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Apostila Comunicação e Expressão

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Comunicação e Expressão
 
Márcia Antonia Guedes Molina
 
Márcia Antonia Guedes Molina 
 
 
 
 
 
 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO 
 
Educação a Distância 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO...........................................................................................................4 
INTRODUÇÃO ................................................................................................................5 
1 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM ...............................................................................7 
1.1 PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO.....................................................................7 
1.2 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO .....................................................................8 
1.2.1 Código e Mensagem....................................................................................8 
1.2.2 Referente .....................................................................................................8 
1.2.3 Canal de Comunicação ...............................................................................8 
1.2.4 Esquema da Comunicação .........................................................................9 
1.3 AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM..........................................................................9 
1.4 ATIVIDADES PROPOSTAS ...............................................................................12 
2 TEXTO E TEXTUALIDADE .......................................................................................13 
2.1 ATIVIDADES PROPOSTAS ...............................................................................16 
2.2 COESÃO .............................................................................................................17 
2.3 COERÊNCIA .......................................................................................................17 
3 AS SUPERESTRUTURAS TEXTUAIS .....................................................................19 
3.1 O TEXTO DESCRITIVO .....................................................................................19 
3.1.1 Características do Texto Descritivo...........................................................21 
3.2 ATIVIDADES PROPOSTAS ...............................................................................23 
3.3 O TEXTO NARRATIVO ......................................................................................24 
3.3.1 Características do Texto Narrativo ............................................................25 
3.4 ATIVIDADES PROPOSTAS ...............................................................................27 
3.5 O TEXTO DISSERTATIVO.................................................................................28 
3.5.1 Características da Dissertação..................................................................28 
3.5.2 Dissertação Expositiva ..............................................................................29 
3.5.3 Dissertação Argumentativa........................................................................29 
3.5.4 Organização do Texto Dissertativo ...........................................................30 
3.6 ATIVIDADES PROPOSTAS ...............................................................................33 
4 A CONSTITUIÇÃO DO TEXTO .................................................................................35 
4.1 A INTERTEXTUALIDADE...................................................................................36 
4.2 PARÓDIA ............................................................................................................37 
4.3 PARÁFRASE.......................................................................................................40 
4.4 ESTILIZAÇÃO .....................................................................................................43 
4.5 APROPRIAÇÃO..................................................................................................44 
4.6 ATIVIDADES PROPOSTAS ...............................................................................46 
5 O TEXTO ACADÊMICO.............................................................................................47 
5.1 FICHAMENTO.....................................................................................................47 
5.2 RESUMO.............................................................................................................52 
5.3 A RESENHA........................................................................................................54 
5.3.1 Resenha Crítica .........................................................................................55 
5.3.2 Resenha Descritiva....................................................................................56 
5.3.3 Requisitos básicos para se resenhar ........................................................56 
5.4 ATIVIDADES PROPOSTAS ...............................................................................57 
6 O TEXTO COMERCIAL .............................................................................................58 
6.1 AS CARTAS COMERCIAIS................................................................................58 
6.1.1 A composição da Carta Comercial ............................................................59 
7 E-MAILS .....................................................................................................................61 
7.1 INTERNET...........................................................................................................61 
7.2 O E-MAIL PROPRIAMENTE DITO.....................................................................61 
7.2.1 E-mails Comerciais....................................................................................63 
7.2.2 E-mails Pessoais .......................................................................................64 
7.3 ATIVIDADES PROPOSTAS ...............................................................................65 
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................66 
RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS..............................67 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................71 
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA...............................................................................74 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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APRESENTAÇÃO 
 
É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila 
de Comunicação e Expressão, parte integrante de um conjunto de materiais de 
pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo que a educação a distância 
exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma 
apresentação do conteúdo básico da disciplina. 
A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por 
meio de recursos multidisciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio 
e e-mail. 
Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a 
Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às 
bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a 
redes de informação e documentação. 
Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no 
seu estudo são o suplemento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado 
eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formação completa, na qual o conteúdo 
aprendido influencia sua vida profissional e pessoal. 
A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em 
qualquer lugar! 
 
Unisa Digital 
 
 
 
 
 
 
 
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INTRODUÇÃOUma língua é um lugar donde se vê o mundo e em 
que se traçam os limites do nosso pensar e sentir. 
 Vergílio Ferreira 
 
Caro(a) aluno(a), 
 
Nosso objetivo, neste trabalho, é sintetizar alguns conceitos de textos 
relevantes para auxiliar o processo de produção escrita dos ingressantes no curso 
superior, favorecendo-lhes, também, uma orientação de como elaborar determinadas 
superestruturas textuais, por meio de técnicas de escritura e leitura de textos 
modelares, bem como a competência para a produção de textos acadêmicos, 
possibilitando-lhes, ainda, uma orientação de como elaborar determinados textos 
técnicos. 
O trabalho embasa-se em obras dos mais renomados estudiosos da 
Linguística, como Jakobson (2001) e Vanoye (1998); dos mais importantes estudiosos 
da Linguística de Texto, como Fávero (1999), Kock (1997), Guimarães (2004) e Fiorin 
(2003); e em trabalhos de metodologia do trabalho científico, de autores de 
reconhecida competência, como Severino (2001) e Lakatos e Marconi (1992). 
Os conteúdos estão assim organizados: primeiramente, discutiremos a 
questão de língua e linguagem; depois, os elementos da comunicação e, embasados 
neles, as funções da linguagem. Partimos, depois, para as noções de texto, 
textualidade, coesão e coerência, para, em seguida, apresentar as superestruturas 
textuais tradicionalmente reconhecidas: descrição, narração e dissertação. Num outro 
capítulo, depois de uma revisão de texto e textualidade, apresentamos a noção de 
intertextualidade, compreendendo a paródia, paráfrase, estilização e apropriação, 
para, então, fazer a discussão de fichamento, resumo e resenha. Na sequência, 
apresentamos a redação comercial e finalizamos a apostila com orientações de como 
escrever e-mails. 
A seleção desses conteúdos deve-se à sua relevância como ponto de 
partida para os demais textos, embora urge salientarmos que, numa obra simples 
como a nossa, não temos a pretensão de traçar todas as diretrizes possíveis para o 
bom desenvolvimento de sua competência escrita. Pelo contrário, apresentamos aqui 
6 
 
apenas um roteiro, um caminho inicial que deverá ser percorrido pelo(a) próprio(a) 
aluno(a), desvendado e ampliado à medida que seu conhecimento sobre a língua for 
ampliado. 
Fruto de nossa experiência docente, as lições aqui apresentadas resultam 
do que foi possível coletar do prazeroso convívio com nossos(as) alunos(as) e da 
observação do brilhante trabalho de muitos colegas com quem tivemos o prazer de 
cruzar durante nossa jornada, especialmente, das atividades docentes da minha 
orientadora de doutorado, Profa. Dra. Leonor Lopes Fávero, umas das maiores 
estudiosas de Linguística Textual no Brasil; do meu querido professor Hildebrando A. 
André, com quem tive o prazer de aprender a ensinar redação, e das lições 
sublineares a mim fornecidas pelo meu amigo, Prof. Leo Rícino, brilhante professor de 
Língua Portuguesa. 
Espero que aproveitem o conteúdo, que se dediquem na leitura dos pontos 
e que façam as atividades aqui propostas com muito empenho. 
 
 Um abraço cordial e bom trabalho!!! 
 
 Profa. Márcia A. G. Molina 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
1 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 
 
Caro(a) aluno(a), 
Muitos autores costumam definir comunicação como “transmissão 
voluntária de informação” (RIEGEL, 1981, p. 21), então, respondam-me: como se 
procede, então, essa transmissão? Claro que por meio da linguagem. Émile 
Benveniste (1977) assevera que a linguagem é um sistema de signos socializados, 
remetendo-nos à sua função de comunicação. 
Vale salientar que, para que exista comunicação, as pessoas envolvidas no 
processo precisam fazer uso de um código comum, quer dizer, devem “falar a mesma 
língua”. Isso significa que só há comunicação quando um entende o outro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.1 PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO 
 
E agora, o que é comunicação? 
A comunicação pressupõe sempre a existência de dois polos: aquele que 
emite a informação e aquele que a recebe – emissor/receptor, locutor/alocutário, 
ouvinte/leitor etc. O veículo utilizado para a comunicação pode fazer com que esses 
papéis sejam intercambiáveis ou não. No entanto, é importante frisarmos que, para 
que haja comunicação, deve haver, pelo menos, dois seres envolvidos, fazendo uso 
dos elementos da comunicação. 
 
 
 
 
As línguas são, de acordo com Vanoye (1998, p. 21), “casos 
particulares de um fenômeno geral”, ou seja, a linguagem é o 
todo, todas as formas de comunicação, e comporta vários códigos, 
como cores, signos, assobios, código Morse etc., já as línguas são 
um tipo específico de linguagem. 
8 
 
1.2 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO 
 
1.2.1 Código e Mensagem 
 
O emissor e o receptor, como já foi dito, devem dispor do mesmo código, 
ou seja, do mesmo sistema de signos, a fim de que a informação possa ser recebida e 
decodificada pelo receptor. Essa informação decodificada, caro(a) aluno(a), é a 
mensagem. 
 
1.2.2 Referente 
 
Riegel (1981, p. 22) assevera que 
 
os signos do código remetem à realidade tal qual é percebida pelo 
emissor e pelo receptor. O aspecto específico dessa realidade, que é 
evocada por um signo do código, é o referente desse signo. O 
universo referencial, exterior ao código, compreende tudo aquilo que 
pode ser designado pelos signos e suas combinações: seres, coisas, 
estados, acontecimentos, idéias, etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.2.3 Canal de Comunicação 
 
É necessário um meio físico para que a mensagem possa ser veiculada 
para o interlocutor, o qual damos o nome de canal de comunicação. Constituem 
canais de comunicação o ar, um CD, um cabo, um telefone etc. 
 
 
 
Portanto, referente é aquilo a que se refere no texto. 
9 
 
1.2.4 Esquema da Comunicação 
 
Preste atenção, agora: 
A somatória desses elementos resulta no seguinte esquema, que 
apresenta os elementos indispensáveis para a comunicação: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Figura 1 – Esquema da comunicação. 
 
1.3 AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM 
 
Agora, vamos ver o que são e quais são as funções da linguagem. 
A linguagem, de acordo com Jakobson (2001, p. 122), tem toda a 
variedade de suas funções. Antes, porém, propõe que recordemos que o remetente 
envia uma mensagem a um destinatário. Para que possa ser transmitida, a 
mensagem requer um contexto (ou referente), apreensível pelo destinatário, e que 
seja verbal ou passível de verbalização, um código comum (parcial ou totalmente) a 
ambos – remetente e destinatário –, e, finalmente, um contato, ou seja, um canal 
físico por meio do qual possa ser veiculada. Cada um desses seis elementos encerra 
uma função da linguagem diferente, como vemos a seguir: 
 
 
 
CÓDIGO
CONTEXTO
EMISSOR RECEPTOR 
Canal de 
comunicação 
MENSAGEM 
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CONTEXTO 
1) FUNÇÃO REFERENCIAL 
 
CANAL 
2) FUNÇÃO FÁTICA 
 
EMISSOR MENSAGEM RECEPTOR 
 
3) FUNÇÃO EMOTIVA 4) FUNÇÃO POÉTICA 5) FUNÇÃO CONATIVA 
 
CÓDIGO 
6) METALINGUAGEM 
Figura 2 – Funções da linguagem. 
 
Apesar de serem seis elementos e, portanto, seis funções da linguagem, 
normalmente as mensagens comportam mais de uma função, havendo uma 
predominante, mas não exclusiva. 
Deve-se ressaltar que a estrutura da mensagem depende dessa função 
predominante. Assim, a função referencial (também chamada denotativa) está 
centrada no contexto (referente). Tudo o que se refere aos contextos situacionais ou 
textuais pertencem a esta função. 
Ex.: Prefeitura libera a pista expressa da Marginal Pinheiros. (Folha de São 
Paulo, 16 de janeiro de 2007). 
Quando a mensagem está centrada no canal,falamos da função fática. 
Temos, nesse caso, tudo o que serve para, numa comunicação, estabelecer, manter 
ou encerrar o contato. 
Ex.: Alô, alô, responde... 
 Responde... 
Já quando a mensagem prioriza o emissor, revelando sua personalidade, 
estamos à frente da função emotiva (ou expressiva). 
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Ex.: 
Não serei o poeta de um mundo caduco. 
Também não cantarei o mundo futuro. 
Estou preso à vida e olho meus companheiros. 
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. 
Entre eles considero a enorme realidade. 
O presente é tão grande, não nos afastemos. 
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. 
(Carlos Drummond de Andrade) 
 
A função poética é aquela em que a prioridade está na própria 
mensagem, colocando em destaque o lado palpável dos signos (JAKOBSON, 2001). 
Ex.: 
Vozes veladas, veludosas vozes, 
Volúpias dos violões, vozes veladas, 
Vagam nos velhos vórtices velozes 
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. 
 (Cruz e Souza) 
 
 
Quando ocorre a orientação para o receptor (destinatário), temos a função 
conativa. Por isso, nessa função, é comum observamos o emprego de verbos no 
modo imperativo, vocativos e ponto de exclamação. 
Ex.: Assine uma TV a cabo agora e comece a pagar somente depois do 
Carnaval. 
 
Finalmente, quando é dada especial relevância ao código, estamos à frente 
da função metalinguística. 
Ex.: Quando falamos de funções da linguagem, queremos dizer, da 
possibilidade que tem a língua de, de acordo com a intenção do falante, dar especial 
destaque a determinados elementos da comunicação. 
 
Neste caso, usamos a língua para explicar a própria língua. 
 
12 
 
1.4 ATIVIDADES PROPOSTAS 
 
Agora, querido(a) aluno(a), responda às questões abaixo: 
 
1. Quais são os elementos da comunicação? 
 
2. Quais são as funções da linguagem? 
 
3. Complete: 
a) Quando a prioridade da mensagem está na própria mensagem, temos a função 
_____________________. 
b) Quando a mensagem dirige-se a um receptor, enfatizando-o, temos a função 
_____________________. 
 
Espero que tenha entendido bem essa questão. Então, passemos para outro tópico 
importante. 
 
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2 TEXTO E TEXTUALIDADE 
 
Querido(a) aluno(a), 
Texto, etimologicamente, quer dizer tecido, ou seja, trata-se de uma trama 
na qual se devem enredar as palavras. Hoje, o Minidicionário Houaiss da língua 
portuguesa (HOUAISS, 2003, p. 508) traz a seguinte definição para o termo: “s.m. 1. 
Conjunto de palavras, frases escritas; 2. Trecho ou fragmento de obra de um autor; 3. 
qualquer material escrito destinado a ser falado ou lido em voz alta [...].” 
Já a Linguística do Discurso procura estudar os textos como manifestações 
linguísticas produzidas por indivíduos concretos em situações concretas, sob 
determinadas condições de produção (KOCK, 1997, p. 11), entendendo-os numa 
situação interacionista. 
Para que melhor possamos compreendê-los nessa perspectiva, analisemos 
as sequências a seguir: 
 
Para calar a boca: Rícino 
Pra lavar a roupa: Omo 
Para viagem longa: Jato 
Para difíceis contas: Calculadora 
Para o pneu na lona: Jacaré 
Para a pantalona: Nesga 
Para pular a onda: Litoral 
Para lápis ter ponta: Apontador 
Para o Pará e o Amazonas: Látex 
Para parar na pamplona: Assis 
Para trazer à tona: Homem - Rã 
Para a melhor azeitona: Ibéria 
Para o presente da noiva: Marzipã 
Para Adidas o Conga: Nacional 
Para o outono a folha: Exclusão 
Para embaixo da sombra: Guarda-Sol 
Para todas as coisas: Dicionário 
Para que fiquem prontas: Paciência 
Para dormir a fronha: Madrigal 
Para brincar na gangorra: Dois 
Para fazer uma toca: Bobs 
Para beber uma coca: Drops 
Para ferver uma sopa: Graus 
Para a luz lá na roça: 220 volts 
Para vigias em ronda: Café 
Para limpar a lousa: Apagador 
Para o beijo da moça: Paladar 
Para uma voz muito rouca: Hortelã 
Para a cor roxa: Ataúde 
Para a galocha: Verlon 
Para ser moda: Melancia 
Para abrir a rosa: Temporada 
14 
 
Para aumentar a vitrola: Sábado 
Para a cama de mola: Hóspede 
Para trancar bem a porta: Cadeado 
Para que serve a calota: Volkswagen 
Para quem não acorda: Balde 
Para a letra torta: Pauta 
Para parecer mais nova: Avon 
Para os dias de prova: Amnésia 
Pra estourar pipoca: Barulho 
Para quem se afoga: Isopor 
Para levar na escola: Condução 
Para os dias de folga: Namorado 
Para o automóvel que capota: Guincho 
Para fechar uma aposta: Paraninfo 
Para quem se comporta: Brinde 
Para a mulher que aborta: Repouso 
Para saber a resposta: Vide - o - Verso 
Para escolher a compota: Jundiaí 
Para a menina que engorda: Hipofagi 
Para a comida das orcas: Krill 
Para o telefone que toca 
Para a água lá na poça 
Para a mesa que vai ser posta 
Para você o que você gosta 
Diariamente 
(REIS, 1991). 
 
 
Quando lemos esse texto, num primeiro momento, temos a impressão de 
que se trata de um amontoado de frases pouco significativas. Contudo, se a 
inserirmos em seu contexto, passamos a entendê-la como texto. Então, vamos lá: a 
sequência é uma composição de Nando Reis, gravada por Marisa Monte, intitulada 
Diariamente. O texto relata os fatos do cotidiano de uma pessoa que vive numa região 
urbana, possivelmente, na cidade de São Paulo. 
O mesmo ocorre com a seguinte sequência: 
 
Por que você é Flamengo? 
E meu pai Botafogo? 
O que significa "Impávido Colosso"? 
Por que os ossos doem? 
Enquanto a gente dorme? 
Por que os dentes caem? 
Por onde os filhos saem? 
Por que os dedos murcham? 
Quando estou no banho? 
Por que as ruas enchem? 
Quando está chovendo? 
Quanto é mil trilhões? 
Vezes infinito? 
Quem é Jesus Cristo? 
Onde estão meus primos? 
Well, well, well Gabriel? 
Well, well, well? 
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Por que o fogo queima? 
Por que a lua é branca? 
Por que a Terra roda? 
Por que deitar agora? 
Por que as cobras matam? 
Por que o vidro embaça? 
Por que você se pinta? 
Por que o tempo passa? 
Por que que a gente espirra? 
Por que as unhas crescem? 
Por que o sangue corre? 
Por que que a gente morre? 
Do qué é feita a nuvem? 
Do que é feita a neve? 
Como é que se escreve 
Reveillon? 
Well, well, well, Gabriel. 
(DUNGA; TOLLER, 2004). 
 
Se não reconhecermos a sequência, inadvertidamente, podemos julgá-la 
um amontoado de perguntas sem nexo e, portanto, um não texto. Contudo, 
novamente, temos aqui a letra de uma composição que Paula Toller dedicou a seu 
filho Gabriel, com as perguntas que ele, costumeiramente, lhe fazia. A música chama-
se Oito anos e foi gravada por Adriana Calcanhoto. 
Agora, preste atenção a este segmento: 
 
LA VARIÉTÉ ET LA FANTAISIE DE MA VIE DE TOUS LES JOURS 
Tous les jours de la semaine, je ne me lève jamais a la même heure et 
ce n’est jamais la mème chose. 
Mes jours sont fous, fous, fous! 
Lorsque je me lève, je ne suis pas pressé... 
Je vois et je choisis, c’est ça? Qu’il faut faire... 
Je déjeune chaque jour à un restaurant différent. 
L’aprés-midi je vais au cinéma, ou pour les courses, ou jouer le 
bowling, au bien aux shoppings... 
Je fais de promenade, promenade, promenade... 
Naturellement, je ne peux pas travailler! 
Les soirs je m’amuse à quelque show, ou théatre, ou rendez-vous 
chez un ami... 
Les personnes ne me retrouvent jamais! (GIRAFAMANIA, 2010). 
 
Essa sequência só será texto àqueles que dominam a língua em que foi 
escrita, o francês; os demais reconhecerão a sequência, mas, como não interagem 
com ela, não conseguindo depreender-lhe um sentido, será um não texto. 
Nesse sentido, seguindo os passos de Kock e Travaglia (1990, p. 10), 
podemos compreender texto como: 
 
16 
 
 
 
 
 
 
 
 
Além disso, deve ter textualidade: aquilo queconverte uma sequência 
linguística em texto (KOCK; TRAVAGLIA, 1990, p. 45), isto é, ser todo, coeso e 
coerente para seus usuários. Vejamos agora, brevemente, o que é coesão e 
coerência. 
 
2.1 ATIVIDADES PROPOSTAS 
 
Vamos ver se você entendeu o que acabamos de explicar. 
 
1. Leia a sequência a seguir e responda: é um texto? Justifique sua resposta. 
 
 
 
 
Uma unidade linguística concreta (perceptível pela visão ou audição), 
que é tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), 
em uma situação de interação comunicativa, como uma unidade de 
sentido e preenchendo uma função comunicativa reconhecível e 
reconhecida, independentemente da sua extensão. 
17 
 
2.2 COESÃO 
 
Leia com atenção: 
Fávero (1999, p. 10) assim define coesão: “A coesão, manifestada no nível 
microtextual, refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, 
as palavras que ouvimos ou vemos, estão ligados entre si dentro de uma sequência.” 
Podemos dizer, portanto, que coesão é o nome com que designamos as 
estratégias de ligação utilizadas num texto para torná-lo todo, ou seja, o uso de 
elementos capazes de estabelecer elos, os quais podem “amarrar” elementos 
mencionados anteriormente no texto, ocorrendo, então, o que os estudiosos chamam 
de anáfora. 
 
Ex.: Fiz todos os exercícios indicados pela professora, mas minha amiga 
Carla não os fez (isto é, não fez os exercícios). 
 
Podem, também, “amarrar” elementos que serão ainda mencionados no 
texto, ocorrendo, então, a chamada catáfora. 
 
Ex.: Fui ao mercado e comprei todos os itens de que precisava, menos 
estes: arroz, batata e azeite. 
 
Bem utilizar esses elementos auxilia bastante na boa escritura de uma 
sequência, mas não é só isso. Vejamos, agora, outro elemento responsável pela 
textualidade, capaz de ajudar na produção textual. 
 
2.3 COERÊNCIA 
 
E do que será que trata a noção de coerência? 
 
 
 
Coerência diz respeito ao sentido do texto. 
18 
 
A coerência [...], manisfetada em grande parte macrotextualmente, 
refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, 
os conceitos e as relações subjacentes ao texto de superfície, se 
unem numa configuração, de maneira reciprocamente acessível e 
relevante. Assim a coerência é o resultado de processos cognitivos 
operantes entre os usuários e não mero traço dos textos. (FÁVERO, 
1999, p. 10). 
 
 
Então, a sequência a seguir constituirá texto para quem a entender como 
um classificado, concorda? 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vários são os elementos responsáveis pela coerência. Kock e Travaglia 
(1990) apontam os seguintes: 
 
a) conhecimentos: linguístico, de mundo, partilhado, do mundo em 
que o texto se inscreve; 
b) inferências; 
c) fatores pragmáticos; 
d) situacionalidade; 
e) intencionalidade; 
f) aceitabilidade; 
g) informatividade; 
h) focalização; 
i) intertextualidade; 
j) relevância. 
 
Resta-nos, ainda, especificar que os textos organizam-se numa hierarquia 
de tipos de subtipos. Guimarães (2004, p. 16) ensina que, se a intenção se volta 
fundamentalmente para as estruturas internas do texto, fica estabelecida uma 
tipologia de acordo com a forma de estruturação, sua superestrutura, ou o mundo em 
que o texto se inscreve. 
É disso que trataremos a seguir. 
 
 
 
VENDE-SE 
Apartamento. 3 dorms. 2 sls. coz. Área serv. Moema. R$210.000. 
Tratar com o proprietário: (33) 3333-3333. 
19 
 
3 AS SUPERESTRUTURAS TEXTUAIS 
 
Caro(a) aluno(a), 
A noção de superestrutura, emprestada de Van Dijk (1983), diz respeito às 
estruturas globais que caracterizam alguns tipos de textos, independentemente de seu 
conteúdo. 
Dessa forma, relativamente ao aspecto estrutural, podemos inscrever os 
textos em: descritivos, narrativos e dissertativos. Essas superestruturas têm, como 
afirma Guimarães (2004, p. 65), caráter convencional e são conhecidas e 
reconhecidas pelos falantes da língua, ou seja, “uma superestrutura é um tipo de 
esquema abstrato que estabelece a ordem global do texto, e que se compõe de uma 
série de categorias, cujas possibilidades de combinação se baseiam em regras 
convencionais.” 
A autora informa, também, que, embora haja sempre uma estrutura 
dominante, o texto pode apresentar outras. Por exemplo, um texto 
predominantemente narrativo pode apresentar trechos descritivos; o 
predominantemente dissertativo pode trazer, em alguns momentos, trechos que 
caracterizam a narração e/ou a descrição. O importante para um estudante do curso 
de Letras é saber identificar no todo trechos dessa ou daquela estrutura, cujas 
características agora apresentamos. 
 
3.1 O TEXTO DESCRITIVO 
 
O que você entende por descrição? 
Descrever é caracterizar com detalhes objetos, locais, pessoas e situações, 
apresentando as características deles percebidas por meio dos cinco sentidos. Como 
é através dos sentidos que estabelecemos contato com o mundo à nossa volta, 
podemos dizer que essa estrutura textual é a mais primeva, constituindo elementos 
vitais de nossa sensibilidade. 
“Visão, tato, audição, paladar, olfato são os sentidos com que percebemos 
as coisas do mundo que se traduzem em formas, cores, texturas, cheiros, 
sonoridades a serem descobertas.” (AMARAL; ANTÔNIO, 1991, p. 19). 
20 
 
Observemos agora as seguintes sequências: 
 
Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do 
Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair 
à rua: as pedras escaldavam, as vidraças e os lampiões faiscavam ao 
sol como enormes diamantes, as paredes tinham reverberações de 
prata polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças 
d’água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os 
prédios, e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas 
arregaçadas, invadiam sem cerimônia as casas para encher as 
banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontrava viva alma 
na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam as 
compras para o jantar ou andavam no ganho. (AZEVEDO, 1997). 
 
 
Trem das Cores 
 
A franja na encosta 
Cor de laranja 
Capim rosa chá 
O mel desses olhos luz 
Mel de cor ímpar 
O ouro ainda não bem verde da serra 
A prata do trem 
A lua e a estrela 
Anel de turquesa 
Os átomos todos dançam 
Madruga 
Reluz neblina 
Crianças cor de romã 
Entram no vagão 
O oliva da nuvem chumbo 
Ficando 
Pra trás da manhã 
E a seda azul do papel 
Que envolve a maçã 
As casas tão verde e rosa 
Que vão passando ao nos ver passar 
Os dois lados da janela 
E aquela num tom de azul 
Quase inexistente, azul que não há 
Azul que é pura memória de algum lugar 
Teu cabelo preto 
Explícito objeto 
Castanhos lábios 
Ou pra ser exato 
Lábios cor de açaí 
E aqui, trem das cores 
Sábios projetos: 
Tocar na central 
E o céu de um azul 
Celeste celestial 
(VELOSO, 1990). 
 
21 
 
A primeira sequência, como se pode observar, é um trecho do romance O 
mulato, de Aluísio Azevedo. Podemos perceber com que precisão o autor descreve a 
cidade de São Luís do Maranhão; trechos com sinestesias, como “pedras 
escaldavam, as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes, 
as paredes tinham reverberações de prata polida”, favorecem não só a leitura, como 
também a percepção sensorial do texto. 
O mesmo acontece com a letra da música Trem das cores, de Caetano 
Veloso. Em “O mel desses olhos luz/E a seda azul do papel/Que envolve a maçã”, 
temos a impressão de sentir o gosto tanto do mel, quanto da maçã; de ver o brilho dos 
olhos e de sentir a maciez do papel de seda.Vejamos então, pormenorizadamente, o que compreende um texto 
descritivo. 
 
3.1.1 Características do Texto Descritivo 
 
Leia o seguinte fragmento (1) da obra Iracema, de José de Alencar: 
 
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros 
que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. 
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia 
no bosque como seu hálito perfumado. 
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e 
as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação 
tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde 
pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. (ALENCAR, 1990). 
 
Agora, atente para o seguinte fragmento (2): 
 
 
Um texto descritivo estará bem produzido quando possibilitar essas 
sensações; quando o leitor, ao proceder à sua leitura, tiver a sensação 
de estar vendo, presenciando, sentindo o que se está descrevendo. 
22 
 
Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce 
mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, 
empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o 
sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste. 
(ALENCAR, 1990). 
 
 
 
 
 
 
O texto descritivo é predominantemente figurativo, ou seja, construído 
com termos essencialmente concretos, evocando uma figura, um efeito de 
realidade. “Os textos figurativos produzem um efeito de realidade e, por isso, 
representam o mundo, com seus seres, seus acontecimentos.” (PLATÃO; FIORIN, 
1997, p. 89). 
No fragmento 1, temos como exemplos de termos concretos: a morena 
virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da 
grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando etc. 
Outra característica do texto descritivo é que ele não traz mudança de 
situação. É estático, representa o mundo num determinado momento, é recorte. Além 
disso, naquela instância em que se efetua a descrição, vários fatos simultâneos 
podem ser apresentados. Assim, Iracema, quando apreendida pelo narrador, 
apresentava simultaneamente as seguintes características: era virgem, tinha lábios de 
mel; seus cabelos eram mais negros que a asa da graúna e mais longos que o talhe 
de palmeira; seu sorriso era doce como o favo da jati; seu hálito era perfumado, era 
ainda mais rápida que a ema etc. 
Essas características coocorriam, estavam todas presentes na mesma 
instância, podendo, inclusive, ser invertidas no texto; por exemplo: seu sorriso era 
doce como o favo da jati; seu hálito era perfumado, era ainda mais rápida que a ema; 
era virgem, tinha lábios de mel; seus cabelos eram mais negros que a asa da graúna 
e mais longos que o talhe de palmeira... Isso porque não existe relação de 
anterioridade, nem de posterioridade no fragmento. 
Para que se estabeleça a comparação, retomemos o segundo fragmento: 
 
O primeiro fragmento é descritivo e o segundo, narrativo. Como identificar 
a descrição? 
23 
 
Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce 
mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, 
empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o 
sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste. 
(ALENCAR, 1990). 
 
Esse é um fragmento narrativo, pois existe nele uma relação de 
anterioridade e posterioridade: primeiro a índia saiu do banho, depois pôs-se a 
repousar. A inversão dos fatos prejudicaria a sequenciação do texto. 
Podemos perceber também, em ambos os textos, uma diferença no 
emprego dos tempos verbais: no primeiro, predomina o pretérito imperfeito e, no 
segundo, o pretérito perfeito. Como a simultaneidade é a característica do texto 
descritivo, os tempos verbais mais empregados são o presente do indicativo e o 
pretérito imperfeito do indicativo. 
Quanto à organização, podemos afirmar que se deve elaborar o texto 
descritivo espacialmente, isto é, os elementos devem ser descritos de baixo para 
cima, da esquerda para a direita, de dentro para fora etc., para que o leitor possa, 
paulatinamente, ir construindo a imagem daquilo que se está tratando. 
 
3.2 ATIVIDADES PROPOSTAS 
 
1. Agora, reúna todas as informações dadas anteriormente a respeito do texto 
descritivo e leia a seguinte poesia de Manoel Bandeira, observando os traços da 
descrição e explicitando-as a seguir: 
 
Segunda canção do beco 
 
Teu corpo moreno 
É da cor da praia. 
Deve ter o cheiro 
Da areia da praia. 
 
Deve ter o cheiro 
Que tem ao mormaço 
A areia da praia. 
 
Teu corpo moreno 
Deve ter o gosto 
De fruta de praia. 
Deve ter o travo, 
Deve ter a cica 
Dos cajus da praia. 
24 
 
Não sei, não sei, mas 
Uma coisa me diz 
Que o teu corpo magro 
Nunca foi feliz. 
 
 
3.3 O TEXTO NARRATIVO 
 
De acordo com Houaiss (2003, p. 364), “Narração: s.f. [é] exposição oral ou 
escrita de um fato.” 
 
 
 
 
 
Humberto Eco (1985, p. 21), no Pós-escrito a O nome da rosa, ensina que, 
 
[...] para contar é necessário primeiramente construir um mundo, o 
mais mobiliado possível, até os últimos pormenores. Constrói-se um 
rio, duas margens, e na margem esquerda coloca-se um pescador, e 
se esse pescador possui um temperamento agressivo e uma folha 
penal pouco limpa, pronto: pode-se começar a escrever, traduzindo 
em palavras o que não pode deixar de acontecer. 
 
Essa citação de Eco, mesmo que indiretamente, permite-nos depreender 
que são cinco os elementos da narração: narrador, personagens, ações, tempo e 
espaço. 
Leia, agora, o texto a seguir, de Marina Colassanti: 
 
Nunca descuidando do dever 
Jamais permitiria que seu marido fosse para o trabalho com a roupa 
mal passada, não dissessem os colegas que era esposa descuidada. 
Debruçada sobre a tábua, com o olho vigilante, dava caça às dobras, 
desfazia pregas, aplainando punhos e peitos, afiando o vinco das 
calças. E a poder de ferro e goma, envolta em vapores, alcançava o 
ponto máximo de sua arte ao arrancar dos colarinhos liso brilho de 
celulóide. 
Impecável, transitava o marido pelo tempo. Que, embora respeitando 
ternos e camisas, começou subrepticiamente a marcar seu avanço na 
pele e no rosto. Um dia notou a mulher um leve afrouxar-se das 
pálpebras. Semanas depois percebeu que, no sorriso, franziam-se 
fundos os cantos dos olhos. 
 
Narrar é, portanto, representar um acontecimento ou uma série de 
acontecimentos reais ou fictícios num texto. 
25 
 
Mas foi só muitos meses mais tarde que a presença de duas fortes 
pregas descendo dos lados do nariz tornou-se inegável. Sem dizer 
nada, ela esperou a noite. Tendo finalmente certeza de que o homem 
dormia o mais pesado dos sonos, pegou um paninho úmido e, 
silenciosa, ligou o ferro. 
 
Observemos que, nesse texto, vislumbramos os seguintes elementos da 
narração: 
 
a) narrador: onisciente – de 3ª pessoa: “Jamais permitiria que seu marido 
fosse para o trabalho...”; 
b) personagens: 
ƒ protagonista: a esposa – “Não dissessem os colegas que era 
esposa descuidada...”; 
ƒ antagonista: o marido – “Impecável transitava o marido pelo 
tempo”; 
c) ações: debruçada sobre a tábua; dava caça às dobras; 
d) tempo: jamais permitiria; um dia notou a mulher; muitos meses mais 
tarde; 
e) espaço: na sua casa, em uma determinada cidade. 
 
Além desses elementos, a narração apresenta, diferentemente da 
descrição, transformação. 
 
3.3.1 Características do Texto Narrativo 
 
No texto Nunca descuidando do dever, podemos perceber, entre outras, as 
seguintes características: 
 
a) as camisas amassadas ficavam muito bem passadas: “[...] alcançava o 
ponto máximo de sua arte ao arrancar dos colarinhos liso brilho de 
celulóide.”;b) o marido foi adquirindo rugas no rosto: “[...] transitava o marido pelo 
tempo. Que, embora respeitando ternos e camisas, começou 
subrepticiamente a marcar seu avanço na pele e no rosto.” 
26 
 
Mas a transformação mais significativa é a que não está explicitada, ou 
seja, ao perceber o rosto enrugado do marido, a esposa, como um autômato, tem a 
intenção de passá-lo: “Tendo finalmente certeza de que o homem dormia o mais 
pesado dos sonos, pegou um paninho úmido e, silenciosa, ligou o ferro.” 
Além disso, tanto quanto o texto descritivo, o narrativo é figurativo. Lembremo-nos de 
que esse tipo de texto é construído com palavras concretas, cuja função é representar 
o mundo. Por meio das figuras empregadas, podemos depreender o real sentido do 
texto. No caso de Nunca descuidando do dever, figuras como: 
 
[...] Jamais permitiria que seu marido fosse para o trabalho com a 
roupa mal passada, não dissessem os colegas que era esposa 
descuidada. Debruçada sobre a tábua, com o olho vigilante, dava 
caça às dobras, desfazia pregas [...]. 
 
Permitindo-nos depreender, sublinearmente, uma crítica às mulheres que, 
nas décadas de 1960 e 1970, viviam apenas e tão somente para o lar, realizando 
robotizadamente as atividades domésticas. 
Além da figurativização, na narração, a ordenação é temporal. O texto deve 
ter uma sequenciação para que o leitor possa acompanhar o desenrolar das ações. 
Assim, vejamos: 
 
Jamais permitiria que seu marido fosse para o trabalho com a 
roupa mal passada, não dissessem os colegas que era esposa 
descuidada. Debruçada sobre a tábua, com o olho vigilante, dava caça 
às dobras, desfazia pregas, aplainando punhos e peitos [...] Um dia 
notou a mulher um leve afrouxar-se das pálpebras. Semanas 
depois percebeu que, no sorriso, franziam-se fundos os cantos dos 
olhos. [...] 
Mas foi só muitos meses mais tarde que a presença de duas fortes 
pregas descendo dos lados do nariz tornou-se inegável. Sem dizer 
nada, ela esperou a noite. Tendo finalmente certeza de que o 
homem dormia o mais pesado dos sonos, pegou um paninho úmido e, 
silenciosa, ligou o ferro. 
 
A ordenação temporal, nesse texto, ajuda o leitor a ir acompanhando as 
ações da esposa até o inesperado desfecho e, diferentemente do texto descritivo, a 
disposição dessas ações não pode ser alterada. 
27 
 
Como a ordenação temporal é de extrema relevância no texto narrativo, os 
tempos verbais básicos são os do subsistema do passado: pretéritos perfeito, mais 
que perfeito e imperfeito.1 
 
3.4 ATIVIDADES PROPOSTAS 
 
2. Para finalizar, leia atentamente o seguinte texto, buscando visualizar nele os 
elementos da narração já discutidos. Explique-os a seguir: 
 
DESTA ÁGUA NÃO BEBERÁS 
Carlos Drummond de Andrade 
 
 
- Por que Demétrio não se casa? Era a indagação geral! Demétrio 
namorava, noivava, não casava. Sete dias antes do casamento, olha 
aí Demétrio fugindo. As versões eram múltiplas. A noiva é que o 
despedira. Tiveram uma briga feia. Gênios incompatíveis. Mal secreto. 
Intrigas. 
Demétrio continuava a namorar, noivar e não casar. Não lhe faltavam 
noivas, pois era agradável, tinha status. Quanto mais se 
desmanchavam seus projetos de casamento, mais apareciam 
mulheres dispostas ao desafio, exclamando: 
 - A mim ele não deixa na porta do Mosteiro de São Bento. 
Deixava. E quanto mais deixava, mais seu prestígio crescia. Concluiu-
se que era sua maneira de afirmar-se. 
Então Livaniuska decidiu enfrentá-lo. Noivou com ele e, uma semana 
antes do casamento, deu-lhe o fora solene. Demétrio quis reagir, 
explicou à repórter social que ele é que tomara a iniciativa, mas a 
mentira foi patente. Livaniuska foi contratada como atriz por uma 
emissora de TV e ficou célebre. 
Daí por diante ela repetiu a carreira de Demétrio, noivando e 
desmanchando com inúmeros cavalheiros. No fim de cinco anos, 
Livaniuska e Demétrio casaram-se para sempre, como era fácil de 
prever, mas ninguém previu. 
 
 
 
 
 
1 Geralmente, mas não exclusivamente. Pode-se usar, por exemplo, o presente do indicativo, com valor 
atemporal, instaurando proximidade e verossimilhança ao texto. 
28 
 
3.5 O TEXTO DISSERTATIVO 
 
Atente: no Minidicionário Houaiss da língua portuguesa (2003, p. 174), 
encontramos: “Dissertação: s.f. 1. Exposição oral ou escrita; 2. Monografia. Ensaio 
[...]”. Mas será que, como superestrutura textual, dissertação é só isso? Vamos ver o 
que dizem alguns estudiosos do assunto. 
Magalhães (1980, p. 7) assevera que a dissertação ocorre no plano das 
ideias, do conhecimento, das abstrações. Trata-se de um trabalho reflexivo que 
consiste, de maneira geral, em organizar as ideias numa linha de raciocínio. Assim, 
ensina o autor, “todas as vezes em que nos valemos da linguagem verbal para expor, 
defender ou contestar idéias, estaremos utilizando o chamado discurso dissertativo.” 
Platão e Fiorin (1997, p. 252) afirmam que “dissertação é o tipo de texto 
que analisa interpreta, explica e avalia os dados da realidade” e relacionam algumas 
de suas características, revisadas a seguir. 
 
3.5.1 Características da Dissertação 
 
a) É um texto temático, ou seja, discute um tema, operando, 
predominantemente, com termos abstratos; 
b) Mostra mudança de situação, tanto quanto a narração; 
c) Sua ordenação é lógica; 
d) O tempo básico empregado na dissertação é o presente do 
indicativo com valor atemporal, embora se admita o uso do pretérito 
perfeito e do futuro do presente. 
 
 
 
 
 
 
Importa esclarecer que há autores que inscrevem os textos dissertativos em 
dois tipos: expositivos e argumentativos, os quais veremos a seguir. 
 
De toda forma, sucintamente, dissertar é defender um ponto de 
vista, uma opinião. 
29 
 
3.5.2 Dissertação Expositiva 
 
É aquela cujo propósito é discorrer sobre o assunto num sentido 
meramente informativo. Assim, pode-se dissertar sobre a pena de morte, a juventude 
brasileira etc., sem que haja posicionamento sobre o tema. 
 
A importância de Música Popular Brasileira 
 
A importância da Música Popular Brasileira no cenário de nossa cultura é 
inegável. Pode-se constatar que a MPB, além de sua relevância como 
manifestação estética tradutora de nossas múltiplas identidades culturais, 
apresenta-se como uma das mais poderosas formas de preservação da 
memória coletiva e como um espaço social privilegiado para as leituras e 
interpretações do Brasil. (ICCA, 2011). 
 
3.5.3 Dissertação Argumentativa 
 
Diferentemente da anterior, na dissertação argumentativa revelam-se 
reflexões sobre o assunto, a fim de persuadir o receptor, acompanhando a linha de 
raciocínio do que é exposto, a verificar se o raciocínio verbalizado é correto e, nesse 
sentido, passível ou não de aceitação. 
 
Uma escolha contra a mulher 
 
O aborto é freqüentemente apresentado como um problema de ‘direito 
das mulheres’. É visto como algo desejável para as mulheres, e como 
um benefício ao qual elas deveriam ter tanto acesso quanto possível. 
Na verdade, ser ‘pró-vida’ é visto como sendo ‘contra os direitos da 
mulher’. Se você às vezes pensa desta forma, examine os fatos 
apresentados aqui. Verá que, na verdade, o aborto prejudica a mulher, 
ignora os seus direitos, e as abusa e degrada. Qualquer um que se 
preocupa com a mulher fará bem em conhecer estes fatos. 
Estudos de mulheres que fizeram aborto, (veja, por exemplo, o livro do 
Dr. David Reardon, Aborted Women, Silent No More), mostram que o 
aborto não é uma questão de dar à mulher uma ‘escolha’. É, 
tragicamente, uma situação em que as mulheres sentiram que não 
tinham NENHUMA ESCOLHA, sentiram que ninguém se importava 
com elas e com seu bebê, dando-lhesalternativa alguma a não ser o 
aborto. A mulher sente-se rejeitada, confusa, com medo, sozinha, 
incapaz de lidar com a gravidez - e, no meio disto tudo, a sociedade 
diz-lhe, ‘Nós eliminaremos o seu problema eliminando o seu bebê. 
Faça um aborto. É seguro, fácil, e uma solução legal’. 
30 
 
O fato é que embora o aborto seja legal (nos Estados Unidos), ele 
NÃO é seguro e fácil, nem respeita a mulher. [...].” (CASTELÕES, 
2002, grifo nosso). 
 
Podemos perceber, nesse texto, que, por exemplo, no trecho: “na verdade, 
o aborto prejudica a mulher, ignora os seus direitos, e as abusa e degrada” está 
expressa a opinião do autor e, para que ela seja mesmo aceita, passa ele a relacionar 
os motivos que o fazem pensar assim. 
Em ambos os tipos de dissertação, atente para a sua organização, que 
veremos a seguir. 
 
3.5.4 Organização do Texto Dissertativo 
 
Prezado(a) aluno(a), 
Como esse tipo de texto deve mostrar uma organização lógica, deve-se 
apresentar com bastante clareza: 
 
a) o assunto; 
b) a delimitação do assunto; 
c) o objetivo; 
d) o tópico frasal; 
e) o desenvolvimento; 
f) a conclusão. 
 
Já falamos, anteriormente, que a dissertação é um texto temático, portanto, 
deve discutir um tema. Para que o autor do texto não se perca em informações 
redundantes ou desnecessárias, é importante que proceda à delimitação dele. 
Por exemplo: Dissertação 
Tema: NAMORO 
 
Possíveis delimitações do tema: 
• Namoro na adolescência; 
• Namoro na melhor idade; 
• Namoro na escola. 
31 
 
Escolhida uma delimitação, deve-se propor um objetivo, para que não 
ocorra fuga do tema. Se resolvêssemos escrever sobre namoro na escola, 
poderíamos estabelecer como objetivo, por exemplo, mostrar ao leitor que, como a 
escola é o espaço onde os jovens mais se encontram e se relacionam, é normal e 
saudável que ali comecem sua vida afetiva. 
O tópico frasal é aquele sobre o qual incide a essência da informação. Na 
delimitação anterior, poderíamos estabelecer como possível tópico-frasal: É na 
adolescência que se começa a conhecer o mundo, a fazer amigos, a descobrir as 
verdades e a escola é um dos ambientes mais propícios para isso. Então, nada mais 
comum que ocorram flertes, o “ficar” e até mesmo namoros nesse ambiente. 
Tendo em mente tanto a delimitação quanto os objetivos e o tópico 
frasal, cabe ao autor, então, elaborar seu texto dissertativo. Se o seu desejo for 
produzir um texto argumentativo, esses argumentos podem ser apresentados de 
diferentes maneiras. Seguindo Platão e Fiorin (1997, p. 286-288), relacionamos três 
deles: 
 
a) argumento de autoridade: citam-se autores ou pessoas de prestígio 
que tenham reconhecido domínio sobre aquele saber. No caso da 
delimitação acima (namoro na escola), poderíamos citar, por exemplo, o 
psicanalista Içami Tiba, autor de várias obras que tratam da 
adolescência; 
b) argumento baseado no consenso: neste caso, valer-nos-íamos de 
opiniões já aceitas pela maioria da população. 
c) argumento baseado em provas concretas: poderíamos, no caso de 
nossa proposta, fazer uso de pesquisas que comprovassem que a 
maioria dos jovens namora na escola e que tal fato tem auxiliado seu 
desenvolvimento emocional. 
 
Para que possamos entender melhor, leiamos Magalhães (1980, p. 16-17), 
que assim exemplifica o texto dissertativo: 
 
Muitas normas, antes apenas do âmbito da Moral, passaram ao 
campo do Direito pelo fato de o legislador, num momento dado, julgar 
conveniente atribuir-lhes força coercitiva, impondo uma sanção para 
sua desobediência. Assim, por exemplo, no passado era altamente 
32 
 
meritório o fato de o patrão socorrer seu empregado acidentado. Mas 
a desobediência a essa regra de moral não provocava qualquer 
sanção por parte do Estado. Este, entretanto, observando a 
conveniência de se impor ao patrão a obrigação de socorrer seu 
serviçal infortunado, criou a norma de Direito, impondo como 
obrigação jurídica aquilo que não passava de mero dever moral. Outro 
exemplo: no passado agia com humanidade o patrão que, antes de 
despedir seu empregado, lhe dava um prazo para procurar nova 
colocação, e ao romper o contrato de trabalho lhe oferecia uma 
indenização pelos anos de serviços prestados. Talvez isso 
constituísse um dever moral ditado pela preocupação de justiça. Mas o 
descumprimento de tal dever não provocava qualquer sanção por 
parte do Estado. Parecendo ao legislador conveniente transformar tal 
preceito de Moral em regra de Direito, impõe ao patrão o dever de dar 
aviso prévio e de prestar indenização ao empregado despedido. O 
descumprimento de tal obrigação, hoje, provoca uma sanção por parte 
do Estado. A regra de Moral transformou-se em regra de Direito. 
 
Neste texto, temos, portanto: 
 
a) assunto: Direito; 
b) delimitação: Direito e moral; 
c) objetivo: mostrar que muitas normas morais transformaram-se em 
normas jurídicas por razão de conveniência social; 
d) tópico frasal: “Muitas normas, antes apenas do âmbito da Moral, 
passaram ao campo do Direito pelo fato de o legislador, num momento 
dado, julgar conveniente atribuir-lhes força coercitiva, impondo uma 
sanção para sua desobediência”; 
e) desenvolvimento (argumentos baseados em provas 
concretas): 
1. o socorro patronal obrigatório ao empregado acidentado; 
2. a obrigação jurídica de dar aviso prévio e de prestar indenização ao 
empregado despedido; 
f) conclusão: “A regra de Moral transformou-se em regra de Direito.” 
 
Além disso, podemos perceber que o texto dissertativo tem algumas 
características que lhe são peculiares. Vejamos quais são. 
Primeiramente, como pudemos perceber, trata-se de um texto temático, ou 
seja, o nosso exemplo discute uma questão jurídica, operando, predominantemente, 
termos abstratos: 
33 
 
Muitas normas, antes apenas do âmbito da Moral, passaram ao 
campo do Direito pelo fato de o legislador, num momento dado, julgar 
conveniente atribuir-lhes força coercitiva, impondo uma sanção para 
sua desobediência. Assim, por exemplo, no passado era altamente 
meritório o fato de o patrão socorrer seu empregado acidentado. [...] 
(MAGALHÃES, 1980, p. 16-17, grifo nosso). 
 
Mostra, tanto quanto a narração, mudança de situação; neste texto, o autor 
aponta para fatos que passaram de atitudes morais para deveres impostos pelo Direito: 
 
[...] Este, entretanto, observando a conveniência de se impor ao patrão 
a obrigação de socorrer seu serviçal infortunado, criou a norma de 
Direito, impondo como obrigação jurídica aquilo que não passava de 
mero dever moral. 
[...] O descumprimento de tal obrigação, hoje, provoca uma sanção por 
parte do Estado. A regra de Moral transformou-se em regra de Direito. 
(MAGALHÃES, 1980, p. 16-17). 
 
Sua ordenação é lógica e, como já apontado, há no texto um tópico frasal, 
o desenvolvimento e a conclusão. 
Os tempos verbais empregados nessa dissertação são: pretéritos perfeito e 
imperfeito do indicativo, quando o autor remete o leitor ao passado, e presente, 
quando aponta para o resultado da ação pretérita: 
 
[...] Outro exemplo: no passado agia com humanidade o patrão que, 
antes de despedir seu empregado, lhe dava um prazo para procurar 
nova colocação, e ao romper o contrato de trabalho lhe oferecia uma 
indenização pelos anos de serviços prestados. Talvez isso 
constituísse um dever moral ditado pela preocupação de justiça. Mas o 
descumprimento de tal dever não provocava qualquer sanção por 
parte do Estado. Parecendo ao legislador conveniente transformar tal 
preceito de Moral em regra de Direito, impõe ao patrão o dever de dar 
aviso prévio e de prestar indenização ao empregado despedido. O 
descumprimento de tal obrigação, hoje, provoca uma sanção por 
parte do Estado. A regra de Moraltransformou-se em regra de 
Direito. (MAGALHÃES, 1980, p. 16-17, grifo nosso). 
 
3.6 ATIVIDADES PROPOSTAS 
 
3. Para finalizar, leia atentamente o texto a seguir, buscando visualizar nele os 
elementos da dissertação já discutidos. Complete o proposto na sequência: 
 
34 
 
Uso de álcool na gravidez traz riscos ao bebê 
 
 A ingestão de álcool durante a gravidez pode 
acarretar uma série de problemas na formação do feto. A 
manifestação mais severa é a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) 
que causa desde malformações craniofaciais, retardamento no 
crescimento até a incapacidade de desenvolvimento mental. 
 O fato de um grande número de mulheres beberem 
socialmente e a maioria das gestações não serem planejadas 
aumentam o risco de ocorrer a SAF. "Pode haver um 
desconhecimento do estado gestacional nos primeiros meses. 
Isso implica muitas vezes a exposição do embrião ao etanol, 
principalmente no período mais crítico e sensível da gestação", 
explica Cristiana Corrêa, professora da Faculdade de Ciências 
Farmacêuticas, da Pontifícia Universidade Católica de 
Campinas. 
 Geralmente, a incidência da SAF oscila entre 0,4 a 3,1 
casos por 1000 nascimentos. Entre os filhos de mães 
alcoólatras estima-se que 30% a 40% dos recém nascidos 
venham a apresentar a doença. Ainda não foi definida a 
quantidade mínima de álcool ingerida capaz de afetar o feto. 
 As maiores conseqüências da SAF são: restrição no 
crescimento, com decréscimo inferior a 10% no peso e no 
comprimento; envolvimento do Sistema Nervoso Central, 
apresentando, entre outros problemas, disfunção 
comportamental, hiperatividade, dificuldade de adaptação 
social, e anomalias faciais. 
 A prevenção da SAF, na opinião de Corrêa, só será 
possível através de um sistema articulado de intervenção 
terapêutica na mãe alcoólatra, programas educacionais nas 
comunidades, identificação precoce da doença e 
acompanhamento das crianças afetadas pela síndrome. 
(CASTELÕES, 2002). 
 
 
 
Assunto: ___________________________________________________ 
Delimitação: ________________________________________________ 
Objetivo: __________________________________________________ 
Tópico frasal: ______________________________________________ 
35 
 
4 A CONSTITUIÇÃO DO TEXTO 
 
RELEMBRANDO A NOÇÃO DE TEXTO 
 
Caro(a) aluno(a), 
Para que acompanhe bem o conteúdo daqui para frente, vamos nos 
lembrar das noções de texto e textualidade aprendidas no início deste material. 
 
Texto e Textualidade 
Como vimos, texto, etimologicamente, quer dizer tecido, ou seja, trata-se 
de uma trama na qual se devem enredar as palavras. 
Já a Linguística do Discurso procura estudar os textos como 
“manifestações linguísticas produzidas por indivíduos concretos em situações 
concretas, sob determinadas condições de produção” (KOCK, 1997, p. 11), 
entendendo-os numa situação interacionista. 
Para Val (1999, p. 3), texto (escrito ou falado) é a “unidade linguística 
comunicativa básica” utilizada pelos falantes de uma língua para se comunicar e será 
bem compreendido quando comportar três aspectos fundamentais: o pragmático 
(atuação informacional e comunicativa), o semântico-conceitual (relacionado à 
compreensão, à cognição, portanto, da coerência) e o formal (de sua organização, ou 
seja, de sua coesão). 
 
 
 
 
 
 
Por outro lado, discurso é mais abrangente e, de acordo com a Análise do 
Discurso de linha francesa, ele é entendido como o espaço em que emergem as 
significações (BRANDÃO, 2002, p. 35). Mas, o que comporta essa significação? 
Primeiramente, temos de entender que o discurso de que tratamos se faz na e pela 
Assim, texto pode ser compreendido como uma unidade de 
sentido que depende de uma série de fatores, ligados tanto à 
coerência quanto à coesão. 
36 
 
língua, ou seja, as significações serão observadas em sua formação discursiva, 
somada às suas condições de produção, norteadas pela sua formação ideológica. 
Dessa forma, a noção de discurso pode ser vista como múltipla e analisá-lo 
é, de acordo com Foucault (1990, p. 187), “fazer desaparecer e reaparecer as 
contradições é mostrar o jogo que jogam entre si; é manifestar como pode exprimi-las, 
dar-lhes corpo, ou emprestar-lhes uma fugidia aparência.” Isso quer dizer que analisar 
um discurso é buscar esses elementos de dispersão, os diversos discursos que 
comporta, os textos que com ele dialogam. 
E há várias maneiras de os textos conversarem entre si e com os discursos, 
como veremos a seguir. 
 
4.1 A INTERTEXTUALIDADE 
 
De acordo com Kristeva (1974, p. 64) “todo texto se constrói como um 
mosaico de citações. Todo texto é absorção e transformação de um outro texto” , ou 
seja, como fala Bakhtin (1988), nenhum discurso é neutro, mas sempre formado por 
outros que lhe foram anteriores no tempo, pois é produzido por um sujeito 
descentrado, assumindo diferentes vozes sociais, que o tornam um sujeito histórico e 
ideológico. 
Fiorin (2003, p. 32) ensina que “a intertextualidade é o processo de 
incorporação de um texto em outro, seja para reproduzir o sentido incorporado, seja 
para transformá-lo.” Já Brandão (2002, p. 76) aponta dois tipos de intertextualidade: 
uma interna, na qual um “discurso se define por sua relação com o discurso do 
mesmo campo, podendo divergir ou apresentar enunciados semanticamente vizinhos 
aos que autoriza sua formação discursiva”; e uma externa, “na qual o discurso define 
uma certa relação com outros campos”. 
Kock (1986, p. 39) também aponta a possibilidade de se observar a 
intertextualidade de duas maneiras: em sentido amplo, que ocorre implicitamente, 
ou seja, a identificação dos textos em diálogo é conseguida por meio de atenta 
observação por parte do leitor, porque o novo texto mantém alguns aspectos, tanto 
formais quanto de sentido, dos originais; em sentido estrito, que pode aparecer tanto 
implicitamente – por meio da divulgação de sua ideologia e retórica – quanto 
explicitamente – por meio da revelação direta do texto do qual se origina. 
37 
 
Paulino, Walty e Cury (1997) indicam oito possibilidades de a 
intertextualidade se revelar, isto é, por meio de epígrafe, citação, referência, alusão, 
paráfrase, paródia, pastiche e tradução. Esses autores entendem a sociedade como 
uma grande rede intertextual e dão ao espaço cultural um lugar de relevância, pois 
cada produção dialoga necessariamente com outras. 
Fiorin (2003) e Sant’Anna (1988) apontam diferentes maneiras de a 
intertextualidade ocorrer. O primeiro identifica três processos: a citação, a alusão e a 
estilização; o segundo, quatro: a paródia, a paráfrase, a estilização e a apropriação. 
Como é a proposta de Sant’Anna que mais atende aos nossos propósitos, estudá-la-
emos pormenorizadamente a seguir. 
 
4.2 PARÓDIA 
 
Todo mundo sabe o que é paródia? Vamos ver o que dizem os estudiosos 
da Linguística Textual. 
Fávero (2003, p. 49) vai à etimologia para conceituar o termo: “Paródia 
significa canto paralelo (de para = ao lado de e ode = canto), incorporando a idéia de 
uma canção, cantada ao lado de outra, como uma espécie de contracanto.” Sant’Anna 
(1988, p. 31) completa, asseverando que ela tem uma função catártica, funcionando 
como contraponto com os momentos de muita dramaticidade. Além disso, a paródia 
faz uma reapresentação daquilo que havia sido recalcado, sendo uma nova e 
diferente maneira de ler o convencional, ou seja, é um processo de liberação do 
discurso, uma tomada de consciência crítica. 
Parodia-se um texto para negá-lo, já que a linguagem, nesse tipo de 
produção, é dupla: as vozes que dialogamnos dois discursos se cruzam tanto 
horizontal (produtor x receptor) quanto verticalmente (texto x contexto) (FÁVERO, 
1999, p. 53). 
Temos, em nossa literatura, muitos exemplos de paródia. Jô Soares, na 
época de cassação do então presidente Fernando Collor de Melo, utilizando-se da 
mesma estrutura da nossa Canção do exílio, escreveu: 
 
 
 
38 
 
Canção do Exílio às Avessas 
Jô Soares 
 
Minha Dinda tem cascatas 
Onde canta o curió 
Não permita Deus que eu tenha 
De voltar pra Maceió. 
Minha Dinda tem coqueiros 
Da Ilha de Marajó 
As aves, aqui, gorjeiam 
Não fazem cocoricó. 
 
O meu céu tem mais estrelas 
Minha várzea tem mais cores. 
Este bosque reduzido 
deve ter custado horrores. 
E depois de tanta planta, 
Orquídea, fruta e cipó, 
Não permita Deus que eu tenha 
De voltar pra Maceió. 
 [...] 
No meio daquelas plantas 
Eu jamais me sinto só. 
Não permita Deus que eu tenha 
De voltar pra Maceió. 
Pois no meu jardim tem lagos 
Onde canta o curió 
E as aves que lá gorjeiam 
São tão pobres que dão dó. 
 
Minha Dinda tem primores 
De floresta tropical. 
Tudo ali foi transplantado, 
Nem parece natural. 
Olho a jabuticabeira 
dos tempos da minha avó. 
Não permita Deus que eu tenha 
De voltar pra Maceió. 
 
Até os lagos das carpas 
São de água mineral. 
Da janela do meu quarto 
Redescubro o Pantanal. 
Também adoro as palmeiras 
Onde canta o curió. 
Não permita Deus que eu tenha 
De voltar pra Maceió. 
 
Finalmente, aqui na Dinda, 
Sou tratado a pão-de-ló. 
Só faltava envolver tudo 
Numa nuvem de ouro em pó. 
E depois de ser cuidado 
Pelo PC, com xodó, 
39 
 
Não permita Deus que eu tenha 
De acabar no xilindró. 
 
Recordemo-nos do original, de Gonçalves Dias: 
 
Canção do Exílio 
Gonçalves Dias 
 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o sabiá; 
As aves, que aqui gorjeiam, 
Não gorjeiam como lá. 
 
Nosso céu tem mais estrelas, 
Nossas várzeas têm mais flores, 
Nossos bosques têm mais vida, 
Nossa vida mais amores. 
 
Em cismar, sozinho, à noite, 
Mais prazer encontro eu lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o sabiá. 
 
Minha terra tem primores, 
Que tais não encontro eu cá; 
Em cismar – sozinho, à noite – 
Mais prazer encontro eu lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o sabiá. 
 
Não permita Deus que eu morra, 
Sem que eu volte para lá; 
Sem que desfrute os primores 
Que não encontro por cá; 
Sem qu’inda aviste as palmeiras, 
Onde canta o sabiá. 
 
 
O dialogismo entre os textos é inquestionável, revelando, também, a 
característica primordial da paródia: temos aqui cantos paralelos aos de Gonçalves 
Dias, mas, ao mesmo tempo em que fazem com que nossa memória textual retome o 
original, seu lado humorístico faz com que eles nunca se encontrem, como imagens 
invertidas num espelho (SANT’ANNA, 1988). 
Num texto acadêmico, podemos fazer uso da paródia quando, 
especialmente, partindo de um texto original, inauguramos outro paradigma, uma 
evolução do primeiro, numa oposição, numa crítica tecida com humor e ironia, 
expondo sua contraideologia. 
40 
 
Ex.: (1) Texto fonte: 
 
Salários têm melhores reajustes em 10 anos 
Balanço divulgado pelo Dieese (Departamento Intersindical de 
Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) mostra que, em 2005, 72% 
dos reajustes salariais foram maiores do que a inflação, melhor 
desempenho já constatado. 
 (Fonte: adaptação de www.pt.org.br) 
 
(2) Texto derivado: 
 
Eles conseguem fazer com que seus salários tenham melhores reajustes em 10 anos. 
Balanço divulgado pelo Dieese (Departamento de Infâmias, Enrolação e Embuste 
Sem Escrúpulos) mostra que, em 2005, 72% dos reajustes salariais dos políticos 
foram maiores do que a inflação, maior roubalheira e sem-vergonhice já constatada. 
 
Como se pode perceber, embora os dois textos mantenham um diálogo 
entre si, a paródia subverte o sentido do primeiro, retoma-o para o negar, para o 
ironizar, caminhando ao seu lado como se fosse sua imagem invertida. Diferente é a 
paráfrase, como veremos a seguir. 
 
4.3 PARÁFRASE 
 
O Dicionário Houaiss da língua portuguesa (HOUAISS, 2001, p. 2127) traz 
as seguintes conceituações para o termo: 
 
Paráfrase: (1) sf. interpretação ou tradução em que o autor procura 
seguir mais o sentido do texto que sua letra: metáfrase; (2) 
interpretação, explicação ou nova apresentação de um texto que visa 
torná-lo mais inteligível ou que sugere novo enfoque para o seu 
sentido. 
 
Sant’Anna (1988, p. 17) afirma que o termo ‘para-phrasis’ (que já no grego 
significava continuidade ou repetição de uma sentença) pode ser considerado, grosso 
modo, uma reafirmação, por meio de outras palavras, do mesmo sentido de uma obra 
escrita, ou seja, pode-se considerar a paráfrase a tradução ou a transcrição de um 
texto primitivo. 
41 
 
Nesse sentido, Derrida (2002, p. 62) ensina que o tradutor deve resgatar, 
absolver, resolver o texto original e quando “cria” é como um pintor que “copia” seu 
“modelo”. Por sua vez, Benjamin (1996, p. 108) diz que “a natureza engendra 
semelhanças”, bastando, para entender isso, pensar-se na mímica. 
Portanto, diferentemente da paródia, a paráfrase é a frase paralela, ou 
seja, uma releitura do original. Se, na primeira, temos a ruptura, a crítica sutil; na 
segunda, ficamos à frente de uma releitura, de uma reprodução. 
Para que possamos compreendê-la melhor, tomemos como exemplo a 
mesma Canção do exílio e vamos ver algumas paráfrases elaboradas a partir dela: 
 
I – Canção do Exílio (Casimiro de Abreu) 
 
Se eu tenho de morrer na flor dos anos 
Meu Deus! não seja já; 
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, 
Cantar o sabiá! 
 
Dá-me os sítios gentis onde eu brincava. 
Lá na quadra infantil; 
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria, 
O céu do meu Brasil! 
 
Se eu tenho de morrer na flor dos anos 
Meu Deus! não seja já! 
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, 
Cantar o sabiá! 
 
Quero ver esse céu da minha terra 
Tão lindo e tão azul! 
E a nuvem cor-de-rosa que passava 
Correndo lá do sul! 
 
Quero dormir à sombra dos coqueiros, 
As folhas por dossel; 
E ver se apanho a borboleta branca, 
Que voa no vergel! 
 
Quero sentar-me à beira do riacho 
Das tardes ao cair, 
E sozinho cismando no crepúsculo 
Os sonhos do porvir! 
 
Se eu tenho de morrer na flor dos anos, 
42 
 
Meu Deus! não seja já; 
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, 
A voz do sabiá! 
 
Quero morrer cercado dos perfumes 
Dum clima tropical, 
E sentir, expirando, as harmonias 
Do meu berço natal! 
 
As cachoeiras chorarão sentidas 
Porque cedo morri, 
E eu sonho no sepulcro os meus amores 
Na terra onde nasci! 
 
Se eu tenho de morrer na flor dos anos, 
Meu Deus! não seja já; 
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, 
Cantar o sabiá! 
 
 
 
II – Canção do Exílio (Mário Quintana) 
Minha terra não tem palmeiras 
Minha terra não tem palmeiras... 
E em vez de um mero sabiá, 
Cantam aves invisíveis 
Nas palmeiras que não há. 
 
 
III - Canção do Exílio (Mário de Andrade) 
Não permita Deus que eu morra 
Sem que volte pra São Paulo 
Sem que veja a Rua 15 
E o progresso de São Paulo 
 
André (1988, p. 111) assevera que muitas são as formas como utilizamos a 
paráfrase no texto acadêmico: 
 
a) podemos reproduzir, com outras palavras, o mesmo pensamento do 
texto, seguindo a ordem do discurso original; 
b) podemos reproduzir o texto, com outras palavras, mas buscando 
esclarecer, para os leitores de outro nível (nesse caso, portanto, 
motivado pelos objetivos), vocábulos ou expressões que julgamos 
importante elucidar; 
c) podemos, ao reproduzir o texto,ampliar as informações sobre ele, seu 
autor, a obra, o estilo etc., na medida em que essas informações sejam 
cabíveis e relevantes para sua melhor compreensão; 
43 
 
d) podemos, finalmente, fazer um decalque, ou seja, seguindo a estrutura 
do texto original, substituir a ideia inicial por outra que com ela esteja 
associada. 
 
Assim, podem ser produzidos diversos tipos de textos acadêmicos, como 
fichamentos, resumos e resenhas de textos, como veremos adiante. 
Vamos agora para outra forma como pode se dar a intertextualidade. 
 
4.4 ESTILIZAÇÃO 
 
A palavra ‘estilização’ deriva de estilo que, de acordo com Houaiss (opus 
cit., p. 1254) significa “o modo pelo qual um indivíduo usa os recursos da língua para 
expressar, verbalmente ou por escrito, pensamentos, sentimentos, ou para fazer 
declarações, pronunciamentos etc.” 
Então, Sant’Anna (1988) define estilização como uma forma de tomar 
aquele estilo de outrem, estabelecendo um desvio tolerável e produzindo um meio do 
caminho entre a paródia e a paráfrase. Já para Fiorin (2003), 
 
a estilização é a reprodução do conjunto dos procedimentos do 
‘discurso de outrem’, isto é, do estilo de outrem. Estilos devem ser 
entendidos aqui como o conjunto das recorrências formais tanto no 
plano da expressão quanto no plano do conteúdo (manifestado, é 
claro) que produzem um efeito de sentido de individualização. 
 
 
Esclarece, ainda, Fiorin que a estilização pode ser polêmica ou contratual. 
Entendemos que a estilização, em sentido estrito, pode ser uma forma de alusão, já 
que, ao citar, temos uma menção ao discurso de outrem, de maneira indireta, ou seja, 
por meio da utilização do estilo do texto de origem. 
Vamos ver, agora, a estilização que Murilo Mendes elaborou a partir da 
Canção de Exílio de Gonçalves Dias: 
 
Canção do Exílio 
 
Minha terra tem macieiras das Califórnia 
onde cantam gaturamos de Veneza. 
Os poetas da minha terra 
44 
 
são pretos que vivem em torres de ametista, 
os sargentos do exército são monistas, cubistas, 
os filósofos são polacos vendendo a prestações. 
A gente não pode dormir 
com os oradores e os pernilongos. 
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda. 
Eu morro sufocado em terra estrangeira. 
Nossas flores são mais bonitas 
nossas frutas mais gostosas 
mas custam cem mil réis a dúzia. 
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade 
e ouvir um sabiá com certidão de idade! 
 
 
Quais elementos, no texto acima, nos indicam tratar-se de uma 
estilização? Ao aludir ao texto de Gonçalves Dias, o autor manteve, em vários 
momentos, a mesma construção sintática do texto de origem. 
 
Ex.: sujeito + verbo transitivo direto + objeto direto (oração principal): 
 
Minha terra tem palmeiras 
Minha terra tem macieiras da Califórnia. 
 
Oração subordinada adjetiva: 
 
Onde canta o sabiá 
Onde cantam gaturamos de Veneza. 
 
Além disso, é mantido o presente do indicativo e, quanto ao léxico, 
observamos que o texto de Murilo Mendes insere o cotidiano no esquema da nostalgia 
e que o efeito poético de distanciamento do modelo que obtém não elide, contudo, a 
reverência – irônica é verdade – à matriz da saudade nacional, tornando-se, ao 
mesmo tempo, polêmico e contratual. 
 
4.5 APROPRIAÇÃO 
 
Sant’Anna (1988) ensina que essa forma de intertexto é bastante recente 
na crítica literária e chegou à Literatura por meio das Artes Plásticas, especialmente 
pelas experiências dadaístas. Também conhecida como assemplage (reunião, 
45 
 
agrupamento), é muito próxima da colagem, ou seja, trata-se da reunião de materiais 
diversos para a composição de algo. 
Embora recente seu estudo, essa técnica é, de acordo com o autor, 
antiquíssima, pois usa de um artifício muito conhecido na elaboração artística: o 
deslocamento, que, por meio do desvio, provoca um estranhamento. 
A apropriação pode ser de dois tipos: 
 
a) de primeiro grau: quando é o próprio objeto que entra em cena; 
b) de segundo grau: quando ele é representado, traduzido para outro 
código. 
 
O chargista e humorista Caulus fez o sabiá voar dos versos saudosistas 
para a denúncia ecológica, no grafismo leve e tocante do exílio de sua própria 
palmeira: 
 
 
 Fonte: www.comcienci0a.br/carta/migracoes 
 
Em outras palavras, o artista apropriou-se do original e o transpôs para 
outro código, fazendo surgir, como disse Maserani (1995, p. 94) um novo texto. Nesse 
sentido, podemos dizer que, ao fazer uso da apropriação, “o artista está querendo 
46 
 
desarrumar, inverter, interromper a normalidade cotidiana e chamar a atenção para 
alguma coisa.” (SANT’ANNA, 1988, p. 45). 
José Paulo Paes, no melhor estilo do sintetismo antidiscursivo das grandes 
vanguardas modernistas, fez o resumo da poesia, despojando-a de acessórios: 
 
Lá ? 
Ah ! 
 
Sabiá... 
Papá... 
Maná... 
Sofá... 
Sinhá... 
 
Cá ? 
Bah ! 
 
Estudando os quatro elementos revistos, Sant’Anna (1988) uniu-os em dois 
conjuntos, chegando à seguinte correlação: 
 
Paráfrase Paródia 
 
Estilização Apropriação 
(conjunto das similaridades) (conjunto das diferenças) 
 
4.6 ATIVIDADES PROPOSTAS 
 
Vamos retomar agora, para que você fixe bem o conteúdo, alguns dos conceitos 
discutidos: 
 
1. Responda: 
a) O que é intertextualidade? 
b) Compare: paródia x paráfrase. 
 
Agora, veremos como esses elementos interagem na construção do texto acadêmico. 
 
47 
 
5 O TEXTO ACADÊMICO 
 
Caro(a) aluno(a), 
Os textos produzidos no mundo acadêmico podem ser feitos ora por meio 
da similaridade, ora da diferença. Veremos como se comportam e como produzir: o 
fichamento, o resumo e a resenha. Vamos ver, agora, o que compreende cada um 
deles. 
 
5.1 FICHAMENTO 
 
Observem: 
Para que fichemos qualquer obra, é necessário, antes de tudo, uma leitura 
atenta daquilo que se deseja fichar. Ruiz (1980, p. 70) aconselha: 
 
 
“Não basta ir às aulas para garantir pleno êxito nos estudos. É preciso ler e, 
principalmente, ler bem. Quem não sabe ler, não saberá resumir, não saberá tomar 
apontamentos e, finalmente, não saberá estudar.” 
 
 
Então, para que façamos um bom fichamento, é preciso seguir algumas 
etapas: 
 
a) ler atentamente uma primeira vez o texto na íntegra, grifando as 
palavras desconhecidas e procurando-as no dicionário; 
b) ler uma segunda vez, munidos com lápis, para sublinhar os trechos mais 
importantes. 
 
Andrade e Henriques (1992) informam que é importante sublinhar um texto, 
para: 
 
 
48 
 
a) assimilá-lo melhor; 
b) memorizá-lo; 
c) preparar uma revisão rápida do assunto; 
d) aplicar em citações; 
e) resumir, esquematizar ou fichar. 
 
De acordo com esses autores, a técnica de sublinhar compreende, depois 
das leituras sugeridas: 
 
a) identificação da ideia-núcleo de cada parágrafo; 
b) indicação, com uma linha vertical colocada à margem, dos tópicos mais 
importantes; 
c) colocação de um ponto de interrogação à margem do texto, para indicar 
casos de discordância e passagens obscuras; 
d) leitura do que foi sublinhado para ver se há sentido; 
e) reconstrução do texto, tomando os trechos sublinhados como base. 
 
Os autores também recomendam que: 
 
[...] há de se sublinhar o estritamente necessário, evitando-se 
argumentações, exemplificações, citações etc. (ANDRADE; HENRIQUES, 1992). 
 
Depois desse primeiro passo, procede-se, então, ao fichamento. 
Hoje, com a facilidade do computador, podemos utilizar uma pasta 
especialmente aberta para salvar esse tipo de documento. Quem não dispõe desse 
recurso,

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