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As Unidades Climáticas Urbanas - livro conforto ambiental

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ATLAS AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO 
Secretaria do Verde e do Meio Ambiente – SVMA/PMSP 
Secretaria de Planejamento – SEMPLA/PMSP 
 
FASE I: 
“Diagnósticos e Bases para a Definição de Políticas Públicas para 
as Áreas Verdes no Município de São Paulo”. 
 
 
 
 
 
 
 
Unidades Climáticas Urbanas da Cidade de São Paulo 
 
 
(1a aproximação) 
 
 
 
 
Prof. Dr. José Roberto Tarifa 
Geógrafo Gustavo Armani 
garmani@usp.br 
 
 
Laboratório de Climatologia 
Departamento de Geografia / Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFCLH 
Universidade de São Paulo – USP 
 
- Primavera de 2000 - 
 
i 
 
Sumário 
 
Lista de Quadros.........................................................................................................ii 
Lista das Fotografias..................................................................................................iii 
 
Resumo........................................................................................................................iv 
 
1. Introdução..............................................................................................................1 
2. Metodologia............................................................................................................8 
3. O Sítio Urbano........................................................................................................9 
4. Do Regional aos Climas Locais..........................................................................12 
5. As Unidades Climáticas Naturais.......................................................................17 
6. As Unidades Climáticas Urbanas.......................................................................27 
6.1. A Unidade Climática Urbana Central (I)..................................................31 
6.1.1. O Núcleo da Unidade Central (IA)......................................................31 
6.1.2. As Unidades Climáticas da Expansão do Núcleo da Metrópole.....39 
6.2. As Unidades Climáticas Urbanas da Periferia (II)..................................51 
6.3. A Unidade Climática do Urbano Fragmentado (III)................................63 
6.4. A Unidade Climática não Urbana (IV)......................................................64 
7. Considerações Finais..........................................................................................64 
8. Bibliografia...........................................................................................................65 
 
ANEXOS 
 
Mapa 01 – As Unidades Climáticas Naturais.........................................................68 
Mapa 02 – Uso do Solo Predominante por Quadra Fiscal....................................69 
Mapa 03 – Distribuição Espacial das Áreas Verdes na Cidade de São Paulo....70 
Mapa 04 – Distribuição Espacial da Temperatura do Solo – 03/09/1999.............71 
Mapa 05 – Distribuição Espacial da Temperatura do - 30/04/2000.....................72 
Mapa 06 – Distribuição Espacial das Favelas no Município de São Paulo.........73 
Mapa 07 – As Unidades Climáticas Urbanas.........................................................74 
 
ii 
 
Lista de Quadros 
 
 
Quadro 1 – Normais Climatológicas – Mirante de Santana (SP)........................15 
 
Quadro 2 – Freqüência e Intensidade Média dos Ventos (Congonhas)............17 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
iii 
 
Lista das Fotografias 
 
 
Foto 1 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IA1h / IA2f / IE2............27 
Foto 2 – Unidade Climática Urbana IB2a..............................................................29 
Foto 3 – Unidade Climática Urbana IA1a..............................................................32 
Foto 4 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IA2d / IA2f.....................33 
Foto 5 – Unidade Climática Urbana IA1a..............................................................35 
Foto 6 – Unidade Climática Urbana IA2a..............................................................37 
Foto 7 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IA5 / IA1f / IC2...............39 
Foto 8 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IB1 / IF1.........................40 
Foto 9 – Tentativa da Vista da Serra da Cantareira (poluição)...........................41 
Foto 10 – Unidade Climática Urbana IC1..............................................................43 
Foto 11 – Unidade Climática Urbana IC1 (Favela Heliópolis).............................44 
Foto 12 – Unidade Climática Urbana IF2..............................................................47 
Foto 13 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IF3 / IF1.......................47 
Foto 14 – Unidade Climática Urbana IF1..............................................................48 
Foto 15 – Unidade Climática Urbana IIA5.............................................................51 
Foto 16 – Unidade Climática Urbana IIA6.............................................................54 
Foto 17 – Unidade Climática Urbana IIA4.............................................................55 
Foto 18 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IIA5 / IIA6....................56 
Foto 19 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IIA5 / IIA6....................58 
Foto 20 – Unidade Climática Urbana IIA5.............................................................58 
Foto 21 – Unidade Climática Urbana IIB4.............................................................60 
Foto 22 – Unidade Climática Urbana IIE3.............................................................61 
Foto 23 – Unidade Climática Urbana IIE5.............................................................63 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
iv 
 
Resumo 
 
A análise do clima de uma cidade com as dimensões do fato urbano existentes na metrópole de São 
Paulo exige a adoção de princípios, métodos e técnicas adequados à compreensão do fenômeno. O 
primeiro deles, e talvez o mais importante, seja considerar a realidade urbana como uma totalidade. Os 
múltiplos e diversos aspectos, propriedades, graus de intensidade do fenômeno metropolitano redefine 
globalmente todo o conjunto de suas partes constituintes. Desta forma, o clima ou os climas urbanos da 
metrópole não podem ser tratados como processos puramente físicos, mas em todas as suas interações 
com os fatos associados à produção do espaço através das práticas sociais vigentes no cotidiano desta 
sociedade urbana. Associado a este princípio, os procedimentos e objetivos a serem alcançados são: 
a) delimitar e analisar as unidades climáticas urbanas em três níveis de análise. O primeiro 
deles seria aquele que engloba toda a mancha urbana contínua da Metrópole, incluindo portanto, todo o 
conjunto de climas locais da Bacia do Alto Tietê ou da RMSP; 
b) O segundo nível seria aqueles das unidades topoclimáticas, onde as diferenças estariam 
associadas aos padrões de uso do solo vigente, bem como às diferenças constatadas na concentração 
dos poluentes atmosféricos decorrentes dos meso e topoclimas naturais e urbanos; 
c) O terceiro nível seria aquele do habitar, do viver e do trabalhar, onde interessa 
sobremaneira os ambientes microclimáticos, tanto interno das edificações, como externo a elas, na rua, 
na praça ou no trabalho, em termos de alterações qualitativas nas propriedades dos estados 
atmosféricos. 
A Região Metropolitana da Cidade de São Paulo, tem uma população de aproximadamente 16 
milhões de habitantes em uma área urbanizada de 1.747 km2. No entanto, a distribuição nesse território de 
8.051km2 é bastante desigual. De fato, a maior concentração está no municípiode São Paulo, que abriga 
9,8 milhões (61% do total) numa área de 1.051 km2. Além disto os municípios de Guarulhos, Osaco, Santo 
André e São Bernardo do Campo têm, cada um, mais de 500 mil habitantes. Com estes números, São 
Paulo continua sendo o terceiro maior conglomerado urbano do mundo. O produto interno bruto dessa 
metrópole (Grande São Paulo) é de 64,5 bilhões de dólares. Este PIB metropolitano é quase a metade do 
PIB estadual e representa cerca de 1/6 da renda brasileira. Existe ainda, dentro desse território, 
aproximadamente 40 mil indústrias e 5,7 milhões de veículos particulares (21% do total nacional). 
Na Grande São Paulo são realizadas 30,5 milhões de viagens por dia, sendo 12 milhões de 
transporte coletivo, 8,1 milhões no modo individual e 10,4 milhões a pé. Nas ruas, praças e avenidas da 
Capital circulam 2,5 a 3,0 milhões de veículos por dia. 
As indústrias e veículos são responsáveis pelo lançamento no ar próximo do solo (onde vivemos e 
respiramos), diariamente, por perto de 6.000 toneladas de poluentes. Isto eqüivale a que cada um dos 16 
milhões de habitantes da Grande São Paulo está sujeito a respirar, por dia, 350 gramas de elementos 
nocivos à saúde. Hoje, os veículos automotores são os principais causadores da poluição do ar na Grande 
São Paulo, produzindo 90% da poluição atmosférica, enquanto as indústrias são responsáveis pelos outros 
10%. Os principais poluentes lançados sobre a atmosfera da metrópole são, segundo os dados da CETESB 
v 
 
(1999): 68% de monóxido de Carbono, 11% de Óxidos de Enxofre e 4% de particulados. A Região 
Metropolitana de São Paulo (RMSP) abriga 4,4 milhões de domicílios, sendo que possui 1.080 favelas. 
Heliópolis, a maior favela da Capital, abriga 35 mil habitantes em 8 mil barracos. Somando-se moradores de 
favelas e cortiços, estima-se um total aproximado de 3,5 a 4,0 milhões de pessoas. 
O consumo de energia elétrica na Região Metropolitana encontra-se na marca de 35,3 milhões de 
megawatts/hora (17% do total nacional). Apesar destes números de uma aparente riqueza, a Grande São 
Paulo convive com a expressiva taxa de 14% de desemprego, equivalente a 1,1 milhão de trabalhadores 
desempregados. 
A extensa área de ocupação urbana, associada a vários outros agravantes (lixo, assoreamento, 
desmatamento nas áreas de cabaceiras de nascentes, canalização, esgoto industrial e domiciliar lançados 
nos rios) tem aumentado o problema das enchentes e inundações, contando atualmente (1999) com 
aproximadamente 600 pontos. 
Apesar de toda esta importância demonstrada, a RMSP se constitui em uma das realidades 
climáticas urbanas menos conhecida e estudada no Brasil. A maioria dos trabalhos são pontuais (nível 
regional ou local) e não respondem pela necessidade do conhecimento em termos do espaço e do tempo 
(cronológico). As escalas de tratamento, no geral, são muito amplas, em torno de 1:1.000.00 a 1:2.500.000, 
e baseadas em concepções médias, que não mostram as variabilidades reais dos fenômenos, ligados à 
vida ou ao desempenho do organismo urbano. 
A abordagem em pregada procurou utilizar todo o acervo de conhecimento existente sobre o clima 
da cidade de São Paulo no Laboratório de Climatologia do Departamento de Geografia da Universidade de 
São Paulo. Além deste material cartográfico, foram utilizados os dados da Normal Climatológica do Mirante 
de Santana (1961-1990) (INMET, 1991) para a caracterização do Clima Local da Bacia Paulistana. A 
análise da circulação dos ventos foi realizada usando dados de freqüências e direções do vento para o 
Aeroporto de Congonhas (período de 1987 a 1993), em função desta estação estar localizada numa 
posição central em relação à mancha urbana da cidade, bem como pelo fato das leituras de vento serem 
realizadas 24 horas por dia, e não apenas 3 leituras como no Mirante de Santana. 
Este material se constitui num conjunto de mapas na escala 1:50.000, sobre a distribuição anual da 
pluviosidade e máximos em 24 horas no Município de São Paulo e no seu entorno. Com base neste 
material e combinando observações topo e mesoclimáticas de campo com análises integradas com o 
relevo (forma, orientação, declividade) e a drenagem, a distância do oceano foi possível construir a carta de 
Unidades Climáticas Naturais do Município de São Paulo (MAPA 01). 
O estudo específico do uso do solo (na escala 1:50.000) foi baseado em mapeamento quadra a 
quadra elaborado pela Secretaria de Planejamento da Prefeitura (SEMPLA, 1999). Os padrões e a tipologia 
do uso do solo foram transformados e simplificados visando entender suas relações com a distribuição do 
campo térmico e na poluição do ar (MAPA 02). 
Um dos elementos mais importantes na delimitação das Unidades Climáticas Urbanas foi a 
presença ou não de áreas verdes, muito embora no próprio mapa de uso do solo os Parques e Reservas 
estejam mapeados, as manchas menores e a arborização de quintais e ruas não aparecem. Neste caso foi 
necessário recorrer às imagens do Satélite LANDSAT 7 (MAPA 03). 
vi 
 
Por outro lado, considerando as dificuldades inerentes à complexidade dos espaços 
microclimáticos urbanos foi necessário recorrer às imagens do Satélite LANDSAT 7, referente às cenas dos 
dias 03-09-1999 e de 30-04-2000 (aproximadamente às 10:00 horas da manhã). As imagens utilizadas para 
análise e compreensão dos espaços topo e microclimáticos urbanos foram o canal termal (banda 6) 
(MAPAS 04 e 05), uma composição das bandas 3, 4, e 5 para um destaque no porte da vegetação e 
contraste com as áreas urbanizadas, uma outra composição com as bandas 3, 4 e 2 para um realce das 
áreas verdes, e o canal 8 (pancromático) para melhor visualização das áreas verticalizadas. Essas imagens 
foram tratadas e processadas pelo Prof. Dr. Teodoro Isnard Ribeiro de Almeida, do Instituto de Geociências 
da USP, e pelos técnicos da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) Flavio Laurenza Fatigati e 
Luís Roberto de Campos Jacintho. 
Após o tratamento digital, as imagens foram impressas na mesma escala da base cartográfica do 
uso do solo e das Unidades Climáticas Naturais do Clima (1:50.000). As imagens que mostraram maior 
correlação com a representação espacial dos fenômenos climáticos foi a banda 6, ou seja, do termal 
(MAPAS 04 e 05), entretanto, os valores encontrados devem ser considerados como uma aproximação 
genérica da distribuição térmica referente à emissividade da superfície do solo, e não propriamente da 
temperatura do ar. 
Um outro mapeamento foi fundamental para a delimitação das Unidades Climáticas Urbanas. Trata-
se da distribuição das favelas no Município de São Paulo (MAPA 06). A análise de sua densidade e relação 
com o uso do solo, as áreas verdes e o campo térmico permitiu entender melhor a relação núcleo-centro-
periferia do Sistema Clima Urbano (SCU) da metrópole paulista. 
A Metrópole Paulistana está localizada a uma latitude aproximada de 23o21’ e longitude de 46o 44’, 
junto ao trópico de Capricórnio, e implica em uma realidade climática de transição, entre os Climas Tropicais 
Úmidos de Altitude, com período seco definido, e aqueles subtropicais, permanentemente úmidos do Brasil 
meridional. 
Para efetuar a descrição das variações médias mensais dos atributos climáticos, recorreu-se à 
normal climatológica do período 1961-1990, da Estação Meteorológica do Mirante de Santana1 (latitude 
23o 30’, longitude 46o 37’ e altitude 792 m) cujos dados encontram-se sintetizados no Quadro 01. Nele se 
percebe a existência nítida de dois períodos ou estações bem definidas, uma quente e chuvosa de outubro 
a março (grosso modo primavera-verão) e outra fria e relativamente mais seca, de abril a setembro (Outono-
Inverno). Este fato fica evidenciado no comportamento de quase todos os atributos climatológicos 
constantes do Quadro 01. 
O Município de São Paulo está inserido num contexto de terras altas (entre 720 a 850 metrospredominantemente), chamado Planalto Atlântico. A topografia deste planalto apresenta as mais variadas 
feições, tais como planícies aluviais (várzeas), colinas, morros e serras e maciços com as mais variadas 
orientações. A poucos quilômetros de distância (45km em média) encontra-se o Oceano Atlântico. Esse 
quadro físico define um conjunto de controles climáticos que, em interação com a sucessão habitual dos 
sistemas atmosféricos, irão dar identidade aos climas locais, produzidos pelos encadeamentos de diferentes 
vii 
 
tipos de tempo. Dessa forma, o conceito de clima que conduziu o pensamento de todo este trabalho é 
aquele referente à “sucessão habitual dos estados atmosféricos (tipos de tempo) sobre um determinado 
lugar” (SORRE, 1934). 
A grande vantagem deste conceito de clima sobre a definição clássica de Hann (1883) é o 
dinamismo que se atribuiu ao clima, dado pela sucessão habitual. Enquanto que para Hann o que definia o 
clima de um lugar era o estado médio da atmosfera (fenômeno estático e abstrato), o movimento e o 
encadeamento de tipos de tempo vinculam-se mais com a vida e com as práticas sociais e econômicas. 
Os principais controles climáticos naturais para a definição dos climas locais e mesoclimas 
(unidades climáticas naturais) foram o Oceano Atlântico, a altitude e o relevo, com suas diferentes formas e 
orientações. 
Conjugando-se todos estes controles definiu-se cinco climas locais, que foram subdivididos em 
meso ou topoclimas em função das diferentes características topográficas de cada clima local (MAPA 01). 
O primeiro clima local foi definido como Clima Tropical Úmido de Altitude do Planalto Atlântico 
(Unidade I) e ocupa, grosso modo, a área da Bacia Sedimentar de São Paulo, onde a urbanização se 
instalou primeiramente. Neste clima local foram definidos diferentes mesoclimas a saber: (IA) os topos mais 
elevados dos maciços, serras e altas colinas; (IB) as colinas intermediárias, morros baixos, terraços e 
patamares; e (IC) as várzeas e baixos terraços. 
O segundo clima local do Município de São Paulo foi definido como Clima Tropical Úmido Serrano 
da Cantareira – Jaraguá (II). Este clima foi subdividido em dois mesoclimas: (IIA1) os maciços e serras da 
face meridional da Cantareira e Jaraguá, onde está inserido o Parque da Cantareira, e (IIA2) os maciços e 
serras da face setentrional da Cantareira e Jaraguá, ocupando os topos voltados para a Bacia do Juquerí. 
A face Norte (setentrional) da Serra da Cantareira e do Pico do Jaraguá, nas vertentes que drenam 
para o Rio Juquerí (NW do Município), nas altitudes entre 720 a 800 metros foi definido um outro clima local, 
denominado Clima Tropical Úmido de Altitude do Alto Juquerí (III). Este clima local foi subdividido em dois 
mesoclimas, sendo (IIIA) referente aos morros e espigões do Alto Juquerí – Tietê e (IIIB) aos terraços e as 
várzeas do Vale do Juquerí. 
Ao Sul da represa de Guarapiranga foi definido um outro clima local, denominado Clima Tropical 
Sub-oceâncio Superúmido do Reverso do Planalto Altântico (IV), cuja principal característica é a maior 
proximidade com o oceano em relação aos outros três climas locais já analisados (I, II, III). 
Este clima local (IV) foi subdividido em dois mesoclimas: (IVA) os morros e espigões elevados do 
Alto Pinheiros e Embú-Guaçu, e (IVB) morros e nascentes do Alto Pinheiros e Embú-Guaçu. Este segundo 
mesoclima (IVB) foi subdividido em dois topoclimas, (IVB1), referente aos próprios morros e nascentes, e o 
(IVB2), referente ao espelho d’água da represa Billings. 
O último clima local definido para o Município de São Paulo foi denominado Clima Tropical 
Oceânico Super-úmido da fachada Oriental do Planalto Atlântico (V), sendo que ele foi subdividida em três 
mesoclimas a saber: (VA) serras e altos espigões da Fachada Oriental do Planalto Atlântico, (VB) morros, 
serras e escarpas do Alto Capivari-Monos, e (VC) escarpa oriental do Planalto Atlântico (Serra do Mar). Este 
 
1
 Trata-se da estação meteorológica representativa do Clima Local da Cidade de São Paulo. 
viii 
 
clima local, bem como seus mesoclimas, tem sua característica fundamental definida pela máxima influência 
oceânica. 
A cidade e o município de São Paulo foi estruturado em quatro macro-unidades climáticas urbanas. 
Estas unidades podem ser consideradas como “homogêneas” para cada dimensão das relações entre os 
controles climáticos urbanos (uso do solo, fluxo de veículos, densidade populacional, densidade das 
edificações, orientação e altura das edificações, áreas verdes, represas, parques e emissão de poluentes) e 
os atributos (temperatura da superfície, do ar, umidade, insolação, radiação solar, qualidade do ar, 
pluviosidade, ventilação). Portanto, existe uma série de níveis e dimensões destas unidades hierarquizadas 
numa “rede” de relações que se definem no espaço (comprimento, altura, largura) e no tempo (sazonal, 
mensal, diário e horário). 
A Unidade Climática Urbana Central (I) tem uma identidade estruturada em um núcleo, 
representado pela letra A no Mapa 06, e seis Unidades Marginais ou periféricas ao núcleo, representadas 
pelas letras B, C, D, E, F, G (Mapa 06). De forma geral, o núcleo (A) abrange o centro histórico, a 
verticalização densa e contínua que se estende para a Zona Sul, passando pela Liberdade, Vila Mariana, 
até as proximidades com o Parque do Estado. Este sentido da verticalização corresponde aproximadamente 
à área de influência da linha Sul do Metrô. A transição deste núcleo parece ocorrer entre o Brooklin e a 
verticalização da Av. Luís Carlos Berrini. Para Norte, Leste e Oeste-Sudoeste a envoltória deste núcleo 
seriam as marginais, as várzeas e os terraços baixos urbanizados do Tietê, Pinheiros e Tamanduateí. Inclui-
se neste núcleo o sistema de colinas e o espigão central, ocupado pelos principais corredores de trânsito, 
interligando os bairros verdes e os centros do poder econômico, industrial, comercial e de serviços da 
metrópole, concentrados nos canyons urbanos da Paulista e Faria Lima. 
O principal controle climático da unidade IA se expressa pela alta densidade de edificações, 
pessoas, veículos e atividades. A forma urbana mais evidente são os “arranha-céus”, a verticalização. Mas 
qual seria hoje o conteúdo mais importante para o clima ou os climas deste núcleo? Sem dúvida, um dos 
mais graves é a poluição do ar. Os maiores corredores de tráfego da região metropolitana circundam esta 
unidade. A somatória do fluxo diário das marginais (Tietê, Pinheiros) com o da Av. dos Bandeirantes e da 
Av. do Estado (Vale do Tamanduateí) contribuem diariamente para a passagem de mais de 1.200.000 
veículos – calhas de tráfego pesado. Além deste volume enorme de emissões, todo o anel interno é 
composto de vias de trânsito com elevado volume e lentidão (velocidade) variável ao longo do dia e da 
noite. Resulta desta forma, fontes múltiplas e permanentemente móveis de elevada emissão de poluentes 
atmosféricos, cujos danos à saúde já foram discutidos anteriormente. Além deste fato, o “núcleo central” 
recebe das unidades periféricas (IB a G e da Unidade II) o transporte de gases e material particulado 
emitido por fontes industriais e pela circulação dos veículos. 
A urbanização dos vales do Tietê, Tamanduateí e Pinheiros se deu em tempos diferenciados. A 
observação cuidadosa das várzeas e terraços destes rios guarda segredos, cria diferenças microclimáticas, 
mas hoje eles se assemelham climatologicamente como grandes bacias produtoras de toneladas de 
poluentes. Os volumes de tráfego pesado fluem dia e noite e deixam nestes vales as maiores 
concentrações de poluentes de origem industrial e de veículos da metrópole. Entretanto, não apenas 
produzem, mas recebem diariamente grande fluxo depoluentes oriundos do ABCD (no caso principalmente 
ix 
 
o Tamanduateí). O vale do Pinheiros também recebe grande parte dos fluxos produzidos em Santo Amaro 
(de origem industrial e veicular) quando os ventos são de Sul-Sudeste, ou de Barueri-Osasco, sob regimes 
de ventos de noroeste (Unidade IB). 
A ligação da Vergueiro com a Anchieta (antigo Caminho do Mar) passando por parte do Jabaquara, 
Saúde, Ipiranga até os limites com o Parque do Estado e São Caetano do Sul se constituem na Unidade 
Climática IC1. A principal característica deste espaço urbano é o predomínio do residencial baixo (aqui 
considerado como casas ou edificações de 1 a 2 andares de classe média ou média baixa geralmente com 
cobertura de telhas de cerâmica de cor avermelhada). Dentro deste espaço surgem “núcleos” ou novos 
centros de comércio e verticalização, cuja representação cartográfica não foi possível. Existem também, 
dentro deste padrão residencial baixo ou intermediário, um número significativo de edifícios ou prédios (de 3 
ou mais pavimentos). Quando a extensão em área já alcança dimensões consideráveis foi possível criar 
sub-unidades. 
A travessia do Rio Pinheiros a caminho da Zona Oeste (Raposo Tavares e Br116) entre altitudes 
que vão de 720m (Raia Olímpica da USP) à aproximadamente 800 metros, uma unidade climática 
privilegiada pelo verde. Principalmente aquele “verde” dos Bairros Cidade Jardim e Morumbi. As evidências 
são nítidas e claramente definidas se tratar de uma expansão dos bairros nobres e verdes (Unidade 
Climática ID1), onde a enorme área verde com densa arborização cria microclimas perfeitos para a 
reprodução da vida, tanto à nível biológico como social. 
Entre a verticalização atual da Av. Luís Carlos Berrini até o contato (transição) para a zona industrial 
(Unidade IB4 já analisada) existe um “núcleo” adensado, quase um novo “clima urbano” independente do 
Bairro de Santo Amaro. Não estivesse ele dentro da metrópole sua identidade e relações seriam mais 
simples; no entanto, ele ainda mantém o caráter de uma temporalidade diferenciada e seu arranjo de formas 
e conteúdo ainda mostra esta evolução. 
Possui um núcleo bem definido, comercial - residencial baixo (Unidade IE3) ao lado do industrial ou 
via de circulação (Marginal). Logo se passa mais ao longe, protegido pelo verde para a Chácara Santo 
Antônio, bairro verde residencial (Unidade IE3). No bairro verde a temperatura da superfície oscila entre 27 
e 29ºC (setembro) ou de 27 a 30ºC (abril). A forte verticalização existente na Av. Luís Carlos Berrini, bem 
como uma extensa área de forma circular ao Sul da Chácara Santo Antônio define a Unidade topoclimática 
IE2. 
A expansão urbana para o além Tamanduateí produziu bairros (Mooca, Tatuapé, Água Rasa, 
Carrão, Vila Formosa, Penha, Vila Matilde) com altíssima densidade de pessoas e porcentagem muito 
pequena de áreas verdes. A aridez reflete temperaturas altas nas superfícies edificadas (30 a 33ºC). A 
forma urbana mostra uma homogeneidade considerável, tanto no forte aquecimento, na ausência do verde 
e na poluição atmosférica elevada, caracterizando um espaço urbano muito homogêneo nas transformações 
climáticas pelas práticas espaciais e sócio-econômicas. Assim, todo este território entre rios, cuja identidade 
já desapareceu, a metrópole determina novas leis, onde a produção e reprodução do espaço das pessoas e 
do clima é determinado pelo econômico, pelo valor de mercado e não de uso do território. Por isto, 
praticamente inexistem hoje parques, jardins, áreas verdes, campos de futebol, onde as mínimas 
x 
 
necessidades fisiológicas ou vitais do corpo e da cultura possam ser alcançados. Todo este conjunto foi 
identificado como uma unidade mesoclimática urbana, denominada IF. 
A Zona Norte ou Além Tietê se constitui climatologicamente em uma extensa faixa urbana com 
orientação Leste-Oeste. Alinhada estruturalmente pelo vale do Tietê, recebe permanentemente influências 
dos maciços serranos da Cantareira e do Jaraguá. Este extenso divisor de águas das bacias do Tietê – 
Juquerí (900 a 1.000 metros), e seu bloco de terras elevadas melhora a dispersão dos poluentes e altera os 
fluxos atmosféricos nos transportes verticais e horizontais na proximidade do solo (camada limite 
planetária). A ocupação urbana, historicamente muito antiga (núcleos de Santana, Taipas, Pirituba) era 
pontual e acompanhava caminhos, vias, estradas de ferro (ingleses da ligação Santos - Jundiaí) e mais 
recentemente tem muita influência do Sistema Anhanguera-Bandeirantes, Fernão Dias e da própria linha 
Norte do metrô paulistano. Assim, esta franja entre o Tietê e a Cantareira-Jaraguá hoje é um grande 
universo urbano, que certamente já criou inúmeros núcleos e sub-núcleos de diversos “climas urbanos”. Os 
próprios nomes de alguns dos principais bairros da Zona Norte, tais como São Domingos, Jaraguá-Pirituba, 
Freguesia do Ó, Limão, Casa Verde, Santana, Vila Guilherme, Vila Maria, Tucuruvi, Jacanã, Tremembé, 
identifica lugares ontem (passado recente até a década de 1940-1960) associados às várzeas ou serras, 
hoje se identificam os nomes das pontes ou com a qualidade do ar dos bairros mais elevados, onde já se 
vende um clima com qualidade melhor. Existe aí também uma relativa homogeneidade de ser uma área 
com tendência à um predomínio de casas residenciais de até 2 pavimentos (residencial baixo ou 
intermediário) intercalados por áreas com centros comerciais e de verticalização muito intensa. Este 
conjunto (Unidade IG) foi estruturada em 6 sub-unidades, de acordo com as variações do uso do solo, em 
combinação com a distribuição do campo térmico identificada pelo satélite. 
O processo de favelização, com amontoamento de casebres e seres humanos, quase sem as 
mínimas condições ambientais para a reprodução da vida foi o principal critério adotado para a delimitação 
destas unidades. 
A observação da realidade através do sobrevôo feito de helicóptero no dia 22-08-2000 deixou claro 
a importância de como são os microclimas dos “casebres” da periferia urbana da metrópole. Ora parecem 
desertos, unidades climáticas extremas, ora rios de lama, sujeira e inundações, ora calor insuportável, ora 
frio demais, poluição, asma, bronquite, pneumonia de milhões de seres humanos, trabalhadores, operários 
deste país. São estes os “climas urbanos”, ou seja, o calor extremo, evidente nas imagens de satélite, são 
substituídos por áreas termicamente mais “amenas” dos altos declives dos morros, ou pelo sombreamento 
dos fundos de vale. Mudam-se os lugares, mas os “riscos” climáticos contra a vida são os mesmos nos 
morros mais elevados. As temperaturas e o aquecimento e as amplitudes térmicas são menores, mas os 
impactos pluviais são mais elevados e mais intensos, aliados às altas declividades, bem como à fragilidade 
da estrutura superficial (solo-rocha-relevo e tipo de ocupação) da paisagem, os riscos se tornam 
permanentes de perdas de vida. As favelas e cortiços das várzeas e fundos de vale vão receber sazonal e 
rotineiramente, como se fizesse parte do cotidiano determinado pelo econômico, a inundação das casas e a 
proliferação de doenças daí advindas. Torna-se necessário compreender que mesmo as oscilações 
climáticas de pequena variabilidade (uma chuva habitual, uma onda de calor seguida por um tipo de tempo 
um pouco mais frio, etc.) são capazes de provocar danos à saúde ou às necessidades mínimas dos 
xi 
 
desempenhos do corpo e da mente para o trabalhar, estudar ou viver. O clima, assim encarado, mostra 
suas “faces sociais” perversas, mas muito reais para mais de 2.500.000 de favelados desta cidade, ou mais 
de 600.000 encortiçados desta metrópole tão rica na sua produção de riqueza econômica e monetária, e tão 
pobre ou miserável na sua dignidade humana e social. 
Portanto, os fenômenos climáticos devem ser redimensionados pelas práticas sociais e espaciais 
existentes emcada unidade climática, pois elas são representações da realidade urbana. Os efeitos e os 
danos provocados pelo clima (variabilidade, poluição, extremos, etc.) devem ser reavaliados em função de 
como cada classe social, ou cada segmento de uma classe (crianças, idosos, desnutridos) os recebem. A 
“causa mortis” muitas vezes é do sistema circulatório ou do coração, mas o agravamento vem de uma 
totalidade, onde certamente a poluição do ar, o calor extremo, a falta de ventilação ou insolação, as 
enchentes, ou a ansiedade provocada por estes fatores são controles tão ou mais importantes que a “causa 
mortis” em si mesma. Mesmo assim, nas últimas décadas, os estudos de saúde pública indicam a morte por 
problemas relacionados com doenças respiratórias como a segunda causa. 
A discriminação fica tão evidente que mesmo a rede de monitoramento da CETESB deixa este fato 
bem claro; só existe uma estação em funcionamento nesta macro-unidade Climática Periférica (Unidade II), 
ou seja, em São Miguel Paulista, e mesmo assim, sua localização específica não é representativa da área 
dominada pela favelização. 
As áreas críticas do ponto de vista climático são aquelas, onde além do péssimo conforto térmico do 
ambiente interno, se alia o risco de deslizamento por impactos de chuva concentrados, principalmente na 
primavera-verão e, eventualmente, até no outono. Os morros, altos espigões e cristas dos bairros Vila 
Brasilândia e Nova Cachoeirinha são assustadores na sua beleza cênica do entardecer de luzes e vida 
agitada, mas devem ser muito piores em dias e dias de chuva forte de verão, quando os morros e as casas 
quase despencam; ou nos tipos de tempo frios de chuva fina e gelada de outono-inverno. Descobre-se 
rapidamente que a beleza do urbano pobre no morro tem seu lado triste e muitas vezes “trágico”. 
As áreas críticas do ponto de vista climático são aquelas, onde além do péssimo conforto térmico do 
ambiente interno, se alia o risco de deslizamento por impactos de chuva concentrados, principalmente na 
primavera-verão e, eventualmente, até no outono. Os morros, altos espigões e cristas dos bairros Vila 
Brasilândia e Nova Cachoeirinha são assustadores na sua beleza cênica do entardecer de luzes e vida 
agitada, mas devem ser muito piores em dias e dias de chuva forte de verão, quando os morros e as casas 
quase despencam; ou nos tipos de tempo frios de chuva fina e gelada de outono-inverno. Descobre-se 
rapidamente que a beleza do urbano pobre no morro tem seu lado triste e muitas vezes “trágico”.
1 
 
1. Introdução 
 
A análise do clima de uma cidade com as dimensões do fato urbano existentes na 
metrópole de São Paulo exige a adoção de princípios, métodos e técnicas adequados à 
compreensão do fenômeno. O primeiro deles, e talvez o mais importante, seja considerar 
a realidade urbana como uma totalidade. Os múltiplos e diversos aspectos, propriedades, 
graus de intensidade do fenômeno metropolitano redefine globalmente todo o conjunto de 
suas partes constituintes. Desta forma, o clima ou os climas urbanos da metrópole não 
podem ser tratados como processos puramente físicos, mas em todas as suas interações 
com os fatos associados à produção do espaço através das práticas sociais vigentes no 
cotidiano desta sociedade urbana. Associado a este princípio, os procedimentos e 
objetivos a serem alcançados são: 
d) delimitar e analisar as unidades climáticas urbanas em três níveis de análise. 
O primeiro deles seria aquele que engloba toda a mancha urbana contínua da 
Metrópole, incluindo portanto, todo o conjunto de climas locais da Bacia do Alto Tietê 
ou da RMSP; 
e) O segundo nível seria aqueles das unidades topoclimáticas, onde as 
diferenças estariam associadas aos padrões de uso do solo vigente, bem como às 
diferenças constatadas na concentração dos poluentes atmosféricos decorrentes dos 
meso e topoclimas naturais e urbanos; 
f) O terceiro nível seria aquele do habitar, do viver e do trabalhar, onde 
interessa sobremaneira os ambientes microclimáticos, tanto interno das edificações, 
como externo a elas, na rua, na praça ou no trabalho, em termos de alterações 
qualitativas nas propriedades dos estados atmosféricos. 
A Região Metropolitana da Cidade de São Paulo, tem uma população de 
aproximadamente 16 milhões de habitantes em uma área urbanizada de 1.747 km2. No 
entanto, a distribuição nesse território de 8.051km2 é bastante desigual. De fato, a maior 
concentração está no município de São Paulo, que abriga 9,8 milhões (61% do total) 
numa área de 1.051 km2. Além disto os municípios de Guarulhos, Osaco, Santo André e 
São Bernardo do Campo têm, cada um, mais de 500 mil habitantes. Com estes números, 
São Paulo continua sendo o terceiro maior conglomerado urbano do mundo. O produto 
interno bruto dessa metrópole (Grande São Paulo) é de 64,5 bilhões de dólares. Este PIB 
2 
 
metropolitano é quase a metade do PIB estadual e representa cerca de 1/6 da renda 
brasileira. Existe ainda, dentro desse território, aproximadamente 40 mil indústrias e 5,7 
milhões de veículos particulares (21% do total nacional). 
Na Grande São Paulo são realizadas 30,5 milhões de viagens por dia, sendo 12 
milhões de transporte coletivo, 8,1 milhões no modo individual e 10,4 milhões a pé. Nas 
ruas, praças e avenidas da Capital circulam 2,5 a 3,0 milhões de veículos por dia. 
As indústrias e veículos são responsáveis pelo lançamento no ar próximo do solo 
(onde vivemos e respiramos), diariamente, por perto de 6.000 toneladas de poluentes. 
Isto eqüivale a que cada um dos 16 milhões de habitantes da Grande São Paulo está 
sujeito a respirar, por dia, 350 gramas de elementos nocivos à saúde. Hoje, os veículos 
automotores são os principais causadores da poluição do ar na Grande São Paulo, 
produzindo 90% da poluição atmosférica, enquanto as indústrias são responsáveis pelos 
outros 10%. Os principais poluentes lançados sobre a atmosfera da metrópole são, 
segundo os dados da CETESB (1999): 68% de monóxido de Carbono, 11% de Óxidos de 
Enxofre e 4% de particulados. A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) abriga 4,4 
milhões de domicílios, sendo que possui 1.080 favelas. Heliópolis, a maior favela da 
Capital, abriga 35 mil habitantes em 8 mil barracos. Somando-se moradores de favelas e 
cortiços, estima-se um total aproximado de 3,5 a 4,0 milhões de pessoas. 
O consumo de energia elétrica na Região Metropolitana encontra-se na marca de 
35,3 milhões de megawatts/hora (17% do total nacional). Apesar destes números de uma 
aparente riqueza, a Grande São Paulo convive com a expressiva taxa de 14% de 
desemprego, equivalente a 1,1 milhão de trabalhadores desempregados. 
A extensa área de ocupação urbana, associada a vários outros agravantes (lixo, 
assoreamento, desmatamento nas áreas de cabaceiras de nascentes, canalização, 
esgoto industrial e domiciliar lançados nos rios) tem aumentado o problema das 
enchentes e inundações, contando atualmente (1999) com aproximadamente 600 pontos. 
Apesar de toda esta importância demonstrada, a RMSP se constitui em uma das 
realidades climáticas urbanas menos conhecida e estudada no Brasil. A maioria dos 
trabalhos são pontuais (nível regional ou local) e não respondem pela necessidade do 
conhecimento em termos do espaço e do tempo (cronológico). As escalas de tratamento, 
no geral, são muito amplas, em torno de 1:1.000.00 a 1:2.500.000, e baseadas em 
3 
 
concepções médias, que não mostram as variabilidades reais dos fenômenos, ligados à 
vida ou ao desempenho do organismo urbano. 
O Laboratório de Climatologia do Departamento de Geografia da Universidade de 
São Paulo – USP vem trabalhando desde a década de 1970 através de teses (iniciação à 
pesquisa, mestrado e doutorado) e projetos financiados pelo CNPq, ou em colaboração 
com órgãos e entidades estaduais (EMPLASA) e municipais (SEMPLA, SVMA), no 
sentido de contribuirpara o conhecimento desta realidade. 
Em 1975 foi proposto um programa de Climatologia Experimental na RMSP que 
vislumbrava a necessidade de realizar trabalhos de campo e mapeamentos (uso do solo, 
balanço de radiação solar, chuva, temperatura e poluição do ar) em três universos, ou 
níveis de organização hierárquica do espaço urbano: 
1- Nível Regional Metropolitano ou Bacia do Alto Tietê; 
2- Nível Local, composto pelo espaço continuamente urbanizado da 
Grande São Paulo; 
3- Nível Microclimático, composto pelo espaço urbanizado na cidade de 
São Paulo. 
Imaginava-se até mesmo um veículo, uma pick-up, com um conjunto de 
equipamentos meteorológicos para o trabalho de campo (TARIFA, 1976). Infelizmente, 
uma série de dificuldades burocráticas e de financiamento não permitiram o 
desenvolvimento integral deste programa de pesquisa (CLIMEX-SP). No entanto, alguns 
resultados foram sendo construídos, conforme passa-se a relatar. 
Usando dados de Radiação Solar Global (Qg), insolação (n), temperatura do ar, 
umidade e nebulosidade do Parque do Estado (Estação Meteorológica do IAG-USP) para 
o ano de 1974, MORAES, COSTA & TARIFA (1977) calcularam o balanço de energia na 
cidade de São Paulo. As estimativas diárias da Radiação Líguida (net radiation) foram 
associadas aos tipos de tempo. Neste estudo já ficou evidente a importância do processo 
de urbanização-industrialização na modificação do balanço de radiação solar. 
Na elaboração do Plano Diretor do Município de São Paulo (versão para debate, 
fev. de 1985) elaborou-se (TARIFA, 1984) os primeiros mapeamentos dos elementos 
climáticos (temperatura e chuva) naturais e urbanos (isotermas da metrópole, ilhas de 
calor, poluição e qualidade do ar). A preocupação fundamental para a elaboração de um 
dignóstico da qualidade do ar para o Município foi integrar os insumos naturais do clima 
4 
 
com aqueles produzidos pelo processo de urbanização-industrialização (TARIFA, 1984). 
A observação do cartograma referente à distribuição da temperatura na cidade com base 
na imagem do dia 16/07/1981 (17:47 GTM) (LOMBARDO, CÂMARA, MONTEIRO & 
TARIFA, 1982) “checada” com trabalho de campo e ampliada cartograficamente já 
revelava que: 
• A isoterma de 28 a 30ºC abrange boa parte da área central da metrópole 
(indústrias, bairros áridos e Zona Leste); 
• A faixa abrangida pelas isotermas de 27 a 28ºC engloba praticamente 
quase toda a mancha continuamente urbanizada; o anel externo em relação a essa 
mancha urbana (menor densidade de ocupação), bem como alguns bairros verdes (por 
exemplo os Jardins) e outros serranos (Cantareira), ficam entre 26 a 27ºC; as áreas com 
temperaturas menores que 26ºC apresentam pequena interferência da estrutura urbana 
da cidade (TARIFA, 1984). 
Naquele mesmo estudo, foi feito um diagnóstico da qualidade do ar, mostrando a 
enorme gravidade do problema e apontando algumas sugestões sobre filtros, 
catalizadores, mudança no uso do diesel nas indústrias, mudanças nos transportes 
urbanos, etc. Naquele momento, o mapeamento usando dados de SO2 e Material 
Particulado para o ano de 1982 mostrava que os maiores valores de poluição do ar 
estavam acompanhando os vales do Tamanduateí e Tietê. No entanto, já havia clareza 
de que nos dados horários o CO, o SO2 e o Material Particulado já estavam fora do 
padrão primário e com nítida tendência de elevação, ou seja, na década de 1970 já 
haviam sido detectados vários episódios gravíssimos com doenças para a população em 
geral, o início dos anos 80 também não revelou nenhuma perspectiva de melhora. 
Em trabalho apresentado no 3º Congresso Brasileiro de Agrometeorologia 
(TARIFA & MELLO, 1984) fizemos uma síntese sobre os principais problemas do Clima 
Urbano da Cidade de São Paulo, cuja íntegra passamos a transcrever: 
“Um dos mais graves eventos climáticos extremos que periodicamente 
atinge a área metropolitana de São Paulo são as inundações. De acordo com um 
levantamento feito por PASCHOAL de 1961 a 1970 ocorreram 13 casos de 
inundações urbanas. No entanto, esse número cresceu para 52, entre os anos de 
1971 a 1978. Além desse acréscimo, nos anos sessenta, os casos de enchentes 
ficaram restritos aos meses de primavera-verão, quando as chuvas eram mais 
5 
 
intensas. A partir de 1971, episódios moderados de chuva, no outono e mesmo no 
inverno passaram a provocar inundações. 
Assim sendo, mesmo que o organismo urbano dê origem a uma ilha de 
calor com 5 a 8ºC de temperatura na área central mais elevada que as da 
redondeza e que parece ser capaz de intensificar as pancadas de chuva; as 
enchentes devem ser classificados como eventos extremos do tipo diretamente 
provocados pela irracionalidade da organização humana no espaço geográfico. 
Desde meados da década de 60, que a deterioração da qualidade do ar na área 
metropolitana de São Paulo, alcançou índices mensais e anuais superiores àqueles 
recomendados pela Organização Mundial de Saúde. No entanto, os estudos 
pioneiros só começam a surgir com o agravamento da poluição do ar no final da 
década de 60 e início de 70. Um dos primeiros estudos foi o de RIBEIRO, realizado 
para a região do ABC Paulista. Trabalhando com menores de 12 anos ele 
encontrou correlações significativamente positivas entre as taxas médias anuais de 
sulfatação e a freqüência anual de infecções das vias aéreas superiores. Nessa 
mesma linha de pesquisa ALTERTHUM & WANDALSEN & AGOSTINHO 
constataram aumento de casos de asma brônquica em crianças de Santo André. O 
constante aumento dos valores de material particulado e SO2 provocaram vários 
episódios agudos nos invernos de 1975/76. Um desses episódios mereceu um 
estudo especial sobre o efeito da poluição do ar na morbidade diária em São 
Caetano do Sul, em junho de 1976. Esse estudo constatou um aumento da 
morbidade da ordem de 65% por doenças respiratórias e de 187% por doenças 
cardiovasculares. 
Alguns estudos mais recentes desenvolvidos pela Divisão de Toxicologia 
da CETESB têm demonstrado os efeitos de vários poluentes de alta toxidade sobre 
os residentes da cidade de São Paulo. Dentre esses estudos destacam-se 
diferenças significativas de COHb entre os que vivem e trabalham em São Paulo e 
do grupo de controle. Foram também realizadas determinações de fluoretos na 
urina e da presença de chumbo no sangue. Esses resultados são corroborados 
pelo estudo de ORSINI & BOUERES, que em média 80% da massa dos elementos 
S, Zn, Br e Pb concentram-se no particulado fino e, portanto, são 
preferencialmente retidos pelos pulmões, podendo provocar sérios danos à 
população de São Paulo.” 
Durante o período de 1989 a 1992 foi realizado um novo Diagnóstico da Qualidade 
do Ar e do Clima Urbano do Município de São Paulo (TARIFA, 1991). Parte deste 
trabalho foi publicado sob a forma de Atlas ”Diagnóstico Cartográfico Ambiental” editado 
pela Prefeitura de São Paulo em 1992. O estudo completo “Qualidade do ar no Município 
de São Paulo” (TARIFA, 1991) envolveu a elaboração de 11 (onze) cartogramas na 
6 
 
escala 1:50.000, onde se procurou trabalhar com a variação média da poluição do ar 
(período de janeiro de 1982 a dezembro de 1989), mas incluiu também a análise das 
variações horárias de SO2, Material Particulado (inalável), Ozônio, Material Carbonáceo e 
a poluição por veículos. A preocupação em se operar com dados reais, já que é este o ar 
que respiramos e não as médias ou padrões, foi feito um cálculo da freqüência em hora e 
em porcentagem do tempo (dia, mês, ano) que os padrões são ultrapassados. Pode-se, 
assim, obter uma análise mais realista sobre a relação qualidade do ar e o “tempo real” a 
que somos submetidos aos diferentes níveis de concentrações. 
Com base nos resultados e na síntese de Unidades da Qualidade do Ar para o 
Município de São Paulo, apontamos alguns problemas críticos e algumas 
recomendações para melhorar a qualidadedo ar (TARIFA, 1991), cujo teor passamos a 
transcrever: 
“Nos últimos anos (1985-1991) ocorreu um expansão das áreas críticas 
com relação ao problema da poluição do ar, este fato se deve ao aumento das 
fontes móveis de poluição do ar. Por outro lado, a metrópole em seu processo de 
rápida expansão para a periferia tem aumentado substancialmente os níveis de 
material particulado no ar. Além do que, não tem preservado áreas verdes 
(principalmente na periferia) e nem conseguiu controlar ou evitar fontes emissoras 
de poeira e particulado em geral. 
Apesar da diminuição dos índices de SO2, a situação nos parece hoje mais 
crítica do que há 10 anos atrás, uma vez que a combinação dos efeitos de 
diferentes tipos de poluentes (particulado, ozona, monóxido de carbono e SO2 em 
certas horas do dia) se traduziria em uma interação crítica e de efeitos 
extremamente danosos à saúde da população. Além do que, resta lembrar que 
desde 1985 o Brasil tem passado por sucessivas ‘crises’ econômicas com 
recessões de maior ou menor grau que tem estagnado ou feito crescer à níveis 
inferiores ao esperado o crescimento econômico industrial, e que logicamente o 
parque industrial da área metropolitana de São Paulo não tem operado em plena 
capacidade instalada. Assim sendo, é de se esperar que passado este período de 
recessão atual (1990/1991) as emissões industriais e a poluição por veículos se 
tornem ainda mais graves nos próximos anos. 
Do ponto de vista da legislação atual, que segue as recomendações da 
EPA (USA), percebe-se que os valores são estabelecidos em valores médios de 
24 horas. Esta média é questionável do ponto de vista do tempo da exposição das 
pessoas a níveis baixos e médios de poluição do ar, mas por longos períodos de 
7 
 
tempo. O ideal seria o estabelecimento de padrões primários e secundários para o 
nível horário, tais como já existe para o monóxido de carbono e ozônio (O3). 
Considerando o município como um todo, este poderia ter uma significativa 
melhoria da qualidade do ar se: 
• Estabelecesse um programa de arborização que visasse um 
aumento significativo de áreas verdes e arborização nas ruas, praças e quintais 
das residências. Principalmente na Zona Leste, e em trechos de periferia onde 
o principal poluente é o material particulado, a vegetação traria uma melhora 
importante na qualidade do ar. Além de poder contribuir para melhorar outros 
problemas críticos como enchentes, deslizamentos e também melhorar 
esteticamente a cidade; 
• Utilizasse diesel de melhor qualidade, com menor teor de 
enxofre; 
• Utilizasse outras fontes de energia para movimentar os ônibus 
urbanos: energia elétrica, gás metano, etc.; 
• Maior controle dos veículos da frota da CMTC e das Cias 
particulares; 
• Aumentasse a velocidade do fluxo de veículos nos principais 
corredores e vias, especialmente naquelas destinadas aos coletivos urbanos, e 
às áreas críticas de passagem de veículos de longe (marginais, saídas para 
rodovias, etc.); 
• Diminuísse as emissões por veículos à gasolina, principalmente 
em certas áreas centrais da cidade, onde as concentrações de monóxido de 
carbono já são extremamente críticas. Uma das soluões, talvez, pudesse ser 
impedir ou dificultar o acesso de veículos do modo individual em certas áreas 
da cidade; 
• Autorizasse novas instalações industriais, em unidades ou 
compartimentos, cuja localização não implicasse em transporte pelo vento (dos 
poluentes) para as áreas já críticas de qualidade do ar. Desta forma, deveria-
se priorizar novas instalações industriais na vertente Noroeste (além Jaragá), 
ou na Zona Oeste-Sudoeste em relação ao município; 
• Executasse maior fiscalização no programa de instalação de 
equipamentos antipoluentes pelas montadoras nacionais (fabricantes de 
veículos); 
• Aumentasse substancialmente a rede de monitoramento de CO, 
O3, NOx e HCC, estendendo pelo menos o controle destes poluentes para toda 
a rede telemétrica da CETESB.” 
8 
 
Portanto, o objetivo principal deste novo estudo de clima urbano é o de atualizar o 
conhecimento e utilizar todo o desenvolvimento e aprimoramento das técnicas de 
observação da cidade através dos sensores remotos, feitas em parceria com a Secretaria 
do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) e com a Secretaria de Planejamento (SEMPLA) da 
Prefeitura do Município de São Paulo. 
 
2. Metodologia 
 
A abordagem em pregada procurou utilizar todo o acervo de conhecimento 
existente sobre o clima da cidade de São Paulo no Laboratório de Climatologia do 
Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo. Além deste material 
cartográfico, foram utilizados os dados da Normal Climatológica do Mirante de Santana 
(1961-1990) (INMET, 1991) para a caracterização do Clima Local da Bacia Paulistana. A 
análise da circulação dos ventos foi realizada usando dados de freqüências e direções 
do vento para o Aeroporto de Congonhas (período de 1987 a 1993), em função desta 
estação estar localizada numa posição central em relação à mancha urbana da cidade, 
bem como pelo fato das leituras de vento serem realizadas 24 horas por dia, e não 
apenas 3 leituras como no Mirante de Santana. 
Este material se constitui num conjunto de mapas na escala 1:50.000, sobre a 
distribuição anual da pluviosidade e máximos em 24 horas no Município de São Paulo e 
no seu entorno. Com base neste material e combinando observações topo e 
mesoclimáticas de campo com análises integradas com o relevo (forma, orientação, 
declividade) e a drenagem, a distância do oceano foi possível construir a carta de 
Unidades Climáticas Naturais do Município de São Paulo (MAPA 01). 
O estudo específico do uso do solo (na escala 1:50.000) foi baseado em 
mapeamento quadra a quadra elaborado pela Secretaria de Planejamento da Prefeitura 
(SEMPLA, 1999). Os padrões e a tipologia do uso do solo foram transformados e 
simplificados visando entender suas relações com a distribuição do campo térmico e na 
poluição do ar (MAPA 02). 
Um dos elementos mais importantes na delimitação das Unidades Climáticas 
Urbanas foi a presença ou não de áreas verdes, muito embora no próprio mapa de uso 
do solo os Parques e Reservas estejam mapeados, as manchas menores e a arborização 
9 
 
de quintais e ruas não aparecem. Neste caso foi necessário recorrer às imagens do 
Satélite LANDSAT 7 (MAPA 03). 
Por outro lado, considerando as dificuldades inerentes à complexidade dos 
espaços microclimáticos urbanos foi necessário recorrer às imagens do Satélite 
LANDSAT 7, referente às cenas dos dias 03-09-1999 e de 30-04-2000 (aproximadamente 
às 10:00 horas da manhã). As imagens utilizadas para análise e compreensão dos 
espaços topo e microclimáticos urbanos foram o canal termal (banda 6) (MAPAS 04 e 
05), uma composição das bandas 3, 4, e 5 para um destaque no porte da vegetação e 
contraste com as áreas urbanizadas, uma outra composição com as bandas 3, 4 e 2 para 
um realce das áreas verdes, e o canal 8 (pancromático) para melhor visualização das 
áreas verticalizadas. Essas imagens foram tratadas e processadas pelo Prof. Dr. Teodoro 
Isnard Ribeiro de Almeida, do Instituto de Geociências da USP, e pelos técnicos da 
Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) Flavio Laurenza Fatigati e Luís Roberto 
de Campos Jacintho. 
Após o tratamento digital, as imagens foram impressas na mesma escala da base 
cartográfica do uso do solo e das Unidades Climáticas Naturais do Clima (1:50.000). As 
imagens que mostraram maior correlação com a representação espacial dos fenômenos 
climáticos foi a banda 6, ou seja, do termal (MAPAS 04 e 05), entretanto, os valores 
encontrados devem ser considerados como uma aproximação genérica da distribuição 
térmica referente à emissividade da superfície do solo, e não propriamente da 
temperatura do ar. 
Um outro mapeamento foi fundamental para a delimitação dasUnidades 
Climáticas Urbanas. Trata-se da distribuição das favelas no Município de São Paulo 
(MAPA 06). A análise de sua densidade e relação com o uso do solo, as áreas verdes e o 
campo térmico permitiu entender melhor a relação núcleo-centro-periferia do Sistema 
Clima Urbano (SCU) da metrópole paulista. 
 
3. O Sítio Urbano 
 
O sítio urbano da cidade de São Paulo está inserido no Planalto Atlântico do 
Sudeste do Brasil, a uma distância média de 45 km do Oceano Atlântico, abrangendo os 
10
 
compartimentos geomorfológicos da Serra da Cantareira, Bacia Sedimentar de São Paulo 
e Reverso do Planalto Atlântico (Mares de Morros). 
A Serra da Cantareira ocupa a porção Norte do Município de São Paulo. A 
orientação geral desta serra é Leste-Oeste. O principal divisor de águas da Serra da 
Cantareira coincide com o limite de Município entre São Paulo e Mairiporã, sendo que as 
vertentes voltadas para Sul/Sudeste estão no lado Paulistano. As altitudes neste 
compartimento são atingem 1200 metros. 
Uma área interessante de se ressaltar é onde estão os bairros de Perus e 
Anhanguera (NNO do Município de São Paulo), pois pertencem à vertente da Serra da 
Cantareira voltada para o continente (Norte). É uma área que drena para a bacia do Rio 
Juqueri e compreendem faixas altimétricas que vão desde 740 a mais de 800 metros. 
Uma outra área que se individualiza na Serra da Cantareira é o vale do Córrego 
Cabuçu, orientado no sentido Leste-Oeste (paralelo à orientação da Serra neste trecho) e 
depois segue em direção Norte-Sul rumo ao vale do Rio Tietê, já na Bacia Sedimentar de 
São Paulo. No trecho Leste-Oeste deste Rio o vale é bem encaixado. 
A bacia do Ribeirão Engordador apresenta também um vale bem encaixado com 
orientação SW-NE (paralelo à orientação da Serra neste trecho). 
Os outros vales da Serra da Cantareira em geral tem sua orientação principal de 
Norte para Sul, drenando para o Rio Tietê. 
No compartimento da Bacia Sedimentar de São Paulo, o principal rio é o Tietê, com 
seu vale orientado no sentido Leste-Oeste e a uma altitude de aproximadamente 720 
metros e com uma ampla planície de inundação. Ele recebe as águas dos rios que 
nascem na vertente Sul da Serra da Cantareira (Cabuçu de Baixo e Cabuçu de Cima) e 
daqueles que nascem no reverso do Planalto Atlântico (Pinheiros, Tamanduateí, 
Aricanduva). 
Os Rios Pinheiros (na Zona Oeste do Município) e Tamanduateí (Na Zona Central 
e Leste do Município) são os principais afluentes do Rio Tietê. Ambos possuem vales 
largos, com uma ampla planície de inundação e orientados no sentido Sudeste-Noroeste, 
coincidentes com a direção predominante dos ventos em São Paulo. Através da reversão 
do curso do Rio Pinheiros é que se possibilitou a construção dos Reservatórios de 
Guarapiranga e Billings, situados ao Sul da Cidade de São Paulo, sendo que o 
11
 
Guarapiranga é utilizado para o abastecimento de água de alguns bairros do Município e 
o Billings para a Geração de energia elétrica na Usina Henry Borden em Cubatão. 
O vale do Rio Aricanduva (na Zona Leste) também é um importante tributário do 
Rio Tietê. Ele apresenta a mesma orientação dos Rios Pinheiros e Tamanduateí (SE-
NW), entretanto, sua planície de inundação não é tão ampla quanto à dos outros dois; as 
cabeceiras do Aricanduva fazem divisa com o município de Mauá e o seu vale nesta área 
é bem encaixado. 
Mais a Leste do Município, e também afluentes do Rio Tietê, estão os Córregos 
Jacu e Itaquera, que são de menores dimensões que os anteriores, mas também 
importantes. As cabeceiras destes dois córregos são próximas das do Aricanduva e com 
vales bastante encaixados neste trecho. Próximos ao Rio Tietê eles apresentam uma 
planície de inundação considerável e a orientação deste dois vales é Norte-Sul. 
Os principais afluentes do Rio Pinheiros estão na margem esquerda dele, sendo os 
Ribeirões Jaguaré e Pirajussara. Suas orientações são SW-NE e são rios de menores 
proporções que os citados anteriormente. 
Já o principal afluente do Rio Tamanduateí é o Ribeirão Ipiranga, sendo que sua 
orientação geral é Norte-Sul e sua planície de inundação é relativamente pequena, muito 
embora hoje ela esteja totalmente canalizada. 
Um importante componente do sítio urbano de São Paulo é o divisor de águas 
entre o Rio Pinheiros e o Tamanduateí, denominado pelo Prof. Aziz Nacib Ab’Sáber por 
Espigão Central. A altitude aí é superior a 800 metros e a orientação deste divisor, do 
Jabaquara até a Vila Mariana, é Norte-Sul e, da Vila Mariana até a Lapa, é Sudeste-
Noroeste, a mesma orientação dos Rios Pinheiros e Tamanduateí. Uma característica 
importante deste divisor é que a vertente voltada para o Rio Tamanduateí tem uma 
declividade menor que a vertente voltada para o rio Pinheiros (mais abrupta no lado 
Oeste), que acaba cedendo lugar à várzea e terraços do Rio Pinheiros. As áreas a Oeste 
do Rio Pinheiros são predominantemente marcadas por colinas e em alguns trechos por 
platôs acima de 800 metros, por exemplo, onde se localiza o Bairro do Morumbi. 
A área a Leste do Tamanduateí, onde estão os Bairros da Mooca, Brás, Belenzinho 
e Tatuapé são predominantemente marcadas por terraços planos a sub-planos e por 
colinas amplas, e ,em direção às margens do Aricanduva, começam a aparecer os Platôs 
12
 
acima de 800 metros, onde estão os Bairros de Sapopemba, São Mateus, Itaquera e 
Guaianazes (este mais próximo do Córrego Itaquera). 
Ao Sul da Represa de Guarapiranga encontram-se uma área de mares de morros 
do Reverso do Planalto Atlântico com drenagem de padrão dendrítico. Grande parte 
desses morros ultrapassam as cotas de 800 metros, sendo que aí se encontram os 
divisores de águas das bacias que drenam para a Guarapiranga e para a Billings. Ao Sul 
da Represa Billings estão as nascentes do Rio Capivari-Monos, que drena para o Litoral. 
Seu vale é encaixado na escarpada Serra do Mar, bem no limite Sul do Município. 
A configuração desses três grandes compartimentos, a Serra da Cantareira a Norte 
do Município e com altitudes superiores até 1200 metros, a Bacia sedimentar de São 
Paulo na área central com maior densidade urbana e com altitudes predominantes entre 
720 a 780 metros, e o Reverso da Serra do Mar ao Sul, com altitudes normalmente 
superiores a 800 metros, criam uma condição de tipologia de sítio urbano convergente 
do ponto de vista físico (geométrico). 
Essas condições naturais, principalmente na Bacia Sedimentar de São Paulo, mais 
os fatos históricos e econômicos propiciaram o crescimento urbano da cidade de São 
Paulo, que atualmente atingiu dimensões metropolitanas, estando conurbada com vários 
outros municípios aos seu redor, como por exemplo com o ABC a Sudeste; Osasco, 
Carapicuíba e Barueri a Oeste; Poá e Ferraz de Vasconcelos a Leste. 
 
4. Do Regional aos Climas Locais 
 
A Metrópole Paulistana está localizada a uma latitude aproximada de 23o21’ e 
longitude de 46o 44’, junto ao trópico de Capricórnio, e implica em uma realidade climática 
de transição, entre os Climas Tropicais Úmidos de Altitude, com período seco definido, e 
aqueles subtropicais, permanentemente úmidos do Brasil meridional. MONTEIRO (1973) 
justifica a existência desta faixa de transição da seguinte forma: “Ao sul desta faixa temos 
a ver com um clima regional em latitude subtropical, permanentemente úmido pela 
atividade frontal. Mesmo nos anos de atuação mais reduzida do ar polar, a sua 
participação não é inferior a 40%, podendo elevar-se a 75% nos anos de maior atividade. 
Ao norte define-se com maior ou menor intensidade a existência de um período seco, 
coincidente com o Outono-Inverno, embora isto se apague no litoral. A menor penetração 
13
 
do ar polar no setor setentrional reduz a quantidade de chuvas frontais de sul para norte, 
conduz o mais das vezes ao bom tempo”. Portanto uma das principaiscaracterísticas 
climáticas desta transição zonal é a alternância das estações (quente - úmida e a outra 
fria e relativamente mais seca) ao lado das variações bruscas do ritmo e da sucessão dos 
tipos de tempo. Pode-se ter situações meteorológicas (estados atmosféricos) de intensos 
aquecimentos bem como de intensos resfriamentos em segmentos temporais de curta 
duração (dias a semanas).” 
Esta alternância explica, regionalmente, tanto a ocorrência de fortes impactos 
pluviométricos, como a existência, em determinados anos, de longas seqüências de 
períodos secos. Principalmente nos anos de máxima oscilação sul (El Niño) – como 
1976/77, 82/83, 91/92 e 94 – quando então, a bacia do Alto Tietê (RMSP) passa por 
impactos pluviométricos muito fortes, tanto na primavera-verão, como por um acréscimo 
substancial, principalmente no outono. 
Esta proximidade com o subtrópico, com forte resfriamento de Outono-Inverno e 
acompanhada por situações meteorológicas mais secas e estáveis, deve-se, 
principalmente, à freqüência elevada de sistemas anticiclônicos polares, bem como, pelo 
avanço sobre o continente da alta subtropical. Estando, também, a superfície do solo e do 
Atlântico Sul, com temperaturas mais baixas, ocorre uma freqüência substancialmente 
maior de estados atmosféricos estáveis, implicando condições piores para a dispersão 
horizontal e vertical dos poluentes atmosféricos. 
Para a caracterização sazonal do clima local da área recorreu-se a um 
enquadramento regional na escala de 1:200.000, onde se pode delimitar as Unidades 
Climáticas da Região Metropolitana de São Paulo2. Nota-se, nesta escala, que a área 
metropolitana encontra-se entre as Unidades Climáticas VII (tropical de altitude do Vale 
do Tietê e afluentes) e VI (tropical de altitude das serras e morros do além Tietê e 
Juqueri). O principal fator ou controle climático que diferencia estas unidades é o relevo. 
Assim sendo, a altitude, a forma e a orientação do relevo redefinem, dentro deste 
conjunto regional, “climas locais”, com mudanças nos valores térmicos e pluviométricos. 
 
2
 TARIFA, J.R. “Unidades Climáticas da Região Metropolitana de São Paulo”, Laboratório de Climatologia. Depto. de Geografia USP, 
1993. 
14
 
Para efetuar a descrição das variações médias mensais dos atributos climáticos, 
recorreu-se à normal climatológica do período 1961-1990, da Estação Meteorológica do 
Mirante de Santana3 (latitude 23o 30’, longitude 46o 37’ e altitude 792 m) cujos dados 
encontram-se sintetizados no Quadro 01. Nele se percebe a existência nítida de dois 
períodos ou estações bem definidas, uma quente e chuvosa de outubro a março (grosso 
modo primavera-verão) e outra fria e relativamente mais seca, de abril a setembro 
(Outono-Inverno). Este fato fica evidenciado no comportamento de quase todos os 
atributos climatológicos constantes do Quadro 01. 
A pressão atmosférica, cuja média anual é de 926,0 Mb, oscila no Outono-Inverno 
entre 926,2 (abril) e 929,4 (julho), e na primavera-verão, entre 923,2 Mb (dezembro) e 
925,4 (outubro). O comportamento térmico mostra variação sazonal muito semelhante, 
com o período de maio a outubro, registrando os menores valores médios da temperatura, 
com uma variação entre 15,8oC (julho, mês mais frio) a 19,0oC (outubro). Na estação 
quente, os valores oscilam entre 22,4oC (fevereiro, mês mais quente) e 20,3oC 
(novembro), ficando abril com 19,7oC (transição para o inverno) conforme dados 
constantes do Quadro 01. 
A média anual das temperaturas máximas foi de 24,9oC, com o mês mais frio 
(julho) registrando 21,8oC e o mês mais quente (fevereiro) 28,0oC. A máxima absoluta 
(para a normal 1961-1990) foi de 35,3oC registrada no dia 15 de novembro de 1985. A 
média anual das temperaturas mínimas foi de 15,5oC, registrando-se no mês mais frio 
(julho), um valor médio de 11,7oC, enquanto no mês mais quente (fevereiro), tem-se uma 
média de 18,8oC. A mínima absoluta ocorreu no dia 1o de junho de 1979, atingindo 1,2oC. 
 
3
 Trata-se da estação meteorológica representativa do Clima Local da Cidade de São Paulo. 
 15
 
A umidade do ar se mantém relativamente elevada (na média) durante o ano todo, 
variando entre um mínimo de 74%, em agosto, e um máximo de 80%, nos meses de 
janeiro, março, abril e novembro. 
A cobertura do céu (nebulosidade em décimos) varia de um mínimo de 6,1/10, no 
mês de julho, a um máximo de 8,2/10, em dezembro. O número de horas de insolação é 
relativamente baixo, apresentando uma variação entre 4,2 horas de brilho solar, em 
dezembro, e 5,3 horas, em julho. 
A evaporação (capacidade evaporativa do ar medida em evaporímetro de Piché) 
varia entre um total médio de 104,8 mm, em agosto, e um total de 78,2 mm, em julho. A 
pluviosidade média anual (para o período 1961-1990) foi de 1454,8 mm, sendo o mês 
mais chuvoso (janeiro), com 238,7 mm, e o mês mais seco (agosto), com apenas 
38,9 mm. O máximo pluviométrico, em 24 horas (para o posto meteorológico do Mirante 
Quadro 1
Normais Climatológicas – Mirante de Santana (SP) Lat. 23º30’, Long. 46º37’, Alt. 792
metros.
Meses
1987
pres atm
(mb)
md
max
md
min
max
abs
max abs
data
min
abs
min abs
data
md
comp
umd
relativa
nebo
(C10)
prec
tot
max
prec
(mm)
max
data
evap
total
insol
jan 923,5 27,3 18,7 34,2 19/88 11,9 01/62 22,1 80 8,1 238,7 103,5 19/77 99,9 4,8hs
fev 924,2 28,0 18,8 34,7 03/84 12,4 01/62 22,4 79 7,5 217,4 121,8 02/83 86,9 5,2hs
mar 924,9 27,2 18,2 33,5 15/86 12,1 30/61 21,7 80 7,7 159,8 90,8 09/72 88,4 4,7hs
abr 926,2 25,1 16,3 31,4 06/90 6,8 25/71 19,7 80 7,4 75,8 57,9 20/68 80,7 4,7hs
mai 927,4 23,0 13,8 29,7 08/84 2,2 31/79 17,6 79 6,6 73,6 71,8 16/68 79,8 4,6hs
jun 928,7 21,8 12,4 28,6 29/72 1,2 01/79 16,5 78 6,2 55,7 74,0 15/87 78,2 4,8hs
jul 929,4 21,8 11,7 29,3 15/87 1,5 18/75 15,8 77 6,1 44,1 70,8 03/76 91,1 5,3hs
ago 928,3 23,3 12,8 33,0 31/63 3,4 27/84 17,1 74 6,2 38,9 42,3 08/82 104,8 5,2hs
set 927,2 23,9 13,9 35,2 20/61 3,5 04/64 17,8 77 7,2 80,5 62,6 20/84 100,0 4,0hs
out 925,4 24,8 15,3 34,5 12/63 7,0 31/74 19,0 79 7,7 123,6 63,7 07/69 99,9 4,5hs
nov 923,8 25,9 16,6 35,3 15/85 7,0 01/74 20,3 78 7,7 145,8 82,8 15/79 101,4 4,8hs
dez 923,2 26,3 17,7 33,5 01/61 10,3 24/63 21,1 80 8,2 200,9 151,8 21/88 96,9 4,2hs
ano 926,0 24,9 15,5 35,3 15/11/85 1,2 01/06/79 19,3 78 7,2 1454,8 151,8 21/12/88 1108,0 4,7hs
Fonte: INMET.
Org.: José Roberto Tarifa
Gustavo Armani
Laboratório de Climatologia – USP
Primavera, 2000.
 16
de Santana), ocorreu no dia 21 de dezembro de 1988, tendo sido registrado um valor de 
151,8 mm. 
A circulação regional dos ventos 
A estação meteorológica do Aeroporto de Congonhas registra uma média anual de 
calmarias de 33,7%. A primeira predominância anual é a direção sudeste com 19,6%, a 
segunda é o vetor Sul, com 16%, e a terceira é a direção Leste, com 8,8%. As calmarias 
oscilam entre 24,4% (novembro) e um máximo, em outubro, de 29,1% e, um mínimo, de 
13,9 a 14%, em maio e junho. A componente Sul (2a predominância) tem o mesmo tipo de 
variação sazonal, com um máximo de participação nos meses de setembro a dezembro e 
um mínimo no inverno. Os dois octantes mais inativos são o Oeste, com 1,8%, e o 
Sudoeste, com 2,1%. É importante, ainda, mencionar o aumento das calmarias (ventos 
menores que 1km/h) no inverno, principalmente nos meses de maio (41%), junho (43,4%) 
e julho (41,1%) muito embora ela esteja presente durante o ano todo, não caindo (em 
termos de média) abaixo de 23% de participação horária no mês. Outro dado importante, 
é a participação da direção Noroeste com 6,3% de média anual, alcançando um máximo 
de freqüência no verão (8,6% em dezembro e 9,0% em janeiro) e um mínimo no inverno-
primavera (oscilando entre 3,2% em setembro e 6,7% em junho)conforme dados 
constantes do Quadro 02. 
 17
 
 
 
 
5. As Unidades Climáticas Naturais 
 
O Município de São Paulo está inserido num contexto de terras altas (entre 720 a 
850 metros predominantemente), chamado Planalto Atlântico. A topografia deste planalto 
apresenta as mais variadas feições, tais como planícies aluviais (várzeas), colinas, morros 
e serras e maciços com as mais variadas orientações. A poucos quilômetros de distância 
(45km em média) encontra-se o Oceano Atlântico. Esse quadro físico define um conjunto 
de controles climáticos que, em interação com a sucessão habitual dos sistemas 
atmosféricos, irão dar identidade aos climas locais, produzidos pelos encadeamentos de 
diferentes tipos de tempo. Dessa forma, o conceito de clima que conduziu o pensamento 
de todo este trabalho é aquele referente à “sucessão habitual dos estados atmosféricos 
(tipos de tempo) sobre um determinado lugar” (SORRE, 1934). 
A grande vantagem deste conceito de clima sobre a definição clássica de Hann 
(1883) é o dinamismo que se atribuiu ao clima, dado pela sucessão habitual. Enquanto 
Quadro 02
Freqüência e Intensidade Média dos Ventos (1983-1992) – Aeroporto de Congonhas
N NE E SE S SO O NO CALMO
F I F I F I F I F I F I F I F I %
JAN 9,6 11,0 5,4 9,3 8,3 9,9 18,1 11,7 13,7 12,0 2,4 9,9 2,5 9,3 9,0 10,8 30,9
FEV 6,4 9,0 5,3 9,0 8,5 8,6 17,1 10,5 13,6 10,7 1,9 9,7 1,8 8,5 7,2 9,1 38,2
MAR 4,7 10,1 5,2 9,2 9,4 10,0 20,0 11,9 15,7 11,7 2,1 9,5 1,9 9,3 5,6 9,8 35,3
ABR 4,6 10,8 5,3 9,8 8,4 10,1 19,4 11,6 15,7 11,3 3,0 9,5 2,1 9,3 7,7 10,2 32,9
MAI 6,0 11,2 5,9 9,1 8,1 9,5 13,9 10,5 12,9 10,0 2,7 8,9 2,3 9,1 6,1 10,9 41,0
JUN 7,2 11,1 6,4 9,1 9,1 9,8 14,0 10,2 9,7 10,0 1,6 9,5 1,7 8,9 6,7 11,1 43,4
JUL 6,1 11,3 7,3 9,3 9,8 10,5 15,1 10,7 12,8 10,3 1,5 8,2 1,2 10,0 5,0 11,2 41,1
AGO 4,3 10,2 6,1 9,5 10,0 10,8 18,9 11,9 16,5 11,3 1,4 10,7 1,8 9,8 5,5 11,3 35,9
SET 3,8 11,9 5,8 9,7 9,1 11,7 24,4 12,3 21,1 11,4 1,8 10,6 1,1 8,1 3,2 10,4 29,7
OUT 4,2 11,4 4,8 8,7 9,4 10,1 29,1 12,3 20,1 11,7 2,5 10,2 1,5 9,7 4,7 10,8 23,6
NOV 4,8 10,6 5,1 9,4 8,6 9,4 25,7 12,6 20,1 12,3 2,1 9,8 2,1 8,2 6,9 10,6 24,4
DEZ 7,9 10,8 5,0 9,6 7,1 10,3 19,4 11,6 19,8 11,7 2,0 9,8 1,8 9,7 8,6 10,8 28,1
ANO 5,8 10,8 5,6 9,3 8,8 10,0 19,6 13,8 16,0 11,2 2,1 9,7 1,8 9,1 6,3 10,6 33,7
Fonte: Estação Meteorológica do Aeroporto de Congonhas
Org.: José Roberto Tarifa, 1993.
 18
que para Hann o que definia o clima de um lugar era o estado médio da atmosfera 
(fenômeno estático e abstrato), o movimento e o encadeamento de tipos de tempo 
vinculam-se mais com a vida e com as práticas sociais e econômicas. 
Para os primeiros colonizadores brancos oriundos de áreas temperadas do 
Hemisfério Norte, a adaptação às características climáticas do Planalto Paulistano foi 
relativamente fácil. Desenvolveu-se neste tempo de antanho a idéia de um clima 
estimulante e favorável à saúde (FRANÇA, 1958). Hoje em dia, em função dos problemas 
advindos da urbanização e industrialização essa idéia foi sendo esquecida ou trocada por 
uma antagônica, mais ligada à poluição. 
Neste item, mais especificamente, serão tratados apenas os aspectos naturais do 
clima, devendo-se abstrair a imensa metrópole que modifica de certa forma as 
propriedades naturais do clima, muito embora esta abstração total seja quase impossível, 
já que a estação meteorológica do Mirante de Santana (INMET), bem como grande parte 
dos postos pluviométricos utilizados estejam hoje submersos nesta atmosfera urbana. 
Os principais controles climáticos naturais para a definição dos climas locais e 
mesoclimas (unidades climáticas naturais) foram o Oceano Atlântico, a altitude e o relevo, 
com suas diferentes formas e orientações. 
Conjugando-se todos estes controles definiu-se cinco climas locais, que foram 
subdivididos em meso ou topoclimas em função das diferentes características 
topográficas de cada clima local (MAPA 01). 
O primeiro clima local foi definido como Clima Tropical Úmido de Altitude do 
Planalto Atlântico (Unidade I) e ocupa, grosso modo, a área da Bacia Sedimentar de São 
Paulo, onde a urbanização se instalou primeiramente. Neste clima local foram definidos 
diferentes mesoclimas a saber: (IA) os topos mais elevados dos maciços, serras e altas 
colinas; (IB) as colinas intermediárias, morros baixos, terraços e patamares; e (IC) as 
várzeas e baixos terraços. 
A Unidade IA (topos mais elevados dos maciços, serras e altas colinas) foi 
subdividida em três, sendo a IA1 referente aos maciços, serras e morros do alto 
Aricanduva e Itaquera, a IA2 referente ao Espigão Central, e IA3 referente aos altos 
espigões do Pirajussara, Embú e Cotia. 
Estas três sub-unidades (IA1, IA2 e IA3) tem um comportamento climático muito 
semelhante. As temperaturas são relativamente amenas pelo próprio efeito da altitude, 
 19
com as médias anuais girando em torno de 19,3ºC, a média anual das máximas em torno 
de 24,9ºC e as médias anuais das mínimas em torno de 15,5ºC. 
A pluviosidade aí representa um elemento importantíssimo, pois quando os 
sistemas atmosféricos produtores de chuva entram na área do município de São Paulo, a 
topografia destes morros mais elevados tendem a aumentar a instabilidade destes 
sistemas, aumentando os totais pluviais em relação às áreas mais baixas e planas. Como 
são áreas mais elevadas, com declividades médias a altas e que recebem um impacto 
pluviométrico significativo elas têm um potencial natural para deslizamentos, movimentos 
de massa e desmoronamentos relativamente elevado, principalmente nos morros da Zona 
Leste e Oeste, onde a estrutura geológica é frágil. Os totais anuais nestas unidades (IA1, 
IA2, IA3) variam de 1250 a 1450mm e os máximos em 24 horas oscilam entre 100 a 
175mm. 
A altitude predominante (acima de 800 metros) propicia também uma maior 
ventilação destas unidades. Essa característica, aliada à instabilidade atmosférica 
induzida por estes morros, cria um bom potencial natural à dispersão de poluentes (MAPA 
01). 
O mesoclima das colinas intermediárias, morros baixos, patamares e terraços 
(Unidade IB) foi subdividida em seis sub-unidades: (IB1) colinas intermediárias e morros 
baixos do além Tietê, (IB2) colinas, patamares e rampas do Pinheiros, (IB3) colinas, 
patamares e rampas da face Leste do Espigão Central, (IB4) terraços, colinas e 
patamares do Tamanduateí e Aricanduva, (IB5) terraços, colinas, patamares do Itaquera, 
e (IB6a) colinas, morros e espigões divisores do médio Pinheiros e Embú-Guaçu (Billings 
e Guarapiranga). A Unidades IB6b refere-se ao espelho d’água dos represas Billings e 
Guarapiranga. 
A situação topográfica destas unidades é intermediária, ou seja, entre as várzeas 
(Unidades IC) e os topos (Unidades IA), com as altitudes variando entre 740 a 800 
metros. Devido a esse rebaixamento, as temperaturas sofrem um ligeiro aquecimento. As 
temperaturas médias anuais variam nestas unidades (IB1 a IB6a) de 19,6º a 19,3ºC, a 
média anual das máximas varia de 25,2º a 24,9ºC e a média anual das mínimas de 15,8º 
a 15,5ºC. Nos terraços e patamares planos a sub-planos, nos dias de céu claro, ocorre 
um forte aquecimento diurno, não só por se tratar de áreas relativamente baixas, mas por 
serem muito planas e que permitem uma maior recepção e absorção da radiação solar 
(Unidades IB4 e IB5). 
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Pluviometricamente, estas unidades são muito semelhantes às unidades IA (topos 
dos morros), pois as unidades IB estão ligadas aos topos (ou às unidade IA) praticamente 
pela mesma “vertente” ou “rampa”, que provoca a ascensão das parcelas de ar e 
instabilização local da baixa atmosfera. A proximidade com as áreas mais instáveis dos 
Climas Locais I e II (Serra da Cantareira e Jaraguá) farão com que os totais 
pluviométricos sejam praticamente da mesma intensidade. O exemplo mais evidente 
deste fato é demonstrado pela unidade

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