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Teoria do etiquetamento

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OS EFEITOS DA TEORIA DA REAÇÃO SOCIAL (LABELLING 
APPROACH) NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
*Diego Gomes Alves e Simone Tavares Batista da Silva
Em meados do século XX, nos Estados Unidos, surgiu uma nova corrente 
fenomenológica denominada “Labelling Approach”, também conhecida por Teoria da Reação 
Social, do etiquetamento ou da rotulação. Emergiu com um novo enfoque sobre a formatação do 
delito, dando maior ênfase ao estudo do próprio sistema penal, inclusive na análise de seu 
funcionamento desigual. Este novo paradigma é considerado por muitos estudiosos, como Lola de 
Aniyar de Castro1, a gênese da Criminologia Crítica.
Conforme ensinamento da autora acima mencionada: “[...] Esta escola deixou 
estabelecido, finalmente, que a causa do delito é a lei, não quem a viola, por ser a lei que 
transforma condutas lícitas em ilícitas”.2
O “Labelling Approach” tem como pressuposto básico a idéia de que não se 
pode entender a criminalidade sem associá-la a atuação de agências oficiais. Isto quer dizer que só 
se pode falar em agente desviante da lei a partir da ação do sistema penal, entendida esta em seu 
sentido mais amplo, desde a elaboração das normas abstratas, até a perseguição provocada pelos 
agentes propriamente dita (atuação da magistratura, do Ministério Público etc.). Assim, 
Alessandro Baratta dispõe que “[...] o labelling approach tem se ocupado principalmente com as 
1 ANIYAR DE CASTRO, Lola. Criminologia da reação social. Tradução e acréscimos de Ester Kosovski. Rio de 
Janeiro. Forense: 1983 
2 Idem., p. 97
reações das instâncias oficiais de controle social, considerados na sua função constitutiva em face 
da criminalidade”.3
Surge então uma nova forma de visão acerca da criminalidade. O criminoso 
deixa de ser visto como um ser intrinsecamente bom ou mal, ou provido de fatores 
biopsicológicos que o formatam como delinqüente, e passam a ser um fruto de uma construção 
social (moldagem da realidade social), proveniente do contato que o agente desviante tem com as 
instâncias oficiais. Alessandro Baratta fala de duas matrizes técnicas que formatam a 
criminalidade, quais sejam, o interacionismo simbólico e a etnometodologia:
“[...] Segundo o interacionismo simbólico, a sociedade – ou seja, a realidade 
social – é constituída por uma infinidade de interações concretas entre 
indivíduos, aos quais um processo de tipificação confere um significado que se 
afasta das situações concretas e continua a estender-se através da linguagem. 
Também segundo a etnometodologia, a sociedade não é uma realidade que se 
possa conhecer sobre o plano objetivo, mas o produto de uma ‘construção 
social’. Obtida graças a um processo de definição e de tipificação por parte dos 
indivíduos e de grupos diversos”.4
Este paradigma constrói uma nova forma de visualização do delinqüente: o 
marginalizado. Este só aparece quando há atuação daqueles que perseguem os fatos ilícitos. 
Assim, não basta a prática de um ato ilegal, é necessária a reação social. Infringir a lei, por si só, 
não torna alguém criminoso (na visão social); é preciso que este agente desviante sofra atuação 
das instâncias oficiais e seja “selecionado” a integrar o grupo dos sujeitos tidos como criminosos 
dentro da sociedade. Esta visão torna-se clara com o entendimento de Vera Regina de Andrade:
“[...] A criminalidade se revela, principalmente, como um status atribuído a 
determinados indivíduos mediante um duplo processo: a ‘definição’ legal de 
crime, que atribui à conduta o caráter criminal e a ‘seleção’ que etiqueta e 
3 BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução à sociologia do direito 
penal. Tradução de Juarez Cirino dos Santos. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 2002, 
p. 86.
4 Idem, p. 87.
estigmatiza um autor como criminoso entre todos aqueles que praticam tais 
condutas”.5
Demonstrando a importância da atuação da sociedade na delimitação de uma 
conduta criminosa, preceitua Alessandro Baratta:
“O que é criminalidade se aprende, de fato, pela observação da reação social 
diante de um comportamento, no contexto do qual um contexto é interpretado (de 
modo valorativo) como criminoso, e o seu autor tratado conseqüentemente. 
Partindo de tal observação pode-se facilmente compreender que, para 
desencadear a reação social, o comportamento deve ser capaz de perturbar a 
percepção habitual da routine, da ‘realidade tomada-por-dada’ (taked-for granted 
reality), ou seja, que suscita, entre as pessoas implicadas, indignação moral, 
embaraço, irritação, sentimento de culpa e outros sentimentos análogos.”6
Para a teoria abordada, portanto, o desvio é uma construção social, e não uma 
conduta em si mesma má. Trata-se de uma interpretação, de acordo com um dado momento 
histórico-cultural, que define quais serão os comportamentos tolerados e quais serão tipificados 
como ilícitos. Assim sendo, um delito só o é considerado como tal, se dessa forma for rotulado 
pela sociedade. Não há que se falar em conduta criminosa, em si mesma, ou em um autor 
criminoso por fatores naturais ou intrínsecos: o próprio sistema formata quais delitos e que 
pessoas sevem ser acossadas. 
Definida uma conduta como delituosa, as agências começam a perseguir aqueles 
que vão contra os preceitos legais. Atrela-se “etiquetas” aos criminalizados, o que acaba por 
rotulá-los na sociedade. Isso faz com que assumam identidade de criminoso (adquirem este status 
social), tornando-os mais vulneráveis ao sistema penal. Lola Aniyar de Castro elucida este 
5 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Do paradigma etiológico ao paradigma da reação social: mudanças e 
permanência de paradigmas criminológicos na ciência e no senso comum. Disponível em: 
<http://www.buscalegis.ufsc.br/busca.php?acao=abrir&id=10263> Acesso em: 07 jun. 2007.
6 BARATTA, Alessandro. Ob cit. 2002, p. 95
pensamento com a seguinte frase: “O desviante é alguém, a quem foi aplicado este rótulo com 
êxito; o comportamento desviante é a conduta que a gente rotula desse modo.” 7
Deste modo, depois de serem atingidos pelo etiquetamento, acabam não 
conseguindo mais se desvincular dessa imagem, passando a construir uma carreira criminosa. O 
fato dos criminalizados não conseguirem se desprender da imagem a eles atreladas, gerando para 
eles um status social negativo, é a grande crítica que a Teoria da Reação Social sustenta, negando, 
como isso, o princípio da finalidade ou da prevenção8, tendo em vista que impede a 
ressocialização concreta do indivíduo infrator.
Quando o sistema intervém, na maioria dos casos, ao invés de prevenir, concreta 
ou abstratamente, o sistema induz à maior delinqüência, devido ao rótulo que se vê estampado no 
condenado desviante.
2.1. A cifra oculta da criminalidade
Saindo da América, a Teoria do Etiquetamento chegou à Europa e foi 
recepcionada pelos alemães. Dois novos campos de estudo forma abordados: a criminalidade de 
colarinho branco e a cifra oculta da criminalidade.
Com relação à criminalidade de colarinho branco, verificou-se que a quantidade 
de crimes nas classes sociais elevadas era muito grande, apesar do fato de ser pequena a 
perseguição das agências. Constatou-se que, por diversos fatores de ordem social e econômica, os 
7 ANIYAR DE CASTRO, Lola. Criminologia da reação social. Tradução e acréscimos de Ester Kosovski. Rio de 
Janeiro. Forense: 1983, p. 99.
8 Para este princípio, a sanção não tem apenas uma função ressocializadora, mas também preventiva. Abstratamente,a 
sanção cria uma contramotivação nos impulsos criminoso e, concretamente, visa ressocializar aquele que delinqüiu.
agentes desviantes dessas classes sociais conseguiam manipular os entes estatais perseguidores, 
garantindo a impunidade de suas ações.
É elucidadora a visão de Gevan de Almeida acerca deste tema:
“[...] Crimes geralmente praticados por pessoas bem sucedidas profissional e 
socialmente, das classes média e alta, como por exemplo corrupção, desvio de 
verbas, fraudes em concorrências públicas, abuso de autoridade, tortura etc. são 
como aquele avião ‘invisível’ americano: existe, voa, tem um preço altíssimo, 
mas os radares não conseguem [?] percebê-lo”.9 
Esse fato serviu de base para que se construísse o conceito de cifra oculta da 
criminalidade: a diferença entre a criminalidade real e a efetivamente perseguida, isto é, o grande 
degrau existente entre a quantidade de crimes praticados e os que vão ser inscritos nas estatísticas 
oficiais. Percebeu-se que as agências perseguiam, diferentemente as diversas classes sociais, de 
acordo com a distribuição de poder e dinheiro. Aqueles que detinham o capital monopolista 
conseguiam manejar o sistema, enquanto os outros eram condenados e serviam como exemplo aos 
demais. Deste modo, anota Quinney:
“[...] a realidade oficial é a realidade com a qual o positivista opera – e a 
realidade que ele aceita e suporta. O positivista toma por dada a ideologia 
dominante, que enfatiza a racionalidade burocrática, a tecnologia moderna, a 
autoridade centralizada e o controle científico.”10
Nilo Batista alerta ainda que:
“[...] A racionalidade ou a justiça de ordem legal e das instituições que integram 
o sistema penal, bem como as funções por ela desempenhadas numa sociedade 
9 ALMEIDA, Gevan. Modernos movimentos de política criminal e seus reflexos na legislação brasileira. 2.ed. 
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 99.
10 QUINNEY, Richard. O controle do crime na sociedade capitalista: uma filosofia crítica da ordem legal. In 
Taylor Walton e Young (org.), Criminologia crítica. Tradução de Cirino dos Santos e S. Tancredo, Rio de Janeiro, 
1980, p. 224.
dividida em classes, não são absolutamente inquiridas pelo criminólogo 
positivista”.11
Com a constatação de que os dados que apareciam nas estatísticas não eram 
condizentes com a realidade e que grande parte da população era praticamente de 
comportamentos contrários à lei, os teóricos do etiquetamento chegaram à conclusão de que a 
criminalidade não é mais comum em determinadas classes sociais ou pessoas, apenas é 
processada de maneira distinta de acordo com os privilégios de cada classe. Concluíram, então, 
que o comportamento criminoso é comum a todos os estratos sociais e que a maioria dos 
indivíduos o pratica.
Com todo este aparato teórico de rotulação dos delinqüentes, desviou-se o 
problema das definições de crime para os efeitos sociais que poderiam ser causados com essas 
definições. Não interessa mais, nessa conjuntura perceptiva da Criminologia, saber quais são as 
causas e os remédios da criminalidade (visão etiológica), mas verificar o porquê do sistema penal 
não ser utilizado de forma igualitária para todos.
2.2. Movimento de lei e ordem
Esse movimento surgiu nos Estados Unidos da América como tentativa de 
atenuar a crescente onda de violência que se insurgiu, principalmente, a partir da década de 70. 
Com o aumento da criminalidade, ou seja, daqueles delitos praticados e repassados para as 
estatísticas oficiais, a insegurança pública avançou também, com isso, a população anseia por 
medidas (muitas vezes mirabolantes) capazes de conter a violência.
Na opinião de Raphael Boldt:
11 BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao Direito Penal. 5.ed. Rio de Janeiro: Revan, 2001, p. 31.
“Sob a influência do Movimento de Lei e Ordem, o direito penal, ultima ratio, 
vem se tornando a prima ratio na tentativa desenfreada de se materializar a 
justiça. Entretanto, ao invés de conferir maior eficácia ao sistema penal, tais 
soluções têm produzido um efeito inverso, contrário à essência do Estado 
Democrático de Direito, violando alguns dos mais básicos princípios 
consagrados por nossa Constituição Federal.”12
A doutrina é uníssona em afirmar que a Lei em estudo é fruto do dito 
Movimento de Lei e Ordem. Segundo Damásio de Jesus: “[...] Esse movimento pretende agravar 
as penas, criar novos crimes, liquidar com os direitos dos réus e tornar a fase de cumprimento da 
pena um dos momentos mais terríveis na vida do cidadão”.13
O autor Gevan de Almeida também compactua deste entendimento, como se 
pode inferir do seguinte trecho de sua obra:
“Destarte, passamos a conviver com algumas leis que representam um verdadeiro 
retrocesso no que tange aos direitos e garantias individuais, verdadeira concessão 
aos postulados do movimento da law and order, que defende medidas drásticas 
no combate à criminalidade, como, por exemplo, penas mais severas, que 
deverão ser cumpridas em regime fechado, proibição de liberdade provisória e o 
desprezo de certos direitos e garantias processuais. O exemplo mais significativo 
dessa tendência é a Lei nº 8.072/90 – Lei dos Crimes Hediondos [...]”14 
A importância de estudar a tendência deste movimento é poder analisar o 
impacto que ele pode gerar no sistema penal, principalmente, no sistema penitenciário. A Lei 
8.072/90 foi editada pelos legisladores em momento de grande comoção pública, onde a imprensa 
clamava, urgente e insistentemente, pela adoção de medidas mais severas para os criminosos.
A opinião pública, que acabava sendo influenciada pela mídia sensacionalista, 
também protestou por regimes mais rígidos. Diante desse quadro social é que foi editado este 
12 BOLDT, Raphael. Art. 9º da Lei nº 8.072/1990: vale a pena?
13 DAMÁSIO, E. de Jesus. Justiça e impunidade. Disponível em: <http://www.damasio.com.br/?
page_name=art_10_2000&category_id=36> Acesso em: 29 out. 2007.
14 ALMEIDA, Gevan. Modernos movimentos de política criminal e seus reflexos na legislação brasileira. 2.ed. 
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 97.
diploma legal, que agravou penas, retirou direitos e garantias constitucionais, e endureceu o 
regime de cumprimento das penas. Por este motivo que toda a doutrina e os juristas apontam 
como maior exemplo, no Brasil, deste movimento, a Lei dos Crimes Hediondos.
2.3. A mídia e o crime
Um dos principais meios de informação, atualmente, são os chamados 
telejornais. Suas notícias são pesquisadas, gravadas e veiculadas, em todo território nacional, 
diariamente, permitindo que toda a população possa ter acesso às informações que estão em voga 
pelo mundo. Sem dúvida nenhuma, o poder que estas notícias pode exercer no pensamento de 
seus espectadores é enorme, pois, muitas vezes, seu juízo de delibação é formado pelo que lhe 
fora mostrado na mídia.
Com os avanços tecnológicos, as informações são passadas em tempo real, além 
de ter permitido que recursos sejam utilizados para melhorar a nitidez da imagem, da voz, ou seja, 
da “realidade” dos fatos. Uma grande equipe está montada por trás dos bastidores, dentre 
repórteres, cinegrafistas, editores, técnicos em sonoplastia etc., tudo isso visa intensificar o 
dinamismo e concretizar as imagens que são veiculadas. O povo é capaz de receber, no conforto 
de sua casa, todas as notícias que são importantes no país e no mundo.
Portanto, não é à toa que a capacidade da mídia de “manipular” a crença popular 
só aumenta com o passar dos anos. Na opinião da autora Danielle Gonçalves:
“A mídia, com suaaparência indefesa, sob a alegação de prestar serviço cultural 
e informativo de maneira diversificada com o alcance de todas as classes e 
indivíduos vêm, hodiernamente, se manifestando como um super poder, 
causando grande influência, de certa maneira perversa, sobre as vidas das 
pessoas”.15
Essa mídia, composta não só dos jornais televisivos, mas também dos jornais 
impressos, do rádio, de revistas etc., contribui na formação das ideologias sociais, culminando 
numa manipulação das idéias populares. Isto ocorre, porque, como já foi dito, é o principal modo 
da população ter acesso às informações, pois não há possibilidade de cada cidadão conferir, 
pessoalmente, o que está sendo transmitido, principalmente, porque cada notícia vem de um local 
diferente, de tal modo que somente com uma estrutura moderna e com todo um aparato 
tecnológico disponível seria possível fazer tal verificação dos dados. Resta a cada leitor ou 
espectador saber “filtrar” o que está sendo veiculado.
A interpretação dada a alguma notícia transmitida pela mídia pode render bons 
frutos para a própria sociedade, mas também existe a possibilidade contrária, ou seja, o meio 
social pode acabar gerando algo que o prejudique, ainda que indiretamente. Não resta dúvida de 
que as informações ajudam o povo a refletir sobre determinado assunto, de modo que tais 
reflexões levam a discussões e polêmicas, tendo como conseqüência a manifestação popular sobre 
determinado tema.
Tudo isso seria perfeito, se não houvesse o fato de que a mídia, geralmente, 
direciona e molda os fatos da maneira que melhor convém às classes dominantes. Esse é o grande 
problema de se crer em tudo que é exposto. A notícia que deveria gerar reflexão e discussão não 
passa de uma ideologia dominante acerca de determinado tema que tende a manipular o 
pensamento popular, de maneira que o que deveria ser refletido, acaba apenas sendo absorvido 
como uma verdade incontestável.
15 GONÇALVES, Danielle. A violência da “Idade Mídia”. Disponível em: 
<http://www.direitonet.com.br/artigos/x/21/99/2199/> Acesso em: 27 set. 2007.
Foi neste contexto, de pressão dos jornais, rádio, televisão, revistas, noticiários 
que a Lei estudada, qual seja Lei nº 8072/90, foi editada. A Lei de Crimes Hediondos foi editada 
em um momento de comoção pública, no qual dois grandes empresários brasileiros haviam sido 
seqüestrados e a mídia transmitiu a notícia nacionalmente causando revolta, medo e insegurança 
na sociedade. Diante dos clamores públicos, que foram influenciados pelo que a mídia transmitia, 
incessantemente, todos os dias, os parlamentares encontraram como solução a este alarde, a 
edição de uma lei mais severa e rigorosa, com penas mais duras e regimes de cumprimento mais 
rígidos para aqueles que a infringissem.
Pode-se perceber, portanto, que o campo jurídico também está sendo 
constantemente bombardeado por notícias que possuem um discurso persuasivo sobre o povo, de 
uma maneira que a resposta para muitas crises acabam gerando outras, justamente pela pressão 
sofrida pelos legisladores, levando-os a agirem sem as devidas cautelas.
O papel da mídia seria trabalhar com a “opinião pública”, entretanto, os maiores 
responsáveis pela formação desta são os próprios operadores desta instituição. Desta forma, não 
existe, de fato, um debate racional acerca dos fatos; há sim, uma ideologia, implicitamente, 
imposta que se assenta no seio social e determina as ações políticas nacionais.
O aumento da criminalidade passou a ser um produto bem vendido pelos 
jornalistas, por este motivo tem sido alvo de “furos de reportagem”. Acontece que um tema como 
esse vai muito além do que é visível na sociedade, envolve questões de política criminal, de 
segurança pública, de sistema penal, de sistema penitenciário e de ordem jurídica, mas não é com 
tal importância que a mídia noticia os acontecimentos. A seriedade do assunto é tratada com 
estrema banalização, dando maior enfoque ao “espetáculo”, ao “chocante” (porque isso é 
vendido), do que aos problemas que dão origem a todo o resto.
Segundo Cícero Henrique:
“Nosso país, com certeza, deve ser um dos recordistas, principalmente, quando 
falamos em direito penal, pois, em geral, o nosso povo acredita que mais leis e 
mais dispositivos e talvez com garantias individuais subjugadas, teremos o 
condão de num passe de mágica resolvermos aspectos básicos de sobrevivência 
de uma civilização”. 16
Os aparatos produzidos pela imprensa intensificam, no pensamento social, a 
idéia do Movimento de Lei e Ordem, acima analisado. A mídia se incumbe de propagar o medo e 
a insegurança na sociedade, questiona as atitudes políticas, as leis e as agências oficiais, daí em 
diante deixam que a sociedade, absolutamente influenciada pelas idéias sensacionalistas que lhes 
foram transmitidas, pressione e anseie por soluções emergenciais. Entretanto, o que foi infiltrado 
na mente das pessoas como solução mais viável é o enrijecimento de todo o sistema penal e é, 
justamente, por estas medidas que a população anseia. Os políticos, que nem sempre estão 
preocupados com o problema, em si, mas apenas com sua promoção e reeleição, fazem o que é 
esperado pelos seus eleitores, ou seja, desprezam normas constitucionais, determinando, através 
de uma norma processual ou material que se torna cogente com seus atos, um sistema 
extremamente repressor, sem muitas expectativas de ressocialização (que seria, ao menos, em 
tese, o modelo adotado pelo Brasil) para os detentos. 
16 SILVA, Cícero Henrique Luís Arantes. A mídia e sua influência no sistema penal. Disponível em: 
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2814> Acesso em: 13 out. 2007.

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