Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
153 Jorge de Almeida Rodrigues Junior Elizabeth Roditi Lachter Regina Sandra Veiga Nascimento Novos aditivos poliméricos multifuncionais para fluidos de base aquosa a serem utilizados na perfuração de poços de grande afastamento horizontal em águas ultraprofundas /New multifunctional polymeric additives for water basead fluids to be used in drilling of wells with extensive horizontal displacement in ultra deepwater resumo Este trabalho apresenta o desenvolvimento de uma nova classe de aditivos poliméricos para fluidos de base aquosa (WBM), que mostram simultaneamente uma série de propriedades que garantem uma boa per- formance, sendo ecologicamente corretos e de baixo custo. Os aditivos foram obtidos da modificação química de polímeros hidrofílicos por meio do acoplamento de diferentes segmentos hidrofóbicos. As análises reo- lógicas de sistemas aquosos dos produtos apresentaram comportamen- to pseudoplástico, e foi proposto um modelo que explica os resultados obtidos. Foram formuladas séries de fluidos de perfuração utilizando os PALAVRA-CHAVE: fluidos de perfuração modificadores reológicos surfactantes lubrificantes KEYWORDS: drilling fluids rheology modifiers urfactants lubricants abst ract This work presents the development of a new class of polymeric additives for water based muds (WBM), that show simultaneously several properties for good performance, being ecologically correct and of low cost. The additives were obtained through the chemical modification of hydrophilic polymers by coupling different hydrophobic segments to the polymeric chains. The rheologic analysis of aqueous systems of the products showed a pseudoplastic behavior, and it is suggested a model to explain the obtained results. A series of drilling fluids was formulated with the best systems. The developed additives successfully played the functions of rheology modifiers, shale inhibitors, filtrate reducers and lubricants, leading to excellent results at low pressure and low temperature (LPLT) conditions. (Expanded abstract available at the end of the paper). B o l e t i m t é c n i c o d a P r o d u ç ã o d e Pe t r ó l e o , R i o d e J a n e i r o - v o l u m e 2 , n º 1 , p . 1 5 3 - 1 7 0 REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 153 6/9/2007 13:25:26 154 melhores sistemas obtidos. Os aditivos desenvolvidos desempenharam com sucesso as funções de modifi- cadores reológicos, inibidores de reatividade de folhe- lhos, redutores de filtrado e lubrificantes, obtendo-se excelentes resultados em condições de baixa pressão e temperatura (LPLT). introdução A maior parte dos reservatórios brasileiros de gran- de porte descobertos atualmente encontra-se em alto mar, principalmente em águas ultraprofundas, como os da Bacia de Campos. A perfuração de poços de petróleo em profundidades maiores tem exigido o desenvolvimento de tecnologias consideravelmente sofisticadas e específicas e, ao mesmo tempo, ecolo- gicamente corretas. O quadro brasileiro é muito pe- culiar em relação ao cenário mundial, uma vez que os principais países produtores de petróleo exploram seus reservatórios em terra ou em condições distintas do cenário brasileiro. Desse modo, torna-se inviável a simples importação de tecnologia estrangeira de exploração, havendo, portanto, uma grande necessi- dade de desenvolvimento de tecnologia nacional. As- sim, as novas tecnologias a serem alcançadas deverão atender às necessidades decorrentes da perfuração de poços de geometria complexa, envolvendo trechos de alta inclinação e horizontais de grande afastamento, atravessando diferentes tipos de formações. Os fluidos de perfuração desempenham papel fundamental na perfuração de um poço, pois deles depende todo o sucesso da operação. Estes fluidos são sistemas líquidos multifásicos, formados por mis- turas de sólidos em suspensão, sais dissolvidos em água e compostos orgânicos dissolvidos ou emulsio- nados também em água. Entre as principais funções dos fluidos de perfuração podemos destacar (Chillin- gar, 1996): • limpeza, resfriamento e lubrificação da broca e da coluna de perfuração; • controle das pressões das camadas a serem per- furadas, impedindo o influxo de fluidos pré-exis- tentes nas rochas; • impermeabilização das paredes do poço por for- mação de filme, impedindo a penetração do flui- do de perfuração para o interior das rochas ou da região produtora. A esta função relaciona-se a propriedade de redução de filtrado; • manter estáveis os cascalhos de folhelhos gera- dos durante a perfuração, posto que a redução de sua granulação torna difícil a recuperação e a reutilização do fluido em etapas posteriores. A esta função relaciona-se a propriedade de inibi- ção de folhelhos reativos; • carreamento dos cascalhos gerados durante a perfuração para a superfície, mantendo-os em suspensão mesmo durante as inúmeras interrup- ções necessárias para a troca de broca ou adi- ção de novos segmentos à haste, por exemplo. Durante estas interrupções, o poço permanece repleto de fluido. Isto significa que o fluido de perfuração deve manter uma alta viscosidade quando submetido a baixas taxas de cisalha- mento ou a uma condição estática para retar- dar a sedimentação do cascalho para o fundo do poço. Por outro lado, deve apresentar baixa viscosidade quando submetido a altas taxas. Ou seja, durante a perfuração para que possa ser fa- cilmente bombeado. A esta função relaciona-se a propriedade reológica de pseudoplasticidade, que se torna crítica do trecho de ganho de ângu- lo ao trecho horizontal. Nestas regiões, o fluido deve gelificar rapidamente, pois a distância que os cascalhos precisariam percorrer antes de ha- ver deposição é extremamente pequena. Dessa forma, um fluido com reologia inadequada oca- sionará o entupimento de um poço por deposi- ção de cascalhos. Os fluidos de perfuração podem ser classificados em dois tipos principais: fluidos à base de óleo e de base aquosa. Os fluidos à base de óleo (oil based muds – OBM) ou de base orgânica sintética são usados há várias décadas com bons resultados por conferirem ao poço uma ótima estabilidade, além de apresen- tarem excelente lubricidade. Entretanto, a crescente preocupação com os danos ao meio ambiente e os custos envolvidos no descarte de cascalhos contami- Novos aditivos poliméricos multifuncionais para fluidos de base aquosa a serem utilizados na perfuração de poços... – Rodrigues Jr. et al. REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 154 6/9/2007 13:25:26 155 nados com óleo têm levado à procura de aditivos que confiram aos fluidos de base água (water based muds – WBM) o mesmo excelente desempenho dos fluidos à base de óleo. Dessa forma, os fluidos de base água devem não somente desempenhar adequadamente as funções dos fluidos de base óleo, mas também serem biodegradáveis e apresentarem baixa bioacu- mulação. A perfuração de um poço direcional é executada em diversas fases, cada uma exigindo a utilização de um fluido com propriedades específicas. Nas fases iniciais, por exemplo, utilizam-se formulações mais simples contendo basicamente água e argila. Em seguida são utilizados fluidos de base aquosa contendo potentes inibidores de reatividade dos folhelhos, uma vez que, nesta fase são comumente encontradas rochas com alto teor de esmectita. Na região de ganho de ângulo, a necessidade de se reduzir o atrito gerado entre a haste de perfuração e a rocha leva à troca do fluido de base água por base orgânica, que apresenta alta lubricidade. Por fim, na fase horizontal, utilizam-se fluidos de base aquosa contendo em geral polímeros capazes de pro- mover a pseudoplasticidade necessária a este trecho. Estas constantes trocas de fluido obviamente oneram o processo. Portanto, o desenvolvimento de um novo fluido ecologicamentecorreto, capaz de atender às di- ferentes necessidades de cada fase, traria sem dúvida alguma, inúmeras vantagens ao processo. objetivo Este trabalho teve como objetivo o desenvolvimento de novos aditivos poliméricos para fluidos de perfura- ção de base aquosa, a partir da hidrofobização parcial de polímeros hidrossolúveis comerciais. O trabalho es- tabelece correlações entre as estruturas dos produtos sintetizados e as propriedades verificadas de sistemas contendo estes produtos, propondo modelos razoáveis que contribuam para uma melhor compreensão dos comportamentos observados. O objetivo primordial deste trabalho é a obtenção de formulações de fluidos de perfuração aplicáveis nas diferentes fases da perfuração do poço, substituindo, integralmente, os fluidos à base de óleo pelos de base água, o que representa vantagens econômicas e am- bientais. Os objetivos foram alcançados por meio do desen- volvimento de uma série de aditivos poliméricos de uma mesma classe química que, quando incorporados ao fluido, desempenharam com sucesso, e simultanea- mente, as funções de inibidores de reatividade de fo- lhelhos, modificadores reológicos, redutores de filtrado e lubrificantes, em condições de baixa pressão e tem- peratura (LPLT). Os sistemas desenvolvidos permitem que sejam evitados problemas de incompatibilidade de componentes e, além disso, sejam reduzidos os custos envolvidos na perfuração. estratégia A primeira etapa do trabalho consistiu em dese- nhar um modelo de estrutura molecular, a qual, em princípio, pudesse desempenhar, simultaneamente, as funções de inibidor da reatividade de folhelhos, modificador reológico, redutor de filtrado e lubrifi- cante. Resultados da literatura (Chang, 1991; Swen- son, 2001) indicam que uma determinada estrutura polimérica hidrofílica (aqui referida como polímero co- mercial B) apresenta um bom desempenho de inibição da reatividade de folhelhos. Este bom desempenho é provavelmente devido à sua alta capacidade de se ad- sorver, tanto na superfície quanto nas entrecamadas de rochas esmectíticas, como a apresentada por uma série de polímeros hidrofílicos. Com base nesses resul- tados, foi proposto neste trabalho um modelo onde a estrutura hidrofílica do polímero B seria modificada, passando a conter um ou dois segmentos hidrofóbicos nas extremidades. Estes polímeros parcialmente hidro- fobizados teriam maior capacidade de inibição da rea- tividade, uma vez que, após a adsorção do segmento hidrofílico no interior da entrecamada, o segmento hidrofóbico, por ser apolar, permaneceria no exterior da rocha. Esse segmento tomaria uma conformação enovelada, atuando como uma obstrução, de modo a reduzir o contato com o meio aquoso, tornando as- sim hidrofóbica a superfície externa do folhelho e im- pedindo a entrada de água nas entrecamadas, como esquematizado na Figura 1. B o l e t i m t é c n i c o d a P r o d u ç ã o d e Pe t r ó l e o , R i o d e J a n e i r o - v o l u m e 2 , n º 1 , p . 1 5 3 - 1 7 0 REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 155 6/9/2007 13:25:26 156 Além disso, o modelo proposto de uma estrutura molecular hidrofobizada permitiria também a formação de micelas, que poderiam conferir as propriedades reo- lógicas de pseudoplasticidade necessárias ao fluido a ser desenvolvido no projeto. Desse modo, foi efetuada a modificação química de uma série de polímeros comerciais hidrofílicos, do tipo B, com diferentes pesos moleculares e diferentes gru- pamentos terminais, por meio de reações que os tor- naram parcialmente hidrofobizados. Na etapa seguinte foram realizadas análises reológicas de soluções aquo- sas dos produtos, bem como de misturas dos produtos em diferentes proporções e temperaturas. Os resultados desta etapa possibilitaram a escolha dos sistemas com maior potencial para utilização, como os modificadores reológicos. Com base em uma formulação padrão de fluido de perfuração de base aquosa, foram formula- dos fluidos utilizando-se combinações dos produtos AB e ABA, e suas propriedades foram avaliadas por meio de ensaios padronizados pelo American Petroleum Ins- titute (API). parte experimental síntese dos aditivos Os aditivos desenvolvidos foram sintetizados a partir de polímeros comerciais hidrofílicos de uma mesma classe química com diferentes massas mo- lares. Estes aditivos também contaram com três agentes hidrofobizantes com diferentes tamanhos de cadeia. Os produtos obtidos, que correspondem a polímeros parcialmente hidrofobizados, eram do tipo AB ou ABA, onde A corresponde ao segmento hidrofóbico e B corresponde ao polímero hidrofílico. A obtenção do tipo de estrutura desejada era ple- Figura 1 – Modelo proposto para a inibição da reatividade de folhelhos por meio de polímeros parcialmente hidrofobizados. Figure 1 – Proposed model for shale inhibition by means of hydrophobically modified polymers. Novos aditivos poliméricos multifuncionais para fluidos de base aquosa a serem utilizados na perfuração de poços... – Rodrigues Jr. et al. REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 156 6/9/2007 13:25:30 157 namente viável, uma vez que os polímeros utiliza- dos, ainda que sendo de uma mesma classe química, apresentavam uma ou ambas extremidades reativas, gerando os produtos AB ou ABA, de acordo com o interesse. A Tabela 1 apresenta as características dos reagentes utilizados nas sínteses no que diz respeito ao tamanho dos segmentos e o número de extremi- dades reativas do polímero. ensaios reológicos Inicialmente foram preparados sistemas aquosos dos produtos tipo AB e ABA, separadamente, a 10% p/v e 1% p/v. Diante dos resultados obtidos, foram avaliadas também misturas de alguns produtos AB e ABA, estando os primeiros a 10% p/v e, os segundos, a 1% p/v. Todas as análises foram realizadas nas tem- peraturas de 10ºC, 25ºC e 50ºC. O comportamento reológico dos sistemas foi avaliado utilizando-se um reômetro Haake RS150, com sensor cilíndrico DG43-Ti ou o cone-placa HC60/1 acoplado a um controlador de temperatura do tipo Peltier TC81, de acordo com a viscosidade dos sistemas analisados. As análises fo- ram realizadas em regime RC (Rate Control). Ou seja, a taxa de cisalhamento era controlada em uma faixa pré-estabelecida (10-3000 1/s), sendo determinado, então, o valor de tensão em cada taxa (e, conseqüen- temente, a viscosidade), obtendo-se as curvas de fluxo dos sistemas. formulação de fluidos de perfuração Tomando por base uma formulação típica de um fluido de perfuração de base aquosa foram formulados fluidos com combinações dos produtos AB e ABA, bem como um fluido de base aquosa contendo um dos polí- meros hidrofílicos comerciais não modificados para fins de comparação (fluido padrão). O fluido padrão formulado continha em sua com- posição todos os aditivos típicos específicos para cada função, como hidroxi-propil-amido (HPA), que atua como redutor de filtrado; goma xantana (XC), que atua como modificador reológico; cloreto de potássio (KCl), que atua como inibidor de reatividade de folhe- lhos, juntamente com o homopolímero; hidróxido de sódio (NaOH), que regula o pH para a faixa de 9-9,5; e a baritina ou barita (BaSO4), que atua como agente adensante. Aos fluidos formulados com os produtos sintetiza- dos não foram adicionados o modificador reológico usual (goma xantana) nem mesmo o agente redutor de filtrado típico (hidroxi-propil-amido), contendo estas O meio reacional era formado pelo polímero hi- drofílico, pelo reagente de hidrofobização, catalisador e solvente. O sistema era então mantido sob agitação magnética e aquecimento em temperatura de refluxo do solvente utilizado. Os produtos foram devidamente caracterizados por espectrometria na região do infra- vermelho e por ressonância magnética nuclear de hi- drogênio, confirmandoa obtenção dos produtos de- sejados. Tabela 1 – Reagentes utilizados na síntese dos aditivos parcialmente hidrofobizados. A ordem crescente dos números significa massa molar crescente, e os polímeros marcados com asterisco apresentam ambas as extremidades reativas, gerando produtos ABA. Table 1 – Reactants used in the synthesis of partially hydrophobically modified additives. The growing order of numbers implies in growing molar masses, and polymers marked with asterisk present reactive groups at both extremities, generating ABA products. B o l e t i m t é c n i c o d a P r o d u ç ã o d e Pe t r ó l e o , R i o d e J a n e i r o - v o l u m e 2 , n º 1 , p . 1 5 3 - 1 7 0 REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 157 6/9/2007 13:25:43 158 formulações apenas os produtos AB e ABA como polí- meros presentes. As Tabelas 2 e 3 listam a composição dos fluidos formulados. Os fluidos foram formulados em misturador Hamil- ton Beach, sendo adicionados inicialmente à solução previamente preparada de polímero hidrofílico ou de produto AB e ABA, juntamente com o NaOH seguindo- se então os demais componentes. Para o fluido padrão, a ordem de adição foi a seguinte: solução de polímero hidrofílico e NaOH, HPA, XC, KCl e, por fim, a barita (BaSO4). O sistema foi mantido sob agitação intensa, havendo intervalo de cinco minutos entre a adição de cada componente. Os demais fluidos seguiram a mesma ordem de adição do fluido padrão, exceto pela ausên- cia de HPA e XC. Após a formulação, os fluidos foram transferidos para as células de rolamento, sendo então sujeitos a um processo de envelhecimento em uma es- tufa de rolamento, onde o fluido permanecia rolando por 16 horas a 150ºF (~ 65,6ºC). Ao final do processo de envelhecimento, os fluidos foram novamente agi- tados no misturador por dez minutos, antes de serem submetidos aos ensaios de desempenho. ensaios de desempenho dos fluidos Depois de formulados e envelhecidos, os fluidos fo- ram submetidos a ensaios de desempenho, que avaliam cada propriedade por meio de ensaios padronizados API. Os fluidos formulados foram submetidos aos en- saios de reologia, inibição de reatividade de folhelhos, redução de filtrado e lubricidade. ensaios reológicos dos fluidos formulados Os ensaios de reologia dos fluidos de perfuração foram realizados em viscosímetro Fann 35A®, que é formado por um sistema de cilindros coaxiais. Este sistema de cilindros fica imerso no fluido contido em um copo de cerca de 350 mL. O sistema trabalha com taxa de cisalhamento controlada, em rotações por minuto (rpm), onde, por exemplo, L600 correspon- de à leitura de tensão (em lb/100ft2) obtida a 600 rpm. Determinam-se também os valores de gel inicial (GI) e gel final (GF), que se relacionam à velocidade de Tabela 2 – Composição do fluido padrão (volume total 350 mL). Table 2 – Standard mud composition (total volume 350 mL). Tabela 3 – Composição dos fluidos formulados com os produtos sintetizados (volume total 350 mL). Table 3 – Mud composition of fluids formulated with the synthesized products (total volume 350 mL). Novos aditivos poliméricos multifuncionais para fluidos de base aquosa a serem utilizados na perfuração de poços... – Rodrigues Jr. et al. REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 158 6/9/2007 13:25:56 159 formação e rigidez dos géis formados. O gel inicial mede a força do gel após dez segundos de repouso do fluido, e o gel final após dez minutos. Esses valo- res caracterizam a capacidade do fluido de sustentar os cascalhos formados. ensaios de filtração Os ensaios de filtração em baixa temperatura e baixa pressão (LPLT) foram realizados em filtro pren- sa Fann®. Neste ensaio, o fluido que é adicionado so- bre um papel de filtro é submetido a uma pressão de 100 psi de gás nitrogênio e o volume de filtrado ob- tido após 30 minutos é medido com uma proveta. O volume recolhido caracteriza a eficiência do redutor de filtrado utilizado. ensaios de rolamento (inibição de folhelhos reativos) Para os ensaios de rolamento utilizou-se a Argila Branca 5YR 8/1 com granulação entre 4 e 8 mesh (#). Em cada ensaio foram adicionadas 50 g de argila ao fluido em células de rolamento. As células foram ro- ladas em estufa rotatória por 16 horas a uma tem- peratura de 150ºF (~ 65,6ºC). Após este período, o conteúdo foi vertido em uma peneira de malha # 30, sendo então o material retido lavado com água e, em seguida, seco em estufa a 100ºC, por 16 horas. O material obtido foi novamente peneirado em peneira de # 30 e, então, pesado. Em seguida, o material foi passado por uma peneira de # 8, determinando-se, então, a massa retida e o teor de argila recuperada em cada peneira. Os resultados deste ensaio avaliam a eficiência do inibidor de reatividade utilizado. Isto se dá por meio da determinação da capacidade do fluido de manter ín- tegros os cascalhos gerados durante a perfuração, de- terminando a massa seca recuperada de cascalho em peneiras de diferentes especificações: # 30 (mesh 30) e # 8 (mesh 8), onde a primeira mede o total de ar- gila recuperada e, a segunda, o teor de argila intacta recuperada. Ou seja, que não sofreu alteração em sua granulação. ensaios de lubricidade Os ensaios de lubricidade foram realizados em um Baroid Lubricity Tester®, condicionando-se inicialmente o aparelho com água destilada até a obtenção de 0,34 como valor de coeficiente de atrito. Foram determinados os coeficientes de atrito dos fluidos formulados do fluido padrão e de um controle contendo todos os componen- tes deste fluido, exceto o polímero hidrofílico comercial. Resultados e discussão ensaios reológicos Nos sistemas aquosos contendo os aditivos em alta concentração (> 4% p/v) foi verificado um comporta- mento pseudoplástico. Entretanto, nos sistemas em baixa concentração (< 4% p/v), observou-se um com- portamento Newtoniano. Isto ocorreu devido à presen- ça ou ausência de estruturas associativas formadoras de rede no meio em questão. Sabe-se que moléculas hidrofílicas parcialmente hi- drofobizadas podem se comportar como surfactantes, onde na presença de um meio polar, como a água, tendem a formar estruturas micelares. Desse modo, o segmento hidrofóbico fica voltado para o interior da micela, minimizando o contato com o meio polar, en- quanto que o segmento polimérico hidrofílico fica em contato direto com o meio aquoso, pelo qual tem boa afinidade. Estas estruturas, em um primeiro estágio, são equivalentes a gotículas esféricas de óleo recobertas pelos segmentos polares do polímero. Em baixa con- centração, as estruturas formadas comportam-se como partículas independentes na solução, pouco alterando a viscosidade do solvente, no caso a água, e resultan- do em sistemas Newtonianos de baixa viscosidade. En- tretanto, em concentrações mais elevadas, as micelas formadas tendem a interagir entre si devido ao aumen- to da proximidade entre estas, levando à formação de uma rede de micelas interativas. Esta rede, por sua vez, resulta num considerável aumento de viscosidade do meio, pois representa resistência significativa ao escoa- mento do fluido. No entanto, quando a rede é subme- tida ao cisalhamento, as micelas associativas tendem a B o l e t i m t é c n i c o d a P r o d u ç ã o d e Pe t r ó l e o , R i o d e J a n e i r o - v o l u m e 2 , n º 1 , p . 1 5 3 - 1 7 0 REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 159 6/9/2007 13:25:56 160 Figura 2 – Comportamento reológico em diferentes temperaturas do produto (AIII-BII) em concentração de 10% p/v. Figure 2 – Rheologic behavior at different temperatures of the (AIII-BII) product at 10 wt% concentration. se alinhar com o fluxo de agitação, desfazendo a rede. Este processo resulta em uma redução significativa na viscosidade, caracterizandoo comportamento pseudo- plástico dos sistemas em alta concentração. efeito da temperatura no comportamento reológico dos sistemas Verificou-se que o aumento da temperatura ocasio- nou a diminuição da viscosidade dos sistemas, redu- zindo gradativamente a pseudoplasticidade e levando a um comportamento praticamente Newtoniano em temperatura de 50ºC (fig. 2). Este comportamento pode ser explicado pelo fato de que o aumento gradual da temperatura do meio implica em um aumento da energia difusional do sis- tema. Desse modo, as micelas na rede ganham maior liberdade à medida que a temperatura aumenta, des- fazendo a rede. efeito do tamanho dos segmentos hidrofílico e hidrofóbico dos produtos AB no comportamento reológico dos sistemas Observou-se que o comportamento pseudoplástico dos sistemas de produtos tipo AB se torna mais pro- nunciado com o aumento do segmento hidrofóbico A e com a diminuição do segmento hidrofílico B, como podemos observar nas Figuras 3 e 4. Novos aditivos poliméricos multifuncionais para fluidos de base aquosa a serem utilizados na perfuração de poços... – Rodrigues Jr. et al. REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 160 6/9/2007 13:26:06 161 Figura 4 – Comportamento reológico de sistemas aquosos de produtos AB a 10% p/v e em temperatura de 10ºC. Os produtos apresentam o mesmo segmento hidrofóbico (AIII) e diferentes tamanhos de segmento hidrofílico B. Figure 4 – Rheologic behavior of aqueous systems of AB products at 10 wt% and 10ºC temperature. The products have the same hydrophobic segment (AIII) and different sizes of hydrophilic polymer B. Figura 3 – Comportamento reológico de sistemas aquosos de produtos AB a 10% p/v e em temperatura de 10ºC. Os produtos apresentam o mesmo polímero hidrofílico (BII) e diferentes tamanhos de segmento hidrofóbico A. Figure 3 – Rheologic behavior of aqueous systems of AB products at 10 wt% and 10ºC temperature. The products have the same hydrophilic polymer (BII), and different sizes of the hydrophobic A segment. B o l e t i m t é c n i c o d a P r o d u ç ã o d e Pe t r ó l e o , R i o d e J a n e i r o - v o l u m e 2 , n º 1 , p . 1 5 3 - 1 7 0 REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 161 6/9/2007 13:26:24 162 O comportamento observado pode ser explicado pelo fato de a estabilização das estruturas micelares se dar principalmente por conta das interações pre- sentes no interior das micelas e da repulsão entre os segmentos polares; no caso de grupos volumosos ou iônicos. Quando o mesmo tipo de segmento hidro- fílico é mantido, e varia-se o tamanho do segmento hidrofóbico, ocorre a melhor estabilização micelar no sistema em que o segmento hidrofóbico é maior, uma vez que existirá aumento de área para as interações de Van der Waals atuarem. Assim, o aumento da es- tabilização micelar resulta num maior número rela- tivo de micelas e, conseqüentemente, numa maior probabilidade de formação de rede, como é possí- vel verificar na Figura 3, onde o sistema contendo o produto AIII-BII apresenta pseudoplasticidade mais pronunciada por conter o segmento hidrofóbico de maior tamanho (AIII). Na Figura 4 é possível observar a ocorrência de um efeito contrário em relação ao aumento do tamanho do segmento hidrofílico polimérico. Neste caso, verifica-se que, à medida que o tamanho do segmento hidrofí- lico B aumenta, a pseudoplasticidade do sistema fica menos pronunciada, levando até mesmo a um siste- ma completamente Newtoniano no caso do produto contendo o polímero hidrofílico BIV, que é o de maior comprimento. Isto possivelmente se dá porque no caso de molécu- las anfifílicas com segmentos polares demasiadamente grandes e, em produtos tipo AB, ocorre uma grande repulsão entre estes segmentos, o que desestabiliza as estruturas micelares. Isto resulta também em um au- mento razoável na solubilidade das espécies, o que também diminui a tendência de formação de micelas. Observa-se também na Figura 4 que o sistema conten- do o produto AIII-BIV apresenta viscosidade mais ele- vada que AIII-BIII, que apresenta segmento hidrofílico menor. Entretanto, é possível verificar que o sistema contendo AIII-BIV apresenta-se como um fluido Newto- niano, ao contrário do sistema contendo AIII-BIII, que ainda apresenta alguma pseudoplasticidade. A maior viscosidade verificada no sistema contendo AIII-BIV possivelmente se deve ao fato usual de que para ho- mopolímeros, quanto maior for a massa molar, maior será a viscosidade do sistema. efeito do tamanho do segmento hidrofílico dos produtos ABA no comportamento reológico dos sistemas Foi verificado, no caso dos sistemas contendo produtos ABA, que o comportamento reológico dos sistemas varia de forma diferente da observada para os produtos AB, em relação ao tamanho do segmen- to hidrofílico. Nos sistemas contendo produtos ABA, a pseudoplasticidade se mostrou consideravelmente mais pronunciada, resultando em sistemas com vis- cosidades elevadas em baixas taxas de cisalhamento, sendo mais elevadas em sistemas com maior tamanho de segmento hidrofílico B (fig. 5). Isto ocorre porque no caso de produtos do tipo ABA, a formação das estruturas micelares requer a curvatura da cadeia polimérica, que possibilita o aco- modamento dos dois segmentos hidrofóbicos presen- tes na estrutura. Dessa forma, quanto maior o tama- nho do segmento hidrofílico, mais facilmente a curva- tura se dará, favorecendo a formação das micelas. Os elevados valores de viscosidade observados devem-se ao fato de que as micelas formadas pelos produtos do tipo ABA se apresentam na forma de flores, devido à curvatura da cadeia polimérica. Assim, este tipo de es- trutura possibilita a formação de modos adicionais de associação, como uma mesma molécula ligando duas micelas, ou o entrelaçamento entre micelas (fig. 6). Estas formas adicionais de associação tornam a rede de micelas mais forte; e no caso do entrelaçamento, menos reversível. sistemas combinados dos produtos AB e ABA O comportamento reológico obtido utilizando-se sistemas contendo apenas os produtos AB ou ABA não se mostrou satisfatório, pois a viscosidade a baixas taxas de cisalhamento se apresentou excessivamente alta no caso dos produtos ABA, ou excessivamente baixa no caso dos produtos AB. A alternativa encontrada para contornar este problema foi a utilização de sistemas combinados, contendo produtos AB em conjunto com os produtos ABA. Foram realizados, então, ensaios reo- lógicos de sistemas contendo produtos AB a 10% p/v, e produtos ABA a 1% p/v. Foi escolhida a concentra- Novos aditivos poliméricos multifuncionais para fluidos de base aquosa a serem utilizados na perfuração de poços... – Rodrigues Jr. et al. REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 162 6/9/2007 13:26:25 163 Figura 5 – Comportamento reológico de sistemas aquosos contendo produtos ABA a 10% p/v em temperatura de 10ºC. Os produtos apresentam o mesmo tamanho de segmento hidrofóbico (A-III) e diferentes tamanhos de políremo hidrofílico B. Figure 5 – Rheologic behavior of aqueous systems of ABA products at 10 wt% and 10ºC temperature. The products have the same hydrophobic (AIII) and different sizes of the hydrophilic polymer B. Figura 6 – Formas adicionais de associação das micelas tipo flores, obtidas pelos produtos tipo ABA: a) entrelaçamento de micelas e b) formação de pontes intermicelares. Figure 6 – Additional associative forms of flower-like micelles, obtained by ABA products: a) interlacing of micelles and b) formation of micellar bridges. B o l e t i m t é c n i c o d a P r o d u ç ã o d e Pe t r ó l e o , R i o d e J a n e i r o - v o l u m e 2 , n º 1 , p . 1 5 3 - 1 7 0 REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 163 6/9/2007 13:26:34 164 ção de 1% p/v para os produtos ABA porque não se observou comportamento pseudoplástico neste nível de concentração em qualquer um dos produtos. Dessa forma, era possível avaliar o efeito da adição de pro- dutos ABA em sistemas contendo micelas dos produ- tos AB. Na Figura 7 é possível observar os resultados obtidos utilizando os produtos AIII-BI e AIII-B2-AIII. Pode-se observar que, conforme esperado, o sis- tema contendo o produto ABA a 1% p/v apresentou comportamento Newtoniano e baixa viscosidade. Já o sistema contendo o produto AB a 10% p/v apresentou comportamento pseudoplástico. Entretanto, o sistema contendo os produtos combinados apresentou um au- mento considerável no comportamento pseudoplásti- co. Isto significa que não houve uma simples adição das viscosidades dos sistemas, mas, sim, um efeito si- nérgico entre os produtos AB e ABA, onde o produto ABA aumenta a capacidade de modificação reológica de AB. Isto provavelmente ocorre devido ao fato de que em baixas concentrações os produtos ABA não são capazes de formar as micelas entrelaçadas existen- tes nos sistemas concentrados. Entretanto, mesmo em Figura 7 – Comportamento reológico em temperatura de 10ºC para três sistemas aquosos: ABA 1% p/v; AB 10% p/v e o sistema combinado de AB 10% p/v e ABA 1% p/v. Figure 7 – Rheologic behavior at temperature of 10ºC of three aqueous systems: ABA 1 wt%; AB 10 wt% and the combined system of AB 10 wt% and ABA 1 wt%. Figura 8 – Modelo de formação de ponte micelar, sugerido para justificar o efeito sinérgico entre os produtos AB e ABA. Figure 8 – Bridged micelles model, proposed in order to explain the synergic effect between AB and ABA products. baixas concentrações, podem formar pontes entre as micelas de produtos AB (fig. 8). Desse modo, por meio da combinação dos produ- tos AB/ABA, foi possível obter uma rede de micelas in- terligadas, porém reversível com o cisalhamento. Estes sistemas associativos apresentam apenas o efeito da Novos aditivos poliméricos multifuncionais para fluidos de base aquosa a serem utilizados na perfuração de poços... – Rodrigues Jr. et al. REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 164 6/9/2007 13:26:44 165 formação de pontes, e não o de entrelaçamento, que é o efeito que torna a rede de produtos ABA em alta concentração pouco reversível. ensaios de desempenho dos fluidos Diante dos resultados obtidos nas análises reológicas dos sistemas aquosos dos produtos, decidiu-se preparar formulações de fluidos utilizando-se os produtos AIII-BI e AIII-B2-AIII, que foram os que apresentaram melhores resultados quando combinados. Os fluidos formulados foram avaliados por meio de uma série de ensaios API. Os resultados são apresentados a seguir: ensaios reológicos dos fluidos formulados A Tabela 4 apresenta os resultados obtidos com uma das séries de fluidos formulados com a mistura AB/ABA, onde foi variada a concentração de produto AB e mantida uma mesma concentração de ABA em 1% p/v. Observa-se também os resultados obtidos com a formulação padrão descrita anteriormente. Pode-se notar que os fluidos desenvolvidos apresentam maiores valores de viscosidade aparente (VA), viscosidade plás- tica (VP) e limite de escoamento (LE) do que o fluido padrão. Isto significa que os fluidos apresentam visco- sidades mais elevadas do que o padrão em altas taxas de cisalhamento, além de requererem maior tensão para o início do bombeamento do fluido. Entretanto, os valores obtidos são aceitáveis para concentrações de AB menores que 8% p/v, uma vez que estes valores não devem resultar em problemas de bombeamento do fluido. Além disso, os valores obtidos de gel inicial (GI) e gel final (GF) foram excelentes quando comparados ao fluido padrão. Em todos os sistemas com concen- trações de AB maiores que 4% p/v foi observado um considerável aumento da força gel entre 10 segundos e 10 minutos, significando que, além de haver uma rápi- da formação de gel em um curto período de interrup- ção, este gel ainda continua aumentando sua força por algum tempo, não comprometendo excessivamente os valores de limite de escoamento. Portanto, o fluido que apresentou melhores resultados, no que diz respeito a reologia, foi o que continha produto AB a 6% p/v e produto ABA a 1% p/v, uma vez que apresentou exce- lentes valores de gel inicial (GI) e final (GF) e baixo valor de limite de escoamento (LE). Tabela 4 – Leituras e parâmetros reológicos obtidos para alguns dos fluidos formulados com a combinação AB/ABA. Table 4 – Observed values and rheologic parameters obtained for some of the formulated fluids containing the combination of AB/ABA products. B o l e t i m t é c n i c o d a P r o d u ç ã o d e Pe t r ó l e o , R i o d e J a n e i r o - v o l u m e 2 , n º 1 , p . 1 5 3 - 1 7 0 REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 165 6/9/2007 13:26:57 166 Os resultados obtidos são interessantes, pois foram atingidos valores razoáveis nas medidas reológicas sem a utilização de goma de xantana (XC), que é o aditivo usualmente empregado; porém, oneroso. ensaios de filtração Conforme desejado, os volumes de filtrados obti- dos com os fluidos formulados foram extremamente baixos, significando que os polímeros hidrofobizados tiveram uma excelente atuação como redutores de fil- trado, propriedade fundamental para que se proteja, de forma adequada, as formações rochosas. Os resulta- dos referentes a alguns dos fluidos formulados estão na Tabela 5, onde entre os fluidos desenvolvidos variou-se a concentração do produto AB, mantendo-se constante a concentração de ABA em 1% p/v. Dessa forma, os aditivos poliméricos desenvolvi- dos mostraram também que podem substituir com vantagens os redutores de filtrados usuais, como o hidroxi-propil-amido (HPA), uma vez que mostraram desempenho superior ao deste aditivo. Os excelentes resultados obtidos podem estar associados ao mes- mo processo sugerido para a inibição de folhelhos reativos por meio de estruturas parcialmente hidro- fobizadas. Nestas estruturas, além do próprio reboco formado, haveria a formação de um filme hidrofóbi- co, que seria uma barreira adicional à perda de água pelo fluido. ensaios de rolamento (inibição de folhelhos reativos) A Tabela 6 apresenta os resultados de inibição de fo- lhelhos obtidos com alguns dos fluidos formulados. Os resultados mostram não apenas que os fluidos formu- lados apresentaram maior recuperação total de argila em relação ao fluido padrão, mas também excelentes teores de recuperação de argila intacta, conforme veri- ficado pela massa recuperada em malha # 8. Isto sig- nifica uma efetiva proteção do cascalho, mantendo-o íntegro. Dessa forma, tem-se uma quantidade mínima de sólidos incorporada ao fluido após sua separação e a dos cascalhos na superfície, favorecendo sua recupe- ração e a reutilização no processo. Tabela 6 – Resultados obtidos em alguns dos ensaios de inibição de reatividade de folhelhos. Table 6 – Obtained results in some of the shale inhibition tests. Tabela 5 – Volumes de filtrado em condições LPLT para alguns dos fluidos formulados. Table 5 – Filtrate volumes in LPLT conditions for some of the formulated fluids. Novos aditivos poliméricos multifuncionais para fluidos de base aquosa a serem utilizados na perfuração de poços... – Rodrigues Jr. et al. REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 166 6/9/2007 13:27:22 167 O mecanismo de inibição mais provável para expli- car o excelente desempenho dos fluidos como inibido- res de reatividade está ligado à própria estrutura dos folhelhos, que apresenta um espaçamento basal sus- cetível ao inchamento por conta da presença de cargas em suas entrecamadas, que resulta na adsorção de su- cessivas camadas de água quando em um sistema nãoinibido (Santos, 1992; Theng, 1974). Desse modo, os polímeros hidrossolúveis parcialmente hidrofobizados, sintetizados neste trabalho, provavelmente tiveram sua fração hidrofílica adsorvida nas entrecamadas dos fo- lhelhos (fig. 1). Portanto, estaria sendo formada uma barreira hidrofóbica. Esta barreira impede ou dificulta a entrada de água na rocha e proporciona excelentes resultados de inibição obtidos. ensaios de lubricidade A Tabela 7 apresenta os resultados obtidos nos en- saios de lubricidade. Observa-se uma considerável re- dução no valor do coeficiente de atrito do fluido for- mulado com os aditivos desenvolvidos em relação ao controle e ao fluido padrão. O valor obtido (0,10) é da ordem dos valores encontrados em fluidos de perfura- ção de base óleo, que são utilizados no trecho de ga- nho de ângulo, onde a lubricidade é propriedade de extrema importância. O resultado obtido mostra a alta viabilidade da utilização dos fluidos de base aquosa de- senvolvidos nas diversas fases do poço, inclusive nos trechos de alta inclinação, onde são geralmente utiliza- dos fluidos à base de ésteres ou n-parafinas. Um mecanismo provável para explicar a excelente lubricidade apresentada pelos sistemas reside no fato de os aditivos desenvolvidos apresentarem um segmen- to polar e um segmento apolar. A estrutura de um bom lubrificante deve consistir em moléculas que apresen- tem um segmento que tenha grande afinidade pela superfície que sofre o atrito (ficando adsorvido nesta superfície); e um outro segmento que, além de não apresentar afinidade pela superfície, tenha interações intermoleculares fracas, de modo que as moléculas deslizem umas sobre as outras com extrema facilidade (fig. 9). Os aditivos desenvolvidos apresentam precisa- mente estas características, onde a fração polar é adsor- vida na superfície da rocha e do metal, enquanto que a fração apolar, por apresentar apenas fracas interações de Van der Waals, desliza, promovendo a lubricidade. conclusões Foram desenvolvidos novos aditivos poliméricos para fluidos de perfuração de base aquosa. Os novos aditivos foram capazes, não somente de conferir ao fluido um excelente desempenho de suas funções, em condições Figura 9 – Mecanismo de atuação de lubrificantes, minimizando o atrito entre metal e rocha. Figure 9 – Mechanism of lubricants action, minimizing the friction between metal and rock. Tabela 7 – Coeficiente de atrito de alguns dos fluidos formulados. Table 7 – Friction coefficient of some formulated fluids. B o l e t i m t é c n i c o d a P r o d u ç ã o d e Pe t r ó l e o , R i o d e J a n e i r o - v o l u m e 2 , n º 1 , p . 1 5 3 - 1 7 0 REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 167 6/9/2007 13:27:32 168 de baixa pressão e temperatura (LPLT), como também foi possível a substituição dos aditivos comumente utili- zados pelos novos polímeros desenvolvidos. Isto resulta na minimização de problemas de incompatibilidade de- vido à redução no número de componentes do fluido por conta do caráter multifuncional dos aditivos. Os excelentes resultados obtidos também em lubri- cidade indicam o grande potencial de utilização destes novos sistemas em regiões de alta inclinação, onde pre- dominantemente se utilizam onerosos e menos ecoló- gicos fluidos de base orgânica. Isto pode significar, em breve, a utilização de fluidos à base de água em todas as fases da perfuração, deixando o processo mais bara- to e ecologicamente correto. agradecimentos Os autores agradecem aos seguintes órgãos pelo apoio financeiro: Agência Nacional de Petróleo (ANP); Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Mi- guez de Mello (CENPES); Fundação de Amparo à Pes- quisa do Rio de Janeiro (FAPERJ) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). referências bibliográficas CHANG, S. H.; RYAN, M. E.; GUPTA, R. K.; WIATKIEWIC, B. The ad- sorption of water-soluble polymers on mica, talc limestone and various clay-minerals. Colloids and Surfaces, v. 59, p. 59-70, 1991. CHILLINGAR, G. V.; CAENN, R. Drilling fluids: state of the art. Journal of Petroleum Science and Engineering, v. 14, p. 221-230, 1996. SWENSON, J.; SMALLEY, M. V.; HATHARASINGHE, H. L. M.; FRAGNE- TO, G. Interlayer structure of a clay-polymer-salt-water system. Lang- muir, v. 17, n. 13, p. 3813-3818, 2001. bibliografia SANTOS, P. S. Ciência e tecnologia de argilas. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1992. v. 1. p. 66. THENG, B. K. G. The chemistry of clay-organic reactions. New York: J. Wiley & Sons, 1974. p. 10. Novos aditivos poliméricos multifuncionais para fluidos de base aquosa a serem utilizados na perfuração de poços... – Rodrigues Jr. et al. REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 168 6/9/2007 13:27:32 169 autores Jorge de Almeida Rodrigues Junior é atualmente aluno do curso de doutorado em Química Orgânica do Instituto de Química da UFRJ. É Químico com Atribuições Tecnológicas, graduado pelo mesmo instituto, e também Técnico em Química, formado pelo Centro Federal de Educação Tecnológica em Química de Nilópolis – Cefet-Química. Vem atuando em diversos projetos relacionados a Fluidos de Perfuração desde 2001. Publicou dois artigos em revistas internacionais e apresentou 14 trabalhos em congressos (nacionais e internacionais). Foi por dois anos consecutivos (2003 e 2004) vencedor da Jornada de Iniciação Científica do Instituto de Química da UFRJ e, em 2004, teve seu trabalho classificado em primeiro lugar na Jornada de Iniciação Científica do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza da UFRJ. Recebeu o 1º lugar na categoria Tecnologia de Produção da 1ª edição do Prêmio Petrobras de Tecnologia em 2005. Em 2006 foi selecionado para representar a América do Sul e o Caribe no International Student Paper Contest, um evento paralelo ao Annual Technical Conference and Exhibition 2006, realizado pela Society of Petroleum Engineers (SPE International), em San Antonio, Texas. Neste evento (etapa mundial) teve seu trabalho classificado em terceiro lugar. Atualmente trabalha no desenvolvimento de novos aditivos lubrificantes para fluidos de perfuração de base aquosa. Jorge de Almeida Rodrigues Junior Instituto de Química, Departamento de Química Orgânica Universidade Federal do Rio de Janeiro rodriguesiq@gmail.com Elizabeth Roditi Lachter possui graduação em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1979), Mestrado em Química Orgânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1982) e Doutorado em Química Orgânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1988). No período de outubro a dezembro de 1987 esteve no Laboratório de Materiais Orgânicos, Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), em Lyon, França, onde desenvolveu trabalhos na área de funcionalização de polímeros e reações de oxidação. Atualmente é Professora Associada I da Universidade Federal do Rio de Janeiro atuando no curso de Graduação e Pós-Graduação. Tem experiência na área de Química, com ênfase em catálise orgânica, atuando principalmente nos seguintes temas: Reações de alquilação catalisada por sólidos ácidos, produção de biodiesel, reações de oxidação catalisada por complexos de metais de transição, síntese caracterização e atividade catalítica de fosfato de nióbio, aplicação de resinas trocadoras de íons como catalisadores em reações orgânicas e funcionalização de polímeros. Possui 28 artigos completos publicados em periódicos e mais de 100 apresentações em congressos (nacionais e internacionais). Elizabeth Roditi Lachter Instituto de Química, Departamento de Química Orgânica Universidade Federal do Rio de Janeiro lachter@iq.ufrj.br Regina Sandra Veiga Nascimento é formada em Química Industrial pela Escola de Química da UFRJ, Mestre em Ciências pelo Institutode Química da UFRJ, PhD em Polímeros por Cranfield University, na Inglaterra, com estágios de Pós-doutorado na University of Southern California, Estados Unidos, e Brunel University, Inglaterra. É Professora Associada do Departamento de Química Orgânica do Instituto de Química da UFRJ, ministra disciplinas de Graduação e Pós-Graduação em Polímeros e está atualmente implementando uma disciplina de Fluidos de Perfuração no Curso de Pós-Graduação em Química Orgânica. É Coordenadora de projetos de pesquisa, em parceria com diversas Regina Sandra Veiga Nascimento Instituto de Química, Departamento de Química Orgânica Universidade Federal do Rio de Janeiro rsandra@iq.ufrj.br empresas privadas, envolvendo estudos de nanocompósitos poliméricos com propriedades especiais e o desenvolvimento de novos aditivos poliméricos para fluidos de perfuração de poços de petróleo. Publicou 25 artigos em periódicos e três capítulos de livros, e mais de oitenta comunicações em congressos. Exerceu o cargo de Superintendente do Pólo de Xistoquímica do Instituto de Química da UFRJ de 2000 a 2007. Orientou o trabalho classificado em primeiro lugar na Primeira Edição do Prêmio Petrobras de Tecnologia, na categoria Produção, e classificou-se em segundo lugar no Latin American Innovation Prize, instituído pela Bayer Material Science, edição 2007. B o l e t i m t é c n i c o d a P r o d u ç ã o d e Pe t r ó l e o , R i o d e J a n e i r o - v o l u m e 2 , n º 1 , p . 1 5 3 - 1 7 0 REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 169 6/9/2007 13:27:32 170 The major part of large-sized Brazilian reservoirs presently discovered, are located offshore, mainly in ultra deepwaters, such as the Campos Basin. Drilling of oil wells at progressively larger depths has required the development of considerably sophisticated and specific technologies, which, at the same time, are ecologically correct. The peculiar Brazilian frame, when compared to other oil producing countries, turns unfeasible the simple importation of foreign technology in the area of exploration, and leads to the need of developing a national technology structure. Drilling muds carry out a fundamental role in drilling a well, since the entire success of the operation depends on them. These muds are liquid multiphasic systems, formed by a blend of solids in suspension, salts dissolved in water and organic compounds, also dissolved or emulsified in water. The main functions of drilling muds are related to the ability of sustaining the cuttings generated during the drilling process, cooling and lubricating the bit and the stem and promoting the borehole stability. Drilling of a directional well is being accomplished through different phases, each one demanding utilization of a mud with specific properties. These constant changes of muds evidently imply in costs for the process. Consequently, the development of a new ecolo- gically correct mud, capable of mee ing all different requirements of each phase, would undoubtedly result in numerous advantages for the process. In this sense, the first step of the work consisted in designing a molecular model structure which, in principle, would be capable of performing, simultaneously, the functions of a shale reactivity inhibitor, rheology modifier, filtrate reducer and lubricant. Based on a series of indications found in literature and previously obtained results by the group, an option was made to study hydrophobically modified polymers. The present paper presents the development of a new category of polymeric additives for water based mud (WBM), featuring simultaneously several properties, insuring good performance levels, being ecologically correct and of low cost. Said additives were obtained through the chemical modification of expanded abstract commercial hydrophilic polymers through the coupling of different hydrophobic segments. Rheological analysis of aqueous systems of the products evidenced a pseudo plastic behavior pattern, indicating the formation of a reversible associative micellar structures, providing high viscosity at low shear rates and a decreasing of viscosity with increasing shear rates, due to the rupture of associative structures. A synergic behavior was also noticed amongst additives of different structures, con- cerning rheology. These results indicate the formation of an associative structure, strengthened in systems, which combined two types of additives, one of the types composing a micellar structure and the other type composing intermicellar bridges. The structure, thus, presented a larger number of points of interaction, however being still reversible with shear. Based on the results of rheological analysis, additives were selected with a larger potential formulation of drilling muds, which were evaluated by API (American Petroleum Institute) tests carried out. The functions of rheology modifiers, shale inhibitors, filtrate reducers and lubricants were verified in conditions of low pressure and low temperature (LPLT). Excellent rheology, shale inhibition and filtrate volume results were obtained. As to lubricity, it was possible to obtain friction coefficient values within the range of 0,10. These results indicate the possibility of using water-based muds in regions of high angle, where intensive attrition takes place and where, conventionally, oil-based muds are being used, which, in spite of being naturally good lubricants, are completely inadequate when considering the present environmental requirements. This could mean that within a short period of time, water-based muds may be utilized in all drilling phases, providing reduced process cost Figures on an ecologically correct basis. Novos aditivos poliméricos multifuncionais para fluidos de base aquosa a serem utilizados na perfuração de poços... – Rodrigues Jr. et al. REVISTA BPP VOLUME 3 revisado 29 08.indd 170 6/9/2007 13:27:32
Compartilhar