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Evolução do Pensamento Administrativo - UVB Faculdade On-line UVB35 Aula 06 A Teoria das Relações Humanas Objetivos da aula: Nesta aula espera-se que o aluno desenvolva habilidades e competências para: • Estabelecer as condicionantes históricas e sociais do surgimento da Teoria das Relações Humanas; • Descrever a sua evolução; • Expor seus princípios; • Discutir a sua atualidade e aplicabilidade. Introdução: A Escola das Relações Humanas A Teoria das Relações Humanas surgiu nos Estados Unidos como conseqüência imediata das conclusões obtidas na Experiência em Hawthorne, desenvolvida por Elton Mayo e seus colaboradores. Foi basicamente um movimento de reação e de oposição à Teoria Clássica da Administração. A Escola das Relações Humanas é o grande contraponto às teorias de Taylor e Fayol, por afirmar que o trabalho é uma atividade grupal e que os indivíduos têm motivações não econômicas (psicológicas) para o trabalho. A teoria das Relações Humanas só ganhou expressão após a morte de Taylor, a partir do início da década de 30. A partir da Abordagem Humanística, a Teoria Administrativa sofreu Evolução do Pensamento Administrativo - UVB Faculdade On-line UVB36 uma verdadeira revolução conceitual, transferindo a ênfase do pensamento administrativo dos processos (Taylor) e da estrutura (Fayol) para as pessoas que trabalhavam na organização. Seu surgimento deve-se em grande parte ao desenvolvimento da Psicologia, bem como às modificações ocorridas no panorama social, econômico e político da época, com destaque para o advento da Grande Recessão dos anos 30, que forçou as empresas a redefinirem seus conceitos de produtividade. A Teoria das Relações Humanas surge a partir dos seguintes fatores: • A necessidade de humanizar e democratizar a administração, libertando-a dos conceitos rígidos e mecanicistas da Teoria Clássica e adequando-a aos novos padrões de vida do povo americano; • O desenvolvimento da psicologia e da sociologia no início do século XX; • As conclusões da Experiência de Hawthorne, desenvolvida entre 1927 e 1932, sob a coordenação de Elton Mayo. A Transição: Follet e Barnard Já a partir do início do século, diversos autores questionaram os conceitos da abordagem clássica de Taylor e Fayol, sendo que os mais expressivos foram Mary Parker Follet e Chester Barnard. Suas obras representam a transição entre a escola Clássica e Científica e a escola das Relações Humanas. Para muitos estudiosos, a visão de Mary Parker Follet (1868-1933) é até mais profunda do que a de Mayo e seus colaboradores. O seu trabalho baseia-se na sua crença em soluções positivas para os conflitos. Para ela, o conflito é algo inerente às relações humanas e representa a diferença que habita a individualidade humana. Cada indivíduo tem Evolução do Pensamento Administrativo - UVB Faculdade On-line UVB37 propósitos, desejos e vontades próprios, que muitas vezes conflitam com os de outros. Assim, também, as organizações têm objetivos que conflitam com os de outras organizações e/ou dos indivíduos que dela fazem parte. O conflito, portanto, é algo do qual não podemos fugir. Podemos, porém, tratá-lo de diversas formas. Podemos buscar soluções de dominação, do tipo um “ganha e outro perde” ou ainda encontrar uma conciliação que adie o confronto. Nestas duas formas de tratar os conflitos, os desejos de pelo menos uma das partes não foram satisfeitos, o que fatalmente fará com que o conflito se manifeste novamente, potencializado. Follet propõe uma terceira solução, a integração. Na integração, o conflito seria resolvido de forma a atender ambas as partes, buscando- se uma solução criativa que não estaria em nenhuma das alternativas em conflito. A solução integrativa, portanto, exigiria criatividade; a busca de uma terceira alternativa que contemplasse o desejo de ambas as partes em conflito. É claro que nem sempre é possível uma solução integrativa, mas na maioria dos casos que resultam em dominação ou conciliação, em tese seria possível uma solução integrativa. Mary Parker Follet e Chester Barnard (1886-1961) compartilham a visão de que a organização é um sistema social e que a produção é um processo cooperativo que depende da participação integrada de seus diferentes componentes. Esta visão da organização como um sistema cooperativo é a base de todo o trabalho de Barnard sobre as funções do executivo. O executivo, para ele, deveria manter o sistema de esforços cooperativos, dando propósito organizacional e convergindo a atenção aos interesses individuais (eficiência) e aos da organização (efetividade). A Teoria das Relações Humanas surgiu do amadurecimento destes questionamentos. Ela foi desenvolvida principalmente por George Elton Mayo, considerado o fundador da escola graças às conclusões Evolução do Pensamento Administrativo - UVB Faculdade On-line UVB38 obtidas na Experiência de Hawthorne. Hawthorne: os Estudos de Elton George Mayo A Western Eletric era uma companhia norte-americana que fabricava equipamentos para empresas telefônicas. A empresa sempre se caracterizara pela preocupação com o bem estar de seus funcionários e por cerca 20 anos não se constatara nenhuma greve ou manifestação. No período entre 1927 e 1932 foram realizadas pesquisas em uma das fábricas da Western Electric Company, localizada em Hawthorne, distrito de Chicago. A fábrica contava com cerca de 40 mil empregados e as experiências realizadas visavam detectar de que modo fatores ambientais - como a iluminação do ambiente de trabalho - influenciavam a produtividade dos trabalhadores. Estas experiências foram coordenadas por Elton Mayo e se estenderam ao estudo da fadiga, dos acidentes no trabalho, da rotação de pessoal e do efeito das condições físicas de trabalho sobre a produtividade dos empregados. O principal resultado do experimento de Hawthorne foi seu fracasso inicial. Os pesquisadores não conseguiram provar a existência de qualquer relação simples entre a intensidade de iluminação e o ritmo de produção. Reduzia-se e aumentava-se a iluminação na sala experimental. Esperava-se queda na produção quando as condições eram pioradas; o resultado foi o oposto. A produção na verdade aumentou quase sempre, independente das variáveis ambientais. Os pesquisadores verificaram que os resultados da experiência eram “prejudicados” por variáveis de natureza psicológica. Tentaram eliminar ou neutralizar o fator psicológico, então estranho e impertinente. A experiência prolongou-se até 1932, quando foi suspensa em razão da Evolução do Pensamento Administrativo - UVB Faculdade On-line UVB39 crise dos anos 30. Descrição da Experiência de Hawthorne Os estudos básicos efetuados por Mayo e seu grupo tiveram três fases: - Sala de Provas de Montagem de Relés Teve inicio em 1927 e a sua finalidade era realizar um estudo da fadiga no trabalho e dos efeitos gerados por mudanças de horários ou introdução de intervalos de descanso no período de trabalho. Foram selecionadas para a experiência seis operárias. A ênfase dada pelos pesquisadores estava em se manter o ritmo de produção, controlando com maior exatidão algumas condições físicas, como temperatura, umidade da sala, duração do sono na noite anterior, alimentos ingeridos, etc. Após um longo período de experimentos, verificou-se aumento contínuo da produção, independente da variação das condições ambientais e da estrutura de benefícios oferecidos às trabalhadoras, contrariando totalmente os pressupostos do Método Científico. Verificou-se, por outro lado, que as moças declaravam gostar de trabalhar na sala de provas; a supervisão era branda,o ambiente era amistoso e sem pressões, a conversa era permitida e não havia temor ao supervisor. Houve um desenvolvimento social do grupo experimental. As moças fizeram amizades entre si e essas amizades estenderam-se para fora do trabalho. Tornaram-se uma equipe, desenvolvendo lideranças e objetivos comuns. - Programa de Entrevistas O objetivo do programa de entrevistas anuais era determinar os Evolução do Pensamento Administrativo - UVB Faculdade On-line UVB40 motivos que levavam os funcionários a adotar posturas diferentes nos seus departamentos e na sala de provas. O enfoque da pesquisa passou do método científico para as relações humanas. Nesta fase, a maioria dos supervisores foi incluída no programa como entrevistadores. O programa foi bem aceito tanto pelos operários quanto pelos supervisores, já que os primeiros encontravam a possibilidade de falar o que sentiam a respeito da organização como um todo, enquanto os últimos poderiam conhecer os problemas e anseios que afligiam seus subordinados. O resultado do início do programa foi sentido imediatamente: a produtividade dos operários aumentou e a supervisão melhorou. A melhoria dos resultados dos operários foi atribuída a um sentimento de importância desencadeado pelo programa. No caso dos supervisores, o conhecimento dos interesses dos operários foi o responsável pelas sensíveis mudanças no modo de supervisão. O Programa de Entrevistas constatou que os fatores psicológicos alteravam de maneira significativa o comportamento dos funcionários. O Programa possibilitou que os funcionários mostrassem à direção quais eram suas angústias mais freqüentes, possibilitando que estas fossem estudadas e seus efeitos minimizados. - Sala de Observações de Montagem de Terminais A principal descoberta dos pesquisadores durante as entrevistas foi a existência dos chamados grupos informais. Formados pelos operários para zelar pelo seu bem-estar, estes grupos eventualmente forçavam a produção controlada. Através desta organização informal, os operários mantinham uma certa lealdade ente si. Porém, os pesquisadores notaram que, muitas vezes, o operário pretendia também ser leal à empresa. Este aparente conflito entre o grupo e a companhia trazia tensão, inquietação e Evolução do Pensamento Administrativo - UVB Faculdade On-line UVB41 descontentamento. Para estudar este fenômeno, os pesquisadores desenvolveram a Quarta Fase da experiência. Escolheu-se um grupo experimental – nove operadores, nove soldadores e dois inspetores, todos da montagem de terminais para estações telefônicas – que passaram a trabalhar em uma sala especial com idênticas condições de trabalho do departamento. Havia um observador dentro da sala e um entrevistador que ficava do lado de fora e que entrevistava esporadicamente aqueles operários. Esta experiência durou de novembro de 1931 a maio de 1932 e visava analisar a organização informal dos operários. O sistema de pagamento era baseado na produção do grupo, havendo um salário-hora com base em diversos fatores, com um salário mínimo- horário, para o caso de interrupções na produção. Os salários somente poderiam ser elevados se a produção total aumentasse. Logo ficou constatado que os operários usavam de vários truques; logo que montavam o que julgavam ser a sua produção normal, reduziam seu ritmo de trabalho. Verificou-se que estes operários passaram a apresentar uma solidariedade grupal, desenvolvendo métodos para assegurar suas atitudes. Considerava-se “delator” quem prejudicasse algum companheiro e os mais rápidos eram pressionados para “estabilizarem” a sua produção. Essa fase permitiu o estudo das relações entre a organização informal dos empregados e a organização formal da fábrica. Conclusões da Experiência em Hawthorne A experiência em Hawthorne levou ao estabelecimento dos princípios básicos da Escola das Relações Humanas. As principais conclusões foram: Evolução do Pensamento Administrativo - UVB Faculdade On-line UVB42 - O nível de produção é resultante da integração social e não da capacidade física ou fisiológica do empregado (como afirmava a teoria clássica). Quanto mais integrado socialmente no grupo de trabalho, maior a sua disposição de produzir; - Os empregados se apóiam no grupo; não reagem isoladamente como indivíduos, mas como membros do grupo. O grupo define as regras de atuação e pune o indivíduo que sai das normas grupais; - A empresa é na verdade uma organização social composta de diversos grupos sociais informais. Esses grupos definem suas regras de comportamento, suas formas de recompensas ou sanções sociais, seus objetivos, sua escala de valores sociais, suas crenças e expectativas; - Os indivíduos dentro da organização participam de grupos sociais e mantêm uma constante interação social. Relações Humanas são as ações e atitudes desenvolvidas pelos contatos entre pessoas e grupos; - Cada indivíduo é uma personalidade diferenciada que influi no comportamento e nas atitudes dos outros indivíduos com quem mantém contatos. A compreensão da natureza destas relações humanas permite ao administrador obter os melhores resultados de seus subordinados; - O “conteúdo do cargo”, a especialização e portanto a maior fragmentação do trabalho não é a forma mais eficiente de organização do trabalho, pois leva à monotonia e reduz a motivação; - Os elementos emocionais, não planejados e mesmo irracionais do comportamento humano merecem atenção especial; - A organização desintegra grupos primários (família), mas forma uma outra unidade social. Implicações da Experiência de Hawthorne Com os resultados obtidos nessa experiência o engenheiro e o técnico Evolução do Pensamento Administrativo - UVB Faculdade On-line UVB43 cedem lugar ao psicólogo e ao sociólogo, surgindo então uma nova concepção sobre a natureza do homem: o homem social. Em última análise, a Teoria das Relações Humanas estuda a influência da motivação no comportamento. A compreensão da motivação exige o conhecimento das necessidades humanas. A motivação refere-se ao comportamento causado pelas necessidades do indivíduo e é dirigida em direção aos objetivos que podem satisfazê-las. Foram identificados três estágios de motivação: • Necessidades fisiológicas; • Necessidades psicológicas; • Necessidades de auto-realização. Ë possível motivar uma pessoa quando se sabe o que ela necessita em um dado momento. Quando as necessidades de um determinado nível são satisfeitas passa-se para o próximo nível na hierarquia. A Escola das Relações Humanas propõe o conceito de “Homem Social”, em contraposição ao Homem Econômico da Abordagem Clássica. O indivíduo seria mais motivado pela necessidade de “estar junto” e ser “reconhecido socialmente” no contexto do grupo do que por recompensas econômicas individuais. Desta forma, as maiores recompensas são simbólicas e não financeiras. A Organização Informal A organização informal ganha importância e tem sua origem na necessidade do individuo de conviver com os demais seres humanos. Apresenta as seguintes características: - Relação de coesão ou de antagonismo: relações pessoais de simpatia ou de antipatia, de diferentes intensidades; Evolução do Pensamento Administrativo - UVB Faculdade On-line UVB44 - Status: o prestígio está mais ligado à participação do indivíduo na organização informal (grupo) do que propriamente na organização formal (cargo); - Colaboração espontânea; - A possibilidade de oposição à organização informal: pode ocorrer em razão da inabilidade da direção de propiciar um clima favorável. - Padrões de relaçõese atitudes; - Mudanças de níveis e alterações dos grupos informais: devido à mudança de pessoal na organização formal. Em suma, a abordagem humanística que dá origem à Teoria das Relações Humanas passa a considerar a influência de variáveis que as escolas Científica e Clássica simplesmente ignoraram. Na verdade, as abordagens se sobrepõem e se complementam. É preciso levar em conta a evolução da indústria e da sociedade durante o período em que ambas as escolas se desenvolveram. Taylor e Fayol construíram sua teorias em um contexto social e econômico muito mais “primitivo” do que aquele existente na época de Mayo. Comparação Entre as Teorias: Clássica e das Relações: Evolução do Pensamento Administrativo - UVB Faculdade On-line UVB45 Teoria Clássica Teoria das Relações A organização como uma máquina. Enfatiza as tarefas ou a tecnologiaInspirada em sistemas de engenharia. Autoridade centralizada. Linhas claras de autoridade. Especialização e competência técnica. Acentuada divisão do trabalho. Confiança nas regras . Clara separação entre linha e staff. A organização como grupo de pessoas. Enfatiza as pessoasInspirada em sistemas de psicologia. Delegação plena de autoridade. Autonomia do empregado. Confiança e abertura. Ênfase nas relações entre as pessoas. Confiança nas pessoas. Dinâmica grupal e interpessoal. Principais críticas à Teoria das Relações Humanas: - Inadequada visualização das relações industriais; - Concepção ingênua do operário; - Limitação do campo experimental; - Ênfase excessiva nos grupos informais; - Enfoque manipulativo das relações humanas. A partir dos anos 50, a Teoria das Relações Humanas passaria por uma completa reorganização, dando origem à Teoria Comportamental. Referência Bibliográfica: BERNARDES. C. Teoria Geral da Administração. São Paulo: Atlas, 1997. CHIAVENATO, Idalberto. Administração: Teoria, Processo e Prática. São Paulo: McGraw Hill, 1987. CHIAVENATO, Idalberto. Teoria Geral da Administração: Abordagens Evolução do Pensamento Administrativo - UVB Faculdade On-line UVB46 Prescritivas e Normativas da Administração. São Paulo: Makron Books, 1997. MOTA, Fernando C. Prestes & VASCONCELLOS, Isabella F. Gouveia de. Teoria Geral da Administração. São Paulo: Thomson, 2002.
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