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ECA AULA - 9

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ECA AULA – 9
O Ato Infracional e a sua apuração 
Introdução
Vimos na Aula 7 que, ao praticar um ato infracional, o adolescente está sujeito à aplicação de uma medida socioeducativa. Já a criança que pratica um ato infracional, está sujeita apenas à aplicação das medidas de proteção. (art. 105, ECA)
O conceito de ato infracional encontra-se previsto no art. 103 do ECA.
Na verdade, o ato infracional não é crime nem contravenção, mas sim um ato análogo a estes. Isto porque os menores de 18 anos de idade são inimputáveis segundo a CRFB, o Código Penal e o próprio ECA, sendo a legislação especial que prevê medidas aplicáveis aos autores desses atos. E, devido à inimputabilidade desses menores, eles não preenchem o requisito de culpabilidade para que caiba a aplicação de uma pena. Assim, sua conduta é denominada tecnicamente “ato infracional”, abrangendo a expressão tanto as condutas previstas como crime quanto as previstas como contravenção pela legislação penal.
Premissa
O artigo 103, do Estatuto, conceitua o ato infracional como a conduta descrita como crime ou contravenção penal. Para entendermos melhor o ato infracional e suas consequências, no ECA, temos que relembrar alguns conceitos do Direito Penal.
No Direito Penal, majoritariamente, o conceito analítico de crime é formado pelo fato típico, ilícito e culpável. Ou seja, o injusto penal (fato típico e ilícito) deve ser complementado pela culpabilidade para se afirmar que existe crime.
O menor de 18 anos não pratica crime justamente por não ter culpabilidade. A inimputabilidade, uma das excludentes da culpabilidade, é estabelecida em critério puramente biológico em relação ao menor de 18 anos. Consoante o artigo 27, do Código Penal, artigo 228, da Constituição Federal e artigo 104 do ECA: “os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.
SAIBA MAIS
As normas relativas à prática do ato infracional previstas no Estatuto dividem-se em normas de Direito Material e de Direito Processual. Não só definem o ato infracional, como também preveem o procedimento a ser adotado caso seja praticado.
Teoria da atividade
Dispõe o artigo 104, parágrafo único, do ECA que:
“Para os efeitos desta lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do fato.”
Não importa que o ato infracional seja descoberto quando o agente já conte com a maioridade, pois o que implica é a idade do adolescente à data do fato, mais especificamente no momento em que a conduta é praticada. Não deve ser considerado o momento do resultado. Tanto quanto o Código Penal, o ECA também adotou para o momento do ato infracional a teoria da atividade.
Teremos que, necessariamente, analisar alguns aspectos:
CRIME PERMANENTE
A conduta se protrai no tempo. Dessa maneira, é como se o crime estivesse sendo praticado a cada momento. Por exemplo, o agente, contando com 17 anos e 10 meses, sequestra uma pessoa. Se, ao completar 18 anos, ele ainda não tiver liberado a pessoa, a ele não serão aplicadas as normas do Estatuto, mas sim as do Código Penal, pois sequestro (artigo 148 do Código Penal) é crime permanente.
MOMENTO DA MAIORIDADE
É necessário que se saiba exatamente o momento em que é completada a maioridade. A questão é controvertida.
Para alguns, o agente torna-se imputável no primeiro minuto da data de seu aniversário, independente da hora em que nasceu. Exemplo: se ele nasceu às 20 horas do dia 10 de agosto de 1985, de fato, completou 18 anos às 20 horas do dia 10 de agosto de 2003. No entanto, seguindo a norma do artigo 10, do Código Penal, que determina que, no cômputo dos prazos de Direito Penal seja incluído o dia do começo, ele será imputável a partir do primeiro minuto do dia 10 de agosto de 2003. Se ele pratica uma ação típica às 13 horas desse dia, por exemplo, ele responderá como adulto.
Dentre outros, esse é o entendimento de Júlio Fabrini Mirabete, Damásio de Jesus, Rogério Greco e Cristiane Dupret, adotado majoritariamente pela jurisprudência. Alguns doutrinadores sustentam que só haveria imputabilidade após o horário em que se completaria, realmente, 18 anos. Outros sustentam que a maioridade apenas se daria após o dia do aniversário.
Dessa maneira, se um indivíduo, contando com 17 anos e 5 meses, desejando matar, atira em uma pessoa que só vem a falecer 8 meses depois, ainda que o agente já seja maior, ele responderá nos termos do Estatuto. Ressalte-se que se o crime foi descoberto após ele ter completado 21 anos, nada mais poderia ser feito, tendo ocorrida a prescrição socioeducativa.
Prova da menoridade
Tal prova deve ser feita, em princípio, pela certidão de nascimento, em virtude do que dispõe o artigo 155 do Código de Processo Penal:
“No juízo penal, somente quanto ao estado das pessoas, serão observadas as restrições à prova, estabelecidas na lei civil”.
O Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 74, que dispõe:
“Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento hábil”.
Ressalte-se que a jurisprudência tem aceitado prova idônea, desde que documental.
Critério para aplicação das medidas socioeducativas
Diferente dos crimes, o legislador não vinculou as medidas socioeducativas a um determinado ato infracional.
Sendo assim, caberá ao juiz, na análise do caso concreto, decidir a medida mais adequada, embora o Estatuto nos traga algumas orientações, tais como somente ser cabível a medida de obrigação de reparar o dano quando o ato gerar reflexos patrimoniais ou ainda, determinar que a medida de internação somente será cabível nos casos expressos no artigo 122.
As medidas socioeducativas somente poderão incidir se o ato infracional tiver sido praticado por adolescente, ou seja, pessoas entre 12 e 18 anos de idade incompletos. A criança até comete ato infracional, mas para ela apenas são incidentes as medidas de proteção.
Cabe destacar ser possível que alguém entre 18 e 21 anos receba uma medida socioeducativa, mas desde que o ato infracional tenha sido praticado antes dos 18 anos. É o que se depreende do artigo 2º, parágrafo único, do ECA e do artigo 121, parágrafo 5º. O limite máximo para aplicação de uma medida socioeducativa é de 21 anos de idade.
Prescrição da medida socioeducativa
Muito embora a doutrina, durante bastante tempo, tenha discutido a questão relacionada à prescrição do ato infracional — tendo se dividido em duas correntes — a questão foi sumulada pelo STJ, tornando-se amplamente majoritária. O instituto da prescrição, antevisto no Código Penal, refere-se, em regra, à pena privativa de liberdade.
Apesar de não ter a medida socioeducativa natureza de pena, sempre foi controvertida a aplicação da prescrição penal ao ato infracional. Atualmente, a questão já está pacificada pelo Superior Tribunal de Justiça, que editou a Súmula 338 em 09/05/2007: “A prescrição penal é aplicável nas medidas socioeducativas”.
Assim, a tabela prevista, no artigo 109, do Código Penal pode ser aplicada ao ato infracional da seguinte forma:
A
Na hipótese em que o magistrado menorista define prazo certo para a duração da medida socioeducativa, à luz do enunciado do artigo 110, caput, do Código Penal, será este o utilizado para o cálculo prescricional. Exemplo: imposta medida de prestação de serviços à comunidade pelo prazo máximo de 3 meses, em sentença transitada em julgado, a prescrição é de 1 ano e meio, a teor do disposto no artigo 109, inciso VI, c.c., art. 115 do Código Penal. Ou seja, a prescrição será sempre contada da metade, tendo em vista o disposto no art. 115 do Código Penal.
B
Tratando-se de medida socioeducativa de internação, que é aplicada sem prazo de duração certo, o cálculo da prescrição, por analogia, deve ter em vista o limite de 3 anos previstos para a duração máxima da medida de internação, na forma do artigo 121, § 3º, do ECA. Sendo assim, aplicado o artigo 109, c.c, artigo 115, do Código Penal, a prescrição se opera em 4 anos.
C
Sendo o ato infracional praticado equiparadoa delito que prevê como preceito secundário sanção inferior a 3 anos, o cálculo da prescrição deve ser aferido pela pena máxima em abstrato previsto ao delito praticado.
Se a legislação penal estabelece pena inferior ao prazo máximo estipulado para a aplicação da medida socioeducativa de internação (3 anos), não se pode admitir que se utilize tal parâmetro para o cálculo da prescrição, uma vez que levaria a situações de flagrante desproporcionalidade e injustiça, porquanto se daria tratamento mais rigoroso a um adolescente do que a um adulto em situações análogas.
SAIBA MAIS
Cabe destacar ainda que, além da aplicação da prescrição penal às medidas socioeducativas, pode-se também falar em prescrição socioeducativa, que se opera quando o autor do fato completa 21 anos de idade.
Dos direitos individuais e das garantias processuais do adolescente infrator
O legislador definiu, no ECA, tanto os direitos individuais quanto as garantias processuais do adolescente infrator. Esses direitos fundamentais (arts. 106 a 109, ECA) e estas garantias processuais (arts. 110 e 111, ECA) nada mais são que os direitos fundamentais e as garantias processuais do cidadão comum, acrescidos do status de prioridade absoluta e adequados à condição de pessoa em desenvolvimento do adolescente.
Assim, o legislador entendeu por bem ratificar que os direitos individuais e as garantias processuais, previstos para o criminoso adulto, também são aplicáveis aos adolescentes que praticam atos infracionais. Vamos destacar:
ART. 106
No artigo 106, previu o legislador a garantia de que nenhum adolescente possa ser apreendido senão em flagrante delito ou por ordem de autoridade judicial competente. Esta ressalva, em relação à autoridade competente, é importante por limitar a prerrogativa exclusivamente ao Juiz da Infância e da Juventude.
É assegurado ainda ao adolescente infrator, o direito de saber quem são os responsáveis pela sua apreensão, e determina o ECA que o mesmo seja informado acerca dos seus direitos, inclusive o de permanecer calado em sede policial.
A importância prática da obrigatoriedade quanto à identificação dos responsáveis pela apreensão consiste em coibir o abuso de autoridade. E ainda, o adolescente só pode ser conduzido à delegacia especializada (pena: art. 230, ECA).
ART. 107
No artigo 107, objetivando dar mais visibilidade à apreensão do adolescente, determinou o legislador que o delegado deverá comunicar a chegada do adolescente à Delegacia Especializada, ao juiz e também à sua família ou à pessoa por ele indicada. Considerando-se que a privação da liberdade constitui uma medida excepcional, deverá o delegado verificar, imediatamente, se é ou não cabível a liberação imediata do adolescente. Essa verificação será feita com base nas regras contidas no art. 122 do ECA.
Para concluir o rol das garantias individuais, estende-se ao adolescente infrator o direito constitucional a não identificação datiloscópica (digitais) na delegacia, salvo em caso de dúvidas decorrentes, por exemplo, de rasura ou adulteração da identidade, da falta de identificação civil, ou da necessidade de confrontação com outra identificação.
ART. 110
O enunciado do artigo 110 inspirou-se no artigo 5, inc. LIV, da CFRB. Assim, o legislador prevê que nenhum adolescente poderá ser privado de sua liberdade, sem o devido processo legal.
ART. 111
Para cada conduta, um processo. Como corolário do devido processo legal, garantiu ao adolescente infrator, no artigo 111, do ECA, o direito de citação, igualdade na relação processual, defesa técnica por advogado, assistência judiciária gratuita, bem como o direito de ser ouvido pessoalmente e de solicitar a presença de seus pais em qualquer fase do processo.
ART. 124
No artigo 124, o legislador garantiu ainda, alguns direitos ao adolescente infrator já privado de sua liberdade pela medida socioeducativa de internação. Isto porque, mesmo sendo infrator, o adolescente é sujeito de direitos, necessitando de proteção. Dentre esses direitos, pode ser citado o de visitação com periodicidade semanal, o de avistar-se reservadamente com seu defensor e de peticionar diretamente à autoridade.
O ECA vedou a incomunicabilidade, mas trouxe a previsão de suspensão temporária de visitas, inclusive dos próprios pais, por decisão motivada do juiz.
Procedimento de apuração do ato infracional
Este procedimento se divide em 3 fases distintas. São elas:
FASE POLICIAL
Inicia-se com a apreensão em flagrante do adolescente, seguida de seu encaminhamento à delegacia de polícia especializada (se houver), a fim de ser lavrado ou o auto de apreensão em flagrante ou o boletim de ocorrência circunstanciado, conforme a natureza do ato infracional praticado (vide arts. 172 e 173 do ECA).
Ao chegar à delegacia, a autoridade competente deve comunicar imediatamente a apreensão ao juiz, aos pais ou responsável do adolescente ou à pessoa por ele indicada, sob pena de responder pelo crime do art. 231 do ECA. Hipóteses de cabimento:
a) Auto de apreensão em flagrante: Se o ato foi praticado com violência ou grave ameaça à pessoa.
b) Boletim de ocorrência: Se o ato não foi praticado com violência ou grave ameaça à pessoa.
No art. 173, além de prever o procedimento a ser adotado em sede policial, o legislador ainda apontou as providências a serem tomadas, a fim de se comprovar a autoria e a materialidade, bem como a garantia de direito contida no artigo 107 do ECA. Ainda nessa fase, previu a possibilidade de liberação ou não do infrator pela autoridade policial. (art. 174, ECA).
Para tanto, o delegado e as demais autoridades terão que se pautar pelas regras do art. 122 do ECA, que admite a internação quando o ato infracional for cometido mediante violência ou grave ameaça à pessoa.
Observação: Como o estatuto não definiu o significado de ato infracional de natureza grave, por conta dessa omissão, a doutrina majoritária adotou um critério com base na lei penal para defini-lo, entendendo por ato infracional de natureza grave como sendo o ato análogo ao crime apenado com pena de reclusão.
Ressalte-se que a internação admitida antes da sentença é a denominada internação provisória, pautada no art. 108, do ECA, baseada em indícios de autoria e materialidade e necessidade imperiosa da medida.
Seu prazo máximo será de 45 dias. Não cabe à autoridade policial determinar a internação provisória, mas tão somente ao Juiz da Infância e Juventude. A regra é a liberação condicionada aos pais, que prestam compromisso de apresentar o adolescente ao MP no mesmo dia ou no máximo no dia útil seguinte.
Excepcionalmente, o adolescente será internado de forma provisória. No art. 174, o legislador ainda prevê que não sendo o adolescente liberado e não podendo ser apresentado no prazo de 24 horas ao Promotor de Justiça, ele deverá ser encaminhado a uma entidade adequada ou, na falta desta entidade, deverá ser mantido em cela separada dos adultos. (art. 175, ECA).
No caso de suspeita de participação de adolescente, em prática de ato infracional, previu o legislador a possibilidade de investigação, que se dará com a instauração de inquérito policial, que culmina com a elaboração de um relatório, o qual deverá ser encaminhado ao Ministério Público. (arts. 176 e 177, ECA).
Assim, podemos concluir que:
a) Estando o adolescente em estado de flagrância: dependendo da natureza do ato infracional praticado, o delegado poderá lavrar um auto de apreensão em flagrante (art. 173, caput e incisos do ECA) ou um boletim circunstanciado (art. 173, § único do ECA).
b) Se não houver flagrante, mas havendo indícios de envolvimento do adolescente com prática de ato infracional, o delegado poderá investigar e lavrar um relatório. (art. 177, ECA) Finalmente, objetivando dar mais visibilidade no transporte do adolescente infrator, o legislador não permitiu que ele fosse transportado em compartimento fechado de viatura policial. (art. 178, ECA)
Partindo do mesmo princípio, não é possível algemar o adolescente infrator, a nãoser se houver necessidade em razão da segurança/periculosidade.
Ou seja, como o ECA nada dispõe acerca do uso de algemas, o raciocínio é o mesmo da súmula vinculante 11 do STF: “Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado”.
FASE MINISTERIAL
Ultimadas as diligências policiais, verificando-se não ser o caso de liberação imediata do adolescente, este deverá ser encaminhado pelo delegado ao MP, juntamente com a providência adotada na delegacia, no prazo de 24 horas.
Chegando os autos ao cartório da Vara da Infância e Juventude, este deverá exarar certidão acerca dos antecedentes do adolescente, dando início à segunda fase para apuração do ato infracional, cabendo ao Ministério Público, na forma do art. 179, do ECA, ouvir informalmente o adolescente sobre os fatos que lhe são imputados, bem como seus pais e as testemunhas, se for possível.
Se o adolescente for liberado e não se apresentar espontaneamente, na data constante do termo de compromisso firmado na Delegacia (art. 174), o representante do Ministério Público deverá notificar seus pais para apresentá-lo, podendo inclusive requisitar força policial. (art. 179, § único, c/c, art. 201, VI, alínea “a”, ambos do ECA)
Após ouvir o adolescente infrator, o representante do Ministério Público poderá optar por três alternativas previstas pelo art. 180 do ECA:
a) promover o arquivamento dos autos (art. 181, ECA): Verificando o MP que o fato é inexistente ou não está provado, ou o fato não constitui ato infracional, ou não há comprovação acerca do envolvimento do adolescente, deverá promover o arquivamento dos autos, através de manifestação fundamentada, e nos moldes do art. 180, I, c/c, arts. 189 e 205, todos do ECA, e remetê-lo à homologação judicial. Caso o Juiz da Infância discorde do arquivamento, fará remessa dos autos ao Procurador Geral de Justiça, e este oferecerá representação, ou designará outro membro do Ministério Público para apresentá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar.
b) conceder remissão como forma de exclusão do processo (art. 126, 1ª parte, ECA): A remissão tem natureza de perdão e faz parte do elenco de providências que o MP poderá optar, com certa discricionariedade.
Neste caso, levando-se em consideração as circunstâncias e consequências da infração, a personalidade do infrator e sua maior ou menor participação no ato infracional (art. 126, ECA), o MP pode conceder a remissão ao adolescente infrator, impedindo que se instaure o procedimento de apuração do ato infracional. É interessante ressaltar que o legislador, em nenhum momento, se reportou diretamente à gravidade da infração.
Tal como o arquivamento, a concessão da remissão depende de manifestação fundamentada e de homologação judicial para produção de seus efeitos. É importante ressaltar que o ECA prevê duas espécies de remissão. São elas:
a) Remissão anterior ao procedimento judicial: É a que vimos anteriormente, prevista no caput, do art. 126, oferecida pelo membro do MP antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, e possui como consequência a exclusão do processo. Possui natureza administrativa, pois impede que se instaure o procedimento de apuração do ato infracional.
b) Remissão aplicada no curso do procedimento judicial: Prevista no art. 126, parágrafo único, do ECA, é aquela oferecida pela autoridade judiciária, e após início do procedimento judicial. A consequência desta remissão é a suspensão ou extinção do processo.
Nesta modalidade de remissão, é possível a cumulação da mesma com a aplicação de medida socioeducativa (exceto as de semiliberdade e internação, que prescindem de ampla defesa e contraditório). Já na primeira hipótese de remissão, esta cumulação é controvertida: quem entende que não pode cumular, acha que se estaria afrontando o princípio do devido processo legal e do contraditório, e também por não ser atribuição do MP e sim, do juiz, aplicar tais medidas. (Súmula 108 do STJ).
Quem entende que pode cumular, não vê violação a tais princípios, pois o MP faz o requerimento à autoridade judiciária, que então homologa a transação, e também entende que, quando o MP aplica a remissão, e impõe medida socioeducativa, está transacionando com o adolescente (oferece o não processar pela aceitação voluntária de medidas socioeducativas, excluídas as de semiliberdade e internação). Prevalece o primeiro entendimento.
A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou a comprovação da responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes, e a medida aplicada por força da remissão poderá ser revista judicialmente, a qualquer tempo, diante pedido expresso do adolescente ou de seu representante legal, ou do Ministério Público.
c) Ou representar (art. 182, ECA): A ação socioeducativa tem início com o recebimento da peça técnica denominada de “representação” pelo legislador estatutário.
São características dessa ação (representação):
1. Natureza pública incondicionada, independentemente do tipo do ato infracional praticado.
2. A legitimidade é exclusiva do Ministério Público, assim não há que se falar em ação socioeducativa de natureza privada.
3. A ação socioeducativa é regida pelo princípio da disponibilidade, tendo em vista que somente deve ser instaurada se não for caso de arquivamento ou de remissão.
4. Quanto ao aspecto formal, a representação poderá ser oferecida por escrito ou oralmente. Independentemente da forma escolhida, a representação deverá conter um breve resumo dos fatos, classificação do ato infracional, rol de testemunhas e o requerimento de internação provisória ou o pedido de liberação do adolescente, dependendo das condições apresentadas.
Por fim, deve-se também ressaltar que a representação será dirigida sempre ao juiz da Vara da Infância, mesmo que o ato infracional seja análogo a delito criminal da competência da Vara Federal, face aos princípios da prioridade absoluta e a competência exclusiva (art. 148, I, ECA).
FASE JUDICIAL
Para que seja possível a aplicação de medida socioeducativa, é necessária a promoção da ação socioeducativa, não podendo o juiz aplicar diretamente tal medida sem prévio procedimento judicial.
O Ministério Público é o legitimado exclusivo para a propositura da ação socioeducativa. Não pode o juiz, de ofício, dar início ao procedimento judicial. Ressalte-se que a ação socioeducativa é modalidade de ação pública incondicionada, não havendo necessidade de representação do ofendido.
O artigo 182, parágrafo 2º, dispõe que a representação independe de prova pré-constituída de autoria e materialidade.
Se o juiz recebe a representação, dá início ao procedimento judicial. Primeiramente, o juiz vai determinar a citação do adolescente, embora a lei fale em notificação. O procedimento trazido pelo Estatuto constitui verdadeira ação, sendo a citação o ato próprio de comunicação para determinado adolescente responder a ela. Ele vai aprazar uma audiência de apresentação mediante decisão interlocutória, decidindo ainda pela manutenção ou decretação de internação provisória. Essa audiência equivale a um interrogatório e é imprescindível ao desenvolvimento do procedimento.
O adolescente deve ser citado pessoalmente, jamais por edital ou com hora certa. Se não for localizado ou se, tendo sido citado, não comparece, o feito será sobrestado.
O juiz expede mandado de busca e apreensão do adolescente e fica aguardando. Quando o autor do fato completar 21 anos, o processo deverá ser arquivado, em virtude de prescrição socioeducativa.
Caso os pais não sejam localizados, determina o artigo 184 a nomeação de curador especial aoadolescente. Se esse não tiver advogado constituído, o juiz nomeia defensor para apresentação de defesa prévia em três dias, com rol de testemunhas (artigo 186) e apraza audiência em continuação (que é semelhante a uma audiência de instrução e julgamento). Nessa, serão ouvidas as testemunhas da representação e da defesa prévia, juntada ao relatório da equipe interprofissional, debates orais do Ministério Público e da defesa, pelo prazo de 20 minutos prorrogáveis por mais 10, culminando com a sentença.
Da decisão que concede remissão com aplicação de medida socioeducativa será cabível apelação, assim como da decisão que promove o arquivamento, a que absolve ou sanciona o adolescente.
O artigo 183 dispõe que, quando o adolescente se encontrar internado provisoriamente, o prazo para encerramento do procedimento é de 45 dias. Consoante o artigo 108, o prazo máximo para a internação provisória é de 45 dias, o que justifica a norma do artigo 183 do Estatuto.
Atividades
Questão 1: Juliana, com 8 anos de idade, foi apreendida por um policial, vendendo 200 gramas de maconha para uma colega de escola. O policial conduziu Juliana para a delegacia especializada, onde a mesma foi encaminhada pelo delegado ao Ministério Público.
Analise o caso em comento e mencione se agiu corretamente a autoridade policial. 
GABARITO
A autoridade policial não agiu de forma acertada. Juliana é criança e, embora tenha cometido ato infracional, para ela apenas incidem medidas de proteção, não havendo procedimento de apuração. O policial deveria ter encaminhado Juliana ao Conselho Tutelar.
Questão 2: Considerando as normas da Lei Federal nº 8.069, de 13/07/1990, assinale a alternativa correta sobre como é considerada a conduta descrita como crime se praticada por criança ou adolescente.
Crime de menor potencial ofensivo
Contravenção penal
Ato infracional
Crime hediondo
Crime inimputável
Questão 3: O Estatuto da Criança e do Adolescente, ocupando-se da disciplina do tema da prática de ato infracional por adolescente, trouxe inúmeros dispositivos legais, dentre eles os responsáveis pela delimitação das medidas socioeducativas. No que diz respeito a essas medidas, o Estatuto determina que:
em atos infracionais com reflexos patrimoniais, a autoridade competente não poderá determinar que o adolescente restitua o objeto, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima, pois esse dever incumbe aos seus pais.
a prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por um período de 12 meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais.
em se tratando de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa e, no descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta, poderá ser aplicada a medida de internação.
a liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de 3 meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor.
Questão 4: Paulo, com 17 anos de idade, foi flagrado praticando ato infracional e o procedimento judicial de apuração foi iniciado. Considerando essa situação hipotética e o que dispõe o ECA, assinale a alternativa correta.
A concessão da remissão pelo Ministério Público importará na interrupção do processo já iniciado e no perdão total de Paulo.
A remissão implica no reconhecimento da responsabilidade de Paulo, mas exclui a possibilidade de aplicação de medida socioeducativa.
A remissão prevalece para efeito de antecedentes, devendo constar nos registros de Paulo junto à Justiça da Infância e da Juventude.
A remissão pode incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a internação.
A remissão poderá ser revista judicialmente, de ofício ou no prazo de cinco dias, mediante pedido do adolescente, do seu representante legal ou do Ministério Público.

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