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UNP - Carandiru

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UNIVERSIDADE POTIGUAR
ESCOLA DE DIREITO
GRADUAÇÃO EM DIREITO
DISCIPLINA: Sociologia jurídica
PROFESSOR: Carlos André Maciel Pinheiro Pereira
ALUNA: Lara Helen Ferreira Dantas
ATIVIDADE ADE – UNIDADE II: FILME CARANDIRU
“Costuma-se dizer que ninguém conhece verdadeiramente uma nação até que tenha estado dentro de suas prisões. Uma nação não deve ser julgada pelo modo como trata seus cidadãos mais elevados, mas sim pelo modo como trata seus cidadãos mais baixos”. A frase do advogado, líder rebelde e presidente da África do Sul Nelson Mandela, parece fazerem alusão a atual face do cenário político-social no Brasil. Hodiernamente, é crescente nas sociedades brasileiras discussões acerca da precariedade e ineficiência dos sistemas prisionais, da falta de medidas de segurança pública e da ausência de limitação e orientação do Estado. Tais questões têm sua relevância retratada diariamente pelos meios de comunicação em massa, à realidade brasileira está escancarada nos telejornais, rádios, internet e principalmente na vivência de cada cidadão. 
No filme Carandiru, que foi baseado no livro Estação Carandiru, escrito pelo Dr. Dráuzio Varella, é retratado o dia a dia dos presos e o massacre que ocorreu na maior casa de detenção de São Paulo, no maior presídio da América Latina, é construída a história do médico (Luis Carlos Vasconcelos) que visava fazer um trabalho de prevenção contra a AIDS. Além disso, através do trabalho humanizado que o médico apresentava com os presos, estes lhe contam histórias de como e porque estão naquele presídio, mostrando os diferentes tipos de crime, gravidade e de indivíduos presentes em um só lugar. Em virtude disso, é possível identificar alguns elementos integrantes da disciplina de sociologia jurídica. O elemento da prisão como algo punitivo é algo que o Estado criou recentemente, antes de tal mecanismo era-se utilizado o suplício como forma punitiva nos tribunais, o corpo do indivíduo era o alvo da pena que o soberano aplicava. Contudo, o povo despertou para a ilegalidade que a crueldade das penas aplicadas gerava e acharam no cárcere uma alternativa para “humanizar” o sistema, vendo que o dano causado não era mais físico e sim psicológico, aplicado até os dias de hoje. Tendo em vista as penas, mais diretamente o cárcere, o primeiro elemento que encontramos são as sanções negativas ou repressivas, que impõem uma consequência desfavorável ao qual se denomina pena, que devido ao descumprimento de uma norma vigente, acarreta na privação ou restrição de um direito do infrator. Onde em sua forma de sanção reparatória de imposição, retratada na maior parte do filme, objetiva castigar e resocializar o indivíduo de atitude desviante e mostrar a comunidade a eficácia do sistema de controle social, o direito penal.
Ao longo da película, é ponderável analisar, o tratamento diferenciado que é dado dos traficantes a um assaltante de banco ou estuprador pelos próprios presidiários naquele lugar e de forma mais abrangente, em todos os presídios de nosso país. Em Carandiru é explícito um novo código de conduta que regulariza e divide hierarquicamente os apenados, como por exemplo, a penalidade de morte ao crime de estupro ou o esfaqueamento pelo homicídio de alguém da própria família ou indefeso, ou até mesmo a transferência para outra localidade do presídio, onde provavelmente reside outra facção, com outro código de conduta, por causa da dívida muita vezes gerada pelo consumo de drogas. Com isso identifica-se a crise de legitimidade que gera um comportamento anômico nos indivíduos, o poder legítimo é aquele que a população reconhece que as ordens estatais são justas e por isso, reconhecem a necessidade de cumpri-las, em outras palavras, é o consenso que a sociedade concorda com a maneira que a autoridade estatal exerce suas funções de forma adequada. A crise da legitimidade se da quando o cidadão não se reconhece naquele sistema jurídico gerado pela ausência do Estado, a anomia, que pode vir a se manifestar socialmente e juridicamente por meio de um ciclo vicioso. 
Desse modo, esses fatos levam o indivíduo uma sensação de não pertencimento aquele Estado de direito, fazendo com que, no caso do código de conduta nos presídios, seja criada uma nova ordem. Igualmente, cria-se também, uma não efetividade do direito como controle social, devido à ilegitimidade do poder punitivo ( o controle social é carente de legitimidade porque está a mercê dos grupos de poder que asseguram seus interesses e não o da população), devido à inexistência da distinção entre o bem e o mal(o criminoso desenvolve um papel útil para sociedade e isso pode ser identificado com a formação das facções que acabam que “protegendo” a população que reside em determinado local com mais eficiência do que os próprios policiais) e devido à inexistência da culpabilidade pessoal, o que a sociedade considera como conduta delituosa e passível de punição muitas vezes não é considerada pelo direito, pois ele exprime os valores e interesses das classes dominantes, como por exemplo, a morte de indivíduos que praticam estupro.
A Constituição Federal assegura aos encarcerados o respeito à sua integridade física e moral (cf. Art. 5o, inc. XLIX, CF/88). Uma das cenas que mais chocam o espectador são as presentes no final do filme que caracterizam o massacre ocorrido, a escada tomando a imagem de uma cachoeira de sangue, os presos sobreviventes que foram colocados nus na areia do pavilhão e ali, sentados, passaram a noite. Esse ocorrido revela o caráter genocida que teve o Estado ao permitir ou se omitir diante tal ato. As instituições que seriam responsáveis pela proteção e resguardo dos direitos humanos estão provocando um sistema de violência cíclica onde a vulnerabilidade social, geradas, segundo Robert Merton, pela imposição de metas a serem cumpridas pelos membros da sociedade, que devido à ausência ou insuficiência de meios institucionalizados para alcançá-las, cria condições específicas para estimular o abandono ou a burla de algumas normais sociais, mostra a ausência de acolhimento do Estado. A criminalização da vulnerabilidade gerada pelos meios e metas institucionais isola o indivíduo do grupo social e, segundo Durkheim, enfraquecem o seu espírito de solidariedade, o levando a um comportamento desviante. Esse comportamento desviante pode ser identificado nos crimes cometidos pelos presos, os assaltos aos bancos e joalherias que tinham como desculpa o sustento da casa e dos filhos, o homicídio de estupradores que era uma forma de punição do mesmo e de proteção da vítima, sensação essa que o Estado não supre ao não cumprir com o seu papel de orientar e limitar a atividade do indivíduo de maneira eficaz. Gerando crimes de caráter econômico, usando um meio não aceito pela sociedade.
Outro fato que é possível ser identificado ao decorrer da trama, é a superlotação do sistema carcerário devida ao “hiperencarceramento” ligado aos crimes não violentos. Como já apresentado, o médico do presídio era respeitado pelos presos que por confiarem nele, contavam suas histórias de como iam parar naquele lugar, com isso é fácil identificar a presença de indivíduos que não apresentam crime com certo grau de violência, muitos são decorrentes de pequenas quantidades de drogas, furto ou latrocínio, que acabam tendo que conviver com indivíduos de alta periculosidade.
 De mesmo modo, é o uso da prisão provisória como antecipação da pena, colocados em uma verdadeira “universidade do crime”, onde em sua estrutura falta higiene e saúde, presentes em cenas como o aparecimento de ratos em pias e ausências de remédio para dores de cabeça, estresse e afins, bem como a falta de educação e trabalho, além da proliferação de doenças, retratados no filme pelo alto índice de AIDS que se alastrava pelo presídio e a falta de lugares para isolamento de presos com doenças infecciosas como a tuberculose que um deles adquire. Fazendo com que a medida de sanção que visa não somente a punição, mas a resocialização perca o seu caráter de resocialização.Um exemplo é o preso identificado pelo nome de “sem chance” ao conviver com o doutor e ao ser ensinado a ele pelo mesmo como manejar seringas e medicamentos adequadamente, visa quando sair da cadeia virar doutor com tudo àquilo que o médico havia lhe ensinado. Mais um fato que colabora com o inchaço do sistema carcerário no Brasil é a pouca demanda de defensores públicos e carência de recursos fazendo com que o preso fique mais tempo do que fixado, ocupando mais vagas do que o necessário, e a prisão por equívoco, que pode gerar revolta no indivíduo com o sistema ou as facções tendo que acolhê-lo provocando o surgimento de mais um infrator, o que antes a preocupação era com um indivíduo agora vão ser com dois indivíduos.
O agravamento dessa violência dentro dos presídios vai ser refletido nas ruas, o povo inseguro vai exigir do Estado mais segurança que acarretará a intensificação da repressão por parte do Estado (a continuação da violência cíclica em seu quinto estágio), podendo evoluir para brutalização da sociedade, os linchamentos, (sexto estágio da violência cíclica), provocada pelas classes dominantes como forma de distração para crimes econômicos como o de colarinho branco, aumentando a violência interna e externa (sétimo estágio da violência cíclica).
Para Paulo L.Saraiva em sua teoria da Tridimensionalidade do Direito” não há direito injusto, há manifestações injustas do direito por meio da norma ou contrato”, Carandiru nos leva a refletir sobre a insuficiência da norma que não encontra um correspondente específico(ou é mais gravoso ou menos gravoso), sobre o Estado de Direito, que é o respeito as próprias leis que atualmente encontrasse em crise, da omissão e morosidade do Estado, da substituição do papel do Estado pelas facções, a crise da ética na sociedade, somos a primeira geração que não sabe o que passar para as gerações futuras (sociedade líquida), pois nunca se expôs tanto o que é certo, porque nunca houve tanta dúvida sobre o que é certo. Humberto B.Fabretti vai falar da retroalimentação de um círculo vicioso de insegurança, para quebrarmos esse círculo é necessário que o Estado preste as políticas públicas necessárias, de modo capacitatório e assistencialista, fazendo com que tanto as garantias fundamentais quanto a cidadania caminhem juntas, que saia do paradoxo pedagógico onde o Estado ensina a respeitas desrespeitando. É necessária ainda uma mudança significava da cultura do encarceramento, descriminalizando condutas que não afetam os bens jurídicos fundamentais mudando a mentalidade tanto da população como da polícia, do Ministério Público e do Judiciário, vendo formas alternativas de cumprimentos de penas além do cárcere. É preciso cortar os males pela raiz, que só podem ser sanados pelo oferecimento de saúde e educação de qualidade, além de trabalho digno as classes mais marginalizadas.

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