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Aula 9 O Papel da Escola na Dinâmica da Inclusão Exclusão

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Aula 9- O Papel da Escola na Dinâmica da Inclusão/Exclusão
Pensar a problemática da escola é pensar o processo de constituição da educação formal, portanto sistematizada através de instituições sociais em uma cultura. A palavra escola provém do grego skholé, espaço vital em que se praticava o ócio, a discussão livre, o aprendizado como experiência intensa, a salvo das pressões externas.
Se consultarmos o dicionário, encontraremos a definição que a escola é um estabelecimento onde se desenvolve a prática do ensino. Portanto, o aprendiz deve ir à escola, frequentá-la e se apropriar do saber difundido pela mesma. Tal saber decorre de todo um processo de legitimação da comunidade, do grupo ou da sociedade em geral.
Com o tempo, aquele que aprende pode se constituir como mestre dos futuros aprendizes como também produzir conhecimentos e práticas a partir daquela tradição. Nesse sentido, podemos compreender que o termo escola é empregado ao se referir a um conjunto dos adeptos de um mestre ou de uma doutrina filosófica, literária etc.
Esta tradição tem suas origens na antiguidade grega marcada pelo nascimento do pensamento filosófico-científico, ou seja, pelo o desenvolvimento da filosofia naturalista dos pré-socráticos.
As principais escolas desta época foram:
Escola Jônica: Tales de Mileto, Anaximenes de Mileto, Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso.
Escola Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento.
Escola Eleata: Xenófanes, Parmênides de Eleia, Zenão de Eleia e Melisso de Samos.
Escola da Pluralidade: Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazômena, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera.
A partir do século V a.C., desenvolveu-se em Atenas um novo sistema político que irá exigir novos papéis por parte da formação escolar naquela cultura. Estamos nos referindo à democracia que, na análise de Chauí, apresenta duas características de grande importância para o futuro da Filosofia:
Em primeiro lugar, afirmava a igualdade de todos os homens adultos perante as leis e o direito de todos de participarem diretamente do governo da cidade, da polis.
Esta nova relação de poder que se configurava na polis acabou por exigir um novo modelo de educação, ou seja, de uma formação específica do cidadão da polis para o exercício político. Para tanto, este tinha que dominar a palavra, ou seja, de se constituir um bom orador.
Foi neste contexto que surgiram os primeiros filósofos do período socrático ou antropológico. Conhecidos como mestres da retórica e da oratória tinham por finalidade formar bons cidadãos. Dessa forma, “ensinavam técnicas de persuasão para os jovens que aprendiam a defender a posição A, depois a posição ou opinião contrária, não A, de modo que, numa assembleia, soubessem ter fortes argumentos a favor ou contra uma opinião e ganhassem a discussão” (CHAUÍ, 2003, p.40). Diante disso, podemos afirmar que a avaliação do cidadão como um bom orador e um político respeitado entre os seus se dava na prática política ao discutir, publicamente, os destinos da cidade.
Sócrates se opôs à proposta de formação do cidadão dos sofistas, afirmando que estes não poderiam ser reconhecidos como filósofos por não terem respeito pela sabedoria e pela verdade, já que defendiam qualquer ideia, ou seja, dependendo das circunstâncias e das relações de poder se afirmava A ou não A. Portanto, “corrompiam o espírito dos jovens, pois faziam o erro e a mentira valer quanto a verdade” (CHAUÍ, 2003, p.41).
Mas, o que o pai da filosofia propunha?
“Propunha que, antes de querer conhecer a natureza e antes de querer persuadir os outros, cada um deveria, primeiro e antes de tudo, conhecer a si mesmo”. Vale lembrar que o compromisso de Sócrates com a verdade se sustentava na crença da existência de uma verdade única e imutável, o que marcará o profundamente a filosofia de Platão e, consequentemente, firmar uma tradição do pensamento na cultura ocidental, bem como pensamentos e práticas educativas.
Contudo, somente no período socrático ou antropológico é que teremos a formação da primeira escola de filosofia proporiamente dita. Estamos nos referindo à Academia de Platão em Atenas, no século IV a.C. Sua escola primava pelo ensinamento dialético onde o saber era encontrado mediante um processo endógeno, ou seja, pela busca individual, através de constantes questionamentos. Desde sua fundação até a atualidade, o termo “Academia” se refere ao local onde o saber não é apenas ensinado, mas produzido.
Além disso, desenvolveu-se nesse período a escola peripatética (palavra grega que significa ambulante ou itinerante) a partir dos ensinamentos de Aristóteles, pois ensinava aos seus alunos caminhando ao ar livre, por sob os portais cobertos do Liceu. Essa escola assume uma postura contrária à visão especulativa da Academia Platônica e defende uma orientação empírica, pois, como afirmara Aristóteles, “nada que está no intelecto não tenha passado antes pelos sentidos”.
A escola no período medieval
A Idade Média é marcada pela influência da Igreja Católica Apostólica Romana centrada na figura do papa que exercia o poder temporal (político disputado com a monarquia) e o poder espiritual (religioso) no feudalismo. A sociedade medieval estava dividida em três classes sociais: o clero, a nobreza e o povo (classe dominada representada pelos servos).
O clero, além do exercício do poder temporal e espiritual, é a classe detentora do conhecimento e proprietária de terras oriundas das doações de reis ou nobres à Igreja, pois boa parte de seus membros advinham da nobreza, bem como do próprio povo. 
Outra classe dominante é a nobreza que, além de proprietária de terras, é a classe guerreira, ou seja, alguns de seus membros comandavam os exércitos para defender os reis e a Igreja. 
Por outro lado, temos a classe dominada formada pela maioria da população e que trabalhava para os senhores feudais (proprietários de terras).
É nesta configuração que prevalerece nas relações políticas, econômicas e sociais o sistema feudal que, por sua vez, não possibilitava ao povo uma ascensão social. Em outras palavras, a sociedade feudal não permitia uma mobilidade social, ou seja, a ascensão de membros da classe dominada à classe dominante.
Nesse período, podemos destacar alguns modelos de escolas que foram fundamentais para o desenvolvimento da cultura no mundo ocidental.
São elas:
Suas origens encontram-se nos mosteiros beneditinos e desempenharam papel decisivo na história da civilização ocidental, pois constribuíram de forma significativa na preservação das obras literárias da antiguidade. Inicialmente, tinham a função de formar os futuros monges, mais tarde abrem escolas externas com a finalidade de cuidar da formação dos leigos cultos (nobreza). Nas cidades, surgem as escolas episcopais que tinham por finalidade formar o clero secular e de leigos que eram preparados para defender a doutrina da Igreja na vida civil.
Carlos Magno (768-814) fundou a Escola Palatina frequentada pelo imperador, pelos príncipes e pelos jovens da nobreza. Esta escola foi organizada a partir das sete artes liberais divididas em Trivium (gramática, retórica e dialética) e Quatrivium (aritmética, geometria, astronomia, música e, mais tarde, a medicina).
A partir do século XII, ocorreram mudanças significativas como o renascimento urbano e o renascimento comercial que possibilitaram a ruptura do monopólio intelectual por parte da Igreja, principalmente com o nascimento de uma nova classe social: a burguesia. As escolas catedrais, embora tivessem suas origens nas escolas episcopais, são escolas urbanas, e o ensino decorrerá das necessidades da cidade e não mais do campo. Dessa forma, a atividade intelectual abre-se do mundo exterior ao mundo confessional da Igreja e, de forma lenta, vai absorvendo elementos de outras cuturais (judaica, árabe e persa), como também redescobre autores antigos do período clássico, como foi o caso de Aristóteles.
A escola na sociedade moderna
Na sociedade moderna e capitalista, teremos uma redefiniçãodo modo de organização da vida material e não material. A passagem do sistema feudal para o sistema capitalista de produção provocou um conjunto de transformações que afetaram as relações humanas e sociais e, consequentemente, o papel da escola e da educação.
É na modernidade que teremos a defesa de uma educação voltada para a vida, ou seja, que tenha uma relação direta com as necessidades do cotidiano humano. Tal exigência decorre fundamentalmente do desenvolvimento do conhecimento científico e de sua aplicabilidade no mundo do trabalho e da produção.
A ascensão econômica da burguesia capitalista fez com que esta classe social reivindicasse, a partir do século XVII, acesso à educação formal. Dessa forma, defendem um novo modelo de educação, ou seja, de uma educação laica (desprovida dos vícios da educação contemplativa e especulativa que prevaleceu durante a Idade Média e que atendia às necessidades do clero e da nobreza), pública e gratuita para todos.
Este ideário liberal será incorporado pelo modelo de Estado Moderno baseado no contrato social que definiu, do século XIX a diante, a “educação como direito de todos e dever do Estado”. A partir deste princípio, podemos fazer as seguintes considerações:
Pela primeira vez na história do Ocidente, a educação é reconhecida do ponto de vista jurídico (direito e dever) e com caráter universal (direito de todos). Isso, por si só, já revela um caráter revolucionário no campo educacional.
A educação é definida como Política Social do Estado. No plano prático, obrigou ao Estado a ter que desenvolver um Sistema Nacional de Ensino para que se garantisse a efetivação desse direito.
As práticas educativas passam a ser reguladas por uma instância pública e estatal a partir da definição de um conjunto de princípios na Lei de Diretrizes e Bases de cada nação.
A adoção de políticas educacionais para os diferentes segmentos do ensino decorrerá do grau das relações de poder existente no meio social. Tais políticas experessam as necessidades e os conflitos de uma sociedade, ou seja, de projetos distintos de homem e sociedade. Dessa forma, o campo educacional também se constituirá como um campo de disputa de poder na sociedade moderna.
Além disso, é importante ressaltar que o ideário liberal em educação faz uma defesa de que através da mesma iremos redimir a sociedade das desigualdades sociais, portanto promover a equidade social e superar a marginalidade. Tal visão parte da compreensão de que a educação é um fator determinante da estrutura social, ou seja, ela independe da mesma e tem total autonomia sobre a realidade existente. Entendemos que tal defesa não se sustenta, por compreendermos que a educação é um fator determinado pelas relações de poder político, econômico, social e moral de uma cultura ou sociedade.
Contudo, se voltarmos o nosso olhar para a realidade, identificaremos que a lógica do capitalismo industrial acabou por apresentar o seguinte quadro:
A massificação da escola e do ensino, tendo por finalidade formar indivíduos qualificados para desempenharem papéis no mundo do trabalho e da produção. Portanto, em última instância, a finalidade da escola é preparar o profissional para o mercado.
A instituição e desenvolvimento de um sistema nacional de ensino diferenciado com a coexistência de escolas de qualidade destinadas a dar uma formação geral e consistente para a elite com escolas públicas de baixa qualidade que atendam às camadas populares com a finalidade de preparar os seus filhos à dinâmica da produção social capitalista. Em outras palavras, uma formação voltada para uma qualificação que atenda à lógica da mais valia. Nesse sentido, é que se destinam os cursos profissionalizantes e técnicos para esta camada social.
Segundo as teorias crítico-reprodutivistas, a escola reproduz as relações de poder existente na sociedade, ou seja, reproduz e reforça a marginalidade social. Portanto, a educação está a serviço das classes dominantes no exercício de seu poder em controlar e dominar a classe dominada, tanto do ponto de vista econômico quanto do ponto de vista político-social.
Para saber mais este assunto, acesse a biblioteca virtual disponível em sua plataforma.
Desafios para a escolana atualidade
“Eu não posso admitir uma escola hoje que está num endereçoe que dá aula a um aluno que está aqui e que passa por numa favela realmente pobre toda vez que vai de casa para a escola e a escolanão fala daquela favela. Não lembra ao aluno que ali tem uma coisa que está errada e, ao mesmo tempo, não passa para essa criança a solidariedade”  
(Cristovan Buarque – Senador e ex-ministro da Educação).
As palavras de Cristovan Buarque nos colocam diante da evidência da necessidade de se estabelecer uma relação direta entre educação e sociedade ou entre escola e prática social. Desenvolver um trabalho de formação humana disvinculado da realidade social concreta de alunos e professores é promover a alienação e a falta de uma consciência solidária com as questões humanas que afetam e dizem respeito a todos, pois o enfrentamento de tais questões só será possível com a organização da sociedade civil e isso depende do grau de conhecimento e consciência crítica.
A questão da relação entre educação e realidade social é reforçada pela análise do educador brasileiro Paulo Freire que afirmava que todo ato educativo é um ato político, ou seja, ele é um ato intencional, datado e decorre de situações reais e concretas de um contexto histórico-social construído por homens e mulheres. Portanto, a educação implica em valores, como também em relações de poder. Contudo, devemos sempre nos perguntar que, enquanto tal, deve ter qual finalidade.
Além disso, vale destacar que Paulo Freire afirmava que, para aprender a ler os livros, é preciso aprender a ler o mundo, ou seja, a leitura de si e a leitura da realidade a que pertencemos. É por essa razão que este educador compreendia que um dos objetivos da educação deve ser permitir que as crianças e jovens possam, vivendo em um ambiente democrático, aprender a ser intolerantes com as injustiças e exercer o direito à palavra. Portanto, ler o mundo não se reduz ao mero conhecimento do mesmo, mas sim conhecê-lo para transformá-lo.
Somente quando o conhecimento está ligado ao fazer, ao viver e ao interferir é que realmente faz sentido para quem quer aprender, mas não é este tipo de valor que prevalece na escola, pois esta assume uma atitude autoritária e dita um único conhecimento como sendo válido e legítimo, ou seja, assume uma postura de ditar a verdade ao aluno e este, por sua vez, deve reproduzi-la sem qualquer tipo de questionamento.
Sendo assim, acreditamos que um dos desafios está em romper com velhas práticas e construir uma cultura coletiva de participação do processo de ensino-aprendizagem.

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