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CR - ULBRA - Cultura Religiosa

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cultura religiosa 
apresentação 
Prezado aluno, 
A experiência de mais de 16 anos de docência tem mostrado o fascínio da disciplina Cultura Religiosa. O começo 
sempre é difícil. Existe uma resistência natural do aluno em estudar os conteúdos. O preconceito fica claro quando se 
define a disciplina como aula de religião. Outros ainda pensam em catequese. Mas não será esse o nosso objetivo. 
Vamos caminhar com cada um de vocês no sentido de construir uma reflexão madura sobre a vivência e o 
comportamento religioso das pessoas e a influência que esses fatores exercem sobre a vida de cada um de nós. 
Ao final de cada semestre, ficamos surpresos com a reação dos alunos. A maioria considera a disciplina muito 
interessante. É claro que alguns resistentes ficam indiferentes, pois não tiveram a coragem de abrir o coração e aceitar 
conceitos essenciais para se viver uma boa vida. Respeitamos esses posicionamentos. 
A Ulbra é uma universidade confessional, está ligada a uma instituição religiosa, mas nem por isso queremos impor o 
que pensamos. Vamos apenas debater. Nossa intenção é ajudá-lo com esta reflexão. 
Você irá encontrar neste livro um panorama das maiores religiões do mundo. Notará a pluralidade religiosa e terá 
uma idéia da riqueza de pensamento e valores das religiões estudadas. Também iremos analisar mais detalhadamente 
o cristianismo e a Reforma Luterana, pois são movimentos que influenciaram diretamente na existência da 
Universidade Luterana do Brasil. Por fim, sempre é hora de estudar ética, particularmente a ética cristã e os valores que 
ela pode acrescentar à vida de cada um de nós. 
Nesta caminhada muitos dos textos têm a participação de professores de Cultura Religiosa que nestes 15 anos estão 
ao nosso lado. Citamos aqui Ronaldo Steffen, Jonas Dietrich, Valter Kuchenbecker, Egon Seibert, Ricardo Rieth, Valter 
Steyer, Thomas Heimann, Nereu Haag e Bruno Muller. Além desses, não podemos deixar de citar o capelão-geral da 
Universidade Luterana do Brasil, pastor Gerhard Grasel, e o diretor do curso de Teologia da Ulbra, pastor Leopoldo 
Heimann. São pessoas que têm ajudado não somente a construir esta trajetória em Cultura Religiosa, como têm 
colaborado com o aprofundamento da reflexão sobre o tema e auxiliado muitas pessoas. 
Douglas Moacir Flor 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
( 1 ) 
o fenômeno religioso 
 
Paulo Augusto Seifert é mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologia 
do Seminário Concórdia (RS) e em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É professor nos Cursos de Teologia e Filosofia da Universidade 
Luterana do Brasil (Ulbra). 
 
Ronaldo Steffen é bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologia do Seminário Concórdia (RS) e professor do Curso de Teologia da Universidade Luterana do 
Brasil (Ulbra). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
o desafio está posto: estudar religiões na universidade. A experiência tem demonstrado que não há 
unanimidade na aceitação da disciplina, pelo menos a princípio. Há resistências das mais diversas ordens, desde as de 
ordem econômica até as de informação técnica, que não contribuem para a complementação do curso em que o aluno 
está matriculado. Vez ou outra rompem ainda as questões pertinentes à fé, ou à ausência dela, professada pelo aluno e 
divergente daquilo que imagina que irá ocorrer na disciplina. 
O repto está assentado. Não há como voltar atrás. É prerrogativa da universidade. Recuar ou enfrentar é o 
elemento determinante. A esta altura, permita-nos, leitor, contribuir para a sua decisão a partir de algumas 
considerações. 
Damos o braço a torcer e damos razão a você que tem resistência a essa disciplina sob a alegação de que ela não 
contribui com a sua formação técnica nem acrescentará nada a ela. Com exceção feita aos alunos matriculados no Curso 
de Teologia, e para quem as informações da disciplina podem ser enquadradas como elementos técnicos importantes 
para o exercício da função, não é pretensão da disciplina acrescentar informações técnicas específicas a nenhum outro 
curso. 
Estamos em sintonia com aqueles que vislumbram algum valor nas questões religiosas, mas discordamos da análise 
puramente histórica dos movimentos religiosos. Acreditamos que a universidade é espaço privilegiado para o 
aprofundamento das idéias. Escapar da linha histórica de tempo e aprofundar idéias parece-nos um caminho concreto 
com vistas à busca da compreensão do universo e do ser humano a partir das percepções espirituais e religiosas. 
Lamentamos discordar daqueles que esperam que a disciplina seja um manual de catequese com vistas à conversão 
dos alunos ao cristianismo luterano. A plural sala de aula não é o espaço da catequese. É, sim, o momento de expor idéias, 
confrontar razões, trocar experiências, colocar os contraditórios e trocar vivências. É o espaço do encantamento com os 
caminhos que o ser humano tem construído ao longo de sua existência na tentativa de encontrar respostas religiosas 
satisfatórias a respeito de sua origem e destino. 
O que pretendemos é analisar os diversos cultos e práticas religiosas existentes no mundo, considerando a 
confissão religiosa da instituição Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), uma instituição que se identifica como cristã 
luterana, e sua proposta ética para a sociedade na qual vivemos. 
Assim definidos, assentamos o núcleo da disciplina no ser humano, singular e plural. Seja qual for o curso 
escolhido, não podemos escapar do fato inconteste de que não realizaremos nossas funções profissionais de forma 
isolada. A vida é relacional: ou interagimos, ou rejeitamos, ou, ainda, buscamos compreender as razões alheias, com o 
fim do bem-viver socialmente. 
Nessa perspectiva, não podemos ignorar que convivemos com seres humanos que possuem individualidades, 
independentes dos cursos profissionais para os quais se preparam. Respeitamos a confissão religiosa de nossos alunos 
ou sua ausência. Pretendemos, simplesmente, apresentar os valores ético-cristãos como alternativa de vida, individual 
e social. 
(1.1) 
a religião no dia-a-dia 
De algum modo manifestações de natureza religiosa têm estado presentes no nosso cotidiano. Podemos, sem entrar em 
detalhes por ora, mencionar algumas áreas, alguns eventos e algumas práticas pessoais e sociais marcados por idéias, 
ritos e símbolos consagrados ao campo religioso. 
Observemos, de forma rápida, práticas e situações familiares ligadas à tradição religiosa, como o casamento, o 
batismo, a morte e o velamento; comportamentos de ordem pessoal regrados por normas morais ditadas por alguma 
tradição religiosa; comportamento de busca de ajuda divina diante de qualquer doença ou de situações difíceis na vida. 
As relações sociais mais amplas também estão marcadas por imperativos de ordem religiosa: no esporte estamos 
acostumados, especialmente no futebol, à cena de uma oração conjunta antes da entrada no campo; no âmbito musical 
não são raras as menções que se fazem a personagens religiosos e até mesmo a sentimentos de ordem religiosa; no 
campo das artes somos conduzidos a milhares de imagens notadamente carregadas de simbolismo religioso dos mais 
diversos matizes; a literatura de natureza religiosa não tem deixado por menos e tem sido o mercado que mais cresce 
em termos de editoração nos últimos anos; adornos com diversos fins têm sido pautados por motivos religiosos; o 
cinema tem sido pródigo nas temáticas de ordem religiosa;as novelas, fenômeno brasileiro que ganha o mundo, 
jamais têm deixado de lado alguma alusão, personagem e até mesmo temática central ligados a fatos eminentemente 
religiosos; o papel-moeda, seja o dólar, seja o real, tem feito menção a uma divindade; nossas vestimentas são 
conduzidas por modismos, de estilo, de cores ou de tamanho, na maior parte inspirados por concepções religiosas; 
nossa alimentação está em grande medida determinada por elementos de ordem religiosa; o modo de expressar 
nossas idéias por meio da linguagem é, igualmente, em muito influenciado por formas religiosas; o turismo religioso é 
hoje um grande filão na arrecadação de divisas para um município; a educação é fortemente marcada pelos valores 
que ela prega, quase sempre idênticos aos valores de ordem religiosa; a área da saúde – o trato com a dor, a vida e a 
morte – foi e ainda é construída com suporte religioso; nosso calendário – suas datas festivas e grandes eventos – tem 
sua origem no meio eclesiástico; as diversas áreas do conhecimento humano, duma ou de outra maneira, têm se 
ocupado com a temática religiosa, como a filosofia, a psicologia, a sociologia, a antropologia, a história, a medicina, a 
física, a arqueologia, a geografia e assim por diante. 
Apesar das diferentes atitudes de repulsa que caracterizam a negação dos elementos religiosos, as menções 
apontam para o fato de que o ser humano busca ligar-se ao transcendente como se mantivesse com tal elemento uma 
ligação umbilical, da qual retira os recursos vitais para a sua existência. 
A questão que se coloca é a de como compreender essas ligações. Qual o fundamento capaz de sustentar uma 
avaliação compreensiva da junção ser humano-transcendente? Há muitas possibilidades viáveis, tanto a partir das 
diferentes perspectivas e entendimentos religiosos quanto a partir de escolas de reflexão filosófica. 
Além disso, interessa considerar a relação que há, ou pode haver, entre a religião e as manifestações importantes do 
espírito humano. A título de introdução, consideremos como se relacionam religião e filosofia, religião e ciência, 
religião e moral, religião e teologia. 
Religião e filosofia 
O que tem a filosofia a ver com a religião? Essa é uma pergunta importante e cuja resposta não é óbvia ou simples. Ao 
longo da história do pensamento humano, vemos cooperação e competição entre ambas as áreas. Em um certo sentido, a 
cooperação e a competição pressupõem a mesma concepção: a de que compete à razão filosófica provar a veracidade das 
idéias religiosas, ou, dito de outra maneira, que compete à razão filosófica determinar se religião e superstição são a 
mesma coisa ou se são coisas distintas e separáveis. 
Posta a questão dessa maneira, temos duas respostas possíveis: ou a filosofia apresenta provas de que a religião é 
verdadeira, ou a filosofia apresenta provas de que a religião não é verdadeira. Se for o primeiro caso, dizemos que há 
entre ambas cooperação; se for o segundo, que há competição. E, quando se fala em provas, isso significa que qualquer 
pessoa racional deve concordar com o argumento; mesmo que não seja um argumento demonstrativo ao estilo da 
matemática (um cálculo bem feito dá um único resultado, e o sujeito que não percebe o resultado ou não concorda com 
ele é incapaz. Um exemplo simples: 3x3=9, e não faria nenhum sentido alguém dizer: “Para você, para mim é 8”), o 
argumento deveria ser cognitivamente convincente. Aquele que não concorda com a conclusão, ou não compreende o 
argumento, ou está agindo de má-fé. 
Onde, porém, buscar tais provas? Historicamente, têm sido elas buscadas no raciocínio abstrato, na análise e na 
comparação de idéias, na experiência sensorial, no senso comum, nas explicações científicas, no sentimento moral. 
Diversos os pontos de partida, similaridade no modo de argumentar. Parte-se de elementos geralmente aceitos e, se for 
o caso, de verdades evidentes ou necessárias (que não podem ser negadas), aplicam-se as regras básicas do raciocínio 
lógico, dedutivo ou indutivo, alcançando-se uma conclusão, tal como se faz nos raciocínios comuns ou nos científicos. 
Se o propósito é mostrar que a filosofia justifica a religião e prova a existência de Deus (ou da realidade última), temos 
os argumentos ontológicos, teleológicos, cosmológicos, morais. Se o propósito é mostrar que a filosofia refuta a religião 
e prova que Deus não existe, temos os argumentos do mal, os argumentos evidencialistas etc. 
Exemplo do primeiro tipo: observamos que a natureza exibe ordem e finalidade, como se fosse uma grande 
máquina, na qual as partes se ajustam umas às outras perfeitamente, de forma a fazer o todo funcionar. Na nossa 
experiência, sempre que há ordem e finalidade em algo, tal objeto foi pensado e realizado por uma mente inteligente. 
Logo, a ordem e a finalidade que observamos no universo indicam a existência de um criador inteligente. Este se chama 
Deus. Logo, Deus existe. Exemplo do segundo tipo: observamos que há muitos e diversos males no universo. Se Deus 
fosse bom, Ele desejaria eliminar todo e qualquer mal; se fosse onipotente, Ele o faria. Como o mal existe, Deus não é 
onipotente ou não é bom, ou ambos. Logo, como a religião afirma que Deus é bom e onipotente, Deus não existe. 
Mesmo aceitando que essa é a tarefa da filosofia, isso não quer dizer que o filósofo acredita que é assim que as 
pessoas aceitam ou recusam uma religião, ou seja, com base em argumentos. As religiões seguem seu caminho 
independente disso, e a preocupação com argumentos justificadores é, quando muito, secundária. Mas os argumentos 
mostrariam se as pessoas são racionais na sua crença. Por outro lado, pode ser que o pressuposto esteja errado, e não 
compete à filosofia fundamentar ou provar a verdade das crenças religiosas básicas. A tarefa da filosofia em relação à 
religião seria mais modesta. Atualmente, muitos filósofos, tendo em vista o desenvolvimento histórico das explicações 
filosóficas, julgam que a filosofia pode ajudar a melhor compreender as idéias religiosas e a auxiliar as religiões a se 
livrarem de alguns elementos supersticiosos indevidamente acrescentados à fé básica, especialmente aqueles 
relacionados a confusões conceituais, derivadas de um uso inadequado da linguagem, ou à compreensão equivocada de 
teorias e hipóteses científicas, ou a preconceitos de natureza não religiosa. Essa abordagem tem se mostrado mais 
produtiva do que as outras duas opções mencionadas. 
Religião e ciência 
E quanto à relação entre religião e ciência? Na maioria das vezes, quando isso é discutido, por ciência se entendem as 
ciências naturais, como física, química e biologia. Há quem julgue que certas teorias científicas estão em direta 
contradição com a crença religiosa. Um exemplo contemporâneo pode ser encontrado na discussão entre o 
evolucionismo e a teoria do desígnio inteligente, ou criacionismo. Se olharmos para o passado, esse era o juízo feito por 
alguns acerca da relação entre o heliocentrismo e o relato bíblico cristão sobre a criação e o papel do ser humano nela. 
Críticos religiosos do heliocentrismo, à época, julgavam que a teoria geocêntrica era, esta sim, compatível com a crença 
cristã, enquanto sua alternativa era incompatível. Hoje, nem mesmo grupos fundamentalistas percebem uma 
contradição, e muito menos as igrejas tradicionais ou os cientistas ateus ou agnósticos. 
A situação com o evolucionismo é, sem dúvida, um pouco mais complicada. Podemos, no entanto, dizer que isso se 
deve em boa parte às conseqüências filosóficas, morais, teológicas extraídas por alguns de seus defensores. Se esse tipo 
de argumento for legítimo, há um conflito. Por outro lado, também parece que esse conflito é alimentado por uma 
interpretação literalista em demasia dos textos sagrados. Isso indica depender o conflitode certas concepções do 
alcance das teorias científicas (concepções estas que não são científicas no mesmo sentido em que o são as teorias) e de 
concepções hermenêuticas acerca de como deve ser entendida a revelação. 
Contudo, há tanto teólogos quanto cientistas (crentes ou descrentes) que sustentam serem a ciência e a religião duas 
esferas explicativas completamente independentes e sem relação. Assim, não há como surgir qualquer conflito. É 
preciso preservar a integridade de cada esfera. Erram os teólogos que supõem poder extrair hipóteses científicas dos 
relatos bíblicos (no caso do cristianismo, mas o mesmo raciocínio se aplica a qualquer outra religião que tenha texto 
sagrado), e erram os cientistas que supõem poder extrair conseqüências morais, filosóficas ou religiosas de teorias e 
hipóteses científicas. Água e óleo não se misturam, mas, por isso mesmo, não são incompatíveis, e um não anula o 
outro. 
Esta tese da independência ou da integridade da ciência e da teologia pode ser mantida, sem, no entanto, afirmar 
que são duas esferas completamente separadas. Uma terceira abordagem sustenta a necessidade de integrar religião 
(ou, talvez melhor, teologia) e ciência em uma explicação mais abrangente. Essa integração seria sempre historicamente 
condicionada, podendo e devendo ser revisada, na medida em que se alteram e progridem ambas as esferas. 
Essas considerações mostram que o conflito entre ciência e religião, ou o uso da ciência na religião, ou o uso da religião 
na ciência, não é algo que deva ser simplesmente aceito ou recusado. É preciso considerar atentamente qual teoria científica 
se tem em mente, qual interpretação teológica é suposta e qual visão geral da relação entre ambas é pressuposta. 
Religião e moral 
Algo que chama a atenção de quem participa das religiões ou as observa é a íntima conexão destas com a moral. Muitos 
procedimentos e discursos religiosos (praticados no âmbito das religiões organizadas, especialmente) parecem consistir em 
admoestações para que as pessoas corrijam seu modo de vida e passem a agir de acordo com códigos morais mais estritos, 
que não se restringem a proibir determinados atos, mas também exigem do crente ações positivas, de auxílio aos doentes, 
aos necessitados, por exemplo. Mesmo que haja diferença (embora não tão acentuada) entre os códigos morais professados 
por diferentes religiões, não há como afirmar que essa relação seja meramente circunstancial, como parece ser o caso da 
relação entre ciência (especialmente as chamadas ciências naturais) e religião. Como podemos explicar essa conexão íntima? 
Uma proposta de explicação procura reduzir a religião à moral. Isso implica dizer que o significado essencial da 
religião se encontra na moralidade. A religião consistiria em uma forma disfarçada ou mais eficiente de induzir as 
pessoas a um comportamento ético desejável. Alguns pensadores sugeriram que há uma similaridade entre o papel das 
religiões e o ensinamento moral de uma criança. Assim como se faz necessário por vezes ensinar bons modos a uma 
criança na base de punições ou histórias fantasiosas, há pessoas (e são elas muitas) que precisam receber as idéias 
morais acompanhadas de alguma narrativa cósmica ou divina. Caso contrário, não compreenderão a norma moral nem 
se submeterão a ela. Mas, uma vez que se tornam maduras e autônomas, percebem que a moral se mantém por si 
mesma e podem, então, abandonar a religião. 
Esse tipo de explicação pressupõe a falsidade das histórias e/ou idéias religiosas. Se aceita por alguém, essa 
pessoa deixa de ser, em um sentido mais forte, religiosa. Esse resultado não quer dizer que a explicação esteja 
equivocada. Contudo, outras objeções que mostrariam a inadequação de uma tal hipótese podem ser mencionadas. 
Primeiro, não faz jus ao fenômeno religioso. Mesmo que a moral seja parte integrante das religiões, não é tida como 
única nem como a principal. Outros elementos importantes são a estética, os ritos, os mistérios, a ação de Deus na 
história (no caso das religiões teístas). E o que, prestando atenção ao discurso religioso como tal, parece ser o mais 
importante está naquilo que se poderia chamar de realidade última, o verdadeiro por trás das aparências, o 
efetivamente real, o fundamento de tudo que existe (vamos chamar isso de o elemento metafísico). Por exemplo, no 
cristianismo, considera-se como o ponto mais importante saber quem é Deus, quais seus atributos, qual sua relação 
conosco. Se o Deus cristão fosse apenas um princípio moral, ou o princípio do bem, o cristianismo perderia muito de 
seu sentido. Mesmo que alguém julgue ser o cristianismo, em última análise, falso, dizer que sua essência é a 
moralidade constitui uma simplificação grosseira; além disso, para dizer que o cristianismo é falso, é preciso supor a 
seriedade do elemento metafísico. Acrescentemos ainda que uma crítica feita constantemente por pessoas que 
consideram os relatos religiosos como fantasia se refere à crueldade e à violência que as religiões exibem, ao terror 
mental que exercem sobre os crentes, à sua intolerância. Se uma tal crítica faz sentido, é justamente porque a conexão 
entre moral e religião não pode ser adequadamente explicada como se a essência da religião fosse a moral. 
Outra explicação, e esta a favorecida pelos religiosos, está em que o elemento metafísico provê o fundamento da 
moral. Esta depende da religião e lhe dá o suporte real de que ela necessita. Como a moral não é descritiva, mas 
normativa, ou seja, diz como devemos agir ou que hábitos virtuosos devemos cultivar, não seria ela capaz de responder 
à questão sobre sua própria validade. Se alguém pergunta por que deve ser moral, é preciso apontar para algo fora da 
moral, para a realidade, para as coisas como elas realmente são. Devemos ser morais porque assim é o mundo. Por 
exemplo, o cristão deve observar o decálogo porque Deus assim o quer, ou porque Deus criou o mundo de tal forma 
que a inobservância dos princípios e das regras morais afeta e perverte toda a natureza. 
Mas há uma outra alternativa de como compreender a relação entre moral e religião, pela qual nenhum desses dois 
elementos serve de razão ou fundamento do outro, embora permaneçam intimamente ligados. A religião não é uma 
forma mítica de impor regras morais nem necessita a moral de um fundamento religioso. São autônomas, sem, no 
entanto, que isso implique que qualquer moral é compatível com qualquer religião. 
Religião e teologia 
Muitas vezes, os termos teologia e religião são considerados como sinônimos. Contudo, convém distingui-los para 
melhor compreender o fenômeno religioso. Teologia é um termo grego e significa “conhecimento sobre Deus”. Hoje em 
dia, é comum a distinção entre teologia natural e teologia revelada. Teologia natural se refere àquele conhecimento 
sobre Deus que se baseia na experiência comum – quando, por exemplo, observamos o mundo ou quando consideramos 
nossos sentimentos internos – e na racionalidade, enquanto teologia revelada se refere àquele conhecimento sobre Deus 
que se baseia em alguma manifestação direta da divindade. E no que isso difere de religião? 
A diferenciação pode ser especialmente útil para aquelas religiões que têm um texto sagrado e/ou uma tradição 
considerada normativa. Assim, religião consistiria no conjunto de verdades reveladas (por exemplo, no cristianismo, que 
Deus é triúno, que Jesus é Deus encarnado) de forma clara e não simbólica, enquanto teologia significaria a reflexão 
organizada e sistematizada da revelação. Além disso, haveria os ritos e os modos de vida eclesial (de igreja, ou religião 
organizada). Desse modo, seria possível manter um núcleo fixo e uma concepção progressiva da experiência e da 
reflexão religiosas, consideradas então como teologia. A religião não muda,mas a teologia sim, especialmente no que se 
refere a suas relações com a ciência e a cultura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
( 2 ) 
hinduísmo 
 
Ronaldo Steffen 
 
 
 
perfil 
• Fundador: não há fundador. 
• Ano de fundação: as raízes do hinduísmo 
remontam a um período entre 1500 a.C. e 200 a.C. 
• Textos sagrados: Livro dos Vedas, que consiste numa 
coletânea de quatro obras, das quais certas partes 
datam de 1500 a.C. 
• Estatística: hoje, cerca de 80% da população da 
Índia é hinduísta. O restante divide-se entre 
muçulmanos (10%), cristãos (4%) e outros grupos 
(6%). Em todo o mundo, os hinduístas perfazem 
cerca de 13% da população mundial. 
 
 
(2.1) 
história 
O passado 
É difícil identificar uma data para registrar o início do hinduísmo. Costuma-se atribuir a alguma data entre 1500 a.C. e 
200 a.C. Nesse período, um grupo de nobres (denominados de arianos) dominou o vale do rio Indo. Os nobres 
trouxeram suas crenças, fortemente influenciadas por concepções religiosas indo-européias (grega, romana e 
germânica). Esse período é denominado de período védico do hinduísmo em razão dos hinos recitados pelos sacerdotes. 
Esses hinos eram chamados de vedas e significam “conhecimento”. 
O sacrifício era importante para o culto ariano. Faziam-se oferendas aos deuses a fim de se conquistarem seus favores 
e se manterem sob controle as forças do caos. 
Achados arqueológicos no vale do rio Indo indicam que houve uma civilização avançada na Índia, anterior à 
chegada dos indo-europeus, e é certo que essa civilização também contribuiu para o hinduísmo moderno. 
Num período posterior, provavelmente entre 1000 a.C. e 500 a.C., surgiram os Upanishads, escritos em forma de 
diálogos entre o mestre e o discípulo. É nesse período que é introduzida a noção de Brahman, a força espiritual essencial 
sobre a qual se baseia todo o universo. É por essa razão que se diz que todos nascem do Brahman, vivem no Brahman e 
retornam ao Brahman por ocasião da morte. 
Os “Upanishads” introduzem a idéia de “Brahman”. Todos 
nascem dele, vivem nele e na morte retornam a ele. 
 
Hoje 
O hinduísmo, embora originário da Índia, possui adeptos espalhados por todos os países a sua volta, em especial 
Nepal, Bangladesh e Sri Lanka. 
Apenas em 1947 é que a Índia deixa de ser um Estado religioso e passa a garantir direito de expressão religiosa a 
todas as denominações religiosas. 
Nesse mesmo ano, a tensão entre hinduístas e muçulmanos em razão da independência da Índia resultou na 
criação do Paquistão como um Estado muçulmano separado, dividido em duas partes distintas, o Paquistão do Leste e 
o Paquistão do Oeste. Depois da guerra de 1971 entre a Índia e o Paquistão, o Paquistão do Leste se tornou um Estado 
independente com o nome de Bangladesh. 
(2.2) 
ensinamentos 
Deuses 
A multiplicidade do hinduísmo também se manifesta em seu conceito de transcendente. Há duas formas de compreender 
o tema: uma filosófica (Brahman é o princípio e a realidade última; o universo em sua totalidade é um só com a 
divindade; Brahman toma a forma de três divindades: Brahma, Vishnu e Shiva, respectivamente o Criador, o 
Mantenedor da criação e o Destruidor) e outra popular, ou menos acadêmica (acredita-se num grande número de 
divindades a tal ponto que as aldeias elegem sua divindade local). 
Deusas 
O hinduísmo tem uma série de deusas. Alguns adotam a teoria de que essa abundância de deusas não passa da 
expressão de uma grande e poderosa divindade feminina, a Rainha do Universo ou Deusa-Mãe. Sua manifestação mais 
conhecida é Kali, a deusa negra, adorada, sobretudo, no Leste da Índia e a quem se sacrificam animais. O alto status de 
Kali no mundo dos deuses é evidente pelas imagens que a mostram pisoteando o corpo de Shiva. 
A importância das deusas na religião indiana é visível pela escolha da Mãe Índia (Bhárata Mata ou Bharthamata) 
como a divindade nacional do moderno Estado da Índia. Na cidade de Varanasi há um templo especial que lhe é 
dedicado. Ali, em vez de uma representação da deusa, está exposto um mapa da Índia. 
Divindades menores 
A maioria das aldeias tem seu templo dedicado a Vishnu ou a Shiva. Esses deuses se concentram nas questões maiores, 
universais e, em geral, são homenageados nos grandes festivais. Num nível mais doméstico, as pessoas costumam 
visitar pequenos templos dedicados a divindades menos importantes. 
Embora não sejam tão poderosas como Vishnu ou Shiva, é mais fácil se aproximar delas para assuntos de menor 
importância, tais como os problemas pessoais. 
Há deuses para as questões universais 
e deuses para as questões pessoais. 
 
Os deuses menores por vezes exercem influência em áreas específicas, como, por exemplo, em certos tipos de 
doença. Muitos deles têm origem humana: podem ser heróis que morreram em batalha ou esposas que se ofereceram 
para serem queimadas na pira funerária do marido. Alguns deuses são espíritos malignos que foram deixados para trás 
por homens maus. Ao cultivar esses espíritos como deuses, é possível controlar e neutralizar sua maldade. 
Ser humano 
A concepção que o hinduísmo desenvolve a respeito do ser humano está intimamente vinculada a uma compreensão 
ampla que privilegia os entendimentos sobre carma, reencarnação e o sistema de castas. 
Carma e reencarnação 
O ser humano tem uma alma imortal que não lhe pertence. Depois da morte, a alma volta a aparecer pelo 
renascimento, não necessariamente em forma humana, podendo, também, vir a renascer num animal. 
O conceito que explica esse eterno vai-e-vem da alma é o carma (“ato” ou “ação”) do ser humano, referindo-se tanto 
às ações como aos pensamentos, às palavras e aos sentimentos. Desse modo, entende-se que o carma é determinante 
para o que irá ocorrer numa próxima existência. Muito embora se possa concluir que o carma é uma punição ou uma 
recompensa das ações humanas, não é esse o modo de compreender sua extensão. É como se ele fosse apenas uma lei 
natural da existência. Colhe-se aquilo que se planta, e é justamente isso que explica as diferenças entre as pessoas. O ser 
humano é responsável por si mesmo e de posse do livre-arbítrio está apto a produzir as mudanças necessárias com 
vistas a uma melhor existência posterior, quando renascer. 
O sistema de castas 
O surgimento do conceito de casta é confuso. O fato a ressaltar é a chegada dos arianos à Índia, com língua, cultura e 
traços fisionômicos (altos, pele clara, olhos azuis e cabelos lisos) diferentes. A diferença propiciou um sistema de 
identificação pela cor (varna, em sânscrito). As classificações tiveram ampliação à medida que a organização se fazia 
necessária, de modo que se chegou a uma estratificação com quatro classes sociais: videntes, administradores, 
produtores e seguidores. 
Religiosamente, as castas indicam o grau 
de pureza ou impureza de uma pessoa. 
 
Na prática popular, hoje, a casta é entendida como as possibilidades que alguém tem de se relacionar com coisas 
mais puras ou impuras. Essas possibilidades são determinadas pelas regras que conduzem cada casta: castas elevadas 
buscam cada vez mais distanciamento das coisas materiais; castas mais baixas se permitem a aproximação com as 
coisas da matéria. Duma ou doutra forma, se alguém quebrar alguma das regras de sua casta, restam-lhe os rituais de 
purificação, sendo o mais conhecido o banho num dos muitos rios sagrados. 
Os efeitos do sistema de castas e suas regras específicas influenciam diretamente a base da divisão de trabalho na 
comunidade. Certas atividades e certos trabalhos são tão impuros que somente determinadas castas podem realizá-
los. Essas castas têm o dever de ajudar os outros a manterem sua pureza. Poroutro lado, apenas as castas que 
preencham os requisitos de pureza podem se aproximar dos deuses mais elevados. Para que isso ocorra com mais 
facilidade, outras pessoas devem ser impuras. Entretanto, todos se beneficiam da limpeza dos puros, pois todos os 
hinduístas tiram proveito dos ritos que são praticados. 
O sistema de castas deu um novo contexto à vida do indiano moderno. Assim, ser expulso de sua casta é o pior 
castigo imaginável e, por isso, só utilizado para crimes muito sérios. O nível mais baixo no sistema de castas é o dos 
intocáveis ou sem-casta (também chamados de párias): criminosos, lixeiros e curtidores de couro de animais, por exemplo. 
As complexas regras que controlam o contrato social entre as castas eram muito rígidas. A Constituição da Índia, de 
1947, introduziu, no entanto, medidas com a finalidade de banir a discriminação por casta. Como não basta mudar a 
legislação para acabar com antigas divisões sociais e religiosas, o sistema de castas continua tendo um papel 
importante, em especial nas aldeias. 
Vida e morte 
Durante o período védico, as doutrinas do carma e dos renascimentos eram vistas como algo positivo. Por meio dos 
sacrifícios e das boas ações, o ser humano podia garantir que viveria várias vidas. Mais tarde, o hinduísmo passou a 
considerar esse ciclo como algo negativo, como um círculo vicioso a ser quebrado. É possível, assim, distinguir três 
caminhos para a libertação: as vias do sacrifício, do conhecimento e da devoção. 
A via do sacrifício 
Como vimos, a palavra indiana para ”ato” é carma. Hoje ela é usada para denotar todos os atos humanos e até mesmo a 
coletividade desses atos. No período védico, o termo se referia basicamente a atos religiosos ou rituais, em especial aos 
atos sacrificiais. Estes eram necessários para incrementar a fertilidade e manter a ordem universal, além de propiciar a 
possibilidade de libertação do constante nascer-renascer, integrando-se de modo definitivo com Brahman. 
A via da compreensão ou do conhecimento 
A compreensão ou o conhecimento é apenas uma das formas de libertar-se do ciclo de renascimentos, pois se enfatiza que 
é a ignorância que aprisiona o ser humano a esse ciclo. 
Compreender a verdadeira natureza da existência, o oposto da ignorância, é, portanto, um caminho para a 
libertação. É apenas quando o ser humano adquire o reto conhecimento que ele é redimido da implacável roda da 
transmigração. O reto conhecimento mencionado nada mais é do que a compreensão de que a alma humana (atmã: é o 
reflexo da alma universal e encontra-se nos seres humanos, nas plantas e nos animais) e o mundo espiritual (Brahman) 
são uma e a mesma coisa. 
A via da devoção 
Uma terceira rota para a salvação é a via da devoção. Essa proposta começou a difundir-se no Sul da Índia, por volta de 
600 a.C. e logo se espalhou por toda a região da Índia. Já no século III a.C. esse caminho para a libertação encontrara 
sua expressão no Bhagavad Gita, um poema catequético. Essa terceira tendência do hinduísmo é a que predomina na 
Índia moderna, e o livro Bhagavad Gita é o texto sagrado que ocupa o lugar supremo na consciência do indiano médio. 
Cumprir os rituais. Buscar o conhecimento. 
Contemplar.A religião na Índia oferece a possibilidade de 
vários caminhos para a libertação, e essa multiplicidade 
é mais uma característica do hinduísmo. 
 
Mundo 
É plural 
O mundo não é uno, mas plural. Há diversos mundos interconectados pela mesma razão. É como se fossem infinitas 
galáxias, e cada uma com o seu ponto de referência, como a Terra. Para dar uma dimensão superlativa ao conceito de 
infinitas galáxias, o hinduísmo entende que entre esse ponto de referência e o restante da galáxia há diversos outros 
mundos mais sutis, acima, e mais grosseiros, abaixo. Os mundos sutis e grosseiros são os espaços ocupados pelas almas 
e que por eles transitam conforme os méritos adquiridos ou não. 
Cada mundo e galáxia têm ciclos diferentes de tempo. Há tempo que se expande e tempo que se recolhe, eterna e 
incontavelmente no mesmo movimento, estabelecendo os ciclos cósmicos. 
É meio 
O mundo e suas galáxias têm uma razão. É o espaço onde as almas individuais cumprem a inexorável lei do carma até 
sua libertação. Inerente ao conceito de carma está que toda decisão do ser humano terá determinadas conseqüências. 
Não há fatalismos no universo. 
Nos mundos mais grosseiros há uma percepção maior dos elementos sensoriais. Em razão dos prazeres 
proporcionados, geralmente assentados no eu individual, o ser humano deve buscar a libertação para mundos cada vez 
mais sensíveis, em direção ao EU absoluto, o Transcendente, até sua integração completa. 
É moderado 
O mundo e suas galáxias são o espaço onde bem e mal, prazer e dor, conhecimento e ignorância se entrelaçam em 
proporções quase iguais. Não faz parte dos propósitos do universo ser um paraíso, mas o espaço onde o espírito do ser 
humano pode viabilizar seu aprendizado de integração ao Transcendente. É como se o universo perceptível servisse 
apenas para poder perceber-se que há outra realidade além dele. 
É maya 
O mundo e suas galáxias são maya. A palavra maya possui a mesma raiz que mágica. Na mágica, o que vemos nem 
sempre é o que pensamos ver. Assim é o universo. Enquanto em processo de constantes renascimentos, o ser humano 
pode cair no ardil de que a materialidade e a multiplicidade são realidades independentes, quando, em realidade, são 
Brahman, o todo inclusivo de tudo o que é e de tudo o que não é. 
O mundo e suas galáxias podem ser a prisão do ciclo de constantes e infindáveis renascimentos do ser humano. O 
universo aí está para poder perceber-se sua unidade, que é Brahman. Mesmo que o ser humano não o perceba ou o 
perceba apenas parcialmente, ele continua sendo Brahman. 
É lila 
O mundo e suas galáxias são o espaço lila (“dança”) do Transcendente. É onde ele dança, numa espécie de jogo, de 
forma incansável, infinda, irresistível, mas absolutamente benéfica. É o jogo que o Transcendente criou a fim de que o 
finito seja superado e destruído pelo infinito. 
(2.3) 
principais tendências 
Escolas do pensamento hindu 
Entre os séculos II a.C. e IV d.C., surgiram seis escolas ortodoxas da filosofia clássica hindu, descritas a seguir. Não 
eram grupos organizados, mas sistemas de pensamento que apresentavam perspectivas diversas, porém 
complementares, de métodos devocionais, interpretação das escrituras e cosmologia. 
• Vaiseshika – Defende que a libertação do ser humano se dá pela compreensão das leis da natureza. 
• Nyaya – A libertação do ser humano se dá pelo conhecimento por meio do raciocínio lógico. 
• Samkhya – A libertação do ser humano ocorre quando se alcança a união da alma individual com o 
Transcendente (moksha) por meio da consciência que se desvencilha das preocupações mundanas e materiais. 
• Mimamsa – A libertação do ser humano dar-se-á à medida que os escritos sagrados forem adequadamente 
interpretados e, em decorrência, produzirem o justo agir (darma). 
• Vedanta – A libertação do ser humano é decorrência da correta compreensão do Transcendente e dos 
conhecimentos espirituais, possibilitada pela igualdade entre a alma individual e o Transcendente. 
• Bhakti – A libertação do ser humano é possível em razão das atitudes devocionais que permitem a união entre 
a alma individual e o Transcendente, embora sejam diferentes. 
Correntes hindus modernas no Ocidente 
Em meados do século XX, surgiu na Europa e nos Estados Unidos um grande interesse pela espiritualidade oriental. 
Dentre as muitas razões para isso, podemos afirmar que o Ocidente materialista, espiritualmente estéril, percebeu que a 
vida e o viver iam muito além dos reducionistas aspectos biológicos. Esse interesse, que atingiu seu ponto culminante 
nasdécadas de 1960 e 1970, concentrou-se no budismo e no hinduísmo, com destaque para a ioga. Surgiram inúmeros 
movimentos que apresentaram o modo hinduísta de responder às questões da vida. Eram, em regra, movimentos 
centrados na personalidade de algum mestre (guru) carismático, venerado como se fosse um avatar. Dos movimentos 
que permaneceram na ativa após a morte de seus fundadores, destacamos: 
• Meher Baba (1894-1969) – Foi o primeiro guru moderno de importância a conquistar adeptos no Ocidente. 
Nascido na Índia, elaborou uma doutrina que sintetizava várias tradições religiosas, inclusive os conceitos de 
carma e samsara (“renascimento cíclico”). Ensinava que o estado de iluminação que liberta só se alcança por 
meio do amor puro, desinteressado. 
• Sociedade Internacional da Consciência de Krishna – Foi fundada em meados da década de 1960 no Ocidente por A. C. 
Bhaktivedanta Swami Prabhupada (1896-1977). Seus discípulos de túnica amarela procuram a iluminação por 
meio do estudo das escrituras védicas, em especial o Bhagavad Gita, e do canto de um mantra em louvor a 
Krishna e Rama (graças ao qual o movimento é popularmente conhecido como Hare Krishna). Praticam um 
ascetismo rigoroso, que inclui o celibato, a não ser com finalidade de procriação e dentro do casamento. 
• Meditação transcendental – Ensina um método simples de meditação que se baseia em um mantra pessoal (palavra 
ou frase) que, constantemente repetido, produz o efeito de reduzir o estresse e de promover a integração 
pessoal e, por conseqüência, a iluminação que liberta. Foi trazido para o Ocidente por Maharishi Mahesh 
Yogi, nascido em 1911, em fins da década de 1950 e alcançou popularidade quando os Beatles se tornaram 
seus adeptos. 
• Missão da Luz Divina – Fundado na Índia em 1960 e no Ocidente em 1971, proclamou um menino guru, Maharah 
Ji, nascido em 1958, o mais recente avatar do Transcendente. Ensina quatro técnicas de meditação que 
capacitam os devotos a se voltarem para dentro de si mesmos a fim de experimentarem o estado de 
iluminação: a Luz Divina, a Harmonia Divina, o Néctar Divino e a Palavra Divina. 
• Bhagwan Shri Rajneesh (1931-1990) – Também conhecido como Osho. Ministra a doutrina do amor livre, da 
sexualidade desinibida e dos atos impulsivos, juntamente com uma forma de meditação dinâmica que visa 
liberar a energia da Terra. Uma das técnicas de liberação das energias reprimidas é o riso. Possui centros de 
meditação em todo o mundo. Só no Brasil são oito centros, além de um jornal de circulação nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
( 3 ) 
budismo 
Ronaldo Steffen 
 
 
 
• perfil 
• Fundador: Siddartha Gautama, identificado por 
seus seguidores como Sakyamuni (pertencente ao clã 
dos Sakya), Buddha (“o iluminado”) ou Bhagavat 
(“senhor”). É tido como o quarto dos cinco budas 
encarnados. 
• Data de nascimento: não há certezas. As biografias 
mencionam datas desde 624 a.C. até 410 a.C. 
 
 
• Local de nascimento: reino dos Sakyas, na cidade de 
Kapilavastu, próxima à fronteira atual entre a Índia 
e o Nepal. 
• Ano de fundação: estima-se que Siddartha tenha 
atingido o estado de iluminação por volta de seus 
35 anos de idade. 
• Textos sagrados e reverenciados: os ensinamentos 
de Buddha não foram originalmente escritos por 
ele, mas transmitidos oralmente por seus 
seguidores. Ao surgirem os primeiros escritos, duas 
formas podem ser identificadas: o cânone sulista de 
Pali, da tradição Theravada (escrito no Sri Lanka por 
volta do século I a.C.), e o cânone nortista sânscrito, 
da tradição Mahayana. O cânone de Pali é composto 
por três obras (pitaka): a) Sutra: os discursos de 
Buddha; b) Vinaya: as origens das regras da 
disciplina monástica e c) Abdhidharma: tratados 
escolásticos sobre a psicologia e a filosofia budistas. 
Já o cânone de tradição Mahayana crê que as 
doutrinas primeiras são incompletas e necessitam 
ser aperfeiçoadas com os tratados interpretativos. 
• Estatística: atualmente é um dos quatro maiores 
grupos de tradição religiosa. Os números 
correspondentes a essa afirmação são difíceis de 
serem comprovados em vista das diversas escolas 
budistas. Hoje é muito difundido no Sri Lanka e no 
Sudoeste da Ásia, embora esteja também presente 
na China, na Coréia e no Japão. Excluindo a China, 
estima-se que cerca de 200 milhões de pessoas 
professam a fé budista. 
 
(3.1) 
história 
A Índia antes do budismo 
O mundo à época do nascimento de Siddartha era de mudanças. Por volta de 1500 a.C., a Índia passou a ser 
influenciada pela religião védica, trazida pelos guerreiros arianos. Possivelmente o processo sincrético ocorrido entre os 
arianos e os não-arianos tenha originado o hinduísmo após séculos de evolução. Essas mudanças teriam ocorrido entre 
os anos 1000 a.C. e 200 a.C. Além das revoltas filosóficas contra o vedismo e o bramanismo, duas religiões surgiram na 
Índia: o jainismo e o budismo. Acresce que nesse tempo surgiram duas grandes escolas filosóficas: a Ajivakas, ou 
nihilistas, e a Lokayatas, ou materialistas. Posteriormente, essas duas escolas opuseram-se ao hinduísmo. Popular 
também à época do nascimento de Siddartha era um movimento denominado Sâmara, uma espécie de contracultura 
dos mendicantes religiosos, que optaram pela renúncia ao mundo. Todos esses movimentos surgiram no exato 
momento em que o ambiente da Índia era um campo fértil para novas idéias. 
Nascimento e vida de Siddartha 
O príncipe Siddartha cresceu em meio à fortuna e ao luxo. Seu pai ouvira uma profecia de que seu filho ou seria um 
poderoso governante, ou abandonaria por completo o mundo. Esta última opção ocorreria caso o príncipe 
testemunhasse as mazelas e o sofrimento das pessoas. Para evitar essa situação, tentou proteger seu filho, mantendo-o 
recluso aos limites do palácio e cercado de delícias e diversões. Casou-se jovem com uma prima e mantinha um harém 
de dançarinas. 
Aos 29 anos, Siddartha experimenta uma situação que mudaria por completo sua vida palaciana. Embora proibido 
pelo pai, arriscou-se a sair do palácio e viu, pela primeira vez, um velho, um homem doente e um cadáver em 
decomposição. A contradição se interpôs quando, a seguir, viu um asceta com uma expressão de radiante alegria. 
Percebeu que a vida de riqueza e prazer não traduz uma existência plena e com sentido. Questionou-se sobre a 
possibilidade de haver algo que ultrapassasse a velhice, a doença e a morte. Percebeu-se tocado por um profundo 
sentimento de compaixão pelas pessoas e por um chamado a fim de libertá-las do sofrimento. Ato contínuo, renuncia à 
vida prazerosa do palácio, à sua esposa e filho e parte para uma vida de andarilho. 
Da vida de abundância passa aos extremos dos exercícios ascéticos. Come cada vez menos; chega a alimentar-se 
apenas com um grão de arroz por dia. O que esperava conseguir era o domínio do sofrimento. Sem resultado, adota o 
“caminho do meio”, a meditação. Após seis anos de meditação ascética, aos 35 anos, chega à iluminação (bodhi), à 
margem de um afluente do rio Ganges. Agora era um buda, um iluminado. Alcançara a percepção de que todo o 
sofrimento do mundo é causado pelo desejo. É apenas suprimindo o desejo que o homem pode escapar de outras 
encarnações e atingir a realidade última: o nirvana. Encontrara para si uma saída para a superação do sofrimento. 
Passo seguinte, Siddartha decide compartilhar sua percepção. 
À época, Benares era um grande centro religioso. É para lá que se dirige. Faz sua primeira pregação e desencadeia o 
que se denomina de rodas de instrução. Monges mendigos tornam-se seus discípulos e por aproximadamente 40 anos o 
seguem pelo Nordeste da Índia. Seus seguidores,desde o princípio, dividem-se em dois grupos: os leigos e os monges. 
Por volta dos 80 anos, adoece e despede-se de seus discípulos. Daí para frente eles poderiam contar somente com o 
darma (“instrução”) que Siddartha lhes havia dado nos anos anteriores. 
(3.2) 
ensinamentos 
Uma vez que o budismo surge dentro do contexto hinduísta como um caminho individual para a libertação dos 
renascimentos, é natural que muitos de seus ensinamentos estejam marcados por esse pensamento. Destacam-se, de 
modo especial, os pensamentos referentes às doutrinas do renascimento, do carma e da libertação (ou salvação). 
Deuses 
Buda não negou a existência dos deuses. Todavia, acreditava que esta era transitória, assim como a existência humana. 
Embora eles vivessem mais tempo que os seres humanos, também estavam atrelados ao ciclo de renascimentos e em 
nada podiam ajudar os seres humanos a se redimirem de tal ciclo. 
Outro aspecto a ressaltar diz respeito à adoração de demônios, espíritos e outras divindades. Todos são seres vivos 
e, se cultuados de modo correto, podem trazer vantagens para a vida neste mundo. 
Ser humano 
Para o hinduísmo, originalmente, todo ser humano, bem como todo o universo, possui uma única alma (atmã), que 
sobrevive de uma existência a outra e é idêntica, total ou parcialmente, ao Transcendente universal (Brahman). 
Buda rompe essa lógica. Nega que o ser humano tenha alma e rejeita a existência de um espírito universal. A alma é 
fugaz e fruto da ignorância humana, que promove o desejo, fundamental para a criação do carma individual. 
Nessa dimensão, o budismo entende a vida humana como uma série de processos mentais e físicos que alteram o 
ser humano de momento a momento. Tudo é transitório. 
“Aquilo que você planta é o que colhe.” O ser humano 
é dono de seu destino: o que pensa e faz é determinante 
de seu futuro cósmico. 
 
Vida e morte 
A lei do carma 
Para Siddartha, o Buda, o ser humano é escravizado por uma série de renascimentos. Como todas as ações têm 
conseqüências, o princípio propulsor que está por detrás do ciclo nascimento-morte-renascimento são os pensamentos 
dos seres humanos, suas palavras e seus atos (carma). 
A idéia básica consiste em que tudo o que fizemos em determinada vida, ainda que passada, repercute e alcança-
nos no presente. As ações de uma vida estendem-se a outra. O ser humano irá colher no presente aquilo que plantou 
no passado. Não há “destino cego” nem “divina providência”. Daí a impossibilidade de escapar do carma. Enquanto 
houver um carma, o ser humano está fadado a renascer e manter-se preso à existência humana, não transcendendo. 
Em razão disso, torna-se imperiosa a busca por uma saída que seja capaz de produzir a libertação humana. 
As quatro nobres verdades sobre o sofrimento 
O denominado Sermão de Benares, que apresentou as quatro verdades sobre o sofrimento humano, ocorreu depois que 
Siddartha obteve o estado de iluminação. As quatro verdades demonstram o seguinte: 
• Tudo é sofrimento – Para o budismo, o sofrimento implica algo mais do que mero desconforto físico e 
psicológico. Toda a existência é manchada pelo sofrimento, pois tudo é passageiro. Quem não percebe isso é 
cego. Isso, no entanto, não significa que o budismo negue toda a felicidade material e mental. A felicidade 
pode ser encontrada em muitos setores da vida, como na família, e em muitas coisas que estão à volta do ser 
humano. Porém, nada disso vai durar para sempre. 
• A causa do sofrimento é o desejo – O desejo é o mesmo que ânsia. Há três tipos de desejos: desejo pela sensualidade, 
desejo por ser/existir e desejo por não ser/não existir. Resumida e metaforicamente, significa prender-se a algo 
no curso da existência como se ele fosse absolutamente substancial para o ato de existir. É o desejo que 
produz a existência continuada e a necessidade do renascimento. Não é a transitoriedade da felicidade que 
causa o sofrimento, mas a atitude frente a ela, como o apego e a ignorância. 
• O sofrimento cessa quando o desejo cessa – A experiência de interrupção do sofrimento é tão real quanto a própria 
experiência do sofrimento. À interrupção do sofrimento dá-se o nome de nirvana. O nirvana é a cessação de 
mudança. O nirvana pode apenas ser experimentado, mas não descrito. Resumidamente pode ser definido 
como a cessação dos apegos ou dos desejos e certamente não é identificado com o céu. O nirvana não é um 
lugar real ou metafórico. Em vez disso, o pressuposto é que a dor e a cessação da dor são duas 
experiências reais realizadas aqui e agora e, por isso, nirvana não é um estado futuro. Simplesmente é o 
estado em que o desejo cessa completamente. 
O desejo cessa seguindo-se o caminho das oito vias – São elas: 
• Entendimento (ou percepção/visão) justo: para conhecer a natureza e a origem do sofrimento, a cessação do 
sofrimento e o caminho que conduz para a cessação do sofrimento. 
• Resolução justa: renunciar à materialidade presente no mundo e não prejudicar ou eliminar qualquer ser vivo. 
• Palavra justa: abster-se da mentira ou da calúnia, da injúria e dos mexericos. 
• Conduta justa: abster-se de tirar a vida, roubar e praticar a luxúria. 
• Sustento de vida justo: abster-se de pegar ou comercializar armas, consumir álcool e tóxicos e de qualquer outra 
atividade que possa trazer prejuízo a outros. 
• Esforço justo: é a vontade necessária para estancar as más qualidades que afloram à mente, eliminar todas as 
que ali ainda estão e desenvolver bons estados mentais. 
• Pensamento justo: ter consciência do seu próprio corpo, dos sentimentos e das atividades da mente. 
• Meditação justa: é quando, privado de luxúria e disposições erradas, a serenidade interna é desenvolvida por 
meio da prática de meditação. Esta é a atividade que, em última análise, conduz ao nirvana. 
Analise os oito caminhos como uma proposta de 
conduta ética e tire suas próprias conclusões. 
 
Para pesquisar e confrontar: 
Como o cristianismo explica o sofrimento? 
Nirvana e céu são a mesma coisa? 
 
Ética 
Com a decisão de Buda, depois de alcançar a iluminação, de tornar-se guia do ser humano, passam a ser fundamentais 
para o budismo o amor e a compaixão. Não só as ações, mas também os sentimentos e os afetos são importantes. A 
caridade realizada não apenas afeta aos outros, mas contribui para enobrecer o próprio caráter de quem a pratica. 
Nessa dimensão, o budismo tem cinco regras de conduta: 
• Com relação às criaturas vivas: evitar toda maldade. 
• Evitar o roubo. 
• Ser responsável nos prazeres sensuais. 
• Falar apenas a verdade. 
• Evitar o uso de álcool e drogas. 
Mundo 
No mundo tudo é transitório. Nada é definitivo e, por isso, essa transitoriedade deve ser abandonada para evitar-se 
todo e qualquer desejo. Notemos, no entanto, que, quando se fala em abandonar a transitoriedade da materialidade 
constante no mundo, o que se tem em mente é o apegar-se a essa materialidade como se ela fosse capaz de resolver os 
problemas da natureza humana. A única saída para a transitoriedade do mundo é o nirvana. 
Uma vez que o nirvana é o oposto direto do ciclo de renascimentos, e uma vez que ele não pode ser comparado a 
nada neste mundo, só é possível dizer que o nirvana não é. Alcançá-lo só é possível por meio do estado de iluminação e de 
nada adiantam, por si sós, as boas obras. 
Embora o mundo não tenha autonomia, seja transitório e pleno de sofrimento, este é o espaço dado e no qual o ser 
humano pode chegar à libertação plena dos renascimentos. 
(3.3) 
principais tendências 
Os pensamentos de Buda foram transmitidos oralmente. O resultado foi o surgimento de, pelo menos, 18 escolas 
diferentes. As escolas relacionadas a seguir representam apenas as mais importantes ramificações do budismo no 
mundo moderno. 
• BudismoTheravada – É a mais antiga escola da tradição budista. Defende que cada ser humano é responsável 
sozinho pela sua própria iluminação. Apenas poucos alcançam esse estado. A sabedoria e a disciplina são 
virtudes valiosas. Os rituais não são fundamentais, e sim a devoção. Está presente no Sri Lanka, na Tailândia, 
em Mianmar, em Laos e no Camboja. 
• Budismo Mahayana – É o budismo das pessoas comuns. Enfatiza que qualquer pessoa pode alcançar o estado de 
iluminação que liberta. A compaixão e o amor pelos menos afortunados são mais importantes que a 
sabedoria. 
• Budismo Zen – É um amálgama da escola Mahayana com o taoísmo. Zen é o caminho da iluminação por meio da 
meditação e da vida simples, evitando as teorias abstratas e favorecendo a experiência direta de um espírito 
“vazio” e aberto. Há duas grandes escolas: a Rinzai Zen, que dá ênfase à iluminação espontânea, e a Soto, que 
enfatiza a concentração espiritual e corporal disciplinada na meditação. As escolas Zen também enfatizam a 
pintura, a caligrafia e até a cerimônia do chá como expressões de um vínculo não interpretado com a 
natureza. Tornou-se popular no Ocidente a partir da década de 1950, com o surgimento dos movimentos 
holísticos. 
• Budismo da Terra Pura – É o culto de um buda ou bodhisattva que vive numa terra pura, celestial. Seus devotos 
procuram renascer na Terra Pura, onde alcançarão a iluminação libertadora. 
• Budismo Nichiren – Também conhecido como Seita do Lótus, ensina que o budista verdadeiro é o que segue os 
ensinamentos contidos no Sutra do Lótus, escritura do século I d.C. A ênfase é que Buda é eterno e cósmico, 
manifestando-se incessantemente em budas terrenos. O maior grupo dessa tendência é o Nichiren Shoshu. 
• Budismo tibetano – Também conhecido como lamaísmo, adota a doutrina do bodhisattva e o caminho gradual 
rumo ao estado de iluminação por meio de rígidas disciplinas monásticas. O grupo mais importante nessa 
tendência é de Gelugpa, fundado em fins do século XIV d.C. Seu líder espiritual é o Dalai-Lama (“guru 
oceano”), cuja sabedoria é profunda e ampla como o mar. O Dalai-Lama é considerado a encarnação de um 
bodhisattva, e cada dalai-lama sucessivo é a reencarnação do anterior. A partir do século XVII, o Dalai-Lama 
passou a ser também o líder secular do Tibete, até o país ser ocupado pela China, em 1959, quando o Dalai-
Lama passou a viver em exílio. 
No Brasil, como podemos ver a seguir, podem ser identificadas três grandes escolas budistas. Devemos levar em 
conta que cada escola pode estar subdividida em vários grupos. 
Escolha seu veículo 
As diversas escolas budistas existentes podem ser 
agrupadas em três tradições fundamentais. Ainda na 
Índia, desenvolveram-se diferentes correntes com 
interpretações específicas dos ensinamentos de Buda. 
Desse budismo primitivo, sobrevive até hoje a tradição 
Theravada. Simultaneamente, a doutrina de Buda correu 
a Ásia e foi adaptada a diferentes culturas. O resultado é 
a diversidade. 
 
 
Quadro 1 – As três grandes escolas budistas 
 Início 
 
Região de 
Consolidação 
 
Filosofia 
 
Grupos no 
Brasil 
 
Membros no 
Brasil 
 
Alguns líderes no 
Brasil 
 
Theravada 
(Hinayana) 
 
Séc. IV 
a.C. 
 
Sul da Ásia 
(Sri Lanka, 
Tailândia, 
Mianmar, 
Laos, 
Camboja) 
 
A figura do “veículo pequeno” resume o espírito 
da tradição Theravada, também chamada de 
Hinayana. Cada um é responsável por guiar o 
próprio barco. Sozinho, o praticante busca a 
auto-iluminação por meio da meditação e de 
uma conduta condizente com a doutrina de 
Buda. 
 
Cerca de 5 
 
Menos de 1 
mil 
 
Pushwelle 
Vipasse 
 
Mahayana 
 
Séc. I 
a.C. 
 
Norte da Ásia 
(China, 
Coréia, Japão) 
 
A tradição Mahayana pode ser simbolizada pela 
figura do “veículo grande”. O fiel não apenas 
busca a própria iluminação como pode contribuir 
para que todos a sua volta evoluam 
espiritualmente. O bodhisattva (ser iluminado) é 
o timoneiro em um barco com muitos 
passageiros. 
 
Cerca 
de 85 
 
Cerca de 220 
mil 
 
Monja 
Sinceridade e 
Monja Coen 
 
Vajrayana 
 
Séc. VII 
d.C. 
 
Tibete 
 
Os primeiros missionários a visitar o Tibete 
tiveram de incorporar algumas práticas 
xamânicas da população nativa. A tradição 
Vajrayana, ou “veículo de diamante”, combina a 
ética Mahayana com doutrinas esotéricas do 
Tantrismo. 
 
Cerca 
de 45 
 
Cerca 
de 3 mil 
 
Lama Michel e 
Segyu 
Rinpoche 
 
Consultoria: Prof. Frank Usarski, programa de pós-graduação em Ciências da Religião da PUC de São Paulo. 
Fonte: Revista Isto É, 2003. 
 
 
( 4 ) 
islamismo 
 
• perfil 
• Fundador: o profeta Muhammad (Maomé). 
• Data de nascimento: 570 d.C. 
• Local de nascimento: Meca, atual Arábia Saudita. 
• Ano e local de fundação: 622 d.C., em Meca. 
• Textos sagrados e reverenciados: Qu´ran (Corão), 
coleção das escrituras divinas como reveladas ao 
profeta Maomé pelo arcanjo Gabriel, e Hadith, 
coleção de ditos de Maomé e seus seguidores e que 
se perpetuaram com o decorrer do tempo. 
• Estatísticas: estima-se hoje em cerca de 1 bilhão e 
300 milhões de adeptos distribuídos por várias 
localidades: Turquia, Oeste da África, Sul da Ásia, 
Filipinas, Indonésia, Índia, Oriente Médio, Europa e 
as três Américas. No Brasil, fala-se em 1 milhão de 
adeptos. 
 
 
(4.1) 
história 
Com origem na Arábia, o islã está profundamente relacionado com a cultura árabe. Ressaltemos, no entanto, que hoje 
apenas uma minoria de seus seguidores são árabes. O islã está difundido por regiões da África e da Ásia, em especial, e 
é seguido por cerca de 15% da população mundial. 
A palavra árabe islam significa “submissão”. É pertinente ao seu conteúdo que o ser humano deve entregar-se a 
Deus e submeter-se a Sua vontade em todas as áreas da vida. Esse entendimento sugere que, enquanto religião, o islã 
abrange todas as áreas da vida humana, pessoal e social. 
É a terceira e última das religiões originadas com Abraão, após o judaísmo e o cristianismo. Fruto de um “segundo 
casamento” de Abraão, agora com Hagar, Ismael dá origem aos muçulmanos. 
De importância capital para a compreensão do islã é a figura de Muhammad, ou Mohammed, ou, ainda, Maomé. 
Maomé 
Nasceu em Meca, na Arábia, por volta de 570 d.C. Nascido numa das principais famílias da cidade, ficou órfão ainda 
criança. Criado por um tio, Abu Talib, foi trabalhar como condutor de camelos para Khadidja, viúva de um rico 
mercador. Quinze anos mais velha que Maomé, veio a ser sua esposa e exerceu grande influência no desenvolvimento 
religioso de seu esposo, que não teve outra mulher. 
A formação religiosa de Maomé 
Meca era um importante centro comercial e religioso da Arábia. Tribos nômades já adoravam, bem antes de Maomé, a 
pedra preta, objeto de muitas peregrinações de beduínos. Era prática comum na região, também, cultuar muitos deuses 
e seres sobrenaturais, quase sempre ligados a práticas animistas. Em geral, os cultos eram tribais. Aliás, a tribo e a 
família eram estruturas centrais para o modo de vida dos nômades. Todo o sistema legal estava vinculado à tribo, 
originada e mantida pelos laços de sangue. Era recorrente o exercício da lei do “olho por olho”, quando um dos 
membros de uma tribo era assassinado por um membro de outra. Um cenário de constantes e sangrentas rixas fixou-se 
como prática comum. 
Maomé foi fortemente influenciado pelos ideais 
judaicos e cristãos, especialmente o monoteísmo. 
 
Já à época de Maomé, apresentava-se um quadro de transição. A sociedade beduína nômade começava a dar lugar a 
uma sociedade urbana mais fixa. Com isso,a religião e as práticas tradicionais passaram a ser revistas. Nesse hiato 
aumentou em muito a influência do judaísmo e do cristianismo. Com toda a certeza, Maomé foi fortemente influenciado 
pelo monoteísmo e pela noção de fim de mundo acompanhado de juízo final. 
O judaísmo havia se estabelecido em toda a Arábia depois da queda de Jerusalém em 70 d.C. Aos poucos, os judeus 
incorporaram a língua e o estilo de vida dos árabes, mantendo, porém, sua própria crença e seu culto mosaico. 
O cristianismo, por sua vez, também havia avançado por muitas regiões do Oriente Médio. Estados como a 
Abissínia (atual Etiópia) e muitas tribos beduínas tornaram-se cristãos. Com certeza o grupo que mais influenciou 
Maomé em sua formação religiosa foram monges e eremitas cristãos, que viviam isolados nos desertos da Arábia. 
Devotos e generosos eram pródigos na ajuda aos viajantes. 
Deus revela-se a Maomé 
A recitação de Maomé resulta no Alcorão. 
 
Era costume de Maomé retirar-se todos os anos para uma caverna aos arredores de Meca com o fim de meditar. Esse 
hábito também era prática corrente dos eremitas cristãos, que, diferentemente de Maomé, fundamentavam sua 
meditação em algum texto sagrado, em geral os Evangelhos da tradição cristã. 
Aos 40 anos, Maomé teve uma revelação. Apareceu-lhe o arcanjo Gabriel com um pergaminho ordenando-lhe que 
o lesse. Maomé não sabia ler e, em vista disso, o arcanjo incitou-lhe a recitar o que ouvia. 
As recitações transmitidas por Maomé foram reunidas num livro, o Qu´ran, o Corão, apenas após a sua morte. 
Assim como no judaísmo e no cristianismo, o islamismo também passa a ter seu livro sagrado. 
De Meca a Medina 
Após a revelação, Maomé começa sua pregação em Meca. Proclama-se profeta e mensageiro de Deus. As famílias abastadas 
entenderam essa pregação como manobra para usurpar o poder político da cidade. Também as famílias assentadas no 
tradicionalismo religioso se lhe opuseram por entenderem que, se abandonassem suas antigas crenças, estariam 
reconhecendo que seus antepassados foram pagãos. 
A crise estava instalada. A situação de Maomé piora após a morte de seu tio e esposa. Alguns de seus seguidores, 
residentes em Medina, mostraram-se dispostos a aceitá-lo na cidade. Assim, em 622 d.C. Maomé sai de Meca e vai para 
Medina. 
Esse episódio é conhecido como hégira, que significa “rompimento” ou “partida”, mas jamais “fuga”. 
A hégira é uma partida estratégica. 
Lembre-se de que não é uma fuga. 
 
Líder religioso e político 
Em Medina, Maomé torna-se um líder religioso e político. Sem perder de vista seu futuro retorno a Meca, procura se 
estabelecer financeiramente por meio de assaltos a caravanas pertencentes às famílias ricas de Meca. O conjunto das 
atividades desenvolvidas por Maomé com vistas ao retorno a Meca é conhecido como jihad, hoje empregado para 
designar a guerra santa. 
Na década seguinte, Maomé toma a cidade de Meca por meios militares e diplomáticos. Ocupou, a seguir, grande 
parte da Arábia. Em 632 d.C., pouco antes de morrer, havia realizado o feito de unir o país e torná-lo um só domínio, 
no qual a religião tinha mais representatividade que os antigos laços familiares e tribais. 
Atribui-se o nome “Jihad” ao conjunto das ações 
que Maomé desenvolveu para voltar a Meca. 
 
O Cisma no islã após Maomé 
Após a morte de Maomé, a liderança do movimento foi assumida pelos califas, ou sucessores. Os três primeiros califas 
eram parentes de Maomé. O quarto califa, Ali, genro de Maomé, casado com sua filha Fátima, era filho de seu tio, Abu 
Talib, que o havia criado. 
Surgem os xiitas e os sunitas. 
 
O Cisma no mundo islâmico começa na época de Ali. Sua liderança foi repleta de controvérsias, e ele acabou sendo 
assassinado por seus adversários. Os seguidores de Ali defendiam e acreditavam que, por ser o parente mais próximo 
de Maomé, ele era o seu sucessor natural. Esses seguidores eram identificados como os Shiat Ali (o partido de Ali), ou 
xiitas, que formam a base da religião oficial do Irã de hoje. 
Os xiitas entendiam que a liderança do movimento deveria ser concedida a um descendente direto de Maomé, 
enquanto o grupo divergente, facção bem maior que os xiitas, identificados como sunitas, julgava que a liderança cabia 
ao indivíduo que de fato controlava o poder. 
Após a morte de Ali, o califado teve sede em Damasco por algum tempo e, a seguir, instalou-se em Bagdá, onde 
permaneceu por 500 anos. Depois disso, a liderança passou para o sultão turco de Istambul. O último sultão foi 
derrubado em 1924 e, desde então, o mundo islâmico deixou de ter um califa como líder. 
(4.2) 
ensinamentos 
Deus 
Não há Deus, senão Alá, e Maomé é seu profeta. Este é o resumo da fé islâmica: o monoteísmo e a revelação dada a 
Maomé. 
Monoteísmo 
O termo “alah”, árabe, e o termo “el”, 
hebraico, referem-se a “Deus”. 
 
Alá não constitui um nome pessoal, mas, sim, a palavra árabe que significa “Deus”. Etimologicamente, a palavra alah se 
relaciona com a palavra hebraica el, que é utilizada na Bíblia para nomear o Deus dos hebreus. 
O politeísmo é atacado com veemência, ressaltando-se a crença num só Deus, que é criador e juiz. Ele criou o mundo 
e tudo o que há nele. No último dia irá trazer todos os mortos de volta à vida para julgá-los. 
Há uma forte ênfase no amor e na compaixão divinos. Embora Deus seja aquele a quem todos devem submeter-se, 
também é o que perdoa e auxilia o ser humano. Este não merece nada de Deus nem pode invocar direitos sobre nada. A 
salvação e a fé brotam somente da graça de Deus e são coisas que os seres humanos podem apenas ter esperança de 
conseguir. 
Revelação 
Deus falou ao ser humano por intermédio de seu profeta Maomé. Ele é o último dos profetas enviados por Deus à 
humanidade. Embora, de início, Maomé estivesse próximo às tradições judaico-cristãs, delas se distancia em razão de 
controvérsias tidas com os judeus sobre narrativas do Antigo Testamento. 
O fundo histórico do movimento desencadeado por Maomé é encontrado em Abraão e seu filho, Ismael, 
antepassado dos árabes. Maomé ensinou que Abraão e Ismael tinham reconstruído a sagrada Kaaba, que fora erigida 
por Adão e destruída pelo dilúvio. Para Maomé, tanto os judeus como os cristãos distanciaram-se do monoteísmo de 
Abraão. 
Quando em Medina, Maomé ensinara que, ao orar, o rosto deveria estar voltado para Jerusalém. Depois de 
rompidas as relações com os judeus, a orientação mudou: o fiel, agora, deve estar de frente para Meca ao orar. Por essa 
época também, designou-se a sexta-feira como dia sagrado da semana. 
Em relação ao cristianismo, a diferença acentuou-se em relação à questão da Trindade. Além disso, houve 
divergência quanto ao papel de Jesus, que, para o cristianismo, é o Verbo (Palavra) revelado, enquanto, para o 
islamismo, a revelação é o próprio Qu´ran (Corão). 
Ser humano 
O ser humano possui um estatuto especial e uma posição privilegiada no universo. A vida é dádiva divina. O ser 
humano é criatura divina perfeita e possuidor de uma alma que perdura após a morte. 
 A bondade lhe é inata por graça divina e não se perde por qualquer meio ou motivo. Não há a noção de um pecado 
herdado. O ser humano é sempre bom. Quando muito, ele se esquece de sua origem divina e da bondade que lhe é 
inerente. Para que isso não ocorra, o ser humano necessita constantemente reavivar suas origens e qualidades divinas. 
O fato de ter sido escolhido por Deus para revelar-Se dá a dimensão exata dos grandes valores e qualidades 
humanas. 
Vida e morte 
Os cinco pilares 
A vida de um seguidor do islamismo está marcada por cinco passos bem definidos, denominados de Os cinco pilares, 
descritos a seguir. 
• Credo – “Não há outro Deus senão Alá, e Maomé é seu Profeta.” É a primeiracoisa que se deve sussurrar ao 
ouvido da criança recém-nascida e a última a ser sussurrada no ouvido do moribundo. 
• Oração – Deve ser feita cinco vezes ao dia; o pressuposto é estar ritualmente limpo das impurezas, causadas 
pelas funções corporais, o que é obtido pelo banho em água corrente. 
• Caridade – É uma espécie de taxa sobre a riqueza e a propriedade, fixada em cerca de 2,5% sobre o montante; 
ela é destinada a usos sociais, objetivando diminuir as desigualdades entre ricos e pobres, sem interferir no 
princípio da propriedade privada. O islã não proíbe que se desfrute a vida na terra, mas lembra que se deve 
ter sempre em mente o fato de que esta não passa de uma preparação para a vida que começará depois do 
julgamento divino. 
• Jejum – O Corão proíbe comer porco e beber álcool. De resto, nada se proíbe. A exceção é o jejum durante o 
Ramadan, mês em que Maomé teve sua primeira revelação. Nesse período, entre o nascer do sol e o pôr-do-sol, 
é proibido comer, beber, fumar ou ter relações sexuais. Os viajantes, os doentes, as crianças e as mulheres 
grávidas ou que estão amamentando são exortados a cumprir o jejum numa data posterior. 
• Peregrinação a Meca – Todo muçulmano adulto que dispõe de meios financeiros deve realizar, pelo menos uma 
vez na vida, uma peregrinação a Meca. Os peregrinos que para lá se dirigem, passam a usar vestes brancas e 
caminham em torno da Kaaba por sete vezes. Outro momento importante é quando os peregrinos vão ao 
monte Arafat e lá ficam, sem cobrir a cabeça, do meio-dia até o pôr-do-sol. Foi no monte Arafat que Adão e 
Eva se encontraram de novo, depois que foram expulsos do jardim do Éden. O ponto alto das festividades é o 
sacrifício de algum animal (carneiro, bode, camelo, boi etc.). A finalidade é relembrar que Abraão foi tão 
obediente a Deus que se dispôs a sacrificar seu próprio filho, Ismael. Deus foi misericordioso com Abraão e 
enviou-lhe um animal para que ele o sacrificasse em lugar do filho. 
Relações humanas – ética e política 
Não há no islã distinção entre religião e política, tampouco entre a fé e a moral. O Corão é suficiente para resolver todas 
as questões que envolvem os relacionamentos humanos. Quando as instruções do Livro não forem suficientes, recorre-
se a dois princípios: 
• princípio da similaridade ou analogia: busca-se no Corão um exemplo semelhante e capaz de sugerir uma decisão; 
• princípio do consenso: uma decisão de consenso pode ser vista como lei a ser observada. 
Os xiitas adotam um terceiro princípio: o da revelação. Acreditam que a revelação não está concluída e que seus 
líderes são os instrumentos divinos para as novas interpretações. Essa posição contraria a dos sunitas, que afirmam que 
a revelação veio apenas uma vez, em sua forma final. 
As mulheres no islã 
Há profundos contrastes no tratamento concedido a homens e mulheres na vida social e nas leis relativas ao casamento. 
Devemos, no entanto, ressaltar que o Corão, em relação às mulheres, determina tanto obrigações (“os homens têm 
autoridade sobre as mulheres”) quanto direitos (o dote pago pelo marido, por ocasião do casamento, é propriedade da 
mulher e não pode ser usado sem o consentimento dela). 
A mulher só pode ter um marido. Já o homem pode ter até quatro esposas, desde que as possa sustentar. A 
poligamia é proibida na Turquia e na Tunísia. Outra particularidade com relação ao casamento e que é pouco 
conhecida, embora bastante difundida, é o casamento por contrato com tempo determinado. É utilizado, em especial, 
quando o marido fica por muito tempo fora de casa e tem por fim preservar a sustentabilidade da mulher. 
O divórcio é possível, mas apenas quando iniciado pelo marido, que é o responsável pelo lado financeiro do 
casamento. O marido também tem o direito de punir fisicamente a mulher se ela for desobediente. 
A excisão do clitóris (mutilação genital feminina) não é obrigatória, mas mesmo assim é praticada com freqüência 
no Norte da África. Não há no Corão menção a essa prática, bem como à tradição de usar o chador, o véu. 
A morte 
Após a morte, a alma do fiel muçulmano vai a um paraíso desfrutar dos seus deleites e contemplar o rosto de Alá. A 
alma do infiel, por seu turno, vai ao inferno. Aguardar-se-á o dia do juízo, quando as ações dos seres humanos serão 
definitivamente julgadas e receberão a devida paga. As almas dos mártires e dos profetas não passarão pelo juízo final, 
pois já estão no paraíso. O ato final será a proclamação do islã como religião mundial, liderada por Jesus. 
A crença num julgamento final após a morte é necessária, segundo muitos muçulmanos, para que o ser humano 
assuma a responsabilidade sobre seus atos. A idéia de um julgamento cria um senso moral de dever que é relevante 
para a comunidade. 
Mundo 
O mundo foi criado por um ato deliberativo de Alá. Em decorrência, dois aspectos emergem: o mundo da matéria é 
real e importante, e, por ser obra de Alá, que é perfeito em bondade e poder, o mundo material também o é. 
(4.3) 
principais tendências 
• Sunitas – Defendem que a unidade da comunidade islâmica é muito mais importante que a genealogia de seu 
líder. Acreditam que o profeta morreu sem indicar um sucessor e que os líderes que o sucederam, os califas, 
representam a sucessão legítima. Distinguem-se, ainda, pela ênfase dada à inescrutabilidade racional de Alá e 
à extensão limitada do livre-arbítrio humano. 
• Xiitas – Defendem que a unidade da comunidade islâmica só é possível reconhecendo-se que os descendentes 
do profeta são os líderes (imã) ou modelos naturais escolhidos por Alá. É particularmente importante para 
esse grupo não perder de vista que o terceiro líder, assassinado em 680 d.C. ao recusar-se jurar fidelidade ao 
califa regente, optou pelo martírio como forma de obediência às revelações dadas ao profeta. Essa lembrança 
manifesta-se no sentimento de luto que toma conta dos xiitas por ocasião da morte, quando em luta, de um de 
seus adeptos. Possuem um clero hierárquico organizado, no qual a ascensão se dá segundo o grau de cultura, 
sendo o mais alto nível o de aiatolá. 
• Sufismo – É o grupo islâmico com tendência mística e cuja característica mais marcante é a renúncia ao eu por 
meio de hábitos devocionais e pela convicção de que Alá é a verdade suprema da existência humana e o 
caminho para os estados mais elevados de consciência e iluminação. O termo sufi designa “o que se veste com 
lã”, numa referência possível às vestes dos primeiros sufis. 
• Fundamentalismo islâmico – Defendem que a shari´ah (conjunto de regras islâmicas extraídas do Corão e dos 
ensinamentos de Maomé) tem validade eterna e deve ser seguida à risca. O movimento surgiu por volta do 
século XVIII como uma reação ao avanço ocidental e ao conseqüente relaxamento dos princípios da shari´ah. 
Imaginam que será por meio de uma inserção cada vez maior na política que poderão ser restabelecidos os 
princípios islâmicos. Defendem uma estrutura familiar patriarcal e entendem que os postos militares e 
políticos só devem ser entregues a muçulmanos comprometidos com a comunidade islâmica e que aos 
empregados deve ser dado tempo para as orações diárias. Acreditam ainda que se deve solidariedade aos 
muçulmanos no mundo todo e opõem-se ao homossexualismo e ao aborto. 
 
 
 
( 5 ) 
judaísmo 
 
Ronaldo Steffen 
 
perfil 
• Fundador: Abraão e seus descendentes Isaque e 
Jacó. 
• Data de nascimento: por volta de 1700 AEC (antes 
da Era Comum; é assim que os judeus preferem 
identificar a cronologia antes de Cristo). 
• Local de nascimento: provavelmente em Ur, na 
Caldéia. 
• Textos sagrados e reverenciados: a Torah, que 
descreve a criação do mundo e a fundação do 
reino de Israel, além de contar as leis divinas; o 
Talmude, um conjunto de escritos

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