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Av2 de Direito Civil 3

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Av2 de Direito Civil 3
Contrato de Empreitada
Conceito : é contrato em que uma das partes ( o empreiteiro ), mediante remuneração a ser paga pelo outro contraente ( o dono da obra ), obriga - se a realizar determinada obra, pessoalmente ou por meio de terceiro, de acordo com as instruções deste e sem relação de subordinção.
Contrato de Empreitada x Prestação de Serviço
A)
O objeto da prestação de serviço é apenas a atividade do prestador, sendo a remuneração proporcional ao tempo dedicado ao trabalho.
Na empreitada o objeto da prestação não é essa atividade, mas a obra em si, permanecendo inalterada a remuneração, qualquer que seja o tempo de trabalho despendido.
B)
Na prestação de serviço, a execução do serviço é dirigida e fiscalizada por quem contratou o prestador, a quem este fica diretamente subordinado.
Na empreitada, a direção compete ao próprio empreiteiro.
C)
Na prestação de serviço o patrão assume os riscos do negócio;
Na empreitada é o empreiteiro que assume os riscos do empreendimento, sem estar subordinado ao dono da obra.
- Características
A empreitada é contrato bilateral ou sinalagmático, pois gera obrigações recíprocas para as partes: a realização e entrega da obra, para o empreiteiro, e o pagamento do preço, para o proprietário.
Consensual : porque se aperfeiçoa com o acordo de vontade, independentemente de tradição, não exigindo ainda forma especial para a sua validade.
Comutativo : uma vez que cada parte pode antever os ônus e vantagens dela advindos. Cada parte recebe da outra prestação equivalente á sua, podendo vislumbrar, desde logo, essa equivalência.
Oneroso : pois ambas as partes obtêm um proveito, ao qual corresponde um sacrifício. A onerosidade é da essência da empreitada, seja em dinheiro, seja em outra espécie, e característica que a distingue da doação.
- Espécies de Empreitada
Art 610 CC - O empreiteiro de uma obra pode contribuir com ela " só com seu trabalho " ( empreitada de mão de obra ou de lavor ), ou " com ele e os materiais " ( empreitada mista , prevista no art 610 do CC .
No primeiro caso, assume ele apenas obrigação de fazer, consistente em executar o serviço, cabendo ao proprietário fornecer materiais. No segundo, obriga - se não só a realizar um trabalho de qualidade ( obligatio in faciendo), mas também a dar, consitente em fornecer os materiais.
Art 612 CC - " se o empreiteiro só forneceu mão de obra, todos os riscos em que não tiver culpa correrão por conta do dono ". Não havendo também mora do dono, o empreiteiro perde retribuição (repartem - se, assim, os prejuízos, não havendo culpa de qualquer dos contratantes). 
Art 613 CC - O empreiteiro fará jus a remuneração, se provar " que a perda resultou de defeito dos materiais e que em tempo reclamará contra a sua quantidade ou qualidade ".
Marché a Prix ou á Forfait : O dono da obra fica protegido de eventuais aumentos no preço dos materiais e da mão de obra, pois o empreiteiro nada mais poderá exigir, se tal fato vier a ocorrer. Do mesmo modo, o dono da obra não poderá reclamar redução do preço ajustado se baixarem os preços dos materiais ou da mão de obra.
- Verificação e Recebimento da Obra
Art 614 CC - Pode ser convencionada a entregada obra " por partes " ou só " depois de concluída ". Se o dono a recebe e paga o que lhe foi entregue, presume - se verificado e em ordem, pois previsto no parágrafo 1 " tudo o que se pagou presume - se verificado ".
parágrafo 2 : o prazo de 1 ano para reclamar dos defeitos ocultos só abrange os que não afetem a segurança e solidez da obra.
Art 615 CC e Art 616 CC - Se concluída a obra, se constata que o empreiteiro a realizou de acordo com a encomenda e, portanto, que o resultado prometido foi alcançado, não pode o dono negar - se a recebê-la e a pagar o preço ajustado. Pode o dono ter motivo para recusa se; A) se o empreiteiro se afastou do plano ou das instruções ministradas. B) se, na falta de plano ou de instruções específicas, arredou- se das regras da arte ou do costume do lugar, apresentando obra defeituosa e impeditiva de uso regular; C) se empregou materiais de segunda qualidade ou de má qualidade; D) se não entregou a obra no tempo contratado.
- Responsabilidade do Empreiteiro
A responsabilidade do empreiteiro pode ser analisada sob os seguintes aspectos: A) quanto aos riscos da obra; B) quanto a solidez e segurança dos edifícios e outras construções consideráveis; C) quanto á perfeição da obra; D) quanto á responsabilidade pelo custo dos materiais; E) quanto aos danos causados a terceiros.
A) Se a empreitada é apenas de lavor, todos aqueles em que o empreiteiro não tiver culpa correm " por conta do dono " Art 612. Desse modo, se a coisa perece antes da entrega, sem culpa daquele, quem sofre o prejuízo é o dono da obra. Todavia, o empreiteiro, perderá retribuição Art 613. Se não lograr se desincumbir desse pesado ônus, haverá repartição dos prejuízos, não havendo culpa de qualquer dos contraentes.
B) Art 618, concluída e entregue a obra, subiste, pois, a responsabilidade do empreiteiro, durante cinco anos, pela solidez e segurança da construção. Esse prazo é de garantia da obra, como já foi dito no item anterior. Não é, todavia, a qualquer obra que tal responsabilidade se aplica, mas somente ás construções de vulto, ou seja, aos " edifícios " e " construções consideráveis ", conforme expressões empregadas no art 618.
C) A perfeição da obra, embora não consignada no contrato, é de presumir- se em todo ajuste de construção como encargo ético-profissional do construtor. Isto porque a construção civil é, modernamente, mais que um empreendimento leigo, um processo técnico-artístico de composição e coordenação de materiais e de ordenação de espaços para atender ás múltiplas necessidades do homem.
D) Art 617, se tratando de empreitada apenas de mão de obra, compete ela exclusivamente ao dono da obra. Cuidando- se de empreitada mista, é o empreiteiro de execução e materiais que responde pelo custo destes, não podendo os fornecedores cobrar o seu valor do proprietário, com quem não mantêm vínculo obrigacional.
E) Quanto danos causados ás propriedades vizinhas pela edificação de uma obra, como trincas, rachaduras, recalques e desabamentos, por exemplo, hão de ser ressarcidos por quem lhes deu causa e por quem aufere os proveitos da construção.
- Responsabilidade do Proprietário
Art 619 - A principal obrigação do dono da obra é efetuar o pagamento do preço, visto que a empreitada, sendo contrato sinalagmático, gera obrigações para ambos os contratantes. Trata - se de obrigação fundamental, cuja falta pode importar na resolução do contrato, com perdas e danos; na suspensão da execução, mediante a arguição da exceptio non adimpleti contractus; na sua cobrança executiva, se o contrato preencher os requisitos de título executivo extrajudicial; ou no direito de retenção.
Art 620 - Denota - se in casu uma atenação do princípio da obrigatoriedade dos contratos, com aplicação do princípio da onerosidade excessiva á empreitada por preço fixo ou global. Na empreitada mista o percentual de 10% pode ser representado pela soma do concernente aos materiais e o atinente á mão de obra.
Art 623 - Compete ao proprietário, ainda, indenizar o empreiteiro pelos serviços e despesas que houver realizado, se, após iniciada a construção, rescindir o contrato sem justa causa, ou der razão a que se resolva, calculando - se a indenização " em função do que ele teria ganho. se concluída a obra ".
- Extinção da Empreitada
Cumprimento ou Execução: é o modo normal de extinção da empreitada, pois toda obrigação se extingue depois de cumprida. Recebida e aceita a obra e efetuando o pagamento do preço, consideram-se cumpridas as obrigações emergentes do aludido contrato.
Morte do Empreiteiro: se o contrato foi celebrado " intuito personae ". Não o tendo sido, as obrigações por ele assumidas transmitem-se aos sucessores.
Resilição Bilateral: mediante o exercício da autonomia da vontade.
Resolução: se um dos contraentes deixar de cumprir qualquer das obrigações
contraídas.
Resilição Unilateral: por parte do dono da obra, no curso de sua execução, pagando ao empreiteiro as despesas com materiais e mão de obra já efetuadas.
Excessiva Onerosidade: superveniente da obra, em virtude da ocorrência de fatos extraordinários e imprevisíveis, ensejadores de " alterações fundamentais, extraordinárias das condições objetivas, em que o contrato se realizou.
Perecimento da Coisa: por força maior ou caso fortuito, aplicando-se nessa hipótese as regras concernentes ao risco.
Falência do empreiteiro ou insolvência do proprietário: Prevê o art 117 da nova lei falimentar a notificação do síndico, para que declare se cumprirá ou não o contrato.
 Contrato de Prestação de Serviços 
Artigo 593 á 609 Código Civil
Conceito - Reservada a palavra Locação para designar unicamente o contrato que se destina a proporcionar a alguém o uso e gozo temporário de uma coisa infungível, mediante contraprestação pecuniária.
Natureza Jurídica
Artigo 594 - " Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser contratada mediante retribuição", desse modo qualquer serviço, desde que seja lícito pode ser objeto de contrato, não fazendo distinção entre trabalho braçal ou intelectual.
Trata- se de contrato bilateral ou sinalagmático, porque gera obrigações para ambos os contratantes. O prestador assume uma obrigação de fazer perante o dono do serviço, que, por sua vez, compromete-se a remunerá-lo pela atividade desenvolvida.
Oneroso, pois traz benefícios ou vantagens para um e outro contratante. A remuneração é paga por aquele que contrata o prestador.
Artigo 596 e 597, Não se presume a gratuidade na prestação de serviços, no entanto, só valerá se ajustada expressamente e não configurar abuso ou má-fé do outro contratante na ausência de estipulação e nem chegando a acordo as partes.
Consensual - Uma vez que se aperfeiçoa mediante o simples acordo de vontades.
Não Solene - Porque pode ser celebrado verbalmente ou por escrito.
Artigo 595 - A falta de contrato não é fundamento suficiente para que uma pessoa que utilizou o serviço de outro se negue a retribuição pecuniária, entende-se que o consentimento pode ser implícito, inferindo do próprio fato da prestação de serviço.
Duração do Contrato
Artigo 598 - O tempo de duração do contrato é limitado por 4 anos, no máximo.
Artigo 599 - Se o contrato for celebrado sem prazo determinado, admitir-se resilição unilateral, por arbítrio de qualquer das partes, mediante aviso prévio. A inobservância do aviso prévio pode acarretar prejuízo á outra parte, que terá o direito, em consequência, de reclamar perdas e danos.
Artigo 600 - " não se conta no prazo do contrato o tempo em que o prestador de serviço, por culpa sua, deixou de servir " , nos casos em que o prestador de serviço se ausenta, por deliberação própria e alheia aos interesses do dono do serviço.
Artigo 602 - Proibi-se no contrato "por tempo certo ou por obra determinada", que o prestador de serviço o denuncie imotivamente, ausentando-se ou despedindo-se "antes de preenchido o tempo, ou concluída a obra". Completa- se no parágrafo único que, se o fizer, embora tenha direito á retribuição vencida, " responderá por perdas e danos".
Artigo 603 - Cabe o mesmo " se despedido por justa causa ". 
Extinção do Contrato
Artigo 607 - Ocorre o término do contrato de prestação de serviço "com a morte de qualquer das partes".
A inserção da morte de qualquer das partes como causa de extinção da prestação de serviço demonstra o caráter personalíssimo ou intuito personae da avença, insuscetível de transmissão causa mortis. 
Disposição Complementares
Artigo 605 - A obrigação de fazer assumida pelo prestador de serviço não pode ser transferida a terceiro, sem a anuência da outra parte, assim como não pode esta, em respeito ao trabalho humano, ceder a outrem os serviços que lhe seriam prestados.
Artigo 606 - Prevê o dispositivo em apreço a possibilidade de a pessoa não habilitada legalmente a prestar determinado serviço poder cobrar a retribuição, se tiver agido de boa-fé e o trabalho houver beneficiado o outro contratante.
Artigo 608 - Ocorre o aliciamento de mão de obra quando uma pessoa convence o prestador de serviço a romper o contrato existente, para trabalhar em outro estabelecimento. 
Artigo 609 - O dispositivo em apreço tem aplicação somente aos trabalhadores avulsos, que prestam serviços sem vínculo trabalhista.
Contrato de Mandato - Artigo 653 á 692
Conceito - Encarregar outrem de praticar um ou mais atos por nossa conta e no nosso nome, de modo que todos os efeitos dos atos praticados se liguem diretamente á nossa pessoa como se nós próprios os tivéssemos praticado, é o que tecnicamente se chama conferir ou dar mandato".
Características
O mandato é contrato personalíssimo, consensual, não solene, em regra gratuito e unilateral. É contrato porque resulta de um acordo de vontades: a do mandante, que outorga a procuração, e a do mandatário, que a aceita. A aceitação pode ser expressa ou tácita. ( artigo 659 )
A) Personalíssimo ou Intuito Personae - porque se baseia na confiança. na presunção de lealdade e probidade do mandatário, podendo ser revogado ou renunciado quando aquela cessar e extinguindo-se pela morte de qualquer das partes. 
B) Consensual - porque se aperfeiçoa com o consenso das partes, em oposição aos contratos reais, que se aperfeiçoam somente com a entrega do objeto.
C) Não Solene - por ser admitido o mandato tácito e verbal.
D) Gratuito - ( artigo 658 ) 
E) Unilateral - porque gera obrigações somente para o mandatário, podendo classificar-se como bilateral imperfeito.
10 – Mandato
            De início, não confundam mandato com mandado. Mandato é contrato, é representação. Enquanto mandado é ordem. Então deputado tem mandato (representa o povo) e advogado também (representa o cliente). Já Juiz expede mandado (= ordem) de segurança, mandado de prisão, mandado de reintegração de posse, etc.
            Mandato deriva do latim manum + datum, significando dar a mão, afinal é costume apertar as mãos após a conclusão de um negócio. Mas na vida moderna pode acontecer das pessoas não poderem agir em certos casos ou estar presentes em todos os lugares, então surge a representação, com alguém em lugar de outrem.  O mandato permite que uma pessoa esteja simultaneamente em mais de um lugar.
            Em Direito, a representação possui duas espécies (115): a) legal ou judicial: deriva da lei ou da ordem do Juiz (ex: o pai representa o filho menor, o tutor o órfão e o curador o louco; o inventariante representa o espólio, etc.); b)   consensual ou voluntária: decorre do contrato de mandato, é a representação que nos interessa este semestre. Na representação legal não há mandato, não há contrato.
            Conceito: contrato pelo qual o procurador/ou mandatário/ou representante se obriga a praticar atos jurídicos em nome do mandante/ou representado. O mandato se prova através da procuração (653). Mandato não se confunde com prestação de serviço, pois quando preciso de um médico/engenheiro/psicólogo/arquiteto, o profissional vai agir em meu benefício, mas não em meu lugar. Já o procurador representa o mandante, como o advogado substitui a parte perante o Juiz.  Assim, para o trabalho do advogado, além do contrato de mandato, celebra-se também o contrato de prestação de serviço.  Mas os demais profissionais liberais prestadores de serviço não são nossos representantes, não tendo mandato (692, mandato judicial será estudado em Processo Civil e Prática Forense).
            Atos jurídicos: o mandatário fala em nome do mandante, prestando-se o mandato para atos jurídicos, mas não para atos materiais ou fatos (ex: posso passar uma procuração para alguém me inscrever no vestibular, mas não para fazer prova em meu lugar; outro ex: admite-se casamento por procuração -1.542, mas só para a celebração jurídica e não para a relação conjugal). 
            Procuração: é o instrumento do mandato, é o elemento exterior do mandato. É com a procuração
que o mandatário prova a terceiros que é o representante do mandante (118). Procuração não tem prazo, mas por cautela pode o terceiro exigir procuração recente do mandatário. O contrato de mandato pode ser verbal (656), mas a procuração precisa ser escrita e com a firma reconhecida (654, 657).  A procuração para advogado atuar em Juízo dispensa a firma reconhecida conforme art. 38 do CPC. Já analfabeto não pode passar procuração particular, exigindo-se procuração pública feita em qualquer Cartório de Notas. 
            Características do mandato: pode ser oneroso quando se paga uma remuneração ao procurador (ex: advogado, pú do 658; sendo oneroso, trata-se também de um contrato de prestação de serviço), mas pode ser gratuito quando feito entre amigos (ex: fazer inscrição num concurso, 658).  É sempre personalíssimo, pois se confia nas qualidades do procurador (682, II).
            Obrigações do procurador: 1) aplicar toda sua diligência/capacidade em favor do mandante no cumprimento do mandato, observando as instruções recebidas; 2) prestar contas de sua gestão (668). Responde o procurador por perdas e danos caso exerça mal seus poderes, ou substabeleça a terceiros incompetentes (667). Substabelecer é o mandatário se fazer substituir na execução do mandato; em geral o procurador pode substabelecer, afinal se o mandante confia no procurador, confia também nas pessoas em quem o procurador confia, mas o substabelecimento pode ser expressamente vedado.  No silêncio do mandato, admite-se substabelecimento (655).
            Obrigações do mandante: 1) passar a procuração; 2) adiantar o dinheiro para a execução do mandato (ex: o valor da inscrição no concurso); 3) pagar a remuneração ao mandatário se o contrato for oneroso (676); 3) cumprir as obrigações assumidas pelo mandatário (116, 675, 679). O mandatário pode exercer direito de retenção sobre bens do mandante, para forçar o mandante a cumprir suas obrigações, nos casos do 664 e 681.
            Extinção do mandato: nas hipóteses do art. 682, I (a revogação a qualquer tempo é direito potestativo do mandante, não podendo o mandatário se opor, pois basta o mandante perder a confiança no procurador para revogar a procuração); II (é contrato personalíssimo); III (ex: advogado que passa no concurso de Juiz não pode mais exercer mandato judicial; outro ex: deixa de ter valor a procuração de pessoa solteira para alienar imóvel se essa pessoa contrai matrimônio); IV (este é o objetivo do contrato).
            Autocontrato: é o contrato consigo mesmo ou procuração em causa própria que foi comentado no começo do curso (ex: vou viajar e passo uma procuração para meu amigo José vender minha casa a qualquer pessoa, eis que o próprio José resolve compra-la, vai então celebrar a escritura de compra e venda sozinho, porém em meu nome e no nome dele, 117). Sendo a procuração em causa própria benéfica ao mandatário, o mandante não pode revoga-la (ex: vendo minha casa a José, recebo o dinheiro, e  passo uma procuração para José ir nos cartórios fazer a escritura e o registro, não posso assim depois revogar essa procuração, 684, 685 e pú do 686).
9 – Depósito
            Conceito: contrato pelo qual o depositário recebe objeto móvel do depositante para guardá-lo e restituí-lo quando solicitado (627). Exemplos: seu vizinho vai viajar e pede para você ligar o carro dele toda semana para não arriar a bateria, ou deixa com você a chave do apartamento para molhar as plantas; outro ex: você vai viajar e deixa seu cachorro no veterinário; mais um ex: deixar a bagagem nos maleiros do aeroporto enquanto aguarda o vôo, etc. Também se considera depósito o carro que deixamos estacionado no shopping/supermercado enquanto fazemos compras; igualmente o carro  adquirido a prazo mediante alienação fiduciária em garantia (assunto de Civil 5).  
            Não confundam o contrato de depósito com o depósito de Direito Público, que vocês vão estudar em Processo Civil (art. 148, CPC).
            Objeto: apenas móveis, não há depósito de imóveis ou de móveis fungíveis/consumíveis. Depósito de dinheiro em banco é contrato bancário  mais próximo do mútuo (645).
            A essência principal do depósito está na guarda, na custódia da coisa, de modo que, de regra, o depositário não pode usar a coisa, mas apenas guardá-la (640).  Ao término do contrato, a coisa deve ser restituída com os frutos (ex: a cadela deixada no veterinário deu cria durante o depósito, 629). O depositário deve devolver a coisa imediatamente, o que é até vantajoso para o depositário já que não pode usá-la, então quanto mais cedo devolver melhor, se livrando da responsabilidade (633 – é o inverso do comodato no 581, pois o depósito beneficia o depositante enquanto o comodato beneficia o comodatário).  Se a coisa perecer o prejuízo é do depositante (642).
            Obrigações das partes: ao depositário cabe guardar, conservar e restituir a coisa quando solicitado. Ao depositante cabe pagar a remuneração do depositário que pode exercer direito de retenção  (643, 644). Se devidamente pago o depositário não devolver a coisa pode ser preso por até um ano (652). Mas a jurisprudência sepultou essa previsão legão de prisão civil, pelo que não há mais prisão no direito contratual, e a única prisão civil que subsiste em nosso sistema é a do devedor de alimentos no Direito de Família.
Prisão Civil: esta prisão do devedor é única no Direito Patrimonial, pois a outra prisão civil decorre do Direito de Família, do inadimplemento de pensão alimentícia (CF, art. 5º, LXVII). A prisão do depositário infiel não satisfaz o credor/depositante, que vai exigir perdas e danos, contudo serve para coagir o devedor a apresentar o bem. Tal prisão é cumprida no mesmo presídio dos criminosos, só que é decretada pelo Juiz Cível. 
            Características do depósito: é contrato unilateral e gratuito (ex: favor de amigo, como o depósito do vizinho que pede para ligar o carro/molhar as plantas), ou bilateral e oneroso (depósito do cachorro no veterinário, da bagagem no aeroporto, 628) é real (só se perfaz com a entrega da coisa), personalíssimo(confia-se no depositário), instantâneo (pode durar minutos enquanto fazemos compras) ou duradouro(pode durar anos como na alienação fiduciária), solene (o depósito exige forma escrita, 646) ou informal (a doutrina admite prova do depósito por testemunhas ou pelo ticket do estacionamento).
            Espécies: a) depósito voluntário: decorre do acordo entre as partes, como nos supramencionados exemplos; b) depósito necessário: é imposto pela lei nos casos do 647 (ex: 1233, 649).
Mútuo: é a cessão gratuita de coisa fungível para ser consumida e restituída em certo prazo pela sua equivalência (ex: alimentos, bebidas, ração, dinheiro, etc). É empréstimo de consumo, por isso jamais pode ter por objeto um imóvel. A coisa emprestada não é devolvida na sua individualidade, mas em coisa equivalente (586). O mutuante transfere o domínio, e não só a posse da coisa, afinal a coisa será consumida e uma coisa equivalente é que será devolvida pelo mutuário (587).As características são as mesmas do comodato, com uma ressalva: o mútuo de dinheiro em geral é oneroso já que o mutuário deve pagar juros ao mutuante, é o chamado mútuo feneratício (591 – este artigo limita os juros a um por cento ao mês, mas se trata de letra morta já que o Direito não manda na Economia, e quem deve fixar juros é o mercado, é a convenção entre as partes, é a lei da oferta e da procura, porém não a lei). O juro é o proveito tirado do dinheiro emprestado como o aluguel é o preço correspondente ao uso da coisa locada. 
Empréstimo: É gênero de duas espécies: comodato e mútuo, só que este é o empréstimo de consumo (ex: alimentos, dinheiro, etc) enquanto o comodato é o empréstimo de uso (ex: casa, carro, livro, roupa, etc).
Comodato: etimologicamente é a soma das palavras “commodum” + “datum”, então o comodato é celebrado para dar comodidade a alguém.
Conceito: é a cessão gratuita de coisa infungível, móvel ou imóvel, para
ser usada e devolvida em certo prazo (579).  
Destaquem no conceito:
- cessão: o comodato transfere a posse de uma coisa que será usada e devolvida em si, ou seja, é a própria coisa emprestada que se devolve ao comodante.
- gratuita: o comodato é uma liberalidade, é gratuito, pois empréstimo oneroso equivale à locação. Porém as despesas com o uso da coisa são por conta do beneficiário/comodatário (584, ex:  A empresta o carro/apartamento a B, então as despesas de gasolina/condomínio/luz são por conta de B).  Por ser gratuito, tutor não deve celebrar comodato dos bens do menor, idem governante em relação aos bens públicos (580).
- coisa infungível: a coisa dada em comodato é infungível, ou melhor, é inconsumível, não se destruindo pelo uso normal; empréstimo de coisa consumível chama-se mútuo, que veremos daqui a pouco.
- temporariedade: a coisa emprestada tem que ser devolvida, caso contrário teremos doação e não comodato (581).  Se findo o prazo acertado o comodatário se recusar a devolver, o comodante poderá cobrar aluguel, além de perdas e danos (582, in fine). 
Se a coisa perecer sem culpa nas mãos do comodatário (ex: roubo, incêndio, enchente, etc) o prejuízo será do comodante tendo em vista o res perit domino (238 a 242), mas o comodatário deve usar e conservar a coisa com cautela (582, 1ª parte).Características: é contrato unilateral (só cria obrigação para  o comodatário, que é a de conservar e devolver a coisa, porém existe uma pequena obrigação para o comodante, que é a de respeitar o prazoconvencionado, 581; entregar a coisa não é obrigação do comodante, pois se trata de contrato real, 579, in fine), gratuito (para diferenciar da locação onerosa), real (só se perfaz com a entrega da coisa; além do consenso exige a entrega da coisa, de modo que a desistência do comodante antes da entrega da coisa não dá direito a protesto por parte do comodatário), informal (pode ser verbal), duradouro (o comodato de uma casa pode durar meses e anos, ex: pai que empresta um apartamento para a filha que se casou) epersonalíssimo (em geral é feito por amizade, então se leva em conta as qualidades do comodatário, não se transmitindo a seus filhos). Benfeitorias: se A empresta uma casa a B que realiza benfeitorias na casa, pode B exigir indenização de A ou exercer direito de retenção? A resposta é a mesma da locação: vai depender da espécie de benfeitoria (96). Então a benfeitoria voluptuária (ex: uma estátua, uma fonte no jardim) nunca se indeniza, e o comodatário pode retirá-la. A benfeitoria necessária (ex: goteira, parede rachada ameaçando cair, etc) indeniza sempre e a benfeitoria útil (ex: plantar árvores, construir uma piscina, cobrir a garagem) só se indeniza se feita com expressa autorização do comodante (578 e 1.219) Lembrem-se que, havendo dúvida na interpretação do contrato, deve-se beneficiar o comodante (114).   
Locação
            É o contrato mais usado na sociedade depois da compra e venda. Hoje em dia alugam-se carros, casas, quartos, apartamentos, roupas, vestidos de noiva, filmes, fazendas, cadeiras de rodas, muletas, etc.
            A locação possui três espécies, já conhecidas dos romanos: locatio rei (locação de coisa), locatiooperarum (locação de serviço) e locatio operis (locação de obra).  Atualmente, só a primeira espécie conserva o nome de locação, e as demais são conhecidas, respectivamente, como prestação de serviço eempreitada.
            O contrato de empreitada veremos em breve, e o contrato de prestação de serviço não está no nosso programa. Acredito que será estudado no Direito do Trabalho, tendo em vista o art. 114, I, VI e IX da CF, com  a alteração da Emenda 45, de 2004, que passou para a Justiça do Trabalho o julgamento de toda lide decorrente de relação de trabalho, seja entre patrão e empregado, seja decorrente de prestação de serviço (593, 594). Apenas exemplificando, os prestadores de serviço são os profissionais liberais como os advogados, médicos, psicólogos, dentistas, engenheiros, arquitetos, etc., ou seja, aqueles trabalhadores quenão possuem subordinação hierárquica a seus patrões, quais sejam, os clientes e pacientes.   Aguardem mais detalhes sobre prestação de serviço no Direito do Trabalho e sobre empreitada na próxima aula.
            Vamos hoje nos concentrar na locatio rei ou simplesmente locação: é o contrato pelo qual o locador se obriga a conceder ao locatário, temporariamente, o uso e gozo de coisa infungível mediante certa retribuição (565). Destaquem no conceito:
            - se obriga: contrato gera obrigação, então se o locador se recusa a entregar a coisa mesmo pago o aluguel, resolve-se em perdas e danos, não podendo o locatário ocupar a coisa, pois não dispõe de ação real, apenas ação pessoal/obrigacional contra o locador inadimplente. Tanto não dispõe de ação real que, via de regra, se a coisa for vendida durante o contrato, o novo dono não precisará respeitar a locação, e o locatário terá que sair e exigir perdas e danos do locador (576).  
            - temporariamente: locação é temporária; a coisa se transfere ao locatário por certo tempo e depois retorna às mãos do locador. Na compra e venda, ou na doação, a coisa se transfere em definitivo ao comprador e ao donatário, mas na locação não. Na locação se transfere posse, que é temporária, enquanto na doação e compra e venda se transfere propriedade, que é permanente. O locatário de uma casa, de uma roupa, de um filme, etc., tem posse, não tem propriedade.   Como o que se transfere é a posse, o locador não precisa ser dono da coisa, assim o usufrutuário pode alugar (1.393), o inventariante também (1.991), e o próprio locatário pode sublocar. A sublocação é a locação do bem pelo locatário a um terceiro (ex: A aluga uma casa a B que subloca a C).
 - uso e gozo: o que se transfere na locação é a posse da coisa, é o uso e a fruição (sinônimo de gozo). O locatário pode assim usar a coisa para o fim a que ela se destina, mas não pode vendê-la, reformá-la, ou destruí-la, pois isso só o dono pode fazer.   Mais detalhes sobre posse, uso e fruição em Direitos Reais.
            - coisa infungível: a coisa locada é infungível, ou melhor, é inconsumível pelo simples uso. Findo o contrato, a própria coisa locada  é que retorna às mãos do locador, e não uma coisa semelhante. Comida, energia, gás, gasolina, etc., não podem ser objeto de locação,  pois elas se destroem pelo simples uso.
            - retribuição: se o locador tem a obrigação de ceder a coisa, o locatário tem a obrigação de pagar uma retribuição que se chama aluguel. Este aluguel geralmente é em dinheiro, mas pode ser em colheitas, animais, pedras preciosas, serviços, etc.  O aluguel é pago periodicamente por diária, semana ou mês.
             Legislação: as normas sobre o contrato de locação são muito extensas e variadas, inclusive há livros e profissionais especializados apenas neste contrato, tamanha a sua complexidade. Além do Código Civil, há outras leis importantes como a Lei 8.245/91, que dispõe sobre a locação de imóvel urbano, seja residencial ou comercial. Ressalto que nas locações de imóveis urbanos residenciais o locatário é chamado de inquilino. A locação de imóveis rurais é conhecida como arrendamento, nos termos do Estatuto da Terra (Lei 4.504/64). A locação de imóveis da União é regulada pelo Decreto-Lei 9.760/46.
            Como vimos no começo do semestre, o inquilino se beneficia do dirigismo contratual, que é a proteção da lei diante de sua inferioridade econômica perante o locador, porém tal benefício vem diminuindo até para  incentivar os proprietários a ofertarem seus imóveis à locação.
            Características da locação: é bilateral, pois ambas as partes têm direitos e deveres; é onerosa, pois ambas as partes têm vantagem patrimonial (locação gratuita se confunde com empréstimo); é comutativapois as vantagens são equivalentes, ou seja, ao desgaste da coisa locada corresponde o preço recebido como aluguel; é consensual, pois a locação pode ser verbal (não é solene) e se forma
pelo acordo de vontades (não é real, já existindo contrato antes mesmo da entrega da coisa); é impessoal (não é personalíssima) pois se transfere aos herdeiros (577); finalmente, é contrato duradouro, subsistindo por dias, semanas, meses e até anos (obs: uma locação por décadas ou por toda uma vida não é razoável; para passar tanto tempo assim com a coisa, é melhor adquirir sua superfície ou sua propriedade, assuntos de Direitos Reais).
            Obrigações das partes: as do locador estão nos arts. 566, 567, 568 e 571,  e as do locatário nos arts. 569, 570 e 571.
            Sanções: caso as partes descumpram suas obrigações, a lei prevê sanções que variam conforme a gravidade da conduta, sendo admissível a alteração no valor do aluguel, o pagamento de indenizações, o despejo e o aumento das garantias contratuais (ex: exigir um fiador para o inquilino que sempre atrasa o pagamento do aluguel).   
            Direito de retenção: é direito do locatário de não devolver a coisa alugada enquanto não receber indenização  do locador por força da lei ou do contrato (ex: se o inquilino conserta as goteiras da casa tem direito à indenização por se tratar de benfeitoria necessária, mas as benfeitorias úteis e voluptuárias não ensejam indenização e nem retenção, 578; depois revisem benfeitoria do art. 96. Outro ex: o locador exige o bem antes do prazo acertado, deve então compensar o locatário por quebra de contrato, cabendo  ao locatário reter a coisa enquanto não for indenizado, pú do 571).
Doação: é contrato tão antigo quanto a troca, ambos mais antigos do que a compra e venda. Conceito doutrinário: contrato pelo qual uma das partes, chamada doador, se obriga a transferir gratuitamente um bem de sua propriedade para outra pessoa, chamado donatário, que enriquece se aceitar a doação, enquanto o doador empobrece. Conceito  legal: 538. 
Comentários ao conceito:
- gratuidade: a diferença essencial para a compra e venda é porque na doação a circulação do bem de uma pessoa para outra é gratuita, enquanto na CeV existe o pagamento do preço como contraprestação. Em geral o doador age por pura liberalidade/generosidade, tanto que alguns autores afirmam que donareest perdere ( = doar é perder). Mas será mesmo?  Há outros autores que discordam e entendem que o doador “satisfaz sua vaidade, recebe honrarias e alcança prestígio” (ex: doação para o Hospital do Câncer). Reflitam, pois mesmo na doação de uma pequena quantia para o porteiro do edifício, o donatário pode estar interessado numa ajuda com as compras, na lavagem do carro, etc. Por isso, por trás de todo contrato, mesmo gratuito, pode existir um interesse econômico, afinal é comum ouvir neste mundomaterialista/consumista que “ninguém faz nada de graça”. Doando é que se ganha! Inclusive a oração de São Francisco foi deturpada e na política moderna o “é dando que se recebe” tem uma conotação pejorativa. Reflitam!
- gera obrigação: a doação, como a compra e venda, por si só, não transfere propriedade. Já sabemos que é necessário a tradição e o registro para completar o contrato. Para imóveis ambas exigem escritura pública com autorização do cônjuge do doador. E a doação, por ser gratuita, ainda exige por segurança a formalidade do contrato escrito para móveis, diferente da compra e venda de móveis que pode ser verbal (541 e pú). 
- o bem: o objeto da obrigação de dar do doador tem que ser lícito e pertencer ao doador, afinal não se pode doar coisa alheia. Tal coisa precisa estar presente. A doação de coisa futura é válida, mas não com o nome de doação, e sim como um contrato atípico. A doação é essencialmente espontânea/natural, por isso que não se pode celebrar promessa de doação de coisa futura. Além de coisas, direitos também podem ser doados (ex: um direito de crédito consubstanciado num cheque).
- aceitação: como todo contrato, exige acordo de vontades, então o donatário precisa aceitar a liberalidade. Tratando-se de contrato gratuito, em geral o donatário aceita, mas não pode ser imposto (539 – admite aceitação tácita, revisem formação do contrato na aula 3). Não se pode impor a doação até porque, por uma questão de ética ou de vaidade, para evitar cobranças futuras, há situações em que o donatário deve se recusar a aceitar (ex: Juiz recusar um carro de um advogado).  O incapaz pode aceitar (542, 543, ex: dar presente a uma criança). Nas doações modais/com encargo (ex: doação de uma fazenda com o ônus de construir uma escola para as crianças da região) não se admite aceitação tácita, e nem pode ser feita a incapaz.
- inter vivos: doação é negócio inter vivos; a doação mortis causa é a herança e o legado que veremos em Civil 7.
Elementos da doação: objetivo: é o empobrecimento do doador e o enriquecimento do donatário;subjetivo: é o animus donandi ( = intenção de doar), é a vontade do doador de praticar uma generosidade, então jogar uma roupa velha no lixo não é doação mas abandono (obs: abandono difere de renúncia, depois acessem a aula 12 de Direitos Reais – Civil 4). No empréstimo também não há animus donandi, pois quem empresta espera receber de volta. Difícil às vezes é saber quando é empréstimo ou doação (ex: um vizinho deixa na sua casa um livro para você, será que ele doou? Ou apenas está emprestando para você ler?).
Observações sobre doação:
- a coisa doada, caso possua algum defeito, não fica sujeita a evicção (defeitos jurídicos) ou vícios redibitórios (defeitos materiais), pois já sabemos que tais institutos só se aplicam aos contratos de efeitos bilaterais. Faz sentido, afinal ganhar uma coisa, mesmo com defeito, pode ser vantajoso.  Porém se a doação foi onerosa/com encargo, admitem-se a evicção e os vícios redibitórios (pú do 441).
- pessoa em dificuldades financeiras, ou seja, insolvente, com muitas dívidas, não pode doar seus bens para não prejudicar os credores. Caso o faça tal doação será anulável por se tratar de fraude contra os credores. Há uma presunção absoluta (mais do que relativa) de que aquele que faz doação em estado de insolvência está fraudando seus credores (158).
Características: é contrato de efeito unilateral, com direito só para o donatário de exigir a coisa, e obrigação só para o doador de entregar a coisa; é solene para os imóveis e móveis pois exige forma escrita; para os móveis de pequeno valor pode ser verbal/informal, porém só se perfaz com a entrega da casa, sendo assim contrato real.  É gratuito pois só o donatário tem proveito econômico, porém admite-se doação onerosa quando existe um encargo/ônus/proveito/vantagem   ( = pequena contraprestação) em favor do doador nas doações modais (ex:  dou um terreno para ser construída uma escola com o ônus de colocar meu nome no estabelecimento).
Espécies de doação:
            a) doação pura: é aquela simples, de plena liberalidade/generosidade, sem nenhuma exigência, motivação, limitação, condição ou encargo. É a doação mais comum.
            b) doação condicional: fica subordinada a evento futuro e incerto (121), ex: darei uma casa a minha filha se ela se casar, darei um carro a meu filho se ele passar no vestibular. Nem todo mundo se casa ou faz faculdade, por isso são eventos incertos.
            c) doação a prazo ou a termo: subordina-se a evento futuro e certo, ex: darei um carro a meu filho quando fizer 21 anos. Completar 21 anos é uma certeza para todas as pessoas, só depende do inexorável passar do tempo. Salvo se a pessoa morrer, mas aí aplica-se o princípio mors omnia solvit (= a morte tudo termina).
            d) doação modal: sujeita-se a encargo. Encargo é um ônus imposto nas liberalidades, seja uma doação, seja um testamento. Doação modal é doação onerosa pois existe uma obrigação/incumbência por parte do donatário, mas é uma pequena contraprestação para não descaracterizar a doação (ex: dôo uma fazenda com o ônus de construir uma escola para os filhos dos trabalhadores; dôo um carro com o ônus de fazer feira toda semana, etc.). Se o encargo for grande, não teremos doação, mas troca ou outro contrato bilateral qualquer. O donatário
que não executa o encargo perde a doação (553, 555 e 562). Se o encargo for de interesse coletivo o Ministério Público pode entrar na Justiça contra o donatário, se o doador não o fizer (pú do 553; obs: este é um dos poucos casos de participação do Ministério Público no Direito Patrimonial, afinal o Ministério é público e o Direito Civil é privado). A doação modal pode se confundir com a condicional se considerarmos que passar no vestibular ou se casar seja um ônus, reflitam!
            e) doação em fraude contra credor: existe presunção absoluta de fraude quando o insolvente doa seus bens. Quem está em dificuldades financeiras não pode fazer doação para não prejudicar seus credores (158).
            f) doação ilegítima: é feita a donatário sem legitimidade (= autorização) para receber doação, ex: 550. O tutor também não tem legitimidade para doar bens do órfão que ele cuida, nem com ordem judicial (1749, II).
            g) doação a incapaz: pode ser feita doação a incapaz se for pura (542 e 543, ex: dar presente a uma criança).
            h) doação remuneratória: é feita por gratidão, para retribuir um favor, por reconhecimento (ex: médico amigo que lhe opera e não cobra nada, depois ganha um carro). A doação remuneratória não fica sujeita a revogação por ingratidão, que explicaremos abaixo (564, I). Admite-se que o cônjuge possa doar bens móveis do casal sem outorga uxória se a doação for remuneratória (1647, IV). Bem imóvel não pode ser doado sem outorga uxória, mesmo na doação remuneratória (1647, I). A doação remuneratória não se sujeita a colação (2011, então um filho que presta muitos serviços ao pai poderá herdar mais do que os outros, haja ciúmes!).
            i) doação inoficiosa: vai interessar ao Direito das Sucessões (Civil 7). É nula e ocorre quando o doador, tendo filhos, dá a terceiros mais da metade dos seus bens, que é mais do que se poderia dispor em testamento (549).  Mais detalhes em Civil 7 (art. 1846 e no § 1º do art. 1857). Obs: um pai pode vender todos seus bens, afinal a venda é uma troca, mas não pode doar para não ficar na miséria e para não fraudar a legítima dos seus filhos, violando princípios de Direito das Sucessões.
            j) doação com cláusula de reversão: cláusula expressa onde o doador determina que caso o donatário morra primeiro do que ele, os bens retornarão ao patrimônio do doador, ao invés de seguirem para os filhos do donatário. Nesta espécie de doação, a propriedade do donatário é resolúvel, ou seja, não é plena, podendo ser resolvida (= extinta) caso o donatário morra antes do doador. Morrendo o doador primeiro, a propriedade torna-se plena para o donatário (547).
            k) doação em adiantamento de legítima: ocorre quando o pai doa um bem ao filho como antecipação de herança (544, 2018). Alguns autores criticam essa doação por se tratar de um pacta corvinavedado pelo art. 426, afinal o filho sempre pode morrer antes do pai.
            l) doação universal: é proibida pelo art 548, já que ficando o doador na miséria vai sobrecarregar os serviços assistenciais do Estado.
            m) doação sob subvenção periódica: ocorre quando o doador constitui uma renda (ex: mesada) em favor do donatário (545). Essa renda é personalíssima, e nem a obrigação se transmite aos filhos do doador, e nem o benefício aos filhos do donatário.
            n) doação conjuntiva: é feita a mais de uma pessoa, distribuindo-se em geral por igual (551, ex: se João doa um barco a José e Maria presume-se que foi 50% para cada um, mas o doador pode estipular uma fração maior para um ou outro donatário).
            o) doação em contemplação de casamento futuro: é uma doação condicional, ou seja, fica sujeita ao casamento entre certas pessoas. A aceitação do casal ao contrato de doação vem com o matrimônio (546).
            p) doação merecimento: é feita em contemplação do merecimento de alguém, quando o doador dá os motivos da doação (ex: dôo um caminhão bombeiro ao fazendeiro José porque ele é um ambientalista e protegerá suas florestas de incêndios; dôo minha biblioteca ao aluno João porque ele é estudioso e gosta de ler, etc).
 
Revogação da doação:  a doação é um favor, é uma generosidade, é um benefício, é uma liberalidade, e por isto não se aceita que o donatário seja ingrato com o doador. A moral e a lei exigem que o donatário respeite o doador, sob pena de revogação da doação por ingratidão (arts. 555 e 557). Gratidão é assim obrigação de não-fazer do donatário, que deve se abster de praticar condutas que revelem desapreço pelo doador e seus filhos (558). 
Estes motivos são exaustivos/taxativos, não são exemplificativos, não havendo outros casos de ingratidão que autorizam a revogação além destes previstos no código. Tomando o doador conhecimento destas condutas, deve processar o donatário no prazo de um ano para recuperar a coisa doada (559). 
O direito de revogar é irrenunciável, pode porém não ser exercido (556). 
A revogação não atinge terceiros, de modo que se o doador tiver alienado a coisa doada, o terceiro adquirente não será prejudicado, pois não há ação real sobre a coisa. Deverá sim  o donatário indenizar o doador pelo equivalente, ou seja, poderá o doador mover apenas ação pessoal contra o donatário. Igualmente, em se tratando, por exemplo, de uma fazenda doada, a revogação da doação não obrigará o donatário a devolver os frutos (ex: colheitas, crias dos animais, etc), apenas a fazenda em si (563). 
O direito de revogação da doação é personalíssimo,  só o doador pode exercê-lo (560), salvo se ele tiver sido morto pelo donatário, hipótese em que seus herdeiros poderão processar o donatário (561).  Não se exige gratidão dos herdeiros do donatário, apenas deste. Há espécies de doação que não se revogam por ingratidão, previstas no art. 564. A doação feita para determinado casamento não se revoga para não prejudicar o cônjuge inocente.

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