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Pensamento e Linguagem 2

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Pensamento e Linguagem
Profª Dra Darlene Godoy de Oliveira
“Às vezes você fica ouvindo outras pessoas fazerem barulho enquanto respiram, porque aqueles chiados e sibilos possuem informações”.
Steven Pinker
Linguagem: definições 
Uso de meios organizados de combinar palavras para se comunicar. Permite não apenas a comunicação como o pensamento sobre coisas e processos que atualmente não podemos ver, sentir, ouvir, tocar, cheirar, incluindo ideias que podem não ter forma tangível. (Stenberg, 2000)
Facilita a capacidade de construir uma representação mental de uma situação, a qual nos permite entende-la e comunicarmos em relação a ela. (Kandel, 1997).
Indicação mais tangível do pensamento. Combinação de palavras enquanto pensamos e nos comunicamos. (Myers, 2006)
Essência humana, com qualidades singulares. (Chomsky)
Joia na coroa da cognição. (Pinker)
Sistema pelo qual sons, símbolos e gestos são utilizados para a comunicação. Expressa sutilezas de todas as emoções e experiências humanas, apesar da existência de diferentes idiomas.(Bear, 2008)
Componentes da Linguagem
Componentes:
 Expressão Compreensão 
	 (fala e escrita) (audição e leitura)
►Auxilia na organização de operações mentais
►Está em constante evolução e modificação
►O ser humano é pré-configurado biologicamente a adquirir linguagem por exposição ao meio. (Chomsky, 1965)
Curiosidades 
Número médio de palavras aprendidas por um adulto (com ensino médio): 80.000. 
Usamos aproximadamente 150 palavras para a metade das coisas que dizemos.
Do nascimento até os 16 anos: média de 5.000 palavras novas aprendidas por ano, 13/dia.
Aprendizagem espontânea na infância: crianças pré-escolares que não sabem explicitamente as regras sintáticas falam com fluência e facilidade muito maiores do que adultos que sabem tais regras após aprender o idioma.
Proferimos em média 3 palavras por segundo (adultos fluentes)!
Curiosidades
A espécie humana construiu aproximadamente 6000 línguas/dialetos.
869 fonemas diferentes na linguagem humana.
Fonemas com consoantes trazem mais informações do que fonemas vogais.
Unidades da Linguagem
Nível Fonológico
Fone: um único som vocal (estalar de língua ou bochecha, som murmurante).
Fonema: menor unidade de som da fala que pode ser usada para distinguir uma expressão vocal em uma língua de outra. 
Fonética: estudo de como produzir e combinar os sons de fala, ou representa-los com sons escritos.
Exemplo: método das boquinhas.
Unidades da Linguagem
Nível Morfológico
Morfema: menor unidade que denota significado em uma determinada língua. 
Afixos: prefixos e sufixos. 
Morfemas de conteúdo: unidades que transmitem o núcleo do significado (ex: gnóstico).
Morfemas de função: acrescentam nuances ao significado dos morfemas de conteúdo (ex: ão).
Léxico: conjunto de morfemas de uma língua ou no repertório individual. 
Unidades da Linguagem
Nível Sintático
Sintaxe: forma como os indivíduos juntam as palavras para formar sentenças (sujeito/sigmata nominal; predicado/sigmata verbal).
Gramática: sistema de regras semânticas e sintáticas que possibilitam a nossa comunicação com outros.
Exemplo: F** é adjunto adnominal, quando a frase for: ''Conheci um político f**".
Se a frase for: "O político é um f**", daí, é predicativo.
Agora, se a frase for: "Esse f** é um político", é sujeito.
Porém, se o cara aponta uma arma para a testa do político e diz: "Agora nega o roubo, f**!" - daí é vocativo.
Finalmente, se a frase for: "O ex-ministro, José Dirceu, aquele f**, desviou o dinheiro para o mensalão" daí, é aposto.
Que língua a nossa, não?!
COMPLETANDO: Se estiver escrito: "Saiu da presidência em janeiro." Aí,o f** é sujeito oculto.
E aí? Aprendeu?
Unidades da Linguagem
Nível Semântico: estudo do significado.
Denotação (literal) e Conotação (figurado)
Discurso: linguagem além do nível das sentenças (conversação, parágrafos, histórias, obras literárias).
Unidades da Linguagem
Prosódia: tom afetivo da linguagem.
Sotaque em língua de sinais: chineses que aprendem a sinalizar em Inglês apresentam sotaque.
Tese – IP USP: Lexicografia da língua de sinais brasileira do nordeste (Janice Temoteo)
Desenvolvimento da Linguagem
Teorias de Aquisição da Linguagem
Principais Escolas
Teorias de Aquisição da Linguagem
Empirismo-Behaviorista: Burrhus Skinner
Condicionamento respondente: estímulo – resposta - reforço
Aprendizagem operante: associação, imitação e reforço. 
Evidências - Efeito da exposição ao ambiente: filhos de pais surdos aprendem a linguagem oral mais lentamente.
Críticas principais:
O aprendizado da denotação é explicado pelo modelo, mas a ideia de conotação (associações subjetivas, culturais, emocionais) fica prejudicada.
Não explica como produzimos e compreendemos o significado de sentenças nunca antes ouvidas.
Não explica a autonomia do indivíduo na autoaprendizagem e nem as generalizações internas de crianças(erros como fazi, fazeu, cabeu).
Teorias de Aquisição da Linguagem
Empirismo Conexionista
Aprendizado ad hoc, que admite analogias e generalizações.
Explicação das etapas de processamento de informação (entrada, integração, saída), conforme a interação entre organismo (rede neural) e ambiente. 
Presume a existência de algoritmos de aprendizagem em tarefas ainda não aprendidas. A aprendizagem está vinculada às alterações nas conexões neurais, a partir de um algoritmo de aprendizagem interno que permite o aprendizado a partir de experiências.
Ex: aprendizagem por exposição a diferentes situações relacionadas ao mesmo tema (inglês para viagens).
Teorias de Desenvolvimento da Linguagem
Racionalismo inatista: Noam Chomsky 
A aprendizagem da linguagem independe da cognição e de outras formas de aprendizagem.
 De acordo com a gramática universal ou gerativa, o ser-humano é dotado de uma gramática inata. Daí a sua habilidade em formular as regras da gramática de uma língua sem ser exposto a exemplos.
As crianças aprendem as línguas de seus ambientes em velocidade muito extraordinária para ser explicada apenas pelos princípios da aprendizagem.
Gramática universal inata: Nós nascemos com o hardware e a experiência cria o software.
Teorias de Desenvolvimento da Linguagem
Gramática universal: afirma que alguns princípios linguísticos estão presentes em todas as línguas: 
Toda língua tem sons de vogais.
Todas as sentenças têm um sujeito em qualquer língua.
Essas regras das línguas ajudam a criança a adquirir a sua língua materna. Não implica que todas as línguas tenham a mesma gramática ou que todos os humanos estejam "programados" com uma estrutura que subjaz a todas as expressões de línguas humanas.
Princípios: não variam entre as línguas e são gerais. 
Parâmetros: conferem diferenças superficiais às línguas. Ex: toda língua tem sujeito (princípio); este sujeito pode ser omitido ou não (parâmetro).
Teorias de Desenvolvimento da Linguagem
Construtivismo-interacionista: Lev Vygotsky
Linguagem: sistema simbólico fundamental em todos os grupos humanos e elaborado no curso da evolução da espécie e história social.
Ênfase na função social da fala no desenvolvimento da linguagem.
Língua + pensamento + sociedade
Signo/instrumento simbólico: construções da mente humana, que estabelecem uma relação de mediação entre o homem e a realidade.
Significado: um ato do pensamento e ao mesmo tempo, parte inalienável da palavra. Pertence tanto ao domínio da linguagem quanto ao domínio do pensamento.
Aquisição da Linguagem
Infante (latim): aquele que não pode falar.
Aprendizagem “estatística” dos bebês: combinações de sons mais prováveis que outras. Combinações pouco frequentes deduzem o limite de palavras.
Ex: “bebê lindo”. lin+do é mais frequente do que be+lin em uma palavra.
Outra pista: sílaba
tônica, que dá ênfase no início das palavras (Inglês).
Deahene et al - fMRI em bebês de 3 meses: ativam as mesmas áreas que os adultos ao ouvir palavras. Similaridade na organização e lateralização das áreas da linguagem. 
Desenvolvimento da Linguagem
Estágio do balbucio: emissão espontânea de sons. Não é imitação e inclui fonemas não pertencentes à língua materna. 
O desenvolvimento da expressão e reconhecimento fonético é moldado em fases posteriores, com a imersão na cultura. 
Articulação de pares CV formados com a língua para fora (da, ca, ma, ta): similares aos movimentos naturalmente feitos ao mamar.
14 meses: período crítico do desenvolvimento para reconhecer os sons do idioma e os balbucios se modificam. Perdem a habilidade de discriminar sons que nunca ouviram. 
Aos 6 meses percebem diferenças de fonemas que aos 12 meses não perceberão.
Sem a exposição, nos tornamos surdos para outras línguas. 
Desenvolvimento da Linguagem
1º ano de vida: estágio de uma só palavra.
“Papaaaai” quer dizer “O papai chegou”.
2º ano: estágio das duas palavras, chamado de fala telegráfica.
Verbo + substantivo (Quero suco).
Posteriormente, desenvolvimento de sentenças maiores.
VÍDEO: The linguistic genius of babies.
http://www.ted.com/talks/patricia_kuhl_the_linguistic_genius_of_babies.html
Localização Cerebral	da Linguagem
Volume maior da área temporal-posterior do HE: verificado no crânio do Neandertal há mais de 30 mil anos.
Chimpanzés e orangotangos também têm regiões análogas às dos humanos para processamento da linguagem. 
Durante os últimos 3 milhões de anos: quadruplicação do tamanho do cérebro humano – modelagem e seleção da linguagem. 
Diferenças hemisféricas: 31ª semana de gestação.
700% a mais de volume de tecido nervoso nas áreas da fala. 
Linguagem no Cérebro
Localização Cerebral
Kolb e Wishaw (2002)
Neuroimagem em Tarefas de Linguagem
PET scan de indivíduo normal executando várias tarefas relacionadas à linguagem
Modelo Wernicke-Geschwind
Linguagem em animais?
Comunicação: troca de pensamentos e sentimentos que nem sempre se dá por meio da linguagem. Inclui formas não-verbais, como gestos, olhares, toques, distanciamento e pistas contextuais.
Comunicação em animais
Abelhas: quando uma exploradora descobre uma fonte de néctar, faz uma dança com duração e intensidade que indicam direção e distância da fonte.
Gestos e evolução da língua humana. 
Os macacos desenvolveram muitas palavras gesticuladas e os gestos em humanos sobrevivem mesmo nos falantes (até mesmo no telefone ou quando falamos sozinhos).
Pessoas com cegueira congênita fazem gestos semelhantes aos das pessoas que vêem. 
Em videntes, proibir a gesticulação perturba a fala de conteúdo espacial. 
A gesticulação esclarece a carga cognitiva transmitida pela fala. 
Comunicação em animais
Jane Goodall – investigadora das vocalizações dos chimpanzés: gritos específicos para ameaça de ataques, outros para chamar os amigos para perto de si. 
Os sons emitidos por algumas espécies de primatas transmitem vários significados aos membros do grupo e envolvem uma resposta seletiva de neurônios do córtex auditivo para sons típicos da espécie. 
Alarme dos macacos cercopitecos:
chamado tonal curto: presença de leopardo.
 grunhidos entrecortados em tom baixo: presença de águias
Chiiiits em tom alto: pítons.
Porém, repertório pequeno, não produtivo (criativo), carente de complexidade estrutural e não arbitrátrio.
Comunicação em animais
90% das conversas dos chimpanzés tratam de interação social, conforto, tranquilização ou brincadeiras. São capazes de traduzir palavras do inglês para linguagem de sinais. 
Chimpanzé “Washoe”: treinada na língua americana de sinais. Aos 4 anos, usava 32 sinais. Aos 32 meses, usava 181 sinais. Vocabulário similar ao de uma criança de 2 anos.
Herbert Terrace: criaram o chimpanzé Nim Chimpsky, que produziu mais de 19 mil expressões com sinais, a maioria com combinação de 2 palavras. Criticou que:
A maioria das expressões eram repetições
 Não apresentou organização sintática (palavras desordenadas). Ex: tickle you e you tickle são diferentes ideias.
Chomsky: “Se um animal tivesse a capacidade biologicamente tão vantajosa quanto a linguagem, mas, por qualquer razão, não a tivesse utilizado, seria um milagre evolutivo, como encontrar uma ilha com seres humanos que pudessem ser ensinados a voar.”
Pensamento em animais
Primatas desenvolvem várias habilidades cognitivas:
Tocar figuras com objetos em ordem numérica ascendente
Ordenar sequencias de objetos 
Usam joystick para reunir números de 1 a 6.
Percebem mudanças de quantidades de objetos e ficam surpresos fixando o olhar por mais tempo (assim como bebês humanos).
Chimpanzés, orangotangos e golfinhos usam espelho para observar manchas de tinta feitas por pesquisadores. 
https://www.youtube.com/watch?v=Wc23EPZ6k_E
Pensamento em animais
Insight em animais: 
Wolfgang Kohler e chimpanzé Sultan com vara curta, vara longa e frutas. Uso da vara curta para puxar a vara longa.
Aprendizagem que não foi dependente de condicionamento= Cognição animal. 
Chimpanzés têm 39 costumes catalogados de usos de ferramentas, catação e corte. Existem diferentes práticas em diferentes grupos, o que indica que não são habilidades genéticas. 
O que vem primeiro?
Pensamento ou linguagem? O ovo ou a galinha?
Um mundo sem linguagem seria um mundo sem conceitos e a cultura que depositamos na linguagem.
Educação: aumenta o poder de nossas palavras e pensamentos, embora muitos pensamentos não envolvam palavras.
Pensamento sem linguagem: memória procedural – quadro mental de como fazer ações (ex: abrir torneira).
Artistas, matemáticos, atletas e cientistas pensam mais por imagens.
Ex: pianista chinês Liu Chi Kung que ficou 7 anos preso e praticava mentalmente todos os dias as peças musicais e tocou melhor pós-prisão do que antes.
 
Ensaio Mental
Prática mental em atletas: “filme na cabeça” antes das jogadas. 
Aprimora os resultados em jogo de dardos. Aumento de 52% para 65% em arremessos livres de basquete (Savoy e Beitel, 1996).
Ensaio Mental:
Imaginar bons resultados, vitórias - não alterou o resultado em provas.
Imaginar-se e visualizar-se estudando eficazmente - alterou o desempenho em provas.
Conclusão: 05 minutos diários de mentalização planejando sobre como chegar em algum lugar é mais proveitoso do que fantasiar sobre o destino.
A linguagem influencia o pensamento mas o contrário também ocorre, pois senão a linguagem seria estática.

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