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as cinco leis de freud

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Resumo ­ As Cinco Lições de Psicanálise ­ Freud 
PRIMEIRA LIÇÃO
PALAVRAS CITADAS:
Histeria  –  Derivada  da  palavra  grega  hystera  (matriz,  útero),  a  histeria  é  uma  neurose* 
caracterizada  por  quadros  clínicos  variados.  Sua  originalidade  reside  no  fato  de  que  os 
conflitos  psíquicos  inconscientes  se  exprimem  de  maneira  teatral  e  sob  a  forma  de 
simbolizações,  através  de  sintomas  corporais  paroxísticos  (ataques  ou  convulsões  de 
aparência  epiléptica)  ou  duradouros  (paralisias,  contraturas,  cegueira).  As  duas  principais 
formas de histeria teorizadas por Sigmund Freud* foram a histeria de angústia, cujo sintoma 
central  é  a  fobia*,  e  a  histeria  de  conversão,  onde  se  exprimem  através  do  corpo 
representações sexuais recalcadas. A isso se acrescentam duas outras formas freudianas de 
histeria: a histeria de defesa*, que se exerce contra os afetos desprazerosos, e a histeria de 
retenção, onde os afetos não conseguem se exprimir pela ab­reação*. A expressão histeria 
hipnóide  pertence  ao  vocabulário  de  Freud  e  Josef  Breuer*  no  período  de  1894­1895.  Foi 
também empregado  pelo  psiquiatra  alemão  Paul  Julius Moebius  (1853­1907). Designa  um 
estado  induzido  pela  hipnose*  e  que  produz  uma  clivagem*  no  seio  da  vida  psíquica.  A 
expressão  histeria  traumática  pertence  ao  vocabulário  clínico  de  Jean  Martin  Charcot*  e 
designa uma histeria consecutiva a um trauma físico.
Absence – (ausência) confusão e alteração da personalidade. 
Trauma psíquico – resíduos e símbolos mnêmicos de experiências traumáticas.
            A psicanálise inicia­se com o médico Breuer quando a utiliza pela primeira vez para o 
tratamento de uma jovem histérica (1880­1882), que é publicado posteriormente por Breuer 
e Freud no ano de 1895, denominado Estudos Sobre a Histeria.
A paciente do Dr. Breuer de altos dotes intelectuais apresentava uma séria de perturbações 
físicas  e  psíquicas  e  uma  característica  impossibilidade  de  beber.  Isto  que  poderia  ser 
considerado uma doença grave, era desde o tempo da medicina grega denominado histeria.
Este  quadro  da  paciente  de  Breuer  surgiu  quando  estava  tratando  o  pai  enfermo,  que  foi 
conduzido a morte.
A medicina  por  falta  de  conhecimento  e  impossibilidade  de  tratamento  julga  os  histéricos 
simulados e acusa­os de exagero. O Dr. Breuer entretanto não censurou sua paciente, o que 
se deve as elevadas qualidades da jovem.
Pode­se observar que nos estados de absence a doente murmurava palavras que pareciam 
relacionar­se com o que ocupava o seu pensamento, diante disso o Dr. Breuer anotou estas 
palavras e colocando a moça em um estado hipnótico disse­as para incitar uma associação 
de  ideias pela paciente. Assim a paciente  relatou  fantasias  tendo como ponto de partida a 
cabeceira do pai enfermo.
Após os relatos a paciente reconduzia­se a vida normal, sendo que este bem estar durava 
horas, até o momento de um novo estado de absence que cessava com a revelação destas 
fantasias.  As  alterações  psíquicas  durante  a  absence  eram  consequência  de  excitação 
provocada pelas fantasias intensamente afetivas.
A própria paciente que no período da moléstia só falava inglês, denominou este tratamento 
de “talking cure” (cura de conversação).
A paciente que se via impossibilitada de beber água, mesmo com uma sede terrível, durante 
a  hipnose  certa  vez,  relatou  que  tendo  ido  ao  quarto  da  sua  dama  de  companhia,  viu  o 
cãozinho  bebendo  água  num  copo,  tendo  causado­lhe  repugnância.  Após  este  relato 
conseguiu beber novamente.
Diante  deste  fato  foi  possível  verificar  que  experiências  emocionais  deixavam  “resíduos” 
denominados posteriormente de “traumas psíquicos”. Sendo que o sintoma possuía relação 
com a cena traumática.
Considerando­se  também que nem sempre era um único acontecimento que deixava atrás 
de  si  os  sintomas  e  sim  na  maioria  dos  casos  numerosos  traumas,  às  vezes  análogos  e 
repetidos. Toda esta cadeia de recordação tinha de ser reproduzida em ordem cronológica e 
inversa.
Os  histéricos  sofrem  de  reminiscências  e  símbolos  mnêmicos  (memória)  de  experiências 
traumáticas, não só as recordam, como, ainda se prendem a elas emocionalmente tornando­
se  alheios  a  realidade  e  ao  presente.  Possuem uma  fixação  da  vida  psíquica  aos  traumas 
patogênicos.
A paciente de Breuer teve de subjugar uma poderosa emoção na situação de sua aversão ao 
cãozinho  bebendo  água  e  diante  da  cabeceira  do  pai  para  que  não  percebesse  sua 
ansiedade. Diante do médico a doente manifestou  sua energia afetiva que estava  contida. 
Podendo verificar­se que era inútil recordar tais acontecimentos sem exteriorização afetiva.
Podemos  assim  imaginar  que  as  emoções  regulavam  tanto  a  doença  como  a  cura.  Estas 
emoções tornavam­se patogênicas quando não tinham exteriorização normal, estando estas 
“enlatadas”  e  em  parte  desviavam­se  para  sintomas  físicos,  sendo  proposto  o  nome  de 
“conversão histérica”, que representa uma expressão mais intensa das emoções, conduzidas 
por uma nova via.
SEGUNDA LIÇÃO
PALAVRAS CITADAS:
Catártico  (catarse)  –  método  catártico  o  procedimento  terapêutico  pelo  qual  um  sujeito 
consegue  eliminar  seus  afetos  patogênicos  e  então  ab­reagi­los,  revivendo  os 
acontecimentos traumáticos a que eles estão ligados.
Repressão  –  Em  psicanálise*,  a  repressão  é  uma  operação  psíquica  que  tende  a  suprimir 
conscientemente uma ideia ou um afeto cujo conteúdo é desagradável.
Resistência ­ para designar o conjunto das reações de um analisando cujas manifestações, 
no contexto do tratamento, criam obstáculos ao desenrolar da análise. 
Sublimação  ­  Sigmund  Freud*  conceituou  o  termo  em  1905  para  dar  conta  de  um  tipo 
particular de atividade humana (criação literária, artística, intelectual) que não tem nenhuma 
relação  aparente  com  a  sexualidade*,  mas  que  extrai  sua  força  da  pulsão*  sexual,  na 
medida  em  que  esta  se  desloca  para  um  alvo  não  sexual,  investindo  objetos  socialmente 
valorizados.
Quase ao mesmo tempo em que Breuer praticava a talking cure (cura de conversação) com 
sua  paciente,  começava  o  grande  Charcot,  em  Paris,  com  as  doentes  histéricas  da 
Salpêtrière, as investigações de onde havia de surgir nova concepção da enfermidade.
Seguindo  o  exemplo  de  Pierre  Janet  que  estudou  os  processos  psíquicos  particulares  da 
histeria,  Freud  tomou  a  divisão  da  mente  e  a  dissociação  da  personalidade  como  ponto 
central de sua teoria.
Janet  levava em conta as  ideias dominantes da França para sua  teoria e acreditava que a 
histeria era uma  forma de alteração degenerativa do sistema nervoso, que se manifestava 
pela  fraqueza  congênita  do  poder  de  síntese  psíquica.  Os  histéricos  seriam  incapazes  de 
manter  a multiplicidade dos  processos mentais,  esta  seria  a  explicação para  a  dissociação 
psíquica.
Freud  prosseguindo  as  pesquisas  iniciadas  por  Breuer  foi  levado  a  outro  ponto  de  vista  a 
respeito da dissociação histérica (a divisão da consciência).
O  procedimento  catártico  realizado  por  Breuer  exigia  a  hipnose  profunda  do  paciente, 
somente  neste  estado  hipnótico  ele  tinha  conhecimento  das  ligações  patogênicas,  que  em 
condições normais às escapavam. Para Freud este procedimento se tornou cansativo, sendo 
um  recurso  incerto,  assim  abandonou  a  hipnose.  Decidiu  agir  com  o  método  catártico 
estando  os  pacientes  em  estado  normal.  Questionou­se  em  como  fazer  o  doente  contar 
aquilo,  que  nem  ele  mesmo  sabia,  neste  momento  recordou­se  de  uma  experiência  de 
Bernheim,  que  pessoas  submetidas  a  um  estado  de  sonambulismo  hipnótico,  tinham 
executado  atosdiversos,  sendo  possível  recordar  do  que  houve  durante  este  estado  em 
consciência normal.
Assim  Freud  procedeu  da  mesma  maneira  com  seus  pacientes,  no  momento  em  que  o 
doente afirmava nada mais saber, assegurava­lhes que sabia, e ia mesmo até afirmar que a 
recordação exata seria a que lhes apontasse no momento em que lhes pusesse a mão sobre 
a fronte. Porém após algum tempo, esta se mostrou inadequada para uma técnica definitiva. 
Pode observar que as recordações do doente não estavam esquecidas, mas que alguma força 
as  detinha,  permanecendo  no  inconsciente.  Percebia  em  oposição  à  potência  quando  se 
tentava  trazer  as  lembranças  inconscientes.  Foi  nesta  ideia  de  resistência  que  Freud 
alicerçou sua concepção sobre os processos psíquicos na histeria. Para restabelecer o doente 
mostrou­se indispensável suprimir as resistências.
Freud  formula  a  ideia  que  denomina  a  gênese  da  doença,  sendo:  as mesmas  forças  que 
hoje, como resistência, se opõem a que o esquecido volte à consciência deveriam ser as que 
antes tinham agido, expulsando da consciência os acidentes patogênicos correspondentes, a 
este processo ele nomeia “repressão”. 
Através  do  tratamento  catártico  Freud  pode  explicar  o mecanismo  patogênico  da  histeria, 
como  se  tratando  do  aparecimento  de  um  desejo  violento  em  contraste  com  os  demais 
desejos  do  indivíduo  e  incompatíveis  com  as  aspirações  morais  e  estéticas  de  sua 
personalidade,  sendo este um desejo  inconciliável,  sucumbia à  repressão e permanecia no 
inconsciente. Era, portanto, a incompatibilidade entre a ideia e o ego, o motivo da repressão, 
que evitava o desprazer, um meio de proteção da personalidade psíquica.
Desta forma a concepção freudiana diferencia­se da de Janet, pois não é atribuída a divisão 
psíquica à incapacidade inata para a síntese da parte do aparelho psíquico, mas, explica­se 
pela dinâmica do conflito de forças mentais contrárias. Os conflitos psíquicos são frequentes, 
sem que isso produza a divisão psíquica.
A hipnose encobre a resistência, deixando  livre e acessível um determinado setor psíquico, 
contudo  sua  fronteira  acumula  as  resistências,  criando  para  o  resto  uma  barreira 
intransponível.
 O sintoma pode ser um substituto da ideia reprimida, já que o sintoma é protegido contra as 
forças defensivas do ego, causando um sofrimento interminável. Pode­se reconhecer traços 
de  semelhança  do  sintoma  com  a  ideia  primitiva  reprimida.   Assim  é  necessário  que  o 
sintoma seja reconduzido pelo mesmo caminho até a ideia reprimida.
Quando se consegue reconstituir a atividade mental consciente daquilo que fora reprimido – 
pressupõe que resistências tenham sido desfeitas ­ o conflito psíquico que se originara e que 
o doente quis evitar, orientado pelo médico, seria uma solução mais feliz do que a oferecida 
pela repressão. 
Quando o doente  se  convence que  repelira  sem  razão o desejo  e  aceita­o,  este  é dirigido 
para um alvo  irrepreensível  e mais elevado  (denomina­se  sublimação) ou  reconhece como 
justa  a  repulsa,  onde  o  mecanismo  de  repressão  é  insuficiente  e  é  substituído  por  um 
julgamento de condenação,  o controle consciente do desejo é atingido. 
TERCEIRA LIÇÃO
PALAVRAS CITADAS:
Catexia  ­  é  o  processo  pelo  qual  a  energia  libidinal  disponível  na  psique  é  vinculada  a  ou 
investida na representação mental de uma pessoa, idéia ou coisa. A libido que foi catexizada 
perde sua mobilidade original e não pode mais mover­se em direção a novos objetos. Está 
enraizada em qualquer parte da psique que a atraiu e segurou.
Associação  livre  ­  foi  um  método  utilizado  por Freud,  em  substituição  à hipnose,  que 
consistia em deitar o paciente no divã e encorajá­lo a dizer o que viesse à sua mente, sendo 
também  este  convidado  a  relatar  seus sonhos.  Freud  analisava  todo  o  material  que 
aparecesse,  e  buscava  entendê­los  e  encontrar  os  desejos,  temores, 
conflitos, pensamentos e  lembranças que pudessem se encontrar,  que estivessem além do 
conhecimento consciente do paciente. 
Conteúdo  manifesto  e  latente  –  O  conteúdo  manifesto  é  uma  deformação  do  conteúdo 
latente,  o  que  equivale  a  dizer  que  o  conteúdo  latente  dissimula­se  por  trás  do  conteúdo 
manifesto. Essa deformação é a marca de umadefesa* contra o desejo veiculado pelo sonho.
Condensação  –  Termo  empregado  por  Sigmund  Freud*  para  designar  um  dos  principais 
mecanismos do funcionamento do inconsciente*. A condensação efetua a fusão de diversas 
idéias  do  pensamento  inconsciente,  em especial  no  sonho*,  para  desembocar  numa única 
imagem no conteúdo manifesto, consciente*.
Deslocamento – Processo psíquico  inconsciente*,  teorizado por Sigmund Freud*  sobretudo 
no  contexto  da  análise  do  sonho*.  O  deslocamento,  por  meio  de  um  deslizamento 
associativo,  transforma  elementos  primordiais  de  um  conteúdo  latente  em  detalhes 
secundários de um conteúdo manifesto.
Ato  falho – Ato pelo qual o sujeito*, a despeito de si mesmo,substitui um projeto ao qual 
visa deliberadamente por uma ação ou uma conduta imprevistas. 
Corrigindo uma inexatidão somente nas primeiras vezes aconteceu que pela simples pressão 
por Freud exatamente o esquecido que buscava se apresentava. Continuando a empregar o 
método, vinham pensamentos despropositados.   
Valeu­se  então  da  utilização  de  um  pressuposto  cuja  exatidão  científica  foi  anos  depois 
demonstrada pelo amigo C. G. Jung, de Zurique e seus discípulos.  
Duas forças antagônicas atuavam no doente; de um lado, o esforço para trazer à consciência 
o que permanecia no inconsciente; de outro lado à resistência, impedindo a passagem para o 
consciente  do  elemento  reprimido.  Podendo  admitir  que  tanto  maior  a  deformação  do 
elemento procurado maior a resistência deste. O pensamento que vinha no doente em lugar 
do desejado, tinha origem idêntica ao sintoma, sendo o sintoma menos semelhante quanto 
maior  fosse  à  deformação que  sofresse  sob  influência  da  resistência. O pensamento devia 
comportar­se em relação ao elemento reprimido com uma alusão, como uma representação 
do mesmo por meio de palavras indiretas.
   Nomeia­se “complexo” um grupo de elementos ideacionais interdependentes, catexizados 
de energia afetiva. Assim tem­se a probabilidade de desvendar um complexo reprimido na 
medida  que  o  doente  proporcione  um  número  suficiente  de  associações  livres.  Realiza­se 
mandando o doente dizer o que lhe vem a mente e este indiretamente depende do complexo 
procurado, sendo o único método praticável. Por vezes o doente afirma não ter mais nada a 
dizer, porém ideias livres nunca deixam de aparecer, o paciente influenciado pela resistência 
disfarçada  em  juízos  críticos  sobre  o  valor  da  ideia,  retém­na ou de novo a  afasta. Assim 
solicita­se ao paciente que exponha o que lhe vier ao pensamento sem nenhuma seleção ou 
crítica.
A  interpretação dos  sonhos  é  a  estrada  real  para  o  conhecimento do  inconsciente,  a  base 
mais segura da psicanálise. Quando acordados costumamos tratar os sonhos com o mesmo 
desdém com que os doentes rejeitam as ideias soltas despertadas pelo psicanalista. O nosso 
descaso  funda­se  no  caráter  exótico  apresentado  mesmo  pelos  sonhos  que  apresentam 
clareza e nexo, como também pela absurdez e insensatez dos demais, esta repulsa explica­
se  pelas  tendências  imorais  e  menos  pudicas  que  se  patenteiam  em  muitos  deles.  A 
antiguidade  e  as  camadas  baixas  do  nosso  povo,  mesmo  hoje,  não  compartilha  de  tal 
desapreço, pois esperam a revelação do futuro. 
Para  Freud  não  há  necessidade  de  nenhuma  hipótese mística.  Diferente  deste  conceito,  o 
sonho  seria  a  realização  de  desejos  trazidos  pelo  dia  do  sonho.  Apresentam­sede  forma 
distorcida  da  sua  forma  original,  tendo  uma  expressão  verbal  diversa  da  apresentada  no 
sonho.  Devendo  diferenciar  o  conteúdo manifesto,  o  qual  se  recorda  no  dia  seguinte,  do 
conteúdo latente do sonho o qual pertence ao inconsciente.
Esta deformação já é conhecida, estando presente na gênese dos sintomas histéricos, sendo 
a prova da participação da mesma interação de forças mentais tanto na formação de sonhos 
como  na  dos  sintomas.  O  conteúdo  manifesto  do  sonho  é  substituto  deformado  para  os 
pensamentos inconscientes do sonho. Esta deformação é obra das forças defensivas do ego, 
isto  é,  da  resistência  que  na  vigília  impede  a  passagem  para  a  consciência,  dos  desejos 
reprimidos  do  inconsciente;  enfraquecidas  durante  o  sono,  estas  resistências  são 
suficientemente fortes para só os tolerar disfarçados. Quem sonha, portanto reconhece tão 
mal o sentido dos sonhos, como o histérico as correlações e significados de seus sintomas. 
   O sonho manifesto que conhecem no adulto graças à recordação pode então ser descrito 
como uma realização velada de desejos reprimidos.
O processo de ‘elaboração onírica’, o qual pensamentos inconscientes do sonho se disfarçam 
no  conteúdo manifesto,  ocorre  entre  dois  sistemas  psíquicos  distintos,  como  consciente  e 
inconsciente. Entre estes processos há a condensação e o deslocamento.
Pela análise dos sonhos descobriu­se o importantíssimo papel que os fatos e impressões da 
tenra infância exercem no desenvolvimento do homem, conservando todas as peculiaridades 
e aspirações, como desenvolvimento de repressões, sublimações e formações reativas. Ainda 
faz­se  notar  também  através  da  análise  dos  sonhos,  que  o  inconsciente  serve  para  a 
representação de complexos sexuais, de certo simbolismo, em parte variável individualmente 
e em parte tipicamente fixo.
O aparecimento de pesadelos contradiz o nosso modo de entender o sonho como satisfação 
dos  desejos.  A  ansiedade  que  os  acompanha  não  depende  simplesmente  do  conteúdo 
onírico, ansiedade é uma das  reações do ego contra desejos  reprimidos violentos. Pode­se 
assim  compreender  que  a  interpretação  de  sonhos,  quando  as  resistências  do  doente  não 
atrapalham­na,  levam  ao  conhecimento  dos  desejos  ocultos  e  reprimidos,  bem  como  dos 
exemplos entretidos por este.
Tratará agora do terceiro grupo de fenômenos psíquico cujo estudo se tornou recurso técnico 
empregado  na  psicanálise.  O  fenômeno  em  questão  são  as  pequenas  falhas  comuns  aos 
indivíduos  normais  e  aos  neuróticos,  fatos  os  quais  costumamos  não  dar  importância  –  o 
esquecimento de coisas que deviam saber e que às vezes sabem realmente (por exemplo, 
fuga temporária de nomes próprios) lapsos de linguagem, na escrita ou na literatura em voz 
alta;  atrapalhões no  executar  qualquer  coisa,  perda ou quebra de objetos,  etc.  Juntam­se 
atos  ou  gestos  que  as  pessoas  executam  sem  perceber  ou  atribuir  importância,  como 
trautear melodias, brincar  com objetos,  com partes da  roupa ou do próprio  corpo, etc. Os 
atos  falhos  como  os  sintomáticos  e  fortuitos,  exprimem  impulsos  e  intenções  que  devem 
ficar  ocultos  à  própria  consciência,  pois  emanam dos  desejos  reprimidos  e  dos  complexos 
que, são criadores de sintomas e formadores dos sonhos.  Fazem a mesma consideração que 
os sintomas e os sonhos, que podem levar ao descobrimento da parte oculta da mente.  São 
do mais alto valor teórico testemunham a existência da repressão e da substituição mesmo 
na saúde perfeita.
O psicanalista se distingue pela rigorosa fé no determinismo da vida mental. Não existindo 
nada insignificante nas manifestações psíquicas. Antevê um motivo suficiente em toda parte 
e está disposto a aceitar causas múltiplas para o mesmo efeito, enquanto nossa necessidade 
causal, que supomos inata, se satisfaz  plenamente com uma única causa psíquica.
O  estudo  das  ideias  livremente  associadas  pelos  pacientes,  seus  sonhos,  falhas  e  ações 
sintomáticas, considerando ainda outros fenômenos no decurso do tratamento psicanalítico, 
chega­se a conclusão de que a técnica é suficiente capaz de realizar aquilo que se propôs: 
conduzir  à  consciência  o  material  psíquico  patogênico,  dando  fim  aos  padecimentos 
ocasionados pela produção dos sintomas de substituição. 
QUARTA LIÇÃO
PALAVRAS CITADAS:
Auto­erotismo – Termo proposto por Havelock Ellis* e retomado por Sigmund Freud* para 
designar um comportamento sexual de  tipo  infantil, em virtude do qual o sujeito encontra 
prazer unicamente com seu próprio corpo, sem recorrer a qualquer objeto externo.
Zona  erógena  –  se  distribuem  por  quatro  regiões  do  corpo:  oral,  anal,  uretro­genital  e 
mamária. A cada zona correspondem uma ou mais atividades eróticas, dentre as quais Freud 
situou os atos mais simples da vida cotidiana das crianças: sucção do polegar ou do seio da 
mãe, defecação e masturbação.
Complexo  de  Édipo  –  O  complexo  de  Édipo  é  a  representação  inconsciente  pela  qual  se 
exprime  o  desejo*  sexual  ou  amoroso  da  criança  pelo  genitor  do  sexo  oposto  e  sua 
hostilidade  para  com  o  genitor  do  mesmo  sexo.  Essa  representação  pode  inverter­se  e 
exprimir o amor pelo genitor do mesmo sexo e o ódio pelo do sexo oposto. Chama­se Édipo 
à primeira representação, Édipo invertido à segunda, e Édipo completo à mescla das duas. O 
complexo  de  Édipo  aparece  entre  os  3  e  os  5  anos.  Seu  declínio  marca  a  entrada  num 
período chamado de latência, e sua resolução após a puberdade concretiza­se num novo tipo 
de escolha de objeto.
Libido  –  designar  a  manifestação  da  pulsão*  sexual  na  vida  psíquica  e,  por  extensão,  a 
sexualidade*  humana  em  geral  e  a  infantil  em  particular,  entendida  como  causalidade 
psíquica  (neurose*),  disposição  polimorfa  (perversão*),  amor­próprio  (narcisismo*)  e 
sublimação.
Sadomasoquismo  –  Termo  forjado  por  Sigmund  Freud*,  a  partir  de  sadismo*  e 
masoquismo*, para designar uma perversão* sexual baseada num modo de satisfação ligado 
ao sofrimento infligido ao outro e ao que provém do sujeito* humilhado. Por extensão, esse 
par  de  termos  complementares  caracteriza  um  aspecto  fundamental  da  vida  pulsional, 
baseado  na  simetria  e  na  reciprocidade  entre  um  sofrimento  passivamente  vivido  e  um 
sofrimento ativamente infligido.
Os  desejos  patogênicos  são  da  natureza  dos  componentes  instintivos  eróticos,  sendo  as 
perturbações do erotismo têm maior  importância entre as influências que levam à moléstia 
em ambos os gêneros.
Os  doentes  em  nada  facilitam  o  reconhecimento  da  tese,  procuram  ocultá­la.  Com  efeito 
nenhum de nós pode manifestar o seu erotismo francamente, em nosso mundo civilizado não 
são realmente favoráveis à atividade sexual. Quando porém os pacientes tiverem percebido 
que durante o tratamento devem estar à vontade, se despojarão daquele manto de mentira, 
e só então estarão os presentes em condições de formar juízo a respeito deste problema. 
Para esclarecimento completo da análise  faz­se necessário  retroceder até a puberdade e a 
mais  remota  infância  do  doente,  somente  estes  fatos  explicam  a  sensibilidade  aos 
traumatismos futuros e só com os descobrimentos destes, e com a volta a consciência, é que 
se adquire o poder de afastar os sintomas.
A  criança possui,  desde o princípio,  o  instinto  e  as  atividades  sexuais.  Ela  os  traz  consigo 
para  o mundo,  e  deles  provêm,  através  de  uma  evolução  rica  de  etapas,  até  a  chamada 
sexualidade  normal  do  adulto.  Na  primeira  fase  da  vida  sexual  infantil  a  satisfação  é 
alcançada  no  próprio  corpo,  excluído  qualquer  objeto  estranho,  dá­se  o  nome  de  auto­
erotismo.  Zonas  erógenas  denominam­seos  lugares  do  corpo  que  proporcionam  o  prazer 
sexual, como chupar o dedo, o gozo da sucção, são exemplos de auto­erotismo partida de 
uma  zona  erógena.  Outra  satisfação  da  mesma  ordem,  nessa  idade,  é  a  excitação 
masturbatória dos órgãos genitais,  fenômeno de grande  importância para o  resto da vida, 
que  muitos  indivíduos  não  conseguem  superar  jamais.  Ao  lado  destas  atividades  auto­
eróticas  revelam­se  na  criança,  componentes  do  gozo  sexual  ou  da  libido  que  pressupõe 
como objeto uma pessoa estranha. Estes instintos aparecem em grupos de dois, um oposto 
ao outro, ativo e passivo: os mais notáveis representantes deste grupo o prazer de causar 
sofrimento (sadismo) com o seu reverso passivo (masoquismo) e o prazer visual, ativo ou 
passivo. Do gozo visual ativo desenvolve­se mais  tarde a sede de saber,  como do passivo 
para as representações artísticas e teatrais. A diferença de sexo ainda não tem neste período 
infantil papel decisivo, pode­se atribuir a toda criança uma parcial disposição homossexual. A 
escolha de objeto repele o auto­erotismo, de maneira que na vida erótica os componentes do 
instinto  sexual só querem satisfazer­se na pessoa amada. Mas nem todos os componentes 
instintivos originários são admitidos a tomar parte nesta fixação definitiva da vida sexual.
Um princípio da patologia geral afirma que todo processo evolutivo traz em si os germes de 
uma  disposição  patológica  e  pode  ser  inibido  ou  retardado  ou  desenvolver­se 
incompletamente. Nem todos os impulsos parciais se sujeitam à soberania da zona genital; o 
que ficou independente chamamos de perversão e pode substituir a finalidade sexual normal 
pela sua própria.
A  criança  toma  ambos  os  genitores,  e  particularmente  em  deles,  como  objeto  de  seus 
desejos eróticos. O pai em regra tem preferência pela filha, a mãe pelo filho: a criança reage 
desejando o lugar do pai se é menino, o da mãe se trata da filha. Os sentimentos nascidos 
destas relações entre pais e filhos e entre um irmão e outros, não são somente de natureza 
positiva, de  ternura, mas  também negativos, de hostilidade. O complexo assim  formado é 
destinado  à  pronta  repressão,  porém  continua  a  agir  do  inconsciente  com  insistência  e 
persistência.
No tempo em que é dominada pelo complexo central ainda não reprimido, a criança dedica 
aos  interesses  sexuais  notável  parte  da  atividade  intelectual.  O  próprio  fato  dessa 
investigação  e  as  conseqüentes  teorias  sexuais  infantis  são  de  importância  determinante 
para a formação do caráter da criança e do conteúdo da neurose futura.
É  absolutamente  normal  que  a  criança  faça  dos  pais  o  objeto  da  primeira            escolha 
amorosa. Porém a libido não permanece fixa neste primeiro objeto: posteriormente o tomará 
apenas como um modelo.
QUINTA LIÇÃO
            Com o descobrimento da sexualidade infantil e atribuindo aos sintomas da neurose 
os  componentes  eróticos  instintivos  Freud  pode  chegar  a  algumas  fórmulas  inesperadas 
sobre  a  natureza  e  tendência  dos  sintomas  neuróticos.  Viu­se  que  os  indivíduos  adoecem 
quando, por obstáculos exteriores ou ausência de adaptação interna lhes falta na realidade a 
satisfação das necessidades sexuais, refugiam­se então na doença, para que com seu auxílio 
encontre uma satisfação substitutiva. Assim os sintomas mórbidos contêm uma parcela da 
atividade sexual do indivíduo ou sua vida sexual inteira. A resistência oposta pelos doentes à 
cura seria composta de vários elementos. Não somente o ego do doente se recusa a desfazer 
a  repressão  por meio  da  qual  se  esquivou  de  suas  disposições  originárias,  como  também 
pode o instinto sexual não renunciar à satisfação que este lhe proporciona, enquanto houver 
dúvida de que a realidade lhe ofereça algo melhor.
Esta  satisfação  proporcionada  pela  doença  se  dá  pelo  caminho  da  regressão  às  primeiras 
fases da vida sexual a que na época própria não faltou satisfação. Esta regressão mostra­se 
sob  dois  aspectos:  temporal  devido  à  libido  em  sua  necessidade  erótica  fixa­se  aos mais 
remotos  estados  evolutivos;  e  formal  porque  emprega  os  meios  psíquicos  originários  e 
primitivos  para manifestação  da mesma  necessidade.  Em  ambos  os  aspectos  a  regressão 
orienta­se para a infância, reestabelecendo um estado infantil da vida sexual.
Pode­se ver a ligação entre as neuroses e outras produções da vida mental do homem, que, 
com elevadas aspirações de nossa cultura e sob a pressão das íntimas repressões, acham a 
realidade  insatisfatória  e  por  isso  mantêm  uma  vida  de  fantasia,  que  compense  as 
deficiências  da  realidade,  engendrando  a  realização  de  desejos.  Ainda  lhe  e  possível 
encontrar outro caminho dessas fantasias para a realidade, em vez de se alhear ao período 
infantil.  Quando  a  pessoa  possui  dotes  artísticos  (psicologicamente  ainda  enigmáticos) 
podem suas fantasias transmudar­se não em sintomas, mas em criações artísticas, subtrai­
se desse modo à neurose e reata as ligações com a realidade. 
Pelo estudo psicanalítico dos nervosos, pode inferir que o conteúdo psíquico dos neuróticos, 
pode ser encontrado nos sãos, adoecem pelos mesmos complexos com que lutamos nós, os 
que  temos perfeita saúde. Conforme a quantidade e proporção entre as  forças em choque 
será o resultado da luta a saúde, neurose ou a sublimação compensadora.
A  experiência  mais  importante,  que  vem  a  confirmar  nossa  suposição  acerca  das  forças 
instintivas  sexuais  da  neurose,  foi  identifica  no  tratamento  psicanalítico  de  um  paciente 
neurótico,  surge  nele  o  fenômeno  da  ‘transferência’,  isto  é,  o  doente  consagra  ao médico 
sentimentos  afetuosos mesclados muitas  vezes  por  hostilidade,  que  não  são  justificados  e 
que  devem  provir  de  antigas  fantasias  tornadas  inconscientes,  estes  apenas  podem 
dissolver­se e transformar­se em outros produtos psíquicos com a transferência, sendo que o 
médico  desempenha  nesta  reação  o  papel  de  atrair  para  si  a  energia  afetiva  aos  poucos 
liberada durante o processo.  
A transferência surge espontaneamente em todas as relações humanas e de igual modo nas 
que  o  doente  entretém  com  o  médico,  é  ela  em  geral,  o  verdadeiro  veículo  da  ação 
terapêutica, agindo tão fortemente quanto menos se pensa em sua existência. A psicanálise, 
portanto, não a cria, apenas a desvenda à consciência e dela se apossa a fim de encaminhá­
la ao termo desejado.
Devemos  levar  em  conta  dois  obstáculos  para  a  aceitação  das  ideias  psicanalíticas: 
primeiramente, a falta de hábito de contar com o rigoroso determinismo da vida mental, e 
em  segundo,  o  desconhecimento  das  singularidades  pelas  quais  os  processos  mentais 
inconscientes  se diferenciam dos  conscientes que nos  são  familiares, nestes emprega­se o 
temor que se faça mal de chamar à consciência do doente os impulsos sexuais reprimidos, 
como  se  lhe  oferecessem  então  perigo  de  aniquilar  as  mais  altas  aspirações  morais  e  o 
privassem das conquistas da civilização.

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