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Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 7 A CADEIA LOGÍSTICA JIT O sétimo capítulo tem como objetivo apresentar a visão da filosofia JIT/TQC para as questões referentes ao relacionamento entre empresas participantes de uma cadeia produtiva. Em uma cadeia produtiva participam empresas clientes, fornecedoras e transportadoras. Como base para início das discussões é feita uma descrição de cadeia produtiva e dos problemas encontrados nos relacionamentos convencionais entre empresas. Em seguida são apresentados os três fatores chaves para que fornecedores e clientes operem uma cadeia logística eficiente: o desenvolvimento de fornecedores JIT, a diminuição da base de fornecedores, e a integração da produção com o fornecedor. Dentro desse último tópico são vistos vários sistemas mutuamente benéficos, como o planejamento e programação da produção conjuntos, o kanban com fornecedores, a troca eletrônica de documentos, os pedidos em aberto, etc. Completando o capítulo, a participação do transportador nesse processo de parceria é analisada. 7.1 INTRODUÇÃO A adoção da filosofia JIT/TQC pelas empresas foi o caminho encontrado para sobreviver e prosperar num mercado globalizado, cada vez mais competitivo. Essas empresas procuram ser mais eficientes do que a concorrência em custo, qualidade, desempenho de entrega e flexibilidade, e com isto, atender as necessidades dos clientes em um nível superior. Para tanto, há necessidade de buscar a eliminação de atividades que não agregam valor aos produtos, envolvendo não só todos os participantes do sistema produtivo interno, no sentido de melhorar continuamente o seu desempenho, como também buscar a simplificação e flexibilidade nas interações entre os diversos sistemas externos envolvidos na manufatura, organizando-os e facilitando suas atribuições e controles. Nesse aspecto, pode-se dizer que a filosofia JIT/TQC tem sua aplicação em dois níveis distintos: o nível interno aos sistemas produtivos das empresas e o nível de relacionamento externo entre empresas de uma cadeia produtiva. As diversas técnicas descritas até agora nesse trabalho tiveram como objetivo o sistema produtivo interno das empresas, podendo-se chamar a isso de JIT interno. Já o JIT externo pode ser entendido como a extensão da aplicação dessas técnicas para melhorar o relacionamento do sistema produtivo interno com clientes e fornecedores externos à empresa, formando uma cadeia logística JIT, conforme ilustrado na Figura 7.1. Olhando-se uma cadeia produtiva do ponto de vista da empresa produtora, como na Figura 7.1, pode-se identificar de uma forma genérica quatro sistemas interligados: o sistema fornecedor, o sistema transportador, o sistema produtor e o sistema cliente. A princípio cada um desses sistemas é ao mesmo tempo fornecedor, produtor e cliente de alguém, fazendo com que a interface entre duas empresas contenha todos os elementos necessários ao entendimento da logística JIT. Dessa forma, no capítulo 7 as questões sobre a cadeia logística JIT serão tratadas dentro de uma relação genérica entre fornecedor e cliente, ou seja, serão analisados os conceitos e ferramentas da filosofia JIT/TQC para um elo dessa cadeia produtiva. Num primeiro momento será considerado o transportador como um fornecedor de serviços para a empresa, sendo que mais adiante será aberto um tópico específico com questões relativas aos transportadores. Capítulo 7 Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 115 Fornecedor Produtor ClienteTransportador Transportador JIT Interno JIT Interno JIT Interno JIT Externo JIT Externo Figura 7.1 A cadeia logística JIT. Segundo a proposição da cadeia logística JIT a união entre as empresas e seus fornecedores deve ser forte e duradoura. Com o crescente uso de subcontratados e fornecedores no lugar da produção vertical integrada, se faz necessário um aumento de responsabilidades entre ambas as partes no projeto, manufatura e transporte dos produtos para o atendimento das metas preestabelecidas. Nesse sentido mais trabalhos devem ser subcontratados de fornecedores especialistas, as relações devem ser de longo prazo envolvendo uma pequena quantidade de fornecedores por item, muitas vezes apenas um, o envolvimento deve iniciar-se já a partir do projeto do produto e uma monitoração constante sobre a qualidade e pontualidade das entregas deve acompanhar a produção, permitindo o trabalho eficiente com mínimos estoques e custos. A ênfase no aspecto "preço cotado" na escolha dos participantes dessa cadeia deve ser substituída pela garantia na qualidade e pontualidade das entregas em pequenos lotes. Como a filosofia JIT/TQC apregoa o sistema de puxar a produção, sua implementação deve ser iniciada com a estabilização de um programa de produção baseado nas necessidades dos clientes, deve estender-se por dentro do sistema produtivo flexível (JIT interno), e só então, atingir o fornecimento de peças componentes e matérias-primas (JIT externo), equacionando o relacionamento com fornecedores. A Figura 7.2 ilustra essa dinâmica de implantação. A conjugação de um sistema produtivo eficiente, buscando o melhoramento contínuo no atendimento das necessidades dos clientes (JIT interno), com um sistema de relacionamento efetivo fornecedor/transportador/empresa (JIT externo), onde todos ganhem através da eliminação de atividades improdutivas (estoques, movimentações, inspeções, etc.) é o que pode-se chamar de um sistema de produção JIT completo. Neste sentido, uma vez obtido sucesso na implantação da filosofia JIT/TQC internamente, as empresas passam a incluir seus fornecedores dentro desse programa. No Brasil, a grande maioria das empresas ainda não está preparada para assumir essas novas funções, porém alguns resultados positivos já se fazem sentir, principalmente na indústria automobilística nacional e outras empresas de ponta, onde a concorrência globalizada fez com que as suas exigências internas de qualidade e produtividade fossem estendidas para os fornecedores, chamando-os e treinando-os dentro destes novos conceitos. Como os custos dos materiais e componentes adquiridos representam de 60 a 70%, em média, do custo dos produtos fabricados, fica claro o potencial de ganho a ser obtido com o estreitamento das relações com fornecedores numa cadeia logística otimizada. A Cadeia Logística JIT Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 116 Produção Fornecedores Transportadores Implantação da Filosofia JIT/TQC JIT Externo JIT Interno Clientes Figura 7.2 A dinâmica de implantação da filosofia JIT/TQC. Convencionalmente pode-se dizer que os relacionamentos externos das empresas têm sido um jogo de “soma zero”, ou seja, para que um dos participantes da cadeia produtiva ganhe “x”, algum outro participante tem que perder “x”. Sendo assim, o relacionamento convencional entre as empresas está baseado em se obter a máxima vantagem no curto prazo, sem benefícios para a cadeia produtiva como um todo e, em especial, para os clientes finais que em última análise são os que pagam os custos de toda a cadeia. As principais características desse relacionamento onde não existe confiança mútua e cooperação na solução de problemas são: múltiplos fornecedores: o uso de várias fontes de fornecimento como forma de prevenir- se contra problemas futuros de desempenho de entregas (quantidade e prazo), má qualidade, greves, aumentos abusivos de preços etc. Essa política leva ao baixo envolvimento do fornecedor no processo do cliente e a incerteza quanto à demanda futura, dificultando a aplicação de técnicas para a otimização internado sistema produtivo do fornecedor; emprego do processo de concorrência: a escolha do fornecedor é feita em cima de táticas adversárias de negociação com ênfase no preço cotado, estimulando o atrito entre as partes. Como decorrência existe pouca cooperação com os fornecedores, fazendo com que os mesmos obtenham uma baixa margem de lucro e não possam investir em melhoramentos de seus sistemas produtivos, deteriorando a longo prazo a qualidade e o desempenho do serviço oferecido, quando então são substituídos por outro concorrente; excessivas atividades de controle nas operações de fornecimento: como não existe confiança nos fornecedores, uma entrega convencional de materiais passa por mais de dez atividades de recepção e inspeção da documentação e da carga antes de chegar até o usuário final, encarecendo e dificultando o processo de reposição; uso de estoques altos: em decorrência do mal relacionamento, tanto no fornecedor como no cliente, são colocados altos estoques de segurança para garantir as deficiências de qualidade, pontualidade e quantidade dos lotes entregues pelos fornecedores; não compartilhamento de informações: as informações sobre planos de produção e previsões de demanda não são repassadas para a cadeia produtiva, impossibilitando o planejamento conjunto e o sincronismo de fabricação e transporte entre as partes; variabilidade dos itens: com múltiplos fornecedores, cada lote de itens adquirido provem de um sistema de produção diferente que, apesar de estar dentro dos limites de controle, pode fornecer itens com diferentes padrões, vindo a causar problemas de variabilidade entre lotes, principalmente em linhas de montagem. Capítulo 7 Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 117 Todos esses fatores, durante muito tempo, levaram os fabricantes convencionais a integrarem verticalmente as fontes de fornecimento e os sistemas de distribuição e transporte no sentido de evitar a ocorrência de problemas que afetassem internamente a empresa, tal como fez Henry Ford, no início do século, ao montar um sistema de extração de borracha na selva amazônica para fabricação de seus próprios pneus. Até algumas décadas atrás isso ainda era possível porque os níveis de tecnologia envolvidos eram tais que as empresas podiam incluir uma nova máquina ou processos quando necessários, visto que os ciclos de vida dos produtos eram maiores e davam ao fabricante tempo para recuperar o investimento. Atualmente, a complexidade e sofisticação dos produtos estão conduzindo os sistemas produtivos da integração vertical para a descentralização da tecnologia de manufatura, dentro do enfoque da focalização da produção. O crescimento desordenado dos sistemas produtivos e a conseqüente perda de foco nos negócios da empresa já foi tratado no capítulo 2, dentro do contexto de produção focalizada. Assim, por exemplo, uma lavadora de roupas antiga, ou um automóvel, que podia ser totalmente fabricada por uma única empresa, hoje em dia é produzida com peças de precisão, motores, eletrônica e controles computadorizados, com um esforço combinado entre muitos fornecedores e a empresa montadora, cada uma das quais focalizada em seu negócio principal. Um ponto que deve ser ressaltado dentro da logística JIT para a diminuição da complexidade dos sistemas produtivos, consiste na terceirização de suas atividades com hierarquização dos níveis de fornecimento de forma piramidal. Dentro do conceito de redução do tamanho do sistema produtivo via focalização da produção, as empresas buscam dividir o seu sistema produtivo em vários sistemas menores e mais controláveis. Nada impede que esses sistemas estejam a cargo dos antigos fornecedores, individualmente ou em grupos, fazendo com que os mesmos agreguem mais valor aos seus produtos e, pela melhor organização da cadeia produtiva, reduzam os custos totais da mesma. Nessa estrutura de fornecimento a empresa lida apenas com o primeiro nível de fornecedores dessa pirâmide, que por sua vez lida com os de segundo nível, e assim por diante, conforme pode-se ver na Figura 7.3. Por exemplo, na indústria automobilística convencional um pára-choque e seus componentes como faróis, sinaleiras, lâmpadas, fios etc., eram comprados de vários fornecedores diferentes. Isso gerava, por um lado, muita confusão durante a montagem desses itens no automóvel e, por outro, setores de compras gigantescos com mais de 500 compradores para lidar com algo em torno de 2000 itens, cada um com vários fornecedores. Já nos modernos sistemas JIT, desenvolve-se um fornecedor focalizado de primeiro nível que entrega direto na linha de montagem um “kit” completo de pára-choque com todos os seus componentes embutidos. Não é difícil entender que a montagem do pára-choque no automóvel fica simplificada, e que o setor de compras, ao lidar com poucos fornecedores de primeira linha, algo como 100 a 150 deles, pode reduzir sua estrutura, e custos, para 50 compradores focalizados nesses fornecedores. Um exemplo avançado desse tipo de proposta, que está sendo chamado de consórcio modular, é o empregado pela nova fábrica de caminhões da VW em Resende (RJ), onde os fornecedores dos subconjuntos do caminhão estão dentro da própria fábrica integrados ao processo de montagem. A Cadeia Logística JIT Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 118 F 1 F 2 F 3 F 4 F 5 F 6 F n Produtor F 111 F 112 F113 F 11 F 12 F 13 F 1 F 2 F 3 F 4 F 5 Produtor Estrutura em linha convencional Estrutura piramidal JIT Figura 7.3 Hierarquia de fornecimento. Nesse novo contexto de logística industrial, as empresas que buscam soluções dentro da filosofia JIT/TQC para a cadeia produtiva têm certeza de que um bom relacionamento com seus fornecedores promoverá altos níveis de qualidade e eficiência para todos. Esse trabalho deve ser visto como um esforço de longo prazo pela eliminação de todas as atividades que não agregam valor dentro da cadeia produtiva. Para tanto, alguns fatores chaves, que serão detalhados a seguir, são básicos para se atingir um nível elevado de relacionamento, quais sejam: desenvolvimento de fornecedores JIT; diminuição da base de fornecedores; integração da produção com o fornecedor. 7.2 DESENVOLVIMENTO DE FORNECEDORES JIT Normalmente, a implantação da filosofia JIT/TQC se dá a partir da maior empresa da cadeia produtiva, e só então ela é estendida aos fornecedores desta cadeia. Aí então, a fábrica maior trata de prepará-los para o cumprimento de prazos, qualidade, preço e quantidade, repassando-lhes as técnicas JIT necessárias e monitorando seu progresso. Sendo assim é essencial desenvolver vínculos entre as organizações para assegurar uma relação comercial de longo prazo. A formação desses vínculos é estrategicamente tão significativa, que as relações entre os participantes da cadeia produtiva devem envolver a diretoria das empresas, e não apenas o nível tático e operacional como no sistema convencional. Capítulo 7 Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 119 No Japão é comum as empresas possuírem, além de interesses comerciais, participação acionária nos fornecedores. Isso formaliza os vínculos de longo prazo entre as empresas e garante que tanto cliente como fornecedor farão o máximo para que os negócios mútuos prosperem. O apoio financeiro para transferência de tecnologia e treinamento dos fornecedores pode ser uma boa oportunidade de formalizar o interesse mútuo através de uma pequena participação acionária. No relacionamento convencional, esse tipo de vínculo acionário não é estimulado pois, nas relaçõesde compra de curto prazo, busca-se tirar o máximo de vantagens no processo e, uma vez esgotado seu potencial, passar para uma nova relação semelhante com outro fornecedor. Independente da questão acionária, o envolvimento das empresas à nível de diretoria é a única forma de tornar clara decisões que irão afetar o futuro de ambas as organizações. As relações convencionais de suprimento entre os departamentos de compras, de um lado, e o de vendas, de outro, limitam as comunicações ao nível operacional das empresas. A participação do fornecedor no desenvolvimento de novos produtos através da engenharia simultânea, a focalização da fábrica do fornecedor junto ao cliente, a definição de contratos de longo prazo comprometendo a capacidade produtiva do fornecedor, a transferência de tecnologia e treinamento para o fornecedor, etc. são questões de caracter estratégico que só podem ser decididas pelas diretorias das duas empresas. Dentro desse aspecto, muitos dos problemas resultantes de ineficiências operacionais podem ser solucionados com o desenvolvimento de relações confiáveis com fornecedores, assegurando contratos justos e eqüitativos. A estabilização do esquema de fornecimento baseado em comprometimentos de longo prazo está relacionada com fatores como confiança, compromissos, boas comunicações, redução de ciclos de entrega e otimização de custos. Além disso, enquanto os fornecedores se mostrarem competitivos, eles terão segurança no futuro de seus negócios e lucro garantido. Com certeza a negociação de contratos JIT é uma tarefa extremamente complexa, pois envolve não apenas duas empresas, mas três atores da cadeia logística: o fornecedor, o cliente e o transportador. Eles devem buscar a melhor maneira de atingir a confiabilidade no sistema, sem contudo aumentar os níveis de estoques e os custos do processo. É importante que estes atores entendam o “porquê” da movimentação de pequenos lotes e da garantia do fluxo contínuo de materiais no sistema de produção JIT. Um aspecto a se considerar na elaboração de contratos JIT de suprimento é que, por princípio, dentro da filosofia JIT/TQC, os problemas devem ser facilmente identificados e prontamente resolvidos sempre que apareçam, evitando-se sua repetição. Sendo assim, os contratos formais apenas respaldam uma situação que deve se confirmar na prática do dia a dia. Os contratos, por si só, não garantem o desempenho do relacionamento entre as partes. Servirão somente para, uma vez ocorrido o problema, solucionar uma disputa judicial. O espírito da filosofia JIT, aplicado à cadeia logística, consiste em tomar ações preventivas, e não pró-ativas através de contratos formais, que eliminem os problemas potenciais que possam surgir dentro dessa cadeia produtiva. Outro ponto importante é de que os negócios são operados por pessoas, e as pessoas trabalham em termos de confiança. Os contratos formais são meros instrumentos que registram os detalhes e mantêm a honestidade das pessoas. A confiança, entretanto, pode ser alcançada mas acarreta envolvimento e comprometimento pessoal. Ela funciona em duas direções: o cliente espera que o fornecedor garanta as suas necessidades e, reciprocamente, o fornecedor espera o mesmo do cliente. É nesta base que deve ser desenvolvida a confiança mútua, permitindo que as empresas operem com uma eficiência conjunta melhor do que separadas. Neste caso as comunicações entre A Cadeia Logística JIT Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 120 clientes e fornecedores, mantendo canais contínuos e abertos, apresentam-se como críticas para operar um sistema JIT. Convencionalmente, apenas o setor de compras está autorizado a entrar em contado com o representante do fornecedor. Caso algum problema surja na produção em relação aos itens entregues por um fornecedor, vários níveis hierárquicos são envolvidos na tentativa de solucionar o problema, fazendo com que a solução, caso encontrada, seja tomada tarde de mais para trazer benefícios ao sistema. Esse processo inicia-se com o operador da linha identificando o problema, passa pela ação do supervisor em acionar o departamento de qualidade, que, por sua vez, preenche uma série de documentos necessários para que o departamento de compras possa exigir uma ação por parte do fornecedor. No lado do fornecedor todas essas etapas são repassadas de forma inversa, até chegar tarde demais ao operador que gerou o problema. Em uma cadeia logística JIT para agilizar a solução dos problema todos os canais possíveis de comunicação entre as empresas devem ser estimulados, desde a troca de informações entre as equipes de engenharia das duas empresas, com visitas periódicas, até o contato direto entre os encarregados das duas produções visando resolver de forma imediata problemas operacionais. A justificativa de que somente o setor de compras possui a técnica e a experiência para entrar em contato com os fornecedores não é mais válida. 7.3 DIMINUIÇÃO DA BASE DE FORNECEDORES As razões que levam as empresas a terem vários fornecedores por item são bem conhecidas e estão relacionadas a dois pontos básicos dentro da área de administração de materiais, que são a segurança e a redução de custos. A segurança da reposição dos estoques quando se negocia com fornecedores que possuem sistemas produtivos convencionais, com baixo desempenho, é feita na base da duplicação das fontes de fornecimento, buscando-se garantir que caso algo dê errado, os outros fornecedores possam suprir essa lacuna. A segunda razão está ligada ao fato de considerar o custo direto do material comprado como o fator primordial na escolha do fornecedor nos processos de concorrência, o que leva à necessidade de se ter vários fornecedores por item competindo entre si, de forma a oferecerem o menor custo direto. A filosofia JIT/TQC revê esses pontos e questiona sua efetiva validade. Nesse novo relacionamento, fornecedores com sistemas de produção JIT garantem a segurança das entregas na origem do processo de fornecimento, ou seja, dentro de sua própria empresa. Eles sabem que os clientes dependem exclusivamente de suas entregas, e que um problema para o cliente é um problema para eles próprios. Antes que um problema interno do fornecedor venha a atrapalhar o cronograma de recebimento do cliente, ele deve ser identificado e solucionado a tempo. A explicação de que deve-se manter mais de um fornecedor para absorver eventuais catástrofes, é apenas mais uma desculpa para não se promover um sistema logístico eficiente. Hutchins (HUTCHINS, 1993 : 26), ao relatar uma visita a fábrica da Toyota Motors no Japão (país sujeito a inúmeras catástrofes climáticas), descreve que apesar do uso de fornecedores exclusivos num período de nove anos ocorreram apenas duas paralisações, de pouca importância, na linha de montagem da fábrica. Por outro lado, analisando-se todas as atividades envolvidas no processo de reposição, pode- se ver que o custo unitário dos itens comprados é apenas um dos componentes do custo total do Capítulo 7 Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 121 processo, e que na maioria das vezes uma pequena redução no seu valor, via processo de concorrência, não justifica a política de múltiplas fontes de fornecimento. Dessa forma os sistemas de produção JIT buscam reduzir aquelas atividades especulativas que não agregam valor aos produtos, trocando-as pela garantia do serviço de poucos e bons fornecedores. Quando as empresas reduzem sua base de fornecedores, as relações tornam-se de longo prazo e os seguintes resultados podem ser atingidos: ganho de escala: fornecedores exclusivos venderãovolumes maiores, e os transportadores movimentarão volumes maiores, para um número menor de clientes, o que reduzirá seus custos internos de ferramental, fabricação, movimentação e controle; retorno dos investimentos: tendo a certeza de que o relacionamento com os clientes será de longo prazo em substituição às eventuais ordens de compra de curto prazo, os fornecedores se sentirão mais seguros e poderão investir eles próprios em um sistema de produção JIT, de maneira a torná-lo mais confiável; difusão dos conhecimentos e transferência de tecnologias: com o fortalecimento das relações de longo prazo os fornecedores exclusivos poderão receber treinamento específicos nas técnicas JIT, informações antecipadas para planejamento da produção, e, se necessário, até ajuda financeira para investimentos produtivos. Pode-se implementar de forma efetiva o conceito de engenharia simultânea, com a participação do fornecedor nas etapas de projeto de novos produtos. Por exemplo, algumas empresas, como a Moto Honda, possuem escolas específicas para o treinamento e a formação de fornecedores JIT; processos focalizados: com uma visão de longo prazo, os fornecedores poderão deslocar suas fábricas, ou parte delas, para perto dos clientes, estabelecendo pequenas fábricas focalizadas de acordo com as necessidades específicas de cada um deles. Isso permitirá a implementação de um ritmo regular diário, ou menor, de entregas fazendo com que os encargos de transporte e embalagens sejam mínimos e as soluções de problemas mais imediatas, reagindo melhor a emergências; coordenação de entregas: os fretes poderão ser melhor coordenado pelos clientes, gerando roteiros envolvendo vários fornecedores, de forma a viabilizar a entrega econômica de pequenos lotes pelos transportadores, mesmo não existindo a proximidade física entre os fornecedores. Um exemplo dessa relação avançada de longo prazo com redução do número de fornecedores foi o implementado pela Fiat Automóveis, que desde 1992 tornou exclusivo o seu fornecedor de sistemas de comando de câmbio, negociando a sua transferência da cidade de São Bernardo do Campo (SP) para Contagem (MG), cidade vizinha a montadora. Com essa estratégia, o fornecedor passou a despachar as 107 peças que compõem o comando de câmbio já montadas, em duas ou até três entregas diárias, e, em contra partida, a receber também pagamentos diários. O mesmo ocorreu com a Santa Marina que tornou-se o principal fabricante dos vidros dos carros da FIAT, localizando-se junto à montadora e abastecendo-a diariamente com pequenos lotes, transportados em camionetas Fiorino onde lê-se “Entregas JIT” pintado nas laterais. 7.4 INTEGRAÇÃO DA PRODUÇÃO DO CLIENTE COM O FORNECEDOR A implantação de um sistema logístico JIT integrando a produção do cliente com a produção do fornecedor traz ganhos significativos na redução daquelas atividades que, convencionalmente, se A Cadeia Logística JIT Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 122 sobrepõem entre os dois sistemas, fazendo com que a cadeia produtiva consiga um retorno sobre seus investimentos maior do que conseguiria cada empresa individualmente. Esse processo resulta numa sinergia entre as empresas, reforçando ainda mais as suas relações. Dentre os vários sistemas que podem ser implantados nesse sentido, cabe destacar os seguintes: planejamento e programação da produção conjuntos, kanban com fornecedores, troca eletrônica de documentos (EDI), pedidos em aberto, redução das funções de expedição/recepção, contabilidade simplificada e engenharia simultânea. 7.4.1 Planejamento e programação da produção conjuntos No capítulo 3 foram discutidas as questões relacionadas com as funções de planejamento e controle da produção dentro da ótica dos sistemas de produção JIT. Conforme foi visto, essas funções estão escalonadas no tempo em longo, médio e curto prazo. As informações de longo prazo são empregadas para equacionar estrategicamente a capacidade produtiva do sistema com a demanda esperada para esse período. As informações de médio prazo são utilizadas para compor um plano-mestre de produtos acabados que, na sua parte fixa, dá partida à montagem dos produtos, e, na sua parte flexível, permite o cálculo dos tempos de ciclo e dos estoques do sistema. As informações de curto prazo, dentro da ótica de puxar a produção, permitem que os vários postos produtivos se comuniquem entre si, e tornem operacional o sistema de produção just-in-time. Um dos pontos cruciais para que o planejamento e controle da produção JIT possa atuar dentro dessa estrutura de forma efetiva, está baseado na estabilidade da demanda do cliente desse sistema produtivo. Contudo, quando olha-se para uma cadeia produtiva JIT, pode-se afirmar que o único ponto da cadeia onde existem incertezas quanto a demanda, está a nível de cliente final dessa cadeia. A partir da definição dos planos estratégicos, táticos e operacional da empresa que lida com esse cliente final, todas as demais empresas da cadeia podem receber informações confiáveis de longo, médio e curto prazo de seus clientes, de forma a realizarem um planejamento e programação da produção coordenado. ? Plano de Produção ? Plano-mestre de Produção ? ProgramaçãoProgramação Plano de Produção ? Plano-mestre de Produção ? Plano de Produção ? Plano-mestre de Produção ? ?ProgramaçãoProgramação Cadeia produtiva convencional Cadeia produtiva JIT Plano de Produção ! Plano-mestre de Produção! Plano de Produção ! Plano-mestre de Produção! Plano de Produção ! Plano-mestre de Produção! Capítulo 7 Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 123 Figura 7.4 O PCP nas cadeias produtivas. Assim, como ilustra a Figura 7.4, ao invés de cada empresa dentro de uma cadeia produtiva convencional fazer seus próprios planos e programações em cima do que ela prevê que seu cliente vá necessitar, na cadeia JIT os planos de produção estratégicos, os planos-mestres de produção e a programação puxada da produção são compartilhados entre todos os participantes, evitando-se atividades especulativas que não agregam valor ao cliente final. Dessa forma, quando uma empresa projeta um aumento, ou uma redução, de capacidade produtiva imediatamente os fornecedores seguirão na mesma direção. 7.4.2 Kanban com Fornecedores No relacionamento de curto prazo entre clientes e fornecedores o emprego do sistema kanban de puxar as compras irá desburocratizar e simplificar em muito toda a lógica de reposição externa de materiais. Conforme foi explicado no capítulo 4, o sistema kanban atua como o organizador do sistema de produção JIT, direcionando os materiais justo a tempo para as estações de trabalho no processo de fabricação e passando informações sobre o que e quanto produzir e movimentar. Ao contrário do sistema convencional, a produção JIT utiliza o sistema de puxar. Puxar significa não processar ou movimentar até a solicitação, isto é sob pedido. O sistema de puxar consiste em retirar e movimentar as peças necessárias do processo precedente, iniciando o ciclo na linha de montagem final, pois é aqui que chegam com exatidão as informações de tempo e quantidades de peças para satisfazer às demandas reais. O processo anterior, então, produz somente as peças retiradas pelo processo subseqüente, e assim, cada estágio de fabricação retira as peças necessárias dos processos anteriores ao longo do sistema de produção. Desse modo não é necessária a emissão da programação simultânea para todos os processos, incluindo os fornecedores externos. Em seu lugar é suficiente que a linha de montagem finalseja informada das alterações na programação da produção para que todo o sistema responda adequadamente. O kanban externo com fornecedores é um tipo especial de kanban de movimentação usado para trazer peças e materiais dos fornecedores de forma simples e eficiente. Para que o sistema kanban com fornecedores atinja sua eficiência plena, é indispensável que o fornecedor sincronize seu sistema produtivo com o do cliente. Nesse sentido, a operacionalização do kanban com fornecedores necessita que o sistema produtivo do cliente passe dois tipos de informações ao sistema produtivo do fornecedor, quais sejam: plano-mestre de produção: com as informações constantes do plano-mestre de produção do cliente é possível ao fornecedor elaborar seu próprio plano-mestre de produção de forma a organizar sua estrutura produtiva (tempo de ciclo) e dimensionar seu sistema interno de puxar a produção (kanbans), preparando-se para a demanda que virá; solicitação diária: dentro da ótica de puxar a produção, diariamente o cliente faz suas solicitações ao fornecedor, especificando exatamente os itens necessários naquele momento. Esse processo de solicitação diária pode ser executado via cartões kanbans de fornecedores, também chamado de sistema de reabastecimento posterior, já descrito em detalhes no capítulo 4, ou via envio diário de uma tabela contendo as necessidades de itens a serem entregues naquele dia, chamado de sistema de retirada seqüencial. A Cadeia Logística JIT Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 124 O sistema de retirada seqüencial, exemplificado na Figura 7.5, representa um estágio avançado de implantação do JIT entre clientes e fornecedores. No sistema de retirada seqüencial o cliente utiliza o computador para comunicar ao fornecedor a seqüência e as quantidades de peças que são necessárias para sua linha de produção diária. Essa seqüência de informação ingressa em um banco de dados e é impressa em etiquetas kanbans que especificam os detalhes necessários para sua produção na fábrica fornecedora e seu posterior envio para o cliente. Nesse sistema, a empresa envia diariamente a programação seqüencial da sua produção ao computador da fábrica fornecedora para alimentar o sistema de programação da produção de componentes que serão enviados à linha de montagem. O sistema calcula o programa de montagem final, fornece os relatórios necessários e imprime as etiquetas kanbans que serão entregues à linha de produção do fornecedor. O objetivo final é a sincronização das atividades entre as operações nas linhas de montagem do fornecedor e do cliente, de tal maneira que a comunicação e o transporte dos itens seja efetivamente em tempo e conteúdo reais, na freqüência necessária. Tipo de informação Cliente Fornecedor Programa-mestre de Produção Programa Montagem Final Programa-mestre de Produção Programa de Montagem Final ( Seqüencial ) Programa de Vendas Computador Programação da produção Linha de montagem Linha de montagem Tabela de programação montagem final Informação Mensal para o planejamento da produção mensal Informação Diária para o envio da produção diária fluxo da informação fluxo dos produtos Figura 7.5 Sistema de retirada seqüencial. A Wolkswagem do Brasil, na planta de Taubaté (SP), utiliza esses dois sistemas de puxar as reposições dos fornecedores. Para fornecedores situados a mais de 20 quilômetros da empresa é empregado um sistema de reabastecimento posterior, informando diariamente via fax quais itens foram consumidos e necessitam de reposição. Os fornecedores então preparam a carga, vão até a empresa, onde têm acesso livre, descarregam o material no depósito ou diretamente no ponto de uso Capítulo 7 Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 125 trocando uma embalagem cheia por outra vazia. Já os fornecedores situados a menos de 20 quilômetros da empresa estão conectados ao sistema computacional de programação de veículos, permitindo que os mesmos acompanhem a fabricação de cada carro na funilaria, e fiquem sabendo exatamente o tipo de carro que está sendo fabricado, o seu acabamento, cor e do que mais ele vai precisar. Com essas informações os fornecedores podem preparar sua carga para ser entregue diretamente ao ponto de uso dentro da montadora. A freqüência média de entregas nesse sistema é de 20 minutos. Tanto os fornecedores distantes como os próximos, recebem um pedido mensal para planejamento. 7.4.3 Troca eletrônica de documentos (EDI) Dentro de um relacionamento JIT há necessidade de melhorar o fluxo de informações entre os participantes da cadeia produtiva, tanto a nível de velocidade como de confiabilidade dos dados trocados. Nesse sentido, a troca eletrônica de documentos, ou EDI (electronic data interchange), apresenta-se como uma ferramenta fundamental para conectar eficientemente os elos dessa cadeia. O EDI é uma tecnologia baseada em plataformas de hardware e software que permite a troca de documentos de negócios (faturas, duplicatas, pedidos de compras, avisos de despacho, kanbans etc.) eletronicamente e de forma padronizada entre duas empresas distintas, situadas em diferentes locais. O EDI reduz o fluxo de papéis, diminui a necessidade de conferências e manipulações de documentos, simplifica os controles e padroniza os processos de entrada e saída de documentos, garantindo a integridade dos dados. Com o EDI o fornecedor programa a entrega dos itens, enviando ao transportador os dados da nota fiscal, e esse, por sua vez, emite o conhecimento da carga e a fatura de cobrança pelo serviço. Na outra ponta do processo, o cliente receberá via EDI as informações dos itens a serem entregues, acelerando em até seis horas o tempo parado de um caminhão no pátio da empresa à espera de que seja elaborada a documentação fiscal. Além da agilização da documentação necessária à transação de cargas entre empresas, o EDI pode ser empregado para ligar diretamente o programa de produção do cliente aos programas de embarque dos fornecedores e transportadores, permitindo a entrega de materiais seqüenciados de acordo com as necessidades atuais do cliente, conforme exposto no tópico anterior. Outra vantagem que pode-se obter com o emprego dessa tecnologia de comunicação, agregando-a à um sistema de localização via satélite GPS (global positioning system), é permitir o uso do conceito de “estoques sobre rodas”, onde cada caminhão que se movimenta entre o cliente e o fornecedor é inventariado como estoques em mãos, pois seus dados, tanto de conhecimento da carga como de previsão de partida e chegada, são precisos e monitorados a cada momento. Com o avanço dos serviços oferecidos pela Internet, melhorando as condições de acesso ao sistema, e, através da criptografia, a privacidade e segurança dos dados, será possível formar as chamadas Extranets, ou redes de caracter fechado para uma cadeia produtiva, conectando fornecedores e clientes em um ambiente mais interativo e amigável do que os atuais sistemas EDI. A Cadeia Logística JIT Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 126 7.4.4 Pedidos em aberto Quando o cliente passa a trabalhar com fornecedores exclusivos com contratos de longo prazo e fábricas focalizadas junto a sua, o antigo sistema de emissão de pedidos de compras para cada reposição de itens deverá ser abandonado em prol da compra de determinada capacidade produtiva do fornecedor. Na verdade, ao olhar-se para a quantidade de trabalho do setor de compras que envolve a elaboração de pedidos de compra, com especificações enviadas aosdiversos fornecedores, tomada de preços, análises de desempenho etc., além, é claro, da papelada gerada, nota-se que esse processo já deveria estar erradicado a mais tempo. Com contratos de longo prazo garantindo a parceria e estabelecendo critérios para a cotação do preço dos itens negociados (pode-se empregar a técnica de análise de valor para isso), o cliente necessita definir no contrato apenas a compra de uma determinada capacidade de produção da fábrica (focalizada) do fornecedor. Até porque ele não sabe exatamente ainda quais os itens que irá consumir daqui a um ou dois anos. Nesse sentido, o bom senso manda reservar uma capacidade do fornecedor e deixar os pedidos em aberto, para serem estabelecidos a medida em que a demanda for se tornando mais clara para o cliente. A estrutura conjunta de planejamento e programação da produção cliente/fornecedor, discutida anteriormente, trabalha nesse sentido. As informações são escalonadas em horizontes de tempo, sendo que as de longo prazo servem para se fechar os contratos de parcerias, sincronizando- se as capacidades de produção das duas fábricas. No curto prazo, com a definição de quais os produtos que serão efetivamente montados no sistema produtivo do cliente, os fornecedores receberão automaticamente o pedido de compra, via sistema kanban. 7.4.5 Redução das funções de expedição/recepção Com a implantação de sistemas logísticos de reposição em pequenos lotes, o fluxo de movimentações de materiais entre as instalações do fornecedor e do cliente será bem maior. Isso irá gerar a necessidade de agilizar as funções de expedição por parte do fornecedor, e a recepção por parte do cliente. Perdas de oito horas para a carga e descarga dos caminhões inviabilizarão essa forma avançada de relacionamento JIT. Na Toyota Motors de Nagóia, no Japão, a distância média dos fornecedores é de 27 quilômetros, com um fluxo de entregas de 7,4 vezes por dia, sendo que 30% dessas entregas são de hora em hora. Para se chegar a esse patamar de excelência, um esforço conjunto entre fornecedor e cliente deve ser feito na redução das funções de expedição e recepção dos lotes de entrega. Analisando-se essas funções desenvolvidas pelos setores de expedição e recepção de empresas convencionais pode-se entender melhor a quantidade de atividades, e custos, desnecessários sujeitos à simplificações ou até eliminações. Na realidade o desperdício inicia-se na fábrica do fornecedor com a própria operação de produção dos itens. O operador da máquina, ao ir fabricando os itens de um lote, coloca-os, um a um, dentro de um enorme contenedor, com sucessivos esforços para inclinar-se para dentro do contenedor e levantar-se de volta, sem contar a eventual inclusão de folhas de papelão entre as várias camadas de itens no contenedor. Terminado o preenchimento do contenedor, há necessidade de esperar que uma empilhadeira venha até ele e, Capítulo 7 Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 127 transportando o contenedor para o distante almoxarifado de produtos acabados, libere o espaço para a colocação de outro grande contenedor vazio. A partir desse ponto o setor de expedição, que atua dentro do almoxarifado de produtos acabados, assume o controle sobre esse contenedor. Os itens são então retirados do contenedor interno da fábrica, contados, inspecionados e preparados junto com a documentação para a entrega em embalagens de papelão. É comum essas embalagens de papelão conterem divisórias protetoras que necessitam ser montadas antes da colocação dos itens. Finalizando o processo da expedição, uma empilhadeira se encarrega de colocar as caixas prontas nos caminhões para o transporte até o cliente. Não é raro nesse fluxo de atividades convencionais o caminhão ainda ser retido na portaria da empresa para conferência da documentação e da carga. Na outra ponta, todas as atividades que foram realizadas para a expedição dos itens na fábrica do fornecedor são repetidas pelo setor de recepção na fábrica do cliente. Inicia-se pela retenção do caminhão na portaria da fábrica para a conferência superficial da carga e da documentação enviada. Autorizado, o caminhão encosta na doca de recepção e, com o auxílio de empilhadeiras, é descarregado. A função do setor de recepção consiste em desfazer as embalagens, contar, inspecionar e preparar os itens, junto com a documentação, para serem armazenados no almoxarifado em grandes contenedores de uso interno da fábrica. Empilhadeiras se encarregam de deslocar esses contenedores cheios para o local de armazenagem, onde ficam aguardando sua solicitação, via PCP, para consumo na produção. Os desperdícios só terminam quando, dentro do sistema produtivo do cliente, uma empilhadeira movimenta para junto do posto de trabalho esse grande lote de materiais, que exigirá do operador muito esforço indevido com a coleta dos itens no interior do contenedor. Conforme pode-se ver, nesse processo de reposição convencional muitas atividades são executas sem adicionar valor para o cliente final. Movimentos perdidos, dupla conferência, contagem e inspeção, embalagens desperdiçadas, empilhadeiras e seus operadores acionados etc. Todos esses pontos falhos decorrem de duas características dos sistemas de produção convencionais, quais sejam, a desconfiança mútua devido ao baixo nível de relacionamento cliente/fornecedor, e grandes lotes de fabricação e movimentação em função dos altos custos de preparação dos operações. Com a mudança de mentalidade para relações de longo prazo entre clientes e fornecedores, baseada no comprometimento e confiança mútua, e com a implantação de técnicas JIT que favoreçam a produção em pequenos lotes, é possível simplificar toda a lógica de expedição e recepção de itens entre as duas empresas, eliminando-se uma série de atividades. A simplificação começa dentro do sistema produtivo do fornecedor, com o operador produzindo apenas as necessidades imediatas do cliente e colocando-as em pequenos contenedores padronizados para os dois sistemas, de onde os itens sairão apenas quando estiverem no sistema produtivo do cliente. Como os contenedores são pequenos, pode-se empilhá-los em carrinhos e deslocá-los facilmente para a expedição, sem a necessidade de empilhadeiras. Na expedição os pequenos lotes padrões são conferidos de forma simples e rapidamente despachados para o cliente. A documentação pode estar restrita aos cartões kanbans. Com relações de longo prazo, tanto a portaria do fornecedor como a do cliente estão autorizadas a deixar passar livremente os transportadores que fazem parte das entregas JIT. As empresas pintam seus caminhões com indicações do tipo “Entregas JIT” para facilitar a identificação. Chegando a doca do cliente, a recepção se encarrega simplesmente de retirar a carga do caminhão e deslocá-la imediatamente para o seu ponto de uso dentro do sistema produtivo, onde os itens são então retirados para produção. A Cadeia Logística JIT Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 128 7.4.6 Contabilidade simplificada Assim como nas atividades de expedição e recepção dos itens transacionados entre fornecedores e clientes, a aplicação da filosofia JIT/TQC proporciona também a oportunidade de rever as atividades contábeis dos setores de contas a receber (fornecedor) e contas a pagar (cliente). O esquema tradicional contábil envolvendo a conciliação de faturas, notas fiscais, pedidos de compras e relatórios de recebimento para autorizar o pagamento dos fornecedores não se tornará viável quando os ritmos de entrega passarem de mensais para diários. Essa teoria tradicional de contabilidade estábaseada no fato de que apenas parte dos itens comprados serão utilizados imediatamente, ficando o restante deles no almoxarifado. Dessa forma é necessário que o setor de contas a pagar do cliente verifique se efetivamente o fornecedor entregou os itens constantes da fatura remetida pelo setor de contas a receber do fornecedor, e se esse fato está de acordo com o pedido de compras enviado e a nota fiscal recebida. O fluxo de informações fica ainda mais moroso levando-se em conta o nível de desconfiança entre as partes evolvidas, fazendo com que o cheque para pagamento seja retardado ao máximo. Com lead times curtos e níveis mínimos de estoques padronizados nos supermercados internos, no sistema produtivo JIT os itens comprados são imediatamente transformados em produtos acabados. Sendo assim, a contabilidade dos itens comprados pode ser feita considerando- se que o sistema produtivo JIT é uma “caixa preta”, na qual foi adicionado um número “x” de itens comprados para cada produto acabado completado. Ou seja se um automóvel ficou pronto é lógico que cinco pneus, uma bateria, dois pára-choques etc. foram comprados e devem ser pagos aos seus fornecedores. Dessa forma, os fornecedores exclusivos podem ser pagos conforme a produção for se desenvolvendo. A conferência e conciliação dos documentos, senão eliminadas, serão reduzidas a simples comparação entre o que foi produzido e o que está sendo solicitado (fatura) pelo fornecedor, providenciando-se um fluxo rápido, talvez semanal, de pagamentos. Uma vantagem adicional do uso do conceito de pagamento conforme a produção, por só autorizar o pagamento dos fornecedores quando os itens entregues forem efetivamente utilizados, está no fato dele limitar a entrada de itens em estoques e impor mais responsabilidade sobre os setores de compra do cliente, e vendas do fornecedor, no sentido de somente pedir e entregar os itens no ritmo da demanda. Nas situações onde pretende-se manter os controles de pagamento de acordo com as entregas, o emprego de códigos de barras nos cartões kanbans agilizará o processo de conferência e pagamento. Ao chegarem os itens comprados na recepção, o cartão kanban será lido eletronicamente e suas informações atualizarão o recebimento dos itens nos registros físicos e financeiros do sistema de informações. Atualizado, o sistema computacional do setor financeiro poderá então checar o recebimento com as informações vindas do fornecedor, que também poderão ser eletrônicas, e providenciar a transferência do dinheiro no banco, diretamente da sua conta para a do fornecedor. Os extratos de movimentação das contas do cliente e do fornecedor servirão como comprovação da transação. Capítulo 7 Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 129 7.4.7 Engenharia simultânea A engenharia simultânea consiste em desenvolver o projeto de novos produtos com a participação de todos os interessados nesse projeto, incluindo-se os fornecedores. Essa idéia surgiu da constatação de que além dos projetistas habituais do departamento de engenharia, os fornecedores, produtores e clientes devem ser ouvidos simultaneamente à etapa de projeto para contribuírem com sugestões que irão aperfeiçoar o fornecimento de itens, a técnica de produção e o uso do produto. Nos sistemas convencionais o projeto de novos produtos é feito segundo etapas distintas, separadas por “muros”, onde em cada uma delas a responsabilidade pela definição dos parâmetros do projeto fica restrita a determinada área da empresa. Por exemplo, quando a engenharia do produto conclui o desenho e define as características técnicas do produto, ela passa seus planos para a engenharia do processo que, a partir daí, está encarregada de estabelecer, dentre as várias alternativas, a forma como esse produto será fabricado, especificando o ferramental, as seqüências de fabricação, as folhas de processo etc. Nesse esquema, o baixo relacionamento entre as partes envolvidas faz com que inevitavelmente problemas ocorram na implantação do projeto. Com a introdução de novas tecnologias computacionais, do tipo CAE (engenharia auxiliada por computador), CAD (projeto auxiliado por computador) e CAPP (planejamento do processo auxiliado por computador), é possível padronizar e agilizar o fluxo de informações no projeto de produtos de forma a romper essas barreiras departamentais. Os projetos podem agora ser tratados de forma global, compartilhando-se informações. Nesse aspecto, os fornecedores JIT devem ser chamados a participar da discussão, principalmente no que se refere a gerar idéias que venham a trazer ganhos de produtividade em suas próprios fábricas, que serão repassados ao cliente final da cadeia produtiva. Fica difícil para um fornecedor melhorar seu sistema produtivo quando os seus clientes lhe passam projetos prontos, sem margem para discussão. Com a engenharia simultânea, os fornecedores podem atuar em cima de um produto em desenvolvimento, questionando os tipos de matérias-primas propostas, as diferentes formas de fabricação, ou ainda, como e onde seu produto entra no produto do cliente e que características são fundamentais para sua atuação correta. Na maioria das vezes é mais fácil adaptar o projeto do cliente as condições de fabricabilidade do fornecedor, do que exigir que um fornecedor altere seu processo produtivo para atender determinado projeto. 7.5 PARTICIPAÇÃO DOS TRANSPORTADORES NO PROCESSO DE PARCERIAS Até o momento tratou-se de questões do relacionamento genérico JIT entre fornecedores e clientes. Agora nesse tópico serão tratadas algumas questões específicas relacionadas com as empresas transportadoras, considerando-as como fornecedoras de serviço de transporte dentro da cadeia produtiva. Conforme já foi colocado para os fornecedores, também no caso dos transportadores a busca pela confiabilidade no relacionamento de longo prazo se dá através da redução do seu número. Com a exclusividade do fornecimento, espera-se que os transportadores assumam novas responsabilidades, entre as quais: A Cadeia Logística JIT Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 130 aumento da freqüência das entregas; redução de tamanhos e padronização dos lotes transportados; compromisso pela qualidade; garantia e confiabilidade de prazos; envolvimento em atividades internas do cliente (por exemplo: kanban e armazenagem temporária); entre outras. Com a redução dos estoques nas empresas, pela fabricação e movimentação de pequenos lotes, há necessidade de deslocá-los rapidamente entre os vários pontos da cadeia produtiva. Espera- se que os transportadores agilizem seus meios de transporte, garantindo este fluxo contínuo entre as empresas. Com o aumento das freqüências de entrega de pequenos lotes padronizados, novos veículos serão necessários para agilizar o embarque e desembarque das cargas, e novos procedimentos de recepção e inspeção das cargas terão que ser desenvolvidos. Por exemplo, os caminhões com carregamento lateral e as docas com altura de piso equivalente ao caminhão permitem acesso rápido à carga. A responsabilidade pela qualidade da carga transportada, que convencionalmente era mínima, passa a ter um fator determinante dado à eliminação dos estoques de segurança dentro da logística de reabastecimento. Logo, desde o momento em que a transportadora é chamada a intervir no processo de suprimentos, até a entrega dos produtos ao consumidor final, a responsabilidade pela qualidade das cargas movimentadas é do transportador. A carga pode inclusive passar por um processo de armazenagem temporária, em um entreposto do transportador,aumentando ainda mais sua responsabilidade. Não só a qualidade em si pela integridade física da carga é solicitada pelo cliente. Ele espera muito mais do serviço do transportador. Espera ênfase na “qualidade total” do transporte, ou seja, que a carga chegue ao local de destino dentro do cronograma de prazos e quantidades estabelecidos. A eficiência produtiva do cliente depende do compromisso do transportador em atender aos requisitos de um transporte e entrega eficientes. Ao se relacionar em bases que estimulam a confiança mútua entre as partes, os clientes delegarão uma grande gama de atividades, que antes eram exclusividade do pessoal interno, para os transportadores. O sistema de puxar a programação da produção e estoques via kanban exige que o transportador execute atividades internas dos clientes e fornecedores, envolvendo-se na programação e controle dos estoques. O emprego de tecnologia de troca eletrônica de documentos (EDI) faz com que o transportador tenha conhecimento, e lide no seu dia a dia, com padrões de informações e decisões que antes eram exclusivas do cliente. A própria armazenagem temporária das cargas pode ser delegada aos transportadores, no sentido de racionalizar e agilizar a logística da cadeia produtiva. Sendo assim, o perfil exigido das empresas transportadoras envolvidas no processo de reabastecimento produtivo mudou radicalmente. A melhora no relacionamento entre transportadores e clientes trás como conseqüência direta um incremento de produtividade na cadeia como um todo, vindo a beneficiar o consumidor final, que ao ser bem atendido nas suas necessidades, não só retorna para novas compras, como divulga a outros clientes em potencial sua experiência. Isto faz com que as vendas se sustentem e se expandam, garantindo a sobrevivência dos participantes da cadeia. Além dessas questões globais, o relacionamento JIT com seus clientes trás para os transportadores algumas vantagens específicas, que podem ser agrupadas segundos três tópicos: Capítulo 7 Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 131 vantagens associadas à redução das incertezas; vantagens associadas à exclusividade de transporte; vantagens relacionadas à padronização das cargas. Vantagens associadas à redução das incertezas: em um relacionamento JIT entre clientes e transportadores procuram-se relações duradouras, com contratos de parceria de longo prazo. Isto trás um grau maior de confiança e expectativas quanto ao futuro das empresas. O crescimento do cliente corresponde a um aumento do fluxo de materiais, e consequentemente, ao aumento dos negócios da transportadora. Dessa forma a transportadora tem condições, até com a ajuda financeira do cliente, de investir melhor em seu sistema de transporte com base em previsões realísticas sobre o futuro de seu negócio, e o retorno sobre os investimentos pode ser equacionado para um período maior. Olhando para o dia a dia da empresa transportadora, a redução das incertezas com o estabelecimento de um programa firme de movimentações de itens, menos sujeito à cancelamentos de última hora, acarretará em melhores dimensionamentos de cargas e veículos, aumentando a eficiência do sistema de transporte e reduzindo seus custos diretos. Outra vantagem importante para o transportador no relacionamento de longo prazo, diz respeito a possibilidade de planejar com diferentes clientes um esquema de fretamento coletivo, dentro do qual o transporte de pequenas cargas se torne economicamente viável, podendo esse fato representar um diferencial importante para que um cliente decida pela escolha da transportadora em relação à concorrência. Resumidamente, pode-se dizer que a redução das incertezas no relacionamento com clientes JIT permite: maior segurança nos investimentos futuros; melhor desempenho atual da frota; coordenação para o fretamento coletivo. Vantagens associadas à exclusividade de transporte: quando os contratos são firmados em bases JIT, o transportador terá exclusividade no transporte de determinada carga de itens entre fornecedor e cliente. Junto com a exclusividade vem o aumento nos volumes movimentados. Onde antes três, ou quatro, transportadoras dividiam as movimentações, agora apenas uma empresa assume a responsabilidade total pela carga. O aumento da quantidade transportada permite a redução dos custos diretos de transporte. Além de reduções de custo, o simples fato de existirem menos contratos a serem negociados com os clientes, numa freqüência menor, faz com que os custos indiretos de administração (não agregam valor aos produtos) sejam bastante otimizados. Também, com a exclusividade de fornecimento, a papelada necessária e as conferências de cargas, tanto na busca como na entrega dos materiais, podem ser reduzidas, ou até eliminadas. A exclusividade de fornecimento dos serviços com o aumento dos volumes transportados permite que o transportador tenha um lucro maior e duradouro, facilitando o investimento em melhorias para a prestação do serviço como um todo. Por exemplo, sob esta perspectiva, fica interessante ao transportador investir em sistemas de acompanhamento de carga (GPS), ou em EDI, ou ainda em automatizar o embarque e desembarque das mercadorias. A aquisição de novas tecnologias também exige o treinamento da mão-de-obra envolvida no sistema, o que deve ser visto como um investimento de longo prazo. A Cadeia Logística JIT Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 132 Outra vantagem para o transportador advinda da exclusividade é a possibilidade de receber apoio técnico do cliente que está interessado em aumentar a eficiência de sua cadeia produtiva. Todo o conhecimento do cliente em armazenar e movimentar determinado item pode ser transferido para o transportador, fazendo com que o transportador se torne um especialista no assunto, e possa, por sua vez, utilizar essa experiência para ampliar seu mercado com outros clientes. Além disso, com a exclusividade para o transporte e o desenvolvimento de excelência nas operações, é bem provável que o cliente ao expandir os seus negócios considere a possibilidade de ampliar os itens sob responsabilidade da transportadora, dando-lhe prioridade nos novos contratos de movimentação de cargas. Uma vantagem adicional, que pode ser explorada pelo transportador, consiste em propor sugestões que visem um ganho de produtividade comum, reduzindo custos conjuntos. Por exemplo, o transportador pode sugerir uma forma mais eficiente de desembarque de mercadorias para o cliente. Ganha o cliente na agilidade do serviço e ganha o transportador com a liberação do caminhão em curto espaço de tempo. Isto só é possível quando existem objetivos JIT de longo prazo comuns entre clientes e transportadores. Sintetizando, pode-se dizer que os ganhos do transportador por ter exclusividade de transporte no relacionamento JIT com clientes, reduzindo os custos totais do sistema, são: aumento dos volumes contratados; poucos contratos a negociar, com baixa freqüência; redução da quantidade de papéis e conferências; lucro consistente no longo prazo; transferência de conhecimento do cliente; prioridade em conquistar novos contratos; possibilidade de sugerir melhoramentos. Vantagens relacionadas à padronização das cargas: existe ainda um terceiro grupo de vantagens que podem ser obtidas pelos transportadores relacionadas à padronização das cargas. O princípio da organização e simplicidade apregoado pela filosofia JIT/TQC faz com que os materiais movimentados e armazenados pela cadeia produtiva estejam acondicionados em embalagens,ou contenedores, padrões. O sistema kanban é o exemplo mais conhecido. Olhando sob o ponto de vista dos transportes de cargas entre empresas, o fato de ter-se cargas padronizadas para transportar permite um melhor arranjo físico da carga no meio de transporte escolhido, aumentando sua eficiência e permitindo, em algumas situações, o compartilhamento dos espaços disponíveis para transporte entre cargas distintas. Outra conseqüência direta da padronização das cargas é o aumento da velocidade de carregamento e descarregamento das mesmas nos pontos de coleta e entrega dos itens. Como a carga é movimentada em blocos padrões, pode-se acelerar o processo pelo emprego de automação industrial. Também a contagem e conferência da carga, necessária nesses momentos, é simplificada. Dentro do princípio de que sempre existe uma quantidade padrão dentro do contenedor, conta-se e confere-se apenas o contenedor, e não sua carga individual. Admite-se dentro do JIT, que se cada operador executou sua atividade corretamente, não tem porquê incorrer em custos desnecessários repetindo-a. Logo, se o fornecedor colocou a quantidade certa, na qualidade certa, dentro do contenedor certo, e, por sua vez, o transportador movimentou a carga corretamente, não há necessidade dessas atividades serem repetidas nas instalações do cliente quando a entrega chega. É o conceito de qualidade total assegurada na fonte. Capítulo 7 Sistemas de Produção A Produtividade no Chão de Fábrica 133 Finalmente, a padronização das cargas e a redução dos níveis de estoques dentro do sistema, permitirão uma contabilização mais simples e rápida dos volumes movimentados, podendo o transportador se beneficiar com a agilização dos pagamentos devidos pelas cargas movimentadas. Resumindo, as seguintes oportunidades podem ser conquistadas pelas empresas transportadoras em função do manuseio e transporte de cargas padronizadas: melhor aproveitamento do meio de transporte; aumento da eficiência no carregamento e descarregamento das cargas; garantia da qualidade com menores custos; eliminação de contagens e conferências individuais; contabilização mais simples baseada em cargas padronizadas. A implementação de uma cadeia logística JIT traz benefícios para todos os participantes dessa cadeia. Com a eliminação das ineficiências internas de cada sistema produtivo e externas no relacionamento entre as empresas, ganham os fornecedores, os clientes e os transportadores. Porém, a maior vantagem que uma empresa pode tirar desse relacionamento é a busca pelo melhoramento contínuo, que leva a fixação de uma imagem de empresa empreendedora e eficiente. Essa imagem positiva é a chave para a conquista de novos clientes e a liderança do mercado.
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