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CARREIRAS JURÍDICAS - INTENSIVO II – Direito Penal – Rogério Sanches Material anotado pelo monitor Adrian Franqueller 1 CARREIRAS JURÍDICAS - INTENSIVO II Disciplina: Direito Penal Prof. Rogério Sanches Aula Nº 18 MATERIAL DE APOIO – MONITORIA Índice I. Anotações da Aula II. Jurisprudência Correlata 2.1. STJ - HC 154336 / DF 2.2. STF – ARE 705620 AgR / DF III. Simulados I. ANOTAÇÕES DA AULA Continuação de figuras equiparadas (art. 171, §2°, VI) Art. 171 do CP - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: § 2º - Nas mesmas penas incorre quem: Fraude no pagamento por meio de cheque VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento. A fraude ela se bifurca em: a) Emissão de cheque sem provisão de fundos b) Frustração de seu pagamento (exemplo: emitir cheque e, em seguida, encerrar a conta para evitar seu pagamento). Obs. nessas duas hipóteses é imprescindível a má-fé (Súmula 246 do STF) Sujeitos do crime a) Ativo: é o emitente do cheque. O endossante pode configurar como sujeito ativo? Temos duas correntes 1ª Corrente: o endossante não emite o cheque, não podendo figurar como autor, mas somente como partícipe (NUCCI). 2ª Corrente: o endossante pode figurar como autor, pois a expressão "emitir" deve ser tomada no seu sentido amplo, punindo-se a conduta de quem endossa sabendo das características do titulo. (NORONHA) CARREIRAS JURÍDICAS - INTENSIVO II – Direito Penal – Rogério Sanches Material anotado pelo monitor Adrian Franqueller 2 b) Passivo: é qualquer pessoa Conduta Emissão de cheque pós-datado configura o crime? A emissão de cheque pós-datado sem posterior fundo não configura o crime, pois tal prática desnatura o cheque, deixando de ser ordem de pagamento à vista, devendo ser tratado com as características da nota promissória. Atenção: se no momento da emissão do cheque pós-datado o agente age com má-fé, temos a fraude, configurando o estelionato do "caput". Vamos comparar as duas modalidades � Emitir o cheque sem fundo o Lembra da súmula 554 do STF, que trabalha com a reparação do dano antes do recebimento da inicial, o arrependimento posterior extingue a punibilidade (não se aplicando o art. 16 do CP). Essa súmula só se refere ao “emitir o cheque sem fundo”. o A Súmula 521 do STF e a Súmula 244 do STJ, se referem a competência que é o local da recusa do pagamento (não do local da fraude, vantagem ou prejuízo). Essas súmulas só se referem a “emitir cheque sem fundo” � Frustrar o pagamento o Atenção: apesar de a súmula 554 do STF não fazer referência ao comportamento de frustrar o pagamento não existe motivo para a emissão. o Atenção: a mesma observação feita em relação a Súmula 554 do STF deve ser aqui repetida. Cuidado: a conduta do agente que falsifica a assinatura de cheque não se enquadra no art. 171, §2°, VI, mas no "caput", não incidindo as Súmulas 521 e 554 ambas do STF. Suponhamos dois comportamentos a) Primeiro comportamento a. Cheque sem fundo b. O agente repara o dano antes do recebimento da inicial c. Caracteriza o comportamento do art. 171, §2°, VI. A reparação do dano ocorre a extinção da punibilidade (Súmula 554 do STF) b) Segundo momento a. Emitir cheque falsificado b. O agente repara o dano antes do recebimento da inicial c. Caracteriza o art. 171, “caput”. A reparação do dano ocorre a arrependimento posterior (art. 16 do CP). CARREIRAS JURÍDICAS - INTENSIVO II – Direito Penal – Rogério Sanches Material anotado pelo monitor Adrian Franqueller 3 Art. 171, §3° do CP – majorante de pena. § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência. Atenção para a Súmula 24 do STJ: Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima entidade autárquica da Previdência Social, a qualificadora do § 3º do Art. 171 do Código Penal. Estelionato previdenciário a) Fraude praticada pelo servidor, o crime é instantâneo de efeitos permanentes. b) Fraude praticada pelo próprio beneficiário, o crime é permanente c) Cuidado: a natureza jurídica interfere no momento da consumação, prisão em flagrante e lei penal no tempo (Súmula 711 do STF). Receptação Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) Admite a suspensão condicional do processo. O flagrante não pode ser convertido em preventiva para o agente primário. O bem jurídico tutelado na receptação é o patrimônio. Observação, Noronha ensina que além do patrimônio tutela-se a Administração da justiça. Sujeitos do crime Ativo: qualquer pessoa (crime comum) Cuidado: não figura como sujeito ativo o concorrente (autor ou partícipe) do crime antecedente. É possível receptação de coisa própria? Não é possível a receptação de coisa própria, salvo se for estiver na posse legítima de terceiro Passivo: A mesma vítima do crime antecedente Conduta do crime Receptação própria – art. 180, caput, 1ª parte. Receptação imprópria – art. 180, caput, 2ª parte. CARREIRAS JURÍDICAS - INTENSIVO II – Direito Penal – Rogério Sanches Material anotado pelo monitor Adrian Franqueller 4 É imprescindível o ajuste entre autor do crime anterior e o receptador? O ajuste é dispensável, lembrando o exemplo do receptador que se apodera de objeto dispensado pelo ladrão em fuga, sabendo tratar-se de produto de crime. Toda receptação se dá por título injusto? Nem sempre a receptação se dá por título injusto, bastando lembrar comerciante que vende mercadoria em troca de produto de origem criminosa; advogado que recebe como honorário, coisa que sabe ser produto de crime. Receptação própria/imprópria: observações comuns Obs.1: nos dois casos é imprescindível a existência de crime precedente. (“coisa produto de crime”) não abrange contravenção penal por ser analogia “in mallan partem”. No tocante a ato infracional temos duas correntes: a) 1ª Corrente: não abrange por ser analogia “in mallan partem” b) 2ª Corrente: abrange ato infracional, pois é crime praticado por menor infrator. Esse crime é necessariamente contra o patrimônio? Resposta, não necessariamente é contra o patrimônio, lembrando a doutrina a possibilidade de receptação de coisa produto de peculato (crime contra a Administração Pública). Obs.2: discute-se na doutrina se é possível à receptação de coisa imóvel 1ª Corrente: a lei não restringe objeto material do crime, podendo ser coisa móvel ou imóvel (Fragoso) 2ª Corrente: o crime de receptação pressupõe deslocamento do objeto material, só podendo ser coisa móvel. (Hungria) e o STF conforme HC 57710 / SP - SÃO PAULO, 16/05/1980. Não importa seja a coisa genuína, transformada ou alterada o crime de receptação persiste. Voluntariedade A título de dolo. Abrange o dolo eventual? Lembrando-se da expressão “coisa que sabe ser produto crime”. Temos duas correntes: 1ª Corrente: essa expressão abrange dolo direto e o dolo eventual 2ª Corrente: essa expressão abrange somenteo dolo direto não abrange o dolo eventual. Essa corrente é a que prevalece. Diferença entre receptação (art. 180 do CP) e o crime de favorecimento real (art. 349 do CP) Ex. Fulano oculta o carro subtraído por beltrano. � Para receptação: se fulano ocultou para si ou para outrem (pessoa diversa do autor do crime antecedente) temos o crime de receptação � Para favorecimento: se fulano ocultou para auxiliar beltrano, temos favorecimento real. CARREIRAS JURÍDICAS - INTENSIVO II – Direito Penal – Rogério Sanches Material anotado pelo monitor Adrian Franqueller 5 Consumação � Receptação própria: Consuma-se com a prática de qualquer dos núcleos. Tem núcleos indicando crime permanente. (transportar, conduzir e ocultar). Admite a tentativa. � Receptação imprópria: Consuma-se com o ato de influir terceiro de boa-fé. A maioria da doutrina não admite a tentativa (minoria admite possível na forma escrita). Observação importante: O STJ reconheceu atípica a receptação de folhas de cheque por não possuir valor econômico intrínseco (HC 154.336/DF) Receptação qualificada Art. 180, § 1º do CP - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) Não admite suspensão condicional do processo, é possível a conversão do flagrante em preventiva, mesmo para o agente primário. Sujeitos Ativo: pessoa na atividade comercial ou industrial. Abrange o comerciante de fato ou o irregular? Sim conforme o §2° desse crime (art. 180 do CP) § 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência. Passivo: mesmo do crime anterior Conduta Receptação no exercício de atividade comercial ou industrial Atenção: para configurar receptação qualificada é imprescindível nexo entre a coisa receptada e a atividade desempenhada pelo receptador. Voluntariedade Punição a título de dolo. Abrange qual dolo, direto e eventual? � Art. 180 “Caput” do CP o “coisa que sabe” o Dolo direto o Pena de 1 a 4 anos CARREIRAS JURÍDICAS - INTENSIVO II – Direito Penal – Rogério Sanches Material anotado pelo monitor Adrian Franqueller 6 � Art. 180, §1° do CP o “coisa que deve saber” o Dolo? � 1ª Corrente: só abrange o dolo eventual (dolo direto está no caput), essa corrente diz que a pena do art. 180, §1° do CP é inconstitucional. Aplicando-se aqui também a pena de 1 a 4 anos. � 2ª Corrente: Abrange dolo direto e dolo eventual o Pena de 3 a 8 anos. Receptação culposa (art. 180, §3° do CP) § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) A infração penal é de menor potencial ofensivo. O tipo pene 3 condutas (alternativas) negligentes; 1ª Conduta: coisa que, por sua natureza. 2ª Conduta: pela desproporção entre o valor e o preço 3ª conduta: condição de quem a oferece Art. 180 § 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) Benefícios Art. 180 § 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996) � Benefício para a receptação culposa o Perdão judicial o Requisitos: � Primariedade do agente � Culpa levíssima Atenção: não importa o valor da coisa � Benefício para a receptação dolosa o Privilégio CARREIRAS JURÍDICAS - INTENSIVO II – Direito Penal – Rogério Sanches Material anotado pelo monitor Adrian Franqueller 7 o Requisitos � Primariedade do agente � Pequeno valor da coisa Atenção: abrange a receptação qualificada Majorante de pena Art. 180 § 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no caput deste artigo aplica-se em dobro. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996) Obs. tem doutrina etiquetando o §6° do art. 180 como qualificadora Observações 1. A majorante só incide no “caput” e não no §1° do art. 180 do CP 2. O §6° do art. 180 não se refere ao Distrito Federal E se a receptação ocorrer sobre bens de Empresa pública? O STF no HC 105.452/RS entendeu cabível o aumento de pena. Crimes contra o patrimônio: disposições gerais (artigos 181 a 183 CP) Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003) I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. Imunidade patrimonial absoluta (escusa absolutótia) 1ª Corrente: natureza jurídica: extinção da punibilidade 2ª Corrente: natureza jurídica: exclusão da punibilidade Hipóteses: crime cometido em prejuízo de: I. Cônjuge Obs. 1: abrange separação de fato Obs.2: através de analogia “in bonan partem” abrangem união estável mesmo que homoafetiva II. Ascendente ou descendente Obs.1: não abrange o irmão CARREIRAS JURÍDICAS - INTENSIVO II – Direito Penal – Rogério Sanches Material anotado pelo monitor Adrian Franqueller 8 Obs.2: não abrange demais colaterais Obs.3: não abrange os afins Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003) I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. Escusa relativa: transforma a ação penal pública incondicionada em condicionada Hipóteses: crimes cometidos em prejuízo: I. Cônjuge separado judicialmente II. Irmão III. De tio ou sobrinho com quem o agente coabita Obs.1: a imprescindível a coabitação Obs.2: o crime não precisa ocorrer no local da coabitação Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; II - ao estranho que participa do crime. III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003) Inaplicabilidade das escusas I. Roubo, extorsão ou crime cometido com violência ou grave ameaça II. Ao estranho que participa do crime III. Vítima idosa (Lei 10.741/03) Aplica-se a escusa na violência patrimonial contra a mulher no ambiente doméstico e familiar. Lembrar: art. 7°, IV da Lei 11.340/06 1ª Corrente: para Maria Berenice, os artigos 181 e 182 não são aplicáveis na hipótese, proibição implícita previstana Lei 11.340/06. CARREIRAS JURÍDICAS - INTENSIVO II – Direito Penal – Rogério Sanches Material anotado pelo monitor Adrian Franqueller 9 2ª Corrente: não havendo vedação expressa, aplica-se a escusa aos casos de violência familiar contra a mulher. TÍTULO VI DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL Obs.1: cuidado com o disposto no art.111, V do CP (introduzindo pela Lei 12.650/12) Obs.2: o Dec. 7.958 de março de 2013 estabelece diretrizes para o atendimento às vítimas de violência sexual por profissionais de segurança pública e saúde. Obs.3: o art. 59 do estatuto do índio majora a pena no caso de vítima índio não integrado. Tema da próxima aula: continuar crimes contra a dignidade sexual II. JURISPRUDÊNCIA CORRELATA 2.1. STJ - HC 154336 / DF HABEAS CORPUS. PENAL. NEGATIVA DA AUTORIA DELITIVA. VIA IMPRÓPRIA. REEXAME DE PROVAS. RECEPTAÇÃO. TALONÁRIO DE CHEQUES. CRIME NÃO CONFIGURADO. PRECEDENTES. ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESSA PARTE, CONCEDIDA. 1. A angusta via do habeas corpus não admite incursão na seara fático-probatória dos autos para o fim de rever elementos que digam respeito a autoria delitiva de crime. 2. O talonário de cheque não possui valor econômico intrínseco, logo não pode ser objeto do crime de receptação. Precedentes. 3. Ordem parcialmente conhecida e, nessa parte, concedida a fim de, reconhecendo a atipicidade da conduta, absolver o Paciente em relação ao crime de receptação de folhas de cheques, nos termos do art. 386, inciso III, do Código de Processo Penal. (HC 154336/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 20/10/2011, DJe 03/11/2011) 2.2. STF – ARE 705620 AgR / DF Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PENAL. ART. 180, § 1º, DO CÓDIGO PENAL. RECEPTAÇÃO QUALIFICADA. MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. A REPERCUSSÃO GERAL NÃO DISPENSA O PREENCHIMENTO DOS DEMAIS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS. ART. 323 DO RISTF C.C. ART. 102, III, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 5º, LVII, DA CARTA FEDERAL. OFENSA REFLEXA. REEXAME DE PROVA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 279/STF. DECISÃO QUE SE MANTÉM POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. 1. A repercussão geral pressupõe recurso admissível sob o crivo dos demais requisitos constitucionais e processuais de admissibilidade (art. 323 do RISTF). Consectariamente, se o recurso é inadmissível por outro motivo, não há como se pretender seja reconhecida a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso (art. 102, III, § 3º, da CF). 2. A violação reflexa e oblíqua da Constituição Federal decorrente da necessidade de análise de malferimento de dispositivo infraconstitucional torna inadmissível o recurso extraordinário. Precedentes: AI 775.275-AgR, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, DJ 28.10.2011 e AI 595.651-AgR, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, DJ 25.10.2011. 3. A Súmula 279/STF dispõe, verbis: Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário. 4. É que o recurso extraordinário não se presta ao exame de questões que demandam revolvimento do contexto fático-probatório dos autos, adstringindo-se à análise da violação direta da ordem constitucional. 5. In casu, o acórdão objeto do recurso extraordinário assentou: APELAÇÃO RECEPTAÇÃO QUALIFICADA ART. 180, § 1º, DO CÓDIGO PENAL CONDENAÇÃO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS INCABÍVEL A ABSOLVIÇÃO POR AUSÊNCIA DE PROVAS PENA-BASE DO APELANTE QUE NÃO MERECE REPAROS, FIXADA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL DIANTE DE SEUS MAUS ANTECEDENTES E SUA PERSONALIDADE DESVIRTUADA CONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 180, § 1º, DO CÓDIGO PENAL. Apelante condenado a 04 (quatro) anos e 06 (seis) meses de reclusão, em regime semi-aberto, e 40 dias-multa. Impossibilidade de absolvição, já que a prova do dolo passa pela análise de todos os dados relevantes do processo, principalmente por ser a receptação um crime cuja prática costuma ser especialmente dissimulada. Quanto à dosimetria da pena, não CARREIRAS JURÍDICAS - INTENSIVO II – Direito Penal – Rogério Sanches Material anotado pelo monitor Adrian Franqueller 10 há qualquer reparo a ser feito na sentença, pois a fixação da pena-base acima do mínimo legal atende aos ditames legais, em razão da personalidade do apelante, que ostenta em sua FAC duas anotações. As anotações constantes da folha penal do réu, podem sim ser consideradas como maus antecedentes. Com a manutenção da pena aplicada ao apelante, padece o pleito defensivo de reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva retroativa, que vai regular-se, na hipótese, pela pena concretamente aplicada e, in casu, se operaria em 12 (doze) anos, consoante artigo 109, inciso III, do Código Penal. O artigo 180, § 1º, do Estatuto Repressivo é constitucional e pode ser aplicado através da utilização da interpretação extensiva, ampliando o significado da expressão deve saber (dolo eventual), englobando também a expressão sabe (dolo direto). O comerciante ou industrial que adquire, vende, expõe a venda mercadoria que sabe ou devia saber ser de origem ilícita responde pela figura qualificada DESPROVIMENTO DO APELO. 6. Agravo regimental a que se NEGA PROVIMENTO. (ARE 705620 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 19/03/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-066 DIVULG 10-04-2013 PUBLIC 11-04-2013) III. SIMULADOS 3.1. (CESPE - 2011 - PC-ES - Escrivão de Polícia - Específicos) Cada um dos próximos itens apresenta uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada, com relação ao direito penal. Robson, motorista profissional, foi contratado por um grupo de pessoas para fazer o transporte em seu caminhão, de mercadorias que foram objeto de roubo. No início da viagem, o veículo foi interceptado e o motorista, preso pela polícia. Nessa situação, Robson praticou o crime de receptação, na modalidade de transportar coisa que sabe ser produto de crime. ( ) Certo ( ) Errado 3.2. (MPE-SP - 2010 - MPE-SP - Promotor de Justiça) Assinale a alternativa correta: a) o ato de ter em depósito, no interior da própria residência, no exercício de atividade comercial, coisa que deve saber ser produto de crime de estelionato constitui crime de receptação na modalidade dolosa do art. 180, “caput”, do Código Penal. b) o crime de receptação, nas modalidades dolosa ou culposa, pressupõe, por expressa disposição legal, a anterior prática de crime contra o patrimônio. c) no crime de receptação, a modalidade privilegiada (art. 180, § 5º, c.c. art. 155, § 2º, do CP) só pode ser reconhecida quando se tratar da figura culposa do delito. d) o crime de receptação imprópria implica necessariamente que o terceiro que adquire ou recebe a coisa esteja de boa-fé. e) o perdão judicial aplica-se à receptação culposa, mesmo na hipótese de o réu ser reincidente. 3.3. (MPE-MG - 2010 - MPE-MG - Promotor de Justiça) STELIUS ficou sabendo que seu companheiro de crimes, o famigerado LARAPIUS, iria executar oito furtos de veículos na cidade de Belo Horizonte, mas pensava em desistir do plano porque não dispunha de local para guardar os bens furtados. STELIUS ofereceu a LARAPIUS o quintal e a garagem da casa de sua propriedade, localizada em ponto estratégico na cidade de Belo Horizonte, onde poderiam ser recebidos e guardados os veículos furtados sem chamar atenção, até a efetivação da sua venda. STELIUS se dispôs a guardar os bens furtados e não exigiu receber nenhum centavo em troca, pois devia favores ao amigo LARAPIUS. Tendo local seguro para esconder os bens furtados, LARAPIUS colocou em execução o plano dos crimes. Efetivada a subtração de três veículos, os bens foram efetivamente guardados no interior da propriedade de STELIUS, sendo vendidos em data posterior, em transação efetivada por LARAPIUS, para receptadores que atuam na região. Diante do exposto, pode-seadmitir que STELIUS a) concorreu na prática de crime de furto simples. b) concorreu na prática de crime de furto qualificado. c) praticou crime de favorecimento real. d) praticou crime de favorecimento pessoal. e) praticou crime de receptação. CARREIRAS JURÍDICAS - INTENSIVO II – Direito Penal – Rogério Sanches Material anotado pelo monitor Adrian Franqueller 11 GABARITO: 3.1. Certo 3.2. D 3.3. B
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