Buscar

O Atlântico Negro Gilroy.odt

Prévia do material em texto

O ATLÂNTICO NEGRO - PAUL GILROY
GERAL: 
Tese central do livro: Os processos de racialização e os ideais anti racistas, apesar de se apresentarem muitas vezes como nacionais ou até regionalistas, são construídos em um circuito transatlântico que abrange o Novo Mundo, a Europa e a África. 
Pensar a modernidade através do conceito de diáspora negra.
O Atlântico Negro tem como razão primordial, nas palavras do autor, ver “os negros percebidos como agentes, como pessoas com capacidades cognitivas e mesmo com uma história intelectual – atributos negados pelo racismo moderno.”(GILROY, Paul, 2001, p.40)
Gilroy argumenta de modo convincente contra o discurso de inspiração nacionalista e romântica que tem a África como origem de uma cultura negra pura, mostrando que as culturas negras na África e na diáspora nunca viveram hermeticamente fechadas em si mesmas e nem são grupos homogêneos sem divisões internas de gênero e classe. 
Como alternativa ao essencialismo e ao relativismo, Gilroy propõe um modo transnacional de refletir sobre a experiência negra no mundo a partir da constatação de que as comunidades negras, dos dois lados do Atlântico, estiveram em intenso intercâmbio desde os séculos XVIII e XIX, e não apenas por causa do tráfico negreiro – Gilroy lembra que o piloto de Colombo era negro e que um quarto da marinha inglesa era composta de africanos no final do século XVIII. Gente, mercadoria e cultura nas mais diversas formas (música, culinária, literatura) transitaram intensamente de um lado do Atlântico para o outro, nos dois sentidos, num tráfego intenso que mudou, mas não acabou com o fim da escravidão.
Ela fornece o melhor exemplo do tráfego bilateral que vem se processando historicamente entre as formas culturais africanas e as culturas políticas dos negros da diáspora. A história de hibridação e mesclagem desaponta o desejo de pureza racial acalentado pelo afrocentrismo e pelo eurocentrismo. A história do Atlântico Negro nos ensina que a reprodução das tradições culturais não pode ser interpretada como a transmissão pura e simples de uma essência fixa ao longo do tempo, ela se dá nas rupturas e interrupções sugerindo que “a invocação da tradição pode ser, em si mesma, uma resposta distinta, porém oculta, ao fluxo desestabilizante do mundo contemporâneo”. 
O nacionalismo em geral é, aliás, um dos alvos principais de Gilroy. As perspectivas que confinam os estudos literários em departamentos rigidamente separados são vigorosamente contestadas já que “nem as estruturas políticas nem as estruturas econômicas de dominação coincidem mais com as fronteiras nacionais”. 
A formação dessa rede possibilitou às populações negras durante a diáspora africana formarem uma cultura que não pode ser identificada exclusivamente como caribenha, africana, americana, ou britânica, mas todas elas ao mesmo tempo. Trata-se da cultura do Atlântico Negro, uma cultura que pelo seu caráter híbrido não se encontra circunscrita às fronteiras étnicas ou nacionais. 
No centro de sua análise encontra-se a noção de diáspora, que o autor importou de inconfessadas fontes judaicas para a política e a história negra. No seu quadro de análise, ela não representa uma forma de dispersão catastrófica, mas um processo que redefine a mecânica cultural e histórica do pertencimento. Para Gilroy a diáspora rompe a seqüência dos laços explicativos entre lugar, posição e consciência, conseqüentemente rompe também com o poder do território para determinar a identidade. 
Nos capítulos 3, 4 e 5, fica bastante claro que Gilroy, chefe do departamento de Black Studies de Yale, fala diretamente para os seus pares nos centros de saber do hemisfério norte. Nesses capítulos, Gilroy denuncia as limitações e mistificações que foram produzidas para sustentar a visão de que as obras de W.E.B Du Bois e Richard Wright e a música dos Spirituals eram expressões típicas e exclusivas da cultura negra estadounidense, ignorando as importantes conexões internacionais que as definiram.
Os Spirituals são apenas um entre vários exemplos derivados da música popular no livro uma vez que, para Gilroy, a música revela de forma clara os processos de livre apropriação e recombinação que configuram a cultura negra mundial.
O pensamento e a arte dos negros nessa relação entre modernidade e dupla consciência são denominados como contracultura da modernidade. 
Gilroy discorre sobre o trabalho de escritores negros norteamericanos, precursores do nacionalismo negro e do panafricanismo, e ressalta a importância da experiência pessoal da escravidão para a construção do pensamento dos autores. 
Fluxos internacionais estão na própria base da noção de “negro”. 
Intelectuais e líderes negros conseguem escapar de um pressuposto destino racial, construindo discursos e ideias sedutoras e originais, movendo-se através do atlântico e assim restituindo uma humanidade que a escravidão lhes negou. 
Caráter híbrido das ideias;
história do intercâmbio entre pensamento negro e as ideias dominantes e brancas;
produção de culturas e identidades negras e modernização acontecem ao mesmo tempo; esta última construindo um cenário como novos desafios para a primeira. 
A construção dessa identidade negra em um mundo pós-moderno e cosmopolita. 
Não-essencialização do ser negro como algo natural ou primitivo.
Todos os descendentes de africanos que vivem nas regiões do Atlântico Negro compartilham além de uma cultura, a sua condição de escravos, libertos e depois de discriminados racialmente. 
A construção de uma comunidade e o compartilhamento de uma cultura entre eles só aconteceu após travarem intensos embates para propiciar que isso pudesse acontecer no Novo Mundo. 
As culturas negras, longe de serem depositórios de construções do passado, são inovadoras, contribuem com a modernidade e subvertem os locais e as lógicas. Constroem para frente. 
Reorientação conceitual: encontro maior com as teorias da cultura e sua integridade territorial e corporal. 
As culturas do Atlântico Negro criaram veículos de consolação através da mediação do sofrimento. 
O ATLÂNTICO NEGRO E O BRASIL: 
Atlântico sul negro: abordagem da cultura da diáspora capaz de mapear as delicadas condições e consequências da influência mútua e da relação. 
Foco no mundo anglófono e na experiência colonial britânica. O ATLÂNTICO NEGRO DO NORTE! NÃO FALA SOBRE AMÉRICA DO SUL POR EXEMPLO! POUCAS MENÇÕES AO BRASIL. 
O Brasil e o mito da democracia racial. 
Crítica as análises da Globalização escritas hoje em dia: não foram capazes de lidar com o problema das divisões raciais ou puderam analisar seu lugar nas racionalidades do poder colonial e pós colonial. O que o autor pretende é consolidar e renovar nossas críticas à própria ideia de raça e prever sua morte como calculo de principio moral e político. 
Confrontos: 
1 – Representação de corpo humano como repositório fundamental da ordem da verdade racial. 
2- A ideia de cultura em si. 
3- Padrão de desejos e ódios que Freud chamou de narcisismo das menores diferenças (identificar as distintas racionalidades, lógicas, metafísicas, patologias e possibilidades de ecologias culturais)
SOB A IDEIA DA DIÁSPORA PODEREMOS ENTÃO VER NÃO A RAÇA, E SIM FORMAS GEOPOLÍTICAS E GEOCULTURAIS DE VIDA QUE SÃO RESULTANTES DA INTERAÇÃO ENTRE SISTEMAS COMUNICATIVOS E CONTEXTOS QUE ELAS NÃO SÓ INCORPORAM COMO TAMBÉM MODIFICAM E TRANSCENDEM. 
ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS
Cap 1: Dimensões dos argumentos polêmicos - diferentes paradigmas nacionalistas fracassam quando comparados a formação intercultural e transnacional do Atlântico Negro. 
Cap 2: Os modernismos literários e filosóficos do Atlântico negro encontram suas origens em um sentido bem desenvolvido de cumplicidade e razão racializada e o terror da supremacia branca. 
Cap 3: Investigam-se esses temas articulados a um comentário histórico sobre aspectos da música negra. Debate sobre as ideias de autenticidade étnica, identidades de gênero e as imagens de raça.Cap 4: Investigação da obra de Du Bois e a teoria da dupla consciência que é um dos temas centrais do trabalho de Gilroy. Mostrar como a cultura política do Atlântico Negro mudou a medida que saía das fases iniciais que haviam sido dominadas pela necessidade de fugir à escravidão e de várias tentativas de conquistar uma cidadania significativa nas sociedades pós-emancipação. 
Cap 5: Discussão sobre a obra de Richard Wright e das reações críticas a ela. Relação da autenticidade anterior e suas obras em relação a uma suposta desvalorização de seus escritos quando vivia na Europa. 
* Discussão crítica do africentrismo e do modo como este tem entendido a ideia de tradição mais como repetição invariante do que como estímulo para inovação e mudança. Importância das trocas entre negros e judeus para o futuro da política cultural do Atlântico Negro e para sua história.
O que espera o autor: desconstruir a ideia de pureza racial que se encontram dentro e fora da política negra. O livro é sobre a inevitável hibridez e mistura de ideias. Vai contra a clausura das categorias pois as identidades são sempre instáveis e mutáveis, estão quase sempre inacabadas e sendo refeitas. 
O conceito de dupla consciência de Du Bois: a clivagem entre a identificação racial construída pela opressão histórica e a concomitante associação com a modernidade eurocêntrica, via incorporação de valores disseminados pelo opressor. Dualidade entre a particularidade racial e cultural e o apego aos valores universalistas modernos.
A teoria da dupla consciência elaborada por Du Bois constitui um dos principais temas abordados pelo autor, a partir do qual, discute a construção e a plasticidade das identidades negras. O sujeito negro de Du Bois vive uma certa dualidade, encontra-se dividido entre as afirmações de particularidade racial e o apelo aos universais modernos que transcendem a raça. No seu quadro de análise a dupla consciência emerge das experiências de deslocamento e reterritorialização das populações negras, que acabam redefinindo o sentimento de pertença. Com esse conceito, Du Bois objetiva dar às experiências pós-escravidão vivenciadas pelos negros ocidentais uma significação mundial. Essas formulações casam perfeitamente com a preocupação de Gilroy na formação de uma transcultura negra que possa relacionar, combinar e unir as experiências e os interesses dos negros em várias partes do mundo. 
Segundo esta teoria os afro-americanos tem duas maneiras de se verem. Primeiro veem-se como individuais e segundo como um grupo mas só através dos olhos da sociedade.”Dando lugar a duas almas, dois pensamentos, dois conflitos irreconciliáveis, dois ideais hostis num corpo negro.Por um lado lutando para serem classificados como individuais, com personalidades diferentes, mas os outros como um grupo com desafios sociais iguais.” 
A música: 
As expressões artísticas que emergiram da cultura dos escravos encontraram na música e na dança um substituto para as liberdades políticas formais que lhes eram negadas, “a arte se tornou a espinha dorsal das culturas políticas dos escravos e da sua história cultural”, e até hoje representa uma importante aliada nos processos de luta rumo à emancipação, à cidadania e à autonomia negra. 
Capítulo 3: “Joias trazidas da servidão”: música negra e a política de autenticidade. 
A questão do terror racial sempre permanece em pauta quando os modernismos negros são discutidos pois a proximidade imaginativa do terror é experiência inaugural desses modernismos. 
O terror racial produz e exprime determinadas manifestações que contribuem para memórias históricas inscritas e incorporadas no cerne volátil da criação cultural afro-atlântica. 
As formas culturais negras são ao mesmo tempo modernas e modernistas: modernas porque têm origem hibrida e crioula no Ocidente; porque se empenham a fugir do papel de mercadorias dentro das indústrias culturais; porque são produzidas por artistas que entendem sua posição em relação ao grupo racial e também percebem que o papel da arte na mediação entre a criatividade individual e a dinâmica social é moldado por um sentido da prática artistica como um domínio autônomo, ou seja, divorciado da experiência da vida cotidiana. São modernistas porque derivam de uma duplicidade, de uma localização instável dentro e fora das convenções e das regras estéticas da própria modernidade. 
Examinar o lugar da música no mundo Atlântico negro significa observar a autocompreensão dos músicos que a têm produzido, o uso simbólico que outras figuras negras dão a ela, e as relações sociais que produzem e reproduzem a cultura expressiva única, onde a música é central e fundamental. 
Análise dos padrões distintivos do uso da língua que caracterizavam as populações contrastantes da diáspora moderna africana e ocidental. 
O caráter oral das situações culturais na quais se desenvolve a música da diáspora pressupõe uma relação distintiva com o corpo: a expressão corporal das populações pós-escravas foi resultados das brutais condições históricas.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes