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Apostila de Processo Coletivo

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROCESSO COLETIVO
Lúcio Flávio Siqueira de Paiva
Advogado. Mestre em Direito pela PUC/GO.
Professor de Processo Civil na PUC/GO, Escola da Magistratura de Goiás e Cursos Preparatórios para Concursos Públicos
Atualizada até abril de 2012.
ROTEIRO 01
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
01. ANTECEDENTES HISTÓRICOS
- As fases metodológicas do processo: (i) imanentista ou sincretista; (ii) autonomista; (iii) instrumentalista: processo coletivo como vertente do instrumentalismo substancial.
- A ação popular romana como antecedente histórico das ações coletivas.
- A “summa divisio” romana: divisão do direito em público e privado, de acordo com os possíveis titulares de direitos, ou seja, o indivíduo ou o Estado.
- Necessidade de superação conceitual, ante a tomada de consciência de uma classe de direitos que transcendem tanto a esfera do indivíduo, por um lado, quanto a esfera do Estado, por outro. Exemplo: a consciência ecológica e o despertar valores ambientais, os direitos do consumidor.
- A experiência norte-americana das class action: importância do estudo de mecanismos que inspiraram o legislador brasileiro, a saber: (i) o right to opt out; (ii) o sistema de fair notice ; (iii) a adequacy of representantion; (iv) o binding efect decorrente da coisa julgada.
- A evolução do processo coletivo no Brasil: (i) a ação popular prevista no artigo 113, inciso XXXVIII da Constituição de 1934; (ii) A lei 4.717/65; (iii) a década de 70 e a “revolução dos professores”, inspirada no movimento de ACESSO À JUSTIÇA, comandado por CAPPELLETTI e BRYANT GARTH.
02. FUNDAMENTOS OU OBJETIVOS DAS AÇÕES COLETIVAS:
- Acesso à Justiça.
- Economia Processual.
- Segurança Jurícia.
- Isonomia.
- Celeridade.
- Prevenção de decisões conflitantes.
03. CONCEITO DE PROCESSO COLETIVO:
- Para Didier e Zanetti Jr., “ conceitua-se processo coletivo como aquele instaurado por ou em face de um legitimado autônomo, em que se postula um direito coletivo lato sensu ou se postula um direito em face de um titular de um direito coletivo lato sensu, com o fito de obter uma providência jurisdicional que atingirá uma coletividade ou um número determinado de pessoas”.
3.1. CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO COLETIVO
- A especial legitimação para agir.
- A afirmação em juízo de um direito coletivo lato sensu.
- A extensão subjetiva da coisa julgada.
04. PROCESSO COLETIVO E MICROSSISTEMA DE TUTELA COLETIVA
- O sistema de tutela coletiva é formado por diversas leis que se comunicam entre si, em verdadeiro diálogo de fontes, e que formam um verdadeiro microssistema do processo coletivo.
- Principais Leis: Lei de Ação Popular (Lei n◦ 4.717/65); Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n◦ 6.938/81); Lei de Ação Civil Pública (Lei n◦ 7.347/85); CF/88; Código de Defesa do Consumidor (Lei n◦ 9.078/90); Lei do Mandado de Segurança (Coletivo) (Lei n◦ 12.016/09) e outros.
ROTEIRO 02
OS DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU
01. INTRODUÇÃO
- Direitos coletivos “lato sensu”: difusos, coletivos e individuais homogêneos.
02. A CONCEITUAÇÃO LEGAL
- CDC, Artigo 81, parágrafo único.
- Interesses ou direitos difusos: os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.
- Interesses ou direitos coletivos: os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas, ligadas ente si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base.
- Interesses ou direitos individuais homogêneos: assim entendidos os decorrentes de origem comum.
- IMPORTANTE: apesar de conceituados no CDC, não se aplicam apenas às relações de consumo.
2.1. DIREITOS OU INTERESSES?
- A doutrina amplamente majoritária afirma que o CDC não fez distinção entre as duas expressões. KAZUO WATANABE (Comentários ao CDC) afirma serem expressões sinônimas, na medida em que o interesse, quando amparado pelo ordenamento, adquire o status de direito. ELPÍDIO DONIZETI e MARCELO CERQUEIRA (Curso de Processo Coletivo) afirmam se tratar de distinção incabível, pois que os direitos coletivos são titularizados por coletividades, dispensando que se recorra ao conceito da doutrina italiana de interesse para permitir a sua tutela jurisdicional.
03. OS DIREITOS DIFUSOS:
- Características principais:
a) Titularidade: coletividade composta por indivíduos indeterminados e indetermináveis;
b) Divisibilidade: ausente, pois que o direito difuso é essencialmente indivisível; [1: Ricardo de Barros Leonel, em MANUAL DO PROCESSO COLETIVO, observa (pag. 91), dando como exemplo de direito difuso o meio ambiente: “O objeto do seu interesse é indivisível, pois não se pode repartir o proveito, e tampouco o prejuízo, visto que a lesão atinge a todos indiscriminadamente, assim como a preservação a todos aproveita”.]
c) Origem: mesma situação de fato.
- Exemplos típicos: meio ambiente, direitos do consumidor, patrimônio histórico, moralidade administrativa.
04. OS DIREITOS COLETIVOS STRICTO SENSU
- Características principais:
a) Titularidade: coletividade composta de indivíduos indeterminados mas determináveis;
b) Divisibilidade: ausente, pois também são essencialmente coletivos;
c) Origem: prévia relação jurídica base, mantida entre si ou com a parte contrária.
- Exemplos típicos: OAB ou sindicato, na defesa dos interesses de seus associados; contribuintes de um determinado imposto.
05. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS
- Características principais:
a) Titularidade: grupo de indivíduos determinável;
b)Divisibilidade: presente, pois se trata de direito essencialmente individual;
c) Origem: situações de fato ou de direito equivalentes.
- Exemplos clássicos: adquirentes de modelo de veículo com defeito; consumidores de um produto nocivo à saúde que buscam indenização.
- IMPORTANTE: trata-se de direitos tipicamente individuais, que por poderem ensejar conflitos de massa (mass torts), receberam do legislador a tratativa na forma coletiva.
- OBS 1: inspiração nas class action for damages do direito norte-americano. CASO CLÁSSICO: agent Orange case, no qual veteranos da guerra do Vietnã, por intermédio de um representante adequado, moveram uma ação coletiva (class action for damages) e processaram várias indústrias químicas americanas que manipularam esse agente químico.
- Sobreleva, nesses casos, a questão do acesso à justiça e paridade de armas.
06. A QUESTÃO DA TITULARIDADE DOS DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU
- Ao contrário do que afirma parcela da doutrina, a titularidade não é indeterminada, mas determinada: a coletividade, que se faz presente em juízo por intermédio de um representante adequado.
07. QUADRO COMPARATIVO DOS DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU
	ESPÉCIE
	TITULARIDADE
	DIVISIBILIDADE
	ORIGEM
	CLASSIFICAÇÃO
	DIFUSO
	Coletividade de indivíduos indeterminados e indetermináveis
	Indivisível
	Fato lesivo
	Essencialmente coletivo
	COLETIVO
	Coletividade de indivíduos indeterminados mas determináveis
	Indivisível
	Relação jurídica base anterior entre si ou com a parte contrária
	Essencialmente coletivo
	INDIVIDUAL HOMOGÊNEO
	Coletividade de indivíduos em situação jurídica homogênea
	Divisível
	Fato lesivo
	Acidentalmente coletivo
08. METODOLOGIA PARA A IDENTIFICAÇÃO DOS DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU (PROPOSTOS POR ELPÍDIO DONIZETE E MARCELO CERQUEIRA)
Primeira pergunta: a tutela jurisdicional é postulada em benefício de quem? De um indivíduo ou de uma massa de indivíduos?
Segunda pergunta: em se dirigindo a um conjunto de indivíduos, há divisibilidade do direito coletivo pleiteado? Ou seja, poderia o direito ser postulado por cada indivíduo integrante do todo em ação própria?
Terceira pergunta: Qual a origem do direito coletivo postulado? Havia prévia relação jurídica entre os membros da coletividade ou entre eles e a parte contrária?
CASO HIPOTÉTICO INTERESSANTE:
(proposto por DONIZETTI e CERQUEIRA)
- Fabricante de iogurteque, buscando aumentar suas vendas, divulga, mediante propaganda televisiva, que seu produto reduz o “colesterol ruim”. Pesquisas científicas demonstram, porém, que na verdade o consumo daquele iogurte aumentos os níveis de colesterol ruim.
- 3 ações judiciais são propostas em decorrência desse fato:
Ação X: busca a parte autora indenização pelos danos materiais e morais sofridos, decorrentes dos gastos efetuados com a compra do produto e o aumento dos níveis de colesterol.
Ação Y: entidade legitimada pleiteia indenização pelos danos materiais e morais sofridos por todos os consumidores que adquiriram aquele produto.
Ação Z: entidade legitimada que, com base na proteção ao direito à saúde do consumidor, pleiteia que a fabricante seja condenada a retirar seus produtos do mercado.
IDENTIFIQUE O DIREITO EM CADA CASO.
- CONCLUSÃO: o direito coletivo deve ser identificado no caso concreto, de acordo com o pedido e com a causa de pedir, pois um mesmo fato pode originar pretensões difusas, coletivas e individuais homogêneas.
ROTEIRO 03
PRINCÍPIOS DO PROCESSO COLETIVO
01. NOÇÕES GERAIS SOBRE TUTELA JURISDICIONAL
- Classificação de acordo com a pretensão submetida à apreciação jurisdicional: tutela cognitiva, executiva ou cautelar.
- Noção de crise jurídica.
- Tipos de tutela cognitiva: declaratória, constitutiva/desconstitutiva e condenatória.
02. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO PROCESSO COLETIVO
2.1. Aplicação Residual do CPC:
- O CPC, por seu caráter eminentemente individualista, terá aplicação meramente residual aos processos coletivos e desde que obedecidas as seguintes regras: (i) no microssistema de tutela coletiva haja omissão; (ii) a regra processual do CPC seja compatível com o processo coletivo, na medida em que não pode comprometer a eficácia da proteção aos direitos coletivos lato sensu.
2.2. Representatividade Adequada
- Os substitutos processuais da coletividade atuam em nome desta e, por isso, devem ser representantes adequados. Os sistemas conhecidos são o de controle judicial (ope iudices) da representação adequada, como ocorre nos Estados Unidos, e o sistema de controle da representatividade adequada pela lei (ope legis), como ocorre no Brasil, eis que entre nós é a lei quem indica os representantes, prévia e abstratamente. 
DONIZETTI e CERQUERIA criticam a terminologia representante por se confundir com o instituto da representação no processo individual. Pensamos que a crítica não faz sentido, bastando lembrar que a expressão representante adequado é já tradicional na doutrina do processo coletivo e usada em um contexto que não permite confusão com a representação do processo individual.
DIDIER e ZANETI JR., ao comentarem o princípio da representação adequada pontuam que cresce a necessidade de que seja feito, pelo juiz e no caso concreto, o controle da representação adequada, com vistas à segurança jurídica e garantia de efetiva proteção ao direito coletivo postulado em juízo.
Se essa opinião prevalecer – e já há muitos juízes que fazem esse controle – o Brasil passaria a ter, na prática, um critério misto ou híbrido: a lei, prévia e abstratamente, aponta os legitimados extraordinários; o juiz, no caso concreto, analisa se aquele legitimado extraordinário é, naquele específico caso, um representante adequado.
2.3. Não-taxatividade ou Atipicidade da Tutela Coletiva:
- Decorrência direta de que de nenhuma lesão ou ameaça a direito pode ser excluída da análise do Poder Judiciário, a doutrina ensina que a ausência de procedimento próprio para a tutela de determinado direito coletivo não pode ser óbice à propositura da ação coletiva. DONIZETTI e CERQUEIRA chegam a afirmar que “nada impede, portanto, a propositura de uma ação coletiva inominada”. Essa idéia é anunciada no artigo 83 do CDC.
Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este Código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua efetiva e adequada tutela.
2.4. Princípio da Ampla Divulgação da Demanda Coletiva e Princípio da Informação aos Órgãos Competentes:
- O princípio da ampla divulgação decorre, diretamente, do artigo 94 do CDC.
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.
A doutrina ressalta que o princípio da ampla divulgação da demanda coletiva visa possibilitar: (i) que os autores individuais possam requerer a suspensão de seus processos; (ii) a propositura de uma única demanda coletiva, evitando casos de litispendência e coisa julgada; (iii) a intervenção de amicus curiae; (iv) a execução individual da sentença coletiva; (v) o controle da atuação adequada do legitimado extraordinário.
DIDIER e ZANETTI JR. pontuam que se trata de princípio de encontra raízes na fair notice do direito norte-americano.
- A seu turno, o princípio da informação aos órgãos competentes decorre dos arts. 6◦ e 7◦ da Lei de Ação Civil Pública:
Art. 6◦. Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, ministrando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto da ação civil e indicando-lhe os elementos de convicção.
Art. 7◦. Se, no exercício de suas funções, os juízes e tribunais tiverem tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura da ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as providências cabíveis.
2.5. Princípio da Indisponibilidade Temperada e da Continuidade da Demanda Coletiva:
- O princípio da indisponibilidade temperada da ação coletiva liga-se, sobretudo, ao Ministério Público, por ter o dever institucional de atuar na defesa dos direitos coletivos em sentido lato. Assim, ao contrário do processo individual, em que a propositura ou não da ação encontra-se no âmbito da faculdade do indivíduo, no processo coletivo, constatada a lesão a um direito coletivo lato sensu, a propositura da ação coletiva é uma imposição. Todavia, essa obrigatoriedade de propositura da ação coletiva deve ser considerada temperada, justamente porque o MP deverá fazer um exame de oportunidade e conveniência quanto ao seu manejo.
Um bom exemplo do princípio da indisponibilidade da ação coletiva encontra-se tratado no artigo 9◦ da Lei de Ação Civil Pública (lei 7.347/85):
Art. 9◦. Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente.
§1◦. Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público.
§2◦. Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexados às peças de informação.
§3◦. A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério Público, conforme dispuser o seu regimento.
§4◦. Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
Ainda sobre o princípio da indisponibilidade temperada da ação coletiva, merece destaque a opinião de DONIZETTI e CERQUEIRA no sentido de aplicá-lo não só ao Ministério Público, mas também às defensorias públicas e à advocacia pública, forte no argumento de que estes também são essenciais à Justiça e incumbindo-lhes igualmente velar pelos direitos coletivos em sentido lato.
- Por sua vez, o princípio da continuidade da demanda coletiva encontra-se positivado no §3◦ do artigo 5◦ da Lei de Ação Civil Pública (lei 7.347/85):
Art. 5◦. (...)
§3◦. Emcaso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.
Sobre o dispositivo, duas observações: (i) não se trata de abandono da demanda coletiva apenas por associação, mas por qualquer legitimado; (ii) a continuidade também é temperada, pois não pode obrigar o Ministério Público ou outro legitimado extraordinário a dar prosseguimento a uma demanda infundada.
2.6. Princípio da Obrigatoriedade da Execução da Sentença coletiva:
- Esse princípio decorre, primordialmente, do artigo 15 da Lei de Ação Civil Pública (lei 7.347/85), que reza:
Art. 15. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
No mesmo sentido, o artigo 100 do Código de Defesa do Consumidor:
Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número compatível com a gravidade do dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a liquidação e execução da indenização devida.
Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o Fundo criado pela Lei n◦ 7.347, de 24 de julho de 1985.
O artigo 15 da LACP deixa claro que, se a propositura da ação coletiva comporta algum temperamento, a execução da sentença de procedência é absolutamente obrigatória, sem exceção. Logicamente, qualquer legitimado que não promova a execução da sentença coletiva poderá ser substituído por outro, a fim de assegurar a efetiva execução da sentença de procedência.
O artigo 100 do CDC, por sua vez, trata das sentenças proferidas em ações coletivas que buscam a tutela de direitos individuais homogêneos: nesse caso, o legitimado extraordinário busca uma sentença condenatória genérica, que será posteriormente liquidada e executada pelos substituídos, ou seja, pelos legitimados individuais. Ocorre que, não raro, tais legitimados individuais não comparecem para realizar a devida liquidação/execução, quer por não terem conhecimento da ação coletiva e da sentença condenatória (daí a importância do princípio da máxima divulgação), quer por falta de interesse econômico. Nesses casos, decorrido um ano sem o comparecimento significativo desses substituídos, deverá o Ministério Público ou qualquer outro legitimado promover a execução do julgado, que agora será em caráter coletivo e a fim de beneficiar toda a coletividade, pois que os valores apurados devem ser depositados nos fundos estatais de proteção aos direitos coletivos lato sensu. Trata-se do instituto que hoje é conhecido como fluid recovery ou reparação fluida.
2.7. Princípio da Extensão Subjetiva da Coisa Julgada e do Transporte in utilibus
- Pela extensão subjetiva da coisa julgada, a decisão do processo coletivo se estende ou erga omnes ou ultra parts, beneficiando os membros da coletividade. Essa extensão subjetiva da coisa julgada (ou de seus efeitos, como oportunamente se estudará) é inerente ao processo coletivo, sendo um de seus elementos caracterizadores.
- Já o transporte in utilibus permite que uma sentença, proferida em ação coletiva para a defesa de direitos essencialmente coletivos possa ser transportada para uma ação individual, originada, por exemplo, daquele mesmo fato.
2.8. Princípio da Intervenção Obrigatória do Ministério Público:
- Esse princípio decorre do artigo 5◦, §1◦ da Lei de Ação Civil Pública, que reza:
Art. 5◦. (...)
§1◦. O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei.
A intervenção do Ministério Público em uma demanda coletiva se dá de duas formas: na qualidade de autor e na qualidade de custos legis. Ora, quando atua na qualidade de Autor qualquer dúvida há, pois que o MP será parte na demanda. Surge o questionamento naqueles outros casos, em que não propôs a ação e, a nosso ver, sempre que houver uma ação coletiva não proposta pelo MP, esse deverá atuar como fiscal da lei, sendo intimado dos atos processuais.
2.9. Princípio do Interesse Jurisdicional no Conhecimento do Mérito do Processo Coletivo:
- De acordo com esse princípio, visto por alguns como um subprincípio da instrumentalidade das formas, deve o juiz flexibilizar ao máximo as regras de procedimento, a fim de assegurar o direito da sociedade em ver apreciado o mérito da ação coletiva. Na seara, pois, da tutela dos direitos coletivos, o processo deve ser visto, mais do que nunca, como mero instrumento de viabilização da prestação da tutela jurisdicional.
- Por fim, cita a doutrina ainda dois princípios: certificação da demanda coletiva e competência adequada. O primeiro não nos parece aplicável ao sistema brasileiro, e o segundo ainda carece de aprofundamento doutrinário, pelo que não serão comentados.
ROTEIRO 04
A LEGITIMIDADE NAS AÇÕES COLETIVAS
01. NATUREZA JURÍDICA DA LEGITIMIDADE ATIVA NAS AÇÕES COLETIVAS
	Basicamente, três são as teorias que buscam explicar a natureza jurídica da legitimidade ativa nas ações coletivas: (i) legitimidade ordinária; (ii) legitimidade extraordinária e (iii) legitimidade autônoma para a condução do processo.
	A primeira corrente defende se tratar de legitimidade ordinária das formações sociais para a defesa dos direitos coletivos e os entes que representam essas formações sociais estariam em juízo a defender direito que efetivamente titularizam. ARAKEN DE ASSIS, citado por DONIZETTI e CERQUEIRA (pag. 134), explica que,
É questão em aberto, no direito pátrio, a natureza da legitimidade do Ministério Público, e a fortiori, das associações civis e dos partidos políticos, tratando-se de interesses difusos e coletivos [...]. Parece mais consentâneo à realidade qualificar a legitimidade de ordinária nessas situações.
[...] a transmigração do individual para o coletivo, a qual alude Dinamarco, [...] implica uma transformação mais profunda e intensa do que a simples substituição, outorgando a titularidade do direito coletivo e do difuso a uma pessoa diferente dos titulares da situação individual incluída no conjunto.
Em outras palavras, o Ministério Público, a associação ou o cidadão, conforme o caso, legitimam-se, ativamente, porque se mostram titulares do direito posto em causa, sem embargo de existirem outros titulares dos direitos parciais que, coletivamente, formam o objeto litigioso. Por essa linha de raciocínio, a soma das partes adquire identidade própria e nova, substancialmente diversa das frações de que é titular pessoa também diferente, graças à indivisibilidade. E tal legitimação se revela ordinária.
	A segunda corrente, amplamente majoritária na doutrina brasileira, defende tratar-se de legitimidade extraordinária, visto que o autor coletivo vai a juízo em nome próprio, defender direito de outrem, ou seja, defender o direito metaindividual que é titularizado pela coletividade, caso em que atua como verdadeiro substituto processual. Essa a teoria adotada por DIDIER e ZANETI JR., DONIZETTI e CERQUEIRA, bem como pelo autor do presente trabalho.
	A terceira corrente tem em NELSON NERY seu principal defensor. Inspirada no direito alemão, pugna por um abandono da tradicional divisão em legitimação ordinária e extraordinária, pois que se trataria de conceituação insuficiente para explicar o fenômeno da legitimidade no processo coletivo. Defende, assim, que os entes legitimados à propositura da ação coletiva seriam dotados, pela lei, de uma legitimação autônoma para a condução do processo. Também RICARDO DE BARROS LEONEL defende tal concepção, partindo da premissa que os esquemas de raciocínio típico do processo individual não servem adequadamente ao processo coletivo. Faz, porém, uma ressalva: na seara dos direitos individuais homogêneos, que são apenas acidentalmente coletivos, a legitimação é extraordinária por substituição processual, dado que o Autor coletivo vai a juízo em nome próprio defender, realmente, direito alheio.
02. CARACTERÍSTICAS DA LEGITIMAÇÃOCOLETIVA ATIVA
	A legitimação extraordinária por substituição processual possui as seguintes características: (i) autônoma, (ii) exclusiva, (iii) concorrente e (iv) disjuntiva.
	É autônoma, pois o legitimado extraordinário está autorizado a conduzir o processo independentemente do titular do direito litigioso, ou seja, independente da autorização da coletividade titular do direito metaindividual.
	É exclusiva, pois o só o legitimado extraordinário está autorizado a propor a ação coletiva na defesa dos direitos coletivos lato sensu.
	É concorrente, pois há mais de um legitimado extraordinário à propositura da ação coletiva e qualquer um deles, sem ordem de preferência, pode propor a ação coletiva.
	E, finalmente, é disjuntiva, pois, apesar de concorrente, cada um dos legitimados atua independentemente da vontade e da autorização dos demais co-legitimados.
03. OS LEGITIMADOS COLETIVOS ATIVOS:
	O rol dos legitimados coletivos ativos encontra-se, basicamente, nos artigos 5º da Lei de Ação Civil Pública e art. 82 do CDC.
LACP, art. 5º. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I – o Ministério Público;
II – a Defensoria Pública;
III – a união, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV – a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V – a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
CDC, art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
I – o Ministério Público;
II – a união, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III – as entidades e órgãos da administração pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código;
IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e que incluam entre sues fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código, dispensada a autorização assemblear.
3.1. A LEGITIMAÇÃO ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
	É da Constituição Federal que se extrai, primordialmente, a legitimidade do Ministério Público para a propositura de ações coletivas.
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
(...)
III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
3.2.1. PRINCIPAIS POLÊMICAS
	a) a legitimidade do Ministério Público para a proteção de direitos individuais homogêneos:
	Esse é um dos temas mais polêmicos, atualmente, em termos de legitimidade do Ministério Público. Com efeito, se não se discute a legitimidade do M.P. para a defesa dos direitos essencialmente coletivos, quanto aos direitos individuais homogêneos (acidentalmente coletivos), a controvérsia é aceso.
	Sobre o tema existem três posições doutrinárias: 
Teoria restritiva, que entende que o M.P. não tem legitimidade para a defesa de direitos individuais homogêneos, ainda que presente o requisito do interesse social.
Teoria mista: reconhece que o interesse social não se encontra presente em toda e qualquer demanda coletiva, mas, nos casos em que se faça presente, a legitimação do M.P. é inafastável. Ainda de acordo com essa visão, o interesse social se manifestaria em casos que envolvessem danos vultosos, que atingem número elevado de pessoas, ou em razão da dispersão dos eventuais titulares do direito individual. Ainda, o M.P. poderia atuar na defesa dos direitos individuais homogêneos indisponíveis. Trata-se da corrente majoritária.
Teoria ampliativa, que considera que toda e qualquer ação coletiva, justamente por coletiva ser, tem presente o requisito do interesse social, que seria, portanto, in re ipsa.
	De fato, tem prevalecido, tanto na doutrina, quanto na jurisprudência, a teoria mista, que aceita a legitimidade do Ministério Público para a defesa de direitos individuais homogêneos quando (i) indisponíveis ou (ii) presente o requisito do interesse social. Todavia, a jurisprudência dos tribunais superiores já fixou entendimento que o M.P. não tem legitimidade para a tutela de direitos individuais homogêneos em matéria tributária e previdenciária.
	b) legitimidade do Ministério Público para a impetração de Mandado de Segurança Coletivo:
	Tanto a CF/88, quanto a lei 12.106/09, não fizeram menção ao Ministério Público como um dos legitimados ativos à impetração do mandado de segurança coletivo. Tal omissão, proposital ao que tudo indica, conduz a conclusão inicial de que o M.P. não teria legitimidade para a propositura do writ sob a forma coletiva.
	Contudo, razões variadas podem colocar em cheque conclusão tal.
	Ora, tem-se ou não um microssistema de processo coletivo, no qual as leis que o compõem comunicam-se entre si, em verdadeiro diálogo de fontes? Positiva a resposta, a omissão da lei 12.016/09 seria preenchida pelas demais leis, generosas que são quanto à legitimidade do Ministério Público.
	Ainda: o mandado de segurança não passa de um procedimento especial que se notabiliza não propriamente pelo direito postulado em juízo, mas sim pela exigência da prova pré-constituída dos fatos alegados e, claro, pela maior concentração dos atos processuais; tanto assim o é que o mesmo direito que pode ser tutelado pela via mandamental, também poderá sê-lo via ação de cognitiva de procedimento ordinário. Nesses termos, no mínimo estranho que o Ministério Público tenha legitimidade para tutelar um direito se optar por ação cognitiva ordinária, e perca tal legitimação se escolher diferente procedimento.
	Ademais, pelo princípio da atipicidade da tutela coletiva e da máxima eficácia na defesa dos direitos coletivos, qualquer ação é adequada à tutela desses mesmos direitos, conforme expressamente dispõe o artigo 83 do Código de Defesa do Consumidor.
	Assim, em que pese a omissão legal, pensamos que não se pode negar ao Ministério Público a legitimidade para a impetração de mandado de segurança coletivo.
3.2. A LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA
	Até o ano de 2007 a Defensoria Pública não detinha legitimidade para propor ação coletiva, quadro que mudou com a edição da lei 11.448/2007, que inseriu a defensoria no rol dos legitimados extraordinários do artigo 5 a Lei de Ação Civil Pública.
	A questão que mais se debate, atualmente, sobre a atuação da defensoria em sede coletiva é a seguinte: teria ela legitimidade ativa apenas nos caos em que a coletividade fosse composta de pessoas hipossuficientes economicamente?
	A questão é bastante controvertida, mas a posição dominante defende que basta a existência de algumas pessoas hipossuficientes ou necessitados para que já se justifique a atuação da Defensoria Pública, não havendo necessidade de todos os integrantes sejam necessitados. DIDIER e ZANETI JR. (pág. 219) bem explicam a questão:
Para que a Defensoria seja considerada como “legitimada adequada” para conduzir o processo coletivo, é preciso que seja demonstrado o nexo entre a demanda coletiva e o interesse da coletividade composta por pessoas “necessitadas”, conforme locução tradicional. Assim, por exemplo, não poderia a Defensoria Pública promover ação coletiva para a tutela de direitos de um grupo de consumidores de PlayStation III ou de Marcedes Benz. Não é necessário, porém, que a coletividade seja composta exclusivamente por pessoas necessitadas. Se fosse assim, praticamente estaria excluída a legitimação da Defensoria para a tutela de direitos difusos, que pertencem a uma coletividade de pessoas indeterminadas.3.3. A LEGITIMIDADE ATIVA DA UNIÃO, ESTADOS, D.F. e MUNICÍPIOS, AUTARQUIA, FUNDAÇÃO, EMPRESA PÚBLICA, SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA e ÓRGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
	Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta, dotados de personalidade jurídica, possuem legitimidade ativa para a propositura da ação coletiva. Precisam, porém, demonstrar a pertinência temática (requisito a seguir estudado) de sua atuação.
	Lado outro, importante por em destaque que também órgãos da administração pública possuem legitimidade ativa, ainda que desprovidos de personalidade jurídica própria, conforme se extrai do artigo 82, III, do CDC.
Art. 82. (...)
III – as entidades e órgãos da administração direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código.
	A disposição legal citada destina-se a propiciar que órgãos como o PROCON possam igualmente propor ações coletivas.
3.4. ASSOCIAÇÃO E OUTRAS FORMAS DE ASSOCIATIVISMO
	Primeiramente, cumpre destacar, com base na autorizada lição de DONIZETTI e CERQUERIA (pág. 147), que a LACP e o CDC previram a legitimação ativa de associações, fazendo-o, porém, em sentido lato, de modo a abranger qualquer outra forma de associativismo, tais como sindicatos, entidades de classe, cooperativas e partidos políticos.
	A lei erige, porém, nesses casos, dois importantes requisitos: (i) a constituição da associação há pelo menos 1 (um) ano, requisito que poderá ser dispensado pelo juiz, em casos excepcionais, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico protegido; (ii) inclua a associação, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, a ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
3.5. O REQUISITO DA PERTINÊNCIA TEMÁTICA
	Como se viu, o processo coletivo brasileiro adotou um regime de legitimidade extraordinária em que os substitutos processuais são indicados prévia e abstratamente pela lei, daí a se dizer que se trata de uma legitimidade ope legis.
	Também já se viu que o sistema brasileiro, nesse ponto, distancia-se do norte-americano, no qual a legitimidade do autor coletivo, lá denominada “adequacy of representation” ou “representação adequada” é feita caso a caso.
	Ocorre que a prática das ações coletivas no Brasil tem revelado que a jurisprudência e a doutrina não têm aplicado o sistema de legitimidade ativa ope legis de maneira, por assim dizer, pura e automática. Ao contrário, têm exigido que entre o substituto processual e matéria discutida em juízo haja um liame, uma ligação por afinidade, notadamente com as finalidades institucionais do Autor da ação coletiva.
	E não só doutrina e jurisprudência colocam em relevo esse liame: a lei também o faz, bastando ver que a LACP, em seu artigo 5º., V, “b”, quando trata da legitimidade das associações, exige que esteja incluído, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
	A essa conexão entre as finalidades institucionais do legitimado extraordinário e a matéria discutida na ação coletiva dá-se o nome de pertinência temática.
	Cumpre destacar que a pertinência temática e a representação adequada são conceitos que não se confundem, pois que este é mais abrangente que aquele. Em outras palavras, a falta de pertinência temática fará com que o autor coletivo não seja considerado um representante adequado, a comprometer a sua legitimidade ativa para atuar naquela específica ação coletiva.
	Com razão, nesse ponto, FREDIE DIDIER e ZANETI JR. (pág. 213), quando pontuam que a legitimidade ativa, no processo coletivo, deve ser aferida em dois momentos: primeiro, abstratamente, quando se deve verificar se o autor coletivo é um daqueles que a lei aponta como legitimado extraordinário; segundo, verificada essa legitimidade em tese, deverá o órgão julgador analisá-la em concreto, investigando a pertinência temática da atuação daquele legitimado em relação ao direito coletivo discutido em juízo.
	Na prática, portanto, o que se percebe é que o processo coletivo brasileiro acaba por adotar um sistema híbrido de aferição de legitimidade, pois que, além da prévia autorização legal para a propositura da ação coletiva (legitimação ope legis), deve o autor demonstrar a pertinência temática da sua atuação, de modo a ser considerado, no caso concreto, um representante adequado.
04. AS AÇÕES COLETIVAS PASSIVAS (defendant class action) – BREVE NOTÍCIA
	Um dos mais interessantes temas da atualidade do processo coletivo diz respeito às denominadas ações coletivas passivas, ou seja, casos em que um autor deduz em juízo uma pretensão em desfavor de uma coletividade.
	Com a costumeira clareza, DIDIER e ZANETI JR. (pág. 411) afirmam que
Há ação coletiva passiva quando um agrupamento humano for colocado no pólo passivo de uma relação jurídica afirmada na petição inicial. Formula-se uma demanda contra uma coletividade. Os direitos afirmados pelo autor da demanda coletiva podem ser individuais ou coletivos (lato sensu) – nessa última hipótese, há uma ação duplamente coletiva, pois o conflito de interesses envolve comunidades distintas.
	A premissa para bem se compreender a ação coletiva passiva passa pelo reconhecimento de que, assim como uma coletividade pode ser titular de um direito, pode também estar em situação de sujeição ao direito do autor, seja esse direito coletivo ou não.
	A experiência forense brasileira já se deparou com interessantes casos de ações coletivas passivas (ver DIDIER e ZANETI JR, pág. 415 e seguintes):
Litígios coletivos trabalhistas, em que em cada um dos pólos se encontra o sindicato (representante adequado) das respectivas categorias – empregados e empregadores.
Ação proposta em face de categoria de servidores públicos, em casos de greve, com a pretensão de voltem ao trabalho. Noticia-se que a ação pioneira ocorreu em 2004, quando a categoria dos policiais federais entrou em greve. Naquela oportunidade, a União ingressou com ação em face da Federação nacional dos Policiais Federais e o Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal, pleiteando o retorno das atividades;
Exemplo citado em doutrina, o caso de uma empresa que ingressa com ação a fim de ver declarado que seu projeto é ambientalmente correto, ou ação proposta por empresa que se vale de contratos de adesão, a fim de ver declarada a legalidade das cláusulas desse mesmo contrato.
	Percebe-se que o conceito de representatividade adequada nas ações coletivas passivas ganha importância extrema, na medida em que só é aceitável que demanda tal seja proposta em face daquele legitimado passivo que efetivamente seja o representante adequado daquela categoria.
	A doutrina subdivide as ações coletivas passivas em originárias ou derivadas. Serão originárias quando surgem sem que lhes preceda uma demanda coletiva ativa; são derivadas quando surgem em decorrência de uma ação coletiva ativa, tal como ocorre com a ação rescisória de sentença proferida em ação coletiva ativa, ou cautelares incidentais a ações coletivas ativas.
ROTEIRO 05
A COMPETÊNCIA NAS AÇÕES COLETIVAS
01. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
- Jurisdição e competência.
- Critérios determinadores da competência: (i) matéria; (ii) função; (iii) pessoa; (iv) valor da causa; (v) território.
- Regime processual da competência absoluta e relativa.
02. A COMPETÊNCIA NO PROCESSO COLETIVO
	Em processo coletivo, as regras de competência são ditadas por dois principais dispositivos, quais sejam, o artigo 2º. da Lei de Ação Civil Pública, e o artigo 93 do Código de Defesa do Consumidor:
Lei 7.347/85
Art. 2º. As ações previstas nesta lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional paraprocessar e julgar a causa.
Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.
Código de Defesa do Consumidor 
Art. 93. Ressalvada a competência da justiça federal, é competente para a causa a justiça local:
I – no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;
II – no foro da 0Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente.
2.1. A COMPETÊNCIA PARA A AÇÃO CIVIL PÚBLICA – COMPETÊNCIA TERRITORIAL ABSOLUTA
	Como visto, a regra básica de competência para a Ação Civil Pública encontra-se no artigo 2º. da lei 7.347/85.
	Apesar da lei falar em competência funcional, a doutrina mais recente tem firmado entendimento de que se trata de competência territorial absoluta, em moldes bem parecidos com a tradicional regra do artigo 95 do CPC. Assim, o local onde o dano ocorreu ou deva ocorrer será competente, em caráter absoluto, para processar a julgar e Ação Civil Pública.
	Pode ocorrer, porém, de o dano ocorrer em mais de uma localidade. Em casos tais, o foro de qualquer dessas localidades é competente para a ACP (um caso excepcional de competência territorial absoluta concorrente) e, sendo a demanda proposta no foro de qualquer deles, este terá sua prevenção firmada para quaisquer outras demandas que tenham a mesma causa de pedir ou pedido, conforme dispõe o parágrafo único do artigo 2º. da lei 7.347/85.
	Cumpre destacar, porém, que essa regra de foros concorrentes quando o dano se estender por mais de uma localidade não deve ter aplicação nos casos em que a dimensão do dano chegue a ser regional, estadual ou nacional, pois que nessas hipóteses o CDC reserva regra específica, conforme a seguir se verá.
2.2. COMPETÊNCIA QUANDO O DANO FOR NACIONAL
	Como exposto, o artigo 93 do CDC indicou, para as hipóteses em que o dano seja nacional, a competência das capitais dos Estados ou o Distrito Federal para processar e julgar a ação civil pública.
	De início, discutia-se em doutrina e jurisprudência se mencionada regra tratava de uma competência concorrente entre as capitais e o DF. O STJ, ao julgar o Conflito de Competência n. 26.842-DF, firmou entendimento nesse sentido, afirmando que em casos de dano de dimensão nacional são concorrentemente competentes os foros das capitais dos Estados e o do Distrito Federal.
	
2.2. COMPETÊNCIA QUANDO O DANO FOR ESTADUAL
	Em se tratando de dano de abrangência estadual, a despeito da omissão legislativa, será competente o foro da capital do respectivo Estado, em aplicação analógica do artigo 93 do CDC.
2.3. COMPETÊNCIA QUANDO O DANO FOR DE ABRANGÊNCIA REGIONAL
	A legislação não define o que seja dano regional. Aliás, não define o que seja dano nacional ou estadual, o que causa alta dose de insegurança quando se deve definir, no caso concreto, o juízo competente para uma ação coletiva.
	Segundo as lições doutrinárias, pode-se conceber o dano regional sob dois aspectos: dano que se estenda por mais de um Estado da Federação (sem que se possa chegar a considerar esse dano nacional), ou dano que se estenda por mais de uma comarca do mesmo Estado, sem que chegue a configurar dano regional.
	Nesses casos, por aplicação do artigo 93 do CDC, deve-se considerar como competente, quando o dano se estender por mais de um Estado, o da capital de qualquer deles; quando o dano for regional e se estender por mais de uma comarca, sem, contudo, chegar a ser um dano estadual, a regra do artigo 2º. da Lei de Ação Civil Pública deverá ter aplicação, ditando-se a competência em razão do local onde o dano ocorreu ou deva ocorrer.
03. COMENTÁRIO AO ARTIGO 16 DA LEI DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA E ARTIGO 2º.-A DA LEI 9.494/97
	Conforme estudado em capítulo anterior, a ação coletiva tem por finalidade (ou objetivo) a obtenção de economia processual, a garantia de acesso à justiça, a preservação da segurança jurídica, mediante a prevenção de prolação de decisões judiciais conflitantes etc, finalidades estas alcançáveis mediante a propositura de uma única ação coletiva, evitando a propositura de diversas ações substancialmente idênticas, colocando em risco todos aqueles objetivos antes mencionados.
	Nada obstante, polêmicas alterações realizadas nas leis que regem o sistema processual coletivo brasileiro acabaram por colocar em cheque a própria efetividade da tutela coletiva. Trata-se das alterações veiculadas pelo artigo 16 da lei 7.347/85 e artigo 2º.- A da lei 9.494/97, assim redigidos:
	
Lei 7.347/85
Artigo 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado pode intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.
Lei 9.494/97
Art. 2º.-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito de competência territorial do órgão prolator.
	A reação da doutrina a esses dispositivos, que limitam, territorialmente, os efeitos das decisões proferidas em ações coletivas, foi imediata e veemente. Os argumentos contrários são bem resumidos por DONIZETTI e CERQUERIA (pag. 210/211): primeiramente, as alterações promovidas seriam inconstitucionais por ofenderem (i) o princípio da razoabilidade, na medida em que imporiam uma restrição absurda e despropositada à eficácia das decisões das ações coletivas; (ii) o princípio da igualdade, pois acaba ensejando a propositura de diversas ações coletivas substancialmente idênticas, com a conseqüente prolação, ao menos em tese, de decisões conflitantes; (iii) o princípio do acesso à justiça, pois deixa à margem da proteção jurisdicional coletividades que estejam fora dos limites de competência territorial do órgão prolator da decisão. 
	Além disso, a doutrina também sustenta a ineficácia da alteração legislativa, visto que: (i) qualquer decisão judicial tem eficácia além dos limites territoriais de competência do órgão prolator: por exemplo, uma sentença de divórcio prolatada por juiz de São Paulo não pode valer apenas nesta cidade, permanecendo, no Rio de Janeiro, casadas aquelas partes. (exemplo citado por Nelson Nery); (ii) os direitos coletivos, por ontologicamente indivisíveis, não poderiam ser cindidos por um critério de competência territorial do órgão prolator da decisão judicial; (iii) finalmente, o artigo 93 do CDC define a competência para a ação coletiva de acordo com a extensão do dano. Assim, em caso de dano nacional, por exemplo, o juízo da capital do Estado ou do Distrito Federal terá, em tese, jurisdição nacional, e os efeitos de sua decisão atingiriam, naturalmente, todo o Brasil.
	A posição atual dos tribunais, notadamente do STJ, é pela aplicação literal desses dispositivos.
CONTRIBUIÇÃO DO AUTOR DA APOSTILA
Os dispositivos analisados regulam, sobretudo, a eficácia subjetiva das decisões proferidas em ação coletiva.
Em uma ação coletiva, o que o judiciário define é o acertamento de um direito (coletivo) envolvendo a coletividade autora da ação (ali representada pelo substituto processual) e o réu. Assim, o que os artigos fazem é limitar essa coletividade beneficiada, utilizando como critério dessa limitação a competência territorial do órgão prolator. O que se limita, assim, não é a coisa julgada, mas a eficácia subjetiva da decisão, que somente será extensível à coletividade abrangida pela competência territorial do órgão prolator do decisório. Assim, se o dano for nacional e a ação coletiva for corretamente proposta ou no DF ou perante a Capital de um dos Estados da Federação, tendo esse juízo competência nacional naquele caso, a extensão subjetiva dos efeitosdo julgado assim também será. Melhor será desenvolvido esse assunto quando tratarmos da coisa julgada coletiva.
ROTEIRO 06
CONEXÃO, CONTINÊNCIA E LITISPENDÊNCIA
NO PROCESSO COLETIVO
01. NOÇÕES GERAIS
- O sistema de conexão e continência no processo individual.
- Prevenção: união das ações conexas perante o juízo prevento ou distribuição da ação, por dependência, à ação já proposta.
- Litispendência: conceito.
02. A CONEXÃO E A CONTINÊNCIA NO PROCESSO COLETIVO
	Aplica-se o sistema base do processo individual, com as seguintes peculiaridades: (i) no processo coletivo a aferição da existência de afinidade entre processos deve ter em conta, principalmente, o objeto da demanda coletiva; (ii) a necessidade de se evitar, ao máximo, em ações coletivas, a prolação de decisões conflitantes; (iii) o substituto processual não influencia na determinação da existência de conexão, continência ou litispendência, visto que a parte material na demanda é a coletividade substituída.
2.1. A POSSIBILIDADE DE MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA ABSOLUTA POR CONEXÃO
	Umas das mais clássicas regras do processo individual com relação à competência absoluta é que esta, por ser improrrogável, não comporta modificação em razão da conexão e continência.
	Não é assim, porém, no processo coletivo, pois que a despeito de ser absoluta a competência territorial, a sua prorrogação é possível em virtude de conexão e continência.
	Duas particulares disposições legais autorizam essa conclusão: o §3° do artigo 5° da Lei de Ação Popular e o parágrafo único do artigo 2° da Lei de Ação Civil Pública. Confira-se:
LEI DE AÇÃO POPULAR
Art. 5°. (...)
§3°. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações que forem posteriormente intentadas contra as mesmas partes e sob os mesmos fundamentos.
LEI DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA
Art. 2°. (...)
Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.
	Um exemplo certamente esclarecerá a aplicação dos dispositivos citados. Imagine-se um dano ambiental que tenha atingido área de 04 (quatro) comarcas de determinado estado. Tal dano, que se pode considerar regional, poderá ser objeto de ação coletiva a ser proposta em qualquer uma das 04 (quatro) comarcas, por força da regra geral de competência (territorial absoluta) do local do dano, ditada pelo artigo 2° da Lei de Ação Civil Pública. Em palavras outras, o juízo de qualquer das 04 (quatro) comarcas tem competência concorrente para processar e julgar a ação coletiva. Proposta que seja, a ação, perante o juízo da comarca A, torna-se ele prevento para qualquer futura demanda que tenha por objeto aquele mesmo dano ambiental.
	Não se trata, ressalte-se, da constituição de um juízo universal, à semelhança do juízo falimentar, como chegou a decidir o Superior Tribunal de Justiça no Conflito de Competência 19686-DF. Trata-se, de fato, apenas e tão somente de prevenção, pois que apenas serão “atraídas” para o juízo prevento as ações coletivas conexas com aquela primeiramente deduzida. Caso fosse, realmente, um juízo universal, essa “atração” seria exercida sobre toda e qualquer demanda, independentemente de vínculo de afinidade ou risco de prolação de decisões conflitantes.
	Outra observação importante: enquanto a prevenção, no processo individual, é configurada ou pelo primeiro despacho (mesma competência territorial – art. 106 do CPC), ou pela primeira citação válida (competência territorial distinta – artigo 219 do CPC), no processo coletivo o que configura a prevenção é a propositura da ação coletiva, conforme artigo 2°, parágrafo único da Lei de Ação Civil Pública.
	Confira-se o quadro-resumo proposto por DONIZETTI e CERQUERIA (pág. 232):
	
	PROCESSO INDIVIDUAL
	PROCESSO COLETIVO
	COMPETÊNCIA TERRITORIAL
	Relativa, em regra.
	Absoluta.
	CONEXÃO e CONTINÊNCIA
	Não provoca a modificação em caso de competência absoluta
	Provoca a modificação da competência, em que pese absoluta.
	PREVENÇÃO
	Determinado pelo 1° despacho (art. 106 do CPC) ou pela 1ª citação válida (art. 219 do CPC)
	Determinada pela propositura da ação.
2.2. A CONEXÃO ENTRE AÇÃO COLETIVA E AÇÃO INDIVIDUAL
	A possível relação existente entre ação coletiva e ação individual encontra-se disciplinada no artigo 104 do Código de Defesa do Consumidor:
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II do parágrafo único do art. 81, não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra parts a que aludem os incisos I e III do artigo anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se ao for requerida a sua suspensão no prazo de 30 dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.
	Fica claro, portanto, que a propositura da ação coletiva não inibe a ação individual. Todavia, não há como negar que entre a ação coletiva e a ação individual, quando baseadas no mesmo fato (um acidente ambiental ou uma lesão em relação de consumo, por exemplo), serão conexas, exatamente porque revelam identidade de causa de pedir.
	Ocorre que, a despeito de haver a conexão, a sua principal conseqüência, que é a reunião das ações perante o juízo prevento não ocorrerá, porque o legislador adotou solução diferente no âmbito coletivo: a suspensão das ações individuais a requerimento do autor.
	É de se destacar recente entendimento do STJ, trazido no Informativo 413, em que se determinou a suspensão das ações individuais, quando proposta ação coletiva versando sobre o mesmo direito coletivo lato sensu. Trata-se, assim, de uma inovadora suspensão do processo por ordem judicial e, a despeito de não expressamente reconhecido nesse precedente, a regra do artigo 265, IV, do CPC, que versa sobre a suspensão do processo por prejudicialidade externa autoriza que se chegue a solução tal.
2.3. A LITISPENDÊNCIA NAS AÇÕES COLETIVAS
	Não há regra específica para a litispendência no microssistema do processo coletivo. Aplica-se, assim, a princípio, a mesma regulação prevista para o processo individual.
	Algumas questões, entretanto, devem se ponderadas quando se fala em litispendência entre ações coletivas.
	Primeiramente, não se deve exigir identidade de substitutos processuais, mas sim identidade da coletividade titular daquele direito e representada em juízo pelo legitimado extraordinário.
	O procedimento adotado para as ações coletivas também é indiferente.
	Assim, é sobretudo à partir da análise da causa de pedir e do pedido das ações coletivas que se poderá concluir pela existência ou não de litispendência.
	Há, ainda, que se levar em conta a confusa regra do artigo 16 da Lei de Ação Civil Pública, que em muitos casos, por limitar a eficácia subjetiva da decisão à competência territorial do órgão prolator, induzirá, ou mesmo obrigará a propositura de tantas ações coletivas idênticas quantas sejam necessárias à tutela das coletividades excluídas pela limitação subjetiva dos efeitos da decisão.
A visão do autor da apostila não é essa. A despeito dos entendimentos de que o artigo 16 da Lei de Ação Civil Pública seria inconstitucional, a solução que propomos para o tema não passa por essa seara. A nosso ver, o artigo 16 da LACP deve ser interpretado em consonância com o artigo 93 do CDC, de modo que, tratando-se de dano estadual, regional ou nacional, caso a ação coletiva seja corretamente proposta perante uma das capitais dos estados ou no Distrito Federal, o juízo perante o qual se desenvolver a demanda terá competência para a toda a extensão do dano, ou seja, nacional, estadual ou regionalmente. Assim, esse será o limite de sua competência, permitindo-se a extensão subjetiva dos efeitos da decisão nessa mesma proporção.
Imagine-se, por exemplo, o caso de um concurso da aeronáutica que insira em seu edital exigências discriminatórias e desproporcionais quanto à idade e altura dos candidatos. É proposta, pelo MPF, ação civilpública perante a Seção Judiciária de Goiânia, com pedido de liminar para suspender as cláusulas editalícias impugnadas. Concedida a liminar, pergunta-se: terá ela eficácia em todo o Brasil ou apenas no estado de Goiás? A nosso ver, sendo esse um dano nacional, o juízo (no caso federal) de qualquer das capitais dos estados é competente para processar e julgar a causa e, sendo proposta a demanda coletiva terá o juízo competência territorial em toda a extensão do dano, de modo que sua liminar terá eficácia em todo o Brasil, dado que e é justamente esse o limite de sua competência territorial naquele caso concreto.
A se aplicar o artigo 16 da Lei de Ação Civil Pública sem se observar essa critério, ou seja, ignorando a regra de competência do artigo 93 do CDC (como muitos fazem, inclusive os tribunais), a decisão liminar, voltando ao exemplo, terá eficácia apenas no Estado de Goiás, forçando a repetição de ações coletivas idênticas em outros estados da federação, o que é desaconselhável e nada razoável.
	Em tempo: discute-se em doutrina se a litispendência deveria importar na extinção ação da ação coletiva que possua esse “vício” ou na reunião com a anteriormente ajuizada. Pela reunião, DIDIER e ZANETI; pela extinção, DONIZETTI e CERQUEIRA. Adotamos a segunda posição.
ROTEIRO 07
LITISCONSÓRCIO E INTERVENÇÃO DE
 TERCEIROS NO PROCESSO COLETIVO
01. LITISCONSÓRCIO: NOÇÕES GERAIS
	Pode-se conceituar o litisconsórcio como a existência de uma pluralidade de partes, tanto no pólo ativo, como no pólo passivo, litigando em um mesmo processo. Trata-se de instituto processual voltado à proteção da uniformidade das decisões judiciais, bem como à celeridade e economia processual.
	Classifica-se da forma seguinte:
Quanto ao pólo: ativo, passivo ou misto (quando se forma em ambos os pólos da relação jurídica processual);
Quanto ao momento de formação: originário, quando se forma desde o início da demanda, e ulterior, quando se forma ao longo desta;
Quanto à obrigatoriedade de sua formação: necessário, quando a lei ou a relação jurídica, por indivisível, impuserem a sua formação; ou facultativo, nos demais casos;
Quanto ao modo de julgar: simples, quando o juiz puder decidir a lide de maneira distinta para cada um dos litisconsortes, ou unitário, quando o magistrado tiver que decidir a lide de maneira uniforme para todos os litisconsortes.
1.1. O LITISCONSÓRCIO NO PROCESSO COLETIVO
	Dada a característica da legitimidade no processo coletivo, que é extraordinária (por substituição processual), concorrente e disjuntiva, torna-se possível a coligação de vários colegitimados para a propositura da ação coletiva, ou mesmo sua coligação no pólo passivo.
	Diferencia-se, porém, do litisconsórcio no plano individual em um ponto relevante: enquanto no processo individual os litisconsortes são partes em sentido material, defendendo em juízo cada um o seu direito, no âmbito coletivo a formação do litisconsórcio terá conotação e estrutura puramente processual, pois que a coletividade substituída por cada um dos colegitimados é exatamente a mesma.
	Trata-se de um litisconsórcio sempre facultativo, exatamente porque a legitimidade é disjuntiva.
	Pode ser originário, quando se forma desde o início da demanda coletiva, ou ulterior, quando se forma após a propositura da ação. É bem verdade que existe em doutrina certa divisão quanto à intervenção do colegitimado em momento posterior à propositura da ação coletiva. Para alguns, trata-se de litisconsórcio ulterior, enquanto para outros, assistência litisconsorcial. Sobre essa controvérsia, ver com mais detalhes o item 2.2.1 infra, dedicado ao estudo da assistência nas ações coletivas.
	Prosseguindo, ainda segundo a doutrina trata-se de litisconsórcio unitário, pois que a decisão a ser proferida deverá ser exatamente a mesma para todos os litisconsortes. DONIZETTI e CERQUEIRA ponderam, não sem razão, que justamente pelo sistema de substituição processual, típico do processo coletivo, a decisão da ação coletiva não é prolatada em razão da parte processual (substituto), mas em razão da coletividade substituída. Assim, ponderam que perderia o sentido classificar o litisconsórcio em simples ou unitário, até porque no plano do direito material existe um único titular. Concordamos com a perspicaz ponderação, mas entendemos que a classificação é útil sobretudo sob o ponto de vista didático, na medida em que reafirma a impossibilidade de serem adotadas decisões divergentes para cada um dos legitimados extraordinários.
1.2. O LITISCONSÓRCIO ENTRE RAMOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO OU DA DEFENSORIA PÚBLICA
	Dispõe o art. 5°, §5°, da Lei de Ação Civil Pública:
§5°. Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados, na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei.
	Sobre a regra, uma primeira observação importante: entende a doutrina que se deve aplicar a mesma disposição, por analogia, aos ramos da Defensoria Pública.
	A regra legal, nesses termos, é clara, sendo cogitável, por exemplo, a propositura de uma ação civil pública pelo Ministério Público Estadual em litisconsórcio com o Ministério Público Federal.
	A grande e tormentosa questão que se coloca nesses casos é: perante qual justiça deverá tramitar essa ação: justiça estadual ou justiça federal? Outra: podem os ramos do Ministério Público demandar perante qualquer justiça?
	DIDIER e ZANETI JR. (pág. 342) ponderam que se trata de questão de difícil resolução, notadamente porque a legislação vigente não fornece respostas. Apontam, assim, a existência de duas correntes doutrinárias que enfrentaram essa polêmica: uma que defende que cada Ministério Público deve ter sua atuação limitada à “sua justiça”; a segunda, apontada como majoritária, entende que o Ministério Público poderia atuar perante qualquer justiça, desde que a matéria discutida em juízo seja de sua atribuição.
	De fato, parece ter razão a segunda corrente doutrinária, tendo em conta os seguintes fundamentos: (i) a delimitação das funções de cada Ministério Público não está constitucionalmente adstrita a essa ou aquela justiça; (ii) não pode equiparar o Ministério Público Federal à União, de modo que a sua simples presença na lide imponha a competência de justiça federal; (iii) a expressa autorização, contida na lei, para a formação do litisconsórcio entre Ministérios Públicos já revela a possibilidade de sua atuação perante uma justiça que não lhe seria correspondente; (iv) o Ministério Público Estadual não poderia ficar submetido à vontade do Ministério Público Federal. Imagine-se um dano causado por um ente público federal: se o Ministério Público Federal não propusesse a demanda coletiva, o Ministério Público Estadual não poderia fazê-lo, por não poder pleitear perante a justiça federal.
	É bem verdade que há um precedente do STJ (REsp 440-002-SE, de 2004, Relatoria Ministro Teori Albino Zavascky), em que se decidiu que “para fixar a competência da justiça federal, basta que a ação civil pública seja proposta pelo Ministério Público Federal”.
	Pelos fundamentos antes expostos, não é essa a posição que adotamos no presente curso.
1.3. POSSIBILIDADE ALTERAÇÃO DOS ELEMENTOS OBJETIVAS DA DEMANDA FORMULADA PELO LITISCONSORTE ATIVO ULTERIOR
	Conforme se afirmou em passagem anterior, é admissível que um colegitimado extraordinário ingresse na ação coletiva em momento posterior à sua propositura, o que configura a formação de um litisconsórcio ativo, facultativo, ulterior e unitário.
	Debate-se em doutrina se, em casos tais, seria dado a esse litisconsorte tardio formular novos pedidos na ação coletiva, ou alterar-lhe de algum modo a causa de pedir.
	Prevalece em doutrina a opinião de que tais alterações seria possíveis. 
	Doutrinadores muitas vezes citados em nosso curso, DONIZETTI e CERQUEIRA (pag. 263) entende que se deve admitir que o litisconsorte ulterior possa alterar a causa de pedir e o pedido, desde que isso não provoque prejuízo injustificado parao réu ou viole a garantia do contraditório. DIDIER e ZANETI Jr. parecem trilhar caminho semelhante.
	De nossa parte, pensamos que a possibilidade de alteração do pedido ou da causa de pedir, fora das regras limitadoras já previstas no CPC (art. 264), colocam o réu da ação coletiva em situação de insegurança e total instabilidade processual, com óbvio comprometimento do contraditório e da ampla defesa.
	Assim, posicionamo-nos contra essa possibilidade de ampliação, em que pese assumindo com isso posicionamento claramente minoritário.
02. AS INTERVENÇÕES DE TERCEIRO NO PROCESSO COLETIVO
2.1. AS INTERVENÇÕES NO PROCESSO INDIVIDUAL – BREVE NOTA
	O processo individual prevê as seguintes modalidades de intervenção de terceiros: assistência, oposição, nomeação à autoria, denunciação da lide e chamamento ao processo.
	Em brevíssima síntese, a assistência tem lugar quando o terceiro (denominado assistente), que tem interesse jurídico em que algum dos litigantes seja vencedor de uma demanda, nela intervém justamente para auxiliar essa parte (assistido) a atingir tal objetivo, qual seja, sagrar-se vencedor naquela demanda. Classifica-se em assistência simples e assistência litisconsorcial, a depender se assistente tem ou não relação jurídica com o adversário do assistido.
	Na oposição, o terceiro ingressa na demanda porque pretende para si, no todo ou em parte, o bem ou direito litigado.
	Na nomeação à autoria tem-se uma verdadeira tentativa de correção do vício da ilegitimidade passiva, visto que aquele que foi demandado em nome próprio por direito alheiro pode, no prazo da resposta, apontar o verdadeiro legitimado.
	A denunciação da lide, a seu turno, consiste numa verdadeira ação de regresso que uma das partes exerce contra o terceiro para, caso seja sucumbente na demanda, ver seu direito de regresso ser reconhecido pelo juiz na mesma sentença, sendo assim indenizado dos prejuízos que a sucumbência no processo principal vier a lhe acarretar.
	Finamente, o chamamento ao processo é a intervenção típica das obrigações solidárias, em que um réu chama ao processo aqueles que devem tanto ou mais do que ele.
	Vejamos, agora, quais dentre estas intervenções podem ocorrer no processo coletivo e suas principais características e regras.
2.2. A ASSISTÊNCIA NAS AÇÕES COLETIVAS
	No processo coletivo é plenamente possível a intervenção de terceiros na modalidade assistência, sendo mesmo, na prática, a mais usual. Vejamos, pois, como as diversas hipóteses em que a assistência poderá ocorrer no processo coletivo.
2.2.1. INTERVENÇÃO DE COLEGITIMADO EXTRAORDINÁRIO EM AÇÃO COLETIVA: ASSISTÊNCIA LITISCONSORCIAL OU LITISCONSÓRCIO ATIVO ULTERIOR?
	Como já destacado em passagem anterior, quando tratamos do litisconsórcio, não se discute que é dado a qualquer colegitimado à propositura da ação coletiva intervir, no curso do processo, em uma demanda já proposta por outro colegitimado. A questão que divide a doutrina é: trata-se, tal intervenção, de uma assistência litisconsorcial ou de um litisconsórcio facultativo ulterior?
	Para DIDIER e ZANETI JR (pág. 252), considerando que o colegitimado teria legitimidade para a própria propositura da ação coletiva, sua intervenção neste em momento posterior configura assistência litisconsorcial, passando o colegitimado a figurar como verdadeiro litisconsorte unitário do autor, recebendo o processo no estado em que se encontra, mas exercendo seus exatos mesmos poderes. Perceba-se que os afamados autores qualificam essa intervenção como assistência litisconsorcial e a equiparam ao litisconsórcio ulterior.
	DONIZETTI e CERQUEIRA (pág. 266), por sua vez, consideram que a assistência litisconsorcial e o litisconsórcio facultativo ulterior são fenômenos distintos, pelo que não afiguraria correto equiparar e igualar tais fenômenos. Defendem que o assistente litisconsorcial auxilia o assistido pois defende direito que também é seu e que será influenciado pela sentença. Já o litisconsorte integra a mesma situação jurídica sustentada por uma das partes no processo. Concluem, assim, que o colegitimado que ingressa no feito após a sua instauração, justamente por defender a mesma situação jurídica do autor da demanda, o faz como autêntico litisconsorte ativo ulterior. 
	A nosso ver, a diferença prática entre qualificar o ingresso de um colegitimado no curso na ação coletiva em litisconsórcio facultativo ulterior ou assistência litisconsorcial é quase nenhuma, pois que o legitimado extraordinário que ingressar terá basicamente os mesmos poderes, quer se trate de litisconsorte, quer se trate de assistente litisconsorcial. Consideramos, contudo, que a posição adotada por DONIZETTI e CERQUEIRA é mais adequada, devendo-se, assim, qualificar a intervenção do colegitimado no curso da ação coletiva como litisconsórcio ativo ulterior.
2.2.2. INTERVENÇÃO DO INDIVÍDUO EM AÇÃO COLETIVA: VEDAÇÃO GERAL E POSSÍVEIS EXCEÇÕES
	Em regra, o indivíduo não pode intervir em ação coletiva, quer na qualidade de assistente, quer na qualidade litisconsorte. E assim o é porque, em primeiro plano, não tem legitimidade para tutelar em nome próprio direitos coletivos, o que tecnicamente o impede de ingressar como litisconsorte ou assistente; em segundo plano, a se permitir referida intervenção, ainda que como assistente, comprometido estaria um dos principais objetivos da tutela coletiva, justamente a celeridade processual, vez que, em tese, dezenas, centenas ou milhares de indivíduos poderiam requerer seu ingresso na ação coletiva, transformando o processo em verdadeiro caos.
	Existem, porém, duas importantes exceções.
	A primeira delas é a intervenção prevista no artigo 94 do Código de Defesa do Consumidor, que dispõe:
Art. 94. Proposta a ação, será publicado no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.
	A regra do dispositivo transcrito, é preciso destacar, não tem cabimento em qualquer ação coletiva, mas apenas naquelas em que o legitimado extraordinário defenda direitos individuais homogêneos. Ou seja, não á cabível a intervenção do indivíduo em ações coletivas para a tutela de direitos difusos ou coletivos stricto sensu.
	Por outro lado, nada obstante tenha a lei se utilizado da expressão litisconsortes, trata-se, conforme aponta a doutrina, de assistência litisconsorcial. Não pode o indivíduo ser considerado litisconsorte ulterior pois não detém ele legitimidade para tutelar coletivamente direitos individuais homogêneos; entretanto, o direito individual coletivamente tutelado na ação é também dele, pelo que a sua intervenção se dá na condição de assistente litisconsorcial.
	A segunda hipótese de intervenção do indivíduo como assistente em ação coletiva é bastante peculiar e liga-se à ação popular. Como se sabe, a lei defere ao cidadão-eleitor a legitimidade para, em nome próprio, tutelar direito verdadeiramente difuso, consistente na moralidade administrativa amplamente considerada. Nesses casos, não há dúvida, o cidadão-eleitor atua, em nome próprio, na defesa de direito alheio, em verdadeira legitimidade extraordinária.
	Por outro lado, é cogitável que qualquer outro legitimado extraordinário busque, mediante ação coletiva que não a ação popular, a tutela do exato mesmo direito difuso, como a moralidade administrativa antes citada.
	Nesses casos, defende a doutrina, e com razão, que justamente por ser o cidadão-eleitor colegitimado à tutela do mesmo direito via ação popular, possa ele intervir na ação coletiva na qualidade de assistente litisconsorcial.
2.2.3. A POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO DO LEGITIMADO EXTRAORDINÁRIO EM AÇÃO INIDIVIDUAL
	Conquanto rara, não se pode afastar a hipótese em que um legitimado coletivo tenha interesse em intervir numa ação individual cuja questão debatida, normalmente ligada a direito coletivo stricto sensu ou individual homogêneo, e a eventual decisão, venha a ter influênciaem uma ação coletiva a ser proposta ou já efetivamente deduzida.
	Em nossa experiência profissional vivenciamos um caso em que interesse tal, por parte do legitimado extraordinário, poderia se manifestar. Tratava-se de ação individual proposta por 23 delegados federais, que impugnavam a exigência de controle de suas atividades profissionais mediante ponto eletrônico. A ação proposta, perante a Justiça Federal de Goiás, foi a primeira em todo o Brasil a obter liminar suspendendo os efeitos da portaria que instituía o ponto eletrônico, bem como sentença de mérito no mesmo sentido. Apenas após o êxito nessa ação individual é que a associação que representa os delegados em nível nacional optou pela propositura da ação coletiva, igualmente exitosa em termos de concessão de liminar, justamente fincada no precedente firmado na ação individual. Nesse caso, o estágio avançado da ação individual, que se transformou no leading case referente à questão do ponto eletrônico para delegados federais, certamente poderia despertar o interesse, por parte da associação nacional, de intervir, na qualidade de assistente simples, para auxiliar os autores individuais a se sagrarem definitivamente vencedores na demanda, com o que obteriam precedente favorável e que diretamente influenciaria na ação coletiva proposta.
	O próprio STF já admitiu a intervenção de legitimado extraordinário em ação individual: ver RE 550.769-RJ.
2.2.4. A DENOMINADA “INTERVENÇÃO MÓVEL”
	De acordo com o art. 6°, §3°, da Lei de Ação Popular, “a pessoa jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou dirigente”.
	Trata-se de fenômeno processual denominado pela doutrina de intervenção móvel e, decidindo a pessoa jurídica demandada atuar ao lado do autor da ação popular, assumirá posição similar à do assistente litisconsorcial (ver DONIZETTI e CERQUEIRA, pág. 271).
2.3. A DENUNCIAÇÃO DA LIDE
	Como visto na parte introdutória do presente roteiro, a denunciação da lide consiste em uma ação de regresso em que o litisdenunciante, que já é parte no processo, exerce em face do litisdenunciado, que até ali é terceiro, para que seu direito de regresso seja decidido pelo juiz em caso de vir a se tornar sucumbente.
	Em ações coletivas, a possibilidade de denunciação de lide fundamenta-se na disposição contida no artigo 70, inciso III, do CPC, que afirma ser cabível a denunciação “àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda”.
	Nas ações coletivas em geral não há regra que proíba a litisdenunciação, sendo, por isso, a princípio cabível. Tem-se defendido em doutrina, porém, que o magistrado realize, no caso concreto, o controle da pertinência e da adequação da litisdenunciação formulada, indeferindo aquelas que possam tumultuar o feito e prejudicar a tutela do direito coletivo.
	Nesses termos, casos em que a litisdenunciação, por exemplo, pretenda trazer ao feito apuração de responsabilidade civil subjetiva, quando na ação coletiva se discuta responsabilidade objetiva, devem ser indeferidos, notadamente por tornar a atividade probatória excessivamente complexa.
	Tal controle deve, porém, como dito, ser realizado no caso concreto, sendo a denunciação da lide, em geral, cabível também nas ações coletivas.
2.3.1. ESPECIFICAMENTE SOBRE A DENUNCIAÇÃO DA LIDE EM AÇÕES DE CONSUMO
	O art. 88 do CDC não deixa margem a dúvidas quanto ao não cabimento da denunciação da lide em ações contra fornecedores de produtos ou serviços, ao utilizar na parte final deste dispositivo a expressão “vedada a denunciação da lide”. O dispositivo em referência, destaque-se, tem aplicação tanto nas ações individuais, quanto nas ações coletivas.
	O objetivo da lei foi claro e sábio: evitar denunciações sucessivas, exatamente porque em relações de consumo se estabelece, normalmente, uma longa cadeia de fornecedores, sendo que a denunciação de cada um deles certamente acarretaria prejuízo processual ao consumidor ou ao autor coletivo.
	Vale destacar a lição de DIDIER e ZANETI JR (pág. 268), para quem não se trata, em caso de integrantes de cadeia de consumo, de verdadeira denunciação da lide, mas ante de chamamento ao processo, dado se tratar, a teor do artigo 7° do CDC, de responsabilidade solidária.
	De todo modo, tanto a denunciação da lide, quanto o chamamento ao processo, mostram-se inviáveis à luz da regra do artigo 88 do CDC, o que vale para ações individuais e também para as ações coletivas.
03. A INTERVENÇÃO DO AMICUS CURIAE NAS AÇÕES COLETIVAS
	Amicus curiae ou “amigo da corte” é modalidade de intervenção já conhecida do direito brasileiro, pois que admitida nas ações de controle concentrado da constitucionalidade e também no julgamento da repercussão geral no recurso extraordinário, e consiste na oitiva de um terceiro, normalmente expert na área de conhecimento objeto da demanda, a fim de cooperar com o Judiciário e aprimorar as decisões judiciais.
	Dada a intrínseca relevância social das ações coletivas, doutrina e jurisprudência têm se mostrado favoráveis à sua admissão no processo coletivo.
ROTEIRO 08
ASPECTOS GERAIS DA TUTELA COLETIVA
01. A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NAS AÇÕES COLETIVAS
1.1. NOÇÕES GERAIS SOBRE A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA
	- Análise sistemática da prescrição e da decadência: direitos subjetivos-prestação e direitos subjetivos-poder.
	- A prescrição e a decadência são fatos extintivos; a primeira atinge a pretensão, enquanto a segunda atinge o próprio direito.
	- Os prazos prescricionais estão ligados a pretensões condenatórias. Os prazos decadenciais estão ligados a pretensões constitutivas/desconstitutivas. As pretensões declaratórias não se submetem nem a prazos prescrições, nem decadenciais, sendo consideradas ações perpétuas.
1.2. A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO PROCESSO COLETIVO – VISÃO DA DOUTRINA
	O tema da prescrição e decadência dos direitos coletivos lato sensu não possui unanimidade em doutrina, havendo lições notadamente divergentes sobre a questão.
	Uma primeira corrente de pensamento defende que as ações tendentes a tutelar direitos coletivos em sentido lato não se submeteriam a qualquer prazo extintivo, ou seja, não estariam submetidas nem a prescrição, nem a decadência, configurando-se como verdadeiras ações perpétuas
	Citado por DIDIER e ZANETI JR. (pág. 281), RICARDO DE BARROS LEONEL afirma que não correm prescrição e decadência com relação aos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Aponta os seguintes fundamentos: a) inexistência de previsão de prescrição e decadência quanto aos interesses supra-individuais; b) não legitimação dos titulares de tais interesses para sua postulação em juízo; c) imprescritibilidade com fundamento constitucional de uma espécie de interesse difuso, relativo à defesa do patrimônio público; d) existência no ordenamento ortodoxo de situações de imprescritibilidade e de inocorrência de decadência.
	Os mesmos autores DIDIER e ZANETI JR. (pág. 283) discordam parcialmente dessa opinião e apontam específicas hipóteses de prescrição (e decadência) nas ações coletivas, a saber:
	a) prescrição dos pedidos repressivos-punitivos na improbidade administrativa, conforme previsto no artigo 23 da lei 8.429/92. Necessário lembrar, porém, que tal prescrição somente se aplica às penas que não envolvem as pretensões de ressarcimento ao erário, pois que essas são imprescritíveis, a teor da disposição contida no art. 37, §5°, da CF/88. Aplica-se, pois, esse prazo às penas previstas na lei de improbidade diferentes do ressarcimento, tais como proibição de contratar com o poder público, inelegibilidade, multa civil, entre outras.
	 b) decadência do pedido de habilitação individual nas ações indenizatórias para compor os direitos individuais homogêneos, previstas nas leis federais

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