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2017 - 05 - 12 Reta final OAB: revisão unificada - Edição 2016 5. DIREITO INTERNACIONAL RAMOS DO DIREITO INTERNACIONAL •• Direito Internacional Público (DIP): ramo da ciência jurídica que trata das regras e princípios inerentes às relações entre os sujeitos do direito internacional público (regula a sociedade internacional). Regula as relações entre sujeitos que integram a sociedade internacional. Características: a) Não há uma norma suprema (como ocorre com os Estados que possuem Constituições); b) É fundado na máxima da pacta sunt servanda; •• Direito Internacional Privado (DIPr): ramo da ciência jurídica que tem por objeto o conflito de leis no espaço, nas relações de direito privado (particulares). •• Direito Comunitário: rege as relações de integração regional (blocos regionais – relação de direito supranacional). Como exemplo, as regras relativas à União Europeia, Mercosul etc. DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO –– FUNDAMENTOS DO DIP Importantes teorias foram elaboradas para justificar os fundamentos do Direito Internacional Público, dentre elas, destacamos: •• Teoria voluntarista (ou subjetivista): o DIP estaria fundado na vontade dos Estados. a) Consentimento dos Estados (Lawrence e Oppenhein): a vontade majoritária decorrente da manifestação individual das nações fundamentaria o DIP. b) Vontade coletiva (Heinrich Triepe): a vontade coletiva dos Estados justificaria a existência do DIP. c) Autolimitação (George Jellinek): os Estados soberanos, no exercício da autolimitação, manifestariam o consentimento em obrigar-se. d) Delegação interna (Max Wenzel): o DIP teria fundamento na norma maior interna de cada Estado. •• Teoria objetivista: o DIP tem fundamento em critérios objetivos e independentes da vontade dos Estados: a) Teoria da pacta sunt servanda (Anzilotti): os Estados devem respeitar o pacto (art. 26 da Convenção de Viena Sobre Direito dos Tratados, de 1969); b) Teoria da norma fundamental (Kelsen) –– objetivismo lógico: a vontade dos Estados não tem relevância na formação do DIP, mas devem respeitar a existência de uma norma fundamental (hierarquia das normas); c) Teoria sociológica (Leon Duguit): o DIP teria fundamento na necessidade de formação de uma sociedade internacional solidária; d) Teoria do direito natural (São Tomas de Aquino, Santo Agostinho e Francisco de Vitória): o DIP estaria fundado no direito natural, que é superior e autônomo às normas internas dos Estados. Relação entre o DIP e o direito interno Outro ponto importante quando estudamos o Direito Internacional Público é analisarmos como ele se relaciona com o direito interno dos Estados. Para essa questão, duas teorias bases foram desenvolvidas: a) Teoria dualista (pluralista): interno e direito internacional representariam duas ordens jurídicas distintas e, portanto, autônomas e separadas; b) Monista: o direito interno está contido no DIP e, consequentemente, ambos representam dois ramos dentro de um único sistema jurídico (sistema único). Monismo é dividido em duas correntes: i) Internacionalista: DIP prevalece sobre o direito interno, ou seja, há primazia do DIP; ii) Nacionalista: prevalecerá a norma imposta pelo direito interno. Não há prevalência do DIP sobre o interno, mas sim do regramento interno sobre o DIP, ou seja, há primazia do direito interno. •• Fontes do DIP: o Estatuto da Corte Internacional de Justiça – CIJ (art. 38) estabelece que fontes do DIP são os instrumentos aplicados na solução de conflitos entre Estado. São eles: a) Tratados internacionais: gerais ou específicos, expressamente reconhecidos pelos Estados litigantes; b) Costume internacional: uma prática geral, aceita como direito; c) Princípios gerais do DIP: princípios gerais admitidos pela comunidade internacional. São eles: i) Princípio da autodeterminação dos povos; ii) Princípio dos pacta sunt servanda; iii) Princípio da não agressão; iv) Princípio da solução pacífica dos conflitos; v) Princípio da vedação da propaganda de guerra; vi) Princípio da não intervenção; vii) Princípio da igualdade soberana entre os Estados; viii) Princípio da cooperação internacional. d) Doutrina: criações intelectuais dos juristas do direito internacional; e) Jurisprudência: decisões das cortes internacionais; f) Equidade ( ex aequo et bono ): a equidade e a analogia apenas poderão ser aplicadas quando for conveniente às partes. •• Sujeitos do DIP a) Estados; b) Organizações intergovernamentais; c) Indivíduos (pessoa humana): sujeito de direitos e obrigações perante a sociedade internacional; d) Cruz de Malta: a Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, com sede em Roma, é organização humanitária internacional que administra hospitais em diversos Estados (em 1119, após aprovação pela Santa Sé, adquiriu condição de entidade militar); e) Beligerantes: grupos que exercem poder igual ou superior ao Estado mediante o uso de força bélica; f) Insurgentes: demais movimentos ativos em terra ou no mar, sem proporção de guerra civil ou revolução interna, como ocorre com a beligerância. •• Estados: pessoa jurídica de direito interno e de DIP. Os Estados possuem capacidade jurídica plena no DIP. São elementos dele: a) Povo: conjunto de nacionais; b) Território: porção geográfica fixa e determinada de exercício de poder soberano; c) Governo soberano: soberania – o que equivale dizer que os Estados são iguais, autônomos e independentes; d) Finalidade: organização para o bem comum; e) Reconhecimento internacional: admissão da personalidade pelas demais nações. •• Características: ato unilateral (individual ou coletivo); discricionário (depende da vontade de cada Estado); incondicional (independente de condições e, irrevogável). O reconhecimento pode ser expresso ou tácito. Teorias: •• Teorias sobre o reconhecimento internacional: a) Teoria constitutiva (Kelsen e Anzilotti), também denominada teoria do efeito atribuído: o reconhecimento cria o Estado. b) Teoria declaratória (Bevilaqua e Accioly): o reconhecimento não cria o Estado, mas apenas declara a existência no âmbito externo – teoria que predomina dentre os internacionalistas contemporâneos. •• Vaticano (Santa Sé): instituído como Estado pelo Tratado de Latrão (1929), é reconhecido como sujeito do DIP – possui os elementos próprios de Estado: a) O Papa exerce as funções de Chefe de Estado e Chefe de governo; b) O Vaticano é um Estado unitário; c) Em 2004, o Vaticano ganhou o status de membro efetivo na ONU, no entanto, abdicou do direito de voto, funcionando como mero Estado observador; d) O Vaticano mantém relações diplomáticas com os demais Estados, inclusive participando de organismos internacionais e subscrevendo tratados internacionais relevantes (por exemplo, a Convenção de Viena sobre relações diplomáticas e Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados). •• Organizações Internacionais (ou Intergovernamentais) –– OIs: representam associações formadas pela reunião e vontade dos Estados soberanos. Possuem capacidade jurídica de DIP. São formadas pela vontade dos Estados (membros) que se concretiza em um tratado internacional (multilateral, ou seja, com três ou mais membros). OIs Organizações nãogovernamentais (ONGs) Partes Estados Particulares Instrumento de formação Tratado internacional Contrato Natureza Direito público Direito privado • Greenpeace Exemplos • ONU: Organização das Nações Unidas • OIT: Organização Internacional do Trabalho • OMC: Organização Mundial do Comércio • FMI: Fundo Monetário Internacional • Anistia Internacional • Cruz Vermelha Internacional (Henri Dunant, Genebra, 1863) • MSF: Médicos Sem Fronteira • PBI: PeaceBrigades International • FIFA: Federação Internacional de Futebol Exemplos • OMS: Organização Mundial de Saúde • UPU: União Postal Universal • Unesco: Organização das Nações Unidades para Educação, a Ciência e a Cultura • OACI: Organização da Aviação Civil Internacional • Banco Mundial • Mercosul • União Europeia •• Características das Organizações: a) São formais e estruturadas (são compostas por órgãos permanentes); b) Formadas por, pelo menos, três Estados (tratado multilateral); c) Possuem objetivo internacional; d) Possuem independência para escolha de seus funcionários, que podem ser de diversas nacionalidades; e) São dotadas de autonomia e especificidade, com personalidade jurídica distinta da de seus integrantes; f) Gozam de privilégios e imunidades necessários para a liberdade do exercício de suas atividades. •• Organização das Nações Unidas –– ONU: com sede em Nova York, fundada em 1945, em São Francisco, Califórnia (EUA) logo após o término da 2.ª Guerra Mundial, com assinatura da “Carta da ONU” ou “Carta de São Francisco” Foi precedida pela “Liga das Nações” (Tratado de Versailles, de 1919). Na fundação houve manifestação de 51 Estados (membros originários), dentre eles o Brasil. Hoje, conta com 193 Estados. É formada por duas categorias de membros: a) Originários: Participaram da assinatura e ratificação da Carta da ONU; b) Admitidos ou eleitos: Ingressaram após a criação da organização (admitidos por decisão da Assembleia Geral). Finalidade: manter a paz e a segurança no mundo, baseada no respeito da igualdade e autodeterminação dos povos, fortalecimento da paz mundial, cooperação internacional para questões econômicas, sociais, culturais e humanitárias, na busca da defesa dos direitos humanos, respeito às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião. •• Princípios que a fundamentam (art. 2.º da CONU): a) Igualdade soberana de todos os seus membros; b) Princípio da boa-fé no cumprimento das obrigações assumidas; c) Resolução pacífica das controvérsias para prevalência da paz, segurança e justiça internacional; d) Todos os membros têm o dever de cooperar e dar assistência à Organização; e) Não intervenção da ONU em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição interna de qualquer Estado. •• Órgãos que a compõem (art. 7.º da CONU): a) Assembleia Geral: principal órgão e composto por todos os membros da ONU. Cada Estado poderá ter 5 delegados na Assembleia Geral, mas apenas 1 voto por Estado-membro. b) Conselho de Segurança: sua função é assegurar a pronta e eficaz ação para a manutenção da paz e da segurança internacionais (art. 24 da CONU). Composição: 15 Estados (5 membros permanentes – EUA, Reino Unido, França, China e Rússia – e 10 membros rotativos, escolhidos pela AG para um período de 2 anos). c) Conselho Econômico e Social: tem a finalidade de promover a cooperação dos Estados para o desenvolvimento social, econômico, cultural, educacional, sanitários e conexos, inclusive podendo fazer recomendações destinadas a promover o respeito dos direitos humanos e liberdades fundamentais (art. 62 da CONU). Composição: 54 membros, eleitos pela Assembleia Geral, para o período de 3 anos. d) Conselho de Tutela: exerce a administração de territórios sob tutela – povos não autônomos (art. 86 da CONU). e) Secretariado-Geral: órgão responsável pela administração das Nações Unidas. Composição: Secretário-Geral e pelo pessoal do Secretariado (escolhido por recomendação do Conselho de Segurança e aprovado pela Assembleia Geral). f) Corte Internacional de Justiça (ou Tribunal Internacional de Justiça) (TIJ ou CIJ): é o principal órgão judiciário da ONU. i) Sede: Haia, Holanda (Países Baixos); ii) Competência: compor lides entre Estados ou responder consultas formuladas por organizações internacionais; Membros: todos os Estados-Membros da ONU ou aqueles que aderirem ao Tribunal com ratificação do Estatuto da Corte; iii) Garantias e prerrogativas: os juízes da Corte gozam das garantias de imparcialidade e prerrogativas das imunidades diplomáticas; Composição: 15 juízes, eleitos para o período de 9 anos pela Assembleia Geral e aprovados pelo Conselho de Segurança; iv) Idiomas oficiais: francês e inglês (as partes poderão optar por uma delas, hipótese em que, sendo o processo todo na língua eleita pelas partes, a sentença também será na mesma língua); v) Representação das partes: por agentes, assistidos de consultores ou advogados. •• Tribunal Penal Internacional (TPI): criado em 1998 na Conferência de Plenipotenciários da ONU sobre a Criação de um TPI, que, por meio do Estatuto de Roma, criou um Tribunal permanente (art. 1.º) e autônomo (art. 2.º), com competência material para julgamento dos seguintes crimes: a) Genocídio; b) Contra a humanidade; c) De guerra; d) De agressão. •• Brasil no TPI: é membro de acordo com Decreto Legislativo 112/2002 e EC 45/2004 (alterou o art. 5.º da CF/1988, incluindo § 4.º, que assegura que o país se submete à jurisdição de TPI a cuja criação tenha manifestado adesão). •• Importante frisar sobre o Estatuto de Roma: a) É um tratado aberto: admite a adesão de novos Estados (deverá ser depositada junto ao Secretário-Geral da ONU); b) Não admite reservas (art. 120); c) Qualquer Estado poderá (por notificação escrita e dirigida ao Secretário-Geral da ONU), retirar-se (eficácia após 1 ano); d) Exclusão da jurisdição para os menores de 18 anos: não tem competência para julgamento de pessoas que, na data do fato, não tenham completado 18 anos (art. 26 do ETPI); e) Inexistência de imunidades: é irrelevante a qualidade oficial do acusado. Tribunal exercerá sua jurisdição independentemente de o acusado ser (ou ter sido) Chefe de Estado ou de Governo, membro de Governo ou Parlamento, representante eleito ou funcionário público (art. 27 do ETPI); f) Imprescritibilidade dos crimes: crimes de competência do TPI (art. 29 do ETPI), são imprescritíveis. •• Princípios do TPI (Estatuto de Roma): a) Ne bis in idem : ninguém será julgado por atos constitutivos de crimes pelos quais já tenha sido condenado ou absolvido. b) Nullum crimen sine lege : não há crime sem previsão expressa no Estatuto. c) Nulla poena sine lege : apenas poderão ser aplicadas as penas previstas no Estatuto. d) Não retroatividade ratione personae : ninguém poderá ser julgado por crime anterior à entrada em vigor do Estatuto (01.07.2002). e) Responsabilidade individual: o Tribunal julgará pessoas físicas, considerando a conduta individual de cada pessoa envolvida nos fatos criminosos. f) Presunção de inocência: toda pessoa é considerada inocente até que seja provada a culpa perante o Tribunal. g) Devido processo legal: o Estatuto prevê que o acusado terá o direito de exercer o contraditório e a ampla defesa. Pode ser ouvido, produzir provas e recorrer da sentença. Além dos princípios anteriormente mencionados, o Estatuto também estabelece as seguintes regras penais: i) Exclusão da jurisdição para os menores de 18 anos; ii) Inexistência de imunidades: é irrelevante a qualidade oficial do acusado, presente ou passada (art. 27 do ETPI); iii) Imprescritibilidade dos crimes: os crimes de competência do TPI (art. 29 do ETPI) são imprescritíveis. •• Pedido de entrega (art. 89 do ETPI): o TPI poderá requerer a qualquer Estado a detenção e a entrega ( surrender) de pessoa para possa ser exercida sob a sua jurisdição. •• Penas aplicadas no TPI a) Prisão de até 30 anos (regra); b) Prisão perpétua (exceção, dependendo da gravidade do crime);c) Multa; d) Perda de bens objeto ou produto do crime. RELAÇÕES INTERNACIONAIS Princípios adotados pelo Brasil em suas relações internacionais: O art. 4.º da CF/1988 determina que serão observados os seguintes princípios nas relações internacionais em que o País mantiver: a) Independência nacional; b) Prevalência dos direitos humanos; c) Autodeterminação dos povos; d) Não intervenção; e) Igualdade entre os Estados; f) Defesa da paz; g) Solução pacífica dos conflitos; h) Repúdio ao terrorismo e ao racismo; i) Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; j) Concessão de asilo político; k) Integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. •• Relações diplomáticas e consulares Duas importantes Convenções internacionais tratam do tema: a) Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas – de 1961 (referendada pelo Congresso brasileiro por meio do Decreto Legislativo 103/1964); b) Convenção de Viena sobre Relações Consulares – de 1963 (referendado pelo Congresso brasileiro por meio do Decreto Legislativo 6/1967). Ambas as Convenções preveem que o estabelecimento de relação entre os Estados depende de mútuo consentimento. •• Relações diplomáticas Antes de mais nada, é muito importante definirmos a diferença entre Estado acreditante e Estado acreditado. O envio da missão diplomática sempre ocorre mediante consentimento mútuo entre o Estado acreditante e o acreditado (art. 2.º da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas). A principal função da missão diplomática é representar o Estado acreditante perante o Estado acreditado, bem como: a) proteger no Estado acreditado os interesses do Estado acreditante e de seus nacionais, dentro dos limites permitidos pelo direito internacional; b) negociar com o Governo do Estado acreditado; c) inteirar-se por todos os meios lícitos das condições existentes e da evolução dos acontecimentos no Estado acreditado e informar a esse respeito o Governo do Estado acreditante; d) promover relações amistosas e desenvolver as relações econômicas, culturais e científicas entre o Estado acreditante e o Estado acreditado. Definições relevantes contidas na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (art. 1.º): Chefe da missão É a pessoa encarregada pelo Estado acreditante de agir nessa qualidade, divididos em três classes: a) Embaixadores ou núncios acreditados perante Chefe de Estado; b) Ministros ou internúncios, enviados e acreditados perante Chefe de Estado; c) Encarregados de negócios, acreditados perante Ministros das Relações Exteriores. (Representantes do Vaticano são denominados de núncios/internúncios). Membros da Missão São o Chefe da Missão e os membros do pessoal da Missão. Membros do Pessoal da Missão São os membros do pessoal diplomático, do pessoal administrativo e técnico e do pessoal de serviço da Missão. Membros do Pessoal Diplomático São os membros do pessoal da Missão que tiverem a qualidade de diplomata. Agente Diplomático É o Chefe da Missão ou um membro do pessoal diplomático daMissão. Membros do Pessoal Administrativo e Técnico São os membros do pessoal da Missão empregados nos serviços administrativo e técnico da Missão. Membros do Pessoal de Serviço São os membros do pessoal da Missão empregados no serviço doméstico da Missão. Criado particular É a pessoa do serviço doméstico de um membro da Missão que nãoseja empregado do Estado acreditante. Como afirmamos, a missão diplomática se estabelece com base no mútuo consentimento e, assim, o Estado acreditante indicará o “Chefe da missão” e solicitará a aceitação do Estado acreditado ( agrément). Portanto, o Estado acreditado não está obrigado a dar o agrément, podendo recusar a pessoa indicada pelo acreditante (o Estado acreditado não precisa justificar a recusa). Como regra, concedido agrément pelo acreditado, o Estado acreditante poderá nomear livremente os membros da missão, que deverão ter, em princípio, nacionalidade do Estado acreditante. O número de membros poderá ser fixado em acordo expresso entre os Estados, ou, ainda, o Estado acreditado poderá exigir que o efetivo da missão seja mantido dentro dos limites que considere razoável. Direitos da missão e de seu Chefe: a) Uso da bandeira e escudo do Estado acreditante nos locais da missão e na residência do chefe da missão e meios de transporte (art. 20 da CVRD). Inviolabilidades a) Locais da Missão. Agentes do Estado acreditado não poderão ingressar sem o consentimento do Chefe da Missão (art. 22, n. 1, da CVRD). b) Locais da missão, mobiliário e demais bens, meios de transporte, não poderão ser objeto de busca, apreensão, embargo ou medida de execução (art. 22, n. 3, CVRD). c) Arquivos e documentos da Missão, em qualquer momento ou local que se encontrem (art. 24 da CVRD); d) Correspondência oficial da Missão é inviolável. O Estado acreditado também deverá garantir a livre comunicação da Missão para todos os fins oficiais (art. 27, n. 1.º e 2.º, da CVRD). e) Mala diplomática não poderá ser aberta ou retida (que poderá, inclusive, ser confiada ao comandante da aeronave – art. 27, n. 2, da CVRD). f) Bagagem pessoal do agente diplomático não está sujeita a inspeção, salvo se existirem motivos sérios para crer que ela não contém os objetos para uso oficial da Missão ou cuja importação ou exportação esteja proibida pela legislação do Estado acreditado, bem como aqueles sujeitos às regras de quarentena. Em caso de inspeção excepcional, deverá haver presença de agente diplomático ou representante autorizado (art. 36, n. 2, da CVRD). g) A pessoa do agente diplomático é inviolável, não poderá ser objeto de nenhuma forma de detenção ou prisão (art. 29 da CVRD). h) A residência particular do agente diplomático é inviolável. O direito também se estende aos seus documentos, correspondência e bens (art. 30 da CVRD). a) Estado acreditante e o Chefe da Missão estão isentos de todos os impostos e taxas nacionais e regionais, sobre os locais da missão de que sejam proprietários ou inquilinos, salvo os que representem o pagamento de serviços Isenções específicos que lhes sejam prestados (art. 23, n. 1, da CVRD). b) Direitos e emolumentos que a missão perceba em razão da prática de atos oficiais estarão isentos de todos os impostos ou taxas (art. 28 da CVRD). c) O agente diplomático, como regra, estará isento das disposições sobre seguro social (art. 33, n. 1, da CVRD). d) O agente diplomático gozará de isenção de todos os impostos e taxas, pessoais ou reais, nacionais ou regionais, salvo impostos e taxas: d.1) indiretos incluídos nos preços das mercadorias; d.2) sobre bens imóveis privados (não seja para uso da Missão); d.3) decorrentes de direitos sucessórios; d.4) sobre rendimentos privados, inclusive rendimentos sobre capital e investimentos no Estado acreditado; d.5) serviços específicos, (art. 34 da CVRD). e) Os agentes diplomáticos estão isentos de prestações pessoais, serviço público, de qualquer natureza, inclusive obrigações militares. Imunidades a) O agente diplomático gozará de imunidade de jurisdição penal do Estado acreditado (art. 31, n. 1, da CVRD). b) Também haverá imunidade de jurisdição civil e administrativa, salvo quando se tratar de: b.1) ação real sobre imóvel privado não adquirido ou utilizado para fins da Missão; b.2) ação sucessória na qual o agente figure a título privado comoexecutor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário (não atua em nome do Estado, mas sim em defesa de direito particular próprio); ou ainda, b.3) ação referente a qualquer profissão liberal que o agente tenha exercício fora de suas atribuições na Missão. Outros direitos a) Uso da bandeira e escudo do Estado acreditante nos locais da missão e na residência do chefe da missão e meios de transporte (art. 20 da CVRD). b) Estado acreditado dará todas as facilidades para o desempenho das funções da Missão (art. 25 da CVRD). c) Liberdade de circulação, salvo em locais definidos por lei ou regulamento como sendo de acesso proibido, ou regulamentado por motivo de segurança nacional (art. 26 da CVRD). d) Agende diplomático não é obrigado a prestar depoimento como testemunha (art. 31, n. 2.º, da CVRD). •• Renúncia à imunidade de jurisdição Como vimos no quadro anterior, os agentes da missão possuem imunidade de jurisdição penal (em caráter total) e imunidade administrativa e civil (com algumas exceções). No entanto, de forma expressa, o Estado acreditado poderá renunciar à imunidade. Também é importante destacar sobre a imunidade de jurisdição: a) Se o agente diplomático ou pessoa que goza da imunidade de jurisdição civil ou administra inicia uma ação, não poderá invocar a imunidade de jurisdição para uma reconvenção ligada à ação principal. b) A renúncia à imunidade de jurisdição civil e administrativa abrangem à ação de conhecimento e execução. Assim, a renúncia da imunidade de uma ação de conhecimento não gera automaticamente renúncia à imunidade quanto às medidas de execução de sentença. •• Relações consulares A Convenção de Viena sobre Relações Consulares (CVRC), nos mesmos princípios da Convenção anterior que regulou as questões relativas à representação dos Estados perante outros, determinou regrar capazes de garantir imunidades e garantias para desempenho eficaz das funções das repartições consulares. De início, a Convenção traz as seguintes definições (art. 1.º): Repartição consular Todo consulado geral, consulado, vice-consulado ou agência consular. Jurisdição consular O território atribuído a uma repartição consular para o exercício das funções consulares. Chefe de repartição consular A pessoa encarregada de agir nessa qualidade. A função é dividida em quatro categorias: (a) cônsules-gerais; (b) cônsules; vice-cônsules; (c) agentes consulares. Funcionário consular Toda pessoa, inclusive o chefe da repartição consular, encarregada nesta qualidade do exercício de funções consulares. São previstas duas categorias de funcionários consulares: (a) de carreira; (b) e os honorários. Empregado consular Toda pessoa empregada nos serviços administrativos ou técnicos de uma repartição consular. Membro do pessoal de serviço Toda pessoa empregada no serviço doméstico de uma repartição consular. Membro da repartição consular Os funcionários consulares empregados consulares e membros do pessoal de serviço. Membros do pessoal consular Os funcionários consulares, com exceção do chefe da repartição consular, os empregados consulares e os membros do pessoal de serviço. Membro do pessoal privado A pessoa empregada exclusivamente no serviço particular de um membro da repartição consular. Locais consulares Os edifícios, ou parte dos edifícios, e terrenos anexos, que qualquer que, seja seu proprietário, sejam utilizados exclusivamente para as finalidades da repartição consular. Arquivos consulares Todos os papéis, documentos, correspondência, livros, filmes, fitas magnéticas e registros da repartição consular, bem como as cifras e os códigos, os fichários e os móveis destinados a protegê-los e conservá-los. As relações consulares visam especialmente proteger no Estado receptor os interesses do Estado que envia e os interesses de seus nacionais (pessoas físicas ou jurídicas), com respeito às regras do direito internacional, bem como (art. 5.º da CVRC – em síntese): a) Fomentar o desenvolvimento das relações comerciais, econômicas, culturais e científicas entre os Estados, bem como ser fonte de informação (por meios lícitos) das condições de evolução de tais aspectos; b) Expedir passaporte e documentos de viagem aos nacionais do Estado que envia, bem como visto e documentos de viagem para aqueles que desejarem viajar para o Estado que envia; c) Prestar assistência aos nacionais que se encontrem no território do Estado receptor; d) Atuar como notário e oficial de registro civil e atividades similares (por exemplo, para fazer registros de filhos de brasileiros nascidos no estrangeiro, casamentos, autenticações de documentos etc.); e) Representação dos interesses dos nacionais do Estado que envia, tomando medidas perante tribunais, comunicar decisões judiciais e extrajudiciais e atos que viabilizem o cumprimento de rogatórias; f) Direito de controle, inspeção e assistência sobre as embarcações que tenham nacionalidade do Estado que envia, bem como as aeronaves nele matriculadas (inclusive a tripulação). Em síntese, é importante destacar os principais pontos acerca das relações consulares: a) O consentimento dado por um Estado para o estabelecimento de relações diplomáticas implicará, como regra, consentimento para as relações consulares (salvo previsão expressa em contrário). b) A ruptura das relações diplomáticas não acarretará pelo simples fato a ruptura das relações consulares. c) Os chefes de repartição consular serão nomeados pelo Estado que envia e serão admitidos na função pelo Estado receptor. d) O chefe da repartição consular será munido, pelo Estado que envia, de documento que comprove a sua qualidade na forma de ““carta-patente”” ou documento similar que demonstre a nomeação. e) Recebida a “carta-patente” ou notificação e nomeação, o Estado receptor fará o juízo de admissão do chefe da repartição. Admitido na função, o Estado receptor dará uma autorização denominada ““ exequatur ””. Até a concessão do exequatur, poderá ser concedida uma autorização provisória para o exercício das funções. f) O Estado receptor poderá negar o exequatur sem justificar os motivos. g) Uma mesma pessoa poderá ser nomeada como funcionário consular por um ou mais Estados, desde que exista a aceitação do Estado receptor. h) Os funcionários consulares deverão, em princípio, ter a nacionalidade do Estado que os envia. O Estado receptor, excepcionalmente, poderá autorizar que seus nacionais sejam funcionários consulares de outros Estados em seu território (o mesmo se aplica a nacionais de terceiro Estado diverso daquele que envia). Com a finalidade de garantir o pleno exercício das funções, a Convenção de Viena também confere garantias e prerrogativas nas relações consulares. Em resumo, podemos destacar as principais facilidades, privilégios e imunidades aos funcionários consulares de carreira: Inviolabilidades a) Locais consulares são invioláveis. As autoridades do Estado receptor não poderão entrar na parte dos locais onde estiver instalada a repartição, ao menos que obtenha autorização do chefe da repartição. O consentimento é presumido em caso de incêndio ou outra situação que demande proteção imediata. b) Arquivos e documentos consulares são invioláveis sempre (art. 24 da CVRC). c) O Estado receptor garantirá a liberdade de movimento, sem prejuízo de suas leis e regulamentos relativos a locais de acesso limitado ou proibido em razão de segurança nacional (art. 26 da CVRC). d) A correspondência oficial da repartição consular é inviolável (art. 27, n.2, da CVRC). e) A mala consular não poderá ser aberta ou retida. Em casos excepcionais, as autoridades do Estado receptor poderão solicitar que a mala seja aberta, na presença de representante autorizado do Estado que envia, por entender conter nela objetos estranhos à atividade. Em caso de recusa, a mala será devolvida à origem. f) Funcionários consulares não poderão ser detidos ou presos preventivamente, exceto em caso de crime grave e em decorrência de decisão de autoridade judiciária competente. a) Locais consulares, residência do chefe da repartição consular de carreira (de propriedade do Estado que envia ou pessoa em seu nome), estarão isentos de quaisquer impostos ou taxas nacionais ou regionais. Poderão ser cobradas taxas por serviços específicos prestados (como exemplo, fornecimento de Isenções serviços públicos). b) Os membros da repartição consular estão isentos de registro de estrangeiro e autorização de residência, bem como de autorização de trabalho. Como regra, os membros não estarão sujeitos ao regime de previdência social do Estado receptor. Imunidades a) Os funcionários consulares e os empregados consulares não estão sujeitos à jurisdição das autoridades judiciárias e administrativas do Estado receptor pelos atos que realizarem em razão das funções consulares, salvo no caso de ações cíveis: a.1) que resultem em contrato que o funcionário ou empregado consular não tiver realizado como agente do Estado que envia (contratos ou negócios particulares); a.2) por danos decorrentes de acidente de veículo, navio ou aeronave, ocorrido no Estado receptor. Os membros de uma repartição consular não serão obrigados a depor sobre fatos relacionados ao exercício da função, nem exibir correspondência e documentos oficiais (poderão depor sobre fatos alheios à função). Outros direitos a) Estado que envia terá o direito de atualizar sua bandeira e escudos nacionais no Estado receptor nos locais de atividade da repartição consular (art. 29, n. 1, da CVRC). Também se aplica ao local de residência do chefe da repartição e em seus meios de transporte, quando utilizados em serviços oficiais. b) Comunicação com os nacionais do Estado que envia. c) Receber informações em casos de morte, tutela, curatela, naufrágio e acidente aéreo, de interesse do Estado que envia ou seus nacionais. d) A repartição consular poderá cobrar direitos e emolumentos em razão do exercício de sua atividade, em conformidade com as leis do Estado que envia. Tais valores estarão isentos de impostos ou taxas. •• Exercício de funções consulares pelas missões diplomáticas O art. 70 da Convenção de Viena sobre Relações Consulares, de 1963 prevê a possibilidade e regras para que as missões diplomáticas possam cumular também a função consular. Muitas vezes, o Estado envia para outro uma missão única, com função de exercer a representatividade dos interesses do Estado (diplomática) e também a defesa dos interesses de seus nacionais (consulares), com cumulação de atividades e, evidentemente, com garantia dos direitos e prerrogativas constantes em ambas as Convenções. DIREITO DOS TRATADOS •• Tratados sobre a) 2.ª Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, de 1986: inclui as organizações internacionais nas regras de celebração de tratados internacionais. b) Convenção de Havana sobre Tratados: celebrada em Cuba em 1929 – assinada e aprovada pelo Brasil (Decreto 18.956/1929). •• Conceito de tratado (Convenção de Viena): é dado pelo art. 2.º da Convenção de Viena, fundado nos elementos que constituem um tratado internacional (seis elementos): a) Acordo internacional; b) Celebrado por escrito; c) Entre sujeitos do direito internacional; d) Regido pelo DIP; e) Previsto em único ou múltiplos instrumentos; f) Qualquer denominação (os tratados, como regra, são inominados). •• Iter de formação dos tratados internacionais Os tratados solenes, conforme a Convenção de Viena e o ordenamento interno de cada Estado, observarão as seguintes fases de formação: a) 1.º Negociação e assinatura: discussão que antecede à adoção do texto, seguida para a subscrição das partes. A assinatura gera obrigação, é ato que depende de confi rmação posterior (ato ad referendum). Capacidade para a negociação e assinatura do tratado internacional (art. 7.º da Convenção de Viena). Têm plenos poderes: i) Agentes investidos de função própria de representação de Estado (§ 2.º), sendo eles: os chefes de Estado, chefes de governo e ministros das Relações Exteriores, para todos os atos relativos à conclusão de um tratado; os chefes de missão diplomática, para a adoção do texto de um tratado entre o Estado acreditante e o Estado acreditado; os representantes acreditados pelos Estados perante uma conferência ou organização internacional ou um de seus órgãos, para a adoção do texto de um tratado em tal conferência, organização ou órgão; ii) Agente que apresentar carta de plenos poderes (i.e., plenipotenciário); iii) Agente que pela prática dos Estados interessados ou outras circunstâncias indicarem que a intenção do Estado era considerar essa pessoa como seu representante para esses fins, e dispensar os plenos poderes. b) 2.º Referendo do Congresso Nacional (ocorre no Brasil): assinado perante a comunidade internacional, é comunicado o Congresso Nacional para que dê início ao processo interno de referendo do tratado (art. 49, I, da CF/1988). c) 3.º Ratificação ( ratum efficere = tornar válido = aceitação): Realizada pelo Chefe de Estado ou Chefe de Governo, como ato discricionário, expresso (não é presumido ou implícito), gera obrigação ao Estado (caracteriza a aceitação do tratado, confirma a assinatura), gera efeito ex nunc (as obrigações não terão efeito retroativo). d) 4.º Promulgação e publicação (fase interna no Brasil): realizados pelo Presidente da República, por meio de Decreto, com a finalidade de determinar a executoriedade do tratado no ordenamento interno. Após a promulgação, o tratado será publicado no Diário Oficial da União. e) 5.º Depósito (ou registro): assinado o tratado, deverá ser arquivado perante o Secretariado- Geral da ONU, sob pena de ineficácia perante os órgãos da ONU. •• Classificação dos tratados: Nascimento e Silva e Accioly mencionam que: “Várias classificações têm sido utilizadas para os contratos”. Uma classificação, bastante simples citada por Bregalda Neves, divide os tratados da seguinte forma: a) Forma: –– Tratados solenes: que observam um iter de formação; –– Tratados simples: forma simples, bastando a assinatura. b) Quantidade de contratantes: –– Bilaterais: duas partes; –– Multilaterais: com três ou mais partes. c) Execução no tempo no tempo: –– Tratados permanentes: são aqueles de execução prolongada no tempo e que criam relações jurídicas dinâmicas; –– Transitórios: aqueles cuja execução é limitada no tempo e geram relação jurídica estática. d) Possibilidade de adesão: –– Tratados abertos: aqueles que admitem adesões de novos membros ou partes; –– Tratados fechados: não admitem adesões. e) Matéria: –– Tratados comuns: por exclusão, são aqueles que não possuem matéria específica, como ocorre com os de Direitos Humanos; –– Tratados de Direitos Humanos. •• Extinção dos tratados (também com Gustavo Belgrada): a) Término do prazo previsto no tratado; b) Consentimento das partes (art. 54 da Convenção de Viena); c) Cumprimento ou execução (consumação); d) Condição resolutiva; e) Impossibilidade de execução (art. 61 da Convenção de Viena) o surgimento de causa superveniente que impossibilitea execução do tratado gerará a resolução do tratado; f) Quebra das relações diplomáticas e consulares: o art. 74 da Convenção de Viena estabelece que o rompimento das relações internacionais entre os Estados-partes no tratado, quando essencial para sua eficácia, leva à resolução do pacto; g) Denúncia ao tratado: manifestação unilateral, expressa e inequívoca da intenção de retirar do tratado, com antecedência de doze meses (art. 56 da Convenção de Viena). •• Consequências da extinção (art. 70 da Convenção de Viena): a) Liberação das partes quanto às obrigações; b) Não gera prejuízo às situações jurídicas criadas com a execução do tratado. •• Hierarquia dos tratados no DIP Diante do entendimento do STF, podemos incluir os tratados internacionais na nova pirâmide jurídica da seguinte forma: Matéria Forma do referendo (processolegislativo) Hierarquia do tratado no ordenamento interno Tratado em matéria comum Decreto legislativo (art. 49, I, da CF/1988) Congresso Nacional (maioria simples) Norma federal infraconstitucional Tratado sobre Direitos Humanos Decreto legislativo (art. 49, I e art. 5.º, § 2.º, da CF/1988) Nacional (maioria simples) Norma supralegal (bloco de constitucionalidade) Exemplo: Pacto de São José da Costa Rica Emenda Constitucional (art. 5.º, § 3.º, da CF/1988) Votação nas duas casas, em dois turnos, com aprovação por 3/5 dos votos. Norma constitucional Exemplo: Convenção sobre Direito dos Deficientes Físicos – Decreto Legislativo 186/2008 (procedimento de emenda) DOMÍNIO INTERNACIONAL: DIREITO DO MAR O direito do mar está regulado pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, assinada em Montego Bay, Jamaica, 1982. •• Faixas marítimas a) Mar territorial: faixa de 12 milhas marítimas, na qual o Estado costeiro exercerá total soberania, também se aplicando para os Estados arquipélagos. A extensão do mar territorial é medida a partir da linha de base, correspondente à baixa-mar (art. 3.º da Convenção de Montego Bay). b) Zona contígua: faixa seguinte ao mar territorial, com extensão de 12 milhas marítimas com a contagem da linha de base (se estende das 12 às 24 milhas marítimas – art. 33 da Convenção de Montego Bay). Na zona contígua o Estado exerce apenas poder de fiscalização, para que possa garantir a soberania na primeira faixa. c) Zona Econômica Exclusiva: art. 56 da Convenção estabelece que a Zona Econômica Exclusiva compreende faixa em que o Estado costeiro poderá realizar a exploração exclusiva de recursos vivos e não vivos (por exemplo, a pesquisa científica marinha, a pesca, a prospecção e extração de petróleo, colocação de ilhas artificiais ou plataformas marítimas etc.). A ZEE não poderá exceder 200 milhas marítimas, contadas a partir da linha de base. Considerando 200 milhas marítimas a ZEE se sobrepõe ao mar territorial e à zona contígua. d) Alto mar (““águas internacionais””): equivale a toda parte do mar não compreendida pelas faixas anteriormente mencionadas, águas interiores ou águas arquipelágicas (art. 86 da Convenção de Montego Bay). As águas internacionais estão abertas para todos os Estados, costeiros ou não, condicionando apenas ao uso responsável e não ofensivo à paz e segurança do mundo (uso pacífico). O uso do alto mar compreende (art. 87): i) Liberdade de navegação; ii) Liberdade de sobrevoo; iii) Liberdade de colocar cabos e ductos submarinos; iv) Liberdade de construir ilhas artificiais e outras instalações permitidas pelo Direito Internacional; liberdade de pesca; liberdade de investigação científica marinha. e) Plataforma continental: abrange o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural de seu território terrestre, até ao bordo exterior da margem continental ou até uma distância de 200 milhas marítimas das linhas de base do mar territorial. A plataforma continental representa área de exploração e aproveitamento exclusivo dos recursos naturais. •• Solução de controvérsias decorrentes da Convenção de Montego Bay: Órgãos com competência para fiscalização e cumprimento da Convenção: a) Autoridade Internacional para os Fundos Marinhos, sediada em Kingston, Jamaica; b) Tribunal Internacional sobre Direito do Mar, sediado em Hamburgo, Alemanha; c) Comissão dos Limites da Plataforma Continental, instalada na Sede das Nações Unidas, em Nova York. NACIONALIDADE A nacionalidade representa o vínculo jurídico existente entre o indivíduo o e Estado, fazendo do sujeito um integrante do povo. Assim, as questões relativas à nacionalidade são inerentes à soberania de cada Estado. •• Critérios de fixação da nacionalidade a) Originária (primária): quando decorrente do ius soli (local do nascimento) ou ius sanguini (origem sanguínea do sujeito). b) Adquirida (secundária ou decorrente): poderá ser adquirida quando recebida por naturalização. •• Nacionalidade brasileira Brasileiro (art. 12 da CF/1988) Nato (Inc. I) a) Nascidos no Brasil, ainda que de pais estrangeiros, salvo os filhos de pai ou mãe que esteja a serviço de outro país – neste caso, a Constituição Federal adotou o critério do ius soli; b) Nascido no estrangeiro, filho de pai ou mãe brasileiros, desde que qualquer um deles esteja a serviço do Brasil; c) Nascido no estrangeiro, filho de pai ou mãe brasileiros, desde que sejam registrados na repartição competente (registro consular); d) Nascido no estrangeiro, filho de pai ou mãe brasileiros, desde que venham a fazer a opção pela nacionalidade brasileira, atendidos os requisitos (residência e maioridade). a) Originários de países de língua portuguesa apenas Brasileiro (art. 12 daa) CF/1988) Naturalizados (Inc. II) residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) De qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. Brasileiro (art. 12 da CF/1988) Naturalizados (Inc. II) Requisitos exigidos pelo Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/1980 – art. 112): 1) Capacidade civil, segundo a lei brasileira; 2) Estar registrado como permanente no Brasil; 3) Ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; 4) Exercício de profissão ou posse de bens suficientes à manutenção própria e da família; 5) Bom procedimento; 6) Boa saúde (salvo para aqueles que estiverem no Brasil há pelo menos 2 anos). •• Distinções entre brasileiros natos e naturalizados: apenas a Constituição Federal pode impor tratamento diferenciado entre os brasileiros natos e naturalizados, o que faz nos seguintes casos: a) Cargos privativos de brasileiros natos: apenas os natos poderão ocupar os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República; de Presidente da Câmara dos Deputados; de Presidente do Senado Federal; de Ministro do Supremo Tribunal Federal; da carreira diplomática; de oficial das Forças Armadas; de Ministro de Estado da Defesa. b) Participação em empresa de comunicação social: o art. 222 da CF/1988 determina que o brasileiro naturalizado apenas poderá ter participação em empresa de comunicação social após o prazo de 10 (dez) anos da naturalização. c) Extradição: o brasileiro nato não poderá ser extraditado. O brasileiro naturalizado, excepcionalmente, poderá sofrer extradição nos casos em que o crime for anterior à naturalização ou por envolvimento em tráfico de entorpecentes ou drogas. •• Perda da nacionalidade brasileira: o brasileiropoderá perder a nacionalidade: a) Cancelamento da naturalização: naturalizado poderá ter sua nacionalidade cancelada, por meio de sentença transitada em julgado, por exercer atividade nociva aos interesses nacionais ( perda-punição). A reaquisição apenas se dará por meio de ação rescisória. b) Aquisição voluntária de outra nacionalidade: o brasileiro nato ou naturalizado que adquirir outra nacionalidade (dupla nacionalidade), por ato voluntário, perderá a nacionalidade brasileira ( perda-mudança). •• Dupla nacionalidade: é admitida excepcionalmente pela Constituição, quando: a) A outra nacionalidade for originária ( ius soli ou do ius sanguini); b) A outra nacionalidade for requisito de permanência ou de exercício de direitos civis no país cuja segunda nacionalidade foi requerida. ESTRANGEIRO •• Estrangeiro: é aquele que não é nacional de um Estado (forasteiro ou alienígena). •• Apátrida: é indivíduo não vinculado a nenhum Estado. •• Tratamento aos portugueses: recebem tratamento diferenciado em relação aos demais estrangeiros, partindo tal prerrogativa da própria Constituição Federal, nos termos do art. 12, § 1.º (redação dada pela EC 03/1994). Garante-se aos portugueses no Brasil, se houver reciprocidade em favor de brasileiros em Portugal, que lhes serão atribuídos os mesmos direitos inerentes aos brasileiros, salvo naqueles casos em que a própria Constituição reserva o direito a brasileiro nato (quase-nacionalidade). •• Estatuto da Igualdade (Brasil e Portugal): (Dec. 3.927/2001 – Porto Seguro/BA, abril de 2000), Brasil e Portugal renovaram o Estatuto de Igualdade em novo Acordo de Amizade entre os dois países, sendo relevante citar os seguintes direitos: a) Inviolabilidade da nacionalidade de origem; b) Inviolabilidade dos direitos do Estado de origem; c) Procedimento para reconhecimento da igualdade: mediante decisão do Ministério da Justiça, no Brasil, e do Ministério da Administração Interna, em Portugal, aos brasileiros e portugueses que o requeiram, desde que civilmente capazes e com residência habitual no país em que ele é requerido; d) Cessação da igualdade se houver perda da nacionalidade; e) Exercício de direitos políticos; f) Não abrangência àqueles que tiverem perdido os direitos políticos no país de origem; g) Suspensão dos direitos políticos no Estado de origem; h) Jurisdição penal e extradição: os beneficiários pelo Estatuto da Igualdade ficam submetidos à lei penal do Estado de residência nas mesmas condições em que os respectivos nacionais e não estão sujeitos à extradição, salvo se requerida pelo Governo do Estado da nacionalidade (art. 18 do Dec. 3.927/2001 – Estatuto da Igualdade); i) Serviço militar apenas no país de nacionalidade (art. 19 do Dec. 3.927/2001); j) Proteção diplomática do país de nacionalidade (art. 20 do Dec. 3.927/2001); k) Uso de documentos pessoais próprios dos nacionais. •• Ingresso no Brasil O Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/1980), textualmente, prevê as seguintes modalidades de vistos para ingresso de estrangeiro no território nacional: a) trânsito – visto apenas para passagem do estrangeiro que se desloca para outro país (art. 8.º do EE). Válido para estada de 10 dias. O visto de trânsito será dispensado para as situações de mera escala ou conexão (art. 8.º, § 2.º, do EE); b) turismo – entrada e permanência do estrangeiro que venha para o Brasil em caráter recreativo ou de visita (art. 9.º do EE). c) temporário – são concedidos com o objetivo de permitir ao estrangeiro (art. 13 e incisos do EE): I – viagem cultural ou missão de estudos (isso para tempo necessário); II – viagem de negócios (para estada de 90 dias); III – condição de artista ou desportista (para estada de 90 dias); IV – condição de estudante (para estada de até um ano, prorrogável mediante prova da necessidade para aproveitamento escolar e de matrícula); V – condição de cientista, professor, técnico ou profissional de outra categoria, com contrato ou a serviço do governo brasileiro (prazo de duração da atividade, comprovada perante a autoridade consular, observado o disposto na legislação trabalhista); VI – correspondente de jornal, revista, rádio, televisão ou agência de notícia estrangeira (prazo de duração da missão, do contrato ou da prestação do serviço); VII – religioso ou membro de instituto de vida consagrada e de congregação ou de ordem religiosa (prazo de até um ano). d) permanente – visto que autoriza que o estrangeiro estabeleça residência no Brasil. Hipótese que implica imigração – visto sujeito às regras do Conselho Nacional de Imigração. O visto permanente será concedido pelo prazo não superior a cinco anos, condicionada a concessão ao exercício de atividade certa e à fixação em região determinada do território nacional (art. 18 do EE). e) cortesia, oficial ou diplomático – uso definido pelo Ministério das Relações Exteriores (art. 19 do EE). Por fim, o Estatuto do Estrangeiro determina que não será concedido visto ao estrangeiro (art. 7.º): (a) menor de 18 anos, desacompanhado do responsável legal ou sem autorização expressa; (b) aquele que for considerado nocivo à ordem pública ou aos interesses nacionais; (c) que foi expulso do Brasil, salvo se houve decreto de revogação; (d) condenado ou processado em outro país por crime doloso, passível de extradição, segundo a lei brasileira; (e) que não satisfaça as condições de saúde estabelecidas pelo Ministério da Saúde. •• Medidas compulsórias impostas aos estrangeiros: o forasteiro, segundo o Estatuto do Estrangeiro, está sujeito às seguintes medidas compulsórias: a) Deportação: saída compulsória do estrangeiro do território nacional em razão de seu ingresso ou permanência irregulares (art. 58 da Lei 6.815/1980 – Estatuto do Estrangeiro). A deportação tem cabimento quando o estrangeiro se recusa a sair voluntariamente do país (é medida individual e sobre pessoa determinada). b) Expulsão: representa saída compulsória do estrangeiro do território nacional pelo fato do alienígena estar perturbando a ordem pública. O art. 65 do Estatuto do Estrangeiro – determina que caberá a expulsão quando o estrangeiro atentar contra a segurança nacional, a ordem pública ou social, a tranquilidade ou moralidade pública e a economia popular ou com comportamento que o torne nocivo à convivência e aos interesses nacionais. i) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou permanência no Brasil; ii) havendo entrado no território nacional com infração à lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado para fazê-lo, não sendo aconselhável a deportação; iii) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; ou iv) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei para estrangeiro. A expulsão deverá ser precedida de procedimento administrativo perante o Ministério da Justiça, com garantia de contraditório e ampla defesa. Por fim, é expedido pelo Ministro (delegação do Presidente) o decreto de expulsão (executado pela Polícia Federal). O reingresso do expulso caracterizará crime (art. 338 do CP). c) Extradição: ato estatal de remessa de um indivíduo para outro Estado, para que possa ser julgado ou para cumprir pena regulamente imposta. A extradição poderá ser: i) Ativa: o Brasil é quem faz o requerimento. Essa modalidade de extradição é formulada ao Ministério da Justiça, que, por meio do Ministério das Relações Exteriores, remete o pedido ao país em que se encontra o indivíduo; e ii) Passiva: o Brasil é o destinatário do pedido de extradição, isso pelo fato de o indivíduo estar no território nacional. A extradição passiva é recebida no Brasil por meios diplomáticos e encaminhada paradecisão do Supremo Tribunal Federal. Importante lembrar sobre a extradição: •• Depende da existência de tratado entre os Estados; •• Depende da observância do processo penal, que resulte em condenação à pena privativa de liberdade superior a um ano de reclusão; •• Similitude de crime e dupla punibilidade. O fato que fundamenta a extradição tem que ser crime e punível no Brasil e no Estado requerente; •• Decreto da prisão contra o extraditando, expedido por juízo ou tribunal competente; •• Não ter ocorrido a extinção da punibilidade, nos termos da legislação brasileira ou a lei do Estado que requer a extradição; •• Não estar o extraditando respondendo a processo ou já condenado ou absolvido no país que requer a extradição pelo mesmo fato em que se fundar o pedido; •• O fato não pode constituir crime político; •• O extraditando não houver de responder, no Estado requerente, perante Tribunal ou juízo de exceção; •• Caberá a extradição de estrangeiro ou, excepcionalmente, de brasileiro naturalizado, quando o crime comum for anterior à naturalização ou por envolvimento em tráfico de entorpecentes. Em síntese, podemos destacar as seguintes distinções entre as três medidas compulsórias: Deportação Expulsão Extradição Art. 76. Entrega do estrangeiro às autoridades Art. 57. Saída compulsória. Ato unilateral do Estado em que se encontra o estrangeiro. Art. 65. Saída compulsória. Ato unilateral do Estado em que se encontra o estrangeiro. estrangeiras, em razão de Tratado ou promessa de reciprocidade – cooperação judiciária. Ato bilateral – requerimento e deferimento. Entrada ou permanência irregulares do estrangeiro. Estrangeiro que atenta contra a ordem ou segurança nacional, perturbe a tranquilidade ou moralidade e a economia popular. Também poderá ser expulso o estrangeiro que: praticar fraude para ingressar ou permanecer no território nacional; se dedicar à vadiagem ou à mendicância; desrespeitar proibição imposta ao estrangeiro. Prática de crime pelo estrangeiro. Representa pedido formulado por outro Estado para que o estrangeiro responda pela prática de crime. Enquanto não ocorre a deportação, o estrangeiro poderá ficar preso até 60 dias. Prisão ou liberdade vigiada. Nos crimes, a prisão será decretada por juiz federal (art. 109 da CF/1988). Vedada a extradição de brasileiros natos. Para os naturalizados, admite-se em caso de crime comum praticado antes da naturalização ou tráfico de entorpecente. O estrangeiro poderá reingressar no território nacional após satisfeitas as obrigações administrativas e eventual ressarcimento das despesas suportadas pelo Tesouro Nacional. O estrangeiro ficará impedido de voltar ao país. No Brasil, o reingresso caracteriza crime (art. 338 do CP). O estrangeiro é tido como persona non grata. Não impede o retorno (cessada a causa da extradição). Ato praticado pela Polícia Federal com natureza administrativa. Presidente da República, por meio de Decreto. O inquérito será instaurado pelo Ministro da Justiça. Competência originária do STF para autorizar, cabendo ao Presidente da República o ato de extradição. PROTEÇÃO AO ESTRANGEIRO –– ASILO E REFÚGIO A Constituição brasileira estabeleceu a concessão de asilo político como princípio adotado pelo Brasil em suas relações internacionais, conforme determina o art. 4.º, X. Também representa princípio estabelecido na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que, em seu art. 14, garante que toda pessoa vítima de perseguição tem o direito de procurar e de gozar de proteção em outros países. A proteção ao estrangeiro que justifica a concessão do asilo ou refúgio é aquela arbitrária e injusta. Como regra, os refugiados são indivíduos perseguidos em seu Estado pela prática de crimes políticos, convicção religiosa, raça, crimes relacionados com a segurança do Estado, salvo aqueles de natureza comum. Assim, seja na condição de asilo político ou de refúgio, o estrangeiro tem o direito de requerer a proteção de outro Estado, qualquer que seja a sua nacionalidade (inclusive os apátridas). O estrangeiro perseguido tem direito à proteção brasileira em ambos os casos – refúgio ou asilo –, caracterizando tal acolhida ato discricionário do Estado, independentemente de reciprocidade. O reconhecimento do asilo ou refúgio impede a possibilidade de extradição do estrangeiro. No ordenamento interno, a Lei 9.474/1997 regulamenta os mecanismos para efetivação dos direitos do Estatuto do Refugiado (originário de 1951). Em síntese, podemos destacar as seguintes características dos institutos de proteção do estrangeiro: Asilo Refúgio Abrangência regional (América Latina) Universal Perseguição atual e efetiva Fundada no temor de perseguição Perseguição: por crime político Perseguição: raça, religião, nacionalidade, grupo social, opinião política ou grave e generalizada violação de direitos humanos em seu país Medida individualizada A perseguição atinge grande número de pessoas O requerimento poderá ser feito mesmo se o estrangeiro estiver dentro de seu país. Asilo por Estado estrangeiro (asilo territorial) ou em embaixadas (asilo diplomático) Estrangeiro perseguido encontra-se fora de seu país A concessão é por ato constitutivo O ato é meramente declaratório Requerimento na Polícia Federal e submetido ao Ministério das Relações Exteriores. Decisão do Ministério da Justiça Requerimento perante a Polícia Federal, sendo o procedimento de competência do Comitê Nacional para Refugiados – Conare (contra a decisão do Conare caberá recurso ao Ministro da Justiça) Natureza política Caráter humanitário DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO BRASILEIRO Conceito O Direito Internacional Privado (DIPr) é o ramo da ciência jurídica que regula as regras e princípios aplicáveis nos casos de conflitos de lei no espaço (regras de normatização das relações privadas entre sujeitos ou elementos situados em diferentes Estados soberanos). O DIPriv se ocupa de questões relativas à aplicação da lei no espaço no caso de conflito, bem como da definição da competência da autoridade judiciária competente para julgamento de conflitos com elemento de conexão internacional. No Exame de Ordem, tema frequentemente cobrado na forma de caso prático, apresenta uma situação com um elemento de conexão internacional (casamento, nascimento, contrato, ocorridos no exterior) e, na sequência, questiona: a) Aplica-se a lei de qual país para o caso? b) Ocorrendo conflito, qual o juiz competente para a ação? É competência do juiz brasileiro? c) A sentença proferida por um juiz de Estado estrangeiro tem eficácia no Brasil? O conflito entre ordens jurídicas distintas ocorre em razão de um elemento estrangeiro (elemento de estraneidade), conhecido também como elemento de conexão. Podemos citar as seguintes categorias de conexão: Elementos internacionais de conexão • Pessoas. • Bens ou coisas. • Fatos ou negócios. • Casamento. • Sucessão. • Processo. •• Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro –– LINDB (antiga LICC) Não obstante a denominação “Direito Internacional Privado”, na verdade, estamos diante de verdadeiro ramo interno do direito, já que nos deparamos com regras da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, e, também, do Código de Processo Civil, que estabelecem as situações de aplicação ou não da legislação interna e da competência de nossos órgãos jurisdicionais. Quando a pergunta for “qual leié aplicável?”, a resposta estará nas regras da LINDB. A tarefa é identificar o elemento de conexão e, na sequência, definir a lei aplicável. Por exemplo, empresa brasileira faz contrato com empresa do Canadá, neste caso, qual lei regerá o contrato? Ou, ainda, uma mulher resolve “leiloar” a sua virgindade na internet. Ela é brasileira, reside nos Estados Unidos, e o contrato foi celebrado com um japonês por meio da internet. Qual a lei aplicável. Devemos considerar as seguintes regras: •• Início e fim da personalidade A regra que define o início e o fim da personalidade da pessoa, capacidade e direitos de família, é aquela do local de seu domicílio. A Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro determina a aplicação da lex domicilii como elemento de conexão do DIPr, nos seguintes termos: “Art. 7.º A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família”. •• Bens –– Direitos reais A lei do local da situação dos bens regerá todas as questões de direitos reais, aplicando-se a regra da lex rei sitae, nos termos do art. 8.º, caput: “Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados”. •• Obrigações As obrigações são qualificadas pela lei do lugar em que foram constituídas. O local da celebração do negócio jurídico define as regras acerca das obrigações (art. 9.º) – locus regit actum ou ius loci celebrationis. Como se vê, nos dois exemplos citados no início desse tópico, estamos diante de negócios jurídicos e, consequentemente, de obrigações que serão regidas pela lei do local da celebração (assinatura). Por certo, no caso do “leilão”, chegou-se a cogitar se isso é legal ou não, se o objeto é lícito ou não. De fato, a regra civil que será observada será aquela vigente no local da celebração. Mas aí surge outra dúvida: e se não houver o local da celebração? Nesse caso, a LINDB determina a aplicação da lei do local de domicílio do proponente. •• Sucessão causa mortis A sucessão por morte ou por ausência será regulada pela lei do local de último domicílio do autor da herança (o morto ou desaparecido), não importando a natureza ou o local de situação dos bens (art. 10). Por outro lado, a competência jurisdicional, o art. 23, II, do CPC/2015, afirma ser competência exclusiva do Poder Judiciário brasileiro, com exclusão de qualquer outra jurisdição, o processamento de inventários de bens situados no Brasil, mesmo que o autor da herança seja estrangeiro. •• Casamento de brasileiro no exterior Os brasileiros que pretenderem celebrar casamento no exterior poderão realizar o ato perante a autoridade consular do local em que estejam domiciliados. A autoridade consular brasileira também é detentora de competência para os atos de registro civil e de tabelionato, inclusive para registro dos filhos de brasileiros nascidos e os óbitos ocorridos no exterior, situação em que o casamento será regido pela legislação civil brasileira. Importante mencionar que o art. 7.º, § 2.º, da LINDB admite que estrangeiros possam casar no Brasil, perante autoridade diplomática ou consular de nacionalidade de ambos, situação em que, evidentemente, o casamento será regido pela legislação de nacionalidade dos cônjuges. •• Sociedades e fundações O art. 11 da LINDB determina que as organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à legislação do Estado em que forem constituídas. RESUMINDO Pessoas jurídicas estrangeiras As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituírem, ou seja, tiverem registrado seus atos constitutivos (art. 11, caput). Não poderão, entretanto ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes de serem os atos constitutivos aprovados pelo governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira. PROCESSO CIVIL INTERNACIONAL Competência jurisdicional Nesse ponto, trataremos da questão da competência dos órgãos judiciários brasileiros para julgamento de lides envolvendo elementos de conexão internacional. Podemos continuar com a mesma situação em mente (o que já foi objeto de muitas questões da 1.ª fase da OAB): contrato celebrado por empresa francesa com outra americana, sendo certo que o pacto foi assinado em Lisboa, prevendo a construção de uma plataforma de petróleo no Rio de Janeiro. As perguntas são as mesmas: (a) Qual a lei aplicável? (b) O Poder Judiciário brasileiro tem competência para julgamento? A resposta para a questão da competência está no Código de Processo Civil, que trata da competência internacional concorrente e da competência interna exclusiva. a) Competência internacional concorrente: situações em que a ação poderá ser proposta perante o Poder Judiciário brasileiro, conforme determina o art. 88 do CPC (art. 21 do CPC/2015): quando o réu tiver domicílio no Brasil; quando o ato ou o fato tiverem ocorrido no Brasil; quando a obrigação tiver de ser cumprida no Brasil. b) Competência interna exclusiva: situações em que a ação apenas poderá ser proposta perante a jurisdição brasileira, com exclusão da competência de qualquer outro Estado soberano. São hipóteses previstas no art. 89 do CPC (art. 23 do CPC/2015): ações relativas a imóveis situados no Brasil; inventários de bens situados no Brasil, independentemente da nacionalidade do autor da herança (o morto). Competência interna e internacional Interna/Internacional concorrente (admite que a ação seja proposta no Brasil ou no exterior) Situações em que a ação PODE ser no Brasil Interna exclusiva Situações em que a ação DEVE ser no Brasil Art. 21 do CPC/2015 Art. 23 do CPC/2015 É competente a autoridade judiciária brasileira quando: a) Réu tiver domicílio no Brasil, qualquer que seja sua nacionalidade (considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal); b) A obrigação tiver de ser cumprida no Brasil; c) A ação tiver como fundamento fato ocorrido ou praticado no Brasil. O NCPC ampliou a competência Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: a) conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; b) em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à concorrente para permitir a propositura na Justiça Brasileira as ações (art. 22): a) Alimentos quando o credor tiver domicílio ou residência no Brasil, ou ainda, quando o réu mantiver vínculo no Brasil, como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou valores. b) Decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil; c) Quando houver estipulação, expressa ou tácita, na qual as partes se submetem à jurisdição brasileira. partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; c) em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. Quando tratamos de competência interna/internacional, importante o destaque dos seguintes pontos expressos no Código de Processo Civil: a) Litispendência entre ação proposta no Brasil e outra perante outro país – o art. 24 do CPC/2015 (como jáera previsto no CPC/1973) afirma que não há litispendência entre ação no Brasil e outra idêntica perante autoridade estrangeira, sem qualquer óbice ao conhecimento da ação idêntica ou conexa pela Justiça nacional, salvo disposições em contrário previstas em tratados internacionais ou acordos bilaterais em vigor em que o Brasil seja parte. b) Homologação de sentença estrangeira – a pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença estrangeira (previsão do parágrafo único, do art. 24). No entanto, nesse ponto, cumpre ressaltar que, havendo coisa julgada no Brasil, a sentença estrangeira não poderá ser homologada se violar a autoridade do julgamento da sentença brasileira. c) Cláusula de eleição de exclusão da jurisdição brasileira – em se tratando de contrato internacional, a Justiça brasileira não poderá conhecer e julgar ações quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro, especialmente se tal foro for arguido em contestação pelo réu (se o réu deixar de arguir foro de eleição estrangeiro a Justiça nacional será competente, pois houve renúncia da cláusula). PRISÃO DO DEPOSITÁRIO INFIEL A prisão do depositário infiel não existe mais no ordenamento jurídico brasileiro. O STF, em dezembro de 2009, editou a Súmula Vinculante 25, com a seguinte redação: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”. Portanto, o Pacto de São José da Costa Rica, norma supralegal no ordenamento brasileiro, ao vedar a prisão do depositário infiel (pela omissão), criou novo direito fundamental, derrogando a possibilidade de prisão em qualquer modalidade de depósito (seja contratual, legal ou judicial). A matéria foi objeto da edição da Súmula Vinculante 25 pelo STF, segundo a qual será considerada ilícita a prisão do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito. Portanto, nenhum órgão do Poder Judiciário ou da administração poderá desrespeitar a referida súmula. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL A atividade jurisdicional depende, muitas vezes, da atuação e prática de atos processuais além das fronteiras do Estado e, consequentemente, de sua soberania. Dessa forma, são necessárias medidas entre os Estados soberanos para que cooperem para a eficácia da atividade jurisdicional de cada um, com observância de regras previstas em tratados internacionais e, no caso da participação do Brasil, com observância a (art. 26 do CPC/2015): a) respeito às garantias do devido processo legal no Estado requerente (que demandou providências ao Brasil); b) igualdade de tratamento entre nacionais e estrangeiros, residentes ou não no Brasil, em relação ao acesso à justiça e à tramitação dos processos, assegurando-se assistência judiciária aos necessitados; c) publicidade processual, exceto nas hipóteses de sigilo previstas na legislação brasileira ou na do Estado requerente; d) existência de autoridade central para recepção e transmissão dos pedidos de cooperação (no Brasil o Ministério da Justiça exercerá as funções de autoridade central na ausência de designação específica); e) espontaneidade na transmissão de informações a autoridades estrangeiras. Serão objeto da cooperação internacional (art. 27): a) citação, intimação e notificação judicial e extrajudicial; b) colheita de provas e obtenção de informações; c) homologação e cumprimento de decisão (o que será tratado em tópico seguinte); d) concessão de medida judicial de urgência; e) assistência jurídica internacional; f) qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira. A cooperação internacional poderá se dar por meio de: a) Auxilio direto – terá cabimento quando a medida não decorrer de decisão ou ato de autoridade jurisdicional estrangeira que deva ser submetida a juízo de homologação no Brasil, dispensando a homologação pelo STJ – art. 28 do CPC/2015, como nos casos de: “I – obtenção e prestação de informações sobre o ordenamento jurídico e sobre processos administrativos ou jurisdicionais findos ou em curso; II – colheita de provas, salvo se a medida for adotada em processo, em curso no estrangeiro, de competência exclusiva de autoridade judiciária brasileira; III – qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira. O rol do artigo 29 não é taxativo, já que permite a inclusão de outros atos para auxilio direto, desde que previstos em tratado em que o Brasil seja parte” (art. 30). b) Carta rogatória – cabível para que a autoridade estrangeira requeira a prática de atos processuais no Brasil, situação em que, sendo o Judiciária brasileiro o destinatário da requisição, o procedimento primeiro será instaurado no STJ para a obtenção do exequatur, mediante trâmite contencioso, com garantia às partes do devido processo legal (por exemplo para a ouvida de testemunhas no Brasil). O procedimento para a concessão do exequatur às cartas rogatórias observa também o disposto para a homologação das sentenças estrangeiras no STJ. HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA •• Eficácia no Brasil de títulos judiciais estrangeiros O tema ganhou nova sistematização no CPC/2015, com um procedimento específico, dentre as ações de competência originária dos tribunais (por força do art. 105, I, i, da CF/1988, após a EC 45/2004, a competência foi atribuída ao STJ). Serão objeto de homologação pelo STJ todos os atos estrangeiros que no Brasil tenham a natureza de sentença, incluindo também as sentenças meramente declaratórias e as sentenças arbitrais (art. 35 da Lei 9.307/1996 – Lei da Arbitragem). O art. 515, VIII, do CPC/2015 reconhece a sentença estrangeira homologada pelo STJ como título executivo judicial hábil para instruir pedido de cumprimento de sentença. Além disso, em típica atividade de cooperação judiciária internacional, o Brasil poderá ser destinatário de cartas rogatórias de autoridades judiciárias estrangeiras, no sentido de requisitar a realização de determinado ato processual dentro do território brasileiro. Neste caso, a carta rogatória apenas será cumprida se houver a aprovação do STJ, com a expedição da ordem de exequatur. Ressalte-se que, nos termos do art. 109, X, da CF/1988, as sentenças estrangeiras homologadas e as ordens de exequatur expedidas pelo STJ serão executadas perante o juízo federal do local de cumprimento da obrigação. Requisitos Requisitos formais para a homologação da sentença estrangeira art. 15 da LINDB + art. 963 do CPC/2015 •• Sentença proferida por autoridade competente. •• Ser precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia. •• Trânsito em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que a sentença foi proferida. No mesmo sentido, o STF expediu a Súmula 420. •• Tradução da sentença por intérprete autorizado (tradução juramentada). •• Não ofender a coisa julgada brasileira. •• Cópia integral e autenticada pelo cônsul do Brasil no país que prolatou a sentença). Além dos requisitos formais, a sentença também passará pela verificação do conteúdo, isso para apuração de compatibilidade com o ordenamento interno. O art. 17 da LINDB afirma que as sentenças e atos externos não terão eficácia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes, regra também prevista no art. 963, VI, do CPC/2015. Nesse ponto, é importante destacar que também não haverá a homologação da sentença estrangeira quando a matéria
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