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ABORDAGEM PSICANALÍTICA Sigmund Freud (1856-1939) é considerado o pai da Psicanálise, teoria que estuda o funcionamento e a estrutura da personalidade utilizando para isso uma técnica psicoterapêutica específica. Ao longo de seus estudos, Freud investigou os processos mentais, utilizando a técnica psicanalítica para o tratamento de distúrbios neuróticos. Apresenta uma teoria do desenvolvimento psicológico que está dividida em cinco fases psicossexuais: oral, anal, fálica, latência, genital. Nesse texto, não serão enfocados esses estágios, mas sim as idéias de Freud sobre aprendizagem, ou seja, quais são os processos que levam a criança ao conhecimento. “Vamos deixar claro para nós mesmos qual a tarefa mais imediata da Educação. A criança deve aprender a dominar seus instintos. É impossível lhe dar liberdade para seguir sem restrições seus impulsos.(...) Logo, a Educação tem que inibir, proibir, reprimir, e assim fez em todos os tempos.” Conferências Introdutórias à Psicanálise (apud Kupfer, 1989) De acordo com Kupfer (1989), embora Freud não tenha escrito um volume específico sobre a Educação, esse tema permeou toda a sua obra, uma vez que, para ele, o funcionamento psíquico pode ser fruto direto das influências educativas recebidas pelo indivíduo. Dessa forma, para a autora, as idéias de Freud sobre Educação encontram-se em conexão com seus conceitos para compor a teoria psicanalítica. Em suas afirmações, Freud nos apresenta os limites da ação pedagógica entre proibir e permitir ao aluno a realização de seus desejos, em função da complexidade da psique humana, dos muitos obstáculos interiores ao processo de amadurecimento, do conflito entre o desejo individual e as exigências da vida em comunidade. Além disso, a criança possui pouco mais de 15 anos para se apropriar dos resultados de milhares de anos de evolução da cultura humana. (Kupfer, 1986) De acordo com Kupfer (1986), sobre a aprendizagem propriamente dita, Freud não tem escritos específicos, mas gostava de pensar nos determinantes psíquicos que levam alguém a ser um ‘desejante de saber’, como os cientistas e as crianças pequenas. Em outras palavras, estudar esse tema em uma perspectiva freudiana significa entender o processo ou a razão pela qual um sujeito se sente motivado para o conhecimento. No início do desenvolvimento, o conhecimento ocorre por meio das ‘investigações sexuais infantis’, ou seja, na busca da criança em compreender seu lugar sexual no mundo (menino/ menina; feminino/masculino). A compreensão da diferença causa angústia que impulsiona a criança a querer saber mais. O ato de aprender, da mesma forma, pressupõe uma relação com outra pessoa, a que ensina. Para aprender é necessária a presença de um professor, colocado em uma determinada posição, que pode ou não propiciar a aprendizagem. “Aprender é aprender com alguém”. (Kupfer, 1986) Um professor pode ser ouvido quando está revestido por seu aluno de uma importância especial, por isso a relação entre um professor e um aluno não está no valor dos conteúdos cognitivos transmitidos e sim no campo que se estabelece entre ambos, nas relações afetivas, uma relação primitivamente dirigida ao pai. É esse campo que estabelece as condições para o aprender, sejam quais forem os conteúdos transmitidos. Em Psicanálise, esse campo chamase transferência, uma manifestação do inconsciente. (Kupfer, 1986) Em outras palavras, um professor pode tornar-se a figura a quem serão endereçados os interesses de seu aluno porque é objeto de uma transferência. E o que se transfere são as experiências vividas primitivamente com os pais. (Kupfer, 1986) O aluno transfere para o professor os sentimentos carinhosos ou agressivos da sua relação com os pais. Conscientemente ou não, o professor utiliza a ascendência que assim adquire sobre o aluno, para transmitir ensinamentos, valores, inquietações. Pois não é verdade que os professores de quem mais nos recordamos, com quem mais aprendemos, são aqueles que melhor nos seduziram? Na escola como na vida, nós aprendemos por amor a alguém. (Paulo César Souza, apud Kupfer, 1986) Portanto, transferir é conferir um sentido especial àquela figura determinada pelo desejo, e o aprendizado está pautado nessas relações transferenciais. À medida que ocorre a transferência, o professor torna-se depositário de algo (positivo ou negativo) que pertence ao aluno e isso lhe confere um poder na relação. Em outras palavras, a idéia de transferência mostra que aquele professor em especial foi ‘investido’ pelo desejo daquele aluno e é a partir desse ‘investimento’ que a palavra do professor ganha poder, passando a ser escutada. Tudo o que o aluno quer é que esse professor ‘suporte’ esse lugar em que ele foi colocado. (Kupfer, 1986) Portanto, cabe ao professor renunciar a um modelo determinado por ele próprio, aceitar o modelo que o aluno lhe confere, ser ‘atravessado’ pelo seu desejo e conduzi-lo à conquista de uma autonomia. “...educar, ao lado de governar e psicanalisar, é uma profissão impossível...” Sigmund Freud (1937) Caso contrário, se subjugar o aluno, impondo seus próprios valores e idéias, ou seja, seus próprios desejos, impedirá a possibilidade de aprendizagem no aluno (cessa o desejo do aluno). O aluno irá aprender conteúdos, gravará e memorizará informações, mas não será um sujeito pensante e autônomo. Realmente Freud tem razão: a educação é uma profissão impossível! O professor é também movido pelo desejo, é seu desejo que justifica sua ação docente. Mas, estando ali, ele precisa renunciar a esse desejo, para permitir a aprendizagem do aluno. Eis o desafio. Anna Freud (1895-1982), psicanalista austríaca, filha de Sigmund Freud, chamado “o pai da psicanálise”, dedicou-se também ao estudo do comportamento humano e foi uma das pioneiras nos estudos em Psicologia Infantil. Buscou transmitir aos educadores noções sobre o desenvolvimento da criança em uma perspectiva freudiana. Deixou vários estudos sobre patologias e Psicologia Infantil. Radicada em Londres, dirigiu a Clínica Hampstead para tratamentos e investigação, também ligados a doenças infantis. Foi uma articuladora da Psicologia com a Educação e trabalhou intensamente na formação de professores.
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