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Talita Vitória Silva

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Já são quase 19h, ainda estou trabalhando e preciso fazer mais uma entrega, essa última entrega é perto de minha casa, decido ir a pé mesmo, no caminho passo por uma igreja e vejo a mãe de uma moça que tinha sido batizada na nossa igreja ano passado, ela estava com sua filha mais nova de 9 anos, percebo que a menininha estava chorando e dizia que não queria ir para aquela igreja, ela queria ir para a igreja adventista, ao ver aquela cena fico feliz pela declaração da criança, mas olho para o lado e vejo uma outra menina que também era filha daquela senhora, porém ela estava sentada na calçada e parecia triste. Vendo isso, sigo em frente para minha entrega. 
Entrega realizada. Resolvi voltar pelo mesmo caminho e deparo com aquela menina triste, agora chorando e ainda sentada na calçada, desta vez não posso só olhar preciso fazer algo. Sento do lado dela e pergunto: - Hey o que houve contigo?Posso te ajudar? Fico sem resposta. 
- Sabia que eu sei quem sua irmã é? Ela foi batizada em minha igreja ano passado, só que ela é muito fechada e eu não consegui fazer amizade com ela, mas me deixa te ajudar. Talvez você pense que eu não consiga te ajudar, mas pelo menos conta, desabafe só o fato de você falar já vai ser bom para você aliviar o que está sentindo. Ainda continuo sem resposta.
- Se você não falar nada eu vou começar a “chutar perguntas” até descobrir qual é seu problema. Sua mãe brigou com você, foi? Ela apenas balança a cabeça negando. Hnn então você está mal na escola? Tento várias perguntas, mas tudo em vão. 
- Olha não precisa ter medo de me contar eu não converso com ninguém da sua família mesmo, então eu não vou contar para ninguém, quer tentar confiar em mim? 
Foi quando ela começou a arremangar seu casaco, o que vejo em seguida me deixa em estado de choque, seus dois braços estão todo cortado, aquilo para mim foi muito forte. Em silêncio enquanto olhava os braços daquela menina, automaticamente fiz uma oração pedindo força e sabedoria, ao mesmo tempo em que afirmava para Deus que aquilo era muito para mim e que eu não estava preparado para esse tipo de criança, afinal meu desbravador mais velho tinha 12 anos e não tem nem de perto problemas como esses. Mesmo me sentindo sem chão arrisco mais uma tentativa de dialogo. 
- Agora que você me mostrou isso consegue ao menos dizer seu nome?
- Meu nome é Talita.
- Quantos anos você tem? 
- 14
- O que te levou a fazer isso?
- Eu não sei, só senti vontade.
- Talita essa é a primeira vez que você faz isso, não é?
- Não, eu faço isso desde quando tinha 11 anos. 
- Caramba, com 11 anos tudo que eu fazia era jogar futebol e andar de bicicleta. Mas você tem ido a algum psicólogo, psiquiatra, sua família sabe disso?
- Minha família sabe, na verdade todo mundo sabe, ninguém gosta de mim por isso e eu já fui em vários psicólogos, mas ninguém consegue me ajudar e eu não consigo parar.
- Bom, sendo assim eu nem vou perguntar se você já foi a alguma igreja buscar a ajuda de Deus, afinal você está na frente de uma e parece não querer entrar. 
- É nem me pergunte isso, porque eu nem mais sei se Deus existe.
- Tudo bem Talita, mas olha, eu posso te ajudar. É que na verdade eu não sei bem como te ajudar, acontece que eu acredito muito em Deus e o conheço muito bem, eu já tive um monte de problemas na minha vida e Ele me ajudou a superar tudo. Se você me der uma oportunidade eu posso te apresentar esse Deus, e Ele vai te transformar, só que esse Deus que eu vou te apresentar Ele é diferente de tudo que você já ouviu sobre Deus até hoje. Você tem 14 anos né? Então, você tem idade para ser uma desbravadora e é justamente no Clube de Desbravadores que eu vou conseguir te apresentar esse Deus.
- O que é isso?
- Presta atenção, esse sábado agora eu vou viajar, mas no próximo eu preciso que você vá na Igreja Adventista, sabe onde fica? Sua irmã vai todo sábado, então vai com ela e no domingo eu te levo no clube, só para te adiantar lá no clube tem um monte de crianças, as crianças do meu clube aqui em Camapuã são bem novinhas, mas um desbravador tem idade de 10 até 15 anos e você está nessa faixa etária. Posso te esperar sábado na igreja?
- Eu não sei, vou pensar, nem sei se vou estar viva até lá.
- Poxa Talita não fale assim, heeeeey calma espera ai, você não esta participando naquele negócio da baleia azul não né? 
- Que raiva todo mundo me pergunta isso o tempo todo? 
- Ah você quer o que Talita. Todo dia é falado isso no jornal, no facebook toda hora alguém posta algo do tipo, é preocupante isso sim, ainda mais você com seu braço desse jeito. E se as pessoas te perguntam isso é porque elas gostam de você.
- Tanto faz. Mas eu não estou nessa da baleia azul não, fica tranqüilo.
- Ufa, eu já fico mais tranqüilo e vou te esperar sábado que vem lá. Agora eu tenho que ir, estou morrendo de fome, mas eu quero orar aqui com você, posso?
- Pode. 
Chego em casa e agradeço a Deus pelo fato de minhas crianças do clube não terem problemas semelhantes ao daquela menina, por outro lado sei que Deus nunca faz nada por acaso, se Ele permitiu que eu vivenciasse aquilo é porque Ele queria que eu ajudasse aquela menina ou que eu começasse a me preparar para saber lidar com esse tipo de crianças, melhor esses adolescentes. 
Os dias passam, a imagem do braço da Talita me perturbou por vários dias, mas era sábado e distraidamente vou à igreja. Chegando lá me deparo com a Talita do lado de sua irmã, automaticamente me lembro da promessa que fiz a ela de apresentar um Deus diferente. O culto acaba, diferentemente dos outros irmãos da igreja a irmã da Talita era uma moça que entrava na igreja calada e saia muda, tive que correr até a esquina para alcançar a Talita e explicar onde o clube se reunia, o horário e o traje de roupa, após explicar e convidar a Talita, estendo o convite para a irmã dela que era mais velha, tinha 22 anos, não tem mais idade de desbravadores, mas seria muito bem vinda e poderia me ajudar no clube a cuidar das meninas, porque até então eu estava sem nenhuma mulher para estar no clube. Ela balança a cabeça e sem dizer muita coisa segue seu caminho.
Domingo de manhã, preparo para ir ao clube, como de costume passo na casa dos desbravadores mais distantes e os levo para a reunião, chego por volta de 7:40 e sou surpreendido ao encontrar a Talita sozinha no local da reunião esperando dar o horário de iniciar as atividades. Durante a reunião chamo ela para conversar:
- Talita, eu estive pesquisando sobre seu caso, descobri que muitas pessoas cometem o ato de se cortarem porque elas sentem em seu coração uma dor tão profunda que por isso acabam mutilando seu próprio corpo, você se corta com o que?
- Eu tenho 3 giletes em casa. 
- Poxa, olha vou te dar uma missão, no próximo domingo você vai voltar aqui, mas terá que me trazer essas giletes.
No outro domingo, Talita me entrega suas giletes.
- Parabéns por me entregar, esse é seu primeiro passo para conseguir abandonar essa prática. Acontece Talita que eu não sou tão bobo, sei que você consegue outras giletes fácil fácil, então na verdade vamos fazer uma troca ta, você está me dando essas giletes, e deixa eu te perguntar você tem bíblia em casa?
- Tenho sim.
- Então quando você sentir vontade de fazer aquilo, você pode me ligar, pode ser a cobrar mesmo, mas senão quiser me ligar, você escuta bem, você vai fazer uma oração e vai ler esse livro ta, leia alguns capítulos de Salmos, pois te dará muito conforto e sua vontade vai passar. Vamos orar agora para você se comprometer a fazer isso?
A reunião acontece, no final dou os anúncios de que por estarmos chegando ao final de Março, eles deveriam se preparar para o acampamento de sobrevivência que seria no início de Maio, informo que esse acampamento seria em Rio Verde, junto com outros 6 clubes da região norte, isso seria bom para eles conhecerem outros desbravadores e que também seria melhor para mim,pois nos outros clubes tem mais conselheiras e elas iriam ficar com as meninas do nosso clube também.
Como o meu secretário abandou oclube, tenho que ir pessoalmente à casa da Talita fazer a ficha dela de inscrição e explicar o funcionamento do clube para seus pais. Lá eu percebo que sua mãe também é uma mulher depressiva e para baixo. Ao concluir a ficha, Talita me informa que não iria ao acampamento, eu olho em seus olhos e digo você vai sim. Reitero alegando que esse acampamento seria um aprendizado prático sobre o Deus que eu tinha prometido apresentar, e que após o acampamento começaríamos um estudo bem profundo. 
 Chegando do acampamento logo fui informar para o regional a situação da Talita e peço para que ele solicitasse para a esposa dele tirar um tempo para conversar com ela, dar um abraço talvez, ele concorda e o acampamento segue deforma difícil, a chuva não para nenhum instante. Eu me desdobro para cuidar de todos meus desbravadores, por eles serem muito pequenos tive que dar muita atenção para eles e infelizmente ou felizmente mal tive tempo de acompanhar a Talita, que tinha ficado com a unidade das meninas de outro clube, já que o meu não tinha conselheiras. 
Pela graça de Deus a Talita se deu muito bem com as outras meninas que eram de sua idade, fizeram todas as provas juntas e tudo ocorreu bem, de longe eu observa-a correndo na chuva atrás de algo, depois almoçando junto com as meninas e ela parecia estar bem enturmada. No último dia do acampamento o sol aparece, todos aproveitam o belíssimo rio, os clubes começam a ir embora, eu vou deixando o meu por último para que as crianças aproveitassem ao máximo e chegassem em casa muito cansadas e assim não teriam forças para ir a festa que estava tomando conta da nossa cidade, isso considerando que a maior parte das minhas crianças não são adventistas e estavam em seu primeiro ano de clube.
A hora de deixar o rio chega, coloco o clube em forma e chamo o regional para nos despedir. Na frente do regional eu pergunto as crianças se elas tinham gostado do acampamento, todas gritam dizendo que sim, mas Talita fala de forma bem forma bem enfática, - eu não gostei! Olho para o regional, olho para ela e sorrindo eu digo – mentira garota, você nunca participou de algo tão legal,você nunca riu tanto na sua vida quanto você sorriu nesse acampamento e eu vi que você fez muitas amigas. 
Ela então sorri e fala – é verdade, foi legal sim.
Passado o acampamento a vida continuou, iniciei o estudo com a Talita, ela começou a ir sempre aos cultos da igreja adventista, atualmente ela não falta nenhum culto, sempre é a primeira a chegar à reunião do Clube de Desbravadores, todo domingo a tarde me liga para realizarmos o estudo bíblico, participou ativamente da Missão Calebe urbana que o clube Oásis realizou em um bairro distante de Camapuã, recentemente ela me contou que já tem algum tempo que não se corta, afirmando que quando ela sente vontade de se cortar, ela ora e começa a ler o livro que eu tinha dado a ela chamado “Patriarcas e Profetas”.
Os irmãos da igreja tem alegremente contado sobre a mudança no comportamento da Talita, pois ela era fechada, quieta, seu cabelo tampava por completo seu rosto, independente do calor nunca aparecia sem o casaco, mas hoje ela sorri, ela conversa e até brinca com os irmãos mais velhos da igreja lhes dando um pouco de sua atenção e felicidade.
No dia 24 de Julho de 2017, Talita me manda oi no whatssap, eu a respondo e começamos um dialogo, algo corriqueiro, mas no meio da conversa eu lhe faço uma pergunta – hein, você disse que quer se batizar né. Sua resposta me enche de uma alegria que ultrapassa o entendimento, porque não foi um simples sim ou um pode ser, ela disse – sim é o que eu mais quero. E não se trata de apenas mais um batismo e sim de uma transformação de vida, tamanha alegria não coube em meu coração e eu tive que compartilhar com minha liderança do clube, com meu regional, com meu pastor e quero compartilhar com o máximo de pessoas possível, não para mostrar o fruto do meu trabalho, pois em cada ato eu senti Deus me dando sabedoria, forças e recursos, mas sabendo do duro trabalho que cada diretor de clube enfrenta desejo compartilhando esse print, mostrar e motiva-los a cada vez mais trabalhar pelo bem das crianças, levando-os aos pés de Cristo, de uma maneira diferente, adaptada para essas crianças. Também desejo que nenhum diretor ou líder de desbravador nunca desista de nenhuma criança por mais difícil que seja o caso dela, se ela demonstrar um pouco de interesse pelo clube de Desbravadores trabalhe até o fim para que ela seja levada a Cristo. Saiba que não há nada capaz de proporcional uma felicidade maior que como diretor de clube ver um adolescente com um enorme sorriso no rosto decidindo pelo batismo no 3º campori da UCOB, esse é o caso da Talita Vitória Silva, desbravadora do clube Oásis.

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