Buscar

ARTIGO RESPOSTA IMUNE

Prévia do material em texto

A importância de IgG materno na regulação de respostas imunes intestinais no início da vida
Por Liliane Martins dos Santos, pós-doc BJT no Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG.
A importância dos anticorpos adquiridos no útero ou através do leite materno já é bem estabelecida. Recém-nascidos têm um sistema imune imaturo que precisa responder apropriadamente a colonização do intestino por uma variedade de microrganismos. A aquisição de IgG contribui para a proteção contra agentes infecciosos enquanto IgA, o anticorpo dominante no trato gastrointestinal, têm sido proposto como o único isotipo responsável por respostas específicas contra microrganismos comensais. Um trabalho publicado recentemente na revista Cell** demonstrou que IgG, em especial IgG adquirido do leite materno, pode na verdade ser mais importante no desenvolvimento inicial das respostas imunes intestinais contra microrganismos comensais.
Os pesquisadores encontraram no soro de camundongos SPF anticorpos IgG2b e IgG3 específicos contra bactérias encontradas nas fezes desses animais. Interessantemente, os anticorpos IgG encontrados estão associados a uma maior gama de bactérias quando comparados com IgA. A geração desses anticorpos IgG é semelhante quando comparada entre camundongos WT e TCRβ deficientes, indicando que esse processo é independente de células T. Interessantemente, em camundongos deficientes em TLR2 e TLR4 foram observados níveis menores de IgG2b anti-bactérias comensais além da completa ausência de IgG3 específico para componentes da microbiota. O reconhecimento de produtos microbianos da microbiota  via TLR2 e TLR4 em células B parece ser essencial para a geração de respostas imunes intestinais no início da vida.
Para avaliar a contribuição de IgG materno, foram gerados camundongos capazes de desenvolver respostas de células B anti-comensais mas que não possuem anticorpos adquiridos através do leite materno. Esses animais apresentaram respostas de IgG2 e IgG3 anti-comensais intestinais reduzidas nas duas a três primeiras semanas de vida além de ativação desregulada de células T nos linfonodos mesentéricos e placas de Peyer indicando a falta de supressão de respostas imunes contra microrganismos ou produtos derivados da microbiota intestinal. A ausência de anticorpos IgG maternos prejudicou os mecanismos de defesa de barreira levando a translocação de microrganismos comensais para os linfonodos mesentéricos. Essas alterações foram observadas nas primeiras semanas de vida mas não em camundongos adultos sugerindo que o efeito da ausência de IgG materno pode ser transiente e não trazer consequências a longo prazo. Camundongos amamentados por fêmeas deficientes em células B apresentaram títulos reduzidos de anticorpos IgG2b e IgG3 e maior ativação de linfócitos T efetores nos órgãos linfóides. Isso poderia indicar maior importância de IgG derivado do leite materno, ao invés de anticorpos adquiridos no útero, nos processos de regulação da resposta imune intestinal no início da vida. A deficiência de apenas IgA materno em filhotes de 25 dias de idade não levou a alterações sugerindo que é provável que IgA não seja necessário para a regulação inicial de respostas imunes de mucosa e sim para a manutenção da barreira epitelial intestinal, ligando-se a bactérias e prevenindo sua translocação através do lúmen.
Apesar de trazer dados interessantes e importantes, é preciso cautela para extrapolar os resultados já que a maior parte dos anticorpos IgG em humanos são adquiridos via placenta e não através do aleitamento materno como acontece no camundongo. Entretanto é possível que os mecanismos se apliquem, logo é importante o melhor entendimento de como a suplementação de recém-nascidos pode interferir no desenvolvimento inicial das respostas imunes intestinais e como esse processo pode contribuir para a geração de tolerância a microrganismos da microbiota.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

Perguntas Recentes