de metros cúbicos de rejeitos diretamente sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Doce. O objetivo era averiguar a estratégia de legitimidade da empresa envolvida no caso do desastre, a mineradora Samarco Mineração S/A, verificando a importância dada às informações ambientais nos relatórios de administração da companhia. Verificou-se que a empresa procura vincular seu nome sempre às boas práticas adotadas ao longo dos anos, em seus raros projetos ambientais e sócias, entretanto, a falta de amparo à população após o desastre manchou na lama tanto o nome da Samarco, quanto da as multinacionais Vale S/A e a anglo-australiana BHP Billiton Brasil Ltda. A falta até de água para população foi um destaque principalmente após as graves secas que atingiram a região de Minas Gerais (MG). A empresa até tentou uma aproximação com a população que sofreu os impactos da tragédia, entretanto, o desastre era grande demais para ser reparado, sem afetar os altos lucros que as mineradoras buscam. Nem mesmo através de corrupção do Executivo e Judiciário foi possível uma solução amigável com a sociedade. E a questão do quantum indenizatório que cada cidadão foi vítima ficará anos na (in) Justiça para definir, como exemplo disso foi prolatada a decisão de admissão do IRDR nº 1.0000.16.000562-2/004. Outra luta é que o desastre foi propulsor da necessidade de um novo marco legal no setor mineral e se fará uma análise dos textos dos Projetos de Lei 3.676/2016 (Comissão Extraordinária das Barragens) e 3.695/2016 (iniciativa popular a partir da campanha “Mar de Lama Nunca Mais”). Assim, se propõe a discussão sobre como os projetos de lei tratam os danos ambientais causados pelas barragens de resíduos, bem como visam evitá-los.
Palavras-chave: Fundão. Mariana. Desastre Ambiental. Reparação Integral. Projetos de Lei. Novo marco legal setor mineral.
Abstract
A The work represents a challenge in its investigative process, as it proposes a study of the disruption of the iron ore tailings dam at Fundão, in Mariana, in November 2015, which released millions of cubic meters of tailings directly over the River Basin Sweet River. The objective was to investigate the strategy of legitimacy of the company involved in the disaster case, the miner Samarco, checking the importance given to environmental information in the company's management reports. It was verified that the company always tries to link its name to the good practices adopted over the years, in its rare environmental and social projects, however, the lack of support to the population after the disaster stained in the mud both the name of Samarco, Vale and the Spanish BHP. The lack of water for the population was a highlight, especially after the severe droughts that affected the region of Minas Gerais (MG). The company even attempted a rapprochement with the population that suffered the impacts of the tragedy, but the disaster was too great to be repaired without affecting the high profits mining companies are seeking. Not even through corruption of the Executive and Judiciary was it possible a friendly solution with society. And the question of the indemnity quantum that each citizen was victim will be years in (in) Justice to define, as an example of that was issued the decision of admission of IRDR nº 1.0000.16.000562-2 / 004. Another struggle is that the disaster was the driving force of the need for a new legal framework in the mineral sector and an analysis of the texts of Laws 3,666 / 2016 (Extraordinary Commission of Dams) and 3,695 / 2016 (popular initiative starting with the campaign " Sea of ​​Lama Never More "). Thus, it is proposed to discuss how the bills deal with the environmental damages caused by the dams of waste, as well as to avoid them.
Keywords: Fundão. Mariana. Environmental Disaster. Integral Repair. New legal framework mineral sector.
Introdução
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito constitucional fundamental e, via de consequência, indisponível, de forma que a Constituição Federal de 1988 ressalva sua indisponibilidade ao mencionar que é de interesse das presentes e das futuras gerações a preservação do meio ambiente. Portanto é um dever não apenas moral, mas jurídico e constitucional de todos para as gerações contemporâneas transmitir, nas melhores condições possíveis, com base no desenvolvimento sustentável, o patrimônio ambiental às gerações futuras. Sobre os direitos dessas gerações: 
Este uso comum produz o que se denomina a “tragédia dos comuns”, isto é, a ausência de incentivos individuais para protegê-los e evitar a sua super-utilização. A massividade no uso de bens coletivos frequentemente leva ao seu esgotamento ou destruição, pelo que se requerem regras limitadoras que definam o uso sustentável. Isso significa que o uso do bem deve ser tal modo que não comprometa as possibilidades de outros indivíduos e das futuras gerações (LORENZETTI, 2010, PG. 21). 
Esta temática representa verdadeiro desafio em seu processo investigatório, pois propõe um estudo exploratório de diversos aspectos do rompimento da barragem de rejeitos de minério de ferro do Fundão, ocorrido em Mariana, em novembro de 2015, que liberou milhões de metros cúbicos de rejeitos diretamente sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Doce. 
Se por um prisma o assunto é extremamente amplo, de outro subsiste uma precariedade na pesquisa jurídica sobre a necessidade de um novo marco regulatório, que vise garantir uma maior proteção ao meio ambiente diante dos impactos da mineração.
O autor Bergson Cardoso Guimarães, em sua obra Direitos Coletivos Ambientais e a exploração (in) sustentável das águas minerais, expõe a importância de tema como direitos humanos, proteção ambiental e desenvolvimento humano e como eles entraram na ordem do dia – caso no caso do desastre de Mariana – em âmbito mundial. E expõe que:
O debate muitas vezes é imposto ante a constatação do fato de que o homem vem destruindo um a um os sistemas de defesa do organismo planetário. Num país subdesenvolvido como o Brasil tais questões atingem um contorno mais trágico, em face das realidades que se nos apresenta tão injustas e, até, assustadoras. O direito brasileiro, em contínua evolução, carece cada vez mais de enriquecimento conceitual para enfrentar e regular os problemas socioambientais que, dia a dia, crescem sem instrumentalização satisfatória. (GUIMARÃES, 2009, fls. 39)
O desastre ambiental da barragem do Fundão em Mariana causou uma repercussão mundial e grande preocupação com a questão ambiental, visto os gravíssimos impactos causados a qualidade de vida de toda coletividade. Entretanto, não há como desconsiderar que o desenvolvimento sustentável é uma necessidade social significativa, uma vez que o fenômeno vem assolando os mais diversos segmentos econômicos.
Sabe-se que se foi o tempo em que a natureza era concebida como bem infinito e estava em sua plenitude a serviço da satisfação humana, nesse sentido é a lição de Ricardo Luis Lorenzetti:
Os cientistas afirmam que chegamos às fronteiras do desenvolvimento colocando em risco a natureza. Esta ideia, amplamente divulgada, baseia-se em um fato de implicações culturais extraordinárias: a natureza, como um todo, é um recurso escasso. (...) A novidade é que a “natureza”, como totalidade, e não só suas partes, é o que agora aparece como escasso, o que apresenta um cenário conflituosos diferente dos que conhecemos. (LORENZETTI, 2010, PG. 16/17) 
No entanto até hoje as empresas visam exclusivamente o lucro, sem qualquer preocupaçãocom a sociedade ou o meio ambiente, pois com objetivos de minimizar os custos, suas operações de “megamineração” acarretam o que Gudynas (2015) define como “amputação ecológica�”, pois além da sua irreversibilidade, se verifica a impossibilidade de compensação ou reparação dos impactos ambientais.
A lição de Bruno Milanez, em seu artigo Mineração, Ambiente e Sociedade: Impactos Complexos e Simplificação da Legislação, explica a obra do autor boliviano Extractivismos. Ecología, economía y política de um modo de entender el desarrollo y la Naturaleza, e cita que “como forma de comunicar ao público não técnico os impactos da mineração” do autor “Gudynas (2015) lança mão da ideia de ‘amputação ecológica’” e: e explica porque de tal construção:
A grande mineração, assim, seria um processo semelhante de amputação da paisagem. As empresas mineradoras podem usar os melhores métodos de gestão ambiental (recircula- ção de água, máquinas e equipamentos eficientes, controle de material particulado e programa de recuperação de área degradada); mas quando se fecha a mina, a montanha não está mais lá. No lugar da serra ou do pico, existe um buraco. Assim é modificada toda a paisagem e, com ela, mudam o microclima, a fauna, a flora, a dinâmica hidrológica. A função ecológica que era exercida pela montanha é extinta. Esse impacto, da ausência do material retirado, é inerente à atividade mineral e não pode ser evitado por nenhuma tecnologia de gestão. (MILANEZ, Bruno, 2017) �
Neste momento em que a humanidade visualiza uma grande crise ecológica, e percebe sua influência na concepção na vida particular de cada indivíduos, o ambiente insere-se no rol das principais preocupações sociais (conflito socioambiental).
A mineração também pode ser considerada de utilidade pública porque auxilia a união em uma relevante função: a transformação dos recursos minerais em benefícios econômicos e sociais. (...) Não há mineração, por sua própria característica, sem intervenção nos recursos naturais. Se neste Século XXI, vive-se numa sociedade altamente dependente dos recursos minerais, há necessidade de que o sistema jurídico crie condições para o seu exercício. (FREIRE, 2010, Fls. 59/60)
Além do sistema jurídico, esta tragédia exige do Legislativo também, além do comando normativo existente para proteção ambiental, por isso o presente artigo versa sobre o setor mineral rumo ao novo marco legal e propõe a discussão sobre como os projetos de lei tratam os danos ambientais causados pelas barragens de resíduos, bem como visam evitá-los. 
Ainda que não houvesse o comando normativo, a atividade mineral pode ser considerada de utilidade pública por sua própria natureza e pelo modelo adotado pelo Constituinte que elegeu o setor privado para arcar com os encargos e riscos da atividade mineral. (...) O Autor continua: O setor mineral também pode ser classificado como de utilidade pública porque recebeu a incumbência constitucional de gerar riquezas a partir do aproveitamento dos nossos recursos minerais. (FREIRE, 2010, fls. 102).
Entretanto, antes de enfrentar a problemática proposta se fará uma breve síntese sobre a responsabilidade do poder público enquanto concessor da licença ambiental no setor mineral, ciente da necessidade do desenvolvimento da Mineração para população, bem como o fracionamento do licenciamento e a garantia financeira como condicionante de licenciamento ambiental de empreendimentos com barragens de rejeitos e resíduos.
A lição de Wiliam Freire fala dos interesses das mineradoras para extrair minerais de uma área e segundo ele a existência da mina é condicionante para exploração, o que é feito através do licenciamento de pesquisa, e após “enquanto não se conjugarem concomitantemente os três atributos – viabilidade técnica, viabilidade econômica e viabilidade ambiental – não se configura a existência da mina”. (FREIRE, 2010, pg. 79).
O autor continua expondo os benefícios que a exploração mineral proporciona para a comunidade local, observe:
O Brasil subaproveita seu potencial mineral. Mesmo assim, a mineração já gera para o país enormes benefícios econômicos e sociais. É o seguimento que tem a cadeia produtiva mais importante, com participação destacada no PIB, geração d empregos e no recolhimento de tributos. Se criamos condições, poderemos transformar o Brasil e utilizar a mineração para alavancar seu crescimento de forma duradoura e sustentável, como fizeram outros grandes países mineiros. Manter e desenvolver a mineração é socialmente relevante pelos benefícios que traz para o país e para as comunidades onde está inserida. (FREIRE, 2010, pg. 105)
Muitos autores, pressionados por grandes mineradores, a respeito do Controle judicial do licenciamento, alegaram que estaria havendo um exagero no questionamento, via jurisdicional, de processos de licenciamento ambiental, causando prejuízos nos cronogramas e na realização de projetos.
Esta tentativa de caracterizar o Poder Judiciário como um “invasor da seara alheia”, esconde o reconhecimento de que o licenciamento ambiental é um ato administrativo cujas razões, devem, necessariamente, demonstrar a forma como se chegou à viabilidade ou não de determinada atividade.
Se o licenciamento ambiental é um serviço público que deve realizar o balanço dos interesses, as avaliações técnico-científicas e a participação pública na garantia da realização do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado por meio de uma decisão administrativa correta, ele deve ser orientado pelo regime jurídico constitucional de controle público.
Portanto, o descumprimento ou violação dessas normas que regem o regime jurídico do licenciamento ambiental, por ação ou omissão da Administração ou de interessado, levam necessariamente à possibilidade de controle jurisdicional desse processo administrativo. Nesse sentido é a decisão do Superior Tribunal de Justiça, do Ministro Herman Benjamin (Recurso especial n. 938.484):
Tendência atual da doutrina e da jurisprudência reconhece a possibilidade de controle judicial da legalidade "ampla" dos atos administrativos. "em se tratando de direitos da terceira geração, envolvendo interesses difusos e coletivos, como ocorre com afetação negativa do meio ambiente, o controle deve ser da legalidade ampla", ou seja, se o ato administrativo (no caso o licenciamento ambiental) afronta o sistema jurídico, seus valores fundamentais e seus princípios basilares "não podem prevalecer".
A repercussão do desastre socioambiental causado pelo rompimento da barragem do Fundão da empresa Samarco Mineração S/A foi um propulsor do novo marco legal no setor mineral e este será o cerne do presente artigo, pois tem como objetivo específico realizar uma análise dos textos dos Projetos de Lei 3.676/2016 e 3.695/2016, ambos em tramitação na Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG). 
Sendo que o primeiro, elaborado no âmbito da Comissão Extraordinária das Barragens, trata do licenciamento ambiental e da fiscalização de barragens no Estado. Já o segundo, de iniciativa popular, surgiu a partir da campanha “Mar de Lama Nunca Mais”, e enuncia propostas de normas de segurança para barragens destinadas à disposição final ou temporária de rejeitos de mineração em Minas Gerais.
O Projeto de Lei n.º 3.695/2016 foi protocolado pela Associação Mineira do Ministério Público (AMMP) em julho de 2016, com mais de 56 mil assinaturas de eleitores de todo o estado e o projeto foi anexado ao Projeto de Lei n.º 3676/2016 elaborado pela Comissão Extraordinária de Barragens. Segundo parecer da Comissão de Constituição e Justiça da ALMG, as propostas são coincidentes, de forma que o projeto de iniciativa popular foi incorporado e serão analisados conjuntamente.
Para o Ministério Público de Minas Gerais: 
No entanto, o projeto “Mar de Lama Nunca Mais” traz inovações importantes que não estão contempladas no Projeto de Lei n.º 3676/2016,  como obrigatoriedade de licenciamento trifásico e impossibilidade de passar para a fase seguinteantes do cumprimento das condicionantes da fase anterior; necessidade de realização de Audiências Públicas em todas as comunidades afetadas; vedação de empreendimentos quando identificadas ocupações na área de autossalvamento; obrigatoriedade de contratação de caução ambiental pelo empreendedor; priorização de tecnologias de disposição de rejeitos a seco;  vedação de barragens quando disponíveis outras tecnologias; vedação de licenças ad referendum, entre outros�.
Após a análise legislativa dos dois projetos citados acima, concluir-se-á o artigo com as percepções acerca do tema estudado, reforço da necessidade de aprovação do projeto de iniciativa popular, que possui respaldo da sociedade e representa um marco no aprimoramento da segurança de barragens em Minas Gerais, além de listar os resultados e entendimentos alcançados com a pesquisa, justificando o propósito da tese e do combate aos impactos socioambientais vivenciados na sociedade.
 Necessidade de um Novo Marco Regulatório diante do Desastre Ambiental 
O tratamento legal da questão ambiental, até então pautado primordialmente em instrumentos de comando e controle para a formulação de políticas públicas de proteção ambiental, é constituído por princípios basilares do Direito Ambiental e legislação sobre o tema tutelam a proteção deste meio ambiente. Essas normas disciplinam as atividades humanas (intervenções antrópicas), com o objetivo de garantir a proteção ambiental.
O autor Wilian Freire, em sua obra Código de Mineração anotado, faz uma comparação entre o desenvolvimento econômico, a proteção ambiental, o desenvolvimento socioeconômico e o desenvolvimento sustentável veja:
Como esse desenvolvimento econômico não pode ocorrer de forma desordenada, é imprescindível que seja exercido de forma harmonizada com a proteção ambiental. Da compatibilização desses dois importantes objetivos – o desenvolvimento socioeconômico e a proteção ambiental – emerge o conceito de desenvolvimento sustentável. O princípio do desenvolvimento sustentável consiste, então, na efetivação do desenvolvimento socioeconomico por meio de práticas que atuem para minimizar os efeitos causados por este ao ambiente. (FREIRE, 2010,Fls. 110)
Dentro do ordenamento jurídico ambiental estão previstas as regulamentações do uso dos recursos naturais, na busca do equilíbrio do usufruto dos recursos naturais pela geração presente, mas com a preservação desses recursos para as futuras gerações.
A Lei n. 9.985/2000, por sua vez, define a preservação ambiental no art. 2°, V, conforme transcrição: 
Art.2° Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: 
V - Preservação: conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem à proteção a longo prazo das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais. 
Dessa forma, a preservação prevista no caput do art. 225, da CF, a preservação ambiental busca preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.
A Lei 6.938 de 1981 instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, que foi um importante passo (marco histórico) no que concerne à realidade ambiental nacional, inclusive na história da Administração Pública no Brasil. Nesse sentido:
É importante registrar que a responsabilidade civil ambiental tal qual a conhecemos hoje apenas foi consagrada pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n.º 6.938/81), no seu artigo 14, § 1º. Portanto, a introdução de tais conceitos pelo Decreto n.º 79.437/77 – e em sintonia com o próprio preâmbulo (item 3) da declaração de Estocolmo (19720. - teve singular importância na matéria da responsabilidade civil por dano ambiental, servindo, inclusive, conforme destaca Érasmo Ramos (Direito Ambientl Comparado, p. 113), de base para o desenvolvimento que se deu posteriormente na matéria (em especial, no caso da Lei n.º 6.938/81). (SARLET, 2015, pg 184)
O que é confirmado pelo renomado jurista ambiental Édis Milaré: 
Isto explica o caráter inovador da Política Nacional do Meio Ambiente. Sua implementação, seus resultados, assim como a estabilidade e a efetividade que ela denota, constituem um sopro renovador e, mais ainda, um salto de qualidade na vida pública brasileira. Seus objetivos nitidamente sociais e a solidariedade com o planeta Terra, que menos implicitamente, se acham inscritos em seu texto, fazem dela um instrumento legal de grandíssimo valor para o País e, de alguma forma, para outras mações sul-americanas com as quais o Brasil tem extensas fronteiras.(MILARÉ, 2014, p.687).
O Projeto de Lei 3.695/2016 prevê licenciamento ambiental de três fases para barragens destinadas à disposição final ou temporária de rejeitos de mineração no Estado, independentemente do porte e potencial poluidor (art. 4º, I, II e III). 
Para cada fase do procedimento, estipulam-se imposições técnicas específicas, como a atinente à apresentação de estudos completos dos cenários de rupturas, mapas de inundação, bem como plano de ações emergenciais que contenha, inclusive, medidas específicas para alertar e resgatar todas as pessoas identificadas como passíveis de serem diretamente atingidas pelas manchas de inundação, para mitigar impactos ambientais, para garantir o fornecimento de água potável a comunidades e cidades que tenham a sua captação de água potencialmente atingidas e para salvaguarda e resgate do patrimônio cultural; tudo isso para obtenção da Licença de Operação – LO.
O Projeto de Lei 3.676/2016 também exige o licenciamento ambiental trifásico (art. 5º, caput), entretanto, é tímido na especificação de medidas de prevenção e salvaguarda socioambiental a serem efetivadas pelo empreendedor minerário. 
Esse projeto traz preceitos de menor força vinculativa, portanto, com maior abertura à disposição do empreendedor e à discricionariedade do administrador, no que diz respeito à exigibilidade de tais medidas.
Ele, ainda, contem previsões com melhor nível de proteção socioambiental, pois estabelecem imposições vinculativas quanto à implementação de medidas precaucionais, fase a fase, pelo empreendedor, bem como imposições essas que serão de exigibilidade obrigatória pela Administração, e não postas à sua discricionariedade.
Ao passo que o Projeto de Lei n.º 3.695/2016 reforça, com efeito, o caráter vinculativo de tais medidas, ao prever que o adimplemento delas deve ser comprovado “antes da concessão das licenças, sendo vedada a inserção como condicionante para fase posterior do licenciamento” (art. 4º, §1º), o que induz o empreendedor a uma postura pró-ativa na implementação de ações e tecnologias para a segurança socioambiental do empreendimento.
Espera-se que as revisões dos marcos legais do licenciamento ambiental aprimorem as condições de efetivação do Princípio 10 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, segundo o qual:
A melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a participação popular, colocando as informações à disposição de todos. Será proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que se refere à compensação e reparação de danos.�
Continuando a análise o Projeto de Lei n.º 3.695/2016 veda expressamente a “instalação de barragem que identifique comunidade na zona de autossalvamento nos estudos de cenários de rupturas” (art. 5º, caput). Nesse quadro, a zona de autossalvamento é definida como “região a jusante da barragem em que se verifica não haver tempo suficiente para uma intervenção concreta das autoridades competentes em caso de acidente, tendocomo área mínima o raio de 10km a partir da estrutura principal do empreendimento” (art. 5º, parágrafo único).
Já o Projeto de Lei n.º 3.676/2016 proíbe “instalação de barragem em cuja área a jusante seja identificada alguma forma de povoamento ou comunidade ou haja reservatório ou manancial destinado ao abastecimento público de água potável” (art. 7º, caput) e prevê que a “área a jusante da barragem será definida pelo órgão competente do SISEMA e terá como extensão mínima o raio de 10 km”.
As proposições são similares nesse ponto e confluem para a necessidade de proibir a construção de barragens que possam implicar riscos à segurança de populações humanas. Há consenso, de fato, em torno da necessidade de estabelecimento de vedação neste sentido.
A exigibilidade de contratação de caução ambiental pelo empreendedor é um fator importante nesse nosso rumo legal, pois o Projeto de Lei n.º 3.695/2016 prevê exigência de “proposta de caução ambiental, estabelecida em regulamento, que contemple a garantia de recuperação socioambiental para casos de sinistro e para efetivação do descomissionamento” entre as condições para obtenção da Licença Prévia (art. 4º, I, b).
A caução ambiental pode ser classificada como instrumento econômico da gestão ambiental, com fundamento na Lei 6.938/1981 (art. 9º, XIII), que fixou a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). 
Essa garantia aparece como ferramenta para conciliar desenvolvimento, para o qual contribui a iniciativa econômica do empreendedor (CR/1988, art. 170, caput), e proteção da qualidade ambiental (CR/1988, art. 170, VI). 
Trata-se de imposição legítima em relação à mineração, considerando-se o fato de muitos empreendimentos, causadores de significativos danos ambientais, serem abandonados após o esgotamento dos recursos minerais, deixando ao Poder Público e à coletividade áreas degradadas e outros problemas sociais, além da exigência, desde o escalão normativo constitucional, de que cabe ao explorador de recursos minerais “recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei” (CR/1988, art. 225, §2º).
A lição de Bergson Cardoso Guimarães na obra Direitos Coletivos Ambientais e a exploração (in) sustentável das águas minerais faz uma crítica ao Estado e ao Judiciário que permite que as megamineradoras abandonem as paisagens após o esgotamento dos recursos minerais e esquecimento da população: 
Em verdade, as questões ambientais vieram a fazer parte recentemente, das Constituições mais modernas como direito fundamental da pessoa humana. O arcabouço legal e os instrumentos criados não podem, no entanto, servir a interesses políticos ou cair na letargia da burocracia judicial, fruto da falta de desvelo das instituições. A tutela ambiental não efetivada com resultados concretos cria o risco de criar na sociedade o aumento da sensação de impunidade. (GUIMARÃES, 2009, fls. 43)
A exigibilidade da caução ambiental, conforme prevista, é uma forma de garantir à coletividade, titular do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (CR/1988, art. 225, caput), que eventuais sinistros na operação da mineração e da barragem, durante as atividades de mineração ou após o seu encerramento, serão suportados financeiramente pelo empreendedor, que aufere lucros durante e após a atividade extrativa, e não pela sociedade.
O Projeto de Lei do Senado nº 224/2016, que propõe alterações na Lei 12.334/2010, para reforçar a segurança do Programa Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), da mesma forma que o Projeto de Lei n.º 3.695/2016, originário da Campanha Mar de Lama Nunca Mais, prevê exigência de seguro ou garantia financeira tanto para cobertura de danos a terceiros e ao ambiente, em caso de acidente ou desastre, nas barragens de categoria de risco alto e dano potencial associado alto; quanto para custear a desativação de barragens de disposição final ou temporária de resíduos industriais ou rejeitos de mineração (art. 17, XV e XVI).
O desastre do Fundão trouxe à tona a crise ecológica contemporânea que exige o ajustamento de regulamentos e instrumentos (correspondentes) aos prejuízos causados, cabendo rejeitar ou invalidar a priori determinações que diminuam as condições de proteção do patrimônio natural e cultural ou estejam aquém delas. Como referem Ingo Sarlet e Tiago Fensterseifer,
[...] se, por um lado, impõe-se ao Estado a obrigação de “não piorar” as condições normativas hoje existentes em determinado ordenamento jurídico – e o mesmo vale para a estrutura organizacional-administrativa –, por outro lado, também se faz imperativo, especialmente relevante no contexto da proteção do ambiente, uma obrigação de “melhorar”, ou seja, de aprimorar tais condições normativas – e também fáticas – no sentido de assegurar um contexto cada vez mais favorável ao desfrute de uma vida digna e saudável pelo indivíduo e pela coletividade como um todo.�
Esse estudo comparativo entre os Projetos Projetos de Lei 3.676/2016 e 3.695/2016, ambos em tramitação na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG) trará grande repercussão no universo jurídico-científico e social em que se inserirá. 
È importante não esquecer que deve-se apresentar uma abordagem critica sobre o projeto de lei que flexibiliza o licenciamento ambiental em Minas Gerais, pois a proposta do executivo de número 2.946/2015 foi aprovada em turno único no dia 25 de novembro de 2016 em meio a discussões sobre a tragédia causada pelo rompimento da barragem de Fundão, cujas donas são as multinacionais Vale S/A e a anglo-australiana BHP Billiton Brasil Ltda. 
Considerações Finais
O tema do dano material e moral ambiental alcançou grande maturidade no transcorrer dos anos e chega mais próximo à moldura da vida moderna, principalmente, com o desastre do rompimento da barragem do Fundão em Mariana. Assim, o passo atual é traçar a evolução dessa temática a fim de alcançar a proteção da dignidade da pessoa humana, tendo o valor reparatório mais digno e justo em cada caso. Isso representa uma quantia que traga a compensação da dor da vítima e um desestímulo à retomada da prática lesiva pelo ofensor. 
O artigo demostrou a grande farsa que foi a coletiva na sede da Samarco Mineração S/A, em Mariana, em que o Governador Fernando Pimentel disse que o Projeto de Lei é uma revisão na legislação ambiental e que não abre mão das exigências que são feitas hoje e segundo ele o objetivo era dar prazos para que o licenciamento aconteça.
O Governador do Estado esteve na local da tragédia de Mariana no dia 06 de novembro de 2015 e pode ver com os próprios olhos os grandes prejuízos causados pelas empresas Samarco S/A, pela multinacional Vale S/A e empresa anglo-australiana BHP Billiton Brasil Ltda ao seu Estado, mas isso não fez com que ele se preocupasse em proteger o meio ambiente e reparasse os danos ambientais sofridos.
O projeto de lei proposto pelo Governador Fernando Pimentel flexibilizou o licenciamento ambiental em Minas Gerais, pois a proposta do executivo de número 2.946/2015 foi aprovada em turno único no dia 25 de novembro de 2016, um ano após o grande desastre da barragem do Fundão, em meio a discussões sobre a tragédia causada pelo rompimento, cujas donas são as multinacionais Vale S/A e a anglo-australiana BHP Billiton Brasil Ltda e influenciaram por lobbies de influencias exclusivamente empresariais. 
Na verdade se percebeu pelo artigo que não se tratou de uma guerra jurídica, ambiental ou politica, mas sim uma guerra econômica, em que se compram todos os minérios, paisagens e pessoas que estejam à venda, sendo que os grandes compradores são a empresa Vale S/A e a empresa anglo-australiana BHP Billiton Brasil Ltda, financiadas pelo Banco Mundial Americano.
Os autores Ingo Wolfgang Sarlet, Paulo Afonso Leme Machado e Tiago Fensterseifer na obra Constituição e legislação comentadas expõem com brilhantismo a mobilização de lobbies de interesses empresariais contra a execuçãode projetos de lei que limitem suas atividades, bem como que impeçam aos órgãos público – pode-se mencionar, por exemplo, alguns órgãos de fiscalização responsáveis pelo acontecido em Mariana: Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), pois emitiram, pouco antes do acontecimento, relatórios que atestavam as condições de segurança das barragens da Samarco Mineração S/A� – a fiscalização e punição das grandes mineradoras:
Politicas publicas ambientais no Brasil – principal desafio dessas politicas está no processo de implementação, e não no processo de concepção e formulação. Por outro lado, o mesmo não pode ser dito sobre o grau de implementação, pois, em sua maioria, essas politicas não têm saído do papel. Isso ocorre por diversos motivos: a mobilização de lobbies de interesses empresariais contra sua execução; a limitada capacidade da máquina administrativa para efetivar, controlar e fiscalizar; estruturas regulatórias de má qualidade técnica e indutoras de riscos jurisdicionais, entre outras questões. (SARLET, 2015. pg. 25)
Vale lembrar que os funcionários de alto escalão do Banco Mundial ora trabalham para Banco Mundial, ora se transferem para o Brasil e se tornam diretores da Vale S/A para negociar e “dar a palavra final” nos acordos da empresa, inclusive os termos de ajustamento de conduta com o Ministério Público, sempre de forma que privilegie a empresa e conjugue concomitantemente a permanência dos três atributos – viabilidade técnica, viabilidade econômica e viabilidade ambiental.
Fica a dúvida – conforme Parecer Jurídico realizado pela cooperativa de artesãos de Bento Rodrigues localizado distrito de Bento Rodrigues de Mariana/MG – sobre qual verdadeiro interesse do Ministério Público em celebrar esses acordos totalmente desvantajosos para o meio ambiente quando é legitimo autor para propor uma Ação Civil Pública que beneficiaria efetivamente a população prejudicada e a própria natureza. Nesse sentido:
Ao longo da existência da Lei de Ação Civil Pública cresceu a mobilização processual na defesa do meio ambiente (…). Em fim, os órgãos legitimados pela lei própria encontraram, ai, canal realmente eficiente para o cumprimento das garantias essenciais de cidadania, previstas na Constituição Federal. (GUIMARÃES, 2009, fls. 42)
A lição de Hugo Nigro Mazziili, além de nos lembrar dos danos irreparáveis que essas megamineradoras causam em nosso meio ambiente, também faz uma suplica para o Ministério Público e Poder Judiciário cumpram seu papel de defender a sociedade e o meio ambiente e não seus próprios interesses como vemos todos os dias na imprensa: 
O uso irresponsável ou irregular dos recursos naturais destruirá ou contaminará os mananciais, promoverá a erosão, eliminará espécies vegetais e animais, poluirá a atmosfera, alterará o clima. Teremos danos incalculáveis com a degradação do habitat, em prejuízo de todas as espécies.
É preciso conscientizar as pessoas, o Ministério público e o próprio Poder Judiciário de que, além de um dever negativo de não polui, existe também um dever consistente na prática de ato positivo, seja para impedir o dano ambiental, seja para reparar o dano ocorrido. (MAZZILLI, 2006, fls. 147)
Cumpre analisar os aspectos referentes à proteção constitucional sobre meio ambiente e os direitos de personalidade e demonstrar que os prejuízos causados ao bem estar íntimo, afeta a moral e, causa dor e sentimento de perda, que merece reparo, através de uma indenização advinda de uma amputação ambiental.
Vale a pena lembrar que, além da falta de acesso à Justiça pela população carente atingida pelo rompimento das barragens, a Fundação Renova criada para reparar os danos ambientais causados pela tragédia em nada auxiliou os moradores, conforme se verifica dos vários relatos de Normalina Yacy Viana em sua obra Tragédia da barragem da Samarco:
no país em que a justiça é abarrotada de processos, como é o caso em tela: Tragédia Samarco, Barragem de Fundão, Bento Rodrigues, Mariana/MG, o que faz com que todas as vítimas entrem em desespero é exatamente esta única possibilidade de ver os seus direitos atendidos, os prejuízos ressarcidos e as sus vidas retornarem à rotina. (VIANA, 2016, fls. 09)
apesar da condição financeira das três empresas: Samarco Mineração S/A, Vale S/A e BHP Billiton Brasil, que são potenciais de nível nacional e internacional, pare e pense: existe um DEUS que olha por todos esses hoje desabrigados. (VIANA, 2016, fls. 10/11).
E o que é ainda mais revoltante é que as empresas responsáveis por tudo isto nem sequer nos recebem. Nem ao menos se dão ao trabalho de se manifestarem em todas as ações que sobre elas pesam apenas afirmar que vão recorrer de todas as elas. Nem Samarco, nem Vale s/a, e muito menos a poderosa BHP Billiton /Brasil (VIANA, 2016, fls. 90)
Retomando a questão dos projetos de lei para proteção do meio ambiente em face das mineradoras, verifica-se que o Projeto de Lei 3.695/2016 é categórico ao vedar a concessão de licenças provisórias, ad referendum ou concomitantes a empreendimentos que empreguem a disposição de rejeitos em seu funcionamento, portanto, é um grande entrave econômico para as grandes mineradoras.
A realização de licenciamento ambiental trifásico (Licença Previa, Licença de Instalação e Licença de Operação) – com atenção especial às variáveis tecnológicas em discussão e ampla participação cidadã, é indispensável para a construção de decisões justas, em termos socioambientais, quanto à viabilidade, instalação e operação do empreendimento de extração mineral proposto – é um dos maiores inimigos econômicos das megamineradoras, pois minimizam seus lucros de forma estrondosa. Ao passo que o Projeto de Lei 3.676/2016 não prevê tal exigência, o que o torna extremamente falho para proteção e reparação do meio ambiente.
Embora os projetos de lei 3.676/2016 e 3.695/2016 apresentem convergências, aquele se mostra mais condizente com a necessidade de uma nova regulamentação do uso de barragens para a disposição de rejeitos de mineração. 
Entretanto, se vivemos numa sociedade democrática de direito e a redação do Projeto de Lei 3.695/2016 decorreu de iniciativa popular, pelo que as proposições constantes em tal Projeto devem ser privilegiadas em respeito ao princípio da participação pública na gestão ambiental, consagrado na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e na CR/1988 (art. 1º, parágrafo único c/c art. 225, caput), que incentivam formas diretas de exercício da cidadania no que toca à gestão ambiental.
Para finalizar o presente artigo deixo para o leitor o poema de Carlos Drummond de Andrade sobre o Rio Doce, que circula em redes sociais, nunca foi publicado em seus livros, apenas em 1984 no jornal cometa itabirano, o que levou alguns a duvidarem da sua autenticidade. Entretanto, é chamado de “Lira Itabirana” e o poema expõe a exploração das terras mineiras pelas mineradoras para exportação e a eterna cadeia da dívida interna-externa. Não conseguimos encontrar nada tão recente para expressar a dor do Rio Doce, do Vale amputado e da população sobrevivente:
 “Lira Itabirana”
I
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
II
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!
III
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.
IV
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?
Anúncios
								
Referência Bibliográfica
BIRNFELD, Dionísio Renz. Dano Moral Ambiental Coletivo e Direitos da Personalidade, <http://www.ambientevital.com.br/noticia_ler.php?idnoticia=280>. Acesso em 23. agosto.2017.
DRUMOND, Andréa Santiago. Regimes Minerários Perspectiva Vigente e o Novo Marco Legal. Editora Del Rei, Contagem, 2011.
FEPAM- FUNDACAO ESTADUAL DE PROTECAO AMBIENTAL/RS. Licenciamento Ambiental. Disponível em <http://www.fepam.rs.gov.br/central/licenciamento.asp>. Acesso em:01 de julho de 2017.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. Coorden. De edição: Marina Baird Ferreira. Editora Positivo, 8ª ed. Curitiba: 2010.
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco e Paulo Ferreira. Licenciamento Ambiental. São Paulo, Saraiva. 2011.
FREIRE, Wiliam. Código de Mineração anotado. 5ª. ed. rev.. Belo Horizonte: mandamentos, 2010.
FREIRE, Wiliam. Mineração, Energia e ambiente. Belo Horizonte: Jurídica Editora, 2010.
GANDARA, Leonardo André. Direito minerário: estudos. Belo Horizonte. Del Rey, 2011.
GUDYNAS, Eduardo. Extrativismos: conceito, tendências e efeitos derrame. Disponível em http://conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br/wp-content/uploads/2015/08/Eduardo-Gudynas.pdf. Acesso em: 22 de maio de 2017. 
GUDYNAS, Eduardo Extractivismos: ecología, economía y política de un modo de entender el desarrollo y la Naturaleza. Cochabamba: Centro de Documentación e Información Bolivia, 2015. Disponivel em https://pt.scribd.com/doc/317050007/Extractivismo-Gudynas-2015-pdf. Acesso em 13 de junho de 2017. 
GUIMARÃES, Bergson Cardoso. Direitos Coletivos Ambientais e a exploração (in) sustentável das águas minerais. Belo Horizonte: Mandamentos, 2009.
HADDAD, Paulo Roberto. Meio ambiente, planejamento e desenvolvimento sustentável. São Paulo: Saraiva, 2015. 
LANCHOTTI, Andressa de Oliveira. Comparativo entre os Projetos de Lei 3.676/2016 e 3.695/2016 (Mar de Lama Nunca Mais). Nota Técnica CAOMA-Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural, Urbanismo e Habitação. Disponível em: http://www.mpmg.mp.br/areas-de-atuacao/defesa-do-cidadao/ meio-ambiente/noticias/ministerio-publico-apresenta-nota-tecnica-em-defesa-do-projeto-de-lei-de-iniciativa-popular-mar-de-lama-nunca-mais.htm#.WX4xrYTytd. Acesso em 07/07/2017.
LORENZETTI, Ricardo Luis. Teoria Geral do Direito Ambiental. São Paulo; Editora Revista dos Tribunais, 2010.
MAZZILI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimonio cultural, patrimônio público e outros interesses – 19ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
MILANEZ, Bruno. Mineração, Ambiente e Sociedade: Impactos Complexos e Simplificação da Legislação Disponível em: http://www.ufjf.br/poemas/files/2014/07/Milanez-2017-Minera%C3%A7%C3%A3oambiente -e-sociedade. Acesso em 23 de julho de 2017.
 
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. A gestão ambiental em foco. Doutrina, jurisprudência, glossário. 7ª Edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 9 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
Minas Gerais. Assembleia Legislativa. Comissão das Barragens. Relatório final – Belo Horizonte: Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 2016.
SARLET Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 9 ed. rev. e atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2011.
SARLET, Ingo Wolfgang. Constituição e legislação comentadas. Ingo Wolfgang Sarlet, Paulo Afonso Leme Machado, Tiago Fensterseifer. São Paulo: Saraiva, 2015.
SILVEIRA, Geraldo Lopes e CRUZ, Jussara Cabral. Seleção ambiental de Barragens: Análise de favorabilidades ambientais em escala de bacia Hidrográfica. Santa Maria: Ed. UFSM, 2005. 
SPAREMBERGER, Raquel Fabiana Lopes. Meio Ambiente x Desenvolvimento Sustentável: à Procura da Concretização do Princípio da Precaução para a Conscientização Ambiental. Novos Estudos Jurídicos - v. 9 - n. 1 - p.23-44, jan./abr. 2004 Disponível em http://repositorio.furg.br/bitstream/handle/1/2608/Meio%20Ambiente %20X%20Desenvolvimento%20Sustent%C3%A1vel%20a%20procura%20da%20concretiza%C3%A7%C3%A3o%20do%20princ%C3%ADpio%20da%20precau%C3%A7%C3%A3o%20para%20a%20conscientiza%C3%A7%C3%A3o%20ambiental.pdf?sequence=1. Acesso em 07 de julho 2017
THOMÉ, Romeu. O Princípio da vedação de retrocesso socioambiental no contexto da sociedade de risco. Salvador. Editora JusPodivm, 2014.
VIANA, Normalina Yacy. Tragédia da barragem da Samarco. Belo Horizonte: O Lutador, 2016.
� Formada em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pós graduanda em Direito Ambiental. Analista Judiciária no Ministério Público de Minas Gerais na 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Ribeirão das Neves. Email: glauciatavares@mpmg.mp.br 
� http://conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br/wp-content/uploads/2015/08/Eduardo-Gudynas.pdf. As empresas de mineração podem utilizar a melhor tecnologia possível, e mesmo que o procedimento realizado seja adequado, quando a grande extração mineral termina, a paisagem não está mais lá, semelhante a um processo de amputação. 
�A obra do GUDYNAS, Eduardo. Extrativismos: conceito, tendências e efeitos derrame. Disponível em � HYPERLINK "http://conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br/wp-content/uploads/2015/08/Eduardo-Gudynas.pdf" �http://conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br/wp-content/uploads/2015/08/Eduardo-Gudynas.pdf�. Acesso em: 22 de maio de 2017. pode ser encontrada em � HYPERLINK "https://pt.scribd.com/doc/317050007/Extractivismo-Gudynas-2015-pdf" �https://pt.scribd.com/doc/317050007/Extractivismo-Gudynas-2015-pdf�., a qual transcrevo seu fim, o que segundo o próprio autor é o início: UN FINAL QUE ES INICIO Esos cimientos culturales son los que, por ejemplo, que explican que se festejen los récords de exportaciones extractivistas mientras se ignoran sus impactos sociales y ambientales. Es una cultura que invisibiliza a las personas afectadas y sus territorios, y determina cuáles son las discusiones posibles y toleradas alrededor de los extractivismos en los planos políticos, ambientales, económicos y sociales. Esa cultura desarrollista acepta discutir, por ejemplo, sobre compensaciones o indemnizaciones, pero tozudamente impide reformular el papel de la valoración económica. (...), EXTRACTIVISMOS: ECOLOGÍA, ECONOMÍA Y POLÍTICA DE UN MODO DE ENTENDER EL DESARROLLO Y LA NATURALEZA e insertados en redes globales de producción y comercio. Este utilitarismo presupone posturas de control y dominación sobre el entorno y la sociedad. Esta es una ética antropocéntrica. Los valores sólo son asignados por los seres humanos, y prevalecen aquellos ligados directamente a los beneficios y necesidades humanas. En algunas circunstancias aparecen posturas morales de compasión o benevolencia hacia especies de fauna y flora amenazadas, o comunidades locales afectadas, casi siempre por compensaciones económicas gracias a una justicia encogida. Pero este tipo de moral no implica poner en discusión ni revisar la ética antropocêntrica La recuperación de otros valores en la Naturaleza, y en particular cuando se le reconocen derechos propios, no sólo es un antídoto contra los extractivismos, sino que es una alternativa a aquella ética antropocéntrica (Gudynas, 2014, pg 432/433).
� https://www.mpmg.mp.br/comunicacao/noticias/ministerio-publico-defende-a-aprovacao-do-projeto-de-lei-de-iniciativa-popular-mar-de-lama-nunca-mais-na-almg.htm#.WZDcmlWGNdg
� ONU (Organização das Nações Unidas). Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1992. Disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf>. Acesso em: 24 junho. 2017.
� SARLET, I.; FENSTERSEIFER, T. Notas sobre a proibição de retrocesso em matéria (socio)ambiental. In: SENADO FEDERAL (ed.). Princípio da proibição de retrocesso ambiental. Brasília: Senado Federal, [s.d.]. Disponível em: <� HYPERLINK "http://www.mpma.mp.br/arquivos/CAUMA/Proibicao%20de%20Retrocesso.pdf" ��http://www.mpma.mp.br/arquivos/CAUMA/Proibicao%20de%20Retrocesso.pdf�>. Acesso em: 12 maio 2017.
� Parecer Jurídico realizado pela cooperativa de artesãos de Bento Rodrigues localizado distrito de Bento Rodrigues de Mariana/MG. Que prevê que as ações civis são funções do Ministério Publico, mas que essa prerrogativa não afasta a incidência dessas ações serem proposta por terceiros desde que atendidos os requisitos previamente fixadosem lei. A ação civil pública consta do rol das atribuições funcionais do Ministério Público no art. 129, III da CRFB/88, e por ser uma reparação que inclui danos coletivos - a um distrito inteiro - o Ministério Público deverá ser acionado para intervir na mesma para tomar as medidas cabíveis. Entretanto, diante da omissão do Ministério Público e da Defensoria Pública para com a população sugere de acordo com o artigo 5 da lei 7.347 em seu inciso quinto a possibilidade da ação civil pública ser interposta por associação desde que preencha os requisitos necessários. E amplia essa titularidade para os grupos, categorias ou classes comuns. E expõe o seguinte: Desta forma, analisamos que além dos danos coletivos sofridos pelos moradores e vizinhos do referido distrito, vemos também a necessidade de reparação de danos individuais, uma vez que muitos tiveram perdas materiais decorrentes da mesma situação fática. O Brasil nunca foi um país muito dedicado ao meio ambiente e nem sempre mostrou  interesse em encontrar formas para melhorá-lo e conservá-lo. Esse desinteresse levou às más avaliações que ocasionaram o rompimento das barragens em Mariana, no Estado de Minas Gerais, que trouxe grande prejuízo ambiental, financeiro e pessoal para a população. As notícias e denúncias publicadas na imprensa sobre o desastre ambiental ocorrido no município de Mariana (MG) denotam que a tragédia ocorreu devido à negligência por parte dos órgãos de fiscalização, da própria Samarco e do governo. O distrito de Bento Rodrigues, no município de Mariana, em Minas Gerais, foi praticamente varrido do mapa, duas barragens de rejeitos, da mineradora Samarco, se romperam e a lama desceu em direção a Bento Rodrigues, no momento do desastre, a água chegou a aproximadamente vinte metros de altura, destruindo árvores, vegetação, os rios e córregos da região. Segundo geólogos, as barragens de Mariana ficam na região do ‘’quadrilátero ferrífero’’,  localizada no centro-sul do Estado de Minas Gerais, que é a maior produtora nacional de minério de ferro. Os rejeitos que são armazenados pelas mineradoras em barragens, não podem ser devolvidos à natureza, dessa forma, se deu tão grande desastre, deixando mais de dez mortos, problemas ambientais e financeiros. � HYPERLINK "https://www.trabalhosgratuitos.com/Humanas/Direito/%C3%80-cooperativa-de-artes%C3%A3os-de-Bento-Rodrigues-localizado-1220629.html" �https://www.trabalhosgratuitos.com/Humanas/Direito/%C3%80-cooperativa-de-artes%C3%A3os-de-Bento-Rodrigues-localizado-1220629.html�
�PAGE �

Outros materiais