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ATLAS AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO Secretaria do Verde e do Meio Ambiente – SVMA/PMSP Secretaria de Planejamento – SEMPLA/PMSP FASE I: “Diagnósticos e Bases para a Definição de Políticas Públicas para as Áreas Verdes no Município de São Paulo”. Unidades Climáticas Urbanas da Cidade de São Paulo (1a aproximação) Prof. Dr. José Roberto Tarifa Geógrafo Gustavo Armani garmani@usp.br Laboratório de Climatologia Departamento de Geografia / Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFCLH Universidade de São Paulo – USP - Primavera de 2000 - i Sumário Lista de Quadros.........................................................................................................ii Lista das Fotografias..................................................................................................iii Resumo........................................................................................................................iv 1. Introdução..............................................................................................................1 2. Metodologia............................................................................................................8 3. O Sítio Urbano........................................................................................................9 4. Do Regional aos Climas Locais..........................................................................12 5. As Unidades Climáticas Naturais.......................................................................17 6. As Unidades Climáticas Urbanas.......................................................................27 6.1. A Unidade Climática Urbana Central (I)..................................................31 6.1.1. O Núcleo da Unidade Central (IA)......................................................31 6.1.2. As Unidades Climáticas da Expansão do Núcleo da Metrópole.....39 6.2. As Unidades Climáticas Urbanas da Periferia (II)..................................51 6.3. A Unidade Climática do Urbano Fragmentado (III)................................63 6.4. A Unidade Climática não Urbana (IV)......................................................64 7. Considerações Finais..........................................................................................64 8. Bibliografia...........................................................................................................65 ANEXOS Mapa 01 – As Unidades Climáticas Naturais.........................................................68 Mapa 02 – Uso do Solo Predominante por Quadra Fiscal....................................69 Mapa 03 – Distribuição Espacial das Áreas Verdes na Cidade de São Paulo....70 Mapa 04 – Distribuição Espacial da Temperatura do Solo – 03/09/1999.............71 Mapa 05 – Distribuição Espacial da Temperatura do - 30/04/2000.....................72 Mapa 06 – Distribuição Espacial das Favelas no Município de São Paulo.........73 Mapa 07 – As Unidades Climáticas Urbanas.........................................................74 ii Lista de Quadros Quadro 1 – Normais Climatológicas – Mirante de Santana (SP)........................15 Quadro 2 – Freqüência e Intensidade Média dos Ventos (Congonhas)............17 iii Lista das Fotografias Foto 1 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IA1h / IA2f / IE2............27 Foto 2 – Unidade Climática Urbana IB2a..............................................................29 Foto 3 – Unidade Climática Urbana IA1a..............................................................32 Foto 4 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IA2d / IA2f.....................33 Foto 5 – Unidade Climática Urbana IA1a..............................................................35 Foto 6 – Unidade Climática Urbana IA2a..............................................................37 Foto 7 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IA5 / IA1f / IC2...............39 Foto 8 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IB1 / IF1.........................40 Foto 9 – Tentativa da Vista da Serra da Cantareira (poluição)...........................41 Foto 10 – Unidade Climática Urbana IC1..............................................................43 Foto 11 – Unidade Climática Urbana IC1 (Favela Heliópolis).............................44 Foto 12 – Unidade Climática Urbana IF2..............................................................47 Foto 13 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IF3 / IF1.......................47 Foto 14 – Unidade Climática Urbana IF1..............................................................48 Foto 15 – Unidade Climática Urbana IIA5.............................................................51 Foto 16 – Unidade Climática Urbana IIA6.............................................................54 Foto 17 – Unidade Climática Urbana IIA4.............................................................55 Foto 18 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IIA5 / IIA6....................56 Foto 19 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IIA5 / IIA6....................58 Foto 20 – Unidade Climática Urbana IIA5.............................................................58 Foto 21 – Unidade Climática Urbana IIB4.............................................................60 Foto 22 – Unidade Climática Urbana IIE3.............................................................61 Foto 23 – Unidade Climática Urbana IIE5.............................................................63 iv Resumo A análise do clima de uma cidade com as dimensões do fato urbano existentes na metrópole de São Paulo exige a adoção de princípios, métodos e técnicas adequados à compreensão do fenômeno. O primeiro deles, e talvez o mais importante, seja considerar a realidade urbana como uma totalidade. Os múltiplos e diversos aspectos, propriedades, graus de intensidade do fenômeno metropolitano redefine globalmente todo o conjunto de suas partes constituintes. Desta forma, o clima ou os climas urbanos da metrópole não podem ser tratados como processos puramente físicos, mas em todas as suas interações com os fatos associados à produção do espaço através das práticas sociais vigentes no cotidiano desta sociedade urbana. Associado a este princípio, os procedimentos e objetivos a serem alcançados são: a) delimitar e analisar as unidades climáticas urbanas em três níveis de análise. O primeiro deles seria aquele que engloba toda a mancha urbana contínua da Metrópole, incluindo portanto, todo o conjunto de climas locais da Bacia do Alto Tietê ou da RMSP; b) O segundo nível seria aqueles das unidades topoclimáticas, onde as diferenças estariam associadas aos padrões de uso do solo vigente, bem como às diferenças constatadas na concentração dos poluentes atmosféricos decorrentes dos meso e topoclimas naturais e urbanos; c) O terceiro nível seria aquele do habitar, do viver e do trabalhar, onde interessa sobremaneira os ambientes microclimáticos, tanto interno das edificações, como externo a elas, na rua, na praça ou no trabalho, em termos de alterações qualitativas nas propriedades dos estados atmosféricos. A Região Metropolitana da Cidade de São Paulo, tem uma população de aproximadamente 16 milhões de habitantes em uma área urbanizada de 1.747 km2. No entanto, a distribuição nesse território de 8.051km2 é bastante desigual. De fato, a maior concentração está no municípiode São Paulo, que abriga 9,8 milhões (61% do total) numa área de 1.051 km2. Além disto os municípios de Guarulhos, Osaco, Santo André e São Bernardo do Campo têm, cada um, mais de 500 mil habitantes. Com estes números, São Paulo continua sendo o terceiro maior conglomerado urbano do mundo. O produto interno bruto dessa metrópole (Grande São Paulo) é de 64,5 bilhões de dólares. Este PIB metropolitano é quase a metade do PIB estadual e representa cerca de 1/6 da renda brasileira. Existe ainda, dentro desse território, aproximadamente 40 mil indústrias e 5,7 milhões de veículos particulares (21% do total nacional). Na Grande São Paulo são realizadas 30,5 milhões de viagens por dia, sendo 12 milhões de transporte coletivo, 8,1 milhões no modo individual e 10,4 milhões a pé. Nas ruas, praças e avenidas da Capital circulam 2,5 a 3,0 milhões de veículos por dia. As indústrias e veículos são responsáveis pelo lançamento no ar próximo do solo (onde vivemos e respiramos), diariamente, por perto de 6.000 toneladas de poluentes. Isto eqüivale a que cada um dos 16 milhões de habitantes da Grande São Paulo está sujeito a respirar, por dia, 350 gramas de elementos nocivos à saúde. Hoje, os veículos automotores são os principais causadores da poluição do ar na Grande São Paulo, produzindo 90% da poluição atmosférica, enquanto as indústrias são responsáveis pelos outros 10%. Os principais poluentes lançados sobre a atmosfera da metrópole são, segundo os dados da CETESB v (1999): 68% de monóxido de Carbono, 11% de Óxidos de Enxofre e 4% de particulados. A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) abriga 4,4 milhões de domicílios, sendo que possui 1.080 favelas. Heliópolis, a maior favela da Capital, abriga 35 mil habitantes em 8 mil barracos. Somando-se moradores de favelas e cortiços, estima-se um total aproximado de 3,5 a 4,0 milhões de pessoas. O consumo de energia elétrica na Região Metropolitana encontra-se na marca de 35,3 milhões de megawatts/hora (17% do total nacional). Apesar destes números de uma aparente riqueza, a Grande São Paulo convive com a expressiva taxa de 14% de desemprego, equivalente a 1,1 milhão de trabalhadores desempregados. A extensa área de ocupação urbana, associada a vários outros agravantes (lixo, assoreamento, desmatamento nas áreas de cabaceiras de nascentes, canalização, esgoto industrial e domiciliar lançados nos rios) tem aumentado o problema das enchentes e inundações, contando atualmente (1999) com aproximadamente 600 pontos. Apesar de toda esta importância demonstrada, a RMSP se constitui em uma das realidades climáticas urbanas menos conhecida e estudada no Brasil. A maioria dos trabalhos são pontuais (nível regional ou local) e não respondem pela necessidade do conhecimento em termos do espaço e do tempo (cronológico). As escalas de tratamento, no geral, são muito amplas, em torno de 1:1.000.00 a 1:2.500.000, e baseadas em concepções médias, que não mostram as variabilidades reais dos fenômenos, ligados à vida ou ao desempenho do organismo urbano. A abordagem em pregada procurou utilizar todo o acervo de conhecimento existente sobre o clima da cidade de São Paulo no Laboratório de Climatologia do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo. Além deste material cartográfico, foram utilizados os dados da Normal Climatológica do Mirante de Santana (1961-1990) (INMET, 1991) para a caracterização do Clima Local da Bacia Paulistana. A análise da circulação dos ventos foi realizada usando dados de freqüências e direções do vento para o Aeroporto de Congonhas (período de 1987 a 1993), em função desta estação estar localizada numa posição central em relação à mancha urbana da cidade, bem como pelo fato das leituras de vento serem realizadas 24 horas por dia, e não apenas 3 leituras como no Mirante de Santana. Este material se constitui num conjunto de mapas na escala 1:50.000, sobre a distribuição anual da pluviosidade e máximos em 24 horas no Município de São Paulo e no seu entorno. Com base neste material e combinando observações topo e mesoclimáticas de campo com análises integradas com o relevo (forma, orientação, declividade) e a drenagem, a distância do oceano foi possível construir a carta de Unidades Climáticas Naturais do Município de São Paulo (MAPA 01). O estudo específico do uso do solo (na escala 1:50.000) foi baseado em mapeamento quadra a quadra elaborado pela Secretaria de Planejamento da Prefeitura (SEMPLA, 1999). Os padrões e a tipologia do uso do solo foram transformados e simplificados visando entender suas relações com a distribuição do campo térmico e na poluição do ar (MAPA 02). Um dos elementos mais importantes na delimitação das Unidades Climáticas Urbanas foi a presença ou não de áreas verdes, muito embora no próprio mapa de uso do solo os Parques e Reservas estejam mapeados, as manchas menores e a arborização de quintais e ruas não aparecem. Neste caso foi necessário recorrer às imagens do Satélite LANDSAT 7 (MAPA 03). vi Por outro lado, considerando as dificuldades inerentes à complexidade dos espaços microclimáticos urbanos foi necessário recorrer às imagens do Satélite LANDSAT 7, referente às cenas dos dias 03-09-1999 e de 30-04-2000 (aproximadamente às 10:00 horas da manhã). As imagens utilizadas para análise e compreensão dos espaços topo e microclimáticos urbanos foram o canal termal (banda 6) (MAPAS 04 e 05), uma composição das bandas 3, 4, e 5 para um destaque no porte da vegetação e contraste com as áreas urbanizadas, uma outra composição com as bandas 3, 4 e 2 para um realce das áreas verdes, e o canal 8 (pancromático) para melhor visualização das áreas verticalizadas. Essas imagens foram tratadas e processadas pelo Prof. Dr. Teodoro Isnard Ribeiro de Almeida, do Instituto de Geociências da USP, e pelos técnicos da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) Flavio Laurenza Fatigati e Luís Roberto de Campos Jacintho. Após o tratamento digital, as imagens foram impressas na mesma escala da base cartográfica do uso do solo e das Unidades Climáticas Naturais do Clima (1:50.000). As imagens que mostraram maior correlação com a representação espacial dos fenômenos climáticos foi a banda 6, ou seja, do termal (MAPAS 04 e 05), entretanto, os valores encontrados devem ser considerados como uma aproximação genérica da distribuição térmica referente à emissividade da superfície do solo, e não propriamente da temperatura do ar. Um outro mapeamento foi fundamental para a delimitação das Unidades Climáticas Urbanas. Trata- se da distribuição das favelas no Município de São Paulo (MAPA 06). A análise de sua densidade e relação com o uso do solo, as áreas verdes e o campo térmico permitiu entender melhor a relação núcleo-centro- periferia do Sistema Clima Urbano (SCU) da metrópole paulista. A Metrópole Paulistana está localizada a uma latitude aproximada de 23o21’ e longitude de 46o 44’, junto ao trópico de Capricórnio, e implica em uma realidade climática de transição, entre os Climas Tropicais Úmidos de Altitude, com período seco definido, e aqueles subtropicais, permanentemente úmidos do Brasil meridional. Para efetuar a descrição das variações médias mensais dos atributos climáticos, recorreu-se à normal climatológica do período 1961-1990, da Estação Meteorológica do Mirante de Santana1 (latitude 23o 30’, longitude 46o 37’ e altitude 792 m) cujos dados encontram-se sintetizados no Quadro 01. Nele se percebe a existência nítida de dois períodos ou estações bem definidas, uma quente e chuvosa de outubro a março (grosso modo primavera-verão) e outra fria e relativamente mais seca, de abril a setembro (Outono- Inverno). Este fato fica evidenciado no comportamento de quase todos os atributos climatológicos constantes do Quadro 01. O Município de São Paulo está inserido num contexto de terras altas (entre 720 a 850 metrospredominantemente), chamado Planalto Atlântico. A topografia deste planalto apresenta as mais variadas feições, tais como planícies aluviais (várzeas), colinas, morros e serras e maciços com as mais variadas orientações. A poucos quilômetros de distância (45km em média) encontra-se o Oceano Atlântico. Esse quadro físico define um conjunto de controles climáticos que, em interação com a sucessão habitual dos sistemas atmosféricos, irão dar identidade aos climas locais, produzidos pelos encadeamentos de diferentes vii tipos de tempo. Dessa forma, o conceito de clima que conduziu o pensamento de todo este trabalho é aquele referente à “sucessão habitual dos estados atmosféricos (tipos de tempo) sobre um determinado lugar” (SORRE, 1934). A grande vantagem deste conceito de clima sobre a definição clássica de Hann (1883) é o dinamismo que se atribuiu ao clima, dado pela sucessão habitual. Enquanto que para Hann o que definia o clima de um lugar era o estado médio da atmosfera (fenômeno estático e abstrato), o movimento e o encadeamento de tipos de tempo vinculam-se mais com a vida e com as práticas sociais e econômicas. Os principais controles climáticos naturais para a definição dos climas locais e mesoclimas (unidades climáticas naturais) foram o Oceano Atlântico, a altitude e o relevo, com suas diferentes formas e orientações. Conjugando-se todos estes controles definiu-se cinco climas locais, que foram subdivididos em meso ou topoclimas em função das diferentes características topográficas de cada clima local (MAPA 01). O primeiro clima local foi definido como Clima Tropical Úmido de Altitude do Planalto Atlântico (Unidade I) e ocupa, grosso modo, a área da Bacia Sedimentar de São Paulo, onde a urbanização se instalou primeiramente. Neste clima local foram definidos diferentes mesoclimas a saber: (IA) os topos mais elevados dos maciços, serras e altas colinas; (IB) as colinas intermediárias, morros baixos, terraços e patamares; e (IC) as várzeas e baixos terraços. O segundo clima local do Município de São Paulo foi definido como Clima Tropical Úmido Serrano da Cantareira – Jaraguá (II). Este clima foi subdividido em dois mesoclimas: (IIA1) os maciços e serras da face meridional da Cantareira e Jaraguá, onde está inserido o Parque da Cantareira, e (IIA2) os maciços e serras da face setentrional da Cantareira e Jaraguá, ocupando os topos voltados para a Bacia do Juquerí. A face Norte (setentrional) da Serra da Cantareira e do Pico do Jaraguá, nas vertentes que drenam para o Rio Juquerí (NW do Município), nas altitudes entre 720 a 800 metros foi definido um outro clima local, denominado Clima Tropical Úmido de Altitude do Alto Juquerí (III). Este clima local foi subdividido em dois mesoclimas, sendo (IIIA) referente aos morros e espigões do Alto Juquerí – Tietê e (IIIB) aos terraços e as várzeas do Vale do Juquerí. Ao Sul da represa de Guarapiranga foi definido um outro clima local, denominado Clima Tropical Sub-oceâncio Superúmido do Reverso do Planalto Altântico (IV), cuja principal característica é a maior proximidade com o oceano em relação aos outros três climas locais já analisados (I, II, III). Este clima local (IV) foi subdividido em dois mesoclimas: (IVA) os morros e espigões elevados do Alto Pinheiros e Embú-Guaçu, e (IVB) morros e nascentes do Alto Pinheiros e Embú-Guaçu. Este segundo mesoclima (IVB) foi subdividido em dois topoclimas, (IVB1), referente aos próprios morros e nascentes, e o (IVB2), referente ao espelho d’água da represa Billings. O último clima local definido para o Município de São Paulo foi denominado Clima Tropical Oceânico Super-úmido da fachada Oriental do Planalto Atlântico (V), sendo que ele foi subdividida em três mesoclimas a saber: (VA) serras e altos espigões da Fachada Oriental do Planalto Atlântico, (VB) morros, serras e escarpas do Alto Capivari-Monos, e (VC) escarpa oriental do Planalto Atlântico (Serra do Mar). Este 1 Trata-se da estação meteorológica representativa do Clima Local da Cidade de São Paulo. viii clima local, bem como seus mesoclimas, tem sua característica fundamental definida pela máxima influência oceânica. A cidade e o município de São Paulo foi estruturado em quatro macro-unidades climáticas urbanas. Estas unidades podem ser consideradas como “homogêneas” para cada dimensão das relações entre os controles climáticos urbanos (uso do solo, fluxo de veículos, densidade populacional, densidade das edificações, orientação e altura das edificações, áreas verdes, represas, parques e emissão de poluentes) e os atributos (temperatura da superfície, do ar, umidade, insolação, radiação solar, qualidade do ar, pluviosidade, ventilação). Portanto, existe uma série de níveis e dimensões destas unidades hierarquizadas numa “rede” de relações que se definem no espaço (comprimento, altura, largura) e no tempo (sazonal, mensal, diário e horário). A Unidade Climática Urbana Central (I) tem uma identidade estruturada em um núcleo, representado pela letra A no Mapa 06, e seis Unidades Marginais ou periféricas ao núcleo, representadas pelas letras B, C, D, E, F, G (Mapa 06). De forma geral, o núcleo (A) abrange o centro histórico, a verticalização densa e contínua que se estende para a Zona Sul, passando pela Liberdade, Vila Mariana, até as proximidades com o Parque do Estado. Este sentido da verticalização corresponde aproximadamente à área de influência da linha Sul do Metrô. A transição deste núcleo parece ocorrer entre o Brooklin e a verticalização da Av. Luís Carlos Berrini. Para Norte, Leste e Oeste-Sudoeste a envoltória deste núcleo seriam as marginais, as várzeas e os terraços baixos urbanizados do Tietê, Pinheiros e Tamanduateí. Inclui- se neste núcleo o sistema de colinas e o espigão central, ocupado pelos principais corredores de trânsito, interligando os bairros verdes e os centros do poder econômico, industrial, comercial e de serviços da metrópole, concentrados nos canyons urbanos da Paulista e Faria Lima. O principal controle climático da unidade IA se expressa pela alta densidade de edificações, pessoas, veículos e atividades. A forma urbana mais evidente são os “arranha-céus”, a verticalização. Mas qual seria hoje o conteúdo mais importante para o clima ou os climas deste núcleo? Sem dúvida, um dos mais graves é a poluição do ar. Os maiores corredores de tráfego da região metropolitana circundam esta unidade. A somatória do fluxo diário das marginais (Tietê, Pinheiros) com o da Av. dos Bandeirantes e da Av. do Estado (Vale do Tamanduateí) contribuem diariamente para a passagem de mais de 1.200.000 veículos – calhas de tráfego pesado. Além deste volume enorme de emissões, todo o anel interno é composto de vias de trânsito com elevado volume e lentidão (velocidade) variável ao longo do dia e da noite. Resulta desta forma, fontes múltiplas e permanentemente móveis de elevada emissão de poluentes atmosféricos, cujos danos à saúde já foram discutidos anteriormente. Além deste fato, o “núcleo central” recebe das unidades periféricas (IB a G e da Unidade II) o transporte de gases e material particulado emitido por fontes industriais e pela circulação dos veículos. A urbanização dos vales do Tietê, Tamanduateí e Pinheiros se deu em tempos diferenciados. A observação cuidadosa das várzeas e terraços destes rios guarda segredos, cria diferenças microclimáticas, mas hoje eles se assemelham climatologicamente como grandes bacias produtoras de toneladas de poluentes. Os volumes de tráfego pesado fluem dia e noite e deixam nestes vales as maiores concentrações de poluentes de origem industrial e de veículos da metrópole. Entretanto, não apenas produzem, mas recebem diariamente grande fluxo depoluentes oriundos do ABCD (no caso principalmente ix o Tamanduateí). O vale do Pinheiros também recebe grande parte dos fluxos produzidos em Santo Amaro (de origem industrial e veicular) quando os ventos são de Sul-Sudeste, ou de Barueri-Osasco, sob regimes de ventos de noroeste (Unidade IB). A ligação da Vergueiro com a Anchieta (antigo Caminho do Mar) passando por parte do Jabaquara, Saúde, Ipiranga até os limites com o Parque do Estado e São Caetano do Sul se constituem na Unidade Climática IC1. A principal característica deste espaço urbano é o predomínio do residencial baixo (aqui considerado como casas ou edificações de 1 a 2 andares de classe média ou média baixa geralmente com cobertura de telhas de cerâmica de cor avermelhada). Dentro deste espaço surgem “núcleos” ou novos centros de comércio e verticalização, cuja representação cartográfica não foi possível. Existem também, dentro deste padrão residencial baixo ou intermediário, um número significativo de edifícios ou prédios (de 3 ou mais pavimentos). Quando a extensão em área já alcança dimensões consideráveis foi possível criar sub-unidades. A travessia do Rio Pinheiros a caminho da Zona Oeste (Raposo Tavares e Br116) entre altitudes que vão de 720m (Raia Olímpica da USP) à aproximadamente 800 metros, uma unidade climática privilegiada pelo verde. Principalmente aquele “verde” dos Bairros Cidade Jardim e Morumbi. As evidências são nítidas e claramente definidas se tratar de uma expansão dos bairros nobres e verdes (Unidade Climática ID1), onde a enorme área verde com densa arborização cria microclimas perfeitos para a reprodução da vida, tanto à nível biológico como social. Entre a verticalização atual da Av. Luís Carlos Berrini até o contato (transição) para a zona industrial (Unidade IB4 já analisada) existe um “núcleo” adensado, quase um novo “clima urbano” independente do Bairro de Santo Amaro. Não estivesse ele dentro da metrópole sua identidade e relações seriam mais simples; no entanto, ele ainda mantém o caráter de uma temporalidade diferenciada e seu arranjo de formas e conteúdo ainda mostra esta evolução. Possui um núcleo bem definido, comercial - residencial baixo (Unidade IE3) ao lado do industrial ou via de circulação (Marginal). Logo se passa mais ao longe, protegido pelo verde para a Chácara Santo Antônio, bairro verde residencial (Unidade IE3). No bairro verde a temperatura da superfície oscila entre 27 e 29ºC (setembro) ou de 27 a 30ºC (abril). A forte verticalização existente na Av. Luís Carlos Berrini, bem como uma extensa área de forma circular ao Sul da Chácara Santo Antônio define a Unidade topoclimática IE2. A expansão urbana para o além Tamanduateí produziu bairros (Mooca, Tatuapé, Água Rasa, Carrão, Vila Formosa, Penha, Vila Matilde) com altíssima densidade de pessoas e porcentagem muito pequena de áreas verdes. A aridez reflete temperaturas altas nas superfícies edificadas (30 a 33ºC). A forma urbana mostra uma homogeneidade considerável, tanto no forte aquecimento, na ausência do verde e na poluição atmosférica elevada, caracterizando um espaço urbano muito homogêneo nas transformações climáticas pelas práticas espaciais e sócio-econômicas. Assim, todo este território entre rios, cuja identidade já desapareceu, a metrópole determina novas leis, onde a produção e reprodução do espaço das pessoas e do clima é determinado pelo econômico, pelo valor de mercado e não de uso do território. Por isto, praticamente inexistem hoje parques, jardins, áreas verdes, campos de futebol, onde as mínimas x necessidades fisiológicas ou vitais do corpo e da cultura possam ser alcançados. Todo este conjunto foi identificado como uma unidade mesoclimática urbana, denominada IF. A Zona Norte ou Além Tietê se constitui climatologicamente em uma extensa faixa urbana com orientação Leste-Oeste. Alinhada estruturalmente pelo vale do Tietê, recebe permanentemente influências dos maciços serranos da Cantareira e do Jaraguá. Este extenso divisor de águas das bacias do Tietê – Juquerí (900 a 1.000 metros), e seu bloco de terras elevadas melhora a dispersão dos poluentes e altera os fluxos atmosféricos nos transportes verticais e horizontais na proximidade do solo (camada limite planetária). A ocupação urbana, historicamente muito antiga (núcleos de Santana, Taipas, Pirituba) era pontual e acompanhava caminhos, vias, estradas de ferro (ingleses da ligação Santos - Jundiaí) e mais recentemente tem muita influência do Sistema Anhanguera-Bandeirantes, Fernão Dias e da própria linha Norte do metrô paulistano. Assim, esta franja entre o Tietê e a Cantareira-Jaraguá hoje é um grande universo urbano, que certamente já criou inúmeros núcleos e sub-núcleos de diversos “climas urbanos”. Os próprios nomes de alguns dos principais bairros da Zona Norte, tais como São Domingos, Jaraguá-Pirituba, Freguesia do Ó, Limão, Casa Verde, Santana, Vila Guilherme, Vila Maria, Tucuruvi, Jacanã, Tremembé, identifica lugares ontem (passado recente até a década de 1940-1960) associados às várzeas ou serras, hoje se identificam os nomes das pontes ou com a qualidade do ar dos bairros mais elevados, onde já se vende um clima com qualidade melhor. Existe aí também uma relativa homogeneidade de ser uma área com tendência à um predomínio de casas residenciais de até 2 pavimentos (residencial baixo ou intermediário) intercalados por áreas com centros comerciais e de verticalização muito intensa. Este conjunto (Unidade IG) foi estruturada em 6 sub-unidades, de acordo com as variações do uso do solo, em combinação com a distribuição do campo térmico identificada pelo satélite. O processo de favelização, com amontoamento de casebres e seres humanos, quase sem as mínimas condições ambientais para a reprodução da vida foi o principal critério adotado para a delimitação destas unidades. A observação da realidade através do sobrevôo feito de helicóptero no dia 22-08-2000 deixou claro a importância de como são os microclimas dos “casebres” da periferia urbana da metrópole. Ora parecem desertos, unidades climáticas extremas, ora rios de lama, sujeira e inundações, ora calor insuportável, ora frio demais, poluição, asma, bronquite, pneumonia de milhões de seres humanos, trabalhadores, operários deste país. São estes os “climas urbanos”, ou seja, o calor extremo, evidente nas imagens de satélite, são substituídos por áreas termicamente mais “amenas” dos altos declives dos morros, ou pelo sombreamento dos fundos de vale. Mudam-se os lugares, mas os “riscos” climáticos contra a vida são os mesmos nos morros mais elevados. As temperaturas e o aquecimento e as amplitudes térmicas são menores, mas os impactos pluviais são mais elevados e mais intensos, aliados às altas declividades, bem como à fragilidade da estrutura superficial (solo-rocha-relevo e tipo de ocupação) da paisagem, os riscos se tornam permanentes de perdas de vida. As favelas e cortiços das várzeas e fundos de vale vão receber sazonal e rotineiramente, como se fizesse parte do cotidiano determinado pelo econômico, a inundação das casas e a proliferação de doenças daí advindas. Torna-se necessário compreender que mesmo as oscilações climáticas de pequena variabilidade (uma chuva habitual, uma onda de calor seguida por um tipo de tempo um pouco mais frio, etc.) são capazes de provocar danos à saúde ou às necessidades mínimas dos xi desempenhos do corpo e da mente para o trabalhar, estudar ou viver. O clima, assim encarado, mostra suas “faces sociais” perversas, mas muito reais para mais de 2.500.000 de favelados desta cidade, ou mais de 600.000 encortiçados desta metrópole tão rica na sua produção de riqueza econômica e monetária, e tão pobre ou miserável na sua dignidade humana e social. Portanto, os fenômenos climáticos devem ser redimensionados pelas práticas sociais e espaciais existentes emcada unidade climática, pois elas são representações da realidade urbana. Os efeitos e os danos provocados pelo clima (variabilidade, poluição, extremos, etc.) devem ser reavaliados em função de como cada classe social, ou cada segmento de uma classe (crianças, idosos, desnutridos) os recebem. A “causa mortis” muitas vezes é do sistema circulatório ou do coração, mas o agravamento vem de uma totalidade, onde certamente a poluição do ar, o calor extremo, a falta de ventilação ou insolação, as enchentes, ou a ansiedade provocada por estes fatores são controles tão ou mais importantes que a “causa mortis” em si mesma. Mesmo assim, nas últimas décadas, os estudos de saúde pública indicam a morte por problemas relacionados com doenças respiratórias como a segunda causa. A discriminação fica tão evidente que mesmo a rede de monitoramento da CETESB deixa este fato bem claro; só existe uma estação em funcionamento nesta macro-unidade Climática Periférica (Unidade II), ou seja, em São Miguel Paulista, e mesmo assim, sua localização específica não é representativa da área dominada pela favelização. As áreas críticas do ponto de vista climático são aquelas, onde além do péssimo conforto térmico do ambiente interno, se alia o risco de deslizamento por impactos de chuva concentrados, principalmente na primavera-verão e, eventualmente, até no outono. Os morros, altos espigões e cristas dos bairros Vila Brasilândia e Nova Cachoeirinha são assustadores na sua beleza cênica do entardecer de luzes e vida agitada, mas devem ser muito piores em dias e dias de chuva forte de verão, quando os morros e as casas quase despencam; ou nos tipos de tempo frios de chuva fina e gelada de outono-inverno. Descobre-se rapidamente que a beleza do urbano pobre no morro tem seu lado triste e muitas vezes “trágico”. As áreas críticas do ponto de vista climático são aquelas, onde além do péssimo conforto térmico do ambiente interno, se alia o risco de deslizamento por impactos de chuva concentrados, principalmente na primavera-verão e, eventualmente, até no outono. Os morros, altos espigões e cristas dos bairros Vila Brasilândia e Nova Cachoeirinha são assustadores na sua beleza cênica do entardecer de luzes e vida agitada, mas devem ser muito piores em dias e dias de chuva forte de verão, quando os morros e as casas quase despencam; ou nos tipos de tempo frios de chuva fina e gelada de outono-inverno. Descobre-se rapidamente que a beleza do urbano pobre no morro tem seu lado triste e muitas vezes “trágico”. 1 1. Introdução A análise do clima de uma cidade com as dimensões do fato urbano existentes na metrópole de São Paulo exige a adoção de princípios, métodos e técnicas adequados à compreensão do fenômeno. O primeiro deles, e talvez o mais importante, seja considerar a realidade urbana como uma totalidade. Os múltiplos e diversos aspectos, propriedades, graus de intensidade do fenômeno metropolitano redefine globalmente todo o conjunto de suas partes constituintes. Desta forma, o clima ou os climas urbanos da metrópole não podem ser tratados como processos puramente físicos, mas em todas as suas interações com os fatos associados à produção do espaço através das práticas sociais vigentes no cotidiano desta sociedade urbana. Associado a este princípio, os procedimentos e objetivos a serem alcançados são: d) delimitar e analisar as unidades climáticas urbanas em três níveis de análise. O primeiro deles seria aquele que engloba toda a mancha urbana contínua da Metrópole, incluindo portanto, todo o conjunto de climas locais da Bacia do Alto Tietê ou da RMSP; e) O segundo nível seria aqueles das unidades topoclimáticas, onde as diferenças estariam associadas aos padrões de uso do solo vigente, bem como às diferenças constatadas na concentração dos poluentes atmosféricos decorrentes dos meso e topoclimas naturais e urbanos; f) O terceiro nível seria aquele do habitar, do viver e do trabalhar, onde interessa sobremaneira os ambientes microclimáticos, tanto interno das edificações, como externo a elas, na rua, na praça ou no trabalho, em termos de alterações qualitativas nas propriedades dos estados atmosféricos. A Região Metropolitana da Cidade de São Paulo, tem uma população de aproximadamente 16 milhões de habitantes em uma área urbanizada de 1.747 km2. No entanto, a distribuição nesse território de 8.051km2 é bastante desigual. De fato, a maior concentração está no município de São Paulo, que abriga 9,8 milhões (61% do total) numa área de 1.051 km2. Além disto os municípios de Guarulhos, Osaco, Santo André e São Bernardo do Campo têm, cada um, mais de 500 mil habitantes. Com estes números, São Paulo continua sendo o terceiro maior conglomerado urbano do mundo. O produto interno bruto dessa metrópole (Grande São Paulo) é de 64,5 bilhões de dólares. Este PIB 2 metropolitano é quase a metade do PIB estadual e representa cerca de 1/6 da renda brasileira. Existe ainda, dentro desse território, aproximadamente 40 mil indústrias e 5,7 milhões de veículos particulares (21% do total nacional). Na Grande São Paulo são realizadas 30,5 milhões de viagens por dia, sendo 12 milhões de transporte coletivo, 8,1 milhões no modo individual e 10,4 milhões a pé. Nas ruas, praças e avenidas da Capital circulam 2,5 a 3,0 milhões de veículos por dia. As indústrias e veículos são responsáveis pelo lançamento no ar próximo do solo (onde vivemos e respiramos), diariamente, por perto de 6.000 toneladas de poluentes. Isto eqüivale a que cada um dos 16 milhões de habitantes da Grande São Paulo está sujeito a respirar, por dia, 350 gramas de elementos nocivos à saúde. Hoje, os veículos automotores são os principais causadores da poluição do ar na Grande São Paulo, produzindo 90% da poluição atmosférica, enquanto as indústrias são responsáveis pelos outros 10%. Os principais poluentes lançados sobre a atmosfera da metrópole são, segundo os dados da CETESB (1999): 68% de monóxido de Carbono, 11% de Óxidos de Enxofre e 4% de particulados. A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) abriga 4,4 milhões de domicílios, sendo que possui 1.080 favelas. Heliópolis, a maior favela da Capital, abriga 35 mil habitantes em 8 mil barracos. Somando-se moradores de favelas e cortiços, estima-se um total aproximado de 3,5 a 4,0 milhões de pessoas. O consumo de energia elétrica na Região Metropolitana encontra-se na marca de 35,3 milhões de megawatts/hora (17% do total nacional). Apesar destes números de uma aparente riqueza, a Grande São Paulo convive com a expressiva taxa de 14% de desemprego, equivalente a 1,1 milhão de trabalhadores desempregados. A extensa área de ocupação urbana, associada a vários outros agravantes (lixo, assoreamento, desmatamento nas áreas de cabaceiras de nascentes, canalização, esgoto industrial e domiciliar lançados nos rios) tem aumentado o problema das enchentes e inundações, contando atualmente (1999) com aproximadamente 600 pontos. Apesar de toda esta importância demonstrada, a RMSP se constitui em uma das realidades climáticas urbanas menos conhecida e estudada no Brasil. A maioria dos trabalhos são pontuais (nível regional ou local) e não respondem pela necessidade do conhecimento em termos do espaço e do tempo (cronológico). As escalas de tratamento, no geral, são muito amplas, em torno de 1:1.000.00 a 1:2.500.000, e baseadas em 3 concepções médias, que não mostram as variabilidades reais dos fenômenos, ligados à vida ou ao desempenho do organismo urbano. O Laboratório de Climatologia do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo – USP vem trabalhando desde a década de 1970 através de teses (iniciação à pesquisa, mestrado e doutorado) e projetos financiados pelo CNPq, ou em colaboração com órgãos e entidades estaduais (EMPLASA) e municipais (SEMPLA, SVMA), no sentido de contribuirpara o conhecimento desta realidade. Em 1975 foi proposto um programa de Climatologia Experimental na RMSP que vislumbrava a necessidade de realizar trabalhos de campo e mapeamentos (uso do solo, balanço de radiação solar, chuva, temperatura e poluição do ar) em três universos, ou níveis de organização hierárquica do espaço urbano: 1- Nível Regional Metropolitano ou Bacia do Alto Tietê; 2- Nível Local, composto pelo espaço continuamente urbanizado da Grande São Paulo; 3- Nível Microclimático, composto pelo espaço urbanizado na cidade de São Paulo. Imaginava-se até mesmo um veículo, uma pick-up, com um conjunto de equipamentos meteorológicos para o trabalho de campo (TARIFA, 1976). Infelizmente, uma série de dificuldades burocráticas e de financiamento não permitiram o desenvolvimento integral deste programa de pesquisa (CLIMEX-SP). No entanto, alguns resultados foram sendo construídos, conforme passa-se a relatar. Usando dados de Radiação Solar Global (Qg), insolação (n), temperatura do ar, umidade e nebulosidade do Parque do Estado (Estação Meteorológica do IAG-USP) para o ano de 1974, MORAES, COSTA & TARIFA (1977) calcularam o balanço de energia na cidade de São Paulo. As estimativas diárias da Radiação Líguida (net radiation) foram associadas aos tipos de tempo. Neste estudo já ficou evidente a importância do processo de urbanização-industrialização na modificação do balanço de radiação solar. Na elaboração do Plano Diretor do Município de São Paulo (versão para debate, fev. de 1985) elaborou-se (TARIFA, 1984) os primeiros mapeamentos dos elementos climáticos (temperatura e chuva) naturais e urbanos (isotermas da metrópole, ilhas de calor, poluição e qualidade do ar). A preocupação fundamental para a elaboração de um dignóstico da qualidade do ar para o Município foi integrar os insumos naturais do clima 4 com aqueles produzidos pelo processo de urbanização-industrialização (TARIFA, 1984). A observação do cartograma referente à distribuição da temperatura na cidade com base na imagem do dia 16/07/1981 (17:47 GTM) (LOMBARDO, CÂMARA, MONTEIRO & TARIFA, 1982) “checada” com trabalho de campo e ampliada cartograficamente já revelava que: • A isoterma de 28 a 30ºC abrange boa parte da área central da metrópole (indústrias, bairros áridos e Zona Leste); • A faixa abrangida pelas isotermas de 27 a 28ºC engloba praticamente quase toda a mancha continuamente urbanizada; o anel externo em relação a essa mancha urbana (menor densidade de ocupação), bem como alguns bairros verdes (por exemplo os Jardins) e outros serranos (Cantareira), ficam entre 26 a 27ºC; as áreas com temperaturas menores que 26ºC apresentam pequena interferência da estrutura urbana da cidade (TARIFA, 1984). Naquele mesmo estudo, foi feito um diagnóstico da qualidade do ar, mostrando a enorme gravidade do problema e apontando algumas sugestões sobre filtros, catalizadores, mudança no uso do diesel nas indústrias, mudanças nos transportes urbanos, etc. Naquele momento, o mapeamento usando dados de SO2 e Material Particulado para o ano de 1982 mostrava que os maiores valores de poluição do ar estavam acompanhando os vales do Tamanduateí e Tietê. No entanto, já havia clareza de que nos dados horários o CO, o SO2 e o Material Particulado já estavam fora do padrão primário e com nítida tendência de elevação, ou seja, na década de 1970 já haviam sido detectados vários episódios gravíssimos com doenças para a população em geral, o início dos anos 80 também não revelou nenhuma perspectiva de melhora. Em trabalho apresentado no 3º Congresso Brasileiro de Agrometeorologia (TARIFA & MELLO, 1984) fizemos uma síntese sobre os principais problemas do Clima Urbano da Cidade de São Paulo, cuja íntegra passamos a transcrever: “Um dos mais graves eventos climáticos extremos que periodicamente atinge a área metropolitana de São Paulo são as inundações. De acordo com um levantamento feito por PASCHOAL de 1961 a 1970 ocorreram 13 casos de inundações urbanas. No entanto, esse número cresceu para 52, entre os anos de 1971 a 1978. Além desse acréscimo, nos anos sessenta, os casos de enchentes ficaram restritos aos meses de primavera-verão, quando as chuvas eram mais 5 intensas. A partir de 1971, episódios moderados de chuva, no outono e mesmo no inverno passaram a provocar inundações. Assim sendo, mesmo que o organismo urbano dê origem a uma ilha de calor com 5 a 8ºC de temperatura na área central mais elevada que as da redondeza e que parece ser capaz de intensificar as pancadas de chuva; as enchentes devem ser classificados como eventos extremos do tipo diretamente provocados pela irracionalidade da organização humana no espaço geográfico. Desde meados da década de 60, que a deterioração da qualidade do ar na área metropolitana de São Paulo, alcançou índices mensais e anuais superiores àqueles recomendados pela Organização Mundial de Saúde. No entanto, os estudos pioneiros só começam a surgir com o agravamento da poluição do ar no final da década de 60 e início de 70. Um dos primeiros estudos foi o de RIBEIRO, realizado para a região do ABC Paulista. Trabalhando com menores de 12 anos ele encontrou correlações significativamente positivas entre as taxas médias anuais de sulfatação e a freqüência anual de infecções das vias aéreas superiores. Nessa mesma linha de pesquisa ALTERTHUM & WANDALSEN & AGOSTINHO constataram aumento de casos de asma brônquica em crianças de Santo André. O constante aumento dos valores de material particulado e SO2 provocaram vários episódios agudos nos invernos de 1975/76. Um desses episódios mereceu um estudo especial sobre o efeito da poluição do ar na morbidade diária em São Caetano do Sul, em junho de 1976. Esse estudo constatou um aumento da morbidade da ordem de 65% por doenças respiratórias e de 187% por doenças cardiovasculares. Alguns estudos mais recentes desenvolvidos pela Divisão de Toxicologia da CETESB têm demonstrado os efeitos de vários poluentes de alta toxidade sobre os residentes da cidade de São Paulo. Dentre esses estudos destacam-se diferenças significativas de COHb entre os que vivem e trabalham em São Paulo e do grupo de controle. Foram também realizadas determinações de fluoretos na urina e da presença de chumbo no sangue. Esses resultados são corroborados pelo estudo de ORSINI & BOUERES, que em média 80% da massa dos elementos S, Zn, Br e Pb concentram-se no particulado fino e, portanto, são preferencialmente retidos pelos pulmões, podendo provocar sérios danos à população de São Paulo.” Durante o período de 1989 a 1992 foi realizado um novo Diagnóstico da Qualidade do Ar e do Clima Urbano do Município de São Paulo (TARIFA, 1991). Parte deste trabalho foi publicado sob a forma de Atlas ”Diagnóstico Cartográfico Ambiental” editado pela Prefeitura de São Paulo em 1992. O estudo completo “Qualidade do ar no Município de São Paulo” (TARIFA, 1991) envolveu a elaboração de 11 (onze) cartogramas na 6 escala 1:50.000, onde se procurou trabalhar com a variação média da poluição do ar (período de janeiro de 1982 a dezembro de 1989), mas incluiu também a análise das variações horárias de SO2, Material Particulado (inalável), Ozônio, Material Carbonáceo e a poluição por veículos. A preocupação em se operar com dados reais, já que é este o ar que respiramos e não as médias ou padrões, foi feito um cálculo da freqüência em hora e em porcentagem do tempo (dia, mês, ano) que os padrões são ultrapassados. Pode-se, assim, obter uma análise mais realista sobre a relação qualidade do ar e o “tempo real” a que somos submetidos aos diferentes níveis de concentrações. Com base nos resultados e na síntese de Unidades da Qualidade do Ar para o Município de São Paulo, apontamos alguns problemas críticos e algumas recomendações para melhorar a qualidadedo ar (TARIFA, 1991), cujo teor passamos a transcrever: “Nos últimos anos (1985-1991) ocorreu um expansão das áreas críticas com relação ao problema da poluição do ar, este fato se deve ao aumento das fontes móveis de poluição do ar. Por outro lado, a metrópole em seu processo de rápida expansão para a periferia tem aumentado substancialmente os níveis de material particulado no ar. Além do que, não tem preservado áreas verdes (principalmente na periferia) e nem conseguiu controlar ou evitar fontes emissoras de poeira e particulado em geral. Apesar da diminuição dos índices de SO2, a situação nos parece hoje mais crítica do que há 10 anos atrás, uma vez que a combinação dos efeitos de diferentes tipos de poluentes (particulado, ozona, monóxido de carbono e SO2 em certas horas do dia) se traduziria em uma interação crítica e de efeitos extremamente danosos à saúde da população. Além do que, resta lembrar que desde 1985 o Brasil tem passado por sucessivas ‘crises’ econômicas com recessões de maior ou menor grau que tem estagnado ou feito crescer à níveis inferiores ao esperado o crescimento econômico industrial, e que logicamente o parque industrial da área metropolitana de São Paulo não tem operado em plena capacidade instalada. Assim sendo, é de se esperar que passado este período de recessão atual (1990/1991) as emissões industriais e a poluição por veículos se tornem ainda mais graves nos próximos anos. Do ponto de vista da legislação atual, que segue as recomendações da EPA (USA), percebe-se que os valores são estabelecidos em valores médios de 24 horas. Esta média é questionável do ponto de vista do tempo da exposição das pessoas a níveis baixos e médios de poluição do ar, mas por longos períodos de 7 tempo. O ideal seria o estabelecimento de padrões primários e secundários para o nível horário, tais como já existe para o monóxido de carbono e ozônio (O3). Considerando o município como um todo, este poderia ter uma significativa melhoria da qualidade do ar se: • Estabelecesse um programa de arborização que visasse um aumento significativo de áreas verdes e arborização nas ruas, praças e quintais das residências. Principalmente na Zona Leste, e em trechos de periferia onde o principal poluente é o material particulado, a vegetação traria uma melhora importante na qualidade do ar. Além de poder contribuir para melhorar outros problemas críticos como enchentes, deslizamentos e também melhorar esteticamente a cidade; • Utilizasse diesel de melhor qualidade, com menor teor de enxofre; • Utilizasse outras fontes de energia para movimentar os ônibus urbanos: energia elétrica, gás metano, etc.; • Maior controle dos veículos da frota da CMTC e das Cias particulares; • Aumentasse a velocidade do fluxo de veículos nos principais corredores e vias, especialmente naquelas destinadas aos coletivos urbanos, e às áreas críticas de passagem de veículos de longe (marginais, saídas para rodovias, etc.); • Diminuísse as emissões por veículos à gasolina, principalmente em certas áreas centrais da cidade, onde as concentrações de monóxido de carbono já são extremamente críticas. Uma das soluões, talvez, pudesse ser impedir ou dificultar o acesso de veículos do modo individual em certas áreas da cidade; • Autorizasse novas instalações industriais, em unidades ou compartimentos, cuja localização não implicasse em transporte pelo vento (dos poluentes) para as áreas já críticas de qualidade do ar. Desta forma, deveria- se priorizar novas instalações industriais na vertente Noroeste (além Jaragá), ou na Zona Oeste-Sudoeste em relação ao município; • Executasse maior fiscalização no programa de instalação de equipamentos antipoluentes pelas montadoras nacionais (fabricantes de veículos); • Aumentasse substancialmente a rede de monitoramento de CO, O3, NOx e HCC, estendendo pelo menos o controle destes poluentes para toda a rede telemétrica da CETESB.” 8 Portanto, o objetivo principal deste novo estudo de clima urbano é o de atualizar o conhecimento e utilizar todo o desenvolvimento e aprimoramento das técnicas de observação da cidade através dos sensores remotos, feitas em parceria com a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) e com a Secretaria de Planejamento (SEMPLA) da Prefeitura do Município de São Paulo. 2. Metodologia A abordagem em pregada procurou utilizar todo o acervo de conhecimento existente sobre o clima da cidade de São Paulo no Laboratório de Climatologia do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo. Além deste material cartográfico, foram utilizados os dados da Normal Climatológica do Mirante de Santana (1961-1990) (INMET, 1991) para a caracterização do Clima Local da Bacia Paulistana. A análise da circulação dos ventos foi realizada usando dados de freqüências e direções do vento para o Aeroporto de Congonhas (período de 1987 a 1993), em função desta estação estar localizada numa posição central em relação à mancha urbana da cidade, bem como pelo fato das leituras de vento serem realizadas 24 horas por dia, e não apenas 3 leituras como no Mirante de Santana. Este material se constitui num conjunto de mapas na escala 1:50.000, sobre a distribuição anual da pluviosidade e máximos em 24 horas no Município de São Paulo e no seu entorno. Com base neste material e combinando observações topo e mesoclimáticas de campo com análises integradas com o relevo (forma, orientação, declividade) e a drenagem, a distância do oceano foi possível construir a carta de Unidades Climáticas Naturais do Município de São Paulo (MAPA 01). O estudo específico do uso do solo (na escala 1:50.000) foi baseado em mapeamento quadra a quadra elaborado pela Secretaria de Planejamento da Prefeitura (SEMPLA, 1999). Os padrões e a tipologia do uso do solo foram transformados e simplificados visando entender suas relações com a distribuição do campo térmico e na poluição do ar (MAPA 02). Um dos elementos mais importantes na delimitação das Unidades Climáticas Urbanas foi a presença ou não de áreas verdes, muito embora no próprio mapa de uso do solo os Parques e Reservas estejam mapeados, as manchas menores e a arborização 9 de quintais e ruas não aparecem. Neste caso foi necessário recorrer às imagens do Satélite LANDSAT 7 (MAPA 03). Por outro lado, considerando as dificuldades inerentes à complexidade dos espaços microclimáticos urbanos foi necessário recorrer às imagens do Satélite LANDSAT 7, referente às cenas dos dias 03-09-1999 e de 30-04-2000 (aproximadamente às 10:00 horas da manhã). As imagens utilizadas para análise e compreensão dos espaços topo e microclimáticos urbanos foram o canal termal (banda 6) (MAPAS 04 e 05), uma composição das bandas 3, 4, e 5 para um destaque no porte da vegetação e contraste com as áreas urbanizadas, uma outra composição com as bandas 3, 4 e 2 para um realce das áreas verdes, e o canal 8 (pancromático) para melhor visualização das áreas verticalizadas. Essas imagens foram tratadas e processadas pelo Prof. Dr. Teodoro Isnard Ribeiro de Almeida, do Instituto de Geociências da USP, e pelos técnicos da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) Flavio Laurenza Fatigati e Luís Roberto de Campos Jacintho. Após o tratamento digital, as imagens foram impressas na mesma escala da base cartográfica do uso do solo e das Unidades Climáticas Naturais do Clima (1:50.000). As imagens que mostraram maior correlação com a representação espacial dos fenômenos climáticos foi a banda 6, ou seja, do termal (MAPAS 04 e 05), entretanto, os valores encontrados devem ser considerados como uma aproximação genérica da distribuição térmica referente à emissividade da superfície do solo, e não propriamente da temperatura do ar. Um outro mapeamento foi fundamental para a delimitação dasUnidades Climáticas Urbanas. Trata-se da distribuição das favelas no Município de São Paulo (MAPA 06). A análise de sua densidade e relação com o uso do solo, as áreas verdes e o campo térmico permitiu entender melhor a relação núcleo-centro-periferia do Sistema Clima Urbano (SCU) da metrópole paulista. 3. O Sítio Urbano O sítio urbano da cidade de São Paulo está inserido no Planalto Atlântico do Sudeste do Brasil, a uma distância média de 45 km do Oceano Atlântico, abrangendo os 10 compartimentos geomorfológicos da Serra da Cantareira, Bacia Sedimentar de São Paulo e Reverso do Planalto Atlântico (Mares de Morros). A Serra da Cantareira ocupa a porção Norte do Município de São Paulo. A orientação geral desta serra é Leste-Oeste. O principal divisor de águas da Serra da Cantareira coincide com o limite de Município entre São Paulo e Mairiporã, sendo que as vertentes voltadas para Sul/Sudeste estão no lado Paulistano. As altitudes neste compartimento são atingem 1200 metros. Uma área interessante de se ressaltar é onde estão os bairros de Perus e Anhanguera (NNO do Município de São Paulo), pois pertencem à vertente da Serra da Cantareira voltada para o continente (Norte). É uma área que drena para a bacia do Rio Juqueri e compreendem faixas altimétricas que vão desde 740 a mais de 800 metros. Uma outra área que se individualiza na Serra da Cantareira é o vale do Córrego Cabuçu, orientado no sentido Leste-Oeste (paralelo à orientação da Serra neste trecho) e depois segue em direção Norte-Sul rumo ao vale do Rio Tietê, já na Bacia Sedimentar de São Paulo. No trecho Leste-Oeste deste Rio o vale é bem encaixado. A bacia do Ribeirão Engordador apresenta também um vale bem encaixado com orientação SW-NE (paralelo à orientação da Serra neste trecho). Os outros vales da Serra da Cantareira em geral tem sua orientação principal de Norte para Sul, drenando para o Rio Tietê. No compartimento da Bacia Sedimentar de São Paulo, o principal rio é o Tietê, com seu vale orientado no sentido Leste-Oeste e a uma altitude de aproximadamente 720 metros e com uma ampla planície de inundação. Ele recebe as águas dos rios que nascem na vertente Sul da Serra da Cantareira (Cabuçu de Baixo e Cabuçu de Cima) e daqueles que nascem no reverso do Planalto Atlântico (Pinheiros, Tamanduateí, Aricanduva). Os Rios Pinheiros (na Zona Oeste do Município) e Tamanduateí (Na Zona Central e Leste do Município) são os principais afluentes do Rio Tietê. Ambos possuem vales largos, com uma ampla planície de inundação e orientados no sentido Sudeste-Noroeste, coincidentes com a direção predominante dos ventos em São Paulo. Através da reversão do curso do Rio Pinheiros é que se possibilitou a construção dos Reservatórios de Guarapiranga e Billings, situados ao Sul da Cidade de São Paulo, sendo que o 11 Guarapiranga é utilizado para o abastecimento de água de alguns bairros do Município e o Billings para a Geração de energia elétrica na Usina Henry Borden em Cubatão. O vale do Rio Aricanduva (na Zona Leste) também é um importante tributário do Rio Tietê. Ele apresenta a mesma orientação dos Rios Pinheiros e Tamanduateí (SE- NW), entretanto, sua planície de inundação não é tão ampla quanto à dos outros dois; as cabeceiras do Aricanduva fazem divisa com o município de Mauá e o seu vale nesta área é bem encaixado. Mais a Leste do Município, e também afluentes do Rio Tietê, estão os Córregos Jacu e Itaquera, que são de menores dimensões que os anteriores, mas também importantes. As cabeceiras destes dois córregos são próximas das do Aricanduva e com vales bastante encaixados neste trecho. Próximos ao Rio Tietê eles apresentam uma planície de inundação considerável e a orientação deste dois vales é Norte-Sul. Os principais afluentes do Rio Pinheiros estão na margem esquerda dele, sendo os Ribeirões Jaguaré e Pirajussara. Suas orientações são SW-NE e são rios de menores proporções que os citados anteriormente. Já o principal afluente do Rio Tamanduateí é o Ribeirão Ipiranga, sendo que sua orientação geral é Norte-Sul e sua planície de inundação é relativamente pequena, muito embora hoje ela esteja totalmente canalizada. Um importante componente do sítio urbano de São Paulo é o divisor de águas entre o Rio Pinheiros e o Tamanduateí, denominado pelo Prof. Aziz Nacib Ab’Sáber por Espigão Central. A altitude aí é superior a 800 metros e a orientação deste divisor, do Jabaquara até a Vila Mariana, é Norte-Sul e, da Vila Mariana até a Lapa, é Sudeste- Noroeste, a mesma orientação dos Rios Pinheiros e Tamanduateí. Uma característica importante deste divisor é que a vertente voltada para o Rio Tamanduateí tem uma declividade menor que a vertente voltada para o rio Pinheiros (mais abrupta no lado Oeste), que acaba cedendo lugar à várzea e terraços do Rio Pinheiros. As áreas a Oeste do Rio Pinheiros são predominantemente marcadas por colinas e em alguns trechos por platôs acima de 800 metros, por exemplo, onde se localiza o Bairro do Morumbi. A área a Leste do Tamanduateí, onde estão os Bairros da Mooca, Brás, Belenzinho e Tatuapé são predominantemente marcadas por terraços planos a sub-planos e por colinas amplas, e ,em direção às margens do Aricanduva, começam a aparecer os Platôs 12 acima de 800 metros, onde estão os Bairros de Sapopemba, São Mateus, Itaquera e Guaianazes (este mais próximo do Córrego Itaquera). Ao Sul da Represa de Guarapiranga encontram-se uma área de mares de morros do Reverso do Planalto Atlântico com drenagem de padrão dendrítico. Grande parte desses morros ultrapassam as cotas de 800 metros, sendo que aí se encontram os divisores de águas das bacias que drenam para a Guarapiranga e para a Billings. Ao Sul da Represa Billings estão as nascentes do Rio Capivari-Monos, que drena para o Litoral. Seu vale é encaixado na escarpada Serra do Mar, bem no limite Sul do Município. A configuração desses três grandes compartimentos, a Serra da Cantareira a Norte do Município e com altitudes superiores até 1200 metros, a Bacia sedimentar de São Paulo na área central com maior densidade urbana e com altitudes predominantes entre 720 a 780 metros, e o Reverso da Serra do Mar ao Sul, com altitudes normalmente superiores a 800 metros, criam uma condição de tipologia de sítio urbano convergente do ponto de vista físico (geométrico). Essas condições naturais, principalmente na Bacia Sedimentar de São Paulo, mais os fatos históricos e econômicos propiciaram o crescimento urbano da cidade de São Paulo, que atualmente atingiu dimensões metropolitanas, estando conurbada com vários outros municípios aos seu redor, como por exemplo com o ABC a Sudeste; Osasco, Carapicuíba e Barueri a Oeste; Poá e Ferraz de Vasconcelos a Leste. 4. Do Regional aos Climas Locais A Metrópole Paulistana está localizada a uma latitude aproximada de 23o21’ e longitude de 46o 44’, junto ao trópico de Capricórnio, e implica em uma realidade climática de transição, entre os Climas Tropicais Úmidos de Altitude, com período seco definido, e aqueles subtropicais, permanentemente úmidos do Brasil meridional. MONTEIRO (1973) justifica a existência desta faixa de transição da seguinte forma: “Ao sul desta faixa temos a ver com um clima regional em latitude subtropical, permanentemente úmido pela atividade frontal. Mesmo nos anos de atuação mais reduzida do ar polar, a sua participação não é inferior a 40%, podendo elevar-se a 75% nos anos de maior atividade. Ao norte define-se com maior ou menor intensidade a existência de um período seco, coincidente com o Outono-Inverno, embora isto se apague no litoral. A menor penetração 13 do ar polar no setor setentrional reduz a quantidade de chuvas frontais de sul para norte, conduz o mais das vezes ao bom tempo”. Portanto uma das principaiscaracterísticas climáticas desta transição zonal é a alternância das estações (quente - úmida e a outra fria e relativamente mais seca) ao lado das variações bruscas do ritmo e da sucessão dos tipos de tempo. Pode-se ter situações meteorológicas (estados atmosféricos) de intensos aquecimentos bem como de intensos resfriamentos em segmentos temporais de curta duração (dias a semanas).” Esta alternância explica, regionalmente, tanto a ocorrência de fortes impactos pluviométricos, como a existência, em determinados anos, de longas seqüências de períodos secos. Principalmente nos anos de máxima oscilação sul (El Niño) – como 1976/77, 82/83, 91/92 e 94 – quando então, a bacia do Alto Tietê (RMSP) passa por impactos pluviométricos muito fortes, tanto na primavera-verão, como por um acréscimo substancial, principalmente no outono. Esta proximidade com o subtrópico, com forte resfriamento de Outono-Inverno e acompanhada por situações meteorológicas mais secas e estáveis, deve-se, principalmente, à freqüência elevada de sistemas anticiclônicos polares, bem como, pelo avanço sobre o continente da alta subtropical. Estando, também, a superfície do solo e do Atlântico Sul, com temperaturas mais baixas, ocorre uma freqüência substancialmente maior de estados atmosféricos estáveis, implicando condições piores para a dispersão horizontal e vertical dos poluentes atmosféricos. Para a caracterização sazonal do clima local da área recorreu-se a um enquadramento regional na escala de 1:200.000, onde se pode delimitar as Unidades Climáticas da Região Metropolitana de São Paulo2. Nota-se, nesta escala, que a área metropolitana encontra-se entre as Unidades Climáticas VII (tropical de altitude do Vale do Tietê e afluentes) e VI (tropical de altitude das serras e morros do além Tietê e Juqueri). O principal fator ou controle climático que diferencia estas unidades é o relevo. Assim sendo, a altitude, a forma e a orientação do relevo redefinem, dentro deste conjunto regional, “climas locais”, com mudanças nos valores térmicos e pluviométricos. 2 TARIFA, J.R. “Unidades Climáticas da Região Metropolitana de São Paulo”, Laboratório de Climatologia. Depto. de Geografia USP, 1993. 14 Para efetuar a descrição das variações médias mensais dos atributos climáticos, recorreu-se à normal climatológica do período 1961-1990, da Estação Meteorológica do Mirante de Santana3 (latitude 23o 30’, longitude 46o 37’ e altitude 792 m) cujos dados encontram-se sintetizados no Quadro 01. Nele se percebe a existência nítida de dois períodos ou estações bem definidas, uma quente e chuvosa de outubro a março (grosso modo primavera-verão) e outra fria e relativamente mais seca, de abril a setembro (Outono-Inverno). Este fato fica evidenciado no comportamento de quase todos os atributos climatológicos constantes do Quadro 01. A pressão atmosférica, cuja média anual é de 926,0 Mb, oscila no Outono-Inverno entre 926,2 (abril) e 929,4 (julho), e na primavera-verão, entre 923,2 Mb (dezembro) e 925,4 (outubro). O comportamento térmico mostra variação sazonal muito semelhante, com o período de maio a outubro, registrando os menores valores médios da temperatura, com uma variação entre 15,8oC (julho, mês mais frio) a 19,0oC (outubro). Na estação quente, os valores oscilam entre 22,4oC (fevereiro, mês mais quente) e 20,3oC (novembro), ficando abril com 19,7oC (transição para o inverno) conforme dados constantes do Quadro 01. A média anual das temperaturas máximas foi de 24,9oC, com o mês mais frio (julho) registrando 21,8oC e o mês mais quente (fevereiro) 28,0oC. A máxima absoluta (para a normal 1961-1990) foi de 35,3oC registrada no dia 15 de novembro de 1985. A média anual das temperaturas mínimas foi de 15,5oC, registrando-se no mês mais frio (julho), um valor médio de 11,7oC, enquanto no mês mais quente (fevereiro), tem-se uma média de 18,8oC. A mínima absoluta ocorreu no dia 1o de junho de 1979, atingindo 1,2oC. 3 Trata-se da estação meteorológica representativa do Clima Local da Cidade de São Paulo. 15 A umidade do ar se mantém relativamente elevada (na média) durante o ano todo, variando entre um mínimo de 74%, em agosto, e um máximo de 80%, nos meses de janeiro, março, abril e novembro. A cobertura do céu (nebulosidade em décimos) varia de um mínimo de 6,1/10, no mês de julho, a um máximo de 8,2/10, em dezembro. O número de horas de insolação é relativamente baixo, apresentando uma variação entre 4,2 horas de brilho solar, em dezembro, e 5,3 horas, em julho. A evaporação (capacidade evaporativa do ar medida em evaporímetro de Piché) varia entre um total médio de 104,8 mm, em agosto, e um total de 78,2 mm, em julho. A pluviosidade média anual (para o período 1961-1990) foi de 1454,8 mm, sendo o mês mais chuvoso (janeiro), com 238,7 mm, e o mês mais seco (agosto), com apenas 38,9 mm. O máximo pluviométrico, em 24 horas (para o posto meteorológico do Mirante Quadro 1 Normais Climatológicas – Mirante de Santana (SP) Lat. 23º30’, Long. 46º37’, Alt. 792 metros. Meses 1987 pres atm (mb) md max md min max abs max abs data min abs min abs data md comp umd relativa nebo (C10) prec tot max prec (mm) max data evap total insol jan 923,5 27,3 18,7 34,2 19/88 11,9 01/62 22,1 80 8,1 238,7 103,5 19/77 99,9 4,8hs fev 924,2 28,0 18,8 34,7 03/84 12,4 01/62 22,4 79 7,5 217,4 121,8 02/83 86,9 5,2hs mar 924,9 27,2 18,2 33,5 15/86 12,1 30/61 21,7 80 7,7 159,8 90,8 09/72 88,4 4,7hs abr 926,2 25,1 16,3 31,4 06/90 6,8 25/71 19,7 80 7,4 75,8 57,9 20/68 80,7 4,7hs mai 927,4 23,0 13,8 29,7 08/84 2,2 31/79 17,6 79 6,6 73,6 71,8 16/68 79,8 4,6hs jun 928,7 21,8 12,4 28,6 29/72 1,2 01/79 16,5 78 6,2 55,7 74,0 15/87 78,2 4,8hs jul 929,4 21,8 11,7 29,3 15/87 1,5 18/75 15,8 77 6,1 44,1 70,8 03/76 91,1 5,3hs ago 928,3 23,3 12,8 33,0 31/63 3,4 27/84 17,1 74 6,2 38,9 42,3 08/82 104,8 5,2hs set 927,2 23,9 13,9 35,2 20/61 3,5 04/64 17,8 77 7,2 80,5 62,6 20/84 100,0 4,0hs out 925,4 24,8 15,3 34,5 12/63 7,0 31/74 19,0 79 7,7 123,6 63,7 07/69 99,9 4,5hs nov 923,8 25,9 16,6 35,3 15/85 7,0 01/74 20,3 78 7,7 145,8 82,8 15/79 101,4 4,8hs dez 923,2 26,3 17,7 33,5 01/61 10,3 24/63 21,1 80 8,2 200,9 151,8 21/88 96,9 4,2hs ano 926,0 24,9 15,5 35,3 15/11/85 1,2 01/06/79 19,3 78 7,2 1454,8 151,8 21/12/88 1108,0 4,7hs Fonte: INMET. Org.: José Roberto Tarifa Gustavo Armani Laboratório de Climatologia – USP Primavera, 2000. 16 de Santana), ocorreu no dia 21 de dezembro de 1988, tendo sido registrado um valor de 151,8 mm. A circulação regional dos ventos A estação meteorológica do Aeroporto de Congonhas registra uma média anual de calmarias de 33,7%. A primeira predominância anual é a direção sudeste com 19,6%, a segunda é o vetor Sul, com 16%, e a terceira é a direção Leste, com 8,8%. As calmarias oscilam entre 24,4% (novembro) e um máximo, em outubro, de 29,1% e, um mínimo, de 13,9 a 14%, em maio e junho. A componente Sul (2a predominância) tem o mesmo tipo de variação sazonal, com um máximo de participação nos meses de setembro a dezembro e um mínimo no inverno. Os dois octantes mais inativos são o Oeste, com 1,8%, e o Sudoeste, com 2,1%. É importante, ainda, mencionar o aumento das calmarias (ventos menores que 1km/h) no inverno, principalmente nos meses de maio (41%), junho (43,4%) e julho (41,1%) muito embora ela esteja presente durante o ano todo, não caindo (em termos de média) abaixo de 23% de participação horária no mês. Outro dado importante, é a participação da direção Noroeste com 6,3% de média anual, alcançando um máximo de freqüência no verão (8,6% em dezembro e 9,0% em janeiro) e um mínimo no inverno- primavera (oscilando entre 3,2% em setembro e 6,7% em junho)conforme dados constantes do Quadro 02. 17 5. As Unidades Climáticas Naturais O Município de São Paulo está inserido num contexto de terras altas (entre 720 a 850 metros predominantemente), chamado Planalto Atlântico. A topografia deste planalto apresenta as mais variadas feições, tais como planícies aluviais (várzeas), colinas, morros e serras e maciços com as mais variadas orientações. A poucos quilômetros de distância (45km em média) encontra-se o Oceano Atlântico. Esse quadro físico define um conjunto de controles climáticos que, em interação com a sucessão habitual dos sistemas atmosféricos, irão dar identidade aos climas locais, produzidos pelos encadeamentos de diferentes tipos de tempo. Dessa forma, o conceito de clima que conduziu o pensamento de todo este trabalho é aquele referente à “sucessão habitual dos estados atmosféricos (tipos de tempo) sobre um determinado lugar” (SORRE, 1934). A grande vantagem deste conceito de clima sobre a definição clássica de Hann (1883) é o dinamismo que se atribuiu ao clima, dado pela sucessão habitual. Enquanto Quadro 02 Freqüência e Intensidade Média dos Ventos (1983-1992) – Aeroporto de Congonhas N NE E SE S SO O NO CALMO F I F I F I F I F I F I F I F I % JAN 9,6 11,0 5,4 9,3 8,3 9,9 18,1 11,7 13,7 12,0 2,4 9,9 2,5 9,3 9,0 10,8 30,9 FEV 6,4 9,0 5,3 9,0 8,5 8,6 17,1 10,5 13,6 10,7 1,9 9,7 1,8 8,5 7,2 9,1 38,2 MAR 4,7 10,1 5,2 9,2 9,4 10,0 20,0 11,9 15,7 11,7 2,1 9,5 1,9 9,3 5,6 9,8 35,3 ABR 4,6 10,8 5,3 9,8 8,4 10,1 19,4 11,6 15,7 11,3 3,0 9,5 2,1 9,3 7,7 10,2 32,9 MAI 6,0 11,2 5,9 9,1 8,1 9,5 13,9 10,5 12,9 10,0 2,7 8,9 2,3 9,1 6,1 10,9 41,0 JUN 7,2 11,1 6,4 9,1 9,1 9,8 14,0 10,2 9,7 10,0 1,6 9,5 1,7 8,9 6,7 11,1 43,4 JUL 6,1 11,3 7,3 9,3 9,8 10,5 15,1 10,7 12,8 10,3 1,5 8,2 1,2 10,0 5,0 11,2 41,1 AGO 4,3 10,2 6,1 9,5 10,0 10,8 18,9 11,9 16,5 11,3 1,4 10,7 1,8 9,8 5,5 11,3 35,9 SET 3,8 11,9 5,8 9,7 9,1 11,7 24,4 12,3 21,1 11,4 1,8 10,6 1,1 8,1 3,2 10,4 29,7 OUT 4,2 11,4 4,8 8,7 9,4 10,1 29,1 12,3 20,1 11,7 2,5 10,2 1,5 9,7 4,7 10,8 23,6 NOV 4,8 10,6 5,1 9,4 8,6 9,4 25,7 12,6 20,1 12,3 2,1 9,8 2,1 8,2 6,9 10,6 24,4 DEZ 7,9 10,8 5,0 9,6 7,1 10,3 19,4 11,6 19,8 11,7 2,0 9,8 1,8 9,7 8,6 10,8 28,1 ANO 5,8 10,8 5,6 9,3 8,8 10,0 19,6 13,8 16,0 11,2 2,1 9,7 1,8 9,1 6,3 10,6 33,7 Fonte: Estação Meteorológica do Aeroporto de Congonhas Org.: José Roberto Tarifa, 1993. 18 que para Hann o que definia o clima de um lugar era o estado médio da atmosfera (fenômeno estático e abstrato), o movimento e o encadeamento de tipos de tempo vinculam-se mais com a vida e com as práticas sociais e econômicas. Para os primeiros colonizadores brancos oriundos de áreas temperadas do Hemisfério Norte, a adaptação às características climáticas do Planalto Paulistano foi relativamente fácil. Desenvolveu-se neste tempo de antanho a idéia de um clima estimulante e favorável à saúde (FRANÇA, 1958). Hoje em dia, em função dos problemas advindos da urbanização e industrialização essa idéia foi sendo esquecida ou trocada por uma antagônica, mais ligada à poluição. Neste item, mais especificamente, serão tratados apenas os aspectos naturais do clima, devendo-se abstrair a imensa metrópole que modifica de certa forma as propriedades naturais do clima, muito embora esta abstração total seja quase impossível, já que a estação meteorológica do Mirante de Santana (INMET), bem como grande parte dos postos pluviométricos utilizados estejam hoje submersos nesta atmosfera urbana. Os principais controles climáticos naturais para a definição dos climas locais e mesoclimas (unidades climáticas naturais) foram o Oceano Atlântico, a altitude e o relevo, com suas diferentes formas e orientações. Conjugando-se todos estes controles definiu-se cinco climas locais, que foram subdivididos em meso ou topoclimas em função das diferentes características topográficas de cada clima local (MAPA 01). O primeiro clima local foi definido como Clima Tropical Úmido de Altitude do Planalto Atlântico (Unidade I) e ocupa, grosso modo, a área da Bacia Sedimentar de São Paulo, onde a urbanização se instalou primeiramente. Neste clima local foram definidos diferentes mesoclimas a saber: (IA) os topos mais elevados dos maciços, serras e altas colinas; (IB) as colinas intermediárias, morros baixos, terraços e patamares; e (IC) as várzeas e baixos terraços. A Unidade IA (topos mais elevados dos maciços, serras e altas colinas) foi subdividida em três, sendo a IA1 referente aos maciços, serras e morros do alto Aricanduva e Itaquera, a IA2 referente ao Espigão Central, e IA3 referente aos altos espigões do Pirajussara, Embú e Cotia. Estas três sub-unidades (IA1, IA2 e IA3) tem um comportamento climático muito semelhante. As temperaturas são relativamente amenas pelo próprio efeito da altitude, 19 com as médias anuais girando em torno de 19,3ºC, a média anual das máximas em torno de 24,9ºC e as médias anuais das mínimas em torno de 15,5ºC. A pluviosidade aí representa um elemento importantíssimo, pois quando os sistemas atmosféricos produtores de chuva entram na área do município de São Paulo, a topografia destes morros mais elevados tendem a aumentar a instabilidade destes sistemas, aumentando os totais pluviais em relação às áreas mais baixas e planas. Como são áreas mais elevadas, com declividades médias a altas e que recebem um impacto pluviométrico significativo elas têm um potencial natural para deslizamentos, movimentos de massa e desmoronamentos relativamente elevado, principalmente nos morros da Zona Leste e Oeste, onde a estrutura geológica é frágil. Os totais anuais nestas unidades (IA1, IA2, IA3) variam de 1250 a 1450mm e os máximos em 24 horas oscilam entre 100 a 175mm. A altitude predominante (acima de 800 metros) propicia também uma maior ventilação destas unidades. Essa característica, aliada à instabilidade atmosférica induzida por estes morros, cria um bom potencial natural à dispersão de poluentes (MAPA 01). O mesoclima das colinas intermediárias, morros baixos, patamares e terraços (Unidade IB) foi subdividida em seis sub-unidades: (IB1) colinas intermediárias e morros baixos do além Tietê, (IB2) colinas, patamares e rampas do Pinheiros, (IB3) colinas, patamares e rampas da face Leste do Espigão Central, (IB4) terraços, colinas e patamares do Tamanduateí e Aricanduva, (IB5) terraços, colinas, patamares do Itaquera, e (IB6a) colinas, morros e espigões divisores do médio Pinheiros e Embú-Guaçu (Billings e Guarapiranga). A Unidades IB6b refere-se ao espelho d’água dos represas Billings e Guarapiranga. A situação topográfica destas unidades é intermediária, ou seja, entre as várzeas (Unidades IC) e os topos (Unidades IA), com as altitudes variando entre 740 a 800 metros. Devido a esse rebaixamento, as temperaturas sofrem um ligeiro aquecimento. As temperaturas médias anuais variam nestas unidades (IB1 a IB6a) de 19,6º a 19,3ºC, a média anual das máximas varia de 25,2º a 24,9ºC e a média anual das mínimas de 15,8º a 15,5ºC. Nos terraços e patamares planos a sub-planos, nos dias de céu claro, ocorre um forte aquecimento diurno, não só por se tratar de áreas relativamente baixas, mas por serem muito planas e que permitem uma maior recepção e absorção da radiação solar (Unidades IB4 e IB5). 20 Pluviometricamente, estas unidades são muito semelhantes às unidades IA (topos dos morros), pois as unidades IB estão ligadas aos topos (ou às unidade IA) praticamente pela mesma “vertente” ou “rampa”, que provoca a ascensão das parcelas de ar e instabilização local da baixa atmosfera. A proximidade com as áreas mais instáveis dos Climas Locais I e II (Serra da Cantareira e Jaraguá) farão com que os totais pluviométricos sejam praticamente da mesma intensidade. O exemplo mais evidente deste fato é demonstrado pela unidade
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